AUDIÊNCIAS 1979

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 27 de Junho 1979

Os Apóstolos Pedro e Paulo testemunhas

do amor de Cristo




1. «Pretiosa in conspectu Domini mors Sanctorum Eius». Preciosa aos olhos do Senhor é a morte dos Seus fiéis (Ps 116,15).

Permiti começar eu com estas palavras do Salmo 116 a meditação que hoje desejo dedicar à memória dos Santos Fundadores e Patronos da Igreja Romana. Aproxima-se, de facto, o dia solene de 29 de Junho, em que toda a Igreja, mas sobretudo Roma, recordará os Santos Apóstolos Pedro e Paulo. Este dia fixou-se na memória da Igreja Romana como dia da morte d'Eles; o dia que os uniu com o Senhor, de Quem esperavam a Vinda, observavam a Lei e de Quem receberam «a coroa da vida» (Cfr. 2Tm 4,7-8 Jc 1,12).

O dia da morte foi para eles o início da Nova Vida. O Senhor mesmo lhes revelou este início com a própria ressurreição, da qual eles se tornaram testemunhas mediante as palavras e as obras, e também mediante a morte. Tudo junto — as palavras, as obras e a morte de Simão de Betsaida, a quem o Senhor chamou Pedro, e de Saulo de Tarso, que depois da conversão se chamou Paulo — constitui, por assim dizer, o complemento do Evangelho de Cristo, a sua penetração na história da humanidade, na história do mundo, e também na história desta Cidade. Há verdadeiramente que meditar nestes dias, que o Senhor, mediante a morte dos seus Apóstolos, nos permite encher com uma memória especial da vida de ambos.

«Felix per omnes festum mundi cardines / apostolorum praepollet alacriter, / Petri beati, Pauli sacratissimi, / quos Christus almo consecravit sanguine, / ecclesiarum deputavit principes» (Hymnus ad officium lectionis, Hino do Ofício da leitura).

«Brilha por todos os lugares do mundo / a fausta solenidade dos Apóstolos, / do bem-aventurado Pedro e do augusto Paulo, / / que Cristo consagrou com fecundo sangue / e escolheu para chefes das Igrejas».

2. Quando Cristo depois da ressurreição teve com Ele aquela conversa singular, descrita pelo Evangelista João, certamente Pedro não sabia que precisamente aqui — na Roma de Nero --se realizariam as palavras ouvidas então e aquelas mesmas pronunciadas por ele. Cristo perguntou-lhe três vezes «Amas-me?» e Pedro três vezes deu resposta afirmativa. Ainda que à terceira vez Pedro se tenha entristecido (Jn 21,17), como nota o Evangelista. Alguns pensam na causa possível desta dor, e supõem que ela se encontra na tríplice negação, recordada a Pedro pela terceira pergunta de Cristo. Seja como for, depois da terceira resposta em que Pedro não só garantiu o seu amor mas apelou humildemente para o que o próprio Cristo sabia a este propósito Senhor, Tu sabes que Te amo (Jn 21,15), depois desta terceira resposta seguem as palavras que exactamente aqui, em Roma, se haveriam de realizar um dia. O Senhor diz: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde tu não queres (Jn 21,18). Estas palavras misteriosas podem-se compreender de maneiras diversas. Todavia o Evangelista sugere o sentido exacto, quando acrescenta que nelas indicou Cristo a Pedro o género de morte com que ele havia de glorificar a Deus (Jn 21,19).

Por isso, o dia da morte do Apóstolo, que depois de amanhã comemoramos, recorda-nos também o cumprimento destas palavras. Tudo o que aconteceu anteriormente — todo o ensinamento apostólico e o serviço à Igreja na Palestina, depois em Antioquia, e por último em Roma — tudo isto constitui o cumprimento daquela tríplice resposta: Senhor, tu sabes que Te amo (Jn 21,15). Tudo isto dia após dia, ano após ano, juntamente com todas as alegrias e as exaltações da alma do Apóstolo, quando via o crescimento da causa do Evangelho nas almas, mas também todas as inquietações, as perseguições e as ameaças — começando já desde Jerusalém, quando Pedro foi encarcerado por ordem de Herodes, até à última, em Roma, quando se repetiu a mesma coisa em seguida à ordem de Nero. Mas da primeira vez foi libertado pelo Senhor por meio do Seu Anjo, ao passo que desta já não. Provavelmente completou-se suficientemente, com a vida e o ministério de Pedro, a medida terrena do amor prometido ao Mestre. Podia-se cumprir também esta seguinte parte das palavras então pronunciadas: ... outro te cingirá e te levará para onde tu não queres (Jn 21,18).

