Discursos João Paulo II 2001 - Segunda-feira, 21 de Maio de 2001

Acompanha-nos, como acompanhou os apóstolos no Cenáculo, Maria, Mãe da Igreja e Estrela da evangelização. Nas suas mãos maternais quero pôr, particularmente, os trabalhos deste Consistório extraordinário e os desejados frutos espirituais e pastorais que daí derivem para o bem da Igreja e do mundo inteiro.



SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


NO FINAL DO CONVÍVIO FRATERNO


COM OS CARDEAIS


24 de Maio de 2001



Estimados Senhores Cardeais

Chegou o momento de nos despedirmos. Agradecemos ao Senhor os dias de graça e de profunda comunhão eclesial que vivemos juntos. Este Consistório extraordinário permitiu reforçar os vínculos de fraternidade, de recíproca estima e de proveitoso entendimento, que nos unem no serviço à Igreja. Do clima tranquilo e fraterno, vivido durante os nossos trabalhos, é feliz expressão também o convívio fraterno, que se está agora a concluir.

Desejo agradecer a cada um de vós a presença e o contributo significativo oferecido generosamente a estes dias de escuta e de reflexão comum.

Agora regressareis às vossas sedes. Peço que leveis a quantos o Senhor confia aos vossos cuidados pastorais a minha cordial saudação, enquanto permanecemos unidos na invocação do Espírito Santo, cujos dons esperamos no próximo Pentecostes para o fecundo exercício do nosso trabalho apostólico quotidiano.

Dirijo um particular agradecimento ao caríssimo Cardeal Decano, Bernardin Gantin, pelas palavras que também aqui me quis dirigir em nome de todos. Nelas senti o afecto com que o Colégio cardinalício acompanha o Sucessor de Pedro e o desejo fervoroso de cada um dos seus membros de o coadjuvar no ministério petrino ao serviço da Igreja universal.

Além disso, exprimo a minha profunda gratidão a quantos, de diversos modos, colaboraram para a realização e o bom desenvolvimento do Consistório. Agradeço de coração às caríssimas Filhas da Caridade e a todo o Pessoal da Domus Sanctae Marthae. Beneficiamos mais uma vez do carisma de Santa Marta, nesta casa que tem o seu nome.

Como era justo na festa litúrgica de hoje, esta sala acolhedora ajuda-nos a permanecer no clima do Cenáculo. É com este espírito que agora nos despedimos, confiando sempre na mútua recordação no Senhor. No próximo mês de Outubro voltaremos a ver alguns de vós por ocasião do Sínodo dos Bispos e poderemos desta maneira experimentar mais uma vez esta forma muito válida de exercício da colegialidade episcopal.

Maria, que hoje veneramos sob o bonito título de "Ajuda dos cristãos", vos acompanhe e vos proteja sempre. Estou convosco com a minha oração e abençoo-vos do coração.




A UMA DELEGAÇÃO DA MACEDÓNIA


POR OCASIÃO DA COMEMORAÇÃO DOS


SANTOS CIRILO E METÓDIO


25 de Maio de 2001

: Senhoras e Senhores

Também neste ano, a visita da vossa Delegação por ocasião da Festa dos Santos Cirilo e Metódio me oferece a oportunidade de vos assegurar a minha oração pela paz e a segurança do vosso povo. A missão dos dois Santos irmãos, Apóstolos dos Eslavos, deixou traços indeléveis na vida religiosa e cultural da vossa nação. Esta peregrinação anual exprime a vossa consciência cada vez maior da necessidade da sua herança para a vida do vosso País e da Europa no seu conjunto.

Pela graça de Deus os dois irmãos de Salonica ofereceram um contributo determinante e sempre válido para a edificação da Europa. Não só uniram no vínculo da comunhão cristã povos muito diversos entre si, mas chegaram também à unidade cultural e civil nas terras onde trabalharam. Recentemente, as populações dos Balcãs experimentaram o sofrimento e o medo e por isso sinto-me obrigado a recordar a importância imediata e prática do ensino dos santos Cirilo e Metódio.

