Discursos João Paulo II 2001 - 18 de Maio de 2001

Este conceito de solidariedade significa que ninguém especialmente as nações e as organizações internacionais pode permanecer indiferente ou inactivo diante da violência e da guerra, da tortura e do terrorismo, da corrida aos armamentos e de tudo aquilo que compromete a paz. Ao contrário, ela interpela todas as pessoas que verdadeiramente buscam a paz, e de forma especial os indivíduos que trabalham em instituições específicas, a fim de que trabalhem juntos para promover um extensivo programa de educação, que vise ultrapassar as atitudes de egoísmo e de hostilidade, criando ao contrário uma verdadeira cultura da paz e da solidariedade.

Quando falou do compromisso do seu País no trabalho em prol da causa da paz, Vossa Excelência reconheceu também os esforços da Santa Sé neste mesmo sector. Com efeito, é precisamente a tarefa de promover a compreensão e o progresso do desenvolvimento e da paz entre os povos e as nações que inspira a actividade diplomática da Santa Sé. Na realidade, o divino Fundador da Igreja confiou-lhe uma missão religiosa e humanitária, naturalmente diversa da que pertence à comunidade política, e contudo aberta a numerosas formas de colaboração e de apoio recíproco. De acordo com a missão que lhe é própria, a presença da Santa Sé na comunidade internacional visa unicamente o bem-estar da família humana: trabalhar pela causa da paz, pela defesa da dignidade humana e dos direitos do homem, pelo desenvolvimento integral dos povos; em síntese, trabalhar sempre e em toda a parte para promover aquela solidariedade que une as pessoas no vínculo da fraternidade. Trata-se de uma tarefa que deriva necessária e perenemente do Evangelho de Jesus Cristo, e de uma responsabilidade compartilhada por todos os cristãos.

A Igreja católica participará sempre de boa vontade na missão permanente de fazer desta solidariedade uma realidade na família do género humano. De igual modo, ela continua a oferecer uma contribuição especial à edificação da sociedade da Zâmbia, e estou grato pelas palavras de apreço que Vossa Excelência pronunciou acerca do papel desempenhado pela Igreja católica neste sector. Ela considera o seu apostolado na educação dos jovens e dos adultos, na manutenção dos hospitais e das clínicas e na oferta da assistência médica aos pobres e dos programas de desenvolvimento social e da promoção humana como elementos essenciais da sua missão religiosa. Naturalmente, ela deseja desempenhar a tarefa que lhe compete em harmonia com os outros que trabalham nestes mesmos sectores. A cooperação entre a Igreja e o Estado, e entre todos os cidadãos, independentemente da sua confissão religiosa, é de enorme importância para a promoção da formação intelectual e moral das pessoas. Desta maneira, elas serão capazes de edificar uma sociedade deveras justa e humana, que eventualmente ultrapassará as fronteiras nacionais a fim de incluir todos os povos.

Senhor Embaixador, tenho a certeza de que a sua missão servirá para revigorar os laços de amizade e de cooperação já existentes entre a Zâmbia e a Santa Sé. No momento em que assume as suas novas responsabilidades, formulo-lhe os meus sinceros bons votos para o cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e o querido povo da Zâmbia, invoco cordialmente as copiosas graças de Deus Omnipotente.




AO NOVO EMBAIXADOR DA GUINÉ


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


18 de Maio de 2001







Senhor Embaixador

1. É com grande prazer que recebo Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Guiné junto da Santa Sé.

Sensibilizaram-me as suas amáveis palavras que manifestam a consideração do seu País pelos valores espirituais. Queira transmitir a Sua Excelência o Senhor Presidente da República, General Lansana Conté, os meus cordiais votos pelo cumprimento da sua nobre tarefa ao serviço da Nação. Saúdo calorosamente todo o povo da Guiné, pedindo a Deus que o oriente e apoie nos seus esforços para progredir pelos caminhos do desenvolvimento humano e espiritual. O Altíssimo conceda que todos vivam em paz e em tranquilidade!

