AUDIÊNCIAS 1979

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 8 de Agosto de 1979

Paz, justiça, evangelização no magistério de Paulo VI




1. Também hoje, como na última semana, desejo dedicar o nosso encontro à memória do grande Papa Paulo VI, que há um ano, na solenidade da Transfiguração do Senhor, o Pai Celeste chamou a si. Certamente, nem as minhas palavras da semana passada, nem tão-pouco as de hoje poderão esgotar a riqueza multiforme daquele pontificado e daquela personalidade. O que desejamos hoje pôr em relevo é a maravilhosa convergência do dia da morte com o carisma da vida de Paulo VI. Procurei desenvolver este pensamento na última semana, concentrando-me sobretudo no facto importante da transformação da Igreja, transformação promovida pela releitura dos sinais dos tempos, por parte do Concílio Vaticano II. João XXIII costumava definir esta transformação com a palavra «actualização». Todavia a este grande processo, ao qual o «Papa da bondade» deu só o início, o Papa Paulo VI dedicou todo o seu difícil Pontificado de quinze anos.

Aquela «actualização» aquela renovação ou «transformação» foi ditada pelo profundo conhecimento da natureza da Igreja e pelo amor à sua missão salvífica. Por iniciativa do Papa João, e seguidamente, sob a direcção do Papa Paulo, a Igreja adaptou-se aos deveres inerentes à sua missão, frente ao homem dos nossos tempos, frente à família humana, à qual foi enviada. O sentido mais profundo da «actualização» é estritamente evangélico: resulta da vontade de servir, seguindo Cristo, da vontade de servir a Deus nos homens, de servir o homem. O serviço identifica-se com a missão, redescoberta na missão salvífica do próprio Cristo.

2. A missão de servir o homem, no estilo do ministério pontifício de Paulo VI, teve sempre uma dimensão concreta e ao mesmo tempo universal. De facto serve-se cada homem, servindo as causas das quais depende uma justa orientação da sua vida em determinadas condições: históricas, sociais, económicas, políticas e culturais. Paulo VI, na sua missão a favor da transformação da sorte do homem na terra, pôs sempre em primeiro lugar a grande causa da paz entre as nações. A esta causa dedicou a máxima atenção, o maior cuidado e desvelo. Basta recordar as mensagens anuais no Dia Mundial da Paz, que lhe permitiram desenvolver esta grande e central temática ética dos nossos tempos, sob diversos pontos de vista.

«A paz verdadeira — recordava Ele, por exemplo, no Dia Mundial da Paz de 1971 — deve ser fundamentada sobre a justiça, sobre o sentido da intangível dignidade humana, sobre o reconhecimento da inalienável e feliz igualdade entre os homens, sobre o dogma fundamental da fraternidade humana, isto é, do respeito, do amor devido a cada homem, porque é homem. Emerge com ímpeto a palavra vitoriosa: porque é irmão. Meu irmão, nosso irmão» (Mensagem de Sua Santidade Paulo VI para a celebração do «Dia da Paz», 1 de Janeiro de 1971).

«Se queres a paz, trabalha pela Justiça». Este era o fim que Paulo VI propunha na Mensagem do ano seguinte. E comentava: «Trata-se de um convite que não desconhece as dificuldades para se praticar a Justiça: para a definir, num primeiro momento, e para a actuar, em seguida; o que não será nunca possível, sem alguns sacrifícios do próprio prestígio e dos próprios interesses. É necessário, talvez, uma magnanimidade maior, para ceder perante as razões da Justiça e da Paz, do que para lutar e para ir para a atitude de impor o próprio direito, autêntico ou presumido, ao adversário» (Ibid., 1 de Janeiro de 1972).

E ainda: «Tornemo-la possível, a Paz — insistia noutra Mensagem — pregando a amizade e praticando o amor do próximo, a justiça e o perdão cristão, abramos-lhe as portas, onde estiverem fechadas, por convenções leais e dirigidas a sinceras conclusões positivas; não recusemos qualquer sacrifício, que, sem ofender a dignidade de quem se demonstra generoso, torna a Paz mais rápida, cordial e duradoira».

