Discursos João Paulo II 1979 - Sexta-feira, 6 de Abril de 1979

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO DA UNEBA


Sábado, 7 de Abril de 1979



Senhor Presidente
e vós todos que participais no VIII Congresso Nacional
das Entidades de Beneficência e Assistência

Invade-me o espírito um sentimento de vivo prazer e consolação ao encontrar-me esta manhã, pela primeira vez, convosco, reunidos em Roma para discutir importantes problemas que interessam a vossa Associação; esta, como nos consta, trabalha há quase 30 anos no campo da caridade, representando, tutelando e promovendo as iniciativas assistenciais de todas as entidades de inspiração católica, que se empenham em valer às necessidades de todos os cidadãos em graves condições de mal-estar moral, material e social. Obra multiforme, irrenunciável e providencial a vossa, que abraça todos os sectores da caridade, que não tem limites ou tem apenas os ilimitados e universais limites do sofrimento humano. E bem conhecida a importância, a validez e a actualidade da vossa instituição, que opera em relação com a Conferência Episcopal Italiana e utiliza a colaboração de vários organismos católicos, que operam no sector da assistência social.

Embora a assistência pública vá pouco a pouco chamando a si encargos desempenhados durante séculos pela caridade da Igreja, e embora a sociedade moderna procure satisfazer de maneira institucional e orgânica certas exigências de previdência e de assistência, a acção assistencial e beneficente da Igreja nada perdeu no mundo contemporâneo da sua função que é insubstituível.

A caridade será sempre necessária, como estimulo e remate da própria justiça; e para a Igreja continuar sem restrições no tempo a ser o sinal do seu testemunho e da sua credibilidade (Cfr. Jo Jn 13,35).

Mantende-vos bem convencidos da necessidade do vosso trabalho, do direito e dever que tendes de o realizar; trabalho que vós querereis realizar incansavelmente, defendendo-lhe o sentido, a urgência e o livre exercício; aperfeiçoando-lhe os métodos e os serviços; epenhando-vos também nele num esforço harmónico e unitário, de maneira que as várias instituições assistenciais, sem perderem a sua natureza e autonomia, consigam trabalhar em espírito de sincera colaboração entre si, de maneira que facilitem as oportunas e eficazes intervenções das autoridades públicas e uma legislação adequada.

Nestes últimos tempos tem a Igreja repetidamente manifestado a própria doutrina em matéria de assistência social, mesmo à luz de tudo o que o Concílio Ecuménico Vaticano II expressou acerca da acção caritativa dos cristãos no decreto Apostolicam Actuositatem sobre o apostolado dos leigos. Julgo útil recordar diante de vós alguns princípios fundamentais de tal doutrina.

Primeiramente, é preciso afirmar que o centro e a unidade de medida, de qualquer sistema de assistência social, é a pessoa humana, a sua dignidade, os seus direitos e deveres; pessoa humana, que deverá receber da sociedade os auxílios que são necessários para o seu desenvolvimento e a sua realização. No plano jurídico, concretiza-se tal afirmação no direito do cidadão à assistência, direito que toda a ordenação moderna estatal não pode deixar de reconhecer expressamente.

Convém declarar que não basta o reconhecimento teórico deste direito, mas é necessário que ele se torne efectivamente operante por meio duma organização adequada de serviços sociais, promovidos e administrados por todos quantos são chamados a realizar o bem comum da sociedade.

A este respeito, é útil insistir em que a realização do bem comum no campo da assistência, como em qualquer outro sector da vida associativa, é ao mesmo tempo encargo dos poderes públicos, dos corpos intermédios, das instituições e associações livres e das famílias e das pessoas individualmente consideradas; todos juntos devem colaborar para garantir ao cidadão tudo quanto lhe é necessário para sair da condição de necessidade em que se encontra, e para melhor realizar e desenvolver a sua mesma personalidade humana. Deste modo e com o auxílio de todos, realiza-se na sociedade aquela justa harmonização entre iniciativas públicas e iniciativas privadas, capazes de assegurar, a todas as energias, o espaço justo de acção.

