Discursos João Paulo II 2001

DISCURSO AOS MONGES DA CONGREGAÇÃO


ARMÉNIO-MEQUITARISTA POR OCASIÃO DO


TRICENTENÁRIO DE FUNDAÇÃO


Sábado, 7 de Julho de 2001



Dilectos Religiosos da
Congregação Arménio-Mequitarista

1. Sinto-me particularmente feliz por vos receber neste dia, por ocasião do terceiro centenário de fundação do vosso Instituto. O meu pensamento dirige-se para a insigne figura do Abade Mequitar, que se distingue de maneira totalmente original e, diria, profética no contexto do Oriente cristão e dos seus relacionamentos com a Igreja de Roma. Sentimo-lo espiritualmente presente neste nosso encontro. Sem dúvida, ele alegrou-se no Céu pela recente reunificação dos dois ramos da vossa Congregação, fruto do desejo de procurar em conjunto as raízes do carisma da vossa vida monástica para servir, em espírito de renovação e concórdia, o povo arménio nas suas novas necessidades.

Com a experiência de vida de Mequitar de Sebaste, a história da espiritualidade monástica arménia atinge o seu ápice. Num período de vigorosa decadência, devido inclusivamente a circunstâncias sócio-políticas específicas, Mequitar compreendeu que é na santidade que se encontra o mais excelso e eficaz instrumento para dar renovada dignidade, força e responsabilidade moral e civil ao seu povo. Em primeiro lugar, foi um investigador de Deus, como cada monge é chamado a ser. E desejou sê-lo, no contexto específico da vida monástica arménia, reconhecendo nela uma inextinguível fonte de santidade e, ao mesmo tempo, um âmbito de aprofundamento cultural dos valores da tradição, graças às célebres academias e à instituição do "vardapet", o monge doutor, encarregado de difundir a doutrina cristã, mediante a pregação e o discipulado.

2. Ainda jovem, Mequitar empreendeu uma peregrinação que o levou a numerosos mosteiros da Arménia. Ele sabia o que procurava, e quando as suas expectativas fracassavam, porque a proposta cristã ou a modalidade da vida comunitária, ou ainda a qualidade do compromisso intelectual, não lhe pareciam à altura daquelas que ele considerava as necessidades espirituais do seu povo, partia para outros lugares, em busca de ulteriores enriquecimentos.

Nestas peregrinações, encontrou também religiosos latinos, haurindo do conhecimento da sua espiritualidade novos pontos de referência para a sua reflexão, sem contudo impedir a plena fidelidade à autêntica tradição arménia. Este contacto entre Oriente e Ocidente não constituiu somente um aspecto da sua experiência pessoal, mas assinalou profundamente a vicissitude cultural e até a profunda identidade do povo arménio. Não pouco contribuíram para isto as vicissitudes históricas que levaram Mequitar a estabelecer-se, juntamente com a comunidade de monges por ele fundada, em Veneza, ponte natural de um Ocidente inclinado para o Oriente. Desde então, a Ilha de São Lázaro tornou-se a "pequena Arménia", ainda hoje meta de peregrinações e lugar em que cresce e se corrobora a identidade nacional, produzindo copiosos frutos espirituais e culturais.

3. Elemento característico da espiritualidade mequitarista é a busca da santidade, através de uma intensa vida de oração e de um compromisso, não menos exigente, de aprofundamento cultural, centrado sobretudo nas grandiosas fontes patrísticas arménias. Mequitar queria salvaguardar o monge doutor arménio de se perder numa vida errante, extraviando o profundo sentido da sua identidade. Por isso, decidiu que os monges vivessem em comunidade na casa monástica, sob o sinal da obediência. Assim, os mosteiros tornaram-se centros de formação espiritual e de aprofundamento cultural, exercendo uma influência extraordinária na aristocracia intelectual, em grande medida presente na origem do renascimento cultural, político e social do povo arménio nos períodos seguintes.

A Mequitar e aos seus monges deve reconhecer-se, de forma especial, o mérito de terem contribuído e de ainda colaborarem na plena recomposição da unidade entre a Igreja do Ocidente e as Igrejas do Oriente. Para Mequitar, a comunhão com a Sé de Roma era um elemento imprescindível da fé, também porque nessa comunhão ele via o cumprimento de uma aspiração desde sempre presente em inúmeros Arménios, entre os quais não poucos eclesiásticos de elevada dignidade. Ele estava persuadido de que a fé da Igreja arménia, para além das diversas terminologias teológicas e das incompreensões históricas, vivia em plena ortodoxia, de tal forma que a comunhão com Roma não podia ser senão a sua lógica confirmação. Por isso, viveu sempre apegado, com fidelidade escrupulosa e exemplar, à teologia, liturgia e espiritualidade dos Padres arménios, preocupando-se com a transmissão do seu rico património às gerações vindouras.

