Discursos João Paulo II 2001 - Terça-feira, 5 de Junho de 2001

MENSAGEM DO SANTO PADRE


POR OCASIÃO DO SIMPÓSIO


DA ONU SOBRE O TEMA


"CRIANÇAS NOS CONFLITOS ARMADOS: UMA RESPONSABILIDADE DE TODOS"








A Sua Ex.cia o Senhor Olara A. Otunnu
Subsecretário-Geral da O.N.U.
e Representante Especial do Secretário-Geral para a Infância e os Conflitos Armados

Por ocasião do Simpósio sobre o tema: "Crianças nos conflitos armados: uma responsabilidade de todos", realizado no dia 5 de Junho na Sede da Organização das Nações Unidas e organizado, em cooperação com o seu Departamento, pela Missão do Observador Permanente da Santa Sé, transmito cordiais saudações a Vossa Excelência e a todos os participantes no Simpósio, enquanto vos asseguro a minha solidariedade na oração.

O tema do Simpósio chama a devida atenção para o triste flagelo de inúmeras crianças que são vítimas de situações de guerras em várias regiões do mundo. A memória daquelas que já morreram e as contínuas atribulações de muitas outras obrigam-nos a não poupar esforços para pôr fim a estes conflitos e guerras, e a fazer tudo o que é possível para ajudar as suas jovens vítimas a voltarem a levar uma vida sadia e digna. A este respeito, a Organização das Nações Unidas e outras Organizações humanitárias e religiosas, têm trabalhado sem cessar para aliviar estes sofrimentos desumanos. Elas merecem a nossa gratidão, assistência e encorajamento.

As crianças e os jovens são "membros preciosos da sociedade humana, que encarnam as suas esperanças, expectativas e potencialidades" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1996, n. 9). O desafio enfrentado pelos indivíduos e pelas organizações, na realidade por toda a comunidade internacional, consiste em assegurar que às crianças em toda a parte seja oferecida a possibilidade de crescer em paz e felicidade. Assim, também elas serão anunciadoras da paz, edificadoras de um mundo de fraternidade e solidariedade.

Com tais pensamentos, rezo para que este importante Simpósio desperte uma maior consciência acerca da seriedade dos problemas das crianças que vivem em situações de conflito armado. Sobre todos os participantes, invoco a abundância das Bênçãos divinas.

Vaticano, 30 de Maio de 2001.



DISCURSO AOS PARTICIPANTES


NO CAPÍTULO GERAL DOS


FRANCISCANOS DA TERCEIRA ORDEM REGULAR


7 de junho de 2001





Queridos Irmãos da Terceira Ordem Regular de São Francisco de Assis

1. Sinto-me feliz por vos receber por ocasião do vosso Capítulo Geral e saúdo-vos com afecto. Dirijo uma saudação particular ao Pe. Ilija Zivkovic, que chamastes a desempenhar a tarefa de Ministro-Geral. A ele e aos novos eleitos do Definitório-Geral exprimo as minhas felicitações juntamente com os votos de um proveitoso trabalho ao serviço da Ordem e de toda a Igreja.

Reunistes-vos para realizar uma atenta verificação da vossa vida religiosa, pessoal e comunitária, tendo como termo de comparação o Evangelho e o carisma penitencial, delineado no tempo das origens da Terceira Ordem e confirmado em numerosos séculos de história. Nesta perspectiva vós sentis a urgência de uma contínua renovação no vosso caminho de perfeição seguindo os passos do "poverello". De facto, é dai que surge o dinamismo apostólico, que abre o vosso coração aos irmãos e vos dispõe a fazer vossos os seus problemas existenciais para colaborar com Cristo a nivel da salvação.

2. O vosso seguimento de Cristo segundo os ensinamentos e os exemplos de São Francisco de Assis constitui para vós um singular privilégio, do qual deveis estar profundamente gratos ao Senhor que vos chamou. Tantos séculos de testemunho apostólico e caritativo enriqueceram a vossa Ordem de méritos e de experiência, dotando-vos de um peculiar património espiritual, que deveis ter em conta nas vossas averiguações e nos vossos projectos.

Contudo, a vida religiosa, penetrada pelo Evangelho, nao se limita à satisfação pelo passado, mas vive intensamente o presente e projecta-se para o futuro. A dialéctica entre herança e profecia confere um fundamento válido às vossas esperanças em relação ao terceiro milénio, já felizmente iniciado.