A coordenação oportuna das iniciativas assistenciais públicas e privadas, capaz de garantir um sistema harmónico de segurança social, pode hoje realizar-se graças ao moderno instrumento da programação territorial, regional e nacional, contanto que esta seja verdadeiramente democrática, isto é, contanto que todos os interessados — assistentes sociais, públicos e particulares, e também os próprios assistidos possam oferecer o seu livre contributo na elevada perspectiva do bem comum.

Em especial, no que diz respeito à Igreja, a possibilidade de promover iniciativas assistenciais apresenta-se como elemento não secundário da liberdade religiosa, porque as obras de caridade, nas suas múltiplas formas, são exigência fundamental e original da fé cristã, como testemunha a história milenária do Cristianismo, que é também a história da caridade. Assim se exprime, de facto, o citado decreto conciliar sobre o apostolado dos leigos: "Uma vez que todo o exercício de apostolado deve proceder da caridade e receber dela a sua força, algumas obras, por sua própria natureza, são aptas para se tornarem expressão viva da mesma caridade, as quais foram escolhidas por Cristo para serem sinais da sua missão messiânica" (Apostolicam Actuositatem AA 8).

Baseando-se nesta doutrina, o mesmo Concílio Ecuménico afirma no mesmo documento que "a Santa Igreja... em todo o tempo se conhece por este sinal de amor; e, alegrando-se com os empreendimentos dos outros, reivindica as obras de caridade como seu direito e dever, a que não pode renunciar" (Idem, 8).

A luz destes princípios, desejo estimular a benemérita acção que a vossa União desenvolve há cerca de 30 anos apoiando todas as instituições livres de assistência e beneficência, entre as quais as promovidas pelo impulso caritativo dos cristãos formam na Itália parte notabilíssima.

Procedendo assim, não só desenvolveis, no plano cívico, um pluralismo mais vasto dentro das instituições livres que formam o tecido conjuntivo duma sociedade verdadeiramente. democrática, verificando-se nela a participação responsável dos cidadãos em ordem a conseguirem o bem comum, mas favoreceis ao mesmo tempo os direitos próprios do homem e das suas liberdades, e nomeadamente da liberdade religiosa, que assume no nosso tempo especial valor e significado, pois qualifica a própria ordenação política duma sociedade.

Exorto-vos portanto vivamente a que não vos canseis, não vos deixeis vencer pelas dificuldades, mas progridais e avanceis com a mesma dedicação e a mesma coragem e com maior amor a Cristo e à sua Igreja.

Com tal confiança, abençoo-vos afectuosamente, abençoo as instituições que representais e as pessoas que nelas desenvolvem a sua actividade e as que são por vós assistidas, implorando para todos o conforto dos auxílios celestiais.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE SEIS MIL ESTUDANTES


PARTICIPANTES DO CONGRESSO


UNIVERSITÁRIO MUNDIAL


10 de Abril de 1979



Caríssimos irmãos e irmãs

Graças às palavras do Presidente do vosso Congresso universitário, traçastes-me um substancioso resumo das finalidades destes dias que estais passando em Roma e falastes-me das aspirações e dos ideais de que ardem os vossos corações.

Agradeço-vos sinceramente as expressões de afecto que me dedicais e ao meu universal ministério de Sucessor de Pedro.

Sei que estais aqui em representação de nada menos de 217 Universidades de todo o mundo, e já isto é sinal positivo da universalidade da fé cristã, embora esta nem sempre tenha vida fácil. Conheço bem, de facto, as inquietações do mundo universitário, mas conheço também o vosso juvenil empenho de assumir pessoalmente a responsabilidade que vos entrega Cristo: serdes testemunhas d'Ele nos ambientes em que, por meio do estudo, se elaboram a ciência e a cultura.

Nestes dias, reflectis vós sobre os esforços que no mundo se estão a realizar com o fim de desenvolver a unidade e a solidariedade entre os povos. Com razão vos perguntais sobre que valores devem basear-se tais esforços, para não caírem no perigo da retórica de palavras vazias. E perguntais-vos, ao mesmo tempo, em nome de que ideais é possível irmanar deveras culturas e povos tão diversos como, por exemplo, os que vejo aqui representados por vós.

Já me conforta, por isto, descobrir nos vossos olhares o desejo de procurar em Cristo a revelação do que Deus diz ao homem e de como deve o homem responder a Deus.

