Discursos João Paulo II 2001 - Segunda-feira, 12 de Março de 2001

À ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO


PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS


COMUNICAÇÕES SOCIAIS


16 de Março de 2001



Eminências
Estimados Irmãos Bispos
Queridos amigos em Cristo

1. Sinto-me feliz por vos saudar por ocasião da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. Aproveito esta oportunidade para vos agradecer tudo o que fazeis em benefício da presença diversificada da Igreja no mundo dos meios de comunicação social. De modo particular, desejo congratular-me com o vosso Conselho pelo contributo específico que ofereceu ao Grande Jubileu do ano 2000.

De facto, o Jubileu representou uma extraordinária experiência de fé na Cidade de Roma e na Igreja. Uma parte significativa do seu impacto deve-se à atenção que os meios de comunicação social deram aos acontecimentos jubilares. O Pontifício Conselho prestou um serviço precioso coordenando as transmissões televisivas mundiais das cerimónias do Ano Santo e oferecendo assistência profissional e pastoral a milhares de homens e mulheres que trabalham no âmbito da rádio, da televisão, da imprensa e da fotografia. O Conselho organizou também as memoráveis celebrações jubilares para os jornalistas em Junho e o Jubileu do Mundo do Espectáculo em Dezembro. O vosso empenho foi, sem dúvida, apoiado pelo desejo de fazer com que o ano jubilar fosse uma resposta autêntica ao mandamento do Evangelho de "anunciar a Boa Nova aos pobres; ... proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, o recobrar da vista" (Lc 4,18).

2. Ao longo dos anos, o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais adquiriu uma experiência muito positiva com os meios internacionais de comunicação social, levando acontecimentos importantes da vida da Igreja a pessoas em todas as partes do mundo. Recordo o início desta actividade e, sobretudo, o Ano Santo de 1975, quando o vosso Conselho, sob a orientação do Cardeal Andrzej Deskur e com a generosa assistência dos Cavaleiros de Colombo, estabeleceu um modelo para este tipo de transmissão religiosa. Dando graças a Deus por tudo o que já foi obtido, encorajo o vosso Conselho a prosseguir a tarefa que vos foi confiada pela Constituição Aspostólica Pastor bonus.

3. A obra desempenhada durante a vossa precedente Assembleia Plenária, em 1999, tornou possível que o Conselho publicasse, em Junho passado, o documento Ética na Comunicação, que procurou ser uma guia moral para o uso dos meios de comunicação social, uma realidade humana variada e complexa na qual os interesses éticos muitas vezes são sacrificados em benefício dos comerciais. Sinto-me feliz por terdes tomado em consideração, nestes dias, um documento semelhante sobre o tema Ética na Internet, que de facto seria muito oportuno devido à difusão rápida das cibercomunicações e às questões morais que suscita. A Igreja não pode ser mera espectadora do impacto social dos progressos tecnológicos, que têm efeitos tão determinantes na vida das pessoas. Por conseguinte, a vossa reflexão sobre Ética na Internet pode servir de grande ajuda aos Pastores da Igreja e aos fiéis para enfrentarem os numerosos desafios apresentados pela "cultura dos meios de comunicação social" que está a surgir.

Os problemas e as oportunidades criados pela nova tecnologia, pelo processo de globalização, pela falta de regulação e privatização dos meios de comunicação social apresentam novos desafios éticos e espirituais a todos os que estão empenhados no âmbito das comunicações sociais. Estes desafios serão enfrentados de maneira eficaz por quantos aceitarão que "o serviço à pessoa humana, a edificação da comunidade humana assente na solidariedade, na justiça e no amor, e o anúncio da verdade acerca da vida humana e da sua derradeira realização em Deus estavam, estão e permanecerão no cerne da ética nos mass media" (Ética nas Comunicações sociais, 33). Ao rezar para que estes nobres fins orientem sempre a obra do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais e confiando cada um dos vossos esforços à intercessão de Maria, Mãe do Verbo Encarnado, concedo de coração a vós a às vossas famílias a minha Bênção apostólica.
No final do discurso, depois da recitação da oração do "Angelus", o Santo Padre disse:

O "Angelus" é a primeira comunicação, a mais importante na história da humanidade.