Nesta perspectiva, deveis sentir-vos empenhados a converter cada vez mais o vosso coração a Deus, no qual pusestes toda a vossa esperança. Ele deve invadir a vossa mente, libertando-vos dos numerosos impedimentos que poderiam reduzir a eficácia do vosso testemunho evangélico no mundo de hoje. Que o Pai "vos conceda... que sejais poderosamente fortalecidos pelo Seu Espírito quanto ao crescimento do homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações... para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus" (Ep 3,16-17 Ep 3,19).

Se, como Francisco de Assis, levardes no coração o Espirito do Senhor e souberdes manifestar nas vossas atitudes a imagem de Cristo, a vossa presença na Igreja dará muitos frutos de vida e poderá contribuir de maneira eficaz para a construção da civilização do amor, moldada no Evangelho.

3. Na "fidelidade dinâmica" ao vosso carisma, "olhai o futuro, para o qual vos projecta o Espírito a fim de realizar convosco ainda grandes coisas" (Vita consecrata, VC 110). Deixando-vos transformar pelo Espírito, cooperais eficazmente na evangelização do mundo contemporâneo e tornais-vos "interlocutores privilegiados daquela procura de Deus que desde sempre inquieta o coração do homem e o conduz a múltiplas formas de ascese e de espiritualidade" (Ibid., n. 103). Sobretudo, prossegui o vosso empenho no apostolado missionário, onde a vossa Ordem adquiriu louváveis méritos, oferecendo serviços de vida franciscana, de cultura e de caridade laboriosa.

Com investigação criativa, descobri obras de misericórdia que renovem a vossa tradicional atenção aos pobres e aos mais débeis da sociedade, porque servir os necessitados é um acto de evangelização, selo de fidelidade ao Evangelho e estímulo de conversão permanente (cf. ibid., n. 82).

Como Francisco de Assis, pregai a paz e a penitência, promovei a justiça, defendei os direitos da pessoa humana, levantai a voz contra os abusos e a violência, curai com zelo as numerosas feridas que fazem gemer a humanidade de hoje.

4. Se souberdes ler os sinais dos tempos numa óptica de fé e com um olhar amoroso, será fácil identificar novas formas de evangelização e de serviço caritativo adequadas às exigências do presente.

Contribui com empenho para a promoção da cultura quer como serviço aos irmãos em busca da verdade quer como instrumento de formação integral e de percurso ascético (cf. ibid., n. 98). O estudo "é sobretudo expressão do desejo insaciável de conhecer mais profundamente a Deus, abismo de luz e fonte de toda a verdade humana... é incitamento ao diálogo e à partilha, é formação da capacidade de discernimento, é estimulo à contemplação e à oração, na busca incessante de Deus e da sua acção na complexa realidade do mundo contemporâneo" (Ibidem).
Por fim, não esqueçais o vosso reconhecido empenho pela unidade dos cristãos e pelo diálogo ecuménico, assim como a abertura ao diálogo inter-religioso, também ele parte da missão evangelizadora da Igreja (cf. Redemptoris missio, RMi 55).

5. Queridos Irmãos em Cristo, tendes diante de vós um programa entusiasmante para o terceiro milénio, que espera ver em vós testemunhas de conversao evangélica, operários de caridade e de evangelização, profetas de um mundo renovado na fé e no amor, mediante a profunda introdução dos valores cristãos.

Neste itinerário penitencial, marcado pelos ritmos da conversão do coração e pela sequência das obras de misericórdia, Francisco de Assis é para vós mestre e modelo. Olhai para ele que, pelos caminhos do Evangelho, vos guiará a Cristo para realizar uma profunda experiência de amor a Deus e aos irmãos.

Com estes bons votos, concedo a minha cordial Bênção a todos vós e a cada um dos Irmãos da Ordem, bem como a todas as Religiosas de clausura da Terceira Ordem Regular.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


À ASSEMBLEIA DIOCESANA DE ROMA


7 de Junho de 2001


Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. No início da grande Assembleia diocesana, que nestes dias vos verá reunidos na Basílica de São João de Latrão, desejo fazer-vos chegar a minha saudação de bons votos.

Esta Assembleia corresponde ao convite que vos dirigi no final da Missão da Cidade, na Vigília de Pentecostes do ano de 1999, de "favorecer uma reflexão específica que, envolvendo todos os sectores eclesiais, leve à realização de um Congresso que com base na experiência da Missão da Cidade sirva para traçar as linhas-mestras de um empenho de evangelização e missionariedade permanentes".