3. A importância da causa da paz na vida da humanidade de hoje é necessário medi-la também na base da ameaça mortal que pode constituir a guerra moderna, através do uso de todos aqueles meios de destruição, que levam à autodestruição. Todavia, ninguém mais do que o próprio Apóstolo e Vigário de Cristo, que é o verdadeiro Príncipe da Paz, deve ter consciência que é impossível assegurar a paz à vida internacional, olhando apenas aos meios de que se pode servir o homem. É antes preferível olhar para o homem, que se serve daqueles meios. É ele próprio que deve desejar a paz com maturidade e responsabilidade, e modelar a vida da humanidade em todas as suas dimensões, com base numa procura coerente da paz. À Paz chega-se através da justiça, através de urna justiça completa e universal: opus iustitiae pax.

João XXIII, na Pacem in terris, tinha sublinhado os quatro direitos fundamentais da pessoa humana, que para o bem da paz devem ser respeitados na vida social e internacional: o direito à verdade, à liberdade, à justiça, ao amor. Paulo VI. desenvolvendo organicamente este pensamento, publicou a Encíclica para a promoção do desenvolvimento dos povos, na qual intitulou este desenvolvimento justo com «o novo nome da paz».

Recordemos todos as suas palavras: «... se o desenvolvimento é o novo nome da paz, quem não deseja trabalhar para ele com todas as suas forças»? (Encicl. Populorum Progressio PP 87). E ainda. «Combater a miséria e lutar contra a injustiça, é promover não só o bem-estar mas também o progresso humano e espiritual de todos e portanto, o bem da humanidade. A paz não se reduz a uma ausência de guerra, fruto do equilíbrio sempre precário das forças. Constrói-se, dia a dia, na busca de uma ordem querida por Deus que traz consigo uma justiça mais perfeita entre os homens» (Ibid., n. 76).

4. O Papa, que Cristo chamou a Si na solenidade da Transfiguração, continuou sempre a dispender um trabalho incansável a favor da obra da transformação do homem, da sociedade, dos sistemas, obra que devia trazer frutos tão desejados pelos homens, pelas nações, pela humanidade inteira: os frutos da justiça e da paz. Olhando com assídua atenção, às vezes talvez com inquietação, e sobretudo com contínua esperança cristã, o desenvolvimento multiforme dos acontecimentos no mundo contemporâneo, Ele trabalhou sempre a favor daquela civilização que qualificou com o nome de «civilização do amor», segundo o espírito do maior mandamento de Cristo.

A Igreja põe-se ao serviço de tal «civilização do amor» mediante a sua missão, ligada ao anúncio e actuação do Evangelho. Particularmente grata a Paulo VI foi a evangelização no mundo contemporâneo à qual — a pedido dos Bispos reunidos no Sínodo de 1974 — dedicou uma magnífica Exortação, a «Evangelii nuntiandi», quase uma suma de pensamento e indicações apostólicas, nascidas do magistério conciliar e da esperança contínua da Igreja.

«O empenho em ANUNCIAR O EVANGELHO aos homens do nosso tempo — escrevia Ele — animados pela esperança mas ao mesmo tempo torturados muitas vezes pelo medo e pela angústia, é sem dúvida alguma um serviço prestado à comunidade dos cristãos, bem como a toda a humanidade» (Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi EN 1).

E explica: «Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade: «Eis que faço de novo todas as coisas» (Ap 21,5). No entanto, não haverá humanidade nova, se não houver em primeiro lugar homens novos, pela novidade do Baptismo e da vida segundo o Evangelho. A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente esta mudança interior; e se fosse necessário traduzir isso em breves termos, o mais exacto seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da Mensagem que proclama, ela procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e colectiva dos homens, a actividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes são próprios» (V. 5, n. 18). Compromisso nobilíssimo e exaltante!

Não podemos por isso recordar o dia da morte do grande Pontífice sem nos determos a meditar, ao menos por um instante, em toda a herança do seu grande espírito.

No dia 6 de Agosto de 1978, os últimos raios da festa da Transfiguração caíram no coração do Pastor que com toda a sua vida tinha servido a grande causa da transformação do homem, na nossa época difícil, e da renovação da Igreja para tal transformação.

Estes raios pareciam dizer: «Bem, servo bom e fiel ... foste fiel ... entra no gozo do teu Senhor» (Mt 25,21). E Paulo VI já não voltou à sua fadiga quotidiana, mas seguiu o Senhor que o chamava do monte da Transfiguração.