DISCURSO DO SANTO PADRE AOS PRELADOS DA


CONFERÊNCIA DOS BISPOS LATINOS


NAS REGIÕES ÁRABES (C.E.L.R.A.)


EM VISITA "AD LIMINA"


17 de Março de 2001



Beatitude
Estimados Irmãos no Episcopado

1. Sinto-me feliz por vos receber no momento em que realizais a vossa visita ad limina Apostolorum, manifestando desta forma a vossa comunhão com o Sucessor de Pedro. Espero que nos encontros com o Bispo de Roma e com os seus colaboradores encontreis os encorajamentos necessários para dar um dinamismo espiritual e um estímulo apostólico renovados ao povo que vos foi pastoralmente confiado.

Agradeço a Sua Beatitude Michel Sabbah, Patriarca de Jerusalém dos Latinos, as cordiais palavras que me dirigiu em vosso nome. Elas manifestam a profundidade dos vossos empenhos ao serviço do anúncio do Evangelho. Através de vós, Bispos latinos das regiões árabes, uno-me com o pensamento e com o coração aos sacerdotes, religiosos e religiosas, bem como a todos os fiéis de cada uma das vossas dioceses, que nas diferentes situações, prestam um testemunho corajoso ao Senhor Jesus. Que Deus os ampare e os guie todos os dias!

É com grande emoção que conservo na minha memória a recordação das peregrinações que tive a alegria de realizar durante o ano jubilar na terra onde Deus se manifestou aos homens, desde o Sinai a Jerusalém, a Cidade Santa onde Cristo morreu e ressuscitou para a salvação da humanidade. Peço a Deus que me conceda a graça de prosseguir proximamente o meu caminho de peregrino indo à Síria, aos lugares que recordam a conversão do Apóstolo Paulo e o impulso missionário das primeiras comunidades cristãs.

2. Como escrevi na Carta Apostólica Novo millennio ineunte que dirigi a toda a Igreja no final do grande Jubileu, chegou o momento de "cada Igreja reflectir sobre o que o Espírito disse ao povo de Deus neste especial ano de graça e também no arco mais amplo de tempo desde o Concílio Vaticano II até ao Grande Jubileu, medindo o seu fervor e ganhando novo impulso para os seus compromissos espirituais e pastorais" (n. 3). De facto, é fundamental que as comunidades cristãs avancem resolutamente para o largo, fortificadas pelas graças recebidas do Senhor durante o ano jubilar e animadas por uma esperança solidamente enraizada na contemplação do rosto de Cristo.

Concluiu-se há um ano o Sínodo pastoral que reuniu pela primeira vez os membros de todas as comunidades católicas da Terra Santa. Encorajo-vos profundamente a realizar o plano pastoral, resultado da vossa caminhada eclesial: "Fiéis a Cristo, corresponsáveis na Igreja, testemunhas na sociedade".

As vossas comunidades, que vivem em situações minoritárias em sociedades nas quais a cultura e a vida quotidiana são profundamente marcadas pela presença de outras religiões, devem continuar incansavelmente a aprofundar a sua identidade cristã a fim de a manter na sua autenticidade evangélica. Elas nunca devem esquecer que o cristão vai buscar a sua identidade pessoal e eclesial à sua relação íntima com Cristo, que ajuda a viver qualquer situação e ilumina as suas opções, e não à sua acção ou às suas opções pessoais no seio da sociedade. Desta forma, elas poderão abrir-se, sem receio, ao próximo e contribuir para fazer resplandecer o rosto de amor de Deus entre as nações. Que elas se recordem que voltar-se para Cristo, Verbo Encarnado, e andar com Ele pelos caminhos da santidade leva a recusar qualquer forma de mediocridade e de religiosidade superficial para penetrar cada vez mais profundamente no seu mistério!

O testemunho prestado a Cristo e a participação na edificação do seu Corpo exigem que seja desenvolvida uma autêntica comunhão no interior da Igreja, sobretudo mediante relações cada vez mais confiantes entre os Pastores e os fiéis, bem como mediante uma colaboração pastoral habitual entre as diversas comunidades católicas, numa generosa abertura de espírito e de coração. Que as paróquias e as famílias sejam os lares vivos de unidade e de amor autêntico! De facto, "fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milénio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder também às expectativas profundas do mundo" (Carta Apostólica Novo millennio ineunte, 43). É na realização desta comunhão que a Igreja se manifesta como sinal e instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o género humano (cf. Lumen gentium, LG 1).

