AUDIÊNCIAS 1979

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 18 de Julho de 1979

O contributo da Igreja para o progresso da Cultura




1. Veio a lume, ultimamente, um importante Documento da Sé Apostólica: a Constituição «Sapientia christiana», dedicada ao problema dos estudos académicos e às instituições que são criadas pela Igreja a fim de cuidarem destes estudos. Trata-se de um sector que tem atrás de si um passado longo e glorioso. A Igreja, enviada por Cristo para ensinar todas as nações (Mt 28,19), entrou, desde o início, em vivo contacto com a ciência. Confirma-o a tradição das mais antigas escolas cristãs, especialmente as mais famosas na antiguidade e a de Antioquia. Em seguida, testemunha-o todo o esforço secular das ordens monásticas, que, graças ao seu trabalho incansável, contribuíram para conservar os textos dos clássicos, ou seja dos antigos autores pagãos. E, por fim, confirma-o a estreita colaboração da Igreja com as escolas dos vários graus, que têm difundido a instrução, e sobretudo com as Universidades, cujas directrizes se formaram na Idade Média.

Àquele tempo remontam muitos dos mais antigos e célebres ateneus nos vários países do continente europeu (e, em seguida, também noutros continentes), que ainda hoje existem. Durante séculos eles foram centros de ciência e de ensino e, a eles, a cultura das nações individualmente e dos Países europeus (e também dos outros continentes) deve muitíssimo.

Sobre este vasto problema de alcance histórico, que por si só é objecto de muitos estudos e monografias, limitar-me-ei apenas a uma breve recordação. Não se pode, de facto, ignorá-lo, pois se trata de uma questão muito importante para a missão da Igreja também nos nossos tempos.

Merecem breve referência os mais antigos centros universitários e culturais como: Bolonha, Roma, Pádua, Pisa e Florença, na Itália; Paris, Toulouse e Grenoble, na França, Oxford e Cambridge, na Grã-Bretanha; Salamanca e Valladolid, na Espanha; Colónia, Heidelberg e Lípsia, na Alemanha; Viena e Graz, na Áustria; Lisboa e Coimbra, em Portugal; Praga, na Checoslováquia; Cracóvia, na Polónia; Lovaina, na Bélgica; México, no México; Córdoba, na Argentina; Lima, no Peru; Quito, no Equador; e Manila, nas Filipinas.

2. A mencionada Constituição Apostólica «Sapientia christiana» refere-se precisamente a isto. Surgiu como fruto da resolução do Concílio Vaticano II, que se declarou a favor da elaboração de um novo Documento sobre o tema das relações da Igreja com os estudos académicos. O precedente Documento, a Constituição «Deus scientiarum Dominus», foi promulgado pelo Papa Pio XI a 24 de Maio de 1931 (Pio XI, Const. Deus scientiarum Dominus, AAS 23, 1931, PP 241-262). O rápido, diria desconcertante desenvolvimento da ciência, nas suas várias correntes contemporâneas e, em relação com este fenómeno, a necessidade de adequar as instituições académicas, chamadas para a vida da Igreja a fim de satisfazerem as suas tarefas específicas, contribuíram para submeter também a uma renovação aquele insigne documento de 1931, que durante dezenas de anos prestou à Igreja e à sociedade grandes serviços.

A nova Constituição é fruto de muitos anos de trabalho. A Congregação para a Educação Católica, sob a orientação do Cardeal Gabriel-Marie Garrone, dirigiu este trabalho de acordo com cada uma das Conferências Episcopais e também com os ambientes mais interessados neste campo, e ainda com os próprios ateneus católicos, de carácter académico.

Hoje, em todo o mundo, existem 125 Centros Académicos de Estudos Eclesiásticos. Destes Centros Académicos, 16 encontram-se em Roma e são chamados também «Pontifícios Ateneus Romanos». Além disso, existem no mundo 47 Universidades Católicas instituídas pela Santa Sé e 34 Faculdades Teológicas em Universidades de Estado.

Estes ateneus tomaram parte nos trabalhos de preparação da Constituição Apostólica «Sapientia christiana».

3. O novo Documento Pontifício definiu claramente aquilo que se entende por «Faculdade Eclesiástica»; isto é, a que se ocupa particularmente da Revelação cristã e das disciplinas a ela inerentes, que por conseguinte estão ligadas à sua missão evangelizadora.

