Discursos João Paulo II 2001 - Terça-feira, 15 de maio de 2001

AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO


PROMOVIDO PELA


FUNDAÇÃO "ÉTICA E ECONOMIA"


17 de Maio de 2001





Ilustres Senhores
Gentis Senhoras

1. Sinto-me feliz por dar a cada um a minha cordial saudação. Este encontro insere-se no contexto de uma iniciativa por vós promovida para aprofundar, sob vários pontos de vista, o comprometedor projecto de uma reflexão pormenorizada sobre a globalização, a solidariedade e a livre iniciativa económica, com base em sólidos valores éticos e espirituais.
Agradeço ao Dr. Tullio Chiminazzo as amáveis palavras que me dirigiu, fazendo-se intérprete dos sentimentos comuns.

Foi com prazer que tomei conhecimento do programa, que orienta a nascente Fundação "Ética e Economia" e encorajo-vos a prosseguir esta obra para inserir no âmbito da economia as perspectivas e indicações do magistério e da Doutrina Social da Igreja.

A vossa instituição reúne pessoas provenientes de diversas partes do mundo. Mesmo tendo sensibilidades culturais diferentes, partilhais a comum determinação de querer harmonizar liberdade, progresso e igualdade de acordo com os princípios evangélicos da solidariedade. Isto é muito necessário nesta nossa época marcada por profundas mudanças sociais.

2. De facto, os processos económicos de hoje orientam-se cada vez mais para um sistema que é definido, pela maior parte dos observadores, com a palavra "globalização". Trata-se, sem dúvida, de um fenómeno que permite grandes possibilidades de crescimento e de produção de riquezas.

Mas muitos também admitem que ele, por si só, não garante uma distribuição justa dos bens entre os cidadãos dos vários países. Na realidade, a riqueza produzida fica muitas vezes concentrada em poucas mãos, com a consequência da ulterior perda de soberania dos Estados nacionais, já bastante debilitados nas regiões em vias de desenvolvimento, e o verificar-se de um sistema mundial governado por poucos centros que estão nas mãos de particulares. Sem dúvida, o livre mercado é uma característica evidente da nossa época. Mas existem necessidades humanas imprescindíveis, que não podem ser deixadas à mercê desta perspectiva, pois correm o risco de ser eliminadas.

A doutrina da Igreja ensina que o crescimento económico deve ser integrado por outros valores, de forma a tornar-se progresso qualitativo, ou seja, igualitário, estável, respeitador das individualidades culturais e sociais, e de possível realização sob o ponto de vista ecológico. Ele não se pode separar de um investimento feito também nas pessoas, nas capacidades criativas e inovadoras do indivíduo, recurso básico de qualquer sociedade.

3. Se for entendida de maneira coerente, a palavra "global" deve incluir todos. Por conseguinte, é necessário esforçar-se por eliminar as persistentes vagas de marginalização social, económica e política. Isto também é válido para a exigência, muitas vezes realçada, de garantir a "qualidade". Também este conceito deve ter em consideração não só o produto mas, em primeiro lugar, quem o produz. Refiro-me à necessidade da "qualidade total", ou seja, à condição global do homem no processo produtivo.

Só quando o homem é protagonista e não escravo dos mecanismos da produção, a empresa se torna uma verdadeira comunidade de pessoas. Eis um dos desafios que se apresentam às novas tecnologias, que já aliviaram uma parte da fadiga humana, mas apresentam-se também às entidades patronais directas ou indirectas, ou seja, a todas aquelas forças das quais dependem as orientações das finanças e da economia.

A elas está ligado quer o resgate do homem em relação ao trabalho, quer a descoberta de uma solução eficaz para o problema do desemprego, chaga planetária que se poderia sarar, se os percursos do capital nunca perdessem de vista o bem do homem como objectivo final.