3. Nesta mesma perspectiva, os leigos são convidados a tomar uma parte cada vez maior na vida e no testemunho da Igreja, a fim de prestar contas efectivamente da esperança que os anima (cf. 1P 3,15). A tomada de consciência por parte dos leigos da sua vocação e da sua missão é uma fonte de conforto e de profunda alegria. Por conseguinte, é oportuno testemunhar-lhes uma confiança que os estimule a viver a fidelidade ao Evangelho e ao Magistério da Igreja, e a assumir as responsabilidades que lhes são próprias ao participarem activamente nos diferentes níveis da vida das suas comunidades. De igual modo, o seu empenho na gestão dos assuntos públicos, onde quer que seja possível, reveste uma grande importância, sobretudo nos âmbitos da justiça e da paz.

É portanto indispensável prosseguir os esforços que realizastes para garantir a formação dos leigos, a fim de os ajudar a adquirir verdadeiras competências, inclusive as que dizem respeito à vida social, económica e política. Ao empenhar-se na investigação intelectual e no estudo, eles contribuem também para desenvolver uma verdadeira cultura cristã, em colaboração com as outras Igrejas, propondo desta forma à sociedade a perspectiva cristã acerca do homem e dos princípios que podem orientar a acção de quantos se põem ao serviço dos seus irmãos. O acompanhamento pastoral das universidades católicas é importante para os ajudar a traduzir a sua fé na sua própria cultura e a ocupar o seu lugar na missão da Igreja.

4. No vosso ministério ao serviço da comunhão na Igreja, os sacerdotes são os vossos primeiros colaboradores. Através de vós, saúdo-os cordialmente convidando-os a terem uma confiança incondicional n'Aquele que os chamou e que não deixa de os acompanhar para os guiar na sua terefa de anunciar o Evangelho e de educar a fé dos fiéis. Perante os grandes desafios da evangelização, que eles não tenham receio de dar toda a sua vida a exemplo de Cristo e de se abandonar a Ele com generosidade! Ao abrirem largamente o seu coração ao amor de Deus, ao pôr-se à escuta dos seus irmãos, eles tornar-se-ão cada vez mais homens de esperança e de encontro de Deus.

Por isso os sacerdotes devem voltar incessantemente à fonte do seu ministério, a fim de encontrarem nele um novo estímulo apostólico. A sua actividade missionária dará fruto na medida em que eles consolidarem a sua vida espiritual mediante a celebração e a frequência assídua aos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, lugares privilegiados da comunhão. Mediante uma intensa vida de oração pessoal e comunitária, alma da vida sacerdotal e condição de qualquer vida pastoral frutuosa sob a acção do Espírito, eles entrarão num diálogo cada vez mais íntimo com o Senhor, que, devido à sua missão, devem anunciar aos seus irmãos. Ao adquirirem uma grande familiaridade pessoal com a Palavra de Deus, aceite com coração dócil e orante, poderão anunciar o Evangelho de modo autêntico e levar os fiéis a um conhecimento sempre mais profundo do mistério de Deus.

A formação permanente, sobretudo mediante a leitura, os encontros de reflexão e de oração, bem como mediante a participação em programas de ensino teológico e pastoral, é para cada sacerdote um dever fundamental a fim de permanecer fiel à sua identidade e missão na Igreja e para a Igreja.
Queridos Irmãos no Episcopado, conheço a vossa preocupação de favorecer as vocações sacerdotais e religiosas, e de transmitir a chamada de Cristo. Encorajo-vos nos esforços que fazeis na formação primária dos candidatos ao sacerdócio. Sede atentos em garantir-lhes uma boa formação intelectual, teológica, bíblica e espiritual! Mas, é indispensável que isto se baseie numa formação humana "que os ajude a adquirir uma maturidade pessoal e que os torne atentos à complexidade cultural na qual deverão exercer o seu ministério" (Exortação Apostólica Uma nova esperança para o Líbano, 62).

