Discursos João Paulo II 2001

DISCURSO DO SANTO PADRE AOS MEMBROS


DA "FAMÍLIA KÖLPING INTERNACIONAL"


Quinta-feira, 25 de Outubro de 2001






Senhor Cardeal
Queridos Irmãos e Irmãs

1. Hoje a Praça de São Pedro é das Famílias Kölping. Dou-vos de coração as boas-vindas a este encontro jubiloso.

Agradeço ao Senhor Cardeal Joachim Meisner as calorosas palavras que me dirigiu e com Ele saúdo também o Presidente, o Prelado Heinrich Festing, bem como todos os Presidentes que vieram aqui com as suas famílias Kölping. Muitos de vós encontravam-se aqui há dez anos, quando elevei às honras dos altares o fundador do vosso movimento e precursor da doutrina social católica. É sem dúvida uma bênção para a vossa obra poder dirigir-vos de hoje para o futuro a um beato que não é só um exemplo para vós, mas também um intercessor.

2. Hoje, a vossa peregrinação de acção de graças realiza-se como resposta ao convite que Jesus fez a Mateus: "Segue-Me" (Mt 9,9).Quando foi ordenado sacerdote, Adolfo Kölping escolheu esta palavra do Evangelho quando fez a sua primeira pregação na cidade natal de Kerpen. Foi uma escolha feliz, porque o que Mateus foi para a alfândega, também Adolfo Kölping o foi para a oficina artesanal. Era um sapateiro e respondeu à chamada do Senhor, que não o deixou mais. Não continuou a exercer a sua profissão, mas fez-se sacerdote. De aprendiz de sapateiro tornou-se amigo de Jesus. Descobriu que seguir a Cristo leva à liberdade autêntica: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; chamei-vos amigos... Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi e vos nomeei para irdes e dardes fruto, e o vosso fruto permaneça" (Jn 15,15-16).

3. De facto, Adolfo Kölping deu abundantes frutos espirituais. É grande a colheita da obra de Kölping hoje em todo o mundo. É uma herança empenhativa. Deus, que nos deu a vida, tem também um plano para cada um de nós. Ele espera que nos constituamos em força da Boa Nova e, como uma árvore frondosa, demos bons frutos.

Como Irmãos e Irmãs das famílias Kölping tendes esta exigência particular que o vosso "pai" Kölping estabeleceu: como "sal da terra" e "luz do mundo" (Mt 5,13-14) deveis inserir-vos na sociedade e plasmá-la segundo os princípios da doutrina social católica. Agradeço-vos o vosso empenho, que no passado deu frutos tão bons. Para o futuro, exorto-vos: Deus não precisa de cristãos a meio tempo, mas de católicos autênticos!

4. Queridas irmãs e estimados irmãos! O Beato Adolfo Kölping disse certa vez: "É importante levar o cristianismo à vida social real em espírito e na prática". Esta frase do vosso fundador é hoje actual como nunca. Alegro-me porque, em todo o mundo, mais de cinco mil famílias Kölping a assumiram como um mandato. Por isto, vos agradeço de coração. Simultaneamente, encorajo-vos a não descuidar o vosso testemunho. "Fiel Kölping fiel a Kölping". Faço minha esta vossa saudação e concedo-vos a vós e aos vossos entes queridos a Bênção apostólica.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA


EPISCOPAL DO PAQUISTÃO




Aos meus Venerados Irmãos
da Conferência Episcopal do Paquistão

Neste momento de tão grave preocupação pelos dramáticos acontecimentos em curso nessa região, pedi ao Arcebispo Paulo Josef Cordes, Presidente do Pontifício Conselho ‘Cor Unum’, que vos fizesse uma visita para vos exprimir a minha total união na oração. Suplico ao Pai de toda a misericórdia que vos proteja, a vós e às vossas comunidades, e inspire sentimentos de prudência e coragem para enfrentardes os desafios deste tempo de dura provação.