Aí está, caríssimos, o ponto central: devemos olhar para Cristo com toda a nossa atenção. Sabemos que o desígnio de Deus é recapitular n'Ele todas as coisas (Ep 1,10), mediante a singularidade da sua pessoa e do seu destino salvífico de morte e de vida. Precisamente nestes dias, em que revivemos a sua bem-aventurada Paixão, tudo isto se torna mais evidente: Cristo mostra-se-nos, na verdade, com feições ainda mais semelhantes às da nossa débil natureza de homens. A Igreja aponta-nos para Jesus levantado na Cruz, homem das dores que bem sabe o que é sofrer (Is 53,3), mas também ressuscitado dos mortos, sempre vivo a interceder em nosso favor (He 7,25).

Eis, portanto, aquele para quem o Papa vos convida a olhar: Cristo crucificado pelos nossos pecados e ressurgido para a nossa salvação (Cfr. Rom Rm 4,25), o qual se torna ponto de convergência universal e irresistível: Quando for elevado da terra, tudo atrairei a mim (Jn 12,32).

Sei que vós colocais a vossa esperança naquela cruz, que se tornou para nós todos «bandeira real» (Hino litúrgico da Paixão). Continuai a estar, cada dia e em todas as circunstâncias, impregnados pela sabedoria e pela força, que só da Cruz pascal vos vêm. Procurai tirar desta experiência energia sempre nova e purificadora. A Cruz é o ponto de força no qual nos apoiamos para serviço do homem, de maneira que transmitamos a tantíssimos outros a alegria imensa de sermos cristãos.

Nestes dias, ao contemplar Cristo levantado e cravado na Cruz, volta muitas vezes ao meu espírito a expressão que serve a Santo Agostinho para comentar a passagem do Evangelho de São João há pouco aludida: «O madeiro da Cruz a que tinham sido cravados os membros de quem morre, tornou-se a cátedra do Mestre que ensina» (Santo Agostinho, In lo. 119, 2). Reflecti: que voz, que mestre do pensamento pode fundar a unidade entre os homens e as nações, senão Aquele que, dando a própria vida, obteve para todos nós a adopção de filhos do mesmo Pai? Foi precisamente esta filiação divina, que nos conquistou Cristo na Cruz e que tornou real enviando o seu Espírito aos nossos corações, o único fundamento sólido e indestrutível da união duma humanidade remida.

Meus filhos, no vosso Congresso fizestes notar os sofrimentos e as contradições que desorganizam uma sociedade quando ela se afasta de Deus. A sabedoria de Cristo torna-vos capazes de chegar a descobrir a nascente mais profunda do mal que existe no mundo. E estimula-vos também a proclamar a todos os homens, vossos companheiros de estudo hoje e de trabalho amanhã, a verdade que aprendestes dos lábios do Mestre, isto é, que o mal provém «do coração dos homens» (Mc 7,21). Não bastam, portanto, análises sociológicas para levarem à justiça e à paz. A raiz do mal está no interior do homem. O remédio, por isso, vem ainda do coração. E — apraz-me repeti-lo — a porta do vosso coração só pode ser aberta por aquela Palavra grande e definitiva do amor de Cristo para connosco, que é a sua morte na Cruz.

É a ela que nos deseja Cristo levar: ao interior de nós. Todo este tempo que precede a Páscoa é convite constante para a conversão do coração. É esta a verdadeira sabedoria: initium sapientiae timor Domini (Si 1,16).

Caríssimos, tende pois a coragem do arrependimento; e tende também a coragem de ir buscar a graça de Deus à Confissão sacramental. É o que vos tornará livres. Dar-vos-á a força de que necessitais para as realizações que vos esperam, na sociedade e na Igreja, em serviço dos homens. Na verdade, o serviço autêntico do cristão mede-se com base na presença activa da graça de Deus nele e por meio dele. A paz no coração do cristão está, portanto, inseparavelmente unida à alegria, que em grego (cará), está etimologicamente próxima de graça (cáris). Todo o ensinamento de Jesus, inclusive a sua Cruz, tem precisamente esta finalidade: para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena (Jn 15,11). Quando ela faz que um coração se torne verdadeiramente cristão, infunde-se depois nos outros homens, gera neles esperança, optimismo e impulsos de generosidade na labuta quotidiana, contagiando a sociedade inteira.