4. Queridos filhos de Mequitar, é a vós que cabe assumir esta herança e fazê-la viver. Provindes de períodos difíceis, que puseram a vossa comunidade à dura prova. Agora, é necessário seguir com clarividência os sinais de renascimento que se entrevêem nos vários âmbitos das comunidades eclesiais.

O primeiro compromisso consiste em aprofundar o conhecimento do vosso povo, para saber corresponder de maneira adequada às suas expectativas. Não tenhais medo de vos abrir para novos horizontes, revendo e actualizando as antigas presenças, se as urgências dos tempos o exigirem. A este propósito, ao levardes a cabo algumas das vossas actividades, poderá ser oportuno recorrer à colaboração dos fiéis leigos, cuja contribuição específica seria, assim, melhor valorizada.

No centro da vossa existência quotidiana esteja sempre a vida monástica: a busca pessoal de Deus, a familiaridade amorosa com a Sagrada Escritura, a referência constante aos escritos dos Padres arménios, a celebração fiel, plena, espontânea e completa da oração da Igreja arménia sejam as fontes de onde podeis tirar o vigor quotidiano. Isto constituirá um ulterior exemplo do "ecumenismo de vanguarda" que o monaquismo pode realizar, se não se fechar no isolamento ou no fundamentalismo mas, em nome da busca conjunta do rosto do Pai, souber acolher o irmão que encontrar na mesma senda.

5. A vossa história e as instituições do vosso Fundador colocam-vos numa posição privilegiada de diálogo ecuménico. Sois amados e estimados por todos os vossos irmãos arménios, que olham para vós com confiança e veneração. Ocupai um lugar à altura desta vocação extraordinária. Ponde à disposição da Igreja arménio-católica os instrumentos do vosso conhecimento e sede, juntamente com ela, o fermento da abertura pastoral, em plena fidelidade ao espírito dos vossos Padres. Com a vossa contribuição, o diálogo entre os Arménios apostólicos e os Arménios católicos há-de consolidar-se, inclusivamente à luz de novas e mais audazes conquistas espirituais.

Assumi plenamente o compromisso do aprofundamento do património teológico e, de forma mais vasta, da riqueza cultural da vossa Nação, como era a vontade explícita do vosso Fundador. Recorrei a instrumentos actualizados e a novas competências, para conservar e renovar o amor pelo estudo, que São Nerses de Lambron considerava como um sinal do amor divino e que Mequitar quis como carácter distintivo da sua instituição monástica. Estou convicto de que é isto que a vossa Pátria, a Arménia, e a Igreja arménia apostólica esperam de vós, em espírito de colaboração e de abertura ecuménica.

6. Recordai que a pobreza é uma característica imprescindível da vida monástica. A vossa riqueza seja o Senhor, que trazeis no vosso coração. Considerai os tesouros de arte e de história, que o vosso povo vos confiou, como verdadeiras e próprias relíquias, de forma particular aqueles manuscritos que trazem gravada a história viva de homens e de acontecimentos, conservando a sua recordação para a posteridade. As vicissitudes do passado vos ensinem a não confundir a prosperidade material com a profundidade da vida espiritual: não raro, a prosperidade suscita ardentes desejos idolátricos, que debilitam o fundamento da própria experiência religiosa. Trata-se de uma lição que não se pode esquecer. Educai os vossos jovens para a sobriedade que, sozinha, sensibiliza o coração e o torna capaz de se elevar para o Alto, em busca de Deus. Tende consciência firme de ser as sentinelas fiéis e abnegadas de quanto pertence à Igreja e à história do vosso povo.

Privilegiai de maneira especial a formação dos jovens monges, com uma selecção atenta, prudente e gradual, exercida possivelmente, pelo menos nas suas primeiras fases, nos próprios territórios de origem dos jovens, para evitar dispersões e falsas miragens. Educai-os para a profundidade na liberdade, a fim de formar pessoas responsáveis. Preparai os vossos jovens para assumir gradualmente tarefas adequadas para a formação recebida, de maneira a tornar-se guias autorizados do povo de Deus.

7. Caríssimos Monges, estes trezentos anos de história da vossa Congregação constituem uma riqueza para a Igreja universal. Ela ama-vos, estima-vos e não cessará de se dedicar ao vosso crescimento espiritual e moral, reconhecendo em vós os filhos do venerado abade Mequitar, digno da sua admiração e da sua gratidão.