Assegurando a solidariedade universal da Igreja a todos os povos da terra, desejamos e rezamos ardentemente que a luminosa estrela da paz possa brilhar de novo sobre a vossa região. No entanto, o sofrimento de homens, mulheres e crianças sem conta reclama em altos brados um lenitivo concreto. De modo particular, a dramática situação de muitíssimos refugiados requer esforços imediatos por parte de todos os que estejam em condições de poder ajudar.

O Arcebispo Cordes procurará juntamente convosco individuar as possibilidades concretas que se apresentam à Igreja no Paquistão de dar assistência aos nossos irmãos e irmãs em necessidade; eu apoiarei os vossos esforços com as minhas orações. De todo o coração vos abençoo a vós e a todos os fiéis. Possa a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardar os vossos corações e os vossos pensamentos em Jesus Cristo (cf. Fil Ph 4,7)!

Vaticano, 22 de Outubro de 2001.

IOANNES PAULUS II




ENCONTRO DO SANTO PADRE


COM OS PATRIARCAS ORIENTAIS CATÓLICOS


PARTICIPANTES NO SÍNODO DOS BISPOS


26 de Outubro de 2001




Venerados Patriarcas

1. Estou feliz por vos receber na ocasião do Sínodo dos Bispos, em que participastes activamente. Estou sinceramente agradecido pela vossa presença nesta Assembleia, na qual se exprime, de maneira particularmente significativa, a catolicidade da Igreja. Trouxestes-lhe a vossa preciosa participação. As propostas que apresentastes por escrito serão objecto de reflexão atenta, a fim de extrair delas todos os aspectos que possam contribuir para uma presença eficaz e cada vez maior da Igreja no mundo de hoje.

Aproveito de boa vontade esta ocasião para exprimir, mais uma vez, a minha proximidade espiritual às vossas dificuldades e às das populações confiadas aos vossos cuidados pastorais.

Juntos, rezemos para que os graves problemas com que vos deveis confrontar em cada dia, possam encontrar uma solução rápida e satisfatória. Neste momento, o meu pensamento vai para a Terra santificada pela presença e pregação do Redentor, Terra na qual Ele derramou o seu sangue pela salvação do mundo, e a partir da qual, ressuscitado, enviou ao mundo os seus Apóstolos.

2. Garanto-vos que sigo todos os dias com íntima participação as vicissitudes em que estão envolvidas as populações da região do Médio Oriente e, em comunhão com toda a Igreja, elevo a minha oração quotidiana para que possa, finalmente, surgir a aurora de uma paz duradoura e honrosa para todos. Neste encontro de intensa comunhão fraterna, peço-vos que dirijais ao clero, às pessoas consagradas e a todos os fiéis a expressão da minha cordial saudação.

Confio cada um de vós à especial protecção da Mãe de Deus, a quem as vossas Igrejas dedicam uma devoção muito especial. Muitas celebrações dos mistérios que a Ela se referem tiveram origem nas vossas terras, encontrando, depois, o consentimento e acolhimento em toda a Igreja! Queira a Virgem Santíssima dirigir o seu olhar materno sobre o vosso ministério e sobre as vossas queridas populações.

Com estes sentimentos, concedo a todos, como penhor de especial afecto, a minha Bênção.




AO NOVO EMBAIXADOR DO JAPÃO


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


29 de Outubro de 2001




Senhor Embaixador!

1. É com prazer que dou as boas-vindas a Vossa Excelência na ocasião da apresentação das Cartas, mediante as quais Sua Majestade o Imperador Akihito o acredita junto da Santa Sé como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Japão. Agradeço a Vossa Excelência a amabilidade de me ter transmitido as saudações do seu soberano. Ficar-lhe-ia grato pela amabilidade de lhe transmitir os votos que formulo pela sua pessoa e pela família imperial. De igual modo, por intermédio de Vossa Excelência, desejo saudar cordialmente o povo japonês e os seus dirigentes, pedindo ao Altíssimo que faça com que os esforços de todos para a edificação de uma sociedade cada vez mais fraterna e solidária dêem bons frutos, para o bem da nação e de todos os países da região.