Filhos meus, só tendo em vós esta graça divina, que é alegria e paz, podereis construir alguma coisa válida para os homens. Considerai, portanto, a vossa vocação universitária nesta magnífica perspectiva cristã. O estudo hoje, a profissão amanhã, tornam-se para vós caminho para encontrar a Deus e servir os homens vossos irmãos; tornam-se, quer dizer, caminho de santidade, como resumidamente se exprimia o caríssimo Cardeal Albino Luciani pouco antes de ser chamado a esta Sé de Pedro com o nome de João Paulo I: «Lá, bem no meio do caminho, no escritório e na fábrica, faz-se a gente santa, contanto que desempenhe o próprio dever com competência, por amor de Deus e alegremente; de maneira que o trabalho quotidiano se torne não 'o trágico quotidiano', mas quase 'o sorriso quotidiano'» (De Il Gazzettino de 25 de Julho de 1978)

Por fim, a Maria Santíssima, Sedes Sapientiae, que encontramos nestes dias iuxta crucem Iesu (Jn 19,25), recomendo que vos ajude a estardes sempre à escuta desta sabedoria, que vos dará a vós e ao mundo a alegria imensa de viver com Cristo.

E sempre e em qualquer ambiente em que vos encontreis a viver e a testemunhar o Evangelho, vos acompanhe a minha paternal Bênção Apostólica.



VIA-SACRA NO COLISEU


ALOCUÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


13 de Abril de 1979



1. Quando percorremos a Via-Sacra, de uma estação para a outra, com o nosso espírito nós estamos sempre presentes lá longe onde esta caminhada teve o seu lugar «histórico»: lá onde ela se verificou, ao longo das ruas de Jerusalém, desde o Pretório de Pilatos até à elevação do Gólgota, ou seja do Calvário, já fora dos seus muros.

Deste modo, também hoje, novamente lá estivemos com o nosso espírito, lá na Cidade do «grande Rei», o qual, como sinal da própria realeza, escolheu a coroa de espinhos em vez da coroa real, e a Cruz em lugar do trono.

Não tinha razão Pilatos quando, ao mostrá-lo ao povo que esperava de fora a sua condenação, em frente do Pretório para não se contaminarem e poderem comer a páscoa (Jn 18,28), disse, não «Eis aqui o rei», mas sim Eis aqui o homem (Jn 19,25)? E desse modo revelou qual era o programa do seu reino, que quer estar livre dos atributos do poder terrestre a fim de desvendar os pensamentos de muitos corações (Cf. Lc Lc 2,35) e a fim de aproximar deles a Verdade e o Amor que provêm de Deus.

O meu reino não é deste mundo ... Para isto é que nasci e para isso é que vim ao mundo: para dar testemunho da verdade (Jn 18,36-37)

Este testemunho ficou a repercutir-se pelas esquinas das ruas de Jerusalém, e nas curvas da Via-Sacra—lá por onde Ele caminhou, onde caiu três vezes, onde aceitou a ajuda de Simão de Cirene e o lenço de Verónica e onde falou a algumas mulheres que choravam sobre Ele.

E ainda hoje nós estamos anelantes por este testemunho. Desejamos conhecer todos os seus pormenores. Seguimos os passos da Via-Sacra em Jerusalém e igualmente em muitos outros lugares do nosso globo; e todas as vezes se nos afigura estarmos a repetir a este Condenado: Para quem havemos nós de ir, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna (Jn 6,68).

2. Ao fazermos assim a Via-Sacra no Coliseu de Roma, nós estamos também a seguir as pegadas de Cristo, cuja Cruz se encontrava nos corações dos Seus mártires e confessores. Eles anunciavam Cristo crucificado qual potência de Deus e sabedoria de Deus (1Co 1,24). Unidos ao mesmo Cristo eles tomavam cada dia a Cruz (Cfr. Lc Lc 9,23), quando isso era necessário, como Ele morriam sobre a Cruz, ou então morriam nas arenas da antiga Roma, dilacerados pelas feras, queimados vivos, ou torturados. A potência de Deus e a sabedoria de Deus reveladas na Cruz manifestavam-se assim mais potentemente nas fraquezas humanas. Eles não somente aceitavam os sofrimentos e a morte por Cristo, mas iam até ao ponto, à semelhança d'Ele, de amar os perseguidores e os inimigos: Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem (Lc 23,34).