2. Como Vossa Excelência recordou, Senhor Embaixador, há vários meses que o seu País enfrenta graves problemas de segurança em algumas das suas fronteiras e deve receber generosamente numerosos refugiados que fogem de violências que se verificam em países vizinhos.

Perante tantos sofrimentos, é urgente que na região se estabeleça rapidamente uma paz autêntica, a fim de que as populações possam finalmente regressar às suas terras e viver em segurança. Para isto, é necessário que se desenvolva em toda a parte a consciência de que a humanidade está chamada por Deus a formar uma única família. O estabelecimento de relações harmoniosas entre as pessoas e grupos humanos no interior de cada nação, assim como entre todas as nações, deve ser uma prioridade sobretudo para quantos têm a missão de governar os povos e de os manter na concórdia. Faço sentidos votos por que na África, continente martirizado por tantas violências, todos se empenhem corajosamente e com audácia por tornar possíveis as condições de uma verdadeira reconciliação, para que terminem definitivamente todas as guerras fratricidas.

3. Contudo, como já tive ocasião de recordar, "não há paz verdadeira sem equidade, verdade, justiça e solidariedade. Está destinado à falência qualquer projecto que deixe separados dois direitos indivisíveis e interdependentes: o direito à paz e o direito a um progresso integral e solidário" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2000, n. 13). No início do novo milénio, o nosso mundo permanece marcado por numerosas contradições, entre as quais a mais evidente é a de povos inteiros que enfrentam condições de vida que não respeitam a dignidade das pessoas, enquanto alguns privilegiados beneficiam amplamente das enormes possibilidades do crescimento económico, cultural e tecnológico. Desejaria aqui renovar o meu apelo à solidariedade em favor dos países mais pobres, sobretudo no continente africano. De facto, quando numerosas nações se confrontam com os novos problemas que surgem da mundialização, é necessário um suplemento de imaginação para considerar a cooperação internacional e para alcançar o restabelecimento de uma verdadeira cultura da solidariedade. Desta forma, favorecendo o sentido dos valores morais universais, sobretudo mediante a luta contra todas as formas de corrupção, poder-se-á contribuir para o progresso dos países economicamente menos desenvolvidos e permitir que um maior número de pessoas beneficie dos seus frutos.

4. No seu País, as relações entre cristãos e muçulmanos são geralmente boas, e as colaborações com vista ao bem comum são frequentes. De facto, é favorável e indispensável para a afirmação da unidade nacional que as diferentes comunidades religiosas que compõem o país procurem cada vez mais valorizar o que as une, sem cotudo negar o que as separa, a fim de dar uma qualidade sempre maior à vida que elas partilham no dia-a-dia. A consolidação das relações fraternas entre todos os cidadãos comporta a exigência de uma educação sólida das pessoas, sobretudo das jovens gerações, para a aceitação e estima do próximo. Como tive recentemente ocasião de afirmar, "é da máxima importância ensinar aos jovens os caminhos do respeito e da compreensão, para que não sejam tentados a fazer um mau uso da própria religião para promover ou justificar o ódio e a violência" (cf. Discurso na Mesquita "Omeyylde" em Damasco, a 6 de Maio de 2001, n. 3).

5. Nesta feliz ocasião, Senhor Embaixador, permita-me que dirija as minhas calorosas sadações aos Bispos e aos católicos do seu Pais. Encorajo-os sentidamente no seu caminho de seguimento de Cristo, a fim de que o Grande Jubileu, que eles celebraram com fervor, de frutos abundantes para o maior bem das suas familias e de toda a sociedade. Oxalá, em colaboração com os seus compatriotas, continuem a trabalhar fervorosamente pela edificação de uma sociedade cada vez mais fraterna e acolhedora de todas as pessoas que sofrem ou que se encontram em necessidade.

6. No momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus melhores votos. Tenha a certeza de que aqui encontrará sempre o acolhimento atento e a compreensão cordial dos meus colaboradores.