4. Vendo bem, a globalização é um fenómeno intrinsecamente ambivalente, a meio caminho entre um bem potencial para a humanidade e um dano social com graves consequências. Para orientar em sentido positivo o progresso será necessário empenhar-se profundamente por uma "globalização da solidariedade", que se deve construir mediante cultura, regras e instituições novas, a níveis tanto nacional como internacional. Será preciso, sobretudo, intensificar a colaboração entre política e economia, para aprovar projectos específicos que tutelem quem poderia vir a ser vítima de processos de globalização em escala planetária. Penso, por exemplo, em instrumentos que possam aliviar o fardo pesado da dívida externa dos Países em vias de desenvolvimento, ou em legislações que protejam a infância da exploração que se verifica na prematura iniciação das crianças no trabalho.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, exprimo-vos a minha satisfação pelo contributo que desejais oferecer para soluções tão amplas e actuais. Desejo sinceramente que este vosso contributo seja sempre iluminado pelo ensinamento secular da Igreja, para que a liberdade económica nunca esteja separada do dever da igual distribuição da riqueza. Com a certeza da minha oração, concedo-vos a todos de bom grado a minha Bênção.



DISCURSO AOS PARTICIPANTES


NA ASSEMBLEIA GERAL DA


CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA


17 de Maio de 2001



Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. "Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (1Co 1,3). É-me grato saudar-vos com estas palavras do Apóstolo Paulo. Agradeço ao Cardeal Camillo Ruini, vosso Presidente, o discurso que me dirigiu, em particular os bons votos pelo meu aniversário, e saúdo os outros Cardeais italianos, os Vice-Presidentes e o novo Secretário-Geral.

Nesta circunstância propícia da vossa Assembleia geral, desejo expressar-vos, e através de vós a todas as Comunidades eclesiais italianas, a minha profunda gratidão pela excepcional contribuição que oferecestes para o feliz êxito do Grande Jubileu do Ano 2000, que para toda a Igreja constituiu um extraordinário tempo de graça. De modo especial, quero agradecer-vos o vosso generoso contributo para a XV Jornada Mundial da Juventude: mais de dois milhões de jovens, de entre os quais uma parte considerável era italiana, vieram a Roma nesses dias memoráveis, testemunhando quanto é viva a fé cristã e sentida a pertença eclesial entre as novas gerações. Os jovens provenientes de outras nações, que também vieram em grande número, puderam experimentar as capacidades de acolhimento, alimentadas pela caridade, das Dioceses italianas.

2. O tema central da vossa Assembleia são as orientações pastorais que desejais oferecer à Igreja na Itália para a década que há pouco teve início. Muito oportunamente, unistes de maneira estreita e orgânica estas orientações à Carta Apostólica Novo millennio ineunte, que assinei no encerramento do Ano Santo. Nela indiquei os pontos de referência fundamentais e irrenunciáveis da vida e da pastoral da Igreja, comprometendo os fiéis a conservar o olhar fixo no rosto de Cristo. Desta contemplação é possível haurir um impulso renovado, no seguimento do Mestre, e a energia inspiradora para a grandiosa obra de evangelização e de inculturação da fé, necessária e urgente num mundo repleto de desafios radicais e de profundas transformações.

Queridos Irmãos no Episcopado, juntamente convosco dou graças a Deus pelo dinamismo espiritual e pastoral que caracteriza a Igreja na Itália, pelo testemunho de fidelidade e de zelo apostólico que os sacerdotes oferecem, permanecendo próximos das pessoas e das famílias confiadas ao seu cuidado pastoral, e pela generosidade com que muitos religiosos e religiosas vivem a sua vocação específica na contemplação, na evangelização, na formação escolar e no serviço aos enfermos e aos marginalizados. E como deixar de recordar os cristãos leigos, não raro reunidos em associações e movimentos, que amadurecem uma crescente consciência da sua vocação baptismal, assumindo a sua parte de responsabilidade na edificação da Igreja? Com empenho coerente, eles esforçam-se para dar vida a autênticas famílias cristãs e para oferecer um testemunho convincente no trabalho e no estudo, nas actividades sociais, económicas e políticas.