Segundo a tradição, Pedro morreu na cruz como Cristo, mas tendo a consciência de não ser digno de morrer como o Mestre, pediu para ser crucificado com a cabeça para baixo.

3. Paulo veio a Roma como preso, depois de apelar para César contra a sentença de condenação dada na Palestina (Cfr. Act Ac 25,11). Era cidadão romano e tinha direito a este recurso. Por isso, é possível que tenha passado os últimos dois anos de vida na Roma de Nero. Não parou de ensinar, por meio da palavra viva e escrita (as cartas), mas talvez não tenha podido nunca sair da cidade. As suas viagens missionárias, com que abraçara os principais centros do mundo mediterrâneo, estavam terminadas. Cumpriu-se deste modo o prenúncio acerca do instrumento escolhido para levar o Nome do Senhor diante dos povos (Ac 9,15).

Durante pouco mais de trinta anos a partir da morte de Cristo, da ressurreição e da ascensão ao Pai, a região do Mar Mediterrâneo e portanto a área do Império tinha-se ido povoando com os primeiros cristãos. Tudo isto foi, em parte considerável, fruto da actividade missionária do Apóstolo dos Gentios. E se, entre todas estas solicitudes, não o abandonava o desejo de ser liberto do corpo para estar com Cristo (Ph 1,23), foi exactamente aqui em Roma que tal desejo se cumpriu.

O Senhor dirigiu-o para Roma no fim da vida, para ser testemunha do ministério de Pedro não só entre os Hebreus, mas também entre os pagãos, e para levar para lá o testemunho vivo do desenvolvimento da Igreja «até aos confins da terra» (Cfr. Act Ac 1,8), de maneira que desenhasse a primeira forma da sua universalidade. O Senhor dispôs que ele, Paulo, Apóstolo infatigável e servidor desta universalidade, passasse os últimos anos da vida aqui, para ser o apoio e o estável ponto de referência para esta mesma universalidade.

«O Roma felix, quae tantorum principum / es purpurata pretioso sanguine, non laude tua, sed ipsorum meritis / excellis mundi pulchritudinem» (Hymnus ad Vesperas, Hino de Vésperas). «O Roma feliz que de tantos príncipes / foste empurpurada com o precioso sangue, / não para tua fama, mas por seus méritos / tu vences toda a beleza do mundo».

4. Aproximando-se o dia 29 de Junho, festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, muitos pensamentos se acumulam na mente e muitos sentimentos no coração. Sobretudo cresce a necessidade da oração, para que o ministério de Pedro encontre nova compreensão na Igreja dos nossos tempos, e para que se amplie cada vez mais a dimensão da universalidade missionária que São Paulo trouxe de modo tão relevante para a história da Igreja Romana, permanecendo aqui na qualidade de preso nos últimos anos da vida.

E o Senhor, que prometeu a Pedro construir a própria Igreja «sobre a Pedra», continue a ser benigno para com esta Pedra que se veio inserir no terreno da Cidade Eterna, tornada fértil com o sangue dos seus Fundadores.

Saudações

A vários grupos de peregrinos

Vejo hoje presentes na Audiência numerosos Religiosos entre os quais um grupo de Cónegos Regulares da Imaculada Conceição, reunidos para o Capítulo Geral, e os Superiores das casas da Confederação do Oratório de São Filipe de Néri. A vós, caríssimos Religiosos, e também a todas as Religiosas, um obrigado sincero pelo trabalho que realizais em favor da Igreja, ao mesmo tempo que faço votos por que sejais sempre fervorosos no espírito e testemunhas, alegres e corajosas, de Cristo no mundo.

Apresento a seguir, as boas-vindas aos participantes na reunião de estudo organizada pela Associação Italiana dos Professores Católicos! Que o Divino Mestre ilumine sempre as vossas inteligências com a Sua luz, corrobore as vossas vontades e os vossos corações com a Sua graça, e torne fecundo de bem o vosso generoso compromisso educativo!