5. Os institutos religiosos estão presentes em numerosos âmbitos da vida das vossas Dioceses, onde os seus membros trabalham generosamente e colaboram de maneira activa na pastoral diocesana. Assegurai-os da minha oração e transmiti-lhes o meu encorajamento afectuoso! Em certas regiões, os religiosos e as religiosas são uma presença fundamental para a visibilidade da Igreja. Mediante os seus diversos empenhos, contribuem para a promoção humana e espiritual das pessoas, sem distinção de origem ou de religião, sobretudo nos âmbitos da educação, da saúde ou dos serviços sociais. Dou graças a Deus por quanto realizaram e por aquilo que continuam a realizar, juntamente com as pessoas que colaboram com eles, para o serviço de todos, num espírito de abnegação exemplar. Mediante a sua vida completamente votada a Deus e aos seus irmãos, eles são um ponto de referência para os jovens que frequentam as suas instituições de educação e para todas as pessoas que beneficiam do seu apoio e devotamento. Que eles continuem a dar testemunho durante toda a sua existência de uma Igreja que seja um verdadeiro lugar de fraternidade, partilha, refúgio, esperança e abertura aos outros!

Queridos irmãos no episcopado, a presença da Igreja nos meios escolares e educativos tem uma importância particularmente significativa. As escolas católicas são lugares onde os jovens podem adquirir uma sólida formação para preparar o seu futuro. Elas são também lugares de diálogo de vida entre jovens de tradições religiosas e de meios sociais diferentes. Estimulo-vos a favorecer sempre mais, em colaboração com as outras comunidades católicas, uma primavera da catequese e a desenvolver uma pastoral que se baseie em valores sólidos, a fim de contribuir para a formação do tipo de homens e de mulheres dos quais a Igreja e a sociedade têm necessidade.

6. A divisão entre os cristãos é uma infidelidade à vontade do Senhor, que obscurece a sua identidade de discípulos de Cristo. No momento em que acabamos de entrar no terceiro milénio, devemos manifestar com determinação o empenho da Igreja católica em favor da promoção da unidade, conscientes de que se não procurarmos ser ardentemente fiéis à oração intensa do Senhor, "para que todos sejam um", corremos o risco de enfraquecer a nossa identidade cristã e a nossa credibilidade no anúncio do Evangelho da paz e da reconciliação. Muitas vezes a divisão dos cristãos separa pessoas que caminham lado a lado todos os dias, que se amam e que, em pontos essenciais, partilham uma mesma fé em Cristo e no Baptismo; isto causa numerosos sofrimentos nas famílias. Estas situações difíceis não nos devem desencorajar, mas estimular-nos a trabalhar com convicção em favor da comunhão e do perdão. Em todas as regiões árabes, a Igreja latina deve prosseguir corajosamente os seus esforços de encontro fraterno e de colaboração com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais, certa de que o diálogo ecuménico só progredirá se abranger a vida concreta dos fiéis.

Que o ardente desejo da unidade esteja presente em todas as acções pastorais, sobretudo no prosseguimento da reflexão e do empenho acerca das questões de interesse comum, rezando e agindo juntos todas as vezes que for possível! A abertura ecuménica do ano jubilar em Belém foi motivo de grande esperança, que deve permitir o desenvolvimento de um clima fraterno entre as Igrejas e Comunidades eclesiais, a fim de progredir rumo a uma unidade tão desejada em serenidade, confiança e estima recíproca.

7. As condições nas quais deve viver a comunidade cristã no Médio Oriente, especialmente na Terra Santa, nem sempre permitem que os seus membros tenham uma existência pessoal e familiar como eles a desejam para si próprios e para os seus filhos. Encorajo profundamente os cristãos a manterem a confiança em si próprios e a permanecerem firmemente apegados à terra que foi também a dos seus antepassados: "Não tenhais medo de preservar a vossa presença e herança cristãs no próprio lugar onde o Salvador nasceu!" (Homilia em Belém, 22 de Março de 2000, n. 5; ed port. de 24/3/2000, pág. 9). A permanência dos cristãos em Jerusalém e nos Lugares Santos da Cristandade é particularmente importante, pois a Igreja não pode esquecer as suas origens. Ela deve testemunhar a vitalidade e a fecundidade da mensagem evangélica na terra da Revelação e da Redenção.

