Discursos João Paulo II 2001 - 5 de Julho de 2001

À CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS FRANCISCANAS


DA TERCEIRA ORDEM REGULAR DE S. FRANCISCO


6 de Julho de 2001

: Caríssimas Irmãs!

1. Sinto-me feliz por dirigir as minhas cordiais boas-vindas a cada uma de vós, que viestes a Roma para o XVIII Capítulo Geral da Congregação das Irmãs Franciscanas Professoras da Terceira Ordem Regular de São Francisco. Dirijo um pensamento particular à Irmã Maria Luceta Macik, Superiora-Geral, e ao Conselho Geral.

Com esta visita ao Sucessor de Pedro, por vós tão desejada, quisestes testemunhar a vossa fidelidade ao Vigário de Cristo e a vossa intenção de enfrentar com renovado entusiasmo os desafios apostólicos de hoje. Este empenho corresponde a uma dimensão importante do vosso carisma, que desde há alguns anos vos levou a assumir uma maior conotação missionária. A fim de levar a boa nova do Evangelho, fostes até às longínquas regiões da África, das Américas e da Ásia, e também ao Casaquistão e ao Quirguistão. Aproveito esta ocasião para manifestar o meu sincero regozijo pela generosidade com que participais na missão da Igreja ao serviço dos pobres e encorajo-vos a prosseguir a obra iniciada, seguindo a tradição franciscana de viver o Evangelho "sine glossa".

Foi com este espírito que a Madre Francisca Antónia Lampel iniciou a vossa Família religiosa em Graz, na Áustria, em 1843, e nesta linha continua a Madre Maria Jacinta Zahalka, com uma nova fundação na Boémia. Elas enriqueceram com um novo ramo a grande árvore plantada pelo "Poverello" de Assis com esta vossa Congregação completamente centrada em Cristo, ouvido no Evangelho, celebrado e adorado na Eucaristia e servido nos últimos. Inspirando-se na essencialidade típica do franciscanismo, a vossa Regra gira à volta de quatro pontos fundamentais, representados pela penitência, oração contemplativa, pobreza e minoria. Ela especifica-se, de igual modo, através da atenção aos grandes valores da simplicidade e da fraternidade, que faz com que estejais sempre prontas para ir ao encontro de todas as formas de pobreza e para construir a paz em qualquer contexto social. Particularmente iluminador acerca do vosso estilo missionário é uma frase da vossa Fundadora: "Eu estou aqui com Deus para vós". Oportunamente vós a recordais muitas vezes, para que vos estimule a uma existência totalmente dedicada ao serviço do Senhor e do próximo.

2. Sem dúvida, hoje o vosso carisma específico, constituído pela missão educadora, exige criatividade e generosidade para atingir as pessoas onde quer que se encontrem e promover o seu progresso integral, educando-as cristãmente.

A graça do Grande Jubileu, com que o Senhor quis preparar a Igreja para enfrentar os desafios do novo milénio numa inédita estação de evangelização, leva-vos também a vós a fazer escolhas corajosas, que devem ser realizadas com a sabedoria do escriba evangélico, que do seu tesouro tira coisas novas e velhas (cf. Mt Mt 13,52).

Estas escolhas exigem, em primeiro lugar, uma profunda adesão a Cristo, conscientes de que, como escrevo na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, "não será uma fórmula a salvar-nos, mas uma Pessoa, e a certeza que Ela nos infunde: Eu estarei sempre convosco!" (n. 29). Cristo, "que temos de conhecer, amar, imitar, para n'Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar a história até à sua plenitude na Jerusalém celeste" (ibid.), deve ser o centro de qualquer programa, de todas as estratégias pastorais e de cada "actualização" da vida religiosa. Só com Ele é possível "fazer-se ao largo" rumo a novos horizontes da história e prosseguir com esperança, para enfrentar as problemáticas e as dificuldades por vezes aparentemente insuperáveis.

Só mantendo o olhar fixo em Cristo, podereis hoje também descobrir a vossa identidade espiritual. De facto, é este o tema de aprofundamento do vosso Capítulo Geral, que faço votos por que dê os desejados frutos religiosos e pastorais.

3. Ao confrontar-vos com as numerosas expectativas e propostas que marcam a vossa actividade quotidiana, tende sempre presente que qualquer escolha e programa corre o risco de não ter bom êxito, se não surge do contexto de uma busca individual e comunitária da santidade. O desejo da santidade, "medida alta da vida cristã ordinária" (ibid., 31), ajudar-vos-á a concretizar em gestos coerentes o vosso empenho pela inculturação do Evangelho, bem como a levar a paz aos diversos e complexos cenários nos quais estais empenhadas, muitas vezes dominados por lógicas de violência e de morte.