Saudações

Aos "Madonnari"

Hoje está presente na Audiência um grupo especial: uma representação dos chamados "Madonnari", que tiveram em Camaiore di Lucca, no mês de junho, o seu "Primeiro Congresso Internacional".

A vós, caríssimos "Madonnari", que andais a desenhar com paixão e perícia nos passeios, nas praças e nos adros das igrejas as imagens de Nossa Senhora (Madonna) e dos Santos, chegue a minha saudação cordial, unida à admiração e ao agradecimento pelo "Giotto d'oro" que desejastes dar ao Papa "como mensageiro de paz e de esperança no mundo".

Vós sois os "artistas do asfalto" que desenhais com cores vivas e traços delicados só para a duração de um dia. O Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos acompanhe, para com os vossos desenhos tão significativos conseguirdes despertar nos vossos irmãos um pensamento de devoção, dar uma consoladora visão do céu e semear uma eficaz aspiração à bondade e à paz.

Esteja sempre convosco a minha estima e o meu reconhecimento.

A um grupo de peregrinos ingleses

Um dos grupos presentes é composto de jovens da Inglaterra que vieram a Itália para trabalhar em colaboração com as Irmãs da Madre Teresa de Calcutá. Jesus ensinou não só através da palavra, mas também através das suas acções, a ajudar os outros. Vós tendes seguido as suas pisadas. Certamente que Ele vos recompensará e vos encherá com as suas bênçãos.

Aos Jovens

Dirijo-me a vós, caríssimos jovens, que sempre alegres vindes de toda a Itália para ver o Papa e escutar a sua palavra. Repito esta palavra, exprimindo-a através de formas o mais diferentes possível, mas na substância sempre idêntica: Amo-vos muito!

Na luz e no fervor do amor de Cristo, exorto-vos a perseverar na alegria, graças à qual não vos serão nunca difíceis a prática dos ensinamentos do Evangelho e a sua difusão em cada ambiente: colaborando assim com generosa disponibilidade e dedicação, que tanto agradam ao Senhor, na acção santificadora e libertadora da sua graça. Com este voto, abençoo-vos de todo o coração e, convosco, as vossas respectivas famílias.

Aos Doentes

A vós, enfermos presentes nesta audiência, e a todos os que sofrem no corpo e no espírito, o meu pensamento paterno e reconhecido!

O Papa, Pai comum de todos, sabe que ninguém se deve admirar se ele, caríssimos enfermos, vos olha com predilecção e nutre por vós particular afecto; vós sois efectivamente, com o vosso sofrimento, aceito humildemente e suportado com exemplar generosidade, a demonstração da conformidade com a vontade divina, não só no desejo da mais profunda purificação, para tornar mais grato a Deus o vosso sacrifício, mas também porque a tal sois inspirados pela caridade para com o próximo. Esta união com Deus é aquela que Santa Teresa de Jesus desejava, mais até que a união mística, e recomendava continuamente, porque é a mais certa de todas. Encorajando-vos a esse sublime colóquio com o Pai celeste acompanho-vos com a Bênção Apostólica.

Aos jovens Casais

E a vós, caríssimos casais, dirigem-se a minha saudação cordial, as felicitações e os melhores votos. Vós estais a experimentar, nestes primeiros dias da vossa união conjugal, a veracidade e a solidez do vosso amor: aquele amor que foi abençoado para vós, recomendado e chamado santo. Faço votos por que o vosso afecto seja sempre a fonte da vossa felicidade cristã, daquela alegria serena que apenas pode existir e durar se é compreendido e aceite o alto sentido da vida presente, fundada na plenitude do espírito cristão. Com tais votos, concedo a vós, aos vossos parentes e amigos a Bênção Apostólica.



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 22 de Agosto de 1979

No documento sobre a catequese

o testamento de Papa Luciani




1. O nosso pensamento dirige-se nestes dias de Agosto para os factos que, no ano passado, se realizaram precisamente durante este mês. Sábado, 12 de Agosto, a Igreja Romana, a Cidade e o Mundo inteiro davam a última saudação ao grande Papa Paulo VI, cujos despojos foram depositados junto dos de João XXIII; e os Cardeais reunidos em Roma iniciavam os preparativos para o Conclave, fixado para 26 de Agosto. Era também um sábado. Pela primeira vez um Colégio tão numeroso e tão variado se aplicava a eleger um novo Sucessor de São Pedro. Contudo bastou um só dia, 26 de Agosto, para que Roma e o Mundo recebessem, na tarde do mesmo dia, notícia da eleição: «Annuntio vobis gaudium magnum: habemus Papam» — comunicava pelas 18 horas o Cardeal Protodiácono da varanda da basílica.