"Ser cristão no nosso tempo significa ser artífice de comunhão na Igreja e na sociedade. Para esse fim, têm importância um espírito aberto aos irmãos, a compreensão mútua e a disponibilidade para a cooperação recíproca mediante o intercâmbio generoso dos bens culturais e espirituais" (Slavorum apostoli, 27). Frente às tensões e aos conflitos na vossa região e à ameaça que eles representam para os indivíduos e para a sociedade, o caminho traçado pelos santos Cirilo e Metódio permanece válido mais do que nunca.

As autoridades e os responsáveis do destino da vossa região podem tirar inspirações para a procura de uma paz justa e geral dos valores evangélicos proclamados pelos santos irmãos. Deus misericordioso vos abençoe e ao vosso povo com o seu amor e a sua protecção.




A UMA DELEGAÇÃO DA BULGÁRIA


POR OCASIÃO DA COMEMORAÇÃO DOS


SANTOS CIRILO E METÓDIO


25 de Maio de 2001




Senhoras e Senhores

1. Estou feliz por acolher a vossa Delegação que vem, como em cada ano, para realizar uma peregrinação ao túmulo de São Cirilo, na antiga Basílica de São Clemente, para indicar o apego do povo búlgaro à memória dos dois irmãos, Santos apóstolos do mundo eslavo e que ao mesmo tempo vem fazer uma visita ao Bispo de Roma. Por vosso intermédio, saúdo cordialmnete o querido povo búlgaro, as Autoridades civis da Nação, a Igreja católica e a Igreja ortodoxa na Bulgária.

2. Como tive a oportunidade de repetir durante a minha recente peregrinação jubilar seguindo os passos de São Paulo, a vida dos Santos irmãos Cirilo e Metódio permanece, de modo particular, um exemplo eloquente da evangelização a que é chamada toda a Igreja. Tendo partido para encontrar os povos eslavos, os dois irmãos de Salonica dedicaram-se, sobretudo, à tradução da Bíblia, aprendendo a língua, mas também os costumes e usos dos povos que os acolhiam. Criando um novo alfabeto, adaptado à língua eslava deram, ao mesmo tempo, um contributo fundamental à cultura e à literatura das nações eslavas. Não só "desempenharam a sua missão com todo o respeito pela cultura que já existia entre os povos eslavos, mas promoveram-na e incrementaram-na, de modo iminente e incessante, ao cultivarem a religião (Slavorum apostoli, n 26). Numa Europa que procura a própria identidade e unidade, apresentam um caminho exemplar e estimulante a fim de que o Evagelho, radicado na cultura dos povos, a torne fecunda e a alimente. Trata-se de um contributo específico para o desenvolvimento do continente, que o vosso gesto sublinha com fortaleza.

3. Ao terminar o nosso encontro, agradeço-vos vivamente a vossa visita amiga e formulo ardentes votos para todo o povo búlgaro. Que ele possa continuar o seu caminho para a realização das suas legítimas aspirações à paz e concórdia. Confio estes votos a Deus e, por intercessão dos santos Cirilo e Metódio, invoco sobre vós e sobre todos aqueles que representais, a abundância das Bênçãos divinas.




ÀS PARTICIPANTES NO


XV CAPÍTULO GERAL DAS FILHAS DE JESUS


26 de Maio de 2001



Queridas Irmãs!

1. Sinto muito prazer por me encontrar convosco, que estais a celebrar a XV Capítulo Geral, no qual desejais discernir a vontade de Deus para o vosso Instituto neste momento da história, no início do novo milénio.

Saúdo com afecto a Irmã Maria Pilar Martínez García, eleita de novo como Superiora-Geral, as suas Conselheiras e demais colaboradoras directas, bem como as participantes neste Capítulo. Fazei chegar esta saudação também às Irmãs que representais e que desempenham a sua missão em diversos países da África, da América, da Ásia e da Europa. Elas enriquecem as Igrejas particulares onde vivem com os seus trabalhos pastorais e educativos e, sobretudo, são portadoras do próprio carisma, que é sempre um dom outorgado pelo Espírito à Igreja.