Sei que vos preparastes por muito tempo e intensamente para este encontro tão importante, através da oração, do discernimento espiritual e pastoral, e da formulação de propostas concretas por parte de cada uma das paróquias e realidades diocesanas.

Com base no instrumento de trabalho preparado desde o mês de Outubro de 2000, percorrestes um caminho de escuta e de diálogo que empenhou os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e muitos leigos cristãos, de forma especial os membros dos Conselhos pastorais, os missionários e todas as pessoas que estão comprometidas no serviço da Igreja e na animação cristã da sociedade.

A Carta Apostólica Novo millennio ineunte, e depois a Carta que enviei à Diocese no dia 14 do passado mês de Fevereiro, e que vós recebestes com alegria e estudastes com amor, orientaram-vos na preparação desta Assembleia e agora representam o seu ponto de referência mais significativo, em ordem à elaboração do programa pastoral para os próximos anos.

2. "Recomeçar a partir de Cristo, para a missão permanente na Cidade": este lema, que colocastes no centro da reflexão, exprime bem o objectivo e o conteúdo próprio da Assembleia.
Efectivamente, com a sua presença viva e a sua mensagem, Jesus Cristo deve modelar a existência de cada crente e de todas as comunidades, para que o nosso testemunho seja forte e credível.

Portanto, peçamos ao Senhor que a santidade seja para nós verdadeiramente a ""medida alta" da vida cristã ordinária" (Novo millennio ineunte, 31), a fim de que o anúncio de Cristo possa alcançar todos os homens e mulheres da nossa Cidade e ser fonte de conversão e de renovação para a vida pessoal e familiar, assim como para cada ambiente de trabalho e de cultura.

Por isso, peço-vos que reserveis um grande espaço para a escuta da palavra de Deus, valorizeis plenamente a Eucaristia, sobretudo dominical, e transformeis cada uma das paróquias e realidades eclesiais permanentes em "escola" de oração, "onde o encontro com Cristo não se exprima apenas em pedidos de ajuda, mas também em acção de graças, louvor, adoração, contemplação, escuta, afectos de alma, até se chegar a um coração verdadeiramente "apaixonado"" (Ibid., n. 33).

3. Da intimidade e familiaridade com o Senhor nasce aquela profunda unidade com Ele, que constitui o fundamento da espiritualidade de comunhão: Pai, peço-vos que todos os meus discípulos "sejam um só; como Tu, ó Pai, estás em mim e Eu em ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste" (Jn 17,21). A oração de Cristo pela unidade dos seus discípulos, que sustém e anima o caminho ecuménico, exige antes de mais nada a unidade plena e sincera de todas as vocações, ministérios e expressões pastorais de que a Igreja de Roma é rica. Por conseguinte, cada uma das nossas paróquias e comunidades seja uma casa onde se experimente a comunhão viva (cf. Novo millennio ineunte, 43).

Nas sendas da missão, é necessário caminharmos unidos, sustentados por comunidades em que o amor fraterno seja vivido como princípio educativo para cada baptizado, exercício de acolhimento, escuta e perdão recíprocos, tendo em vista em primeiro lugar os membros mais frágeis na fé, os pequeninos e os pobres, em que o Senhor Jesus se encontra particularmente presente.

4. A celebração da Assembleia diocesana constitui um momento de graça, para consolidar a união com Cristo e a comunhão eclesial: assim, orientados pelo Espírito Santo, podereis discernir as formas mais idóneas para a missão permanente na nossa Cidade, assim como para responder às expectativas da Igreja universal em relação à qual a Igreja de Roma tem, por disposição divina, uma solicitude especial.

Peço-vos de modo particular a vós, caríssimos sacerdotes, que orienteis e encorajeis a todos a "fazer-se ao largo", para levar o anúncio do Evangelho às casas, aos ambientes, aos bairros e a toda a Cidade. Vós sois chamados a formar os missionários, a infundir-lhes a coragem apostólica, a dar o exemplo de uma vida vivida pelo Evangelho, com o anseio do Bom Pastor: "Ainda tenho outras ovelhas, que não são deste aprisco, e também tenho de as conduzir..." (Jn 10,16).