Porém, também na Itália se têm difundido as tendências a viver "como se Deus não existisse", as quais são com frequência promovidas e reformuladas pelos meios de comunicação social, com graves riscos para a formação moral das pessoas e da colectividade em geral. Uma parte da missão do Pastor consiste em ensinar com clareza a recta doutrina em matéria de fé e de moral, sustentando e encorajando todas as iniciativas que podem ser tomadas como válida alternativa a estas tendências. Caros Irmãos no Episcopado, sabeis que o Papa está ao vosso lado no testemunho da verdade e do amor de Cristo. Está ao vosso lado no compromisso de promover e difundir, também através dos instrumentos da comunicação, a cultura e os estilos de vida inspirados no cristianismo.

3. O Papa compartilha convosco uma afectuosa solicitude pelo bem comum desta dilecta Nação que, depois de ter vivido uma década de fortes contrastes e mudanças, tem necessidade de estabilidade e de concórdia para poder expressar da melhor forma as suas grandes potencialidades.

Um factor decisivo para o presente e a sorte futura da Itália é, sem dúvida, a família: portanto, é precisamente nela que se concentra a vossa atenção, como se pode ver também no grande Encontro Nacional das Famílias, que programastes para os dias 20-21 de Outubro. Se Deus quiser, também eu participarei nessa reunião. É preciso incrementar a pastoral da família, sem a limitar ao período da preparação para o matrimónio ou à formação de algum grupo específico. É indispensável que as próprias famílias se tornem mais protagonistas da evangelização e da vida social, a fim de que se tutele a sua fisionomia autêntica e se reconheça de modo oportuno o seu papel. Por isso, renovo o pedido de salvaguarda dos direitos da família, assente no matrimónio, sem a confundir com outras formas de convivência. Formulo votos cordiais a fim de que se fomente uma política orgânica da família, idónea para a amparar nas suas tarefas essenciais, a começar pela procriação e a educação dos filhos.

O compromisso em benefício da família é inseparável do empenho em favor da vida humana, desde a concepção até ao seu termo natural. Além disso, com o actual desenvolvimento das biotecnologias, alargam-se as fronteiras em que se exigem a nossa presença vigilante e a corajosa proposta da verdade acerca do homem. Queridos Irmãos no Episcopado, as acusações que hoje nos são dirigidas, de defendermos posições já obsoletas, são destinadas mais cedo ou mais tarde a deixar espaço ao reconhecimento de que a Igreja soube olhar para a frente e discernir, à luz do Evangelho de Cristo, o que é indispensável para o autêntico progresso humano.

4. A educação das novas gerações representa, por sua vez, uma das nossas solicitudes fundamentais. A este propósito, as nossas paróquias, oratórios e associações desempenham um serviço precioso, que deve ser apoiado e incrementado. Além disso, é importantíssimo o papel da escola: por isso, a Igreja oferece a mais convicta colaboração, também através dos beneméritos professores de religião, para o aperfeiçoamento de todo o sistema escolar italiano. Ela renova o seu vigoroso apelo para que enfim seja realizada uma eficaz paridade escolar, superando antigas concepções governamentais para caminhar à luz do princípio da subsidiariedade e da valorização, também em âmbito escolar, dos numerosos recursos da sociedade civil.

Além disso, o bem comum não pode construir-se fora de uma perspectiva de solidariedade concreta, que se expressa antes de mais nada desenvolvendo novas possibilidades de trabalho, de forma especial nas áreas geográficas situadas no Sul, ainda hoje gravemente afligidas pelo problema do desemprego. Enquanto se agravam as situações de pobreza, que envolvem numerosas famílias que antes eram capazes de levar uma vida normal, as nossas comunidades eclesiais são chamadas a comprometer-se na linha de vanguarda, exigindo ao mesmo tempo uma atenção mais participativa e concreta da parte das instituições públicas. Tudo isto é válido, de maneira especial, no que se refere à obra difícil mas obrigatória, que é o acolhimento dos imigrados, no contexto da qual existem muitos testemunhos exemplares oferecidos pelos organismos do voluntariado cristão.