2. Celebrou-se há poucos dias o V aniversário da Beatificação de Cândida Maria de Jesus, vossa Fundadora. Tive a alegria de a elevar às honras dos altares juntamente com uma das primeiras Irmãs, a Beata Maria Antónia Bandrés Elósegui. A Madre Cândida soube percorrer com fidelidade e constância o caminho da santidade, mas, ao mesmo tempo, faz agora quase 130 anos, iniciou em Salamanca um projecto de vida religiosa para que outras pessoas, entregando-se totalmente a Deus e servindo melhor a Igreja, seguissem os mesmos passos. Assim aconteceu com a Beata Maria Antonia, cuja santidade de vida é como a confirmação daquele projecto original, pois "toda a árvore boa dá bons frutos" (Mt 7,17). Compete-vos a vós produzir os frutos de hoje, mediante uma entrega cada vez mais radical à vossa vocação e à contínua aspiração por ser, com o testemunho de vida, sinal da presença de Cristo e veículo da chamada de Deus.

Por conseguinte, a coincidência entre esta íntima comemoração e os trabalhos da vossa Congregação Geral é um eloquente convite a reproduzir com vigor a audácia, a criatividade e a santidade da Fundadora, como resposta aos sinais dos tempos que surgem no mundo de hoje (cf. Vita consecrata, VC 37). A entrega total e incondicionada a Deus continua a ser uma referência firme para qualquer programa, pois não devemos esquecer que "Deus nos pede uma real colaboração com a sua graça, convidando-nos por conseguinte a investir no serviço pela causa do Reino, todos os nossos recursos de inteligência e de acção; mas ai de nós, se nos esquecemos de que, "sem Cristo, nada podemos fazer"" (Novo millennio ineunte, 38).

3. Estas considerações adquirem um significado particular na pastoral educativa, um dos aspectos que mais distinguem o vosso carisma e a vossa tradição, e que é um elemento fundamental da missão da Igreja (cf. Vita consecrata, VC 96). Com efeito, quem se apercebeu interiormente da beleza sublime de Deus e se sente enraizado em Cristo, Caminho, Verdade e Vida, não se contentará em formar as crianças com uma bagagem de conhecimentos, mas procurará suscitar neles o desejo de crescer em todos os aspectos da existência humana e, sobretudo, fomentará a paixão por "uma verdade superior, que seja capaz de explicar o sentido da vida; trata-se, por conseguinte, de algo que não pode desembocar no absoluto" (Fides et ratio, FR 33). Perante esta sublime tarefa, o educador não pode permanecer alheio ao que ensina. O próprio Jesus fala daquilo "que Meu Pai Me ensinou" (Jn 8,28) e o Apóstolo anuncia "o que vimos e ouvimos" (1Jn 1,3 cf. Hb He 4,20).

Transmitir com competência o saber e a cultura, despertar a responsabilidade social, impregnar a consciência moral dos mais nobres valores éticos e iluminar a excelsa vocação transcendente de todos os seres humanos, são sem dúvida tarefas urgentes, especialmente num mundo com frequência tentado pela banalidade e pelo proveito material imediato. Além disto, para as religiosas deve ser também um sinal profético. Eis por que, na vossa missão, se deve manifestar antes de mais um especial seguimento de Cristo, mostrando com nitidez que continuais a cultivar na história "aqueles germes do Reino que foram visíveis na vida terrena de Jesus, ao acolher a quantos recorriam a Ele para todas as necessidades espirituais e materiais" (Novo millennio ineunte, 49).

Desta forma é proclamada também a própria esperança num futuro da humanidade conforme com Deus, sem dar espaço ao desconforto nem a obscuros pressentimentos. Ao contrário, a religiosa educadora confirma a sua fé "nos prodígios da graça que o Senhor concede aos que Ele ama" (Vita consecrata, VC 20), com a sua tenaz confiança nas possibilidades de todas as pessoas, é capaz de surpreender o mundo e fazer brotar continuamente novas esperanças. Esta é uma forma quotidiana de indicar "a todos os crentes os bens celestes, já presentes neste mundo" (Lumen gentium, LG 44).

4. No final deste encontro, convido-vos a que, neste como nos outros âmbitos da vossa actividade apostólica, presteis atenção às necessidades emergentes no nosso tempo, dando-lhes uma resposta que vem do coração de Cristo e da missão original da Igreja. De facto, "quanto mais se vive de Cristo, tanto melhor se pode servi-l'O no próximo, indo até às fronteiras da missão e aceitando os maiores riscos" (Vita consecrata, VC 76).