Às famílias cristãs, peço que abram a sua casa para receber outros irmãos e irmãs nos centros de escuta do Evangelho e, mais amplamente, que tenham a peito as situações de dificuldade moral, espiritual ou material em que vivem muitas outras famílias, oferecendo-lhes um testemunho concreto de amizade, escuta e partilha.

A vós, religiosos, religiosas e leigos, que vos prodigalizastes nas várias iniciativas na Missão da Cidade, peço que mantenhais vivo em vós e na vossa comunidade o impulso para "partir", a fim de testemunhar e anunciar o Evangelho no grande "mar aberto" do mundo do trabalho, da cultura e da sociedade.

Em particular, renovo aos jovens o convite que lhes dirigi em Tor Vergata, a fim de que sejam "as sentinelas da manhã" deste terceiro milénio, que há pouco teve início. Caros jovens, não recueis nem sequer diante das convites mais comprometedores que o Senhor vos dirigir, não tenhais medo de propor com alegria e simplicidade o anúncio do Evangelho aos vossos coetâneos, nos ambientes da escola e da Universidade, do trabalho e do tempo livre, assim como em qualquer outro lugar em que vos encontrardes.

5. Caríssimos, à espera dos resultados da vossa Assembleia, asseguro-vos a minha oração a fim de que o Espírito Santo oriente os vossos trabalhos para um novo período de graça da Igreja de Roma e da sua pastoral missionária. Peço uma especial oração a todas as religiosas de clausura, que assim poderão oferecer uma contribuição mais preciosa em ordem a esta grande finalidade.

Estou grato ao Cardeal Vigário, ao Vice-Gerente, aos Bispos Auxiliares e a cada um de vós que participais nesta Assembleia e sois as forças vivas e generosas com que a nossa Diocese pode contar, por levar a todos os habitantes desta Cidade o anúncio do Senhor ressuscitao, e o testemunho do seu amor e da sua paz.

Maria Santíssima, Salus Populi Romani, os Apóstolos Pedro e Paulo e todos os Santos e Santas da Igreja de Roma assistam com a sua intercessão os trabalhos da Assembleia, a fim de que ela dê abundantes frutos de graça.

Com estes bons votos e em penhor do meu afecto, concedo-vos de coração a vós e a toda a Diocese, a minha Bênção apostólica.



Vaticano, 7 de Junho de 2001.




AOS PARTICIPANTES NA PEREGRINAÇÃO


DO PATRIARCADO DE ANTIOQUIA DOS SÍRIOS A ROMA


8 de Junho de 2001




Beatitude
Caros Irmãos no Episcopado
Queridos Filhos e queridas Filhas
da Igreja sírio-católica

1. É com grande alegria que, pela primeira vez, acolho Vossa Beatitude depois da sua eleição para a sede patriarcal de Antioquia dos Sírios. A sua presença reaviva no meu coração a lembrança da minha recente peregrinação ao seu País seguindo os passos de São Paulo, no decurso da qual o clero e os fiéis da sua Igreja me acolheram calorosamente e manifestaram o seu dinamismo espiritual e apostólico. Peço-lhe a si, que está hoje aqui, que transmita as minhas calorosas saudações a todos os seus irmãos e irmãs.

Estou alegre por o encontrar aqui, rodeado pelos Bispos do seu Patriarcado, por sacerdotes e fiéis, que saúdo cordialmente, para partilhar este grande momento de comunhão fraterna, através do qual se exprime o vínculo que une a Igreja sírio-católica a toda a Igreja católica. Vivemos esta comunhão apenas na celebração da Divina Liturgia onde partilhámos o mesmo Corpo de Cristo. Através dela se expressou em plenitude a comunhão eclesial entre o Sucessor de Pedro e Vossa Beatitude, Pai e Chefe da Igreja sírio-católica de Antioquia, sede apostólica e cidade que pode estar orgulhosa da sua tradição eclesiástica particular. A sua comunidae patriarcal, cheia de amor e sólida na fé, é portadora de uma rica tradição espiritual, litúrgica e teológica, a tradição antioquena, que continua a alimentar as Igrejas do Oriente.