Definiu os fins específicos das Faculdades eclesiásticas: isto é, aprofundar o conhecimento da Revelação cristã; formar os estudantes, nas diversas disciplinas, a um nível de alta qualidade; ajudar activamente, tanto a Igreja universal como as Igrejas particulares, em toda a obra da evangelização.

Delineou claramente os critérios de governo de cada centro, de modo a responsabilizar todos eles e garantir um efectivo funcionamento colegial de cada um.

Explicou as funções do Magistério eclesiástico relativamente à «fusta libertas in docendo et in investigando».

Delineou os dotes requeridos nos docentes, sob o aspecto da preparação científica e do testemunho de vida.

Introduziu uma nova estrutura do «curriculum» de Faculdade. Convidou as Faculdades teológicas a uma função de inves tigação particularmente importante, ou seja a de traduzir a mensagem evangélica nas legítimas expressões culturais das várias nações.

Acentuou o aspecto ecuménico, missionário e de promoção humana que os estudos das Faculdades eclesiásticas devem abranger.

4. A Constituição sobre os estudos académicos servirá os mesmos fins que até agora serviu o Documento «Deus scientiarum Dominus» (completado, pouco depois do encerramento do Concílio, com as prescrições emanadas pela Sagrada Congregação sob o título de «Normae quaedam», de 20 de Maio de 1968). É necessário exprimir aqui a nossa gratidão a todos aqueles que contriburam para elaborar tão importante Documento. Terminando o meu discurso, por necessidade bastante breve e conciso em proporção ao seu tema, é necessário que mais uma vez nos demos conta dos fins a que servirá a Constituição Apostólica «Sapientiae christiana», tal como os serviu precedentemente a Constituição «Deus scientiarum Dominus».

Para responder a esta interrogação, é necessário termos diante dos olhos a Igreja na sua missão. Missão definida por Cristo Senhor quando disse aos Apóstolos: Ide, pois, ensinai todas as nações Mt. 28, 19, anunciai a Boa Nova a toda a criatura (Mc 16,15).

Anunciar a Boa Nova, ensinar, significa encontrarmo-nos com o homem vivo, com o pensamento humano, que continuamente, e sempre de maneira diferente e em campos novos, procura a verdade. Ele interroga e aguarda a resposta. Para encontrar a autêntica resposta, conforme com a realidade, e que seja exacta e persuasiva, ele empreende investigações algumas vezes difíceis e ingratas. A sede de verdade é uma das expressões inegáveis do espírito humano.

Anunciar a Boa Nova, ensinar, significa encontrarmo-nos com esta voz do espírito humano a vários níveis, mas sobretudo no mais elevado, lá onde a busca da verdade se realiza de ínodo metódico, nos institutos especializados, que favorecem a pesquisa e a transmissão dos resultados das investigações, isto é para o ensino.

Os ateneus católicos devem ser lugares onde a evangelização da Igreja se encontra com o grande e universal «processo académico» que frutifica com todas as conquistas da ciência moderna.

Ao mesmo tempo, nestes ateneus, a Igreja aprofunda continuamente, consolida e renova a própria ciência: a ciência que deve transmitir ao homem dos nossos tempos como mensagem de salvação. E esta ciência transmite-a, em primeiro lugar, àqueles que devem por sua vez transmiti-la aos outros de modo fiel e autêntico e, simultaneamente, adaptado às necessidades e às interrogações das gerações do nosso tempo.

É, este, um trabalho imenso, um trabalho orgânico, um trabalho indispensável. Oxalá a nova Constituição «Sapientia christiana» torne conscientes da própria tarefa, na comunidade do Povo de Deus, todos aqueles que se preparam para empreender este trabalho. Oxalá os torne conscientes da responsabilidade para com a Palavra de Deus e para com o fruto da verdade humana. Seja ela o desafio para um serviço perseverante a tal verdade.

Saudações

Às Irmãs Capuchinhas de Clausura da Itália

Desejo exprimir uma cordial saudação às Irmãs Capuchinhas de Clausura da Itália pertencentes à "Federação da Sagrada Família", reunidas em Roma para a sua Assembleia geral e para a eleição da nova Presidente do seu Conselho.