Tenho o prazer também de saudar, entre as numerosas peregrinações, as das dioceses de Caltanissetta, de Parma e de Pavia, acompanhadas pelos respectivos Bispos. A todos chegue o meu reconhecido apreço por esta visita; a todos dirijo a minha paternal exortação a que revigoreis a vossa fé cristã junto do Túmulo do Apóstolo Pedro; sobre todos invoco copiosas graças celestes de alegria e de prosperidade, em penhor das quais concedo de coração a minha Bênção.

Aos jovens

E agora urna cordial saudação a todos os jovens e às jovens aqui presentes. Caríssimos, a esperança que representais para a Igreja e para a sociedade realizar-se-á se compreenderdes realmente que, sendo "Jesus Cristo a verdade de todo o homem", a fé n'Ele deve tornar-se a nascente do critério para enfrentar todos os problemas da existência. Exorto-vos, pois, a infundirdes a fé no vosso comportamento em, todas as circunstâncias. Que a minha bênção vos acompanhe.

Aos Doentinhos

Queridos doentes: dirijo-vos uma saudação particularmente afectuosa, e recordo-vos as palavras de São Pedro aos primeiros cristãos: "Se fazendo o bem, sofreis com paciência, isto é agradável aos olhos de Deus. Ora, é para isto que fostes chamados, porque Cristo também sofreu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos" (1P 2,20-21). São palavras sempre actuais e sempre válidas para vós e para todos! Sirvam-vos elas de luz e de conforto. De coração abençoo-vos a todos.

Aos jovens Casais

Caríssimos jovens casais! Obrigado pela vossa presença!

A vós que iniciais uma nova vida nesta nossa sociedade, não certamente fácil, quero recordar as palavras de São Paulo ao seu discípulo Timóteo: "Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, amor e sabedoria. Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor (...); participa comigo no trabalho do Evangelho, fortificado pelo poder de Deus. Ele nos salvou e nos chamou para a santificação" (2Tm 1,79).

Sede também vós corajosos testemunhando a vossa fé e o vosso compromisso de santificação.

A minha bênção vos sustenha neste esforço.

A peregrinos da Nigéria

As minhas especiais boas-vindas vão para a peregrinação da Arquidiocese de Onitska. Deus vos abençoe e a toda a Nigéria.

A um grupo de militares dos Estados Unidos da América

Dirijo uma especial palavra de felicitações aos oficiais e tripulação do porta-aviões "Eisenhower", e aos membros do exército dos Estados Unidos estanciados na Alemanha; assim como aos directores do USO, sob o patrocínio do Clube Católico Americano de Roma, que celebra o seu 35° aniversário de fundação. Que o Senhor vos acompanhe nas vossas actividades de serviço.



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 4 de Julho de 1979

O baptismo do martírio na história da Igreja de Roma




1. Na semana passada, a Igreja Romana viveu santos e elevados momentos, que merecem uma menção particular diante de Deus e dos homens.

Diante de Deus — para Lhe poder exprimir gratidão e renovar a confiança. Diante dos homens — para satisfazer a necessidade dos corações, que em tais momentos reciprocamente se unem e abrem.

Pela primeira vez tive ocasião, eu que não nasci nesta Cidade nem nesta Terra, de venerar os Santos Apóstolos Pedro e Paulo exactamente neste lugar, em que o Senhor os chamou a Si, no dia dedicado à celebração anual dos seus gloriosos martírios. Fi-lo já durante muitos anos na minha mãe-pátria, manifestando assim a unidade com Pedro que reúne o Povo de Deus na Igreja Católica. Mas aqui, no próprio centro da Igreja, o mistério daquela insólita vocação, que conduziu Pedro do lago de Genezaré até Roma e depois trouxe também aqui Paulo de Tarso, fala-nos com todo o peso da realidade histórica. Com que profunda emoção ao fim da tarde do dia 28 de Junho recitámos as primeiras vésperas da festa dos dois Santos Padroeiros. E seguidamente depois da bênção dos Pálios, que são símbolo da unidade da Igreja Universal com a Sé de São Pedro, descemos ao lugar onde se encontram as santas relíquias dos Apóstolos, sepultadas aqui outrora e em tempos recentes por parte de cientistas submetidas a novo exame ... Como é grande a eloquência do altar no centro da Basílica, sobre o qual celebra a Eucaristia o Sucessor de São Pedro com o pensamento que, num lugar perto deste altar, Ele mesmo, Pedro crucificado, ofereceu o sacrifício da própria vida em união com o sacrifício de Cristo crucificado no Calvário — e ressuscitado ...