Estimados Irmãos no Episcopado, para que os fiéis possam continuar a viver serenamente estas situações, empreendestes esforços louváveis, dando-lhes motivações profundas, evangélicas e eclesiais, para que não cedam à tentação de abandonar a sua terra mas para que tenham cada vez mais a certeza da importância da sua presença e da beleza do seu testemunho. Não vos resigneis ao pensamento de uma inevitável partida! Estou consciente dos sacrifícios e da ascese que isto requer às famílias e às pessoas que aceitam generosamente resistir à tentação da procurar noutros lugares bem-estar económico e tranquilidade social. Em nome da Igreja, estou-lhes sentidamente reconhecido. Elas podem contar com o sustento da graça de Deus e com aquele seu irmão na fé que olha para elas com admiração.

Encorajo-vos também na vossa solicitude apostólica no que se refere aos católicos provenientes de outros países, sempre mais numerosos, que vieram para as vossas regiões, na maior parte dos casos, para encontrar um trabalho; eles precisam de uma ajuda pastoral específica. O seu testemunho de fé vivida corajosamente entre os homens e as mulheres dos vossos países é uma manifestação da universalidade da salvação de Jesus Cristo.

8. Conheço as grandes dificuldades com as quais se deparam as populações da vossa região. Desejaria mais uma vez garantir, em particular, a minha proximidade e o meu afecto a todos os que sofrem e que são vítimas da violência. Convosco sofre e padece toda a Igreja, na esperança de poder depressa, juntamente convosco, rejubilar com a realização de um desejo único, ao qual não se pode renunciar: a paz! "A Terra Santa deve ser a terra da paz e da fraternidade. É isto que Deus quer!" (Apelo em favor da paz, 2 de Outubro de 2000). Os acontecimentos que se verificam actualmente na Terra Santa, e que eu sigo com atenção, são preocupantes e põem à dura prova a esperança da paz. Desejo ardentemente que seja relançada rapidamente a mesa das negociações, pondo no centro de todas as preocupações o respeito pela dignidade de todo o homem que, no seu próprio território, tem o direito de viver em paz e em segurança. Isto só se realiza no respeito da lei internacional e na recusa da violência que só pode exasperar o ódio e os sentimentos de rancor, acentuando ainda mais profundamente as discórdias entre as pessoas e as comunidades. Nestas circunstâncias, é necessário como nunca fazer apelo ao diálogo e ao encontro, ao amor que cada qual sente pelos seus irmãos e por todos os homens, a fim de não negligenciar nenhuma possibilidade que possa abrir uma perspectiva de paz justa e duradoura. A importância que esta esperança reveste não permite ceder à tentação do desencorajamento.

A Igreja latina que se encontra na Terra Santa e nas regiões limítrofes deve tornar-se disponível para ser sempre portadora e inspiradora de sentimentos de compreensão recíproca, de diálogo e de solidariedade. Só mediante uma verdadeira educação para a paz, é que os corações se poderão abrir e os espíritos se poderão empenhar resolutamente na edificação de sociedades fundadas na fraternidade e no respeito recíproco na justiça.

O diálogo inter-religioso é também um meio privilegiado para progredir pelos caminhos da paz. A procura de um diálogo com o Judaísmo e com o Islão, verdadeiro e confiante, é uma das grandes urgências às quais a Igreja não se pode subtrair, para o bem de todos os povos da região. Esta disposição deve contribuir também para garantir uma verdadeira liberdade religiosa, a fim de que ninguém possa ser objecto de discriminação e de marginalização devido à sua crença religiosa, e que o estatuto especial concedido a uma religião não seja feito em desvantagem das outras.