Caríssimas Irmãs, fazeis parte daquelas fileiras de almas generosas que no silêncio dos vossos mosteiros procurastes e encontrastes "a parte melhor" de que fala o Evangelho (Lc 10,42), isto é, a contemplação e a adoração assíduas a Deus, ligadas por um grande amor à Igreja e ao próximo, para o bem doa quais é oferecida a vossa existência de oração e de imolação. Ao mesmo tempo que apresento os meus férvidos votos às novas eleitas por uma actividade organizadora cada vez mais frutuosa entre todas as componentes da Federação, invoco sobre vós e sobre todas as vossas Irmãs de hábito os especiais dons do Senhor a fim de que vos conduza, ao mesmo tempo, com fortaleza e suavidade no caminho das ascensões espirituais constantes, propiciando na terra a contínua misericórdia de Deus, e concedo-vos a Bênção Apostólica.

A um grupo de Religiosas de vários Países

E agora dirijo uma saudação especial às numerosas Religiosas de vários Países, aderentes ao Movimento dos Focolarinos e reunidas nestes dias perto de Roma para meditarem sobre o tema "A presença de Jesus no irmão".

O Senhor seja sempre a vossa alegria e a causa secreta da vossa total e evangélica dedicação ao próximo, de modo a ser também a vossa suprema recompensa.

A uma delegaçã da Ilha de Lampedusa

Sei que está também presente uma delegação proveniente da Ilha de Lampedusa, acompanhada pelo Arcipreste e pelo Presidente da Câmara, e composta sobretudo por pescadores, vindos aqui para que o Papa benza a estátua de "Nossa Senhora do Mar", oferecida como ex-voto.

Ao mesmo tempo que apresento a minha saudação, benzo de muito boa vontade a imagem sagrada que será exposta para protecção de todos os amantes do mar.

Aos jovens

E agora uma breve mas cordial palavra de saudação a vós rapazes, meninas e jovens que trazeis a esta Praça o frémito da vossa juventude e o ardor da vossa fé.

Agradeço-vos vivamente a alegria que me proporcionais com a vossa presença alegre. Espero que esta vossa visita a Roma, centro da Cristandade, e este vosso encontro com o Papa, Sucessor de São Pedro, sirvam para renovar o entusiasmo do vosso ideal cristão e aumentar o vosso amor pessoal a Cristo que desejaríeis procurar conhecer melhor, com a meditação e a oração, aproveitando também estes meses estivos para lhe prestar testemunho no ambiente em que viveis, mediante uma bondade exemplar e uma disponibilidade para com os outros cada vez maior.

Que a minha Bênção Apostólica vos encorage.

Aos Doentes

A vós doentes, aqui reunidos e a todos os outros que sofrem nas suas casas ou nos hospitais, dirijo uma saudação particular, especialmente aos doentes pequeninos nos lugares de tratamento.

Sabeis bem que o Papa está e estará sempre convosco: ele segue-vos com compreensão paterna, com terno afecto e não deixa de rezar a fim de obter para vós a graça da fortaleza que vos faça superar as dificuldades e as provas a que a doença vos submete. Recordai-vos sempre de que a vossa dor, se fôr associada à de Cristo que sofre, não só não é vã, mas é fonte privilegiada de salvação para todos os homens.

O Senhor vos cubra com a abundância dos seus dons celestes para apoio e coragem dos vossos corações.

Aos jovens Casais

Um pensamento de bons votos desejo exprimir também hoje aos jovens casais, que iniciaram a sua união matrimonial com a bênção de Deus. Queridos casais, permiti-me que, aos votos sinceros de alegria e prosperidade das vossas famílias nascentes, acrescente votos por que a graça do Sacramento que há pouco recebestes jorre, como fonte inexaurível, todos os dias da vossa vida, de modo que as vossas novas famílias estejam sempre abertas aos valores autênticos da fé cristã e saibam sempre encontrar nas nascentes purificadas do amor cristão a força e a felicidade para servir as leis da vida e corresponderdes assim à vossa vocação. Que a minha Bênção Apostólica vos acompanhe sempre.