2. Sensibilizaram-me muitíssimo, Senhor Embaixador, as suas palavras sobre o que a Igreja viveu durante o Grande Jubileu e sobre a atenção que dedica à acção da Santa Sé em favor do respeito da vida humana, da paz e do entendimento entre os povos. Vossa Excelência acaba também de exprimir a profunda preocupação, amplamente difundida no mundo actual, que diz respeito aos acontecimentos que, desde há algumas semanas, ameaçam os grandes equilíbrios do mundo e que mantêm na angústia milhões de pessoas. A história da vossa nação durante o século XX, marcada de modo especial pelos dias sombrios de Hiroshima e de Nagasaki, dos quais as reportagens fotográficas que mostram a angústia de adultos e de crianças foram difundidas no mundo, continua a estar presente na consciência de toda a comunidade internacional. Por conseguinte, a profunda e viva atenção pela paz que caracteriza a sociedade japonesa apela a todos os povos da terra para que façam tudo o que está ao seu alcance, a nível pessoal, comunitário e institucional, a fim de que triunfe a causa da paz e da fraternidade, e as decisões sejam tomadas em todos os níveis na perspectiva do bem comum da humanidade. Nestes dias, em que numerosos focos de tensão persistem e se desenvolvem, imploro de coração um empenho renovado e cada vez mais intenso de todos os homens de boa vontade, para que, mediante o diálogo e a colaboração, cada povo possa ter uma terra e cada pessoa possa viver em paz. A confiança entre as pessoas e entre os povos fará com que deixe de existir o terrorismo, que não pode absolutamente abrir o caminho ao reconhecimento de um grupo de pessoas ou de uma ideologia, nem levar a uma forma de governo num país ou região.

De facto, o uso da violência sob todas as formas não permite nem regular os conflitos nem lançar as bases de uma sociedade respeitadora de todos os seus membros, devido às feridas que causa, afasta qualquer caminho social pacífico e reduz a nada os direitos mais fundamentais das pessoas e dos povos à paz e a um desenvolvimento integral e solidário. Os valores religiosos, espirituais, culturais e humanos sobre os quais se baseia a sociedade japonesa e muitas outras sociedades, tais como o respeito da criação da vida, o espírito fervoroso do trabalho, o profundo sentido da solidariedade, a capacidade de abertura à transcendência, são elementos fundamentais para a edificação da civilização do amor e da paz; elas têm em particular o seu lugar na orientação da res publica, a fim de transformar a partir de dentro a vida política, económica, social e cultural da sociedade e proporcionar-lhe o acréscimo de humanismo que faz com que ela esteja cada vez mais ao serviço do homem e da família.

3. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, recordou como o diálogo entre as civilizações é uma condição necessária para um futuro de paz. A fim de que os conflitos e as tensões que atravessam o continente asiático diminuam e se resolvam, este diálogo deve realizar-se de maneira muito especial, sobretudo para um intercâmbio entre os diferentes povos, culturas e as diversas tradições religiosas e filosóficas, no respeito da liberdade legítima das pessoas e dos povos, sobretudo em matéria religiosa, para que as religiões jamais sejam pretextos para actos contrários ao respeito de todos os seres humanos e de cada comunidade humana. No Japão, como noutras partes, o desafio do diálogo entre as culturas assenta sobretudo na "consciência de que há valores comuns a todas as culturas, porque radicados na natureza da pessoa". Por conseguinte, é fundamental "alimentar aquele húmus cultural de natureza universal que torna possível o fecundo desenrolar dum diálogo construtivo. Também as várias religiões podem e devem dar um contributo decisivo para o efeito" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 16).