Por fim, desejaria mencionar mais uma vez as situações dramáticas vividas por outros países da vossa região. No Iraque, o embargo continua a semear vítimas, demasiados inocentes pagam as consequências de uma guerra nefasta, cujos efeitos continuam a recair sobre as pessoas mais débeis e indefesas. A afluência dos refugiados do Sudão para o Egipto está a aumentar cada vez mais. Por conseguinte, é urgente encontrar soluções para acolher decentemente as pessoas deslocadas e para permitir uma boa integração a estas populações, assim como garantir uma assistência espiritual aos numerosos cristãos que se encontram entre eles. O meu pensamente vai também para a comunidade católica da Somália que, no passado, foi vítima de numerosas violências, fazendo votos por que uma actividade eclesial normal possa finalmente ser restabelecida nesse país. A todas essas comunidades, a todos os povos da região confirmo a atenção e o afecto que o Sucessor de Pedro tem por eles.

9. Estimados Irmãos no Episcopado, no final do nosso encontro exprimo-vos a minha sentida gratidão pelo trabalho pastoral que cada um de vós realiza com empenho e profundo amor à Igreja, no serviço ao povo que vos foi confiado, confrontando-vos com frequência com condições muito difíceis e por vezes com a solidão. Ao regressardes às vossas dioceses, levai a todos os fiéis católicos, sejam eles de rito latino ou oriental, a saudação e o afecto do Papa. Ele acompanha-vos com a sua oração e convida-vos a cultivar sempre mais os vínculos de amor e de colaboração entre as comunidades católicas. Que este desejo seja o melhor encorajamento para o regresso às vossas Igrejas particulares!

Confio-vos a vós e às vossas dioceses à intercessão materna da Virgem Maria, Rainha da paz. Ela vos proteja e vos guie nos vossos caminhos! A cada um de vós, aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e aos fiéis leigos das vossas dioceses, concedo de todo o coração uma particular Bênção apostólica.




AOS MEMBROS DO OPUS DEI


NO ENCONTRO SOBRE A CARTA APOSTÓLICA


"NOVO MILLENNIO INEUNTE"


17 de Março de 2001




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sede bem-vindos! Saúdo-vos do coração a cada um de vós, sacerdotes e leigos, vindos a Roma para participar nas jornadas de reflexão sobre a Carta Apostólica Novo millennio ineunte e sobre as perspectivas que nela apontei para o futuro da evangelização. Saúdo especialmente o vosso Prelado, o Bispo D. Javier Echevarría, que promoveu este encontro com o fim de potenciar o serviço prestado pela Prelatura às Igrejas particulares, onde os seus fiéis estão presentes.

Estais aqui, em representação das organizações em que a Prelatura está organicamente estruturada, quer dizer, sacerdotes e fiéis leigos, homens e mulheres, tendo à frente o próprio Prelado. Esta natureza hierárquica do Opus Dei, estabelecida na Constituição Apostólica com que erigi a Prelatura (cf. Const. Ap. Ut sit, 28-XI-82), oferece a ocasião para considerações pastorais ricas de aplicações práticas. Antes de tudo, desejo sublinhar que a pertença dos fiéis leigos seja à própria Igreja particular seja à Prelatura, à qual estão incorporados, faz que a missão peculiar da Prelatura conflua para o compromisso evangelizador de cada Igreja particular, como prevê o Concílio do Vaticano II ao desejar a figura das Prelaturas pessoais. A convergência orgânica dos sacerdotes e leigos é um dos terrenos privilegiados sobre que tomará vida e se consolidará uma pastoral marcada por aquele "dinamismo novo" (cf. Carta ap. Novo millennio ineunte, 15) para a qual todos nos sentimos encorajados depois do Grande Jubileu. Neste contexto, se lembra a importância daquela "espiritualidade de comunhão" sublinhada pela Carta Apostólica ( Cf. Ibidem, 42-43).

2. Os leigos, enquanto cristãos, estão comprometidos no desenvolvimento de um apostolado missionário. As suas competências específicas nas diversas actividades humanas são, em primeiro lugar, um instrumento confiado por Deus para permitir levar "o anúncio de Cristo às pessoas, plasmar as comunidades, permear em profundidade a sociedade e a cultura através do testemunho dos valores evangélicos" (Ibidem, 29). Esses, pois, são estimulados a pôr eficazmente as próprias consciências ao serviço das "novas fronteiras", que se anunciam como outros tantos desafios para a presença salvífica de Cristo no mundo.