No mesmo dia, segundo uma tradição, o Senhor acolheu também o sacrifício de São Paulo.

E não só deles os dois. A liturgia de 30 de Junho comemora todos os mártires da Igreja que então, aqui em Roma, durante os tempos de Nero, sofreram uma sangrenta perseguição. Antigos historiadores como Tácito (Anais, XV, 45) e Padres Apostólicos como Clemente de Roma (Ad Cor.5-6) testemunham-no. Mas esta foi a primeira perseguição e não a última. Sucederam-se outras até aos tempos de Diocleciano, no início do século IV, e depois até ao período de Juliano «o apóstata», já após a metade do mesmo século. A Igreja de Roma radicou-se profundamente neste múltiplo testemunho. Esta Sé do mundo antigo não só foi baptizada com o baptismo da água, mas também com o baptismo do sangue dos mártires, que fala melhor do que o de Abel (He 12,24).

Nós todos que vivemos na pressa da civilização contemporânea, na inquietação da vida actual, devemos parar aqui e reflectir como nasce esta Igreja, que a vontade do Senhor permitiu tornar-se o centro e a capital de uma missão tão grande: a Igreja para a qual peregrinam tantas igrejas, encontrando nela o fundamento da sua própria unidade.

2. A memória destas vicissitudes do início da Igreja de Roma, que Deus fundou aqui sobre Pedro (cujo nome significa «Pedra», «Rocha»), uniu-se com outros acontecimentos importantes na experiência dos outros dias da semana passada. Estes acontecimentos reflectem o ulterior desenvolvimento histórico daquela Santa Sé, que deve sempre servir a unidade dos cristãos numa Igreja Católica e ao mesmo tempo apostólica.

Tivemos a felicidade de introduzir solenemente no Colégio dos Cardeais da Igreja Romana 15 homens. Um deles permanece «in pectore», à espera das decisões da Divina Providência que talvez um dia nos permita revelar o seu nome; os outros são já conhecidos de todos.

Neste rito sublime renovou-se a tradição milenária da Igreja Romana, que tem um grande significado não só pela ulterior estabilidade da Igreja, mas também por uma compreensão adequada do seu carácter que é duplo: local e ao mesmo tempo universal.

A nossa Igreja romana «local» está ligada a esta cidade do mesmo modo que outrora, há mais de 19 séculos, a ligou a esta cidade o Apóstolo Pedro. Esta Igreja Romana depois de Pedro elegeu sucessivamente os próprios Bispos, a fim de que exercessem nela o serviço pastoral, e fê-lo de modo adaptado às possibilidades e às necessidades das várias épocas.

A instituição do Colégio Cardinalício nas suas origens remonta a esta tradição, segundo a qual o Bispo de Roma era eleito pelos representantes do Clero Romano. Exactamente estes eleitores romanos, que já então constituíam um Colégio importante na vida da Igreja, deram início à instituição que desde há quase mil anos assegura a sucessão da Sé de São Pedro.

A sucessão desta Sé episcopal tem um significado não só para a Igreja «local», que está aqui em Roma. Ela tem também um significado para a Igreja Universal, isto é para cada uma das Igrejas locais, que entram assim a fazer parte de uma comunidade universal. Este é verdadeiramente um significado «chave» dado que Cristo deu exactamente a Pedro «o poder das chaves».

Nos últimos tempos e sobretudo durante o pontificado de Paulo VI, o Colégio Cardinalício foi aumentado e internacionalizado.

O Sacro Colégio actualmente conta com 70 Cardeais da Europa, 40 Cardeais da América (do Norte, do Centro e do Sul), 12 Cardeais da África, 10 Cardeais da Ásia e 3 Cardeais da Austrália e da Oceânia. Todos possuem cargos particularmente responsáveis como Pastores de importantes Igrejas locais (ou seja Dioceses) ou como Superiores dos principais Dicastérios da Cúria Romana e são ao mesmo tempo os herdeiros daqueles antigos «eleitores» que provinham do clero romano e escolhiam o Bispo de Roma. Por isso ao mesmo tempo que são chamados para o Colégio Cardinalício é-lhes conferido o título de uma das Dioceses suburbicárias ou de uma das Igrejas romanas.