5. Caríssimos Irmãos no Episcopado, enquanto continua, mesmo com dificuldades, a construção da "casa comum" dos povos europeus, peço a cada um de vós e às vossas Igrejas que participeis nesta empresa de alcance histórico, com as riquezas de fé e de cultura que são próprias do povo italiano. E isto para que, como está escrito na Declaração que publiquei juntamente com o Arcebispo ortodoxo de Atenas e de toda a Grécia, "sejam conservadas as raízes e a alma cristã da Europa", sem ceder à tendência de transformar os "países europeus em Estados secularizados, sem qualquer referência à religião". Com efeito, isto constitui "um retrocesso e uma negação da sua herança espiritual" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 12 de Maio de 2001, pág. 6, n. 6).

Depois, agradeço-vos a generosidade de que dais prova constante em relação aos países mais pobres e àqueles em que a Igreja padeceu perseguições obstinadas. Em particular, gostei muito da iniciativa que tomastes com vista à redução da dívida externa de determinadas nações, favorecendo desta forma algumas decisões esclarecidas por parte do Estado italiano.

Caríssimos Irmãos, asseguro-vos a minha oração diária, para vós e para as comunidades confiadas ao vosso serviço pastoral. Através da intercessão da Virgem Maria, Estrela da evangelização, possam elas ser confirmadas na fé, crescendo na comunhão e na coragem da missão. E como penhor do meu afecto, para que o Senhor vos conceda estas dádivas, concedo-vos de coração a Bênção apostólica, a vós e a todo o Povo italiano.




AO NOVO EMBAIXADOR DO REINO DO NEPAL


JUNTO À SANTA SÉ


18 de Maio de 2001




Senhor Embaixador

É com imenso prazer que aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Sua Majestade o Rei Birendra Bir Bikram Shah Dev o designou Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino do Nepal junto da Santa Sé. Agradeço a Sua Majestade as saudações que Vossa Excelência me transmitiu em seu nome e retribuo com a expressão dos bons votos e da certeza das minhas preces pela paz no seu País e pelo bem-estar dos seus compatriotas.

O Senhor Embaixador referiu-se aos esforços da Santa Sé no campo das relações internacionais, com vista a construir um mundo assente na cultura da paz, da fraternidade e dos valores religiosos. As actividades da Santa Sé neste sector são motivadas pela singular natureza da sua missão religiosa e humanitária, que está na base da sua solicitude pelo bem integral de cada ser humano. O novo milénio é um convite aos povos de toda a parte a olharem para o futuro com esperança e a cooperarem na edificação de um mundo em que todos os membros da família humana possam ocupar o seu justo lugar e viver em paz e harmonia.

Os desafios que se apresentam à comunidade internacional neste campo são imensos. Sofrimentos indizíveis têm sido provocados pela trágica sequência de guerras, conflitos e casos de genocídios, que atingiram várias regiões do mundo, até mesmo no passado mais recente. Contudo, estas tragédias não deveriam desencorajar as pessoas a trabalhar para superar os factores que as produzem: o desejo de dominar e de explorar os outros, as ideologias do poder, o nacionalismo exasperado e o ódio étnico. A causa da paz, hoje como sempre, deveria estar no centro dos nossos esforços com vista a melhorar a sorte da humanidade e garantir um futuro mais luminoso para as gerações vindouras.

A paz é possível, mas somente "na medida em que toda a humanidade for capaz de redescobrir a sua vocação primordial de ser uma única família, na qual a dignidade e os direitos das pessoas de qualquer estado, raça, religião sejam afirmados como anteriores e predominantes relativamente a qualquer diferenciação e especificação" (Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz de 2001, n. 5). A convicção geral de que a humanidade é uma única família deve levar a uma maior aceitação das legítimas diferenças políticas e culturais, produzindo o comum desejo de trabalhar em favor do respeito e da reconciliação entre os grupos, quando as relações são interrompidas pela hostilidade e pelo conflito. Não é meramente a ausência da guerra que garante a paz genuína; a paz exige a rectidão, a verdade, a justiça e a solidariedade. Um maior sentido de fraternidade entre os povos do mundo, que encontra a sua expressão concreta em gestos de solidariedade e de compromisso no autêntico desenvolvimento humano, é necessário a fim de pôr termo às excessivas desigualdades económicas e sociais, e aos efeitos prejudiciais da desconfiança e do orgulho.