Para que, fiéis ao vosso carisma franciscano, possais testemunhar o grande mandamento do Amor, vivendo-o com alegria e perseverante paciência, é preciso que as vossas comunidades e obras sejam autênticas casas e escolas de fraternidade, onde a espiritualidade da comunhão se evidencie como estilo de vida e princípio educativo fundamental. Para esta finalidade, valorizai o contributo de todas as Irmãs, mesmo das idosas, portadoras de um notável património de experiência e de maturidade.

Do vosso testemunho e da vossa oração brotará, disto tenho a certeza, o desejado florescimento de vocações, que dará uma nova linfa e frutos abundantes à árvore antiga e fecunda do vosso Instituto. Não vos esqueçais sobretudo de que a contemplação e a escuta da Palavra de Deus constituem a força interior de cada actividade apostólica e o coração palpitante de uma vida religiosa fervorosa e equilibrada.

No vosso empenho quotidiano espiritual e missionário vos acompanhe, como mestra de fé e de esperança, a Virgem Maria. A ela confio a vossa missão educativa, o vosso desejo de servir os irmãos, bem como os trabalhos e os generosos propósitos do Capítulo Geral que estais a celebrar.
Por intercessão de São Francisco e de Santa Clara de Assis, invoco do Senhor sobre a Congregação celestes dons de paz e bem, enquanto de coração vos concedo a vós, às vossas irmãs e a todos os que recebem os vossos cuidados pastorais uma especial Bênção apostólica.




ÀS PARTICIPANTES NO XIV CAPÍTULO GERAL DAS


IRMÃS ADORADORAS DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO


Sexta-feira 6 de Julho de 2001





Caríssimas Irmãs

1. A providente circunstância do XIV Capítulo Geral do vosso Instituto oferece-me a grata oportunidade de vos apresentar a minha cordial saudação, e de fazer chegar a todas as vossas Irmãs um pensamento de grato apreço pelo testemunho evangélico que dais com a vossa actividade.

Em primeiro lugar, saúdo a Reverenda Irmã Camilla Zani, Superiora-Geral, e o Conselho Geral, que a coadjuvou no governo da Família religiosa no último período. Além disso, desejo enviar um afectuoso pensamento também a quantos, nos vários campos do apostolado nos quais a Congregação está empenhada, beneficiam do generoso testemunho das Irmãs Adoradoras do Santíssimo Sacramento. De facto, vós estais presentes em várias partes do mundo, onde, animadas pelo ardor da caridade, vos pondes ao serviço do Corpo de Cristo, sobretudo nos seus membros mais sofredores e necessitados.

O ministério da misericórdia em relação aos filhos de Deus atingidos pelas "antigas" e "novas" pobrezas é um dos elementos qualificadores da presença da Igreja no terceiro milénio. Com efeito, "segundo as palavras inequívocas do Evangelho que acabámos de referir, há na pessoa dos pobres uma especial presença de Cristo, obrigando a Igreja a uma opção preferencial por eles" (Novo millennio ineunte, 49). Neste espírito, assume uma importância significativa a vossa decisão de orientar as reflexões da assembleia capitular sobre a partilha do pão, da palavra e da missão, segundo o exemplo de Cristo que, ao ver a multidão faminta que o seguia, teve compaixão dela (cf Mc 8,1-9).

2. Todavia, como pode o discípulo do Senhor permanecer fiel a esta vocação, se não cultiva um permanente e quotidiano diálogo de amor com Ele na escuta da Palavra de Deus, na oração e na contemplação?

O carisma específico que distingue a vossa presença na Igreja, de acordo com as orientações que vos foram deixadas pelo vosso Fundador, é adorar "com o amor mais fervoroso o Santíssimo Sacramento" e haurir "nele a chama da caridade para com o próximo". Não se trata apenas de um vestígio espiritual, mas de um claro programa de vida. Na Eucaristia, o cristão chega à intimidade espiritual mais completa com o Senhor da vida e, por Ele amparado, eleva-se à contemplação do amor no própio mistério da Santíssima Trindade.

Que saciedade da alma (cf. Lc Lc 9,17) se sente nas intensas horas passadas em adoração diante do Senhor da história! Com esta consciência eucarística, o Beato Spinelli vos recomendava: "Caminhai na caridade; acenda-se finalmente o fogo de caridade nas vossas almas, amai o vosso Deus e não ponhais nada, absolutamente nada, ao seu nível ou acima d'Ele" (Circ. 32).