Deste modo o Colégio Cardinalício une em si — e em si manifesta — as duas dimensões constitutivas da Igreja: a dimensão «local» e a «universal». A Igreja edificada sobre Pedro é «romana» nestas duas dimensões.

3. Portanto, assim os dias da semana passada, permitiram-nos entrar numa familariedade particularmente profunda com a realidade da Igreja, com o seu ministério e simultaneamente com a sua história, que aos nossos olhos se prolongou num certo sentido como uma etapa nova.

Se hoje retornamos a estes acontecimentos importantes fazêmo-lo para manifestar quão profundamente vivemos tais factos. Seguindo o exemplo da Mãe de Cristo, é preciso «guardar no coração» (Cfr. Lc Lc 2,51) acontecimentos tão eloquentes e no momento oportuno «manifestá-los exteriormente» a fim de que nestas manifestações se consolide a sua importância interior.

O meu pensamento dirige-se mais urna vez aos Membros do Colégio Cardinalício, que de novo o reforçaram. Recomendo cada um deles às orações de todos vós aqui reunidos, às orações de toda a Igreja.

A Jesus Cristo Rei dos Séculos (1Tm 1,17), recomendo a Igreja edificada sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas (Ep 2,20), a Igreja Romana fundada sobre Pedro e ligada desde o início à recordação do Apóstolo das nações.

Saudações



A Peregrinações italianas

Participam na Audiência de hoje numerosos Sacerdotes, entre os quais se distinguem o grupo dos Directores das Repartições Catequéticas diocesanas e o dos Assistentes diocesanos da Acção Católica dos Adultos. A todos vós, caríssimos Sacerdotes, que vos prodigalizais generosamente em favorecer o acolhimento, por parte do homem moderno, da Palavra que salva, a expressão do meu mais grato apreço, corroborado por uma Bênção especial.

Saúdo também as muitas Religiosas presentes e entre elas, de modo particular as que participam no Nono Congresso Missionário nacional, promovido pela Pontifícia União Missionária. Oxalá o desejo ardente pela propagação do Reino, caríssimas Irmãs, vibre em vós com intensidade crescente, e conquiste, mediante o vosso testemunho, muitos outros corações. Que a minha afectuosa Bênção vos conforte.

Desejo agora saudar, entre as numerosas peregrinações, a que o Bispo de Caltagirone organizou no sétimo centenário da morte do beato Gerlando, cavaleiro templário polaco, sepultado e venerado na igreja catedral. Recordando este meu compatriota, exorto todos a serem fiéis às profundas tradições de fé, de coragem e generosidade que os nossos antepassados nos deixaram e, com votos de serena prosperidade, a todos abençoo de coração.

Aos jovens

Dirijo uma afectuosa saudação aos rapazes da "Geração Nova" dos Focolarinos e aos jovens hóspedes do "Centro Internacional da Juventude Trabalhadora". Nos títulos dos vossos dois Movimentos, é-me agradável constatar, caríssimos filhos, o vosso programa de renovamento espiritual para um testemunho cristão cada vez mais generoso e incisivo na vida privada e social. Ao encorajar-vos a perseverardes nas vossas nobres intenções, exorto-vos a pôr cada vez mais em luz, tanto no campo intelectual como no do trabalho, os valores evangélicos da dignidade humana, da liberdade, da justiça e da fraternidade universal. Corroboro estes votos com a Bênção Apostólica, que de boa vontade torno extensiva às vossas famílias



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 11 de Julho de 1979

A Serviço Apostólico da Cúria Romana




1. Desejo também hoje referir-me à grande solenidade que a Igreja de Roma celebra a 29 de Junho, recordando deste modo cada ano o martírio dos seus Padroeiros, os Santos Apóstolos Pedro e Paulo. A comemoração destes Apóstolos coloca diante dos olhos da nossa alma não apenas o momento da sua morte por Cristo, mas também toda a sua vida apostólica. Apesar da grande distância no tempo, a vida deles, rica da fadiga do testemunho evangélico, gasta inteiramente a colocar as bases do Reino de Deus na terra, é para nós sempre actual e concreta. Ambos os Apóstolos se delineiam diante dos olhos da nossa mente como figuras reais; exprimem-se com as palavras das suas Cartas e com as suas obras, assinaladas tanto nos seus escritos como nos Actos dos Apóstolos. Nós podemos seguir os acontecimentos em que tomaram parte e dos quais se compôs a sua vida, num certo sentido, de fora e, ao mesmo tempo, podemos seguir também a sua vida interior, encontrando sempre nela um modelo vivo daquela «sequela Christi», a que todos somos chamados.