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 25 de Julho de 1979

A beleza da alegria e a beleza do amor




1. Desejo dirigir o meu pensamento para a juventude. É tempo de férias. Os jovens e as crianças estão livres dos compromissos da escola e da universidade e dedicam este período ao repouso. Desejo saudar cordialmente todos os jovens e as crianças que estão a repousar, e faço votos por que as férias lhes tragam novas cargas daquelas energias que lhes são necessárias para o novo ano de estudos. O repouso faz parte não só da ordem humana, mas também do programa divino da vida humana. Repousa bem aquele que trabalha bem e, por sua vez, aquele que trabalha bem deve repousar bem.

O meu pensamento dirige-se, de modo particular, para aqueles numerosos grupos de jovens, que fazem coincidir o próprio repouso estivo com o aprofundamento da sua relação com Deus, com o aprofundamento da sua vida espiritual. Muitos destes grupos de jovens conheço-os pessoalmente desde o tempo do meu precedente serviço de sacerdote e de Bispo na Polónia. De muitos outros grupos já aqui tive notícia. Não há dúvida que em vários países da Europa e do mundo encontramos nos jovens uma procura muito acentuada dos valores espirituais e religiosos. O facto de não ser possível preencher a vida somente com conteúdos e valores materialísticos, parece que é sentido pelos jovens muito vivamente. Facto este que dá origem a aspirações e procuras que para nós não podem deixar de ser fonte de conforto e de esperança. Elas dão testemunho do homem, que deseja viver plenamente a vida, respirar quase a plenos pulmões a própria personalidade humana. A vida reduzida unicamente à dimensão temporalidade, matéria e consumismo, suscita contestações.

2. Significativa para os ambientes de jovens em que penso neste momento, é a procura, especialmente neste período do ano, de um contacto mais íntimo com a natureza. As vertentes dos montes, os bosques, os lagos e as costas marítimas atraem, durante o verão, multidões imensas. Todavia, para muitos grupos de jovens aquele repouso, que o homem encontra no meio da natureza, torna-se particular ocasião para um contacto mais íntimo com Deus. E encontram-no na exuberante maravilha da natureza que para muitos espíritos e muitos corações se tornou, ao longo da história, fonte de inspiração religiosa. Neste duplo encontro encontram-se a si mesmos, encontram o próprio «eu» mais profundo, o próprio íntimo. A natureza ajuda-os a isto. O íntimo humano torna-se, no contacto com a natureza, quase mais transparente ao homem, mais aberto à reflexão profunda e à acção da Graça, que espera o recolhimento interior do coração dos jovens para agir com mais eficácia.

3. Tendo estado por muitos anos em contacto com grupos juvenis deste género, notei que a sua espiritualidade assenta sobre duas fontes que alimentam quase paralelamente as almas dos jovens. Uma delas é a Sagrada Escritura, a outra a Liturgia. A leitura da Sagrada Escritura, unida à reflexão sistemática sobre os seus conteúdos e tendente à revisão da própria vida, torna-se uma rica fonte para se encontrarem a si mesmos e renovarem o espírito dentro da comunidade. E, ao mesmo tempo, este processo de «liturgia da Palavra», desenvolvida em diversas direcções, conduz pelo caminho mais simples à Eucaristia, vivida com a profundidade dos corações juvenis e sempre, simultaneamente de modo comunitário. A volta da Eucaristia, esta comunidade e todos os laços que dela brotam, readquirem nova força e profundidade: laços de camaradagem, de amizade, de amor, aos quais os corações dos jovens são particularmente abertos neste período da vida. A presença permanente de Cristo, a sua proximidade eucarística oferecem a estes laços uma dimensão de particular beleza e nobreza.

4. Os ambientes e os grupos juvenis, a que me refiro neste momento, habitualmente estão repletos de autêntica alegria juvenil. Observei algumas vezes como esta alegria e espontaneidade andavam a par e passo com o amor, e também com a ordem e a disciplina. Já este facto era, por si, uma prova de que o homem só pode ser educado a partir de dentro, com a força de um ideal espiritual, fazendo-lhe ver os simples contornos da verdade e o aspecto do autêntico amor em que a vida humana está colocada por Cristo. Eu próprio voltava destes encontros mais cheio de alegria e mais «repousado» espiritualmente. «A beleza da alegria» é tão importante para o homem «como a beleza do amor».