É por isto que a Cruz se ergue sobre as ruínas do Coliseu de Roma.

Ao olharmos para esta Cruz, a cruz dos inícios da Igreja nesta Capital e a cruz da sua história, nós devemos sentir e exprimir uma solidariedade profunda com todos os nossos irmãos na fé que, também no nosso tempo são objecto de perseguições e de discriminações em diversas partes da terra. Pensemos sobretudo naqueles que, num certo sentido, são hoje condenados à «morte civil», com a recusa do direito de viverem segundo a própria fé, o próprio rito e segundo as próprias condições religiosas. Ao olharmos para a cruz no Coliseu, peçamos a Cristo que não lhes falte — a eles, como não faltou àqueles que outrora aqui sofreram o martírio — a potência do Espírito, da qual têm necessidade os confessores e os mártires do nosso tempo.

Ao olharmos a Cruz no Coliseu, nós sentimos uma união ainda mais profunda com eles, uma solidariedade ainda mais forte.

Do mesmo modo que Cristo tem um lugar particular nos nossos corações em virtude da sua Paixão, assim também eles. Nós temos o dever de falar desta paixão dos Seus confessores contemporâneos, e dar testemunho deles perante a consciência de toda a humanidade, que proclama a causa do homem como finalidade principal de todo o progresso. Como se hão-de conciliar tais afirmações com a lesão que é infligida a tantos homens, os quais — olhando para a Cruz de Cristo — confessam Deus e anunciam o Seu Amor?

3. Cristo Jesus! Nós estamos para concluir este santo dia da Sexta-Feira Santa aos pés da Vossa Cruz. Assim como outrora em Jerusalém estavam aos pés da Cruz a Vossa Mãe, João, Madalena e outras mulheres, também nós estamos hoje aqui. Estamos profundamente emocionados pela transcendência do momento. Faltam-nos as palavras para exprimirmos tudo aquilo que sentem os nossos corações. Nesta noite, quando — depois de Vos haver descido da Cruz, Vos depuseram num sepulcro aos pés do Calvário — nós desejamos suplicar-vos que fiqueis connosco mediante a Vossa Cruz: que permaneçais Vós, que pela Cruz Vos haveis separado de nós. Suplicamo-Vos que permaneçais com a Igreja; que permaneçais com a humanidade; que não Vos impressioneis com o facto de muitos, talvez, passarem indiferentes ao lado da Vossa Cruz, de alguns se afastarem dela e de outros não chegarem a aproximar-se.

E contudo, nunca tanto como hoje, talvez, o homem terá tido necessidade desta força e desta sabedoria que sois Vós mesmo, mediante a Vossa Cruz!

Então ficai connosco, neste penetrante «mysterium» da Vossa morte, no qual haveis revelado quanto «Deus amou o mundo» (Cfr. Jo Jn 3,16). Ficai connosco e atraí-nos a Vós (Cf. Jo Jn 12,32). Vós, que haveis caído debaixo desta Cruz. Ficai connosco, mediante a Vossa Mãe, à qual do alto da Cruz haveis confiado de modo particular cada um dos homens (Cfr. Jo Jn 19,27).

Sim, permanecei connosco! Stat Crux, dum volvitur orbis! Sim, «a Cruz está erguida sobre o mundo que vai girando! ».



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS AGENTES DA POLÍCIA DE VIAÇÃO


Sábado, 14 de Abril de 1979



Caríssimos!

1. O sentimento espontâneo que brota hoje do meu coração é a alegria. Desejei este encontro que se realiza precisamente na vigília do mais santo dos dias para a Igreja — a Páscoa! Nesta, convida-nos a liturgia à alegria: "Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos e exultemos". Queria ver-vos, saudar-vos pessoalmente a vós, Agentes da Segurança Pública, que fazeis parte da escolta ao meu automóvel todas as vezes — e não são poucas! — que saio dos muros do Vaticano. Queria estar um pouco convosco, em ambiente calmo, longe do rápido e estridente trabalhar dos motores, para, com muita simplicidade, vos abrir a minha alma.

Sinto-me na obrigação de vos dizer: "Obrigado!". Obrigado pelo cuidado que pondes nesse trabalho que vos foi confiado pelos Superiores, e que vós realizais com rara perícia, com esclarecida prontidão e reconhecido empenho; "obrigado" sobretudo pelos sentimentos de afecto para com a minha pessoa, que animam o vosso comportamento, por todos admirado. Uma vez mais, obrigado!

