Discursos João Paulo II 2001 - Sábado, 15 de Setembro de 2001

Confiando-vos à intercessão da Bem-Aventurada Virgem das Dores, que a Igreja convida a festejar hoje, concedo-vos uma particular Bênção apostólica que faço extensiva a todas as Irmãs da vossa Congregação, aos leigos que trabalham convosco e a todas as pessoas que beneficiam do vosso apostolado.




À FAMÍLIA DOS OBLATOS POR OCASIÃO


DO CENTENÁRIO DO SEU FUNDADOR


Sábado, 15 de setembro de 2001



Caríssimos Oblatos e Oblatas do Sagrado Coração

1. É com imensa alegria que me encontro convosco no contexto das solenes celebrações do centenário do nascimento do vosso Fundador, o Servo de Deus Francesco Mottola. Sacerdote generoso e iluminado da vossa querida Diocese, ele deixou uma marca profunda na vida eclesial e no contexto cultural e social em que viveu, difundindo o influxo da sua acção apostólica muito além das fronteiras da Calábria.

Em primeiro lugar, saúdo o Senhor D. Domenico Cortese, Bispo de Mileto-Nicotera-Tropea, a quem agradeço as amáveis palavras com que se fez intérprete dos sentimentos de todos os presentes, recordando de maneica eficaz a figura e a mensagem espiritual do Padre Francesco Mottola. Faço extensiva esta saudação afectuosa também a vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, membros da grande Família dos Oblatos. Tanto a vós aqui presentes, como a todos os filhos espirituais do Servo de Deus, desejo transmitir a minha saudação, juntamente com a minha profunda estima pelo vosso generoso testemunho evangélico, especialmente ao lado dos pobres e dos necessitados.

2. Como foi oportunamente realçado pelo vosso Bispo, a palavra-chave da vida, da espiritualidade e da acção pastoral e caritativa do Padre Francesco Mottola é a "oblação". Dotado de uma personalidade criativa e rica de sensibilidade, já a partir dos anos da formação presbiteral ele enfrentou uma ascese exigente, alimentada pela oração quotidiana, para dominar a sua índole exuberante e para se identificar em maior medida com Cristo. No Regulamento de vida, ele quis escrever: "O elemento fulcral da minha vida espiritual será o abandono, completo e absoluto, no Coração de Jesus". Esta confiança total em Cristo encontra o seu cerne e a sua essência na Eucaristia e configura-se como uma "oblação" incondicional a Deus e aos irmãos.

Desta premissa deriva, na experiência do Padre Francesco Mottola, uma síntese harmónica entre contemplação e acção, inseparáveis entre si, em conformidade com o conhecido princípio: "Contemplare et contemplata aliis tradere". O paradigma deste itinerário espiritual é a Virgem Maria, a quem o vosso Fundador recorria com confiança filial, imitando-a tanto na "contemplação" como no "serviço" e indicando aos seus Oblatos esta integração perfeita como uma verdadeira e própria "santidade social", uma forma de apostolado eficaz para os nossos tempos.

Esta elevada espiritualidade que, sem dever renunciar ao primado da contemplação, vos impele a viver os conselhos evangélicos no mundo e a ir ao encontro das necessidades dos irmãos, não podia deixar de ser fecunda de iniciativas e de actividades em benefício dos pobres e dos mais necessitados. Formulo votos de coração, a fim de que as celebrações centenárias constituam um vigoroso estímulo para todos vós, para aprofundardes e difundirdes o tesouro de espiritualidade e de apostolado que este amado Servo de Deus vos deixou como herança.

3. Agora, desejo dirigir-me de maneira particular a vós, estimados Sacerdotes do Sagrado Coração, que estais a viver a vossa identidade de Presbíteros diocesanos no espírito e segundo os ideais do Padre Francesco Mottola. Com o vosso testemunho pessoal e com o vosso apostolado, difundi os grandes valores que o Fundador vos transmitiu. Sabei ser, recorrendo a uma sua imagem sugestiva, os "cenobitas" ao longo do caminho. Ele gostava de repetir: "O apostolado efectivo pelo qual rejeitámos a cela e decidimos perambular pelas estradas do mundo descende da plenitude da contemplação: como dos montes cheios de neve, a força dos rios, que contudo voltam para o mar, desejosos do azul, a fim de serem novamente absorvidos pelo sol".