Apresento à Superiora-Geral e às suas colaboradoras os melhores votos para o desempenho da responsabilidade que lhes foi confiada. A importância que, de acordo com a vossa herança inaciana, dedicais ao discernimento ponderado da vontade de Deus e à firme determinação em segui-la, é uma base sólida para enfrentar sem receio as decisões, por vezes difíceis, que são próprias do vosso serviço de governo.

Para concluir, desejo confiar nas mãos da Virgem Maria os frutos deste XV Capítulo Geral e o futuro do Instituto. Nela encontrareis a alegria e a esperança que devem encher a vossa vida comunitária e pessoal, as vossas obras e a vossa missão. Com estes votos, concedo-vos de coração a Bênção apostólica, que de bom grado faço extensiva a todas as Filhas de Jesus.



DISCURSO DO SANTO PADRE AOS


BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DA GUATEMALA POR OCASIÃO


DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Terça-feira, 29 de Maio de 2001






Queridos Irmãos no Episcopado

1. É com prazer que vos recebo a vós, Pastores da Igreja de Deus que está na Guatemala, vindos a Roma para a visita ad Limina, durante a qual vos encontrais com o Sucessor de Pedro, mantendes contactos oportunos com os diversos Dicastérios da Cúria Romana, rezais diante dos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, colunas da Igreja, para desta forma, fortalecidos, continuardes a vossa missão de chefes e guias do Povo de Deus que peregrina no "País da eterna primavera".

Agradeço as amáveis palavras que me foram dirigidas por Sua Ex.cia D. Víctor Hugo Martínez Contreras, Arcebispo de Los Altos-Quetzaltenango-Totonicapán e Presidente da Conferência Episcopal Nacional, manifestando a vossa comunhão com o Bispo de Roma e os sentimentos que vos animam na vossa acção pastoral em favor do querido povo guatemalteco. Dos seus ricos valores eu mesmo fui testemunha, por ocasião das minhas duas viagens apostólicas ao vosso País, que tiveram lugar em circunstâncias muito diversas. Na primeira, a Nação vivia um cruel conflito interior, enquanto na segunda já se vislumbravam os horizontes da paz, que então desejei alentar.

Sempre tive a satisfação de me encontrar com uma Igreja viva, dinâmica, próxima de todos e comprometida seriamente no anúncio de Jesus Cristo e da sua Boa Nova.

2. Como Bispos, tendes a missão primeira de edificar as vossas comunidades sobre a rocha que é Cristo (cf. 1Co 10,4), mediante a pregação da Palavra de Deus, a celebração dos Sacramentos e a promoção da caridade. Encorajados pelas promessas do Senhor e pela força que o seu Espírito nos proporciona, sois chamados a ser os primeiros a levar a cabo a missão que Ele confiou à sua Igreja, ainda que para isso tenhais de enfrentar e aceitar a cruz, que na sociedade contemporânea pode manifestar-se de muitas formas.

Tanto individual como colegialmente, através da Conferência Episcopal ou de outras instâncias eclesiais, participais na análise dos bons êxitos e das expectativas da sociedade guatemalteca, procurando interpretá-los à luz do Evangelho para orientar a vossa sociedade, ajudando-a a progredir no campo dos valores morais e, de modo muito particular, favorecendo a reconciliação nacional, tão necessária após os sanguinolentos anos da guerra civil.

Escutando o que "o Espírito diz às Igrejas" (Ap 2,7), sentis também o dever de fazer um discernimento sereno, aberto e compreensivo das diversas circunstâncias e acontecimentos, iniciativas e projectos, sem descuidar os graves problemas e as aspirações mais profundas da sociedade. Por isso, encorajo-vos a continuar incansavelmente e sem desânimo no múnus de ensinar e anunciar o Evangelho de Cristo aos homens (cf. Christus Dominus, CD 11), elaborando e colocando em prática os projectos pastorais mais oportunos (cf. Ecclesia in America, ). Ainda que as vossas responsabilidades sejam grandes, o Espírito do Senhor iluminar-vos-á e dar-vos-á sempre as forças necessárias.