Confio-vos a todos à intercessão maternal da Santíssima Virgem, que esteve tão próxima do vosso Fundador. Ela vos assista e vos salvaguarde, obtendo para vós do Senhor todas as graças e consolações celestiais.

Com estes bons votos, abençoo-vos a todos do íntimo do coração.



MENSAGEM PESSOAL DO SANTO PADRE


AOS RESPONSÁVEIS DAS OITO NAÇÕES


MAIS DESENVOLVIDAS DO MUNDO





O Papa João Paulo II acompanha com profundo interesse a preparação do encontro dos oito Países mais industrializados do mundo, que se há-de realizar em Génova a partir de amanhã.

Como sinal da sua proximidade aos ilustres Hóspedes, Sua Santidade desejou enviar-lhes uma mensagem pessoal. Agradecer-lhe-ia se a transmitisse aos interessados, da maneira que considerar mais oportuno.

No momento em que, como responsáveis das oito Nações mais desenvolvidas do mundo, vos preparais para reflectir sobre os problemas mais importantes da vida internacional, desejo expressar-vos a minha proximidade humana e espiritual. Ao mesmo tempo, formulos votos para que, durante estes intensos dias de trabalho, ninguém e nenhuma Nação sejam excluídos das vossas solicitudes! Sem vos deixar esmagar pelo peso de cada uma das problemáticas, estou persuadido de que vos empenhareis na promoção de uma cultura da solidariedade, que permita soluções concretas para os problemas que mais preocupam os nossos irmãos na vida e nos relacionamentos com os outros: a paz, a pobreza, a saúde e o meio ambiente.

Enquanto faço cordiais votos para que o vosso encontro obtenha bom êxito, invoco sobre vós a Bênção de Deus omnipotente.

Vaticano, 19 de Julho de 2001.



DISCURSO DO SANTO PADRE AOS


FUNCIONÁRIOS DO SERVIÇO DE SEGURANÇA


Sexta-feira, 20 de Julho de 2001





As minhas férias de Verão no Vale de Aosta já chegam ao seu termo e sinto-me feliz por este encontro convosco, que garantistes os vários serviços: o Inspectorado de Segurança Pública junto do Vaticano, a Polícia de Estado, os Carabineiros, a Guarda Fiscal, a Polícia Penitenciária, o Corpo Florestal da Região e o Corpo de Vigilância da Cidade do Vaticano. Estou-vos profundamente grato porque todos vós, em conformidade com as vossas diversas competências, contribuístes para garantir uma vez mais uma permanência tranquila e serena para mim e para os meus colaboradores.

Embora tenha sido breve, esta estadia no meio dos encantadores montes do Vale de Aosta foi profícua. Permitiu-me saborear intensamente a paz e a amenidade destes lugares sugestivos. Espero que, apesar do vosso compromisso no cumprimento dos deveres que vos são próprios, também vós tenhais recebido algum benefício disto.

Neste momento, penso nas vossas famílias, que as exigências do serviço às vezes vos levam a deixar por algum tempo. Asseguro-lhes a minha oração, a fim de que vivam sempre em harmonia, fundamentadas nos valores humanos e cristãos, e sejam alegradas por filhos bons e generosos. Rezo de forma particular pelos vossos entes queridos que, por idade ou doença, talvez estejam a viver momentos difíceis.

Uma vez mais, obrigado a todos vós! O Senhor recompense o vosso serviço diligente. A Virgem Santa vele sobre vós e os vossos familiares, acompanhando-vos sempre. Com estes sentimentos, a todos concedo a minha Bênção, como penhor de paz e de alegria espiritual.



DISCURSO AO PRESIDENTE DOS


ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


Segunda-feira, 23 de Julho de 2001



Senhor Presidente

1. É com imenso prazer que lhe dou as boas-vindas por ocasião da sua primeira visita desde que assumiu o cargo de Presidente dos Estados Unidos da América. Saúdo calorosamente a sua ilustre Esposa e os distintos membros do seu Séquito. Formulo sinceros bons votos a fim de que o seu mandato presidencial fortaleça o seu País no compromisso em favor dos princípios que inspiraram a democracia norte-americana desde o princípio, sustentando a Nação no seu extraordinário desenvolvimento. Estes princípios são mais válidos do que nunca, no momento em que Vossa Excelência enfrenta os desafios do novo século que se abre à nossa frente.