Dirijo-vos uma palavra de afecto e de encorajamento também a vós, queridas Oblatas do Sagrado Coração. Seguindo os ensinamentos do Padre Francesco Mottola, expressais a vossa abnegação total a Deus e aos irmãos que sofrem, não na solidão do claustro, mas na vida frequentemente frenética do mundo, harmonizando oração e acção, busca de Deus e testemunho da caridade. Amai e conservai ciosamente este vosso carisma para o bem da Igreja e da sociedade. O vosso Fundador recorda-vos que deveis "buscar a perfeição espiritual mediante a oração contemplativa e o apostolado: permanecer no mundo para estar mais prontas a ouvir a voz do sofrimento e da solidão".

Também vós, estimados Oblatos Leigos, deveis saber ser testemunhas daquela contemplação a que cada cristão, jovem ou adulto, solteiro ou casado é chamado, em conformidade com os deveres da sua própria condição de vida. Fortalecidos por esta espiritualidade, sereis capazes de renovar o ambiente que vos circunda, mediante oportunas iniciativas de oração, como por exemplo as chamadas "Sextas-Feiras de Corello", e de compromisso civil e social, como já fazeis em benefício de não poucos jovens desempregados.

Enfim, o meu pensamento dirige-se para as Consagradas do Sagrado Coração, a quem exorto a viver o carisma dos Oblatos na abnegação ao Senhor e aos irmãos, colaborando com generosidade para a vida e as actividades da comunidade paroquial e comprometendo-se na animação da vida familiar, para favorecer "a volta de Cristo para o seio das famílias".

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs, apesar da autonomia de cada um dos vossos grupos, a vossa Família espiritual vive em constante comunhão de ideais e promove iniciativas conjuntas. Prossegui com generosidade e clarividência ao longo deste caminho autenticamente evangélico e eclesial!
Sirva-vos de encorajamento o exemplo do Fundador, sempre pronto a seguir Cristo, inclusivamente quando teve de enfrentar longos anos de enfermidade, um autêntico calvário que serviu para aperfeiçoar a sua conformidade com Cristo crucificado. Ele gostava de repetir: "Usque ad sanguinem!". A sua imobilidade física não deteve mas, pelo contrário, tornou mais intensos e eficazes os raios da sua influência, assinalando profundamente as consciências e deixando uma herança espiritual ainda mais fecunda de bem.

Confio-vos todos vós aqui presentes à materna intercessão de Nossa Senhora da Roménia, singular Padroeira de Tropea, amada e venerada pelo Padre Francesco Mottola com afecto filial, e concedo do íntimo do coração uma especial Bênção Apostólica a todos os Oblatos e as Oblatas do Sagrado Coração, assim como a quantos encontrardes no vosso serviço quotidiano.




AO EMBAIXADOR DO CAZAQUISTÃO


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Segunda-feira, 17 de Setembro de 2001






Senhor Embaixador!

1. É com prazer que recebo Vossa Excelência, por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Cazaquistão junto da Santa Sé, e agradeço-lhe as suas cordiais palavras. Ficar-lhe-ia grato por se dignar transmitir a Sua Ex.cia o Sr. Nazarbaiev, Presidente da República, o meu agradecimento pelas cordiais saudações que me dirigiu.

2. Sinto-me feliz por visitar daqui a alguns dias o seu País e por estabelecer assim um contacto mais directo com as suas autoridades e os seus habitantes, na sua rica diversidade. Como Vossa Excelência realçou, vivem diversas etnias no solo do Cazaquistão, com culturas, línguas e religiões diferentes. Esta situação pluralista é um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade. É um desafio porque, como disse na minha mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1 de Janeiro de 2001, "em tempos passados, as diferenças entre as culturas foram frequentemente fonte de incompreensões entre os povos e motivo de conflitos e guerras" (n. 8). Por conseguinte, é oportuno que cada grupo particular se empenhe no respeito atento do outro, esforçando-se por conhecê-lo melhor, a fim de superar eventuais tensões.

Formar juntos uma comunidade nacional, enriquecida pelas diversidades de cada um, é também uma oportunidade. Isto pressupõe que se aprenda a viver na união de uns com os outros, o que "não pode significar nunca redução à uniformidade ou então forçada homologação ou assimilação; mas é expressão da convergência de uma multiforme variedade, tornando-se, por conseguinte, sinal de riqueza e promessa de crescimento" (ibid., n. 10). Oxalá o seu País, que festeja os dez anos de independência, prossiga o seu caminho pacífico rumo a este objectivo, preocupando-se cada vez mais com o diálogo entre as culturas, o desenvolvimento da colaboração com os Países vizinhos e a integração na comunidade internacional!