Felizmente, aceita-se cada vez mais a convicção de que uma condição essencial para a paz é o respeito pela dignidade da pessoa humana e para os direitos do homem. Só se o valor e os direitos singulares da pessoa forem reconhecidos, salvaguardados e promovidos é que o tecido social se fortalecerá genuinamente, as prioridades dos indivíduos e das nações se ordenarão de maneira adequada e a qualidade das relações internacionais melhorará. Os direitos do homem estão inscritos na própria natureza da pessoa e reflectem as exigências objectivas e invioláveis da lei moral universal. Eles não são concedidos pela sociedade ou pelo Estado, mas precedem as leis e os acordos, enquanto determinam o valor destes e a sua validade. O futuro da família humana exige da parte de todos a aceitação da universalidade e da objectividade da dignidade e dos direitos humanos, se os povos do mundo quiserem ter a possibilidade de se empenhar num diálogo significativo para o bem-estar genuíno de todos. Daqui o dever que o Estado tem de defender as dimensões morais e espirituais da vida, sem as quais os seres humanos não se podem realizar plenamente, nem edificar uma sociedade que respeite a sua natureza transcendental.

O reconhecimento da dimensão espiritual e transcendente da vida humana e do direito da liberdade religiosa está no próprio centro da estrutura dos direitos humanos. A devida atenção a este aspecto leva a uma mais profunda consciência do valor inalienável da pessoa humana, à maior abertura aos outros, a uma sociedade mais justa e humana, e ao uso mais sábio e mais responsável dos recursos para o bem comum. Com as suas antigas tradições espirituais e o seu património religioso, a pátria do Senhor Embaixador é abençoada com uma sabedoria capaz de oferecer discernimento e inspiração para um desenvolvimento equilibrado, no respeito do bem comum de todos os seus cidadãos.

A este respeito, embora seja pequena numericamente, a comunidade católica no Nepal sente-se feliz por desempenhar o papel que lhe é próprio, através da sua missão espiritual e dos seus trabalhos nas áreas da educação, dos cuidados médicos e da assistência social. Os seus membros não buscam privilégios especiais, mas somente a garantia da liberdade de seguir os ditames da consciência e a liberdade de praticar a sua religião aberta e pacificamente, num espírito de respeito pelos seguidores das outras tradições espirituais.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que durante o mandato da sua missão a amizade e a compreensão que têm caracterizado as relações entre o Reino do Nepal e a Santa Sé continuarão a aumentar, e asseguro-lhe a plena colaboração dos vários departamentos da Cúria Romana. Sobre Vossa Excelência e o seu País, invoco as abundantes Bênçãos divinas.




À NOVA EMBAIXADORA DA TUNÍSIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


18 de Maio de 2001





Senhora Embaixadora

1. Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência no Vaticano, por ocasião da apresentação das Cartas que a acreditam como Embaixadora Extraordinária, e Plenipotenciária da República da Tunísia junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu e peço-lhe a amabilidade de transmitir a Sua Excelência o Senhor Presidente da República Zine El Abidine Ben Ali, os meus cordiais votos para a sua pessoa e os seus compatriotas. Recordando-me do acolhimento caloroso que me foi reservado quando visitei a Tunísia, peço ao Altíssimo que conceda a todos os tunisianos prosseguir com coragem os seus esforços com vista à edificação de uma nação solidária e fraterna, onde cada um possa encontrar uma resposta conveniente às justas aspirações e viver na justiça e na paz.