Desejaria hoje chamar a vossa atenção para um pormenor: os Apóstolos tinham numerosos ajudantes e colaboradores que lhes tornavam possível e facilitavam o cumprimento dos deveres ligados ao anúncio do Evangelho. Muitos nomes destes discípulos e ajudantes apostólicos são-nos conhecidos, sobretudo através das cartas de São Paulo. A comemoração de alguns deles é conservada no martirológio ou no calendário litúrgico dos santos da Igreja.

2. Esta verificação, que diz respeito às origens da Igreja, permite-nos, pois, percorrer quase dois mil anos de história para chegar até aos nossos dias. O cumprimento da missão apostólica, especialmente do ministério de Pedro, exigiu, em cada época, numerosos colaboradores.Também a nossa época o exige, em medida adequada às necessidades dos nossos tempos, em que compete à Igreja realizar a missão evangélica da salvação. Desejo dedicar as minhas palavras de hoje, por ocasião do encontro convosco, participantes na audiência de quarta-feira, exactamente a todos aqueles que aqui em Roma colaboram com o Sucessor de Pedro no cumprimento do seu serviço à Igreja Romana e Universal. Faço-o por motivos teológicos: de facto a recente solenidade dos Santos Apóstolos incita-nos a tal reflexão. Faço-o também por motivos pessoais: é justo que eu exprima a minha lembrança e gratidão para com os meus Colaboradores tal como lemos nas cartas dos Apóstolos e sobretudo nas cartas de São Paulo: Damos sempre graças a Deus por todos vós, lembrando-nos sem cessar de vós, nas nossas orações recordando a actividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a constântica da esperança que tendes em Nosso Senhor Jesus Cristo (1Th 1,2-3).

3. O círculo dos mais estreitos colaboradores do Papa, Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, é constituído pela Cúria Romana. Como se sabe, ela é actualmente um organismo grande e diferenciado, sobre cuja actualização segundo as tarefas do ministério de Pedro e segundo as necessidades da Igreja contemporânea, o Concílio Vaticano II reflectiu profundamente. De entre as suas principais sugestões neste campo lê-se: «Os Padres do Sagrado Concílio desejam, contudo, que estes Dicastérios, que prestaram sem dúvida um auxílio notável, sejam sujeitos a uma reorganização adaptada às necessidades dos tempos, regiões e ritos, principalmente quanto ao número, nome, competência, à própria maneira de proceder, e à coordenação dos trabalhos entre si ... Além disso uma vez que estes Dicastérios foram constituídos para o bem da Igreja Universal, deseja-se que os seus Membros, Oficiais e Consultores, bem como os Núncios do Romano Pontífice, sejam escolhidos, quanto possível, das diversas regiões da Igreja, de modo que os serviços ou órgãos centrais da Igreja Católica apresentem um aspecto verdadeiramente universal.

Fazemos também votos para que entre os membros dos Dicastérios se encontrem alguns Bispos, sobretudo diocesanos, que possam comunicar com maior precisão ao Sumo Pontífice a mentalidade, os anseios e as necessidades de todas as Igrejas.

Finalmente, os Padres Conciliares julgam ser de grande utilidade que estes Dicastérios ouçam com mais frequência os leigos que se distinguem pelas suas virtudes, ciência e experiência, para que influam como lhes compete nas coisas da Igreja» (Christus Dominus ).

Seguindo o pensamento do Concílio e em cumprimento das suas indicações, Paulo VI deu uma forma concreta à actualização da Cúria Romana, mediante a Constituição «Regimini Ecclesiae Universae». Este amplo e diferenciado organismo concentra em si Repartições e instituições de longa história, às vezes mesmo secular, e ao lado destas, organismos novos, nascidos directamente da eclesiologia do Vaticano II, que manifestam aquela consciência da missão da Igreja no mundo contemporâneo, de que somos devedores precisamente ao Concílio.