3. A diversidade cultural do seu País é acompanhada por uma grande diversidade religiosa e confessional, e Vossa Excelência, Senhor Embaixador, insistiu acerca da importância que o seu Governo atribui a este pluralismo religioso, ao diálogo entre as diversas religiões, bem como à dimensão espiritual da vida do homem que elas exprimem. A este propósito, alegro-me pelas boas relações que existem entre a Santa Sé e o seu País, e pelos acordos que garantem os direitos e deveres da comunidade católica que vive no Cazaquistão, bem como pelas obrigações do Estado em relação a ela. De facto, num estado de direito, a liberdade religiosa é um bem precioso, expressão da dignidade fundamental da pessoa humana que escolhe livremente, de acordo com a própria consciência, a religião à qual deseja aderir. Não há dúvida de que uma liberdade como esta convida as pessoas e as comunidades religiosas a concorrer para o bem comum, no respeito de cada um e no âmbito das leis do País. Faço votos por que o Cazaquistão encontre nesta rica diversidade um sólido fundamento para o seu progresso humano e espiritual.

4. Através de Vossa Excelência, sinto-me feliz por saudar a comunidade católica, os seus Pastores e fiéis, com os quais terei a alegria de me encontrar brevemente em várias ocasiões. Exorto-os a formar comunidades vivas e fraternas, testemunhando as riquezas do Evangelho, preocupando-se com o diálogo com todos os seus irmãos. Sei que já participam activamente, com todos os seus concidadãos, na vida da nação e no desenvolvimento material e espiritual. Permita que me dirija, através de Vossa Excelência, a quantos, autoridades civis e religiosas, se empenharam generosamente na preparação da minha viagem. Agradeço-lhes de coração!

5. Senhor Embaixador, Vossa Excelência inicia hoje a nobre missão de representante do seu País junto da Santa Sé. Digne-se aceitar os votos mais cordiais que formulo para o seu feliz êxito e tenha a certeza que encontrará sempre nos meus colaboradores a compreensão e o apoio necessários! Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, sobre todos os seus colaboradores e concidadãos, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


AOS PARTICIPANTES NO


CAPÍTULO GERAL DA FAMÍLIA MARISTA





1. Saúdo com alegria todos os representantes da Família marista, nesta feliz ocasião que faz coincidir os capítulos gerais dos vossos quatro Institutos e que permite a vossa visita comum ao Sucessor de Pedro. Seja-nos permitido ver nisso como que um sinal do Espírito e um apelo a deixar-vos conduzir pelos caminhos de uma comunhão cada vez maior e de uma colaboração cada vez mais intensa! Agradeço ao Pe. Joaquim Fernandez, Superior-Geral da Sociedade de Maria, as suas palavras amigas que reflectem o espírito em que viveis os vossos capítulos, as vossas raízes marianas e o vosso cuidado missionário.

2. Escolhestes na Igreja a vida de consagrados, à imitação de Maria, na fidelidade às intuições dos vossos fundadores e ao carisma dos vossos Institutos. Os vossos predecessores dedicaram-se à evangelização nas paróquias, à educação das crianças e à promoção da mulher. Depois, comprometeram generosamente toda a Família marista no anúncio do Evangelho aos povos da Oceânia oriental, assinalando esta obra com a sua marca: de modo especial a educação com zelo cristão e o cuidado pelas vocações locais. A Igreja aceita hoje com reconhecimento o trabalho missionário realizado e os dons da graça de Deus manifestados na vida dos vossos Institutos. Ela reconheceu estes dons de maneira particular como frutos de santidade em São Pedro Chanel e São Marcelino Champagnat.