3. Desejo de coração que as vossas comunidades saibam recordar quotidianamente, diante da Eucaristia, esta herança que o vosso Fundador vos deixou. Desta forma, robustecidas pelo poder do Pão da vida, sabei manter viva a chama da caridade no interior de cada uma das vossas Casas.
Seja a vossa vida, como a do vosso Pai, constantemente marcada pelo amor a Cristo eucarístico, pelo serviço ao pobre, ícone de Cristo, e pela prática de um perdão sempre generoso, instrumento de mais intensa união comunitária. A Eucaristia, memorial perfeito do sacrifício de Cristo, seja o paradigma das vossas existências pessoais.

4. O Fundador, como bem sabeis, teve também como ponto de referência espiritual o binómio "berço" e "cruz". Inspirou-se constantemente no mistério de Belém e do Gólgota, sobretudo nos momentos atormentados da sua existência, a ponto de vos ensinar que "o presépio e o calvário são a primeira e a última nota, a primeira e a última página daquele poema imenso, divino e inefável de amor e de sacrifício, que é toda a vida de Jesus Cristo" (Circ. 29).

Fazei assim também vós e comunicai a todos os que encontrardes este mesmo ideal de santidade. A respeito disto, como não apreciar as oportunidades de encontro e de diálogo que vos são oferecidas pela cooperação com os fiéis leigos? Na Exortação apostólica Vita consecrata eu escrevi que "hoje alguns Institutos, frequentemente por imposição das novas situações, chegaram à conclusão de que o seu carisma pode ser partilhado pelos leigos" (n. 54), sobretudo perante os desafios da modernidade. E concluía dizendo que "estes novos percursos de comunhão e colaboração merecem ser encorajados" (n. 55), mantendo contudo a prudência e a consciência da distinção das vocações e das tarefas na Igreja.

5. Caríssimas Irmãs! Senti-vos felizes por ter escolhido como finalidade da vossa vida permanecer em íntima união com o Redentor. A energia que recebeis dos momentos prolongados em contemplação diante da Eucaristia transforme as vossas existências em oblação quotidiana a Cristo.

À imagem de Maria, sabei meditar no vosso coração o mistério do Filho (cf. Lc Lc 2,51) e dar testemunho d'Ele a todos os que a Providência puser no vosso caminho. O exemplo e a intercessão do Beato Francisco Spinelli vos estimulem a unir o vosso sacrifício ao de Jesus, para que o mundo "tenha vida, e a tenha em abundância" (Jn 10,10).

Acompanha-vos neste vosso esforço contínuo a Bênção, que de todo o coração vos concedo a vós aqui presentes, às vossas Irmãs e a todos aqueles a quem se destinam os vossos cuidados apostólicos.




ÀS PARTICIPANTES NO


XXI CAPÍTULO GERAL DAS


IRMÃS DA SAGRADA FAMÍLIA DE NAZARÉ


Sexta-feira 6 de Julho de 2001




Queridas Irmãs
da Sagrada Família de Nazaré

1. Saúdo-vos cordialmente por ocasião deste encontro, que se realiza durante o XXI Capítulo Geral da vossa Congregação. Dirijo uma saudação especial à Madre-Geral, Ir. Maria Teresa Jasionowicz.

Representais as vossas oito Províncias religiosas, que estão presentes em quinze países diferentes, onde desempenhais a vossa actividade apostólica. Viestes a Roma, à Casa Geral e aos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, para reflectir com sentido de responsabilidade sobre a actual situação da Congregação e para preparar o seu futuro. Nesta perspectiva, desejais actualizar as vossas Constituições e proceder à eleição do novo Governo Geral.

2. Na "Mensagem às pessoas consagradas", que desejei dirigir às comunidades religiosas no Santuário de Czestochowa, no dia 4 de Junho de 1997, recordei que "vivemos em tempos de caos, de desorientação e de confusão espirituais, nos quais se percebem várias tendencias liberais e laicistas; muitas vezes se afasta abertamente Deus da vida social... e, na conduta moral dos homens, infiltra-se um pernicioso relativismo. Difunde-se a indiferença religiosa. A nova evangelização é uma premente necessidade do momento... A Igreja espera de vós que vos dediqueis, com todas as forças... opondo-vosà maior tentação dos nossos tempos, a de rejeitar o Deus do Amor" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 14 de Junho de 1997, pág. 12, n. 3).

O mundo de hoje traz consigo numerosas ameaças. Experimentam-nas homens e mulheres, casais, jovens, crianças... Todavia, parece que a família é a mais ameaçada! Não nos devemos desencorajar! Quanto mais numerosos são os perigos, tanto maior é a necessidade de fé, de esperança, de caridade, de oração e de testemunho de vida crista. A vossa Congregação quer oferecer uma resposta evangélica às inquietações do homem contemporâneo. Apraz-me saber que, durante os trabalhos do vosso Capítulo, desejais rever o vosso carisma religioso, na perspectiva da nova evangelização.