O novo Papa escolheu dois nomes: João — Paulo. Recordo-me bem daquele momento, quando, na Capela Sistina, ele expressou a sua vontade: «Quero usar os nomes de João e de Paulo». Esta decisão tinha uma eloquência convincente. Pessoalmente, pareceu-me decisão carismática.

Assim pois, no sábado 26 de Agosto, dia dedicado à Mãe de Deus (na Polónia celebra-se neste dia a festa de Nossa Senhora Negra de Jasna Gora, isto é, do Monte Claro) apresentou-se a nós o Papa João Paulo I. E foi acolhido pela cidade de Roma e pela Igreja com grande júbilo. Nesta espontânea alegria havia gratidão ao Espírito Santo porque, de modo tão visível, tinha dirigido os corações dos eleitores e, contra todos os cálculos e previsões humanas, «mostrava aquele que Ele próprio designara» (Cfr. Act Ac 1,24). Esta grande alegria e reconhecimento da Igreja não foi perturbada nem sequer pelo inesperado falecimento do Papa João Paulo I. Só por 33 dias exercera o seu ministério pastoral na cátedra romana, à qual fora mostrado mais que dado, «ostensus magis quam datus», palavras que foram pronunciadas por ocasião da morte de Leão XI, também imprevista.

2. O pontificado de João Paulo I, embora de menos de cinco semanas de duração, deixou todavia marca especial na Sé romana e na Igreja Universal. Talvez esta marca não esteja completamente desenhada: é contudo notada com clareza. Para a decifrar até ao fundo, é precisa uma perspectiva mais ampla. Só com o andar dos anos se tornam mais compreensíveis os desígnios da Providência aos espíritos habituados a julgar apenas segundo as categorias da história humana. Um momento porém deste breve pontificado parece especialmente eloquente, para todos aqueles que olharam para a figura de João Paulo I e seguiram com atenção a sua breve actividade. Esta desenrolou-se num período em que — depois de encerrado o Sínodo dos Bispos, dedicado à catequese (Outubro de 1977) — a Igreja começava a assimilar os frutos desse grande trabalho colegial e sobretudo esperava a publicação do respectivo documento, que os participantes no Sínodo tinham pedido a Paulo VI. Infelizmente a morte não permitiu a este grande Papa publicar a sua exortação sobre o tema-chave para a vida da Igreja inteira. Também João Paulo I não teve tempo de o fazer. Demasiado breve foi, na verdade, o seu ministério pontifício.

Embora não tenha conseguido publicar o documento dedicado à catequese, conseguiu todavia, conseguiu certamente, manifestar e confirmar com as próprias acções ser a catequese aquele fundamento e encargo insubstituível do apostolado e da pastoral, para cujo desempenho todos devem contribuir e pelo qual todos na Igreja devem sentir-se responsáveis: o Papa em primeiro lugar. João Paulo I não pôde promulgar com o próprio nome o documento redigido em palavras; mas teve tempo para demonstrar e afirmar com o próprio exemplo o que é, e o que deve ser, a. catequese (na vida da Igreja dos nossos tempos. Para isto bastaram Os 33 dias do seu pontificado.

E quando, dentro em pouco, aparecer o documento dedicado à catequese, será necessário recordar para sempre que todo o singular pontificado de João Paulo I, «ostensus magis quam datus», foi principalmente comentário vivo deste documento e deste tema; pode-se dizer que o testamento do Papa foi constituído por este documento sobre a catequese. Ele, de facto, não deixou outro testamento.

3. No domingo 26 de Agosto — ocorrendo o primeiro aniversário da eleição de João Paulo I para a cátedra de São Pedro — desejo ir à sua terra natal em Canale d'Agordo, na diocese de Belluno.

Faço-o por necessidade do meu coração.

Faço-o também a fim de prestar homenagem ao meu Predecessor imediato (de quem herdei o nome) e prestar homenagem àquele pontificado, por meio do qual nos fala uma verdade que é maior que a humana. A Igreja viva na terra — em Roma e em todo o mundo — foi iluminada por esta verdade que supera a humana e nenhuma história pode abraçar e exprimir, verdade que todavia foi expressa com grande energia no Evangelho do Senhor: «O tempo é breve»(1Co 7,29) ... «Sim, Eu venho em breve» (Ap 22,20).