3. Hoje, compete-vos manifestar de uma maneira original e específica a presença da Virgem Maria na vida da Igreja e dos homens e, para isso, desenvolver uma atitude mariana. Esta caracteriza-se por uma alegre disponibilidade aos apelos do Espírito Santo, por uma confiança inabalável na Palavra do Senhor, por uma caminhada espiritual em relação com os diferentes mistérios da vida de Cristo e por uma maternal atenção às necessidades e sofrimentos dos homens, especialmente dos mais pequenos. "A relação filial com Maria constitui o caminho privilegiado para a fidelidade à vocação recebida e uma ajuda muito eficaz para nela progredir e vivê-la em plenitude" (Vita consecrata VC 28). É, pois, voltando-vos para Maria com fidelidade e coragem, deixando-vos guiar por ela para "fazer tudo o que vos disser" (cf. Jo Jn 2,5), que vós encontrareis os caminhos novos para a evangelização do nosso tempo.

4. Pondo-se a caminho, às pressas, rumo às montanhas da Judeia, para ir ao encontro de sua prima Isabel, não nos ensina porventura Maria a liberdade espiritual? Com efeito, é importante que não vos deixeis monopolizar unicamente pela gestão da herança do passado, mas discernir o que convém deixar, com um espírito de pobreza e sobretudo com a liberdade evangélica que nos torna disponíveis aos apelos do Espírito. Diante da multiplicidade das solicitações, é precisa, efectivamente, uma verdadeira liberdade para discernir as urgências. "Faz-te ao largo!"; estas palavras de Jesus a Pedro convidam-nos a "seguir em frente, com esperança" sobre os caminhos do mundo, seguros de que "neste caminho, nos acompanha a Virgem Santíssima" (cf. NMI, 58).

5. Maria deu-se totalmente ao Senhor, dando confiança em tudo à palavra de Deus. Como não vos ensinaria ela a permanecer na força desta palavra, a escolher, como a outra Maria, a melhor parte (cf. Jo Jn 10,42)? No mundo de hoje, a dispersão espreita facilmente os discípulos de Cristo, porque a abundância dos bens materiais pode desviá-los do essencial e são múltiplas as solicitações pastorais. Como escrevi recentemente a toda a Igreja, temos necessidade de contempalr o rosto de Cristo (cf. Novo millennio ineunte, 2), de tentar aprofundar cada vez mais o seu mistério, porque ele é a verdadeira fonte onde beber o amor que nós quereríamos comunicar. Não deixeis desprender este laço essencial de consagração a Cristo! Escolhei antes pôr-vos humildemente na companhia do Senhor, à maneira discreta de Maria! Trabalhai com ela para fazer a unidade da vossa vida no Espírito porque, como lembra São Francisco de Sales, "uma das condições requeridas para receber o Espírito Santo será estar com Maria" (Sermão 1 para o Pentecostes), e deixai-vos configurar cada vez mais com Cristo! Então, a vossa vida e a vossa missão encontrarão o seu significado profundo e produzirão frutos para os homens e mulheres de hoje!

6. Guardai viva a tradição missionária da vossa Família! Com Maria, ela leva-vos a estar particularmente atentos às angústias dos nossos contemporâneos, daqueles que, nas nossas sociedades modernas, estão privados de dignidade, de reconhecimento e de amor.

A Igreja tem necessidade de vós, particularmente num domínio essencial para a Família marista: a educação das crianças e dos jovens. Esta prioridade missionária enraíza-se no espírito de Maria, mãe e educadora de Jesus em Nazaré, e mais tarde na primitiva comunidade cristã. O mundo da educação é difícil e exigente, pedindo sem cessar aos educadores que se adaptem aos jovens e às suas novas expectativas. Não vos deixeis desencorajar pelas dificuldades do momento, as da idade que aparentemente vos afasta dos mais jovens, a da falta de meios e, sobretudo, de operários para trabalhar na vinha! Olhai antes os jovens com os olhos do Bom Pastor, como uma multidão que caminha sem pastor (cf. Mt Mt 9,36), mas também este campo que se torna dourado para a ceifa e que dará fruto no tempo desejado (cf. Jo Jn 4,35-38)! Formai igualmente os leigos que trabalham convosco, a fim de que vivam o carisma que vos anima. Durante a vossa existência, sois chamados a fazer descobrir aos jovens a alegria que há em seguir a Cristo na vida consagrada. Não tenhais medo de propor esta caminhada à juventude em procura da verdade!

7. Os capítulos gerais que estais a viver valorizam a fidelidade ao espírito fundador, mas também a renovação necessária, conservando e enriquecendo o património espiritual dos Institutos. Que eles vos ajudem a encontrar os novos sinais da comunhão entre os vossos quatro Institutos, a reforçar uma colaboração que dará frutos para a realização fiel da vossa missão! A Virgem Maria vos oriente ao longo destes caminhos de encontro!