3. A vossa Fundadora, a Beata Francisca Siedliska, Maria de Jesus Bom Pastor, que me foi concedido beatificar no dia 23 de Abril de 1989, indicou para a vossa Comunidade, como modelo de vida, o exemplo da Sagrada Família de Nazaré: justamente, convidou-vos a seguir os passos de Jesus, de Maria e de José. Ela gostava de qualificar a encarnação do Filho de Deus e a vida escondida de Jesus no mistério da Sagrada Família, como o Reino do Amor divino.

Formando uma comunidade religiosa de amor, ajudai as famílias a opor-se "à maior tentação dos nossos tempos", a rejeição do Deus do Amor. Ajudai as famílias a abrir-se para Cristo! Isto tornar-se-á possível na medida em que a vossa vida de oração e o vosso testemunho forem filtrados de modo especial pela solicitude em relação à família. Possam as famílias, graças ao vosso serviço, voltar a encontrar na Família de Nazaré o paradigma da sua vida e do seu comportamento. Sirva-vos de consolação o exemplo das vossas Beatas irmãs de comunidade, as 11 Mártires de Nowogródek, que durante a segunda guerra mundial ofereceram a sua vida pela libertação do cárcere de alguns pais de família, habitantes daquela localidade. Expresso a minha alegria por ter podido elevá-las à glória dos altares durante as celebrações do Grande Jubileu do Ano 2000, no dia 5 de Março. O testemunho da vossa vida e a fidelidade ao carisma sustentem a obra de evangelização e a edificaçao do Reino do Amor de Deus no seio das famílias.

4. O tema do vosso Capítulo Geral é: A lei do Amor como vocaçao a um dom total de si a Deus. Desde há muitos anos procurais corresponder a esta vocação através do vosso apostolado, no qual vos esforçais por cooperar com Cristo e a sua Igreja. Dai testemunho da lei do amor nas vossas comunidades, e especialmente no serviço às famílias que necessitam de ajuda espiritual e material, nos consultórios e na pastoral familiar, no serviço zeloso no meio dos enfermos e dos portadores de deficiência, no trabalho paroquial, nas escolas, nos centros de educação, nas casas para as mães solteiras, no meio dos indigentes e dos desabrigados, entre as crianças e as pessoas perdidas e marginalizadas.

Aproveito a ocasião do vosso Capítulo para vos expressar o meu profundo apreço por este apostolado do amor, que é o mais eficaz anúncio de Cristo no mundo dos nossos dias e a realização concreta do vosso carisma religioso. Confio-vos a vós, queridas Irmãs aqui reunidas, esta Mensagem para que a transmitais a toda a comunidade das Religiosas. Peço ao Senhor que as responsáveis da Congregação, eleitas durante o Capítulo, enfrentem os novos desafios no espírito das suas directrizes, de maneira que o vosso carisma o Reino do Amor de Deus brilhe com um esplendor ainda maior nas vossas comunidades, na Igreja e no mundo inteiro. Que ele seja o reflexo claro daquele "Amor que nos chegou do Alto" (cf. Jo Jn 1,8)!

5. Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, dirigi a todos os fiéis esta exortação: Duc in altum faz-te ao largo! Hoje, com estas mesmas palavras, convido toda a vossa comunidade "a recordar com prazer o passado, a viver com paixao o presente e a abrir-se para o futuro com confiança: "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre!"" (cf. n. 1). No espírito desta exortação, rezo a Deus a fim de que a graça da vossa vocação religiosa de abundantes frutos espirituais.

É do íntimo do coração que concedo a Benção apostólicaà Superiora-Geral, às participantes no Capítulo e a toda a comunidade das Religiosas da Sagrada Família de Nazaré.



MENSAGEM AOS PARTICIPANTES NO


VIII CURSO DE ASTROFÍSICA E AOS


BENFEITORES DO OBSERVATÓRIO DO VATICANO




Aos participantes no
VIII Curso de Astrofísica do Observatório do Vaticano

O VIII Curso de Astrofísica do Observatório do Vaticano é a última de uma série de Cursos que, ao longo dos últimos 15 anos, reuniu mais de 200 jovens estudantes e os seus professores, oriundos de todos os continentes. Naturais de mais de 50 nações, muitos deles provêm de países em vias de desenvolvimento. Desde o início, os Cursos quiseram compartilhar os mais recentes resultados da investigação astrofísica com os jovens estudiosos, num importante período do seu desenvolvimento profissional. Uma das suas finalidades é também a de contribuir para o progresso nos países em vias de desenvolvimento, introduzindo alguns dos seus jovens mais talentosos nas melhores práticas e teorias científicas actuais neste campo.