2. Sois chamados, com a vossa presença sobretudo nos diversos Países do Médio Oriente, a ser como o fermento que, mesmo discretamente, tem todavia o papel fundamental de fazer fermentar toda a massa. A vossa missão é de importância fundamental para os fiéis e para todos os homens, aos quais o amor de Cristo nos leva a anunciar a Boa Nova da salvação. Presto homenagem, em particular, à solicitude dos cristãos pela educação humana, espiritual, moral e intelectual da juventude através de uma rede escolar e catequética qualificada. Desejo vivamente que se torne cada vez mais reconhecido da sociedade o papel da Igreja na formação da juventude, a fim de que sejam transmitidos às jovens gerações, sem discriminações, os valores fundamentais e os elementos que farão dos jovens de hoje os responsáveis de amanhã nas suas famílias e na vida social, por uma solidariedade cada vez maior e uma fraternidade cada vez mais intensa entre todos os membros da nação. Transmiti aos jovens todo o meu afecto, recordando-lhes que a Igreja e a sociedade têm necessidade do seu entusiasmo e da sua esperança.

Herdeiros de uma história de fé alimentada pelo pensamento teológico de grandes escolas como a de Edessa ou de Nísibis, e através dos ensinamentos de ilustres Santos Padres como Efrém, "Harpa do Espírito Santo" e Doutor da Igreja, Tiago de Sêrug, Narsaj e tantos outros, deveis seguir incessantemente os seus passos, desenvolvendo a riqueza teológica e espiritual própria da vossa tradição e que reforçará as vossas comunidades eclesiais e favorecerá os contactos com os vossos irmãos ortodoxos. Nesta perspectiva, convido-vos pois a intensificar a formação dos sacerdotes, a fim de que sejam testemunhas do Verbo de Deus mediante o seu ensino e a sua vida, e possam acompanhar o povo de Deus, ajudando os fiéis a fundar a sua vida e a sua missão sobre uma relação cada vez mais profunda com Cristo. É assim que a Igreja será plenamente missionária, onde quer que se encontre e até aos confins da terra.

3. Aproveito a ocasião para recordar, Beatitude, os seus predecessores directos, em primeiro lugar o meu querido Irmão Mar Inácio António II Hayek, que, com uma devoção e um fervor exemplares, dedicou toda a sua vida ao serviço de Deus e da comunidade que lhe tinha sido confiada. Com grande sabedoria e paternal bondade, guiou a Igreja sírio-católica durante trinta anos. Ficar-lhe-ei grato se lhe transmitir os meus cordiais e fervorosos votos a fim de que permaneça sereno nesta fase da sua existência. Saúdo também o Cardeal Mar Inácio Moussa I Daoud, ao qual confiei na Cúria romana a pesada tarefa de orientar a Congregação para as Igrejas Orientais. Agradeço-lhe por haver aceitado, com desinteresse e profundo zelo eclesial, manifestando assim o seu amor pela Igreja. Ele torna presente junto do Sucessor de Pedro e na Cúria romana aquele tesouro precioso que representam as Igrejas do Oriente.

4. Beatitude, para vós os meus votos fraternos a fim de que seja fecundo o exercício do seu cargo no seio da Igreja sírio-católica. Enquanto trocamos entre nós o ósculo da paz, confiamos sua Beatitude à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, "digna filha de Deus e beleza da natureza humana" (São João Damasceno, Homilia sobre o nascimento de Maria, n. 7) e dos santos da sua Igreja, concedo-lhe de todo o coração a Bênção Apostólica, que estendo aos Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e a todos os fiéis do seu Patriarcado.




AOS MEMBROS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DO CONGO EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


: Sábado, 9 de Junho de 2001





Dilectos Irmãos no Episcopado

1. É com alegria que vos recebo no momento em que realizais a vossa visita ad Limina. Os vossos encontros com o Sucessor de Pedro e com os seus colaboradores constituem uma ocasião para manifestar a vossa comunhão e a das Dioceses do Congo com a Igreja universal. Formulo votos para que encontreis aqui os encorajamentos e o conforto necessários para levar a cabo o ministério episcopal no vosso País.

Agradeço ao Presidente da vossa Conferência Episcopal, Sua Ex.cia D. Anatole Milandou, Arcebispo de Brazzaville, a apresentação que me fez em vosso nome dos grandes problemas que a Igreja e o povo congoleses devem enfrentar nos dias de hoje.

Quando voltardes para as vossas Dioceses, levai aos sacerdotes, religiosos, religiosas, catequistas e a todos os fiéis leigos a afectuosa saudação do Papa, que está próximo de cada um deles através do pensamento e da oração. Transmiti a todos os vossos compatriotas os meus bons votos de um futuro de paz e de reconciliação, a fim de que todos possam viver na segurança e na fraternidade reencontradas.