8. É com estes sentimentos que me sinto feliz por vos saudar a vós, por meio de vós, os membros da grande Família marista, espalhados pelo mundo nos seus vários apostolados. Saúdo em particular, e com gratidão, os vossos superiores, o Pe. Joaquim Fernandez, o Ir. Bento Arbués, a Ir. Gail Rencker e a Ir. Patrícia Stowers, que nestes últimos anos desempenharam o difícil serviço da autoridade nos vossos Institutos. Os meus votos vão também para os seus sucessores, que serão eleitos muito em breve, para que, a exemplo de Maria, conduzam com audácia e fidelidade a Família marista nos caminhos do novo milénio!

Confiando-vos a Nossa Senhora de Fourvière, que viu nascer os vossos Institutos, concedo-vos de boa vontade uma particular Bênção apostólica, assim como a toda a Família marista.

Castelgandolfo, 17 de Setembro de 2001.




AOS MEMBROS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA


NICARÁGUA EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 21 de Setembro de 2001






Queridos Irmãos no Episcopado

1. Neste encontro conclusivo da vossa visita "ad limina Apostolorum", sinto a alegria de compartilhar convosco a mesma fé em Jesus Cristo ressuscitado, que acompanha o nosso caminho e que está vivo e presente nas comunidades confiadas à vossa solicitude pastoral. Dirijo também a minha afectuosa saudação às Igrejas diocesanas, a que presidis com tanta dedicação e generosidade.

Desejo exprimir a minha gratidão ao Senhor Cardeal Miguel Obando Bravo, Arcebispo de Manágua e Presidente da Conferência Episcopal, pelas amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos. Ao mesmo tempo, associo-me às vossas preocupações e anseios, pedindo a Deus, rico em misericórdia, que esta visita a Roma seja fonte de bênçãos para todos os sacerdotes, religiosos, religiosas e agentes pastorais que colaboram abnegadamente convosco no trabalho apostólico, no meio do querido povo nicaraguense.

O encontro de hoje faz-me recordar a segunda visita pastoral à Nicarágua em Fevereiro de 1996, por mim tão desejada, quando fui à vossa Pátria como apóstolo do Evangelho e peregrino de esperança. Foi a ocasião para um novo encontro, mais autêntico e livre, dos católicos nicaraguenses com o Papa.

2. Apraz-me conhecer a projecção pastoral que foi dada aos Sínodos diocesanos de Manágua e de Estelí, e saber, além disso, que as outras dioceses se estão a preparar para iniciativas semelhantes. A celebração destas assembleias ajuda cada Igreja particular a tomar consciência de que se encontra em perene estado de missão e deve estimular à nova evangelização, incrementando a formação cristã de todos os seus membros e tendo também em consideração a promoção humana. De facto, empreender uma catequese renovada e incisiva que ilumine a fé professada, assim como fomentar uma liturgia mais participada que ajude a vivê-la e a celebrá-la de todo o coração, são desafios iniludíveis para que todos os crentes caminhem rumo à santidade e para aproximar do Evangelho todos os que se afastaram ou são indiferentes à mensagem de salvação.

A Igreja sente-se interpelada continuamente pelo mandato de Jesus Cristo de anunciar o Evangelho a todas as criaturas (cf. Mc Mc 16,15), que deve empenhar as forças vivas de cada Igreja particular para que o anúncio chegue a todos os âmbitos da vida humana. Por isso, a mensagem deve ser clara e precisa: o anúncio explícito e profético do Senhor ressuscitado, realizado com a "ousadia" apostólica (cf. Act Ac 5,28-29 Redemptoris missio, RMi 45), de maneira que a palavra de vida se converta numa adesão pessoal a Jesus, Salvador do homem e do mundo. Com efeito, "urge recuperar e repropor o verdadeiro rosto da fé cristã, que não é simplesmente um conjunto de proposições a serem acolhidas e ratificadas com a mente. Trata-se, antes, de um conhecimento existencial de Cristo, uma memória viva dos seus mandamentos, uma verdade a ser vivida" (Veritatis splendor, VS 88).

3. O vosso ministério pastoral deve ter por objectivo primordial fazer com que a verdade sobre Cristo e sobre o homem penetrem ainda mais profundamente todas as camadas da sociedade nicaraguense e a transformem, porque "não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o Reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados" (Evangelii nuntiandi, EN 22). Só desta forma se poderá realizar uma evangelização "em profundidade e isto até às suas raízes" (ibid., 20).