O ponto central dos Cursos é o intercâmbio do saber profissional e da experiência pessoal entre os professores e os estudantes. A vossa amizade pessoal e profissional, que inclui uma vasta gama de diferenças políticas, culturais e religiosas, constitui um dos frutos mais preciosos do Curso, e rezo para que estes vínculos perdurem ao longo dos anos.

No Curso deste ano, estudastes o estádio final das estrelas, quando elas esgotam as suas fontes normais de energia. Isto leva a um exame de algumas das características mais fundamentais do universo e, inevitavelmente, orienta o pensamento para o nosso destino neste universo. O desejo de compreender a criação e o nosso próprio lugar no seu interior, em conformidade com os rigorosos parâmetros da ciência, é uma das aspirações humanas mais nobres; e estou persuadido de que o Curso vos há-de inspirar a promover o conhecimento científico, de forma que o mundo, em rápida transformação e irrequieto, beneficie da vossa dedicação à compreensão dos seus mistérios.

Pode ser que o estudo da natureza astrofísica dos resíduos astrais dê a impressão de que tem pouco a ver com o progresso da humanidade. Todavia, as pessoas que examinam a realidade atentamente, como os cientistas, artistas, filósofos e teólogos, e os indivíduos que procuram melhorar as condições económicas, sociais e políticas dos povos do mundo, depressa compreendem que tudo aquilo que é verdadeiro, bom e belo encontra a sua fonte última e singular n'Aquele em quem "vivemos, nos movemos e existimos" (Ac 17,28). A vossa investigação astrofísica não é um luxo distante das preocupações quotidianas do povo e irrelevante para a edificação de um mundo mais humano. Aquilo que fazeis como cientistas é importante para todos nós, de forma especial quando a vossa visão da realidade, empiricamente fundamentada, leva a uma compreensão da pessoa humana como elemento integral no universo criado, ou seja, quando conduz para a sabedoria que se encontra no âmago de todo o humanismo genuíno.

Contudo, a compreensão que temos de nós mesmos e do universo só alcançará um grau de sabedoria autêntica, se nos abrirmos para as numerosas formas de a mente humana chegar ao conhecimento: através da ciência, da arte, da filosofia e da teologia. A vossa investigação científica será mais criativa e benéfica para a sociedade, se contribuir para a unificação do conhecimento que deriva destas diferentes fontes e levar para um diálogo fecundo com aqueles que actuam nos outros campos do saber. Estou convicto de que os Cursos de Astrofísica do Observatório do Vaticano oferecem uma contribuição preciosa para esta visão unificadora do saber.

Aproveito o ensejo para agradecer também àqueles de entre vós que contribuem para o trabalho levado a cabo pelo Observatório do Vaticano. Através do vosso interesse pelo Observatório, participais no percurso destes jovens estudantes, que procuram compreender um universo que, gradualmente, se revela em toda a sua vastidão e mistério. Sem dúvida, a ciência é um dos faróis da humanidade, no seu caminho ao longo dos tempos; contudo, enquanto procuramos unir o saber científico a todo o nosso conhecimento como seres humanos, sentimos que somos impelidos para outras realidades ainda mais misteriosas e que a nossa paixão é incompleta, se não despertar em nós o desejo de dar e de receber o amor.

Enquanto vos saúdo a vós, vêm-me à mente as palavras do Salmo: "Ó Senhor, nosso Deus, como é grande o vosso nome em toda a terra! (...) Quando contemplo os céus, obras das vossas mãos, a luz e as estrelas que Vós fixastes, que é o homem, para vos lembrardes dele, o Filho do homem, para dele cuidardes?" (Ps 8,2 Ps 8,4-5). Enquanto vos agradeço sinceramente a vossa contribuição para o nosso conhecimento do cosmos e do Amor que lhe dá vida, invoco sobre todos vós as abundantes bênçãos de Deus, cujo nome é grande em todo o universo.

Vaticano, 2 de Julho de 2001.




AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DE CUBA


EM VISITA AD "LIMINA" APOSTOLORUM




Queridos Irmãos no Episcopado!

1. É com o máximo prazer que vos recebo hoje, Pastores da Igreja de Deus peregrina em Cuba, que nestes dias realizais a visita ad Limina, com a qual renovais a vossa comunhão com o Sucessor de Pedro e venerais com devoção os túmulos dos Príncipes dos Apóstolos, colunas da Igreja e fiéis a Cristo até derramar o seu sangue. De igual modo, tivestes importantes encontros com os Dicastérios da Cúria Romana e, num clima de oração e de reflexão, evidenciastes os motivos de alegria e esperança, de preocupação e de sofrimento, que vive a porção do Povo de Deus que está confiada à vossa atenção pastoral.