Sobre Vossa Excelência, a sua família, o povo da Guiné e os seus dirigentes, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.




AO EMBAIXADOR DO SRI LANKA JUNTO À SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


18 de Maio de 2001

: Senhor Embaixador

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e recebo as Cartas Credenciais mediante as quais Sua Excelência o Senhor Presidente Chandrika Bandaranaike Kurnaratunga o designa Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Democrática Socialista do Sri Lanka junto da Santa Sé. Agradeço as cordiais saudações e bons votos que Vossa Excelência me transmitiu da parte do Senhor Presidente e do Governo, e pediria que comunicasse a Sua Excelência a certeza das minhas preces pela paz, a harmonia e a prosperidade de toda a sua Nação.

Em 1995, tive a alegria de visitar o seu País, cujas belezas naturais lhe granjearam o nome de "Pérola do Oceano Índico". A hospitalidade e a amabilidade constantes do povo do Sri Lanka deixaram em mim uma impressão duradoura, e durante a minha permanência ali pude perceber que a variedade cultural e religiosa dos povos dessas Ilhas assinalou profundamente a história e a identidade da sua Nação. Cada um dos vários grupos religiosos ofereceu uma importante contribuição para o desenvolvimento da Nação em geral. Vossa Excelência chamou a atenção para o facto de que os seguidores de tais religiões possuem uma longa tradição de vida conjunta harmoniosa e de respeito mútuo. Isto está em sintonia com o espírito autêntico de todas as principais religiões mundiais, enquanto a intolerância e a violência em nome da religião constitui uma distorção do seu espírito genuíno.

A convicção religiosa verdadeira leva à promoção dos valores comuns, essenciais para o bem da sociedade, como o respeito pela dimensão transcendente da vida, a abertura ao próximo e o profundo sentido da dignidade inalienável de cada pessoa humana. A atenção ao lugar da transcendência na vida humana constitui uma exigência para o desenvolvimento genuíno, uma vez que a pessoa e a sociedade precisam não só do progresso material, mas também dos valores religiosos (cf. Centesimus annus, CA 61). Como nos ensinam as trágicas experiências do século que acabámos de deixar atrás de nós, o esquecimento da dimensão espiritual da vida leva inevitavelmente a várias formas de injustiça contra os indivíduos mais vulneráveis: os nascituros, as pessoas idosas e os indivíduos frágeis. Por este motivo, o tradicional respeito cingalês pela religião é uma dádiva a ser valorizada e protegida. É também essencial que os líderes espirituais trabalhem em conjunto, num espírito de diálogo e de cooperação, para assegurar que a religião seja uma força promotora da paz e da compreensão recíproca. Quanto à sociedade civil, ela tem o dever de garantir a liberdade religiosa necessária para assegurar a coexistência harmoniosa dos seguidores de todas as religiões, uma liberdade que, como Vossa Excelência mencionou, é salvaguardada pela Constituição do seu País.

Nos anos mais recentes, o Sri Lanka foi tragicamente atingido por conflitos que causaram muito sofrimento e semearam mortes horríveis, infelizmente também nas últimas semanas. Devemos esperar que os esforços que estão a ser despendidos em prol de uma solução pacífica e equitativa para as causas latentes levem as partes interessadas a abandonarem os caminhos da violência e a comprometerem-se na negociação paciente e perseverante. A paz justa deve fundamentar-se na protecção e na promoção dos direitos fundamentais de todos os cidadãos, assim como sobre o respeito pelas suas tradições culturais e religiosas, em conformidade com as exigências do bem comum. A Igreja católica no Sri Lanka, cujos membros são oriundos de todos os grupos étnicos, está a fazer tudo o que lhe é possível para promover um clima de diálogo e fomentar a paz. Como o Senhor Embaixador bem sabe, a Igreja sempre apoia as iniciativas que têm como objectivo criar uma paz assente no respeito pela dignidade humana.