Esta obra, não sem dificuldades, desenvolve-se entre um povo que possui um coração nobre, um espírito aberto e acolhedor da Boa Nova das Bem-Aventuranças. Sem dúvida, também na Nicarágua se sentem os sintomas de um processo de secularização no qual, para muitos, Deus já não representa a origem e a meta, nem o sentido último da vida. Mas, no fundo, este povo, como bem sabeis, tem uma alma profundamente cristã. Dão provas disto as comunidades eclesiais vivas e operantes, onde tantas pessoas, famílias e grupos, não obstante a escassez dos sacerdotes, se esforçam por viver e dar testemunho da sua fé. Neste sentido, merece ser mencionado o trabalho incansável dos Delegados da Palavra e dos Catequistas, que mantiveram viva a fé do povo. É necessário acompanhá-los e oferecer-lhes uma formação teológica e pastoral permanente. Esta prometedora realidade faz ter esperança de que surjam novos apóstolos que respondam "generosa e santamente aos apelos e desafios do nosso tempo" (Redemptoris missio, RMi 92).

4. A nova evangelização, com os seus novos métodos e novas expressões, tem na família um objectivo primordial. Nas Conclusões da Conferência de Santo Domingo afirmava-se que "a Igreja anuncia com alegria e convicção a boa nova sobre a família na qual é forjado o futuro da humanidade" (n. 210). A família é a "igreja doméstica", sobretudo quando é fruto das comunidades cristãs vivas, que formam jovens com uma autêntica vocação para o sacramento do matrimónio.

As famílias não se encontram sozinhas perante os grandes desafios que devem enfrentar; a comunidade eclesial apoia-as, anima-as na fé e salvaguarda a sua perseverança num projecto cristão de vida, muitas vezes submetido a numerosas vicissitudes e perigos.

Desta forma, a Igreja faz com que a família constitua um âmbito onde a pessoa nasce, cresce e se educa para a vida, e onde os pais, amando com ternura os seus filhos, os vão preparando para sadias relações interpessoais que encarnem os valores morais e humanos no meio de uma sociedade tão marcada pelo hedonismo e pela indiferença religiosa.

Ao mesmo tempo, a Comunidade eclesial, em colaboração com os organismos públicos da Nação, procurará preservar a estabilidade da família e favorecer o seu progresso espiritual e material, o qual será em benefício de uma melhor formação dos filhos para a sociedade. Por isso, é desejável que as Autoridades do vosso amado País cumpram cada vez mais adequadamente as suas prementes obrigações em favor das famílias. Realcei isto na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1994: "A família tem o direito de receber todo o apoio do Estado para realizar plenamente a sua missão peculiar" (n. 5).

Não ignoro as dificuldades que a instituição familiar encontra também na Nicarágua, sobretudo em relação ao drama do divórcio e do aborto, bem como da existência de uniões que não estão de acordo com o desígnio do Criador acerca do matrimónio. Esta realidade é um desafio que deve estimular o zelo apostólico dos Pastores e de quantos colaboram com eles neste campo.

5. Uma das vossas principais preocupações são as vocações sacerdotais, visto que o número de presbíteros é insuficiente para as necessidades de cada diocese. Como assinalei na abertura da IV Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano, "condição indispensável para a nova Evangelização é poder contar com evangelizadores numerosos e qualificados. Por isso, a promoção das vocações sacerdotais e religiosas... há-de ser uma prioridade dos Bispos e um compromisso de todo o Povo de Deus" (Discurso inaugural, Santo Domingo, 12/10/1992, n. 26; ed. port. de 18/10/1992, pág 14).

Peço fervorosamente ao dono da messe para que aos vossos seminários, que devem ser o coração das Dioceses (cf. Optatam totius, OT 5), cheguem numerosos candidatos ao sacerdócio que, um dia, possam servir os seus irmãos como "ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus" (1Co 4,1). Além de lhes proporcionar uma formação integral, é requerido um discernimento profundo acerca da idoneidade humana e cristã dos seminaristas, para garantir, da melhor forma possível, o digno desempenho do seu futuro ministério. Permiti-me que, através de vós, eu lhes envie uma afectuosa saudação. Dizei-lhes que o Papa espera muito deles, confiando na sua generosidade e fidelidade à chamada do Senhor.