3. Para colaborar na vossa missão contais, em primeiro lugar, com a ajuda dos sacerdotes. A sociedade contemporânea, tão diversificada, exige que o sacerdote seja um sinal de unidade e exerça o seu ministério de forma humilde e com caridade pastoral, a fim de orientar os fiéis para o encontro com Jesus Cristo (cf. Ecclesia in America, ). Considerando que sei como eles levam a cabo o seu ministério, dou graças a Deus pelo espírito de fraternidade e de sacrifício, pelo testemunho de austeridade e de pobreza, e pela sua abnegação generosa ao serviço dos irmãos. Bem sei que nalgumas regiões o trabalho pastoral reveste uma dificuldade especial e isto requer uma disponibilidade ainda mais exigente. Como eu dizia na minha Carta da Quinta-Feira Santa do corrente ano, trata-se de "um trabalho frequentemente escondido que, apesar de não ser notícia de manchete nos jornais, faz dilatar o Reino de Deus nas consciências", e é por este motivo que lhes renovo "a minha admiração por este ministério discreto, perseverante e criativo, embora às vezes banhado por aquelas lágrimas da alma, que só Deus vê" (n. 3).

Para que o serviço dos sacerdotes seja cada vez mais eficaz perante os desafios que o mundo contemporâneo apresenta à evangelização, é mister que eles possuam uma espiritualidade sólida, imitem Cristo, o Bom Pastor, e sigam uma formação permanente que os torne cada vez mais idóneos para transmitir a mensagem evangélica. A este respeito, é-me grato tomar conhecimento da criação, no contexto do Plano Global da Conferência Episcopal Guatemalteca, da Comissão para o Clero e a Pastoral sacerdotal, que publicou o Plano Nacional de Pastoral Sacerdotal para o quinquénio de 2001-2006. Dentro desta programação, velai pela situação particular de cada um e oferecei-lhes toda a ajuda necessária, encorajando-os a continuar com entusiasmo e esperança a percorrer o caminho da santidade sacerdotal. A nenhum dos vossos presbíteros faltem os instrumentos necessários para viver a sua sublime vocação e o seu ministério!

4. Nos vossos Relatórios quinquenais, sublinhais o apreço e a gratidão pelo dom da vida consagrada nas Igrejas particulares. Com efeito, na Guatemala há uma importante presença de religiosas e de religiosos que contribuem para a evangelização, tanto através de uma pastoral directa nas paróquias ou nas missões, como mediante várias obras de apostolado educativo ou assistencial.

A Igreja estima, nos religiosos e nas religiosas, a disponibilidade e a capacidade de corresponder com prontidão aos desafios da difusão da Boa Nova, tendo sempre presente, ao mesmo tempo, o facto de que a sua própria vida consagrada é um instrumento privilegiado de evangelização. Por isso, recordo-lhes a necessidade de conservar sempre a "fidelidade criativa" ao seu próprio carisma (cf. Vita consecrata, VC 37). Desejo também frisar a responsabilidade que os Bispos têm, de conservar e defender o rico património espiritual de cada um dos Institutos (cf. Código de Direito Canónico, cân. CIC 586 2), correspondendo "ao dom da vida consagrada que o Espírito suscita na Igreja particular, acolhendo-o generosamente, com acções de gratidão [ao Senhor]" (Vita consecrata, VC 48). Além disso, perante a difundida exigência de espiritualidade, que se pode considerar como um "sinal dos tempos" neste início de milénio (cf. Novo millennio ineunte, NM 33), é necessário esperar das pessoas consagradas, em conformidade com o seu carisma originário, um testemunho de vida autenticamente evangélico, que sem dúvida enriquecerá cada uma das Igrejas particulares, ajudando a manter vivo o sentido da presença de Deus e favorecendo em todos os fiéis "um verdadeiro anseio de santidade, um forte desejo de conversão e de renovação pessoal, num clima de oração cada vez mais intensa" (Tertio millennio adveniente, TMA 42; cf. também Vita consecrata, VC 39).

5. Embora "a missão salvífica da Igreja no mundo se realize não só pelos ministros, que o são em virtude do sacramento da Ordem, mas também por todos os fiéis leigos" (cf. Christifideles laici, CL 23), é indubitável que os ministros ordenados têm um papel fundamental nesta missão. Por isso, desejo compartilhar a solicitude pela promoção das vocações ao sacerdócio e pela sua formação como futuros pastores do Povo de Deus.