Um dos principais desafios que muitos países e a comunidade internacional em geral devem enfrentar diz respeito à necessidade de promover um diálogo mais intenso entre as culturas e as tradições. A Organização das Nações Unidas chamou a atenção para a urgência desta necessidade, declarando 2001 como o "Ano Internacional do Diálogo entre as Civilizações". A cultura forma os indivíduos e as gentes que, por sua vez, se expressam através dela. Cada cultura tem uma concepção particular da vida política e económica e, no seu centro, tem uma compreensão específica das questões fundamentais que atingem a vida das pessoas, inclusivamente das suas interrogações a nível religioso. O homem é um ser que busca a verdade e luta para viver em harmonia com ela. A cultura de uma nação haure a sua índole da busca da verdade, que nunca esmorece e que se renova em cada geração (cf. Centesimus annus, CA 49-50). As diversas culturas "constituem fundamentalmente modos diferentes de enfrentar a questão sobre o significado da existência pessoal" (Ibid., n. 24). É necessário respeitar a singularidade de cada cultura, mas também compreender a diversidade cultural "na perspectiva fundamental da unidade do género humano" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 7). A compreensão e a comunhão entre as culturas "predispõem os ânimos para a aceitação recíproca, em ordem a uma colaboração autêntica, de acordo com a vocação primordial de toda a família humana à unidade" (cf. Ibid., n. 10).

Já passaram 25 anos deste que o primeiro Embaixador do Sri Lanka junto da Santa Sé, Sua Excelência o Senhor Ediriwira R. Sarachchandra, apresentou as Cartas Credenciais ao meu predecessor, Papa Paulo VI. Durante estes anos, os vínculos de amizade entre o seu País e a Santa Sé foram revigorados e consolidados, enquanto a sua presença hoje aqui constitui um testemunho destas boas relações. Vossa Excelência falou com grande afabilidade da contribuição da Igreja para o progresso da sociedade em sectores como a educação e o desenvolvimento social. De acordo com o mandato do seu divino Fundador, de amarmos o nosso próximo como a nós mesmos, a Igreja continuará a fazer esforços para assegurar que as pessoas tenham a possibilidade de levar uma vida mais digna e feliz, em harmonia com a vocação transcendente de cada ser humano.

Senhor Embaixador, no momento em que assume as suas responsabilidades no seio do Corpo Diplomático credenciado junto da Santa Sé, formulo-lhe os meus votos pelo bom êxito do cumprimento da sua excelsa missão. Asseguro-lhe que as várias repartições e departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontas a assisti-lo. Sobre Vossa Excelência e o amado povo do Sri Lanka, invoco as abundantes Bênçãos divinas.




AO NOVO EMBAIXADOR DA MONGÓLIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


18 de Maio de 2001




Senhor Embaixador

1. Sinto-me feliz por receber as Cartas Credenciais com que o Presidente da República, Sua Excelência o Senhor Natsagjin Bagabandi, o acredita como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Mongólia junto da Santa Sé. Desejo exprimir-lhe o meu sentido reconhecimento pelas amáveis palavras que me quis dirigir no início da sua missão, ilustrando os altos princípios em que deseja inspirar o seu cumprimento.

Depois, ao agradecer os cordiais sentimentos que o Chefe do Estado se dignou exprimir-me de novo, peço que Vossa Excelência se faça intérprete junto dele, bem como das Autoridades do Governo da Mongólia, da profunda estima e da constante consideração com que sigo o caminho do nobre povo que Vossa Excelência representa. Conservo uma viva recordação da visita que, a 5 de Junho do ano passado, o Senhor Presidente da Mongólia se dignou fazer-me, para confirmar as relações de respeito recíproco e de diálogo mútuo existentes entre a Sé Apostólica e o Povo da Mongólia. Faço ardentes votos por que elas prossigam e se intensifiquem, a fim de contribuir também para a edificação de um mundo mais justo e solidário.