A escassez de pessoas empenhadas no apostolado obriga a reforçar ainda mais os vínculos de caridade entre o Bispo e os seus sacerdotes, porque "a fisionomia do presbitério é a de uma verdadeira família" (Pastores dabo vobis, PDV 74). Por conseguinte, deve ser feito o possível a fim de organizar o presbitério como "fraternidade sacramental" (Presbyterorum ordinis, PO 8), que reflicta a vida dos Apóstolos com Jesus, tanto no seguimento evangélico como na missão. Se os jovens virem que os presbíteros, à volta do seu Bispo, vivem uma verdadeira espiritualidade de comunhão, dando testemunho de união e de caridade entre si, de generosidade evangélica e de disponibilidade missionária, sentir-se-ão mais atraídos pela vocação sacerdotal. Por isso, é da máxima importância que o Bispo preste uma atenção particular aos seus principais colaboradores, sobretudo aos sacerdotes, sendo equitativo no seu comportamento com eles, próximo das suas necessidades pessoais e pastorais, paternal nas suas dificuldades e animador constante das suas actividades e desvelos.

6. No vosso ministério episcopal, muitos destes desafios pastorais estão estreitamente relacionados com a evangelização da cultura. É importante favorecer um ambiente cultural propício, que facilite a promoção dos valores humanos e evangélicos em toda a sua integridade. Para isso, é preciso "modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação" (Evangelii nuntiandi, EN 19).

O âmbito da cultura é um dos "areópagos modernos", no qual se deve fazer presente o Evangelho com toda a sua força (cf. Redemptoris missio, RMi 37), e para isto não se pode prescindir dos meios de comunicação social. A rádio, as produções televisivas, os vídeos e as redes informáticas podem ser de grande utilidade para uma ampla difusão dos valores do Evangelho.

No que se refere às escolas e à Universidade Católica, é necessário que estas instituições mantenham bem definida a sua própria identidade, pois disso depende, em grande medida, que a cultura da vossa Nação seja vivificada pelos valores evangélicos. A respeito disto, é desejável que as instituições de inspiração cristã promovam realmente a civilização do amor, sejam factores de reconciliação e fomentem a solidariedade e o desenvolvimento, manifestando abertamente a primazia da beleza, do bem e da verdade.

7. Esta tarefa compete sobretudo aos leigos, porque é própria da sua missão "a restauração da ordem temporal e agir nela de modo directo e concreto, guiados pela luz do Evangelho e pelo pensamento da Igreja e impelidos pela caridade cristã" (Apostolicam actuositatem, AA 7). Por isso, é necessário proporcionar-lhes uma formação religiosa adequada, que os prepare para enfrentar os numerosos desafios da sociedade actual.

Compete-lhes promover os valores humanos e cristãos que iluminem a realidade política, económica e cultural do País, com a finalidade de instaurar uma ordem social mais justa e equitativa, segundo a Doutrina Social da Igreja. Ao mesmo tempo, em coerência com as normas éticas e morais, devem dar exemplo de honestidade e de transparência na gestão das suas actividades públicas, perante a oculta e difundida chaga da corrupção, que por vezes atinge as áreas do poder político e económico, bem como outros âmbitos públicos e sociais.

Os leigos, individual ou legitimamente associados, devem ser o fermento no meio da sociedade, agindo na vida pública para iluminar com os valores do Evangelho os diversos âmbitos onde se forja a identidade de um povo. Através das suas actividades diárias, devem "dar testemunho de como a fé cristã... seja a única resposta plenamente válida para os problemas e as esperanças que a vida põe a cada homem e a cada sacerdote" (Christifideles laici, CL 34). A sua condição de cidadãos, seguidores de Cristo, não os deve levar a conduzir "duas vidas paralelas: por um lado, a vida chamada "espiritual", com os seus valores e exigências; e, por outro, a chamada vida "secular", ou seja, a vida da família, do trabalho, das relações sociais, do empenhamento político e da cultura" (ibid., 59). Ao contrário, devem esforçar-se para que a coerência entre a sua vida e a sua fé seja um eloquente testemunho da verdade da mensagem cristã.