Bem parece que o pontificado de João Paulo I se pode resumir nesta única frase: «Vem, Senhor Jesus», «Marana tha» (Ap 22,20). O Eterno Pai considerou-a a mais necessária à Igreja e ao mundo: para cada um de nós e para todos sem qualquer excepção. E nesta frase devemos deter-nos, enquanto se aproxima o aniversário da eleição e, dentro em pouco, da morte do Papa João Paulo I, servo dos servos de Deus.

Saudações

Aos Jovens

Desejo exprimir a minha paternal satisfação a todos vós, jovens presentes nesta Audiência, pela vivacidade e entusiasmo que vos distingue e é eloquente demonstração do vosso amor por Jesus e pelo Papa, seu vigário na terra.

Oxalá a vossa alegria se mantenha sempre inalterada e seja contínua irradiação da luz interior da consciência recta, sempre atenta a dirigir para o bem as vossas acções, a inspirar-vos sentimentos de solidariedade fraternal e generosa colaboração em todos os níveis. Acompanha-vos neste esforço a minha Bênção, que torno extensiva aos vossos familiares.

Aos Doentes

E vós, caríssimos doentes, bem o sabeis, tendes lugar privilegiado no coração do Papa. Como não constituirdes objecto de particulares cuidados, vós que desempenhais na Igreja a missão singular do sofrimento humildemente aceite. o qual se transforma assim em caridade para com os irmãos?

Enquanto com ânimo reconhecido torno público este vosso testemunho, convido-vos, à semelhança de Cristo crucificado, a continuar a transformar as vossas dores físicas e morais num cálix de propiciação e intercessão. Conforte-vos a minha Bênção paternal, que vos concedo a vós e às vossas respectivas famílias.

Aos Jovens Casais

Aos jovens esposos uma palavra de felicitação, de bons votos e de ânimo. Realizastes o sonho mais belo da vossa vida: e a graça do sacramento do matrimónio infundiu-se em vós como garantia, por parte de Deus, do vosso amor e da vossa doação recíproca. Com Jesus também vós vencestes o mundo. Confiai sempre no auxílio divino que tendes, por assim dizer, ao alcance da mão, especialmente nas horas de tristeza e dificuldade. Estai sempre com Cristo, ele é o vosso conforto, o vosso alimento e o segredo da vossa vitória, verdadeira e duradoira felicidade.

Abençoo-vos de todo o coração.

Aos Meninos de Coro de Malta

Um obrigado paternal a vós, Meninos de coro da Arquidiocese de Malta, que há vários anos começastes a vir passar o período do verão em Roma a fim de prestar louvavelmente o vosso serviço litúrgico na Basílica Vaticana. São férias bem merecidas as vossas e, ao mesmotempo que dão glória a Deus, constituem prova de fé e bondade. Voltando à vossa bela ilha, sirva-vos de incitamento para progredir sem descanso no bem, o amor do Papa que abrange todos os vossos compatriotas. Com a minha Bênção Apostólica.

A um grupo de Fiéis de Petriolo

Especial saudação dirijo ao grupo de fiéis de Petriolo, que, guiados pelo seu Arcebispo, Dom Cleto Bellicci, estão aqui hoje, por ocasião do 25° aniversário da elevação a "santuário" do templo da sua cidade, dedicado a Nossa Senhora da Misericórdia. De boa vontade satisfaço o desejo que têm de que eu benza o novo portal destinado ao Santuário, exortando a que olhem sempre com fé e confiança para a santíssima Virgem, que — como dizemos na bem conhecida oração — é mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa.

Aos Dirigentes do Movimento Juvenil Missionário

Aos numerosos Dirigentes do Movimento Juvenil Missionário das Dioceses da Itália, presentes nesta Audiência, dirijo uma paterna saudação e um cordial agradecimento por terdes vindo manifestar ao Papa sentimentos de filial devoção e fidelidade incondicionada.

O Congresso Nacional, que foi promovido pelas Pontifícias Obras Missionárias e no qual estais a tomar parte, é prova de possuirdes plena consciência e firme vontade de continuar a oferecer, com inteligência e zelo, o vosso auxílio às Igrejas locais contribuindo "para a expansão e dilatação do Corpo de Cristo, de maneira que ele seja levado o mais depressa possível à sua plenitude" (Cfr. Decr. Ad Gentes, AGD 36).