Vossa Excelência desejou mencionar, a este propósito, a longa tradição de tolerância e de diálogo que caracteriza o povo da Mongólia, que já entrou definitivamente na arena mundial com a própria e plena soberania.

2. Em 2006 celebrar-se-á o 800º aniversário de fundação do Estado da Mongólia. É um acontecimento que reveste uma indubitável importância e oferece a oportunidade de percorrer o longo itinerário histórico até agora realizado. É também uma ocasião para recordar os seculares vínculos que marcam as relações entre a Mongólia e a Santa Sé. São relações que remontam muito atrás no tempo. De facto, já em Março de 1245, o meu predecessor Inocêncio IV enviou uma missão diplomática ao campo dos Khan Batu, que depois foi também ao campo de Kuyuk "gão rei e ao povo dos Tártaros", na Sira Ordu da capital Karakorum. Da inesquecível missão de Frei João de Pian del Carpine conservamos a valiosa Historia Mongolorum quos nos Tartaros appellamus. Também se conservam integralmente as memórias das missões de Argun Khan a Honório IV e a Nicolau IV. Pode afirmar-se que, não obstante as inevitáveis dificuldades, nunca foi interrompido este diálogo respeitoso, assim como nunca faltou a atenção clarividente entre a Mongólia e a Sé Apostólica.

A respeito disto, apraz-me recordar a cordialidade com que o meu predecessor, o venerado Pontífice Nicolò IV, se dirigia ao príncipe Kharbenda, exortando-o a não abandonar as sadias tradições do seu povo, depois de se ter tornado cristão. "Aconselhamos-te com afecto escrevia em 1291 a não fazer mudança alguma nos costumes, no vestuário ou alimentação tradicional do teu País, para que não surjam motivos de desavença ou de escândalo contra a tua pessoa" (BF IV, 530). Além do respeito destas tradições populares, o Papa recomendava que não fosse abandonada a legítima fisionomia cultural.

Os contactos entre os Mongóis e a Igreja de Roma prosseguiram com fruto também no período seguinte. Entre outras, dão testemunho disto as palavras escritas pelo grão-Khan Gasan ao Papa Bonifácio VIII, e as missões de João de Montecorvino e Odorico de Pordenone.

3. Há muito tempo que na Mongólia existe a presença de comunidades cristãs florescentes. À sua chegada, com agradável surpresa, os evangelizadores tiveram a possibilidade de verificar a grande tolerância daquele povo em relação aos discípulos de Cristo. O espírito de diálogo que se instaurou entre o cristianismo e a religião maioritária do Estado favoreceu contactos recíprocos e intercâmbios respeitosos e fecundos. Infelizmente, sucessivos acontecimentos históricos levaram a um progressivo e mútuo afastamento.

Mas a Igreja, naquele tempo como hoje, "considera com sincero respeito aqueles modos de viver, aqueles preceitos e doutrinas que, mesmo se diferem em muitos pontos, contudo não raramente reflectem um raio daquela Verdade que ilumina todos os homens". Por isso, "ela exorta os seus filhos a que, com prudência e caridade, por meio do diálogo e da colaboração com os seguidores das outras religiões... reconheçam, conservem e façam progredir os bens espirituais e morais, e os valores socioculturais que neles se encontram" (Nostra aetate, NAE 2).

Há nove anos a Igreja católica pôde voltar a trabalhar entre o querido povo do País que Vossa Excelência representa. Ela é movida pelo desejo de servir lealmente o povo da Mongólia, prestando o seu serviço no campo da educação e do progresso social. Os cristãos não deixarão de oferecer o seu apoio a programas que possam enriquecer ulteriormente o património do saber e de forma especial a inserção das jovens gerações da Mongólia no mundo moderno, caracterizado por muitas e rápidas mudanças sociais, ajudando-os ao mesmo tempo a preservar a sua identidade cultural específica.