A importância deste tema exige uma reflexão constante e um compromisso renovado e decidido por parte de todas as comunidades cristãs, sob a orientação daqueles de quem "o Espírito Santo vos constituiu administradores, para apascentardes a Igreja de Deus" (Ac 20,28). A pastoral vocacional deve centrar-se no chamamento que o Senhor efectua de modo pessoal, no seguimento e no ministério, através da fecundidade da Igreja e da profundidade da sua vida, alimentada pela pureza da fé, pela graça dos Sacramentos, pelo espírito de conversão e pela oração ardente dos membros do Corpo místico de Cristo. Por conseguinte, todos devem participar de alguma maneira na pastoral vocacional, persuadidos de que Deus responderá, proporcionando ao seu povo, se ele o pedir com perseverança, os ministros necessários.

É também importante ter presente o facto de que a pastoral vocacional encontra um âmbito privilegiado na pastoral juvenil, orientada para a formação doutrinal, espiritual e apostólica dos jovens, tanto nas paróquias e nos colégios, como nas associações apostólicas e nos movimentos. Neste campo, é fundamental uma formação integral e corente, assente numa intimidade com Cristo que disponha os eleitos a receber com alegria a graça do dom.

O testemunho de fidelidade dos sacerdotes, a cujo ministério se integrarão os novos ordinandos, é também importante para a formação dos seminaristas. Correspondendo com generosidade e com amor indiviso à sua "vocação no sacerdócio", os presbíteros serão um modelo de caridade pastoral, de oração e de abnegação sacrificada para os jovens candidatos às Ordens sagradas.

6. É com satisfação que observo o modo como acompanhais o vosso povo na busca de uma convivência harmoniosa e pacífica, fundamentada nos valores da reconciliação, da justiça, da solidariedade e da liberdade. Por isso, se for necessário, não deixeis de denunciar a injustiça e de propor os princípios de índole moral, que hão-de orientar também a actuação na vida civil.
A Igreja que está na Guatemala tem sido testemunha do derramamento do sangue de muitos dos seus filhos. Além do esforço legítimo de revelar a verdade sobre estes crimes execráveis entre os quais está incluído o de D. Juan Gerardi Conedera, Bispo Auxiliar da Cidade de Guatemala, assassinado já há três anos é urgente que se recupere a sua memória como "exemplos de dedicação sem limites à causa do Evangelho" (Ecclesia in America, ). A este propósito, desejo recordar quanto disse na vossa terra, no dia 6 de Fevereiro de 1996, no Campo de Marte:

"Agora, quero prestar uma calorosa e merecida homenagem às centenas de catequistas que, juntamente com alguns sacerdotes, arriscaram a própria vida, oferecendo-a inclusive pelo Evangelho. Com o seu sangue, fecundaram para sempre a abençoada terra da Guatemala. Essa fecundidade deve frutificar em famílias unidas e profundamente cristãs, em paróquias e comunidade evangelizadoras, em numerosas vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. Ao imitarem a coragem e a integridade de Maria, "venceram, pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho, porque desprezaram as suas vidas a ponto de aceitarem a morte" (Ap 12,11)" (Discurso durante a Celebração da Palavra no Campo de Marte, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 10 de Fevereiro de 1996, pág. 9, n. 4).

7. Por outro lado, difundir a doutrina social da Igreja adquire uma dimensão de "autêntica prioridade pastoral" (Ecclesia in America, ), tanto para enfrentar adequadamente as diversas situações com uma consciência recta, iluminada pela fé, como para fomentar e orientar o compromisso dos leigos na vida pública. Com efeito, de pouco serviriam as denúncias, a proclamação teórica dos princípios e se estes não fossem firmemente interiorizados através de uma formação integral e sistemática. Desta forma, abre-se um canal de influxo verdadeiro e concreto dos valores inspirados pelo Evangelho no mundo da cultura, da tecnologia, da economia ou da política.

A esta formação, que deve acompanhar o crescimento na fé de todos os fiéis cristãos, é preciso acrescentar um esforço que vise também a evangelização de quantos têm responsabilidades nas diversas áreas da administração pública. Considerando que o Evangelho tem algo a dizer também a eles, é necessário ajudá-los a descobrir que a mensagem de Jesus é valiosa e pertinente também para a função que eles mesmos desempenham (cf. Ecclesia in America, ).