Agradeço de coração as amáveis palavras que, em nome de todos, me dirigiu D. Adolfo Rodríguez Herrera, Arcebispo de Camagüey e Presidente da Conferência Episcopal, manifestando-me a vossa adesão e a das vossas comunidades eclesiais. De facto, conheço bem a vossa inabalável comunhão com a Sé de Pedro, e podeis ter a certeza do meu afecto e proximidade em todas as vicissitudes do vosso trabalho pastoral.

2. A vossa presença aqui recorda-me a visita pastoral a Cuba em 1998. Foram dias intensos durante os quais pude apreciar o calor e o acolhimento do povo cubano. Naquela memorável ocasião, deixei uma mensagem pastoral, que continua a ser uma ajuda para animar a vida da Igreja e encorajar a todos na esperança. Sinto-me feliz por tomar conhecimento que desde então melhoraram algumas coisas de particular importância para vós, como, por exemplo, a recuperação da festa de Natal, a possibilidade de realizar algumas procissões que fazem parte da rica piedade popular uma maior participação dos católicos na vida do País, a presença de alguns jovens cubanos no XV Dia Mundial da Juventude em Roma, durante o passado ano jubilar ou o considrável aumento da participação dos fiéis nos Sacramentos. Contudo, existem outros aspectos para os quais ainda não foram obtidos resultados satisfatórios, mas é desejável que, com a boa vontade de todos, se chegue a uma solução justa e oportuna.

3. Por ocasião da conclusão do Grande Jubileu da Encarnação, convidei toda a Igreja a caminhar partindo de Cristo, que "é sempre o mesmo, ontem, hoje e sempre" (He 13,8), acolhendo com renovado entusiasmo as suas palavras: "Duc in altum" (Lc 5,4) e abrindo-se com confiança ao futuro. Ao ouvir as minhas palavras, vós, queridos Bispos de Cuba, aprovastes o Plano Global de Pastoral 2001-2006 com um dinamismo missionário plenamente em sintonia com a sede de Deus do vosso Povo que, como tive ocasião de vos dizer em Havana, "tem uma alma cristã" (cf. Homilia, 25 de Janeiro de 1998). A fé e os valores que o Evangelho proclama são uma riqueza que se deve preservar ciosamente, porque está na base da identidade cultural nacional, hoje ameaçada, como noutros lugares, por uma cultura massificada e informe, que está inerente nalguns aspectos do processo de globalização.

Graças à actuação deste Plano, em muitos lugares foram abertos centros de reunião para a comunidade católica, sobretudo em bairros e aldeias onde durante muitos anos não foi possível construir novas igrejas. Isto revelou-se um método evangelizador em sintonia com já mencionado Plano Pastoral, com famílias que abrem as suas casas e desejam ser comunidades vivas e dinâmicas. O nome de "Casas de Missão ou de Oração" com que se designam estes centros, está de acordo com a chamada a evangelizar todos os ambientes; com efeito, elas devem ser escolas nas quais se transmite a fé e se educa para ela, alimentando-a ao mesmo tempo com a oração. Por conseguinte, encorajo-vos a continuar com criatividade a anunciar o Evangelho a todos os cubanos e a preocupar-vos com a devida formação dos animadores desses centros.

Na Mensagem Jubilar afirmáveis que Cuba vive "um momento histórico". Portanto, como Pastores de todo o povo fiel deveis continuar a iluminar as consciências dos cubanos, orientando-os para um diálogo perseverante e para uma reconciliação sincera. É preciso não se deixar vencer pelo desencorajamento perante esta difícil tarefa, mesmo se a vossa voz é única ou "sinal de contradição (cf. Lc Lc 2,34). Mesmo se não desejais confrontos, a Igreja está consciente do facto de que os projectos do Senhor nem sempre coincidem com os critérios do mundo, mas, por vezes, até os contradizem.

Ao acolher com renovado vigor todos os dias as palavras do Senhor, "Duc in altum", guiais com audácia os destinos daquela Igreja tão fervorosa, que no passado deu muitas provas de fidelidade. Encorajo os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e as religiosas, os seminaristas e os leigos a "fazer-se ao largo" no seu serviço à Igreja e ao povo, permanecendo fiéis a Cristo e à sua Pátria, que muito precisa deles. Todavia, que todos caminhem sem desanimar, realizando sempre novos projectos que dêem sentido e esperança à sua vida.