O Papa portanto aprecia muito este vosso esforço, anima o vosso nobre trabalho e exorta-vos a perseverar nele, sempre conscientes de fazer coisa agradável ao Senhor, útil à Igreja e tão necessária ao mundo inteiro.

Fiéis ao tema da vossa peregrinação, conservai sempre "a solicitude de todas as Igrejas", especialmente das que precisam de auxílio moral, espiritual e material. Proceder assim é praticar o grande mandamento do Senhor Jesus, é viver o Mistério da Igreja e é também contribuir para a paz do mundo.

Deus ampare e abençoe as vossas pessoas e as vossas actividades apostólicas!

A um Grupo Chinês de Dança Clássica

As minhas especiais saudações vão para o Grupo Chinês de Dança Clássica da Academia Nacional de Artes de Taiwan. É um prazer contar com a vossa presença nesta audiência e ser testemunha da expressão da vossa arte. Por meio da vossa execução, consiga a elevante mensagem de beleza tocar as vidas de muitos homens e mulheres nos nossos dias.

A um Grupo de Peregrinos da Austrália e Nova Zelândia

Apraz-me dirigir uma especial saudação ao grupo de Irmãos Cristãos da Austrália e Nova Zelândia. Durante a vossa peregrinação, que vos levará proximamente à Irlanda, os vossos pensamentos dirigem-se com razão para Edmund Rice e para a herança que vos deixou. Lembrai-vos sempre do valor incomparável da consagração total a nosso Senhor Jesus Cristo — consagração ratificada todos os dias pela oração e pelo esforço. Lembrai-vos do que representa para vós pessoalmente o compromisso eclesial. Lembrai-vos do poder santificador e evangelizador da vossa vocação: facere et docere. Para todos vós a minha especial Bênção Apostólica, com a minha oração a fim de que persevereis animados e vos renoveis na santidade



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 29 de Agosto de 1979

A Catequese:

sinal e fonte da vitalidade da Igreja




1. Desejo iniciar o discurso de hoje partindo de duas frases pronunciadas por Cristo sobre o tema da criança, as quais mutuamente se completam. Poder-se-ia dizer que formam um programa evangélico dedicado mesmo à criança. Sobre tal programa somos chamados a reflectir de modo particular neste ano que, por iniciativa da Organização das Nações Unidas, é celebrado como o Ano internacional da criança.

Cristo pronunciou a frase, que todos bem conhecemos: «Deixai vir a mim as crianças, pois delas é o reino dos céus» (Mt 19,14). Estas palavras, dirigiu-as aos Apóstolos, que, reparando no cansaço do Mestre, queriam antes proceder diversamente, isto é, queriam impedir as criancinhas de se aproximarem de Cristo. Queriam afastá-las, talvez para que não lhe tirassem tempo. Cristo, pelo contrário, reivindicou os seus direitos sobre as crianças motivando estes a partir da sua perspectiva.

A segunda frase que neste instante me vem ao espírito soa muito severa. Na verdade, defende a criança de todos quantos a escandalizam: «Se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, seria preferível que lhes suspendessem em volta do pescoço uma mó de moinho, das movidas pelos jumentos, e o lançassem nas profundezas do mar» (Mt 18,6). A repreensão é muito severa; mas é também grande mal o escândalo dado a qualquer ser inocente. Causa-se grande prejuízo à alma juvenil, enxertando o mal onde devem desenvolver-se a graça e a verdade, a confiança e o amor. Só Aquele que pessoalmente amou muito a alma inocente das crianças e a alma juvenil, podia exprimir-se sobre o escândalo da maneira como o fez Cristo. Só Ele podia ameaçar, com palavras tão tremendas, aqueles que dão escândalo.