Os Fundadores da sua Nação, conscientes dos imensos recursos naturais e humanos com que a sua terra foi abençoada pelo Criador, foram orientados por um profundo sentido de responsabilidade em relação ao bem comum, a ser promovido no respeito pela dignidade e pelos direitos inalienáveis de todos, como dom de Deus. A América continua a avaliar-se através da nobreza da sua visão primordial, na edificação de uma sociedade feita de liberdade, de igualdade e de justiça sob o exercício da lei. No século que há pouco chegou ao seu termo, estes mesmos ideais inspiraram o povo norte-americano a resistir a dois sistemas totalitários, ambos fundamentados numa visão ateísta do homem e da sociedade.

2. No início deste novo século, que assinala inclusivamente o começo do terceiro milénio do Cristianismo, o mundo continua a olhar para a América com esperança. Todavia, fá-lo com uma forte consciência da crise dos valores que está a ser experimentada pela sociedade ocidental, cada vez mais insegura perante as decisões éticas, indispensáveis para o futuro caminho da humanidade.
Ultimamente, a atenção do mundo está centrada no processo de globalização que, na década passada, recebeu um impulso vigoroso e em Génova foi abordado por Vossa Exclência e por outros governantes das Nações industrializadas. Enquanto se sente feliz pelas oportunidades que este processo oferece para o desenvolvimento económico e a prosperidade material, a Igreja não pode deixar de expressar a sua profunda preocupação pelo facto de que o nosso mundo continua a viver dividido, não já pelos antigos blocos políticos e militares, mas por uma trágica linha de responsabilidade entre aqueles que podem ser beneficiados por estas oportunidades e aqueles que parecem ter sido excluídos das mesmas. Agora a revolução da liberdade, de que falei na sede da Organização das Nações Unidas em 1995, deve ser completada por uma revolução das oportunidades, em que todos os povos do mundo contribuam de maneira activa para a prosperidade económica e compartilhem os seus frutos. Isto exige a orientação daquelas nações cujas tradições religiosas e culturais deveriam levá-las a prestar a máxima atenção à dimensão moral das problemáticas em questão.

3. O respeito pela dignidade humana e a crença na dignidade igualitária de todos os membros da família humana exigem políticas destinadas a tornar todas as pessoas capazes de aceder aos meios necessários para melhorar as suas vidas, inclusivamente os instrumentos e as competências técnicas exigidos pelo desenvolvimento. O respeito da natureza por parte de todos, uma política de abertura aos imigrantes, o cancelamento ou a redução significativa da dívida das Nações mais pobres, a promoção da paz através do diálogo e da negociação, o primado do exercício da lei: estas são as prioridades que os líderes das Nações desenvolvidas não podem ignorar. Um mundo global é essencialmente um mundo de solidariedade! Sob este ponto de vista, em virtude dos seus copiosos recursos, tradições culturais e valores religiosos, a América tem uma responsabilidade especial.

O respeito pela dignidade humana encontra uma das suas máximas expressões na liberdade religiosa. Este direito é o primeiro enunciado pela Carta dos Direitos da sua Nação, Senhor Presidente, e é significativo o facto de que a promoção da liberdade religiosa continua a constituir um objectivo importante da política norte-americana, no contexto da comunidade internacional. É de bom grado que exprimo a estima de toda a Igreja católica pelo compromisso da América neste sentido.

4. Outra área em que as opções políticas e morais têm as mais graves consequências para o futuro da civilização diz respeito ao mais fundamental dos direitos humanos, o direito à própria vida. A experiência já está a mostrar-nos que a trágica banalização das consciências é acompanhada pelo ataque contra a vida humana inocente no seio materno, levando à transigência e à aquiescência perante os outros males a isto relacionados, como a eutanásia, o infanticídio e, mais recentemente, as propostas para a criação, com a finalidade da investigação, de embriões humanos destinados a ser destruídos durante o processo. Uma sociedade livre e virtuosa, que a América demonstra ser, deve rejeitar práticas que desvalorizam e violam a vida humana em qualquer uma das suas fases, desde a concepção até à morte natural. Defendendo o direito à vida, através da lei e mediante uma vigorosa cultura da vida, a América pode indicar ao mundo o caminho de um porvir verdadeiramente humano, em que o homem continue a ser o senhor, e não o produto, da sua própria técnica.

Senhor Presidente, enquanto Vossa Excelência desempenha as tarefas do elevado cargo que o povo norte-americano lhe confiou, asseguro-lhe a lembrança nas minhas orações. Estou convicto de que, sob o seu governo, a sua Nação há-de continuar a beber da sua tradição e dos seus recursos para ajudar a construir um mundo em que cada membro da família humana possa florescer e viver de uma forma que seja digna da sua dignidade inata. Com estes sentimentos, invoco cordialmente sobre Vossa Excelência e o querido povo norte-americano as bênçãos divinas da sabedoria, da fortaleza e da paz.