Além disso, a Santa Sé está mais próxima do que nunca do seu País e dos sofrimentos do seu Povo, devido também às calamidades naturais que recentemente o atingiram. De igual modo, ela apoia os esforços que o seu Governo está a realizar em ordem a instaurar um diálogo cada vez mais vantajoso com outros povos. Dentro das suas possibilidades, a Sé Apostólica não deixou de trabalhar e continuará a fazê-lo, para que a comunidade internacional seja solidária com o Povo da Mongólia e o ajude com generosidade.

4. Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência se prepara para assumir o alto cargo que lhe foi confiado, desejo garantir-lhe a minha benevolência e qualquer ajuda que seja oportuna para o frutuoso cumprimento da sua nobre missão junto desta Santa Sé.

Peço-lhe que se digne transmitir ao Senhor Presidente da Mongólia, às Autoridades do Governo e ao querido Povo por Vossa Excelência aqui representado a expressão da minha espiritual proximidade, juntamente com fervorosos votos de prosperidade e de progresso na paz e na justiça. Confirmo estes meus cordiais sentimentos com a oração a Deus, para que desçam abundantes sobre Vossa Excelência e sobre todas as pessoas das quais Vossa Excelência se faz intérprete, as bênçãos do Céu.




À EMBAIXADORA DA ÁFRICA DO SUL


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


18 de maio de 2001

: Excelência

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e aceito as Cartas Credenciais que a nomeiam Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República da África do Sul junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelas cordiais saudações que me apresentou da parte do Senhor Presidente Thabo Mbeki e do povo da sua querida Nação, e peço-lhe a amabilidade de lhes transmitir a certeza das minhas orações incessantes pelo progresso, a paz e a prosperidade do seu País.

A Conferência mundial sobre o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e intolerâncias afins, que a África do Sul está a organizar para o final deste ano, oferece uma excelente oportunidade não só para a sua nação e o continente africano, mas na realidade para toda a comunidade internacional para abordar um tema de importância crucial para todos os povos. Embora os conflitos fundamentados na origem étnica ou nacional já tenham obrigado a humanidade a pagar um preço gravíssimo no século que acabou de terminar, estas atitudes deploráveis continuam a representar um espectro ameaçador no cenário mundial. Portanto, no alvorecer do novo milénio, toda a família das nações faz bem em confirmar o seu compromisso no reconhecimento, na salvaguarda e na promoção da dignidade fundamental e dos direitos inalienáveis de cada ser humano. Este é o caminho seguro para ultrapassar os preconceitos e combater todas as formas de racismo; trata-se do caminho que deverá despertar a consciência de que todos os povos pertencem a uma única família, desejada e reunida pelo próprio Deus Todo-Poderoso.

Senhora Embaixadora, o recente "renascimento" da sua própria Nação, assente na rejeição da segregação e da discriminação, a fim de que todos os cidadãos possam caminhar juntos ao longo da senda da unidade e da fraternidade, constitui um sinal esperançoso e encorajador para as sociedades que estão a enfrentar problemas análogos. A própria paz começa a ser uma realidade tangível, quando o espírito humano decide evitar o caminho da divisão e do conflito, a fim de seguir o itinerário do perdão e da reconciliação. Esta paz exige a força de uma coragem destemida, capaz de superar a vingança cega, que só daria origem a novas formas de violência. Como a história do seu próprio País tem demonstrado, embora seja importante conhecer a verdade sobre o passado e fazer com que as devidas responsabilidades sejam assumidas, é ainda mais importante que se dê continuidade ao delicado processo de edificação de uma sociedade multirracial, justa e harmoniosa.