Será o seu testemunho directo em todos estes campos a mostrar como só em Cristo os mais altos valores humanos atingem a sua plenitude. E o seu zelo apostólico, a amizade fraterna, a caridade solidária farão com que eles saibam orientar as relações sociais de cada dia em ocasiões para despertar nos próprios semelhantes aquela sede de verdade que é a primeira condição para o encontro salvífico com Cristo.

Os sacerdotes, por seu lado, exercem uma função primária insubstituível: a de ajudar as almas, uma a uma, nos sacramentos, na pregação, na direcção espiritual, a abrir-se ao dom da graça. Uma espiritualidade de comunhão valorizará ao máximo as funções de cada componente eclesial.

3. Exorto-vos, caríssimos, a não esquecer em todo o vosso trabalho o ponto central da experiência jubilar: o encontro com Cristo. O Jubileu foi uma contínua e inesquecível contemplação do rosto de Cristo, Filho eterno, Deus e Homem, crucificado e ressuscitado. Procurámo-lo na peregrinação para a Porta que abre ao homem o caminho do céu.

Experimentámos a sua doçura no acto humaníssimo e divino de perdoar aos pecadores. Sentimo-lo irmão de todos os homens, reconduzidos à unidade no Dom do amor que salva. A sede de espiritualidade que desperta na nossa sociedade não pode ser mitigada se não por Cristo.

"Não será uma fórmula a salvar-nos, mas uma Pessoa, e a certeza que Ela nos infunde: Eu estarei convosco!" (Carta Apostólica Novo millenio ineunte, NM 29). Ao mundo, a cada homem nosso irmão, nós, cristãos, devemos abrir o caminho que conduz a Cristo. "O teu rosto, Senhor, eu procuro" (Ps 27 [26], 8). Esta aspiração vinha muitas vezes aos lábios do Beato José Maria, homem sedento de Deus e por isso grande apóstolo. Ele escreveu: "Nas intenções, Jesus seja o nosso fim; nos afectos, o nosso amor; na palavra, o nosso argumento; nas acções, o nosso modelo" (Caminho, 271).

4. É tempo de renunciar a todos os temores e de nos lançarmos para metas apostólicas audazes. Duc in altum! (Lc 5,4): o convite de Cristo estimula-nos a fazer-nos ao largo, a cultivar sonhos e ambições de santidade pessoal e de fecundidade apostólica. O apostolado é sempre o transbordar da vida interior. Certamente, isso é também acção, mas sustentada pela caridade. E a fonte da caridade está sempre na dimensão mais íntima da pessoa, onde se escuta a voz de Cristo que nos chama a fazer-nos ao largo com ele. Possa cada um de vós acolher este convite de Cristo a corresponder com generosidade nova em cada dia.

Com estes votos, enquanto confio à intercessão de Maria o vosso compromisso de oração, de trabalho, de testemunho, concedo-vos com afecto a minha Bênção.




AOS PARTICIPANTES NA EXPEDIÇÃO AO POLO NORTE


Terça-feira, 20 de Março de 2001






Caríssimos Irmãos!

1. Recebo-vos de bom grado e sinto-me feliz por dirigir as minhas cordiais boas-vindas a cada um de vós, que vos preparais para a próxima expedição ao Polo Norte. Ela realiza-se cem anos depois da que foi feita pelo Príncipe Luís de Saboia Aosta, Duque dos Abruzos, na qual quis participar também o jovem sacerdote alpinista Pe. Achille Ratti, futuro Papa Pio XI, mas que não pôde partir devido a imprevistos dos últimos dias.

Vós desejais, de uma certa forma, completar aquela difícil expedição de 1900 e imitar os homens destemidos que, em condições difíceis, se propuseram alcançar metas até então nunca tocadas pelos homens. Na continuação de tal empreendimento e do que se seguiu em 1928, guiado por Umberto Nobile, preparais-vos para oferecer um testemunho do anseio jamais satisfeito do homem de conhecer páginas pouco exploradas do maravilhoso livro da criação. Tenho a certeza de que esta vossa singular viagem vos dará a oportunidade de partilhar a estupefacção do Salmista, que, perante os prodígios da natureza, exclama com entusiasta admiração: "Ó Senhor, nosso Deus, como é grande o vosso nome em toda a terra!" (Ps 8,1).