A admirável atitude da Igreja no momento da prova conjunta

2. Depois de terdes vivido um período trágico, que provocou numerosas vítimas e levou um elevado número dos vossos compatriotas a conhecer o exílio, causando consideráveis destruições materiais, o vosso País empreende agora esforços importantes para permitir a todos os Congoleses levar uma vida na segurança e alcançar definitivamente a concórdia nacional. Durante este período de provações, fizestes ouvir a vossa voz para apelar à paz e à reconciliação. Ainda recentemente, dirigistes aos vossos fiéis e a todos os homens de boa vontade uma vigorosa mensagem sobre o diálogo, a verdade e a justiça, como caminho para a paz. Agradeço-vos o vosso compromisso e o empenhamento das vossas comunidades ao lado do povo na aflição e na desordem. Durante estes acontecimentos, a atitude da Igreja e dos seus trabalhadores apostólicos em ordem a ajudar as populações na prova conjunta foi deveras admirável. Todavia, não se pode deixar de lamentar o número, demasiado elevado, de sacerdotes, religiosos e religiosas que abandonaram o País neste período de agitações. Faço votos cordiais a fim de que eles possam retomar rapidamente o seu lugar nas vossas Dioceses e aceitar com coragem uma missão pastoral junto dos seus compatriotas.

Actualmente, numa etapa da vida do vosso País que é decisiva para o seu futuro, encorajo-vos a ter cada vez mais audácia para abrir novos caminhos de reconciliação entre todos os filhos da Nação e a exortar os católicos e todos os homens de boa vontade a ser, hoje mais do que nunca, incansáveis artífices da paz.

Continuai com ardor o anúncio do Evangelho que nos foi deixado pelo Senhor. Convidai sem cessar os fiéis das vossas Dioceses a voltar para Cristo, ensinando-os a fixar o olhar no Seu rosto, que manifesta o amor do Pai por todos os homens! A trágica experiência vivida pelo povo congolês deve impelir os católicos a olhar em frente com decisão e a empreender iniciativas apostólicas corajosas, firmemente enraizadas na contemplação e na oração.

A Conferência Episcopal como lugar de confronto fraterno

3. Para manifestar a profunda comunhão que vos une nesta tarefa apostólica, é indispensável que se desenvolva cada vez mais entre os pastores uma coesão autêntica, nomeadamente dando a devida importância à Conferência Episcopal, lugar de confronto fraterno de ideias e de colaboração, em ordem ao bem comum das vossas Igrejas particulares. Se estiverdes cada vez mais próximos dos vossos sacerdotes e dos vossos fiéis, mediante uma presença activa nas vossas Dioceses, sereis capazes de reconstruir as comunidades deslocadas pela guerra, de aliviar os seus corações feridos e de ajudar todas as pessoas que vos são confiadas a progredir pelos caminhos do Evangelho.

O Concílio Vaticano II sublinhou com vigor: "Como santificadores, procurem os Bispos promover a santidade dos seus clérigos, dos religiosos e dos leigos, segundo a vocação de cada um, lembrando-se da obrigação que têm, de exemplo de santidade, pela caridade, humildade e simplicidade de vida" (Decreto Christus Dominus, CD 15). Efectivamente, o múnus de santificação que é confiado aos Bispos tem uma importância essencial para a vida da Igreja e de todos os seus membros. Neste campo, convido-vos a prestar atenção especial aos vossos sacerdotes que, juntamente convosco, cooperam na missão de fazer progredir o povo de Deus na santidade. Sede atentos às dificuldades que eles encontram na sua existência quotidiana, humana e espiritual! O seu exemplo de vida espiritual e moral deve ser para todos um sinal claro do Evangelho e das suas exigências. Levai-lhes o conforto e o apoio da vossa amizade, sobretudo nos períodos mais difíceis do seu ministério. Aquele que erra encontre em vós um pai que enfrenta as dificuldades com caridade, mas que sabe também ser rigoroso no nomento oportuno!