2. Este vosso trabalho faz parte do vosso dever quotidiano de homens, de cidadãos e de cristãos. É esta a reflexão que desejo propor à vossa meditação e à dos vossos familiares aqui presentes.

Cada um de vós, no âmbito da sociedade, e em particular no âmbito da Igreja, tem uma vocação e uma responsabilidade próprias. Cada cristão deve contribuir, na comunidade do Povo de Deus, para a construção do Corpo de Cristo, que é a Igreja. É este o "serviço real" de que fala o Concílio Vaticano II (Cfr. Const. Dogm. Lumen Gentium LG 36 Lumen Gentium ), em força do qual não só o Papa, os Bispos e os Sacerdotes, mas todos os cristãos — quer dizer os esposos, os pais, os homens e as mulheres das condições e profissões mais diversas — devem construir a sua vida, como eu disse já na minha primeira Encíclica: "Os esposos devem distinguir-se pela fidelidade à própria vocação, como exige a natureza indissolúvel da instituição sacramental do Matrimónio" (Enc. Redemptor Hominis, IV, 21.).

Nesta vigília da Páscoa, quase suspensos entre a memória da Paixão de Jesus e a da sua Ressurreição corporal, dirijo-vos um caloroso augúrio para que sempre "mantenhais firme a profissão de fé" (Cfr. Heb He 4,14): a fé em Deus Pai, a fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, e a fé na Igreja; e que a vossa vida individual, familiar e social, em todas as suas manifestações, seja perfeitamente coerente coro a vossa fé cristã, de modo a serdes — como recomendava São Tiago — dos que põem em prática a Palavra e não são apenas ouvintes (Jc 1,22).

Então e com São Paulo, o Papa poderá dizer-vos com plena satisfação Alegro-me por ver a boa ordem que reina entre vós e a firmeza da vossa fé em Cristo (Col 2,5).

Boa Páscoa, caríssimos irmãos e irmãs! Para vós, vossos pais, vossas esposas, vossos filhos e para todos os vossos familiares, Boa Páscoa.

Com a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE ESTUDANTES E PROFESSORES BELGAS


Sábado, 14 de Abril de 1979



Tenho o prazer de saudar os alunos e os professores dos Colégios católicos das províncias belgas de Antuérpia, Brabante e Limburgo.

Recebei felicitações por terdes vindo viver a semana santa em Roma. Que recordação inesquecível para vós! E aceitai agradecimentos pela vossa visita ao Papa, visita humanamente tão simpática e espiritualmente tão confortante para ele.

Bem sabeis que o Senhor Jesus me confiou misteriosamente todos os seus discípulos. Todos ocupam lugar no meu coração e na minha prece, mas de maneira muito especial a geração que sobe, a vossa, caros jovens. Por isso, quero deixar-vos hoje três recomendações, que serão, por assim dizer, três temas de reflexão.

Sede jovens transbordantes de alegria e de seriedade, de atenções para com todos e de exigências para convosco mesmos.

Sede discípulos ardorosos de Cristo, centro de toda a história e da vossa própria história, discípulos muito humildes e muito valorosos, cada vez mais capazes de dar conta da própria fé n'Ele.

Sede construtores realistas e perseverantes da sociedade, bastante cansada dos caminhos do materialismo prático, e construtores da comunidade cristã, da única Igreja de Cristo.

E quero ainda acrescentar: prestem, muitos de entre vós, ouvidos ao "Vem e segue-me" que lança hoje certamente Cristo Redentor aos corações e aos espíritos atentos, como aos seus primeiros apóstolos, como a todas as gerações.

A vós, caros jovens, a todos os vossos colegas de colégio, aos vossos professores e aos vossos pais, desejo boa e santa festa de Páscoa. Com a minha afectuosa Bênção.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


À ASSOCIAÇÃO NORTE-AMERICANA


DA EDUCAÇÃO CATÓLICA




Louvado seja Jesus Cristo

Alegro-me com dirigir-me aos Membros da Associação Norte-Americana da Educação Católica, quando estais reunidos para bem da esplêndida causa da Educação Católica. Por meio de vós atrevo-me a esperar que a minha mensagem de incitamento e de bênção venha a chegar também às numerosas escolas católicas do vosso país, a todos os estudantes e professores destas instituições, e a todos quantos estão confiados à obra da educação católica. Com o Apóstolo Pedro, envio-vos a minha saudação na fé de nosso Senhor Jesus Cristo: Paz a todos vós que estais em Jesus Cristo (1P 5,14).