4. A Igreja católica, devido à missão que recebeu de Cristo, participa activamente neste diálogo, desejando contribuir sempre, em harmonia com todos os homens de boa vontade, para a edificação de uma comunidade humana unida e solidária. Aprecia a grande estima e a boa consideração de que a Igreja católica goza no Japão, sobretudo nos campos da assistência social e da educação. Vossa Excelência sabe que os estabelecimentos de ensino católicos têm a preocupação não só de preparar os jovens para estruturar a sua inteligência para um melhor mestrado no saber, mas também para formar neles o ser integral, a fim de que, sendo agentes da vida social, sejam autênticos servidores do homem e da sociedade japonesa, e possam transmitir os valores espirituais e morais necessários ao seu pleno desenvolvimento e ao dos seus compatriotas. No momento da mundialização, que deveria sensibilizar as nações para que tomem consciência de que "a situação actual de interdependência planetária ajuda a perceber melhor a comunhão de destino da família humana inteira" (ibid., 17), e no momento em que a sociedade japonesa se confronta com o aumento do desempego, a desintegração da relação interpessoal e a ruptura social, a Igreja católica deseja fazer descobrir o sentido da vida e do destino verdadeiro do homem, a fim de fortalecer um real espírito de entreajuda nas pessoas, com vista a uma concórdia e uma justiça cada vez mais intensas entre todos os que constituem a nação.

5. Senhor Embaixador, permita-me saudar muito calorosamente, por seu intermédio, os Bispos do Japão, que tive a alegria de receber aqui, durante este ano, por ocasião da visita ad Limina, assim como todos os membros da comunidade católica. Ao renovar-lhe o meu sentido encorajamento, convido-os a permanecer, como os seus antepassados na fé nesta terra do Japão, discípulos fiéis de Cristo, atentos a todos os seus irmãos, sobretudo aos mais pobres e aos jovens, que são muito frágeis e cuja existência muitas vezes é precária num mundo marcado pelo materialismo.

Possam eles, juntamente com todos os japoneses, contribuir para a edificação de uma nação unida, onde cada um se sinta respeitado, acolhido e reconhecido antes de mais pelo que é e não pelo valor que pode ter na ordem económica!

6. No momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão, apresento-lhe os meus melhores votos pela nobre tarefa que o espera. Asseguro-lhe que encontrará sempre um acolhimento atento e uma compreensão cordial junto dos meus colaboradores.

Invoco de todo o coração sobre Sua Majestade o Imperador, sobre a família imperial, sobre o povo japonês e seus dirigentes, sobre Vossa Excelência e os seus familiares, assim como sobre o pessoal da Embaixada, a abundância das Bênçãos divinas.



                                                                             Novembro de 2001


À PEREGRINAÇÃO DA


ASSOCIAÇÃO EUROPEIA


"HISTORISCHER SCHÜTZEN"


3 de Novembro de 2001


Caros Irmãos e Irmãs

1. Dirijo-vos com alegria a minha saudação de boas-vindas ao Palácio Apostólico e estou contente porque se pôde realizar este encontro. Viestes a esta peregrinação a Roma como representantes da Associação Europeia dos "Historischer Schützen", para visitar os túmulos dos príncipes dos apóstolos e para tirar da experiência da fé comum a força do caminho para o futuro.

Quem quer entrar no futuro de um modo sensato deve conhecer a herança do passado. Quem deseja, hoje, colaborar na construção de um mundo justo e pacífico, deve estar consciente de qual é a sua pátria. Sobretudo para vós, como membros desta associação de atiradores, a pátria representa um bem precioso. Enquanto, na origem, as vossas associações se dedicaram à protecção da pátria como espaço vital territorial, hoje são importantes os valores e as tradições que lhes estão anexas e que é necessário conservar. Enfim, a pátria mostra a plenitude do seu significado se se ultrapassa a esfera terrena e se recordamos as palavras que São Paulo dirigiu aos Filipenses: "nós, porém, somos cidadãos do Céu" (Ph 3,20).

2. Caros Irmãos e Irmãs! Olho para vós, que vos empenhais em conservar nos vossos Países o grande bem da pátria no seu significado completo e em transmitir as preciosas tradições às gerações futuras, com reconhecimento e estima. Faltaria alguma coisa à vossa peregrinação se não previsse também uma visita ao túmulo de São Sebastião! Com efeito, estais ligados de modo particular a este mártir, uma vez que o elegestes como vosso patrono.