PALAVRAS DO SANTO PADRE NO FINAL DO


CONCERTO DA ORQUESTRA


"ACADEMIA MUSICAE PRO MUNDO UNO"


29 de Julho de 2001

Ouvir esta bela execução musical suscitou no meu espírito sentimentos de reconhecimento ao Senhor e a quantos quiseram oferecer-me este agradável momento. O meu pensamento vai, em particular, para o Maestro José Juhar, Presidente da "Academia Musicae Pro Mundo Uno", a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu e para a fiel atenção com que, desde há anos, propõe estes encontros musicais, ocasião de uma alegria espiritual sempre renovada. Agradeço também à sua gentil Esposa e a quantos colaboraram na organização desta manifestação artístico-musical de hoje.

Com vivo reconhecimento congratulo-me, depois, com o Maestro Justus Frantz, com os jovens músicos da Orquestra "Philarmonie der Nationen" e, em particular, com o pianista Christopher Tainton. As melodias de Tchaikovski, executadas com hábil perícia, falam-nos de uma Europa "sinfónica", em que as diferentes tradições se podem significativamente encontar e harmonizar. A arte também pode ser um precioso canal para incentivar o conhecimento, o entendimento e a cooperação solidária entre os povos. Sei que este é, propriamente, o espírito que anima a vossa Orquestra, formada por talentos de diversas partes do mundo. Com os concertos e outras iniciativas procurais contribuir para a causa da paz e da unidade entre os homens e as nações.

Desejo que permaneçais fiéis a este vosso ideal, sobretudo quando as responsabilidades se tornam mais exigentes e o empenho é posto à prova. Sede sempre artífices da amizade e da fraternidade. Sede sempre "pro mundo uno"!

Ao invocar sobre vós a protecção constante da Virgem Santíssima, concedo a todos, de coração, a Bênção Apostólica.



                                                                                   Agosto de 2001

PALAVRAS DO SANTO PADRE


DURANTE A SANTA MISSA CELEBRADA NA


SOLENIDADE DA TRANSFIGURAÇÃO


6 de Agosto de 2001




Estimados Irmãos e Irmãs

A solenidade da Transfiguração assume para nós, em Castelgandolfo, uma tonalidade íntima e familiar, desde quando, há vinte e três anos, o meu inesquecível Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, concluiu precisamente aqui, neste Palácio Apostólico, a sua existência terrena. Enquanto a liturgia convidava a contemplar Cristo transfigurado, ele terminava o seu caminho sobre a terra e entrava na eternidade, onde o rosto santo de Deus brilha no seu esplendor total. Por conseguinte, este dia está ligado à sua memória envolvida pelo singular mistério de luz que esta solenidade difunde.

Do mistério da Transfiguração o venerado Pontífice gostava de realçar também outro aspecto, o "eclesial". Não perdia nenhuma ocasião para pôr em relevo o facto de que a Igreja, Corpo de Cristo, participa, por graça do mesmo mistério, da sua Cabeça.

"Gostaria assim exortava os fiéis que tivésseis a capacidade de entrever na Igreja a luz que ela possui em si, a capacidade de ver a Igreja transfigurada, isto é, de ver aquilo que o Concílio explicou de maneira tão clara nos seus documentos". "A Igreja acrescentava encerra um mistério profundo, imenso, divino... A Igreja é o sacramento, o sinal sensível de uma realidade escondida que é a presença de Deus no meio de nós" (Insegnamenti, X, 1972, pág. 194).

Destas palavras transparece o seu extraordinário amor pela Igreja. Esta foi a grande paixão de toda a sua vida! Que Deus conceda a cada um de nós servir fielmente, como ele, a Igreja, chamada hoje a uma nova e corajosa evangelização.

É o que pedimos ao Senhor durante esta Santa Eucaristia por intercessão de Maria, Mãe da Igreja e Estrela da nova evangelização.



MENSAGEM DO SANTO PADRE NO


IV CENTENÁRIO DA ENTREGA DA IGREJA DE


SANTA MARIA "IN PORTICO" AO


FUNDADOR DA ORDEM DA MÃE DE DEUS


: Rev.do Pe. VINCENZO MOLINARO
Reitor-Geral da Ordem da Mãe de Deus

1. A feliz celebração do IV Centenário da entrega da igreja de Santa Maria "in Portico" e do venerado ícone da Bem-Aventurada Virgem Maria Romanae Portus Securitatis Porto da segurança romana ao Fundador São João Leonardi, por obra do meu predecessor Clemente VIII, com o Breve Apud Sanctum Marcum, de 14 de Agosto de 1601, constitui para esta Ordem um motivo de especial memória e exultação. Nesta circunstância, sinto-me feliz por lhe dirigir, Reverendo Padre, bem como a toda a Família religiosa dos Clérigos Regulares da Mãe de Deus, a minha grata saudação, unindo-me espiritualmente à comum acção de graças ao Senhor pelos inumeráveis dons celestiais recebidos a partir desse memorável acontecimento.