A expressão particular de tal alegria é sempre o canto. Ainda hoje ressoam nos meus ouvidos os grupos juvenis a cantarem, dando origem ao novo estilo dos cantos, ou melhor, das canções religiosas de hoje. Este fenómeno mereceria uma análise adequada.

5. Há outros grupos que de bom grado vão peregrinando. O homem contemporâneo, mais do que o das gerações passadas, é um homem «em caminho». Isto refere-se especialmente aos jovens. São muitos estes grupos juvenis peregrinantes (no sentido estrito da palavra). A peregrinação torna-se com frequência remate de um passeio turístico embora o seu carácter seja diverso. Tenho sobretudo na ideia uma peregrinação que todos os anos, no dia 1 de Agosto, parte de Varsóvia para Jasna Gora.A juventude constitui a grande maioria dos peregrinos, que durante dez dias percorrem a pé (às vezes em condições difíceis) um caminho de cerca de 300 quilómetros. Entre esta juventude em peregrinação, um grupo, cada ano mais numeroso, é formado por jovens italianos.

6. Há poucas semanas realizou-se em Roma o quarto Simpósio organizado pelo Conselho das Conferências Episcopais Europeias sobre o tema: «Os jovens e a fé».

Mais de 70 Prelados, representantes dos Bispos da Europa, analisaram a fundo a situação dos jovens dos nossos dias no que diz respeito à fé e às características principais da sua religiosidade. Embora não deixando de se preocupar por algumas atitudes de rejeição de alguns valores tradicionais, por parte dos jovens, os Bispos salientaram que a juventude de hoje descobre cada vez mais a Igreja como comunidade de fé; aproxima-se com particular compromisso do Evangelho e da pessoa de Jesus Cristo; sente profundamente o valor da meditação e da oração.

Que tudo isto que eu disse, seja um suplemento daquele tema central de que se ocuparam, em Junho, os representantes das Conferências Episcopais de quase toda a Europa. Para todos os jovens, especialmente para aqueles que durante as férias procuram Deus, sejam estas minhas palavras uma prova de que o Papa se recorda deles e para eles pede a Cristo: «a beleza da alegria» e «a beleza do amor».

Saudações

Aos jovens e às Crianças

A todos os jovens e crianças que estão presentes neste encontro, chegue mais uma vez a minha saudação cordialíssima, com sinceros votos de boas férias. vividas no espírito a que me referi.

Em particular faço votos, queridos jovens, por que as vossas férias de verão, como toda a existência, sejam passadas em conformidade com as profundas exigências da verdade que está em vós, e que tens um nome: Jesus Cristo!

Aos doentes

"Um abraço para vós, queridos doentes". Desejo hoje recordar-vos que "... o que é fraco, segundo o mundo, é que Deus escolheu para confundir o que é forte" (1Co 1,27).

Perante a realidade do sofrimento, a fé cristã oferece uma Presença: a Presença de alguém que padeceu e morreu na Cruz, e depois venceu, ressuscitando dos mortos.

A sua vitória é também a nossa, e mediante Ele nós temos uma esperança de vida e de ressurreição, que não nos desilude. Coragem. Que o Senhor vos assista com a sua graça e o seu conforto. Ampare-vos a minha Bênção.

Aos jovens Casais

Queridos noivos, sede bem-vindos a esta Audiência. A vossa presença é — como sempre — bastante significativa. Na nova vida que iniciastes aos pés do altar do Senhor, o problema para os Casais cristãos não é só o de vos querererdes bem, mas trata-se de sentirdes e amardes a presença de Deus entre vós: trata-se de saberdes que sois parte viva da Igreja de Cristo.

Comprometei-vos a viver intensamente a vossa fé cristã. Para vós vão os meus votos mais fervorosos e a minha Bênção.



                                                                    Agosto de 1979



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 1 de Agosto de 1979

Paulo VI protagonista da renovação da Igreja




Aproxima-se o primeiro aniversário da morte do Papa Paulo VI. Deus chamou-a a si a 6 de Agosto do ano passado dia em que, todos os anos, decorre a solenidade da Transfiguração do Senhor. Esta solenidade bela e rica de conteúdo, foi o último dia do Papa Paulo VI na terra, o dia da sua morte, o dia da passagem da sua vida à eternidade. «A vida não é retirada, mas transformada» assim rezamos no Prefácio da Missa pelos defuntos. Com efeito, o próprio dia da morte daquele grande Papa, o dia da Transfiguração, tornou-se sinal eloquente desta verdade.