Seria impossível fazer aqui uma análise particularizada de todo o conjunto da Cúria. Seria certamente árduo enumerar, por ordem, as funções de cada um dos vários Dicastérios e das várias Repartições como também da sua estrutura e organização interna; mas isto talvez não seja necessário. Convém antes acenar brevemente a cada Dicastério a fim de termos ideia de como cada um corresponde a um campo definido da vida e da actividade da Igreja Universal, e como neste sector facilita a execução do ministério de Pedro perante a Igreja, partilhando a solicitude do magistério pastoral de cada um dos Sucessores de São Pedro, Bispo de Roma, de modo profundo e competente.

Os próprios nomes de cada um dos Dicastérios exprimem a sua competência. Tarefa do Bispo de Roma é sobretudo a solicitude pela integridade da doutrina da fé: e eis que a Congregação que o ajuda em tudo isto tem exactamente este nome. Ao Bispo de Roma competem os problemas respeitantes à sucessão apostólica dos Bispos na dimensão de todo o Colégio; donde a Congregação dos Bispos. Seguem-se depois todos os outros Dicastérios, que se ocupam de cada uma das tarefas do ministério de Pedro na Igreja: a Congregação para as Igrejas Orientais que, embora com diferentes Ritos, estão em comunhão com a Sé de Pedro; a Congregação para os Sacramentos e o Culto Divino, ocupando-se da vida sacramental e litúrgica da Igreja; a Congregação para o Clero à qual compete o que diz respeito ao ministério e à vida dos Presbíteros; a Congregação para os Religiosos e os Institutos Seculares, que tanta importância tem no tecido vivo da comunidade cristã; a Congregação para a Evangelização dos Povos, encarregada de tudo aquilo que diz respeito à acção missionária; a Congregação para as Causas dos Santos; e por fim a Congregação para a Educação Católica, cuja actividade diz respeito às Escolas Católicas, aos Seminários e às Universidades espalhados pelo mundo. Não faltam depois os Organismos para a administração da justiça, isto é a Sagrada Rota Romana e o Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, e a Sagrada Penitenciária Apostólica que trabalham no sentido de encontrar a solução justa de questões que possam surgir na vida da Igreja e que digam respeito aos direitos dos fiéis ou da comunidade.

Há ainda, como bem sabeis, a Secretaria de Estado que coadjuva o Papa tanto no que diz respeito à Igreja Universal como à coordenação da actividade dos Organismos da Cúria. Além disso, há o Conselho para os Assuntos Públicos da Igreja, que se ocupa sobretudo das questões respeitantes às relações com os Estados e com os Governos.

A Igreja é como aquele homem que tira coisas novas e velhas do seu tesouro (Mt 13,52). Os Organismos que surgiram como fruto do Concílio significam muito para a Igreja de hoje e de amanhã: o Pontifício Conselho para os Leigos, a Comissão «Justitia et Pax», os três Secretariados — para a União dos Cristãos, para os Não-Cristãos e para os Não-Crentes — várias Comissões Pontifícias e a Prefeitura para os Assuntos Económicos. Sem mencionar ainda o Sínodo dos Bispos, também ele nascido do Concílio e que tem a sua Secretaria Geral nesta Sé Apostólica.

4. Pode e até deve ver-se a Sé Apostólica como um conjunto de Repartições especializadas, que mediante o seu infatigável trabalho facilitam o conhecimento dos assuntos essenciais da Igreja e as decisões oportunas. Pode e deve dizer-se que todas estas Repartições sustentam o «Ministério» do Sucessor de Pedro e facilitam-lhe a realização.

Todavia, falando de «ministério», é preciso sempre conseguir perceber aquela corrente mais profunda que dá um sentido justo a cada um deles e faz com que em cada um palpite a vida de toda a Igreja, mediante todos os impulsos que chegam de toda a parte e se irradiam depois em todas as direcções.

E talvez o melhor a fazer, exactamente com esta finalidade, seja remontar aos tempos dos primeiros Apóstolos, às suas Cartas. E com as mesmas palavras que eles escreveram sobre o tema dos seus mais estreitos colaboradores, seja-me consentido exprimir a minha gratidão aos meus actuais colaboradores, unindo-me com eles na atenção pela Igreja que tem a sua fonte no coração de Cristo-Bom Pastor.