Este evento foi longamente esperado pela vossa Família espiritual que então nascia, cujos membros "emitiram um voto à Bem-Aventurada Virgem, de desejar jejuar durante um ano nas vigílias das suas festividades prescritas, como o fizeram" (C. Franciotti, "Croniche della Congregazione de' Chierici Regolari della Madre di Dio, fondata in Lucca l'anno 1574", em: Archivio dei Chierici Regolari della Madre di Dio Roma, Ms. secção A, parte 3, Março de 33, pág. 474). Tratou-se de um momento importante, porque inseriu a nova Ordem no centro da catolicidade, abrindo-a a perspectivas universais.

2. O documento que sancionava a presença dos Clérigos Regulares da Mãe de Deus chegou num momento que lhes era particularmente positivo. De 30 de Novembro de 1597 a 9 de Abril do ano seguinte realizou-se a visita apostólica da Ordem, desejada por Clemente VIII. Os documentos dessa época referem-se ao "fruto que... fundou a nossa Congregação" (G. B. Cioni, "Lettera del 18 aprile 1598", cópia n. 36, em: Archivio dei Chierici Regolari della Madre di Dio Roma) dessa visita que, realizando plenamente os desejos do Papa Clemente VIII, atribuiu unidade e clareza ao carisma da pequena comunidade, reconfirmou a confiança em relação ao Fundador e deu um impulso apostólico mais clarividente à Congregação. Não foi secundário, em relação a estes resultados, o desejo de partir de Lucca para campos de apostolado mais vastos e correspondentes às exigências dos tempos.

Neste contexto, fez-se cada vez mais insistente o pedido ao Fundador, feito pelos seus filhos espirituais, para que na primeira ocasião assumisse um ulterior compromisso numa igreja romana. Fizeram-se tentativas que, embora não tenham obtido bom êxito, tornaram contudo evidente a importantes personalidades da Cúria o desejo e, sobretudo, os méritos de Padre João Leonardi. Entre eles, o pedido foi tomado especialmente a peito pelo Cardeal Bento Giustiniani, admirador do Santo, que falou sobre isto a alguns altos Prelados, obtendo a imediata disponibilidade do Cardeal Bartolomeu Cesi, sobrinho do Papa Inocêncio IX e Titular das igrejas de Santa Maria "in Portico" e dos Quatro Santos Coroados.

A tomada de posição da igreja paroquial de Santa Maria "in Portico" realizou-se no dia 19 de Agosto de 1601, mas a notícia da entrega do templo teve lugar na véspera da solenidade da Assunção, enquanto a Ordem se preparava para celebrar a Padroeira celeste. O Fundador recebeu-a com fé e entusiasmo, sobretudo porque viu nisto um sinal de singular predilecção da Virgem que o orientava, a ele e aos seus filhos, da pequena igreja de Santa Maria da Rosa em Lucca, onde a obra nascera no ano de 1574, para um santuário igualmente a Ela dedicado, às margens do Tibre. Foi assim que os comprometeu, como o Fundador escrevia aos seus Religiosos, a "corresponder a tantos favores, fazendo de vós um dom espiritual à Esposa Virgem, prometendo-lhe renunciar a uma das vossas maiores imperfeições, indo ao seu encontro neste princípio comum" (G. Leonardi, "Lettera del 24 agosto 1601", em: V. Pascucci, Lettere di un fondatore, pág. 89).

3. Com a chegada dos Clérigos Regulares da Mãe de Deus, para Santa Maria "in Portico" teve início um período de renascimento material e espiritual, a ponto de fazer considerar São João Leonardi o terceiro fundador do Santuário, depois dos meus venerados predecessores João I e Gregório VII.

Em particular a presença do Santo, que já a partir de 1605 quis compilar um breve compêndio da história e das tradições surgidas à volta desse Santuário, tornou-se um significativo ponto de referência e incrementou a devoção mariana, lançando os fundamentos daquele que em seguida havia de ser um centro de piedade, de estudos e de investigação mariológica.