Podemos reflectir sobre o significado do dia que Deus escolheu para concluir uma vida tão laboriosa, tão cheia de dedicação e de sacrifício pela causa de Cristo, do Evangelho, da Igreja. O pontificado de Paulo VI não foi porventura um tempo de profunda transformação, promovida pelo Espírito Santo através de toda a actividade do Concílio, convocado pelo seu Predecessor? Paulo VI, que herdara de João XXIII a obra do Concílio logo após a primeira sessão de 1963, porventura não se encontrou no próprio centro desta transformação, primeiro como Papa do Vaticano II e depois como Papa da realização do Vaticano II, no período mais difícil, imediatamente após o encerramento do Concílio?

Se é lícito reflectir sobre o significado do dia que Deus escolheu como encerramento do seu ministério pontifício, acumulam-se na mente várias interpretações. Recordando a festa da Transfiguração que Deus quis como dia conclusivo da sua fé na terra (Cfr. 2Tm 4,7), poder-se-ia dizer que esta data manifestou, de certo modo, o particular carisma e ainda a particular tarefa da sua vida. Carisma da «transformação» e tarefa da «transformação». Poder-se-ia dizer, desenvolvendo este pensamento, que o Senhor, tendo chamado a si o Papa Paulo VI na solenidade da sua Transfiguração, permitiu-lhe, a ele e a nós, conhecer que em toda a obra de «Transformação», de renovação da Igreja no espírito do Vaticano II, Ele está presente como esteve naquele maravilhoso acontecimento verificado no Monte Tabor e que preparou os Apóstolos para a partida de Cristo desta terra, primeiro através da cruz, depois através da ressurreição.

O Papa do Vaticano II! O Papa dessa profunda transformação que era apenas uma revelação do rosto da Igreja, esperada pelo homem e pelo mundo de hoje! Também aqui há uma analogia com o mistério da Transfiguração do Senhor. De facto aquele mesmo Cristo que os Apóstolos viram no Monte Tabor era unicamente O que conheciam de todos os dias, Aquele cujas palavras tinham ouvido e cujas acções tinham visto. No monte Tabor revelou-se a eles o mesmo Senhor, mas «transfigurado».Nesta Transfiguração manifestou-se e realizou-se uma imagem do seu Mestre, que em todas as circunstâncias precedentes lhes era desconhecida, e se encontrava escondida.

João XXIII, e depois, Paulo VI, receberam do Espírito Santo o carisma da transformação, graças ao qual a figura da Igreja, conhecida de todos, se manifestou igual e ao mesmo tempo diferente.Esta «diferença» não significa afastamento da própria essência, mas antes penetração mais profunda na mesma essência. Ela é a revelação daquela figura da Igreja, que se escondia na precedente. Era necessário que através dos «sinais dos tempos», reconhecidos pelo Concílio, se manifestasse e tornasse visível, se tornasse princípio de vida e de acção, nos tempos em que vivemos e naqueles que virão.

O Papa, que nos deixou no ano passado, na solenidade da Transfiguração do Senhor, recebeu do Espírito Santo o carisma do seu tempo. Se de facto a transformação da Igreja deve servir para a sua renovação, é necessário que aquele que a empreende Possua uma consciência particularmente forte da identidade da Igreja. A expressão de tal consciência, manifestou-a Paulo VI sobretudo na sua primeira Encíclica Ecclesiam Suam, e depois continuamente: proclamando o Credo do Povo de Deus e emanando uma série de normas executivas relativamente às deliberações do Vaticano II, inaugurando a actividade do Sínodo dos Bispos, fazendo passos de pioneiro quanto à união dos cristãos, reformando a Cúria Romana, internacionalizando o Colégio Cardinalício, etc.

Em tudo isto se revelava sempre a mesma consciência da Igreja, que confirma mais profundamente a própria identidade na capacidade de renovação, de andar ao encontro das transformações que surgem da sua vitalidade e ao mesmo tempo da autenticidade da Tradição.