São Sebastião pode também servir-vos de modelo para o vosso testemunho cristão. Hoje, mais do que nunca, é pedido este testemunho. De facto, um número cada vez maior dos nossos contemporâneos vive como se Deus não existisse. A fé cristã, porém, não se espalha com a força das armas, mas sim com o testemunho de vida. São precisos homens e mulheres que na sua actividade de cada dia não se cansem de interrogar com atenção os sinais dos tempos e de transmitir o Evangelho sem medo. É por isso que vos quero dizer a vós, atiradores: quem quer ser plenamente cristão deve primeiro deixar-se atingir por aquele a que deve o seu nome, quer dizer Jesus Cristo.

São Sebastião estava atingido por Cristo; por isso puderam ser apontadas as flechas que feriram o seu corpo, mas não atingiram a sua alma. São Sebastião, com efeito, estava preparado para um testemunho que deveria pagar com o sangue. Tinha descoberto aquilo que a Carta aos Efésios aconselha aos cristãos: "permanecei firmes, tendo os vossos rins cingidos com a verdade, revestidos com a couraça da justiça e os pés calçados, prontos para ir anunciar o Evangelho da paz. Empunhai, sobretudo, o escudo com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ep 6,14-17).

3. Caros Irmãos e Irmãs! Quando vos dirigirdes às competições e festas dos atiradores, recordai: a verdadeita competição é a vida. Aqui, como cristãos, não podeis chegar atrasados! E quando premiais os vossos "reis atiradores", estai conscientes de que o vosso verdadeiro rei é Cristo, Senhor do Universo. Com o desejo de que vos deixeis envolver por Cristo, concedo-vos do íntimo do coração a Bênção Apostólica.




AOS NUMEROSOS PEREGRINOS


VINDOS PARA A CERIMÓNIA DE


BEATIFICAÇÃO


Segunda-feira, 5 de Novembro de 2001

Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Religiosos e Religiosas
Irmãos e Irmãs

1. A poucos dias da Solenidade de todos os Santos, quando pudemos dar graças a Deus pelas grandes obras realizadas em muitos dos nossos irmãos e irmãs que nos precederam ao longo do caminho da santidade, a Igreja continua a viver um clima de festa, pela proclamação de oito novos Beatos, ocorrida no dia de ontem.

No encontro desta manhã, temos a oportunidade de nos confrontarmos com os ensinamentos e os testemunhos de caridade, que eles nos deixaram. Tudo isto deve levar-nos a encontrar a confiança e a coragem para continuar a percorrer o comprometedor e exaltante caminho rumo à santidade, "medida alta" da vida cristã ordinária" (Novo millennio ineunte, 31).

2. Dirijo a minha cordial saudação, em primeiro lugar, a vós caríssimos peregrinos provenientes da Eslováquia, que vos alegrais com a beatificação de Paulo Pedro Gojdic e de Metódio Domingos Trcka. Seguindo o espírito evangélico e o ardor apostólico dos Santos Cirilo e Metódio, Apóstolos dos Eslavos, os dois novos Beatos brilham pelo amor a Cristo, o serviço aos irmãos e a fidelidade à Sé de Pedro.

Para o seu ministério episcopal, o Beato Paulo Pedro Gojdic escolheu o lema "Deus é amor. Amemo-lo!", que depois traduziu numa profunda devoção à Eucaristia e ao Sagrado Coração. Ele nutria um afecto filial pela Mãe de Deus, particularmente venerada na imagem da Virgem de Klokocov, que ele conservava na sua capela residencial. Quando o poder do Estado passou a considerar ilegal a Igreja greco-católica, o Beato Paulo Pedro Gojdic foi detido e aprisionado. Poderia ter evitado a prisão, se renegasse a sua fidelidade à Igreja e ao Papa. Contudo, permaneceu fiel e, hoje, nós veneramo-lo na glória dos Beatos como exemplo de profunda espiritualidade e de iluminada actividade pastoral.

O Beato Metódio Domingos Trcka desempenhou o seu trabalho missionário como Superior da Casa em Michalovce e Visitador Apostólico das Irmãs Basilianas em Presov e em Uzhorod, tornando-se um ponto de referência para a vida espiritual e para as iniciativas apostólicas de inúmeras pessoas. Com a chegada do regime comunista, Padre Metódio Domingos Trcka foi aprisionado, repetidamente interrogado, processado e enfim condenado a doze anos de cárcere. Em virtude das privações e dos sofrimentos padecidos na prisão, morreu na sua cela, oferecendo um heróico testemunho de fidelidade ao Evangelho, de solidariedade para com o seu próprio povo e de amor à tradição do cristianismo de Rito oriental.