Não faltaram dificuldades. Com efeito, as condições estruturais do templo e dos edifícios circunstantes, que se encontravam em tal estado de abandono a ponto de se parecer com "currais ou cabanas de pastores", eram deveras precárias. As inundações do Tibre provocavam uma humidade insalubre e infecções perigosas que, em 1609, causaram a morte de não poucos religiosos, entre os quais o próprio Fundador. Isto levou a Ordem, por ocasião da Dieta reunida para eleger o sucessor de João Leonardi, confirmando contudo a vontade de permanecer "naquela igreja de tanta devoção", a fazer presente ao Papa Paulo V a difícil situação, pedindo "algum outro retiro onde cuidar dos enfermos e poder curar-se uns aos outros em tempos de perigo" (A. Bernardini, Croniche, parte III, pág. 6).

Alguns anos mais tarde, o Sumo Pontífice Alexandre VII, reconhecendo que o lugar onde estava situada a igreja de Santa Maria "in Portico" era "demasiadamente tomado pelo comércio, bastante sórdido e vil e, enfim, fora de propósito", quis elevar num dos lugares mais bonitos e característicos de Roma o templo de Santa Maria "in Campitelli", junto do qual por mais de três séculos esta Família religiosa teve a sua Cúria geral. Em 1662, a imagem de Nossa Senhora Romanae Portus Securitatis foi transferida para a nova igreja, que por isso tomou o nome de Santa Maria "in Portico in Campitelli".

4. Dou graças ao Senhor pelo bem levado a cabo nestes quatro séculos pelos membros da Ordem, ao serviço deste Santuário mariano e da Cidade de Roma. Formulo votos a fim de que as celebrações do IV Centenário da entrega da igreja de Santa Maria "in Portico" suscitem em todos um renovado impulso de santidade e de serviço apostólico, em plena fidelidade ao carisma do Instituto e em constante e amoroso discernimento dos sinais dos tempos.

É de muito bom grado que me uno aos Clérigos Regulares da Mãe de Deus que, dando graças pela protecção de Maria, "Porto da segurança romana", desejam viver este acontecimento como uma ocasião para recomeçar a partir de Cristo, inserindo todas as programações no horizonte da busca incessante da santidade, medida alta da vida cristã. Em particular, encorajo-os a fim de que, guiados e protegidos pela Mãe de Deus, se comprometam a fazer de cada comunidade uma escola de comunhão, de fraternidade e de serviço. Isto é, sejam um autêntico "porto" para quantos se encontram em busca da verdade, da paz interior e do amor divino.

Enquanto me recordo da Visita pastoral, que pude realizar no dia 29 de Abril de 1984, e seguindo o exemplo de muitos dos meus venerados predecessores, renovo a consagração à celeste protecção de Maria, de toda a Ordem da Mãe de Deus e dos devotos que, quotidianamente, frequentam esse templo que lhe é dedicado.

Com estes sentimentos, espiritualmente presente nas celebrações jubilares, é de coração que concedo a todos a implorada Bênção apostólica, propiciadora de fervor, de paz e de todos os bens desejados.

Vaticano, 25 de Julho de 2001.



MENSAGEM DO SANTO PADRE PELO 10° ANIVERSÁRIO DA


JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE


EM CZESTOCHOWA, POLÔNIA






Dilectos jovens
Amigos

Durante estes dias, vou espiritualmente em peregrinação convosco a Czestochowa, a Jasna Góra. Com devoção, ajoelho-me aos pés da Nossa Senhora Negra, ao lado de todos vós. Confio cada um de vós ao seu coração materno.

Faço-o como fiz há dez anos quando, durante a inesquecível VI Jornada Mundial da Juventude, Jasna Góra viveu um novo assédio. Ela foi invadida por jovens provenientes do mundo inteiro: do Oeste e, pela primeira vez, do Leste. Vieram para confessar em uníssono, do íntimo do seu coração: Maria, Regina Mundi! Maria, Mater Ecclesiae! Tibi adsumus! Maria, Rainha do Mundo! Maria, Mãe da Igreja! Estamos perto de ti, recordamo-nos de ti, vigiamos! Esta tríplice profissão que encerra, por assim dizer, o mistério do cristianismo e determina toda a realidade da vida da fé, acompanhou-nos de maneira especial durante estes dias. Hoje devemos voltar a recordá-la.