2. No seu discurso, Vossa Excelência realçou a importância dada pela Tunísia à liberdade de consciência e ao livre exercício de todos os cultos. A generosa tradição de hospitalidade do povo tunisiano e o respeito que ele sabe testemunhar aos seus hóspedes são, de facto, bem conhecidos e honram qualquer nação. Alegro-me profundamente pela parte que o seu País assume, desde há muitos anos, na instauração de um diálogo sincero entre as culturas e entre as religiões. Este compromisso é uma contribuição importante para o estabelecimento de relações cada vez mais solidárias entre as comunidades humanas e religiosas. De facto, como escrevi na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1 de Janeiro 2001, "o diálogo leva a reconhecer a riqueza da diversidade e predispõe os ânimos para a recíproca aceitação, em ordem a uma autêntica colaboração, de acordo com a primordial vocação à unidade de toda a família humana" (n. 10).

Para que este diálogo possa prosseguir e desenvolver-se na verdade, é indispensável que os Estados garantam a todos os cidadãos e a todas as pessoas que vivem nos seus territórios uma plena liberdade religiosa, que respeite a consciência de cada pessoa, que deve poder determinar-se livremente e de forma responsável em matéria religiosa, tutelando o bem comum.

3. Como Vossa Excelência sabe, o respeito e a dignidade da pessoa, em todos os âmbitos da existência, é para a Igreja católica um princípio fundamental que deve orientar todos os responsáveis da vida pública. Por outro lado, a experiência mostra também que ignorar o valor transcendente dos direitos fundamentais da pessoa humana não pode deixar de conduzir à violência e à instabilidade.

Para que possa ser um componente constitutivo e constante da vida social, o respeito da pessoa deve ser inculcado a partir da mais tenra idade, através da educação à qual todos, jovens e moças, devem poder ter igual acesso. Alegro-me por saber que na Tunísia, se realiza um esforço importante a fim de permitir o acesso de todos os jovens à formação. De facto, é necessário que cada um possa ser ajudado a ter um pleno desenvolvimento das suas capacidades humanas e espirituais pessoais. Todavia, a educação também deve permitir que se abram os espíritos à solidariedade e ao respeito recíproco entre as pessoas e entre as comunidades humanas e religiosas, pois a promoção do bem do indivíduo deve estar ligado ao serviço do bem comum.

Desta forma poder-se-á desenvolver uma tomada de consciência renovada da dignidade humana e do carácter inalienável dos direitos fundamentais de todas as pessoas. Por conseguinte, é nesta perspectiva que todos os cidadãos devem poder exercer plenamente os direitos que derivam da sua dignidade humana e contribuir livremente para a vida social e política da comunidade nacional, permitindo que todos empreguem as suas competências ao serviço da sociedade.

4. A actualidade destas últimas semanas, sobretudo na Terra Santa, mostra a urgência de trabalhar cada vez com mais audácia pela promoção do direito dos povos a viver em paz e em segurança.

Desejaria recordar, mais uma vez, que a violência não resolve os problemas da coexistênia entre os povos; ela torna ainda mais difícil a sua resolução. Unicamente a busca da justiça, na confiança recíproca e em conformidade com os direitos internacionais, pode contribuir para encaminhar a humanidade pelos caminhos de uma paz verdadeira, onde os direitos de cada povo à existência e ao progresso são respeitados. Encorajo os esforços realizados pelo seu País, em harmonia com a comunidade internacional, para que se realizem em todas as partes do mundo, e sobretudo no Médio Oriente, novos progressos rumo à paz e à solidariedade entre as nações.

Por seu intermédio, Senhora Embaixadora, desejaria saudar calorosamente o Bispo de Túnis e toda a comunidade católica do seu País. Conheço o apego que têm pela Tunísia, a estima pela sua cultura e o desejo de prosseguir um diálogo sincero e fraterno com todos os crentes do Islão. No início deste novo milénio, aproveito esta ocasião para convidar os católicos a progredir cada vez mais na fé, numa profunda comunhão entre eles e com toda a Igreja, a fim de que, mediante o seu testemunho de vida ao serviço de Deus e dos irmãos, sejam artífices audaciosos de paz e de fraternidade, no respeito de todos.

6. No momento em que inicia a sua missão, apresento-lhe os meus votos cordiais pela nobre tarefa que a espera. Tenha a certeza, Senhora Embaixadora, que encontrará aqui, nos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo do qual poderá precisar.

Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família bem como sobre todo o povo e responsáveis da Nação tunisiana, invoco de coração a abundância das Bênçãos do Todo-Poderoso.




AO NOVO EMBAIXADOR DA ESTÓNIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


18 de Maio de 2001


Senhor Embaixador

É-me grato dar-lhe as boas-vindas hoje e receber as Cartas Credenciais com que Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Estónia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as suas amáveis palavras de saudação e os cumprimentos que me apresentou da parte do Presidente, Senhor Lennart Meri, enquanto lhe peço que transmita a Sua Excelência, ao Governo e ao Povo da Estónia os meus bons votos e a certeza das minhas orações pela paz e a prosperidade da sua Nação.

Conservo lembranças memoráveis da visita que realizei à sua terra em 1993. Ao recebê-lo hoje aqui, gostaria de recordar os temas que abordei em Tallinn e que entretanto se tornaram ainda mais actuais. Como Vossa Excelência disse, é óbvio que tanto a Estónia como a Europa no seu conjunto chegaram a um importante ponto da sua história. O futuro dependerá em grande medida da formação efectiva de uma cultura dos direitos humanos, que inclua os indivíduos, as famílias e os povos, uma vez que cada um deles constitui um elemento vital na estrutura do bem-estar e da liberdade do homem, a tal ponto que, se um só deles for desrespeitado, todos haverão de sofrer.

Em primeiro lugar, os direitos dos indivíduos devem ser reconhecidos e protegidos, porque se os direitos fundamentais de cada pessoa desde a maior até à menor, da mais forte à mais frágil não forem aceites como transcendentes e invioláveis, a prosperidade será ilusória e os fundamentos da sociedade serão falazes. Reivindicar estes direitos como transcendentes significa dizer que eles encontram a sua fonte em Deus, a cuja imagem a pessoa humana foi criada, e por isso não são concedidos como um privilégio por qualquer autoridade humana. Portanto, a função da autoridade humana consiste em prover toda a protecção necessária para assegurar que tal verdade seja respeitada.

Todavia, se forem deixados à deriva, os direitos individuais degeneram numa falsa cultura da liberdade que se opõe ao bem comum, e este não pode ser o caminho para o progresso da sociedade. Os direitos individuais devem servir o bem comum, e vice-versa. Isto significa que o próximo passo na formação de uma cultura da liberdade humana é o respeito incondicional pelos direitos da família.

Vossa Excelência justamente se perguntou como devemos educar os jovens a fim de lhes inculcar um sentido dos "valores genuínos e eternos da vida", despertando neles "uma nova compreensão da caridade". Esta interrogação é vital, e a sua resposta não é simples. Contudo, é claro que o primeiro núcleo desta educação deve ser a família; foi por este motivo que escrevi que "o futuro da humanidade passa pela família" (Familiaris consortio, FC 86). Hoje em dia a tarefa de consolidação do tecido social, moral e espiritual parece ser mais difícil do que era há dez anos. Naturalmente, a reconstrução económica ainda é importante, mas se não for acompanhada da nova formação dos valores que asseguram uma vida familiar sadia, inevitavelmente surgirão novas formas de materialismo. Se a Estónia puder trabalhar de maneira eficaz em favor de um desenvolvimento económico que caminhe a par e passo com a promoção da família, então há-de crescer na sua estatura moral, essencial para o bem-estar dos seus cidadãos e para a edificação de uma Europa melhor e um mundo mais perfeito.

A cultura dos direitos, que deve estar na base do desenvolvimento, diz respeito não só aos indivíduos e às famílias, mas também aos povos. A saúde da comunidade internacional é evidente na medida em que respeitar os direitos dos povos menos poderosos e das nações menores. Ao longo da sua história, os direitos do povo da Estónia foram com frequência espezinhados.