8. Sabe-se que na Guatemala a difusão da Palavra de Deus é levada a cabo em grande medida por numerosos catequistas. Observei que nos vossos Relatórios quinquenais elogiais o trabalho abnegado e sacrificado por eles realizado. Agradeço-lhes do íntimo do coração este serviço, que faz parte da sua missão no seio da Igreja.

Um instrumento particularmente oportuno para que os fiéis leigos correspondem à enorme esperança que a Igreja deposita neles, e nas tarefas que lhes são próprias, é o de uma organização adequada, que facilite a formação, a progressiva inserção das novas gerações, a ajuda mútua e a acção apostólica coordenada. O nascimento de diversos movimentos laicais pode ser, a este respeito, um fenómeno promissor, que merece uma especial atenção por parte dos Bispos, que são chamados, como diz o Apóstolo São Paulo, a fazer com que "não se extinga o Espírito, não se desprezem as profecias, mas que se examine tudo, retendo o que for bom" (cf. 1Th 5,19-21). Desta maneira, com a ajuda dos seus Pastores e em perfeita comunhão com eles, forjar-se-á um laicado vigoroso, firmemente comprometido no caminho da santidade pessoal, na edificação da Igreja e na construção de uma sociedade mais justa.

De resto, este será um modo eficaz de superar a ignorância religiosa e confirmar a fé, vivida às vezes de modo rotineiro, tornando assim menos vulneráveis os baptizados diante do avanço proselitista das seitas e de outras ofertas supostamente espirituais (cf. Ecclesia in America, ).

9. No encerramento deste encontro, desejo encorajar-vos a continuar, com o dinamismo e o entusiasmo que vos caracteriza, e também com renovada esperança, o exercício da missão que o Senhor vos confiou. Rogo-vos que vos torneis intérpretes do meu afecto e proximidade espiritual aos vossos sacerdotes, religiosos, religiosas e todos os fiéis guatemaltecos, que caminham com alegria para o encontro com o Senhor. A este propósito, recordo que "as sendas por onde caminha cada um de nós e cada uma das nossas Igrejas são muitas, mas não há distância entre aqueles que estão intimamente ligados pela única comunhão, a comunhão que cada dia é alimentada à mesa do Pão eucarístico e da Palavra de vida" (Novo millennio ineunte, 58).

A Virgem Santíssima, Mãe da Igreja, vos acompanhe no vosso caminho e vos console sempre com a sua ternura maternal. Sirva-vos de penhor também a Bênção apostólica que, de bom grado, vos concedo e faço extensiva a cada uma das vossas Igrejas particulares.




DURANTE O ENCONTRO COM UMA


DELEGAÇÃO DA CONFERÊNCIA


EPISCOPAL DA ROMÉNIA


Quinta-feira, 31 de Maio de 2001






Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustríssimos Professores
Prezados Senhores

1. "Tu, porém, persevera em tudo o que aprendeste e que te foi confiado, sabendo de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Escrituras, que podem dar-te a sabedoria que leva à salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, convencer, corrigir e instruir na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e apto para toda a obra" (2Tm 3,14-16).

Com estas palavras, o Apóstolo Paulo dirige-se ao jovem Bispo Timóteo, a quem fora confiada a Igreja de Éfeso, recordando-lhe a importância da Sagrada Escritura no anúncio da salvação em Cristo. Desde os primórdios do cristianismo, a Bíblia foi o livro que plasmou não poucas culturas, e para o traduzir, certas vezes foi necessário criar alfabetos nacionais.

Disto estava bem consciente a Igreja ortodoxa nos Principados romenos, quando providenciou as primeiras traduções da Bíblia em língua nacional, de maneira a torná-la mais acessível aos fiéis. Na segunda metade do século XVIII, esgotou-se a primeira edição completa romena da Sagrada Escritura, conhecida como "Biblia de la Bucuresti" (1688). Entretanto, na liturgia nacional verificaram-se transformações notáveis. Entao, tornou-se necessária uma nova ediçao; este trabalho foi realizado com competencia e zelo por um grande monge erudito, Samuil Micu, da "Scoala Ardeleana". À ediçao foi dado o nome da cidade de Blaj, onde o Bispo Ioan Bob a imprimiu em 1795.