"Eu Sou": este é o nome de Deus. Desde os tempos de Abraão, Deus nao cessa de revelar este nome, que constitui o fundamento da Antiga e Nova Aliança. Este nome significa não apenas a existência eterna de Deus, mas inclusive a sua presença repleta de amor presença ao lado do homem, no meio das suas vicissitudes humanas. "Eu Sou" manifestou-se de maneira definitiva na Cruz de Cristo. "O "Eu Sou" divino da Aliança do Mistério pascal da Eucaristia". Eis por que motivo, há dez anos, os jovens congregados aos pés de Jasna Góra elevaram a Cruz no centro da assembleia. Queriam recordar-se deste "Eu Sou", que encerra em si o "eu sou" de cada homem. É assim porque "o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, para poder existir e dizer ao seu Criador: "eu sou". Este "eu sou" humano contém toda a verdade acerca da existência e da consciência. "Eu sou" diante de ti, que "És"". Permiti-me recordar as palavras que dirigi aos jovens durante aquele encontro, e que hoje parecem ser ainda mais actuais: "O mundo que vos circunda, a civilização moderna, tem influído muito para tirar da consciência do homem aquele "Eu Sou" divino. O homem está propenso a viver assim, como se Deus não existisse. Este é o seu programa. Contudo, se Deus não existe, tu homem, poderás existir? Viestes aqui, caros Amigos, para reencontrar e confirmar até ao fundo esta identidade humana: "eu sou", diante do "Eu Sou" de Deus. Olhai para a Cruz, na qual o divino "Eu Sou" significa "Amor". Olhai para a Cruz e não esqueçais! O "estou junto de ti" permaneça a palavra-chave de toda a vossa vida" (Discurso na Vigília de Oração com os Jovens, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 18 de Agosto de 1991, pág. 2, A, n. 4).

"Recordo-me". "O homem está diante de Deus, permanece junto de Deus mediante a acção do recordare. Deste modo, ele conserva as palavras de Deus e as grandes obras de Deus, meditando-as no seu coração como Maria de Nazaré" (Ibid., B, n. 2). Para permanecer viva, esta memória deve voltar incessantemente às fontes, às palavras e aos acontecimentos, por meio dos quais Deus revelou e realizou o seu desígnio de salvação. A verdade sobre o amor de Deus, escrita para o homem nas páginas da Bíblia, não pode ser esquecida! Há dez anos, os jovens sabiam-no e por este motivo voltaram de Jasna Góra com o livro da Sagrada Escritura. Jovens do terceiro milénio, tomai também vós este Livro sagrado e não cesseis de viver em contacto íntimo com o Evangelho, com a Palavra de Deus vivo. Conhecei Cristo cada vez mais, para vos conhecerdes melhor também a vós mesmos e para compreenderdes qual é a vossa vocação e a vossa dignidade.

"Estou vigilante". "Quantas vezes Cristo disse... "Vigiai e orai para não entrardes em tentação" (Mc 14,38)... Estou vigilante... quer dizer: esforço-me por ser um homem de consciência. Não sufoco esta consciãncia, nem a deformo; chamo pelo nome o bem e o mal, não os confundo; em mim faço crescer o bem e procuro corrigir-me do mal, superando-o em mim mesmo" (Discurso na Vigília de Oraçao com os Jovens... op. cit., C, nn. 4-5). Estou vigilante significa também: vislumbro o outro homem, torno sensíveis a minha vista e o meu coração às suas necessidades materiais e espirituais, enquanto procuro ir em seu socorro com amor.

Quando, há dez anos, os jovens provenientes de vários países, ambientes e culturas procuraram um comum modelo de referência, a intuição justamente os conduziu para a sua Mãe. Com efeito, ""estou vigilante" exprime a atitude da Mãe. A sua vida e a sua vocação exprimem-se no seu vigiar.

Este velar pelo homem, desde os primeiros instantes do seu existir" (Ibid., C, n. 2). Eis por que motivo, ao lado da Cruz e da Bíblia, os jovens colocaram outro símbolo eloquente: o ícone da Mãe de Deus. Eles quiseram que, durante a Jornada da Juventude, o ícone de Maria representasse o singular vigiar maternal, que acompanhou a vinda ao mundo do Filho de Deus e a sua agonia no Gólgota, assim como o nascimento da Igreja no dia do Pentecostes. Desejaram que a imagem da Mãe vigilante assinalasse profundamente a memória e o coração, formando a sua vida. Ainda hoje, quando permanecerdes diante do Ícone de Jasna Góra, fixai o olhar em Maria, lede na suas profundezas a perfeita pureza do coração, uma paz da consciência serena, graças a um amor sempre fiel. Este olhar permaneça impresso na vossa alma e vos ensine sempre o que quer dizer "estou vigilante".

Com a recordação da festa dos jovens em Czestochowa que, há dez anos, vivemos com alegria e em profunda oração, transmito-vos queridos Amigos a minha cordial saudação, convidando-vos para os próximos encontros da grande comunidade internacional das jovens testemunhas de Cristo. Na minha opinião, estas assembleias hão-de formar a vida pessoal de cada um de vós, enquanto contribuirão também para fazer com que o mundo no novo milénio seja mais humano, mais sereno e repleto de paz.


Discursos João Paulo II 2001