4. Estais bem conscientes da vossa responsabilidade de transmitir a mensagem de Cristo como "verdadeiros e autênticos mestres da fé, pontífices e pastores" (Christus Dominus, CD 2). Esta mensagem deve ser proclamada em toda a sua integridade e beleza, sem descuidar as suas exigências e tendo presente que a cruz faz parte do caminho empreendido por Cristo, caminho que percorrem também os seus discípulos. Guiados pelo único Mestre que "tem palavras de vida eterna" (Jn 6,68) os homens e as mulheres de Cuba devem saber encontrar um renovado sentido transcendente a dar às suas vidas, aceitando o amor divino e verificando a abertura, diante deles, de tantas possibilidades de realização pessoal e social.

A fé em Jesus Cristo, bem o sabeis, age no ser humano de maneira totalmente diferente das ideologias, que são fugazes e consomem totalmente as energias dos homens e dos povos com metas terrenas, muitas das quais, entre outras coisas, inatingíveis. Por conseguinte, é cada vez mais urgente apresentar a riqueza insondável da espiritualidade cristã neste início de milénio, perante um mundo cansado das velhas ideologias, as quais, tendo perdido o seu fascínio inicial, deixaram em muitos um vazio profundo e uma falta de sentido da própria vida.

5. No exercício do "munus docendi", a Igreja, através dos seus ministros, é chamada a iluminar também com a luz do Evangelho os temas temporais e sociais (cf. Lumen gentium, LG 31), fazendo com que os seus membros sejam "testemunhas e operadores de paz e de justiça" (cf. Sollicitudo rei socialis). Por conseguinte, ela promove uma educação nos valores autênticos, que seja libertadora e participativa, como vós próprios no vosso Plano Global. A respeito disto, já tive ocasião de assinalar em Camagüey que "a Igreja tem o dever de dar uma formação moral, cívica e religiosa" realizando desta forma "uma sementeira de virtude e espiritualidade para o bem da Igreja e da Nação" (Homilia, 23/1/1998, 3, ed. port. de 31/1/1998, pág. 3). Por seu lado, os leigos ao beneficiar desta actividade da Igreja, poderão perseverar no seu nobre empenho de propor e promover novas iniciativas para a sociedade civil, sem jamais procurar o confronto, mas a justiça.

Os seus esforços serão apoiados pelo exemplo do Servo de Deus Pe. Félix Varela, que se dedicou sem se poupar à formação de homens de consciência com duas preocupações principais: que a vida social e política se fundassem na ética e a ética fosse alimentada pela fé cristã.

Proponde aos cubanos a Doutrina Social da Igreja

6. Como disse por ocasião da minha viagem pastoral a Cuba, a Igreja deve apresentar aos cristãos e a todos os que estão interessados no bem do povo cubano os ensinamentos da sua Doutrina Social. A sua proposta de uma ética social, enaltecedora da dignidade humana, mostra as possibilidades e os limites do ser humano, e também das instituições públicas ou privadas, no contexto de um projecto de crescimento e desenvolvimento orientado para o bem comum e para o respeito dos direitos humanos.

A este propósito, desejo recordar que estes direitos devem ser considerados integralmente, desde o direito à vida do nascituro até à morte natural, sem excluir nenhum direito individual ou social, quer se trate do direito à alimentação, à saúde, à instrução, quer se trate do direito de exercer as liberdades de movimento, expressão ou associação.

Em todo o mundo os direitos humanos são um projecto que ainda não está perfeitamente realizado, mas nem por isso se deve renunciar ao propósito decidido e sério de os respeitar, porque eles provêm da especial dignidade do homem como ser humano criado por Deus à sua imagem e semelhança (cf. Gn Gn 1,26). Quando a Igreja se ocupa da dignidade da pessoa e dos seus direitos inalienáveis, mais não faz do que vigiar para que o homem não seja prejudicado ou destituído de nenhum dos seus direitos por outros homens, pelas próprias autoridades ou por autoridades estrangeiras. Isto requer a justiça que a Igreja promove nas relações entre os homens e os povos. Em nome desta justiça eu disse claramente no vosso País que as medidas económicas restritivas impostas do exterior eram "injustas e eticamente inaceitáveis" (cf. Discurso de Despedida, 25/1/1998) e continuam a sê-lo. Mas, com essa mesma clareza, desejo recordar que o homem foi criado livre e, ao defender esta liberdade, a Igreja age em nome de Jesus, que veio para libertar o homem de qualquer forma de opressão.

Quando vós, como Bispos Católicos de Cuba, reclamais a justiça, a liberdade ou mais solidariedade, não pretendeis desafiar ninguém, mas desempenhais a vossa missão, promovendo para o povo cubano uma vida solidamente fundada na verdade acerca do homem. Por conseguinte, encorajo-vos a continuar o paciente trabalho em favor da justiça, da verdadeira liberdade dos filhos de Deus e da reconciliação entre todos os cubanos, os que vivem na Ilha e os que se encontram noutras partes, sem poupar esforços de reconciliação que permitam ampliar cada vez mais o trabalho caritativo da Igreja na promoção humana do povo.