3. Agora, dirijo-me aos peregrinos de língua italiana, de maneira particular a quantos vieram a Roma para participar na beatificação de João António Farina, que foi Bispo zeloso e iluminado, primeiro de Treviso e em seguida de Vicencia. Saúdos os Pastores destas duas Dioceses, sucessores do novo Beato, e também as Irmãs Mestras de Santa Doroteia, Filhas dos Sagrados Corações, por ele fundadas.

O Beato Farina consagrou-se totalmente ao autentico progresso humano e espiritual do rebanho confiado aos seus cuidados. Desejando fazer-se tudo para todos, chegava a descuidar até mesmo as coisas necessárias para a sua vida. A sua intensa actividade apostólica, tanto na juventude como nos anos da maturidade, foi constantemente penetrada pela uniao com Deus. Homem de caridade, dedicou atençoes especiais à formação da juventude e ao cuidado dos indigentes, dos abandonados e das pessoas que sofriam de males de todos os géneros, correspondendo às graves instâncias sociais da sua época, com uma riqueza criativa e um espírito de total abandono nas maos de Deus.

4. O Dia Missionário Mundial, celebrado no mês de Outubro, encontra como que um prolongamento na beatificação do Padre Paulo Manna, que foi Superior-Geral do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras e grande apóstolo da evangelização ad gentes. Com a sua existência completamente consagrada a favor da causa missionária, foi um autêntico procursor das intuições e das indicações do Concílio Ecuménico Vaticano II. O novo Beato possui o grande mérito de ter insistido fortemente sobre a santidade sem descontos e sem hesitações, como premissa indispensável para ser apóstolo autêntico e credível do Evangelho.

Agora, o nosso olhar dirige-se para Luigi Tezza, em quem resplandecem de modo singular a caridade e o amor para com os mais necessitados. Ele viveu dia a dia a plena fidelidade à sua vocação, na constante busca e realização da vontade divina e no serviço generoso e desinteressado ao próximo. A afirmação do Senhor Jesus: "Estava doente e visitastes-me" (Mt 25,36) encontra-se no fundamento da sua existencia de religioso pertencente à Ordem dos Ministros dos Enfermos, e de fundador do Instituto das Filhas de São Camilo, às quais desejou transmitir o carisma de "testemunho do amor de Cristo aos doentes com um coração de mãe".

Também Gaetana Sterni, fundadora das Irmãs da Divina Vontade, soube levar uma vida ordinária com espírito extraordinário. Teve que sofrer muitos padecimentos, sobretudo nos anos da sua juventude que, contudo, aprimoraram a sua sensibilidade, tornando-a capaz de amor gratuito, de perdão e de disponibilidade para com os pobres. Vivendo num estado de busca contínua e de realização da vontade de Deus, compreendeu que o cumprimento da vontade divina significa comprometer-se em tirar, com a força do amor, o bem também do mal, segundo o estilo de Jesus.

Precisamente por este motivo, o seu testemunho de vida é mais necessário do que nunca também nos dias de hoje.

5. O Beato Bartolomeu dos Mártires, dominicano por vocação e ideal de vida, ardia de zelo pela causa de Deus, que é a salvação dos homens, iluminando-lhes o caminho com o Evangelho. Fiel à norma apostólica, "entrega-se assiduamente à oração e ao serviço da palavra" (cf. Act Ac 6,4), arrastando consigo o clero: promove a sua formação permanente, ao seu alcance poe meios para pregar ao povo e funda o Seminário para preparar dignamente os futuros sacerdotes.