Hoje o Congo tem necessidade de uma vigorosa pastoral familiar

4. Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, que dirigi a toda a Igreja no encerramento do Grande Jubileu do Ano 2000, expressei o desejo de que todas as comunidades católicas voltem a encontrar o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora, para anunciar o Evangelho de Cristo e o seu testemunho em toda a sua existência. Com efeito, é urgente dar à evangelização um sopro novo. No período particular por que o vosso País está a passar, é necessária uma vigorosa pastoral familiar, a fim de que "as famílias cristãs ofereçam um exemplo persuasivo da possibilidade de um matrimónio vivido de forma plenamente congruente com o desígnio de Deus e com as verdadeiras exigências da pessoa humana a pessoa dos esposos e sobretudo a pessoa mais frágil dos filhos" (Novo millennio ineunte, 47). As violências e a dispersão das famílias nos últimos anos tiveram graves consequências para a unidade da célula familiar e o respeito da dignidade humana.

Assim, é necessário que os cristãos sejam cada vez mais conscientes da responsabilidade que lhes incumbe para preservar e desenvolver os valores essenciais da família e do matrimónio cristão. Deve prestar-se atenção especial à formação das consciências, a fim de que toda a sociedade respeite, defenda e promova a dignidade de cada pessoa humana, em todos os momentos e em cada um dos estádios da sua vida (cf. Encíclica Evangelium vitae, EV 81). Com efeito, hoje mais do que nunca, os católicos devem testemunhar com decisão que toda a vida humana possui um carácter sagrado e inviolável desde a sua própria origem. Para impelir a esta tomada de consciência, é essencial que se leve a cabo uma vasta acção educativa e se tomem iniciativas concretas, especialmente junto das jovens gerações, a fim de que todos possam compreender e aceitar as exigências evangélicas que se referem ao respeito pela vida humana e a sua dignidade. Elas serão para todos uma orientação e um instrumento precioso para a plena realização da sua existência.

Os pastores devem desenvolver uma especial pastoral dos jovens

5. As dificuldades que os jovens enfrentam, devidas de maneira especial às condições de grande pobreza ou às consequências das violências, que com frequência ainda os marcam profundamente, devem levar os pastores a desenvolver uma pastoral dos jovens, adequada às suas situações e aos problemas que eles devem enfrentar. Faço votos para que a Igreja os ajude a vencer toda a tentação à violência, a fim de que o seu profundo desejo de transformar a vida se torne um compromisso autêntico em ordem à edificação de uma sociedade nova, sem oposições nem discriminações, um empenhamento fundado na fraternidade e na solidariedade. Oxalá eles mostrem com coragem que todos os homens são irmãos, porque têm um único Pai que os ama apaixonadamente! Aos jovens do Congo dizei que, com o coração e a oração, o Papa está próximo deles, das suas solicitudes quotidianas, e que os convida a jamais desesperar da vida!

Mediante o seu compromisso nas escolas e de maneira geral no campo da educação, a Igreja oferece uma contribuição importante para a formação humana, moral e espiritual dos jovens. Para cooperar com eficácia cada vez maior na busca do bem comum do conjunto da sociedade e na redução das rupturas que ainda a dividem com demasiada frequência, é necessário educar a juventude para o respeito mútuo entre as pessoas, entre os grupos humanos e entre as comunidades religiosas, e favorecer o espírito de entreajuda e de diálogo. Formulo votos para que, mediante o seu testemunho ardente da vida cristã, os educadores transmitam aos jovens convicções muito fortes que os ajudem a suportar com coragem as provações e a ocupar o lugar que lhes compete na vida da Nação e da Igreja.

O apego dos sacerdotes a Cristo manifesta-se também no celibato

6. Através de vós, estimados Irmãos no Episcopado, gostaria de transmitir aos vossos sacerdotes toda a minha estima e os meus encorajamentos muito cordiais para o seu compromisso presbiteral, em condições não raro demasiado difíceis. Convido-os a desenvolver neles um espírito apostólico que os leve a responder com generosidade às solicitações da missão, de maneira particular nos lugares mais humildes, que impõem o desapego de si mesmos e uma fidelidade quotidiana ao Senhor que os chama para o seu seguimento. Faço votos cordiais para que todos, sem esquecer aqueles que vivem fora do País, tenham presente no coração as imensas necessidades pastorais dos seus irmãos e irmãs que, nas suas Dioceses, esperam o anúncio do Evangelho e a distribuição dos Sacramentos da Igreja.