7. Convosco, e sob a vossa autoridade pastoral e orientação, trabalham sacerdotes, religiosos e religiosas, cujo número infelizmente ainda é insuficiente para satisfazer todas as necessidades. Ao pensar neles voltam espontâneas à minha mente as palavras do Senhor: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos" (Mt 9,37). Penso neles muitas vezes e desejo exprimir o meu agradecimento por tudo o que fazem para o crescimento da Igreja e para as necessidades do povo cubano. O espírito missionário, tão vivo em muitos filhos da Igreja, faz desejar que se facilite cada vez mais o ingresso de novos sacerdotes e religiosos que desejam consagrar-se à missão na sua bonita ilha, o que, sem dúvida, beneficiará a todos.

Preocupados pelo número de pessoal dedicado à missão, esforçais-vos por promover e seguir com atenção uma pastoral vocacional. Ela deve ser acompanhada, em primeiro lugar, por uma oração assídua, porque é preciso pedir ao Senhor que envie novos trabalhadores para a sua messe (cf. Mt Mt 9,38 Por outro lado, os candidatos devem ser guiados com prudência e competência a fim de poderem percorrer todas as etapas que o seguimento do Senhor exige na vida sacerdotal ou religiosa. O firme crescimento das vocações é motivo de esperança. A este propósito, e para facilitar este processo, seria necessário pensar, onde for possível, na criação dos Seminários menores que acolham os jovens antes de iniciarem os estudos filosófico-teológicos, a fim de lhes oferecer uma formação completa a partir dos princípios morais cristãos. A construção, já próxima, do novo Seminário na Capital do qual benzi a primeira pedra e a vantagem dos Seminários propedêuticos e filosóficos já existentes darão a possibilidade de preparar espiritual e intelectualmente os futuros sacerdotes nativos em melhores condições, e farão com que os seminaristas de todo o País se possam formar adequadamente para servir o seu povo.

8. Em Cuba não faltam leigos empenhados que se esforçam, no seu ambiente, por levar uma vida coerente com a fé. Estão conscientes das dificuldades que muitos deles devem enfrentar pelo facto de serem crentes, porque, como acontece também noutros lugares, os condicionamentos externos não facilitam a prática dos ensinamentos da Igreja. Por conseguinte, é vosso dever encorajá-los e ajudá-los a pôr em prática as suas opções cristãs.

Por conseguinte, continuai a proclamar-lhes com vigor os ensinamentos sobre o matrimónio e a família, o acolhimento dos filhos como dom de Deus e primavera da sociedade, convidando-os a todos a colaborar, sem qualquer exclusão, no bem comum e no progresso da Nação. Tenham sempre presentes as palavras do Senhor: "Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,13-14) e, por conseguinte, continuem a ser, cada um segundo as próprias possibilidades, missionários entusiastas, anunciadores e testemunhas de Cristo, morto e ressuscitado, sabendo que desta forma contribuem para a missão da Igreja e para a elevação moral do seu povo, cada vez mais sedento de espiritualidade e dos nobres valores religiosos.

9. Queridos Irmãos, quis reflectir convosco sobre alguns aspectos da vossa actividade pastoral. Ao regressar a Roma da minha viagem apostólica na vossa terra disse-vos que o fazia "com muita esperança no futuro, tendo testemunhado a vitalidade da Igreja local. Estou consciente da imensidade dos desafios que tendes à frente, mas também do bom espírito que vos anima e da vossa capacidade de os enfrentar" (Mensagem aos Bispos 25/1/1998, n. 7, ed. port. de 31/1/1998, pág. 12). Hoje renovo estes sentimentos e, além disso, peço-vos que façais chegar a minha afectuosa saudação a todos os sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis, bem como a todo o povo cubano. De maneira especial, exprimi a minha proximidade e preocupação pastoral a todos os que sofrem, aos idosos e aos doentes, aos presos, às famílias divididas, e a quantos se sentem desencorajados ou perderam a esperança. Cada um deles ocupa um lugar no coração e na oração do Papa.

Dirigindo-me espiritualmente ao Santuário do Cobre e prostrado diante da imagem da Virgem da Caridade, Mãe e Rainha de Cuba, que tive a alegria de coroar e cujos "nome e imagem estão esculpidos na mente e no coração de todos os cubanos, dentro e fora da Pátria como sinal de esperança e centro de comunhão fraterna" (Homilia em Santiago, 24/1/1998, n. 6, ed. port. de 31/1/1998, pág. 7), concedo-vos de todo o coração, bem como aos vossos diocesanos, uma especial Bênção apostólica.




Discursos João Paulo II 2001 - 5 de Julho de 2001