2. Esta nova traduçao foi usada nao só pela Igreja greco-católica da Transilvânia, mas também pela Igreja ortodoxa, servindo assim a todos os Romenos para a difusao da fé em Cristo. Desta forma, na Liturgia continuaram a ressoar os mesmos textos, desenvolvendo ulteriormente a linguagem teológica comum.

Além disso, considerando-se a eximia qualidade literária desta obra, ela teve um notável impacto cultural em toda a Naçao, como aconteceu por exemplo na Polónia, graças à traduçao da Biblia, feita pelo Padre jesuita Jakub Wujek.

Tendo em consideraçao a importância da "Biblia de la Blaj", que representa um verdadeiro monumento de fé e, ao mesmo tempo, uma grandiosa obra literária de lingua romena, desejei que uma sua ediçao preparada por um grupo de estudiosos insignes, sob o patrocinio da Sede Metropolitana greco-católica e das mais ilustres Autoridades culturais da Roménia, fosse impressa no Vaticano, como oferta da Santa Sé.

Com isto, foi minha intençao confirmar também a secular proximidade dos Pontifices romanos à Naçao romena. Conservo sempre no coraçao a lembrança da minha viagem ao vosso Pais e o afecto que entao me foi demonstrado, quer pelos católicos quer pelos ortodoxos. Volta-me à mente o brado do povo durante a celebraçao eucaristica, em Parcul Izvor: "Unitate, Unitate!". É o anseio espiritual de um povo que pede a unidade e por ela quer trabalhar. Jamais poderei apagar da memória o entusiasmo dos rostos e os gestos de fraternidade daquele encontro histórico. De facto, eles já fazem parte da história. Assim como aquela viagem nos aproximou no caminho para a unidade, formulo votos a fim de que a impressao da "Biblia de la Blaj" possa constituir um ulterior passo rumo à plena comunhao dos discipulos de Cristo.

3. "Gravai, pois, as minhas palavras no vosso coraçao e no vosso pensamento; atai-as aos vossos braços como um simbolo e trazei-as como filactérias entre os vossos olhos. Ensinai-as aos vossos filhos, repetindo-as sem cessar quando estiverdes em casa ou de viagem, ao deitar e ao levantar. Escreve-as nos pilares da tua casa e nas tuas portas. Entao, a durabilidade dos vossos dias e dos vossos filhos, no solo que o Senhor jurou dar a vossos pais, será igual à durabilidade do céu que está acima da terra" (Dt 11,18-21).

A Palavra do Senhor deve ser sobretudo vivida. Ela há-de penetrar em todos os espaços onde o homem vive e trabalha. Para que isto possa acontecer, a Igreja é chamada a anunciá-la com força e clarividencia, utilizando nao só os meios tradicionais mas inclusivamente os instrumentos oferecidos pelas novas tecnologias.

Convido os Pastores e os fiéis a fazer da Biblia o seu alimento espiritual de todos os dias. Exorto-os a meditar e a rezar com as palavras da Sagrada Escritura que, juntamente com a Eucaristia, deve constituir o centro da vida eclesial e familiar. Somente assim eles terao sempre a inspiraçao e a força divinas, necessárias para permanecer fiéis a Cristo no seu testemunho no mundo.

Por isso, é com imensa alegria que hoje lhe dou as boas-vindas, Senhor Presidente, e a quantos colaboraram para a realizaçao da reimpressao da Biblia de Blaj. Agradeço aos patrocinadores desta iniciativa e às pessoas que quiseram cuidar das várias fases da sua actuaçao concreta.
Outrossim, desejo que a reediçao da "Biblia de la Blaj" recorde esta urgencia, que deve ser privilegiada nos programas pastorais e na formaçao do clero. Assim a Igreja católica, que pode justamente sentir-se orgulhosa da contribuiçao que, ao longo dos séculos, ofereceu à vida do povo romeno, continuará a servir a Naçao.

Aos cristaos da Roménia, confio espiritualmente esta nova ediçao da Biblia e invoco Maria, a Virgem da escuta e a Mae da unidade, para que vele os passos de todo o povo romeno.
Com esta finalidade, asseguro de coraçao a minha prece e, de bom grado, concedo a todos uma especial Bençao Apostólica.





Discursos João Paulo II 2001 - Segunda-feira, 21 de Maio de 2001