Isto requer agora uma particular atenção na eminência das próximas eleições gerais no vosso País. A respeito disto, como Pastores das vossas Comunidades eclesiais, publicastes a Exortação "Foi para a liberdade que Cristo nos libertou" (Ga 5,1), na qual convidais toda a nação a exercer sem hesitações o direito e o dever do voto, pensando no bem da Nação. De igual modo, orientai-la com grande êxito a fazer opções democráticas que garantam "a concepção cristã do homem e da sociedade, a qual "passa inevitavelmente pelos direitos fundamentais da pessoa", em todos os seus aspectos (n. 8), perante qualquer forma de "totalitarismo visível ou oculto" (n. 15). Faço sentidos votos para que a mencionada consulta popular se realize no respeito recíproco, com ordem e tranquilidade, segundo os princípios éticos de sadia convivência civil.

8. Juntamente convosco, desejo confiar todas estas propostas e anseios à Puríssima Conceição, título com que honrais a vossa Mãe e Padroeira da Nação, para que continue a acompanhar-vos na vossa obra pastoral. Confio à sua intercessão as minhas orações e ao mesmo tempo concedo-vos a minha Bênção apostólica, que de coração faço extensiva às vossas Igrejas particulares, aos seus sacerdotes, comunidades religiosas e pessoas consagradas, bem como aos fiéis católicos da Nicarágua.



MENSAGEM DO SANTO PADRE

AOS PARTICIPANTES NO PRIMEIRO

CONGRESSO INTERNACIONAL DOS


INSTITUTOS FRANCISCANOS DE ENSINO




Frei Giacomo Bini
Ministro-Geral da Ordem dos Franciscanos Menores

1. É com alegria que vos dirijo a minha saudação, por ocasião do primeiro Congresso Internacional dos Reitores das Universidades e dos Directores dos Centros de Investigação Franciscanos, organizado pela Secretaria Geral para a Formação e os Estudos da vossa Família religiosa. O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, a Frei Giacomo Bini, Ministro-Geral da Ordem, e aos responsáveis das diversas Entidades académicas presentes. Em seguida, faço extensiva a minha saudação afectuosa a toda a Ordem dos Frades Menores.

Encontrando-me convosco, volta-me à mente a fé simples e iluminada de Francisco, que o levou a prometer "obediência e respeito ao Senhor Papa Honório, aos seus Sucessores canonicamente eleitos e à Igreja romana" (São Francisco, Regra Selada, I, 3), não menos do que aos "sacerdotes pobrezinhos deste mundo, nas Paróquias em que residem" (São Francisco, Testamento, 9).
Depois que o próprio Altíssimo lhe revelou que devia viver em conformidade com o santo Evangelho (cf. ibid., 17), ele sentiu a necessidade de realizar uma visita ao Sucessor de Pedro, para que o confirmasse na sua decisão. Hoje também vós, que desejais aprofundar e actualizar o vosso património cultural, filosófico e teológico, desejais receber uma palavra de encorajamento daquele que a Providência divina destinou para a orientação da Igreja de Cristo.

É de muito bom grado que reitero tudo quanto disse por ocasião do Capítulo Geral da vossa Ordem em 1991, voltando a chamar de maneira especial a vossa atenção para a formação intelectual, em que é preciso ver uma exigência fundamental da evangelização. O antigo lema "fides quaerens intellectum, intellectus quaerens fidem" é sempre actual. Uma fé autêntica procura o conhecimento dos mistérios, assim como um sadio exercício da inteligência é largamente beneficiado pela luminosidade da fé. Com efeito, somente uma fé inteligente, consciente de si mesma e das suas motivações, pode fundamentar de maneira adequada a opção de viver em conformidade com o Evangelho. Apenas um estudo iluminado da fé, desejoso de conhecer a Deus de modo cada vez mais profundo, pode levar ao encontro com Cristo, dar solidez à vocação e preparar para a missão. Por conseguinte o estudo, segundo quanto afirma a Ratio studiorum, é "fundamental na vida e na formação, tanto permanente como inicial, de cada um dos Frades Menores" (n. 3).

2. Já a partir dos primeiros tempos da vossa história, a fé que busca amorosamente o conhecimento dos mistérios divinos ocupou a mente e a vida de teólogos eminentes, como São Boaventura e o Beato João Duns Escoto, enquanto grandes pregadores populares, como Santo António de Pádua e São Bernardino de Sena, beberam constantemente nas fontes da Teologia, ciência eclesial por excelência.


Discursos João Paulo II 2001 - Sábado, 15 de Setembro de 2001