Hoje em dia, o que é essencial é que os indivíduos, as famílias e todos os povos se tornem capazes de participar de modo verdadeiramente activo beneficiando do mesmo no desenvolvimento económico e político que os líderes de várias Nações tiveram em vista, ao tomarem a iniciativa denominada "Millennium African Programme". Nas suas finalidades clarividentes e de longo alcance, este empreendimento conjunto deveria basear-se na visão da unicidade de cada ser humano, assente na inviolabilidade da dignidade da pessoa humana. Todos nós gostaríamos de conhecer um mundo em que os indivíduos não fossem constrangidos ao anonimato, que deriva da colectividade ou da infuência poderosa de instituições, estruturas ou sistemas. Como indivíduo, a pessoa não é um número ou simplesmente um elo de uma cadeia, e muito menos um elemento impessoal que pertence a um sistema específico. Da mesma forma, também os povos e as nações têm o direito ao seu pleno desenvolvimento, que inclui não só os aspectos económicos e sociais mas também, o que é mais importante, a sua identidade cultural individual e o seu carácter religioso. Por este motivo, a necessidade de desenvolvimento nunca deve tornar-se uma desculpa para impor aos outros os estilos de vida ou as expressões culturais que não reflectem a individualidade e a história de um determinado povo.

É-me grato observar que Vossa Excelência quis reconhecer a significativa contribuição oferecida pela Igreja católica, para a edificação da sociedade da África do Sul, tanto no passado como no presente. Os católicos do vosso País continuam a estar comprometidos no trabalho conjunto com os seus compatriotas, como participantes activos no progresso político, social e cultural da Nação, de forma especial no combate à pobreza, ao analfabetismo e à sida. Com esta finalidade, as pessoas que trabalham na Igreja, inclusivamente os seus numerosos missionários, membros de Comunidades religiosas e também leigos e leigas, realizam a sua própria obra nos campos da educação, dos serviços sociais e do cuidado à saúde. O trabalho que eles levam a cabo não é somente para o benefício dos católicos, mas também para o bem de todas as pessoas. A minha esperança é de que, tanto o seu Governo como as Autoridades públicas do seu País fomentem este seriço realizado pela Igreja, assistindo os missionários e os seus colaboradores, enquanto eles procuram dar continuidade a estes esforços que visam garantir um futuro mais brilhante para a África do Sul e o seu povo em geral.

Senhora Embaixadora, no momento em que começa a sua missão diplomática na Santa Sé, pode ter a certeza de que poderá contar com qualquer tipo de assistência de que tiver necessidade no cumprimento das suas responsabilidades. Enquanto expresso os meus sinceros votos pelo bom êxito do seu trabalho, invoco cordialmente sobre Vossa Excelência e sobre os governantes e o povo da República da África do Sul, as abundantes Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




AO NOVO EMBAIXADOR DO GÂMBIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


: 18 de Maio de 2001

Senhor Embaixador

No momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais através das quais é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Gâmbia junto da Santa Sé, apresento-lhe calorosas saudações e dou-lhe as boas-vindas ao Vaticano. Com gratidão pelos bons votos que o Senhor Embaixador me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Yahya Jammeh, pediria que lhe comunicasse as minhas saudações cordiais e a certeza das minhas preces pela paz e pelo bem-estar da sua Nação.

Embora já tenham passado nove anos desde a minha Visita Pastoral ao Gâmbia, as recordações do período que lá passei no meio do seu povo ainda permanecem vivamente impressas na minha mente. As minhas viagens aos numerosos países do mundo são realizadas principalmente como Bispo de Roma e Sucessor de São Pedro, ao serviço da Igreja universal. Contudo, ao mesmo tempo, elas oferecem-me a possibilidade de manifestar a solidariedade da Igreja para com os povos do mundo que buscam a paz, o progresso humano e uma resposta justa para as questões morais e éticas que hoje eles devem enfrentar.