O Seminário era apenas uma das medidas da reforma preconizada pelo Concílio de Trento, a cuja realização o Beato Arcebispo se consagrou de alma e coração, não sem obstáculos, alguns com ressonância em Roma. O Papa Pio IV assim respondeu, falando de Dom Frei Bartolomeu: "Tal satisfação nos deu, no tempo que participou no Concílio, com a sua bondade, religião e devoção, que o ficámos tendo em grande conta, com tamanho conceito da sua honra e virtude que não poderão alterá-lo queixumes de ninguém" (Carta ao rei de Portugal, Cardeal Dom Henrique). Ontem pude assinalar, com o acto da sua beatificação, estes sentimentos do meu Predecessor.

Saúdo a Igreja de Lisboa, que lhe deu o berço, e a de Viana do Castelo, que o acolheu nos seus últimos anos e conserva a relíquia venerável do seu corpo; saúdo a Arquiodiocese bracarense na sua extensão de então e Portugal inteiro, que ele serviu e amou, sobretudo na pessoa dos pobres.

6. Saúdo com muito afecto todos os peregrinos, que ontem participaram na beatificação de Madre Maria Pilar Izquierdo, provenientes dos lugares onde está presente a Obra Missionária de Jesus e de Maria. Na Europa: Espanha e Itália; na América: Colômbia, Equador e Venezuela; e na África: Nacala e Maputo, em Moçambique.

No mundo actual, onde às vezes prevalece a busca desmedida do prazer e da utilidade imediata, a figura de Madre Maria Pilar Izquierdo, proclama com sublime eloquência o valor redentor do sacrifício, livremente aceite e oferecido, juntamente com o de Cristo, para a salvação da raça humana. A Beata Madre Maria Pilar Izquierdo foi uma verdadeira apóstola da difusão do Evangelho. Com um grupo de seguidoras, consagrou-se ao seu anúncio nos bairros pobres e marginalizados, sedentos de pão e sobretudo de Deus, num período da sua vida em que não lhe faltaram incompreensões de todos os tipos. Ela nunca perdeu o amor pelo sacrifício, e assim é um exemplo luminoso para quantos, mesmo no meio de numerosas dificuldades, consagram a sua vida à causa do Reino dos Céus.

7. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Dirijamos a nossa oração ao Senhor a fim de implorarmos também para nós a mesma fé, a mesma coragem e a mesma dedicação que enalteceram estes oito novos Beatos.

Que nos sustente sempre a sua intercessão celestial, juntamente com a da Virgem Maria, a cuja protecção materna vos confio a todos vós, as vossas famílias e as vossas Comunidades de proveniência, enquanto vos concedo a cada um, do íntimo do coração, uma especial Bênção.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


AO PRESIDENTE DA CONFERÊNCIA


EPISCOPAL DA FRANÇA


Ao Senhor Cardeal LOUIS-MARIE BILLE
Arcebispo de Lião Presidente da Conferência Episcopal da França

1. No momento em que em Lourdes numerosos peregrinos, à volta dos Bispos de França reunidos em assembleia plenária, se preparam para celebrar solenemente o centenário da consagração da basílica de Nossa Senhora do Rosário, sinto-me feliz por dirigir a todos a minha cordial saudação e por me unir mediante a oração à sua acção de graças pelos benefícios espirituais obtidos nesse lugar e pelas conversões que aí se realizaram. Para celebrar as maravilhas de Deus, é bom que os corais litúrgicos da França, reunidos junto dos santuários, acompanhem a oracção dos fiéis e de quantos se unem à celebração eucarística graças aos meios de comunicação.

2. A 6 de Outubro 1901, o meu predecessor, o Papa Leão XIII, convidava todos os Bispos do mundo a partilhar a alegria que a consagração desta igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário lhe proporcionava, felicitando-se também pela oportunidade oferecida aos cristãos de aprofundar o significado da antiga e venerável prática da oração à Mãe de Deus. De facto, como é realçado pela tradição litúrgica, a Igreja tem em grande consideração o culto a Maria, indissoluvelmente ligado à fé em Cristo.