Saudações

Aos Religiosos e Religiosas da Ordem de Santo Agostinho

Desejo saudar com particular benevolência os numerosos Religiosos e Religiosas da Ordem de Santo Agostinho, provenientes das várias partes do mundo, que nestes dias participam em Roma num curso de espiritualidade agostiniana, sobre o tema: "A experiência agostiniana na procura de Deus".

De todo o coração faço votos para que o aprofundar do ensinamento rico, fecundo e sempre actual, do vosso grande Padre e Fundador, produza os desejados frutos interiores de alegre comunhão com Deus, de oração contínua, de caridade multiforme, que devem estar na base da vossa vida de almas consagradas e do vosso apostolado na Igreja.

Que Santo Agostinho vos assista do céu e vos acompanhe a minha Bênção.

A um grupo de peregrinos da Sicília (Itália)

Desejo também dirigir uma saudação particular e sinceros votos aos numerosos peregrinos das dioceses da Sicília que se aprestam a partir para Lourdes.

Conheço, caríssimos irmãos e irmãs, a vossa ardente veneração à Santíssima Virgem. Que a Imaculada da sagrada gruta vos sorria, vos proteja e vos obtenha a força para servirdes com autêntico e generoso empenho o Evangelho de Jesus, seu Filho.

Ao Conselho Geral
e às Superioras locais das Irmãs Franciscanas de Cristo Rei

Com o mesmo afecto, dirijo a minha saudação ao Conselho Geral e às Superioras locais das Irmãs Franciscanàs de Cristo Rei, as quais, com grande e legítima alegria, celebram o primeiro centenário do seu restabelecimento, depois da supressão ocorrida no ano de 1867.

Caríssimas Irmãs, do coração faço votos à vossa Congregação por uma crescente fecundidade, a fim de que dê à Igreja um testemunho luminoso de vida evangélica. Que a Virgem do "Fiat" seja o vosso constante modelo e a vossa materna protectora.

A todos os Religiosos e a todas as Religiosas, que nestes dias estão a realizar o seu Capítulo Geral desejo assegurar a minha lembrança na oração e concedo uma especial Bênção Apostólica.

Aos jovens

Caríssimos Jovens! Como sempre desejo reservar-vos uma especial saudação. De modo particular dou cordiais boas vindas aos jovens que pertencem ao Movimento Europeu "GEN" dos Focolarinos, aqui presentes em grande número. Vós, caríssimos, tendes necessidade de verdade, de amor e de exemplos a imitar. Pois bem, olhai para o alto, como fez São Bento, cuja festa litúrgica se celebra hoje; olhai para Jesus e para aqueles que verdadeiramente O conhecem, O amam e O seguem!. Olhai para Jesus que é a Verdade, o Amor e o Exemplo que ilumina, atrai e convence! N'Ele satisfaz-se toda a vossa aspiração! Que a minha Bênção vós ajude!

Aos Doentinhos

Que também a vós, doentes, vindos embora com dificuldade e fadiga participar neste encontro; chegue a minha mais cordial saudação, acompanhada pelo sentimento da minha comovida benevolência e pela certeza da minha lembrança na oração.

O Calvário do Sofrimento, que vós, doentes, pondes dramaticamente em evidência, adquire significado e valor do Calvário em que Jesus morreu crucificado. O vosso sofrimento tem um grande valor para a unidade das almas à volta da Cruz, única salvação da humanidade.

Que a intercessão de São Bento vos conforte, e a minha Bênção vos acompanhe.

Aos jovens casais
Caríssimos jovens Casais!

Também para vós a minha saudação afectuosa e desejos sinceros de felicidade na nova vida que iniciastes com o Sacramento do Matrimónio. Vós, casais cristãos, sede sempre promotores da concepção genuína da família, como é desejada por Cristo; e recordai-vos também da célebre mensagem que São Bento deixou aos seus monges e também a toda a humanidade: "Ora et labora". Rezai e trabalhai, com dedicação cristã.

Que o Santo Padroeiro da Europa vos assista sempre! E que a minha benévola Bênção, vos encoraje.




AUDIÊNCIAS 1979