2. Se Deus quiser, precisamente no dia de Páscoa chegareis ao Polo Norte, e podereis celebrar lá a Santa Missa. Desta forma, realizar-se-á o desejo que Pio XI não conseguiu concretizar na sua época. Além disso, realizareis outro desejo seu: plantar a Cruz de Cristo naquela extrema ponta do globo terrestre. A artística cruz de procissão, que hoje abençoo de bom grado, representa homens e mulheres que procuram a salvação. Guiados pelo Sucessor de Pedro, eles encontram Cristo morto por nós na Cruz. Ele é o único Salvador do mundo, ontem, hoje e sempre.

Estes dois "sinais" imprimem à vossa expedição um claro valor missionário. Ao plantar a "árvore da Cruz" e ao renovar o Sacrifício eucarístico nos "confins da Terra", desejais recordar que a humanidade só encontra a sua dimensão autêntica quando é capaz de fixar o olhar em Cristo e confiar-se totalmente a Ele.

De modo especial, celebrando o sacrifício divino no Polo Norte precisamente no dia de Páscoa, desejais fazer ressoar com vigor, "até aos extremos confins da terra" (Ac 21,8), o anúncio do Senhor ressuscitado.

Faço cordiais votos por que esta missão, tão difícil e cheia de significado, seja coroada pelo êxito total e, para isso, confio cada um de vós à materna protecção da Virgem Maria, "Spes certa poli". Com estes votos, concedo-vos de coração a Bênção apostólica, que faço extensiva de bom grado a todos os que colaboram no vosso corajoso projecto.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


À ASSEMBLÉIA GERAL DA UNIÃO MUNDIAL DAS ORGANIZAÇÕES FEMININAS CATÓLICAS






À Senhora
María Eugenia Díaz de Pfennich
Presidente da União Mundial
das Organizações
Femininas Católicas

1. Saúdo com alegria as participantes na Assembleia Geral da União Mundial das Organizações Femininas Católicas, realizada em Roma de 17 a 25 de Março de 2001. Desde 1910 o vosso movimento reúne mulheres católicas provenientes de todos os continentes e de diferentes origens e culturas. Num espírito de respeito por esta diversidade, agora formais uma família grande e dinâmica no seio da Igreja católica. O vosso encontro no coração da Igreja universal é uma ocasião particular para confirmar a vossa identidade e receber a graça do Jubileu para abrir a Cristo a porta do vosso coração, das vossas casas e das comunidades nas quais viveis, rezais e seguis a vocação que Deus confiou a cada uma de vós.

2. No início de um novo milénio, as seiscentas delegadas desta Assembleia têm a oportunidade de agradecer a Deus por tudo o que ser mulher significa no desígnio divino, e pedir a Sua ajuda para vencer os numerosos obstáculos que ainda impedem o pleno reconhecimento da dignidade e da missão das mulheres na sociedade e na comunidade eclesial. O caminho percorrido no último século foi notável. Hoje, em muitos Países, as mulheres têm liberdade de movimento, de tomar decisões e de se exprimirem, uma liberdade conquistada com clareza de ideias e coragem. Elas manifestam o seu génio particular em numerosos âmbitos. No mundo actual existe a crescente consciência da necessidade de afirmar a dignidade da mulher. Não se trata de um princípio abstracto, porque requer um empenho unânime a todos os níveis para impedir com vigor "toda a praxe que ofende a mulher na sua liberdade e feminilidade: o chamado "turismo sexual", a compra e venda das jovens moças, a esterilização maciça e, em geral, toda a forma de violência" (Audiência geral de 24 de Novembro de 1999, n. 2, Ed. port. de 27/11/1999, pág. 12).

Contudo, as mulheres ainda se encontram perante numerosos obstáculos à sua realização autêntica. A cultura dominante divulga e impõe modelos de vida que são contrários à natureza mais profunda da mulher. Verificaram-se graves aberrações, algumas que surgem do egoísmo pessoal e da recusa de amar, outras de uma mentalidade que atribui muita importância ao direito de cada indivíduo, que enfraquece o respeito pelos direitos do próximo, e em particular os do nascituro indefeso, que com frequência é privado de qualquer tutela legal.


Discursos João Paulo II 2001 - Segunda-feira, 12 de Março de 2001