3. Parábola viva de pedra e de luz, esta basílica apresenta aos olhos dos peregrinos os quinze mistérios da vida de Cristo, revelando desta forma o profundo sentido do Rosário. Esta oração, centrada na contemplação da Encarnação redentora, faz-nos participar sob a orientação da Virgem Maria nos actos do Salvador. Com esta Mãe puríssima, percorremos a história da salvação e, através da meditação dos mistérios do Rosário, recebemos o amor de Deus, manifestado de maneira sublime no dom do Verbo Encarnado. De igual modo, graças ao culto prestado à Virgem, a Igreja nunca perde de vista a sua finalidade última que é "glorificar Deus e empenhar os cristãos numa vida totalmente conforme com a sua vontade" (Paulo VI, Exortação apost. Marialis cultus, 39).

4. No alvorecer do terceiro milénio, é Cristo que somos convidados "a conhecer, amar, imitar, para n'Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar a história até à sua plenitude na Jerusalém celeste" (Novo millennio ineunte, 29). Como dizia São Luís Maria Grignon de Montfort, não é possível que "se possa adquirir uma forte união com Nosso Senhor e uma fidelidade perfeita ao Espírito Santo sem uma união profunda com a Santíssima Virgem" (Tratado da verdadeira devoção). Por conseguinte, encorajo vivamente os fiéis a crescer no conhecimento dos mistérios de Cristo pela meditação do rosário, deixando que ele ilumine pouco a pouco as suas almas, a fim de se tornarem, como Maria, verdadeiros discípulos do Senhor e conformar as suas vidas com a Paixão e a Ressurreição do Salvador.

5. Ao invocar a intercessão de Nossa Senhora de Lourdes e de Santa Bernadete, concedo-vos a Bênção apostólica, que de bom grado faço extensiva a D. Jacques Perrier, Bispo de Tarbes e Lourdes, e a todos os Bispos, aos coros litúrgicos reunidos no contexto da ANCOLI, aos fiéis congregados e a todos os que estão em comunhão com eles através da rádio e da televisão, bem como a todos os peregrinos que, por ocasião das festividades do centenário desta consagração, forem a esse lugar.

Vaticano, 7 de Outubro de 2001.




AOS MEMBROS DO


CENTRO CULTURAL "JOÃO PAULO II"

Terça-feira 6 de Novembro 2001


Eminências
Queridos Amigos

É-me grato receber-vos no Vaticano pela primeira vez desde a inauguração da nova sede do Centro cultural em Washington. Agradeço ao Cardeal Maida as suas palavras de cordialidade e a apresentação do seu relatório sobre o desenvolvimento da missão do Centro, que visa fazer progredir o diálogo da Igreja com as várias formas de expressão da aspiração universal do homem à verdade e ao significado.

Os trágicos acontecimentos que surpreenderam a comunidade internacional ao longo dos últimos dois meses levaram-nos a tomar uma renovada consciência da fragilidade da paz e da necessidade de construir uma cultura de diálogo e de cooperação respeitosos entre todos os membros da família humana. Estou persuadido de que a comunidade católica que está nos Estados Unidos da América continuará a defender o valor da compreensão e do diálogo entre os seguidores das religiões do mundo inteiro. Como bem sabeis, o compromisso da Igreja neste diálogo é inspirado, em última análise, pela sua convicção de que a Mensagem evangélica tem o poder de iluminar todas as culturas e de agir como um fermento salvífico de unidade e de paz para toda a humanidade. Num mundo de crescente pluralismo cultural e religioso, este diálogo constitui um elemento essencial para superar os trágicos conflitos herdados do passado, e também para assegurar que "o nome do único Deus se torne cada vez mais aquilo que é: um nome de paz, um imperativo de paz" (cf. Novo millennio ineunte, 55).

O Centro cultural tem a sua própria contribuição a oferecer para este importante empreendimento. Uma vez mais, aproveito esta oportunidade para vos agradecer, a vós e aos numerosos benfeitores do Centro, o vosso constante compromisso na sua missão de fazer com que a Igreja e os seus ensinamentos se tornem cada vez mais amplamente conhecidos. Enquanto invoco sobre as vossas pessoas e as vossas famílias a paz de Jesus Cristo, que ultrapassa todo o entendimento (cf. Fl Ph 4,7), concedo-vos a todos a minha cordial Bênção apostólica.





Discursos João Paulo II 2001