O apego generoso e incondicional dos sacerdotes à Pessoa de Cristo manifesta-se de maneira notável no celibato, que eles aceitaram livremente. No respeito da obrigação canónica, oxalá eles o vivam de maneira alegre e transparente, transformando-se em testemunhas proféticas do amor ilimitado que os une a Cristo! Uma vida intensa, acompanhada de uma rigorosa formação permanente, permitir-lhes-á responder com serenidade e sem hesitações a esta exigência evangélica que a Igreja lhes apresenta.

Queridos Irmãos no Episcopado, conheceis a importância da formação dos futuros sacerdotes para o porvir da Igreja. Encorajo-vos a reservar aos vossos seminários um lugar especial nas prioridades pastorais, a fim de que os jovens possam discernir com serenidade a sua vocação e receber no seu País uma sólida formação humana, espiritual, moral, intelectual e pastoral. A eficácia da formação depende em boa parte da qualidade dos grupos de formadores, estimados pela sua competência e a exemplaridade da sua vida presbiteral. Eis por que motivo vos convido a fazer os sacrifícios necessários, para escolher com cuidado os sacerdotes mais adequados para esta tarefa.

As pessoas consagradas e a promoção do amor fraterno

7. Estou reconhecido às Congregações e aos Institutos de vida consagrada pelos seus compromissos constantes e corajosos em prol do serviço da Igreja que está no Congo, de maneira especial mediante o trabalho abnegado dos seus membros em favor da educação, da formação, da saúde ou de outros serviços sociais. Encorajo os responsáveis religiosos a dar um renovado impulso às suas estruturas de concertação diocesanas e nacionais. Com efeito, é importante que, em estreita relação com os Bispos e no respeito dos carismas que lhes são próprios, todos possam colaborar fraternalmente na única missão da Igreja e oferecer assim a sua contribuição para a comunhão eclesial.

Numa sociedade que conheceu muitas divisões e incompreensões, as pessoas consagradas têm a vocação especial de anunciar "pelo testemunho da sua vida, o valor da fraternidade cristã e a força transformadora da Boa Nova, que faz reconhecer a todos como filhos de Deus e leva ao amor oblativo para com todos, especialmente para com os últimos" (Exortação Apostólica Vita consecrata, VC 51). Oxalá todas as comunidades de consagrados, animados por um ardente espírito de oração e de abertura a todos, sejam verdadeiramente lugares de acolhimento, de comunhão e de esperança!

O papel dos Organismos da Igreja em favor dos "últimos"

8. Conheço a presença activa da Igreja, de forma particular através dos seus Organismos caritativos nacionais e internacionais, junto das pessoas atingidas por graves enfermidades, como por exemplo a sida, junto dos refugiados provenientes dos países vizinhos e, de maneira mais geral, junto das pessoas que sofrem devido às consequências da pobreza. Agradeço e encorajo vivamente todos os homens e mulheres que, com grandes generosidade e abnegação, se colocam ao serviço dos seus irmãos e irmãs. Assim, em nome da Igreja, eles são testemunhas da caridade de Cristo no meio dos membros mais desfavorecidos e frágeis da sociedade.

A todos os fiéis das vossas Dioceses e a cada um dos Congoleses em geral, gostaria de dirigir uma singular mensagem de paz e de esperança. Para ultrapassar as consequências dos conflitos, das violências e dos ódios, e alcançar assim a verdadeira reconciliação, o único caminho a percorrer em conjunto é o da fraternidade e da solidariedade. Todos os homens e mulheres sejam capazes de viver na unidade a rica diversidade das suas origens, culturas, línguas, tradições e mentalidades. Nunca mais os irmãos se lancem contra os irmãos! Com plena confiança, caminhai em frente com esperança! Deus é fiel e jamais abandona os seus filhos.

A Rainha da África vos oriente na obra de evangelização

9. Caríssimos Irmãos no Episcopado, no final do nosso encontro confio-vos, a cada um de vós, à protecção maternal da Virgem Maria, Rainha da África. Ela vos acompanhe na obra de evangelização e vos oriente no vosso caminho rumo ao seu Filho divino. Encorajo-vos sinceramente a caminhar em frente sem temor, com um impulso missionário renovado para que, fortalecidos pela graça de Cristo e orientados para a meta que Ele nos indica, saibais indicar um futuro de esperança e de paz para o povo que vos é confiado. A cada um de vós e a todos os vossos diocesanos, concedo do íntimo do coração uma afectuosa Bênção apostólica.





Discursos João Paulo II 2001 - Terça-feira, 5 de Junho de 2001