Como educadores católicos, reunidos na comunhão da Igreja universal e na oração, vós partilhareis certamente de quaisquer outros juízos de valor que vos acompanhem no vosso importante trabalho, na vossa missão eclesial. O Espírito Santo está convosco e a Igreja sente-se profundamente reconhecida pela vossa dedicação. O Papa fala-vos com o propósito de vos confirmar na sublime função que tendes como educadores católicos, de vos auxiliar; vos orientar e animar.

Entre as muitas reflexões que se poderiam apresentar neste momento, há três pontos em especial a que desejaria fazer breve referência no princípio do meu pontificado. São estes: p valor das escolas católicas, a importância dos professores católicos e educadores, e a natureza da educação católica em si mesma. São temas que foram desenvolvidos minuciosamente pelos meus predecessores. Nesta ocasião, todavia, é importante que eu junte o meu testemunho próprio ao deles, com particular esperança de dar novo impulso à educação católica através da extensa área dos Estados Unidos da América.

Com profunda convicção ratifico e reafirmo as palavras que Paulo VI disse aos Bispos do vosso país: "Irmãos, nós conhecemos as dificuldades que implica a conservação das escolas católicas e as incertezas sobre o futuro, mas confiamos na ajuda de Deus, e na vossa zelosa colaboração e infatigáveis esforços, a fim de as escolas católicas continuarem, embora através de graves obstáculos, a desempenhar a sua missão providencial em serviço da autêntica educação católica e em serviço do vosso país" (Paulo VI, Alocução de 15 de Setembro de 1975). Sim, as escolas católicas devem manter-se como meio privilegiado da educação católica na América. Como instrumento de apostolado, são merecedoras dos maiores sacrifícios.

Mas nenhumas escolas católicas podem ser eficientes sem professores católicos dedicados, convencidos do alto ideal da educação católica. A Igreja precisa de homens e de mulheres que se apliquem ao ensino com a palavra e o exemplo, devotados a ajudar a que o espírito de Cristo penetre todo o ambiente educativo. É alta vocação, e o próprio Senhor recompensará todos os que dentro dela servem como educadores, na causa da palavra de Deus.

Para que as escolas católicas e os professores católicos sejam capazes de prestar verdadeiramente a sua contribuição insubstituível à Igreja e ao mundo, o objectivo da educação católica em si mesma deve ser claro como a luz. Amados filhos e filhas da Igreja Católica, irmãos e irmãs na fé: A educação católica é acima de tudo problema de comunicar Cristo, de ajudar a formar Cristo na vida dos outros. Na expressão do Concílio Vaticano II, os que foram baptizados devem-se tornar mais ainda testemunhas do dom da fé que receberam, devem aprender a adorar o Pai em espírito e verdade e devem ser levados a viver a novidade da vida cristã na justiça e na santidade da verdade (Cfr. Gravissimum Educationis GE 2)

São estes, alvos essenciais da educação católica. Mantê-los e promovê-los dá sentido às escolas católicas; e manifesta a dignidade da vocação dos educadores católicos.

Sim, é acima de tudo questão de comunicar Cristo e de ajudar o seu elevante Evangelho a lançar raízes nos corações dos fiéis. Sede fortes, portanto, em tender para estes objectivos. A causa da educação católica é a causa de Jesus Cristo e do seu Evangelho, ao serviço do homem.

Contai com a solidariedade da Igreja inteira e com o auxílio da graça de nosso Senhor Jesus Cristo. No seu nome, a todos vos envio a minha Bênção Apostólica: em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen.



PAPA JOÃO PAULO II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE SACERDOTES DE BOLONHA


Quinta-feira, 19 de Abril de 1979



Senhor Cardeal

O encontro desta manhã é alegrado por estes jovens Sacerdotes da vossa Arquidiocese, a quem impusestes as mãos no decorrer do último decénio. Parece-me ler no vosso rosto o legítimo orgulho dum pai que se vê rodeado por numerosa e robusta coroa de filhos com os quais sabe poder contar hoje e amanhã. Para Vós, portanto, Senhor Cardeal, e para estes vossos Sacerdotes, vá a minha saudação cordial com claras e sinceras boas-vindas.