Que me seja permitido reevocar neste contexto pelo menos algumas frases das mensagens tão numerosas do Papa que morreu há um ano. Na sua primeira Encíclica, Ecclesiam Suam, que data justamente de 6 de Agosto de 1964, exprimia-se assim: «Por um lado, a vida cristã, como a Igreja a defende e promove, deve com perseverança e tenacidade preservar-se de tudo quanto pode enganá-la, profaná-la e sufocá-la, procurando imunizar-se do contágio do erro e do mal; por outro, a vida cristã deve não só adaptar-se às formas do pensamento e da moral, que o ambiente terreno lhe oferece e impõe, quando elas forem compatíveis com as exigências essenciais do seu programa religioso e moral, mas deve procurar aproximá-las de si, purificá-las, nobilitá-las, vivificá-las e santificá-las ...». A palavra, hoje famosa, do nosso venerando Predecessor João XXIII de feliz memória, a palavra «actualização» sempre a teremos presente como orientação programática; confirmámo-la como critério directivo do Concílio Ecuménico, e continuaremos a recordá-la como um estímulo à vitalidade sempre renascente da Igreja, à sua capacidade sempre atenta a descobrir os sinais dos tempos, à sua agilidade sempre juvenil de tudo provar e de tomar para si exactamente o que é bom (Cfr. 1Tess 1Th 5,21), sempre e em toda a parte (Ecclesiam Suam n. 44 e 52), alguns anos depois, dizia num discurso: «Quem compreendeu algo sobre a vida cristã, não pode prescindir da sua constante aspiração à renovação. Aqueles que atribuem à vida cristã um carácter de estabilidade, de fidelidade, de estaticidade, estão a ver bem, mas não estão a ver tudo. Certamente que a vida cristã é baseada em factos e em empenhos, que não admitem mutações, como a regeneração baptismal, a fé, a per-tença à Igreja, a animação da caridade; é de natureza sua uma aquisição permanente que nunca se deve comprometer, mas é, como dissemos, uma vida, e portanto um princípio, uma semente, que deve desenvolver-se, que exige crescimento, aperfeiçoamento; e dada a nossa natural caducidade e dadas certas incuráveis consequências do pecado original, exige reparação, restabelecimento, renovação» (Ensinamentos de Paulo VI, vol. IX, pág. 318).

O Papa Paulo foi um semeador generoso da palavra de Deus. Ensinou através dos solenes documentos do seu Pontificado. Ensinou através de homilias em várias circunstâncias; ensinou por fim através da catequese das quartas-feiras que, a partir do seu pontificado, entrou no programa habitual de todo o ano. Graças a isso, pôde continuamente «proclamar o Evangelho» (Cfr. Evangelii Nuntiandi ). Considerava o anúncio do Evangelho, seguindo o exemplo do apóstolo Paulo, como seu primeiro dever e como a sua maior alegria. Estas catequeses papais tornaram-se em alimento substancial para toda a Igreja, num período em que esta tinha uma necessidade particular.

Perante as inquietações do período pós-conciliar, aquele singular «carisma da Transfiguração» demonstrou-se «bênção e dom para a Igreja». Assim Paulo VI tornou-se Mestre e Pastor das inteligências e das consciências humanas, em questões que exigiam a decisão da sua suprema autoridade. Serviu Cristo e a Igreja com aquelas admiráveis firmeza e humildade que lhe permitiram ver, com olhos de fé e de esperança, o futuro da obra que estava a construir.

Aproximando-se o primeiro aniversário da sua morte, recomendamos novamente a Sua alma a Cristo no monte da Transfiguração, a fim de que Ele o acolha na glória do eterno Tabor.

Saudações

A peregrinos italianos

Saúdo com afecto os peregrinos italianos presentes na Audiência: os numerosos sacerdotes e os jovens seminaristas, os religiosos e as religiosas, os grupos paroquiais, os conjuntos familiares, como também as pessoas vindas sózinhas.

Desejo enviar uma saudação especial aos rapazes da "Comunidade de Vida Cristã", da cidade de Cúneo, os quais andam há anos a difundir pela Itália, com o canto, a mensagem evangélica.