Felizmente, estes direitos foram recuperados nos últimos tempos, de tal forma que a Estónia foi inserida de novo no seio da comunidade dos povos como nação independente, com uma cultura distinta que constitui uma riqueza para todos. Como Vossa Excelência disse, agora a Estónia pode "considerar o mundo a partir de horizontes mais largos", não já obrigada pela desesperada luta pela sobrevivência, mas com vista a dar e a receber, no contexto de uma comunidade das nações em que os direitos de todos os povos sejam reconhecidos e salvaguardados.

Quando dirigi um discurso ao mundo da cultura em Tallinn, no dia 10 de Setembro de 1993, realcei a necessidade que existe de a liberdade estar vinculada à solidariedade, e a identidade nacional à cultura do diálogo. O que deve ser reconhecido é que a verdadeira e justa identidade de um determinado povo é perfeitamente compatível com uma abertura, em que as diferenças sejam aceites como fonte de enriquecimento mútuo, e as tensões se resolvam não já através de conflitos, mas de negociações assentes no respeito recíproco e na solicitude pela verdade dos problemas em questão. Tendo em consideração os recentes desenvolvimentos ocorridos no seu País que, como o Senhor Embaixador disse, procurou "criar estruturas democráticas firmes e justas", existem todos os motivos necessários para esperar que o futuro da Estónia seja luminoso. Esta é a minha prece pela sua Nação, enquanto lhe asseguro que a Igreja católica na sua terra, embora seja numericamente exígua, continuará a ajudar a edificar um futuro digno do nobre povo da Estónia.

Senhor Embaixador, estou convicto de que o compromisso na missão diplomática a que hoje dá início o ajudará a fortalecer os laços de compreensão e de colaboração entre a Estónia e a Santa Sé. Asseguro-lhe que os diversos departamentos da Cúria Romana estão prontos a ajudá-lo no cumprimento dos seus deveres. Enquanto lhe formulo todos os bons votos pelo êxito da sua missão, invoco as bênçãos de Deus Todo-Poderoso sobre Vossa Excelência, a sua família e o povo da sua amada Pátria.




AO NOVO EMBAIXADOR DA ZÂMBIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


18 de Maio de 2001





Senhor Embaixador

No momento em que Vossa Excelência chega ao Vaticano para apresentar as Cartas que o credenciam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Zâmbia junto da Santa Sé, é com prazer que lhe ofereço as minhas cordiais boas-vindas. As saudações que o Senhor Embaixador me transmite da parte do seu Presidente, Dr. Frederick J. Chiluba, são muito estimadas e pedir-lhe-ia a amabilidade de lhe comunicar a certeza das minhas orações pelo bem-estar e a prosperidade da sua Nação.

Em resposta às suas observações, de que não se deveriam poupar esforços no caminho da paz, desejo expressar a minha satisfação pela participação activa do seu País na busca da paz, uma actividade que a sua Nação empreende não só para o seu próprio benefício, mas também para o bem dos seus vizinhos e da comunidade internacional em geral. Os esforços da Zâmbia neste campo são verdadeiramente dignos de apreço, e transmito uma palavra de especial elogio ao Senhor Presidente Chiluba pelo seu papel pessoal nas negociações permanentes na República Democrática do Congo, onde o chamado "Lusaka Protocol" lançou o fundamento para o tão almejado desenvolvimento do processo de paz. Em tudo isto, o compromisso do seu País na causa da pacificação constitui um exemplo eloquente da solicitude e da acção, que são uma característica distintiva das sociedades verdadeiramente civilizadas e humanas.

É verdade, como Vossa Excelência observou, que a participação e o apoio activos da comunidade internacional são elementos necessários para qualquer iniciativa de paz, se nisto se quiser obter bom êxito. Com efeito, a paz duradoura a níveis nacional, regional e planetário jamais será alcançada, enquanto os líderes mundiais não reconhecerem que a interdependência, mediante a qual todas as nações estão ligadas entre si, exige a renúncia a todas as formas de coerção económica, militar ou política, e também a transformação da suspeita e da inimizade em cooperação e confiança. Em síntese, aqui estamos a falar de uma autêntica solidariedade entre os indivíduos, os povos e as nações.


Discursos João Paulo II 2001 - Terça-feira, 15 de maio de 2001