É sempre para mim causa de alegria muito especial poder contactar com os Sacerdotes, pois com eles me parece poder entrar imediatamente em sintonia por causa dos ideais, das esperanças e das experiências alegres e tristes, numa palavra, por causa da vocação que, por providencial disposição divina, nos une. O desejo espontâneo, que sinto nestes casos, seria o de pôr-me a ouvir os problemas de cada um, fazer perguntas acerca das iniciativas apostólicas, das dificuldades encontradas e dos resultados conseguidos e dos projectos para o futuro. Gostaria de poder em seguida discorrer, em fraternal Comunhão de espírito, sobre o mistério da eleição divina, sobre a grandeza da missão a que somos chamados e sobre as responsabilidades formidáveis de que somos portadores. Discorrer sobre isso para reavivar em nós a consciência da missão insubstituível que o sacerdócio ministerial deve exercer para serviço do Povo de Deus.

Confiei alguns pensamentos sobre esta nossa fundamental missão eclesial à Carta que dirigi a todos os Sacerdotes por ocasião da recente celebração litúrgica de Quinta-feira Santa. Espero que ela tenha sido acolhida por vós, filhos caríssimos, com a mesma abertura de coração com que eu a escrevi; e faço votos por que na mesma se detenha a vossa reflexão atenta, inteligente e disponível, de tal maneira que ela leve a cada um conforto e incite a que se persevere alegremente na doação própria feita a Cristo e à Igreja.

Agora desejava somente observar que são duas as exigências mais sentidas pelo clero, sobretudo pelo jovem: a exigência da autenticidade, e a da proximidade, quanto ao homem do nosso tempo. São duas exigências dignas de ser muito consideradas, porque exprimem vontade sincera de coerência com a própria missão.

Percorrendo o texto da Carta mencionada, tereis visto que indiquei, na conformação com Cristo "Bom Pastor", o critério mais válido de autenticidade sacerdotal (Cfr. Carta a todos os Sacerdotes da Igreja, por ocasião da Quinta-feira Santa de 1979, n. 5) e, no empenho de oferecer aos outros o testemunho duma personalidade sacerdotal, que seja para todos "claro e límpido sinal e indicação" (Cfr. ibid., n. 7), o modo mais eficaz de se fazer actuar uma presença "significativa" entre os homens de hoje. Não é, de facto, cedendo às sugestões duma laicização fácil — que se exprima ou no abandono do traje eclesiástico ou na assimilação de hábitos mundanos, ou na tomada dum ofício profano —, não é assim que se atinge eficazmente o homem de hoje. Tal assimilação poderia talvez, à primeira vista, dar a impressão de contactos imediatos; mas que valeria isso se houvesse de ser "pago" com a perda do cargo específico evangelizador e santificador, que faz do Sacerdote o sal da terra e a luz do mundo? O risco de que o sal se corrompa ou de que a luz se apague é já hipótese considerada por Jesus no Evangelho (Cfr. Mt Mt 5,13-16). Para que serviria um Sacerdote tão "assimilado" ao mundo que se tornasse parte a imitá-lo e não já fermento transformador?

São estas — estou certo — também as vossas convicções; e é por isto que, ser-me dado contemplar um grupo tão belo e tão prometedor de Sacerdotes jovens, concentrados à volta do seu Bispo, me enche a alma de contentamento. Ao renovar-vos, portanto, o agradecimento por esta vossa visita, na qual leio a testemunho duma intensa vontade de comunhão cada vez mais íntima com o Sucessor de Pedro, de boa vontade vos prometo uma recordação especial junto do Altar do Senhor, e em seu Nome a todos dou a minha paternal Bênção Apostólica, que se estende às vossas famílias e às almas confiadas ao vosso generoso ministério.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE DIÁCONOS


DA DIOCESE DE REGENSBURG (ALEMANHA)


Sábado, 21 de Abril de 1979



Excelência,

Discursos João Paulo II 1979 - Sexta-feira, 6 de Abril de 1979