Ao agradecer-vos a prova canora, com que alegrastes esta audiência, dirijo a cada um de vós, caríssimos jovens, urna recomendação. Faço-o com as palavras do grande Santo Agostinho: "Do mesmo modo que os viandantes costumam cantar, canta também tu e vai andando. Que significa "anda"? Vai para a frente, vai para a frente no caminho da bondade".

Saúdo agora os membros da Comissão proveniente da Ilha de Cápri, presente com uma estátua de bronze de "Nossa Senhora de Socorro", que será colocada no alto do Monte Tibério. Ao benzer a imagem da Virgem, confio à sua especial protecção as vossas pessoas, filhos caríssimos, os vossos familiares, todos os cidadãos da Ilha, e formulo para cada um os Votos duma devoção cada vez mais profunda e esclarecida à Mãe de Cristo.

A peregrinos Sérvios

Durante a Audiência geral de 30 de Maio último, falando de como no decurso da história se foram juntando às várias línguas do Cenáculo no dia do Pentecostes, as várias línguas eslavas, não mencionei a língua sérvia.

Desejo suprir hoje essa falta. Como é sabido, a origem segura do cristianismo na Sérvia remonta ao século IX, acompanhando a actividade evangelizadora e a cultura religiosa dos Santos Cirilo e Metódio. Deve todavia dizer-se que já no século VI houve tentativas de evangelizar os Sérvios. Depois, num documento de 1020 do imperador de Constantinopla, Basilios II, faz-se menção da Diocese sérvia de Ras. O fundador do estado sérvio medieval, Stefan Njemanja, foi baptizado segundo o rito latino; e seu filho Stefan Prvovencani recebeu a coroa real do Papa Honório III em 1218. Desde então, com alternativas várias, o povo sérvio aumentou e desenvolveu-se, sempre solidamente enraizado na fé cristã.

Agradeço portanto de coração ao Senhor que possa ser anunciado o Evangelho também na língua sérvia como nas outras línguas eslavas e em todas as línguas da grande família humana, que possa ser anunciado com a força do mesmo Espírito Santo, que se manifestou no princípio, no dia do primeiro Pentecostes.

Aos Jovens

Caríssimos Jovens. Vai para vós a minha saudação, cheia de afecto. Sabeis qual é o desejo do Papa a vosso respeito: desejo que sejais bons e generosos, vencendo o mal que há na sociedade, com a vossa vida de graça, com a vossa pureza e com a vossa amizade com Jesus.

Este é o caminho recto da vida: é o caminho da verdadeira alegria e da eterna salvação. Mas como fazer isto que vos digo? Qual o segredo?

Diz-no-lo o grande Santo e Doutor da Igreja que hoje festejamos, Santo Afonso Maria de Ligório, com o livro sempre actual, porque simples e profundo, "Do grande meio da oração". O segredo está na oração.

Também eu, por isso mesmo, vos exorto ao encontro com Deus mediante a oração, dizendo-vos com Santo Afonso: "Quem ora, com certeza que se salva".

Aos Doentes

Caríssimos doentes. Sempre com particular cordialidade vos dirijo a minha saudação, que brota do afecto e da veneração pelos que sofrem. Saber sofrer com amor, com resignação, com ânimo, com confiança e com paciência, eis a grande arte que se aprende só com o auxílio da graça divina, na escola de Cristo Crucificado, que entende e santifica a nossa dor.

Santo Afonso Maria de Ligório escreveu uma obra mística, muito comovedora, que ainda hoje pode consolar a ajudar: "A paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo". Exorto-vos a que a mediteis: levar-vos-á sem dúvida conforto e alívio nas vossas penas. A minha bênção vos acompanhe.

Aos jovens Casais

Caríssimos esposos,

Chegue também a vós a minha saudação, juntamente com os votos e felicitações pela vida nova que encetastes.

Segundo a instante exortação de Santo Afonso Maria de Ligório, convido-vos a colocardes a vossa vida sob a protecção de Nossa Senhora.

Uma sincera e autêntica devoção à Virgem Maria ser-vos-á -de grande auxílio, para serdes esposos cristãos, testemunhas de fé e de caridade, pais alegres e generosos.

Auxilie-vos também a minha Bênção.




AUDIÊNCIAS 1979