É neste contexto que, de bom grado, observo os comentários de Vossa Excelência, reconhecendo a educação e os valores religiosos como factores-chave para a formação de uma cultura de moralidade, dotada de um sentido de responsabilidade pessoal e colectiva em relação ao porvir. A Igreja católica será sempre uma promotora firme e incansável das normas morais universais e imutáveis, papel este que ela exerce com a exclusiva finalidade de servir a verdadeira liberdade do homem. Uma vez que "não há liberdade fora ou contra a verdade, a defesa categórica, ou seja, sem concessões nem compromissos, das exigências absolutamente irrenunciáveis da dignidade pessoal do homem, deve considerar-se caminho e condição para a própria existência da liberdade" (Veritatis splendor, VS 96). Além disso, este serviço por parte da Igreja tem em vista não só os indivíduos, mas toda a humanidade: ele considera cada pessoa separadamente, a comunidade política e a sociedade humana em geral. "Estas normas constituem, de facto, o fundamento inabalável e a sólida garantia de uma justa e pacífica convivência humana e, portanto, de uma verdadeira democracia, que só pode nascer e crescer sobre a igualdade de todos os seus membros, irmanados nos direitos e nos deveres" (Ibidem).

Portanto, existem regras morais fundamentais de vida social que trazem consigo exigências específicas, em conformidade com as quais é necessário que actuem as autoridades públicas e os cidadãos em particular. Esta moralidade latente deve orientar todos os aspectos da vida social e política. De facto, é uma triste realidade o facto de que, no alvorecer de um novo milénio, sérias formas de injustiça social e económica, bem como de dominação política, ainda atinjam povos e nações inteiras em várias regiões do mundo, tanto no seu continente africano como noutras partes. Há uma indignação crescente por parte de inúmeros homens e mulheres, cujos direitos fundamentais continuam a ser espezinhados e desprezados. Por este motivo, existe um sentido cada vez mais claro da urgente necessidade de uma radical renovação pessoal e social nos campos da justiça, honestidade, abertura e solidariedade.

Contudo, o caminho em frente ainda é longo e árduo. Realizar as mudanças necessárias vai exigir um grande esforço, de forma especial em virtude das numerosas e graves causas que dão origem e agravam todas as situações de injustiça presentes no mundo contemporâneo. Porém, reconhecendo e respeitando as verdades perenes e objectivas as normas universais, em conformidade com as quais o homem obtém a plena liberdade e alcança a sua identidade completa havemos de encontrar o fundamento para as relações seguras e justas entre as pessoas. A Santa Sé sempre se pronunciará no foro internacional, com voz alta e clara, para defender e promover a dignidade transcendente da pessoa humana. É em virtude desta dignidade que todos os indivíduos sãos e enfermos, jovens e idosos, fortes e frágeis, ricos e pobres, nascidos e nascituros são receptáculos de direitos que ninguém pode violar: nenhuma pessoa, grupo, classe, nação, estado ou organismo internacional.

O Gâmbia é um País que tem uma profunda tradição de coexistência pacífica no meio do seu povo, uma Nação em que os ideais da tolerância, da justiça e da liberdade são altamente valorizados. Embora sejam uma minoria, os católicos do Gâmbia consideram-se verdadeiros filhos e filhas da sua terra, uma parte integrante da sua Nação. A comunidade católica continuará a fazer tudo o que lhe é possível a fim de contribuir para um desenvolvimento que beneficie a todos, de modo especial através da actividade da Igreja nos campos da educação, da assistência médica e dos serviços sociais. A promoção de políticas de justiça, de solidariedade e de serviço ao bem comum é o caminho que a sociedade do Gâmbia pode percorrer com confiança, rumo a uma prosperidade cada vez mais vasta e uma paz estável. Agradeço-lhe o facto de ter reconhecido a contribuição passada e presente da Igreja católica à sua Nação.

Senhor Embaixador, no momento em que dá início à sua missão, asseguro-lhe toda a assistência de que poderá ter necessidade no cumprimento dos seus deveres. Estou persuadido de que o seu trabalho servirá para fortalecer as boas relações já existentes entre a Santa Sé e a República do Gâmbia. Sobre Vossa Excelência e todo o povo do seu País, invoco as copiosas bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO SANTO PADRE

A NOVE EMBAIXADORES

POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS SUAS CARTAS CREDENCIAIS



Discursos João Paulo II 2001 - 18 de Maio de 2001