2. Devemos tomar em conta toda a verdade que diz respeito à criança, verdade que deriva destas duas afirmações evangélicas, para compreender e apreciar o trabalho da última assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos de 1977. O tema, como sabemos, tratava da catequese com especial referência à catequese das crianças e dos jovens. A sessão sinodal, como de costume, reunira os representantes das Conferências Episcopais de todo o mundo. A rica troca de experiências encontrou ressonância, ao menos parcialmente, no documento final informativo e também na mensagem dirigida pelo Sínodo à Igreja inteira. Ao mesmo tempo os participantes tinham-se dirigido ao Papa Paulo VI para que, servindo-se do rico material do mesmo Sínodo, preparasse e publicasse um documente pessoal, como acontecera depois do Sínodo sobre a evangelização. A morte de Paulo VI e, em seguida, a imprevista partida de João Paulo I retardaram até agora a publicação do documento.

Por outro lado, o problema da «catequese» é, por si só, vivo e urgente. A catequese, na verdade, é, por assim dizer, sinal infalível da vida da Igreja e inexaurível fonte da sua vitalidade. Tudo isto encontrou expressão própria no complexo dos trabalhos do Sínodo e manifesta-se principalmente na vida quotidiana da Igreja: das paróquias, das famílias e das comunidades. Não queria aqui repetir o que sobre este tema foi dito, escrito e publicado com tanta competência. Pretendo somente sublinhar e pôr em evidência que, através da catequese das crianças e dos jovens, se realiza sem cessar o apelo tão eloquente de Cristo: «Deixai vir a mim as criancinhas; não as afasteis...» (Mc 10,14). Todos os sucessores dos Apóstolos e a Igreja inteira, na sua consciência evangelizadora, devem trabalhar em toda a parte para se cumprir aquele desejo e apelo de Cristo na medida requerida pelas múltiplas necessidades dos nossos tempos.

Acompanhando tal apelo, está a repreensão do Senhor contra o escândalo. A catequese das crianças e dos jovens tende, em toda a parte e sempre, a fazer aumentar, nas almas juvenis, o que é bom, nobre e digno. Torna-se escola de melhor e mais amadurecido sentido de humanidade, que se desenvolve no contacto com Cristo. Não há, de facto, instrumento mais eficaz para proteger contra o escândalo, contra a penetração do mal, contra a desmoralização, contra o sentido da inutilidade da vida e a frustração, do que enxertar o bem, infundindo-o profunda e vigorosamente nas almas juvenis. Vigiar para que tal bem desabroche e dê fruto, pertence à missão formativa da catequese.

3. Um dos frutos de maior relevo das várias experiências pastorais, que teve diante de si o Sínodo dos Bispos, é a verificação do carácter evolutivo e ao mesmo tempo orgânico da catequese. Não pode esta limitar-se unicamente à comunicação de informações religiosas, mas deve ajudar a acender nas almas aquela luz que é Cristo. Tal luz deve iluminar eficazmente todo o caminho da vida humana. A catequese deve portanto ser objecto de trabalho sistemático e de colaboração.Embora tenha de atingir primariamente aqueles a quem é sobretudo dirigida, isto é, as crianças e os jovens, não pode todavia limitar-se apenas a estes. Condição duma catequese eficaz das crianças e dos jovens é, e continua a ser, a catequese dos adultos, em várias formas, em diversos níveis e em diferentes ocasiões. Isto é importante sobretudo se se repara no encargo de catequização próprio da família, e se se considera o desenvolvimento da problemática da fé e da moral. A catequese, com efeito, deve ser encarada especialmente pelos adultos, vendo-a como verdadeiros cristãos já amadurecidos.

4. O Sínodo dos Bispos de 1977 está sempre ligado para mim à viva recordação do cardeal Albino Luciani, cujo lugar neste Sínodo estava mesmo ao lado do meu. Espero que o documento, que em breve será publicado, consiga transmitir, a toda a Igreja aquele espírito de amor pela catequese que animou o então Patriarca de Veneza e depois Papa com o nome de João Paulo I.

Saudações

Caríssimos jovens!

Chegue até vós, como sempre, de modo particular, a minha saudação e o meu abraço afectuoso!

Agradeço a vossa presença: vós trazeis alegria, vivacidade, esperança, e recordais-nos o empenho que todos temos de vos amar e edificar!

Hoje, ainda sob a impressão do encontro espiritual que tive com o Papa João Paulo I na sua terra natal, quero deixar-vos como recordação um pensamento seu. Falando do amor que se deve dedicar a Deus, Ele dizia na sua última Audiência Geral: "Deus é demasiado grande, demasiado merece de nós, para que baste deitar-lhe, como a um nobre Lázaro, unicamente algumas migalhas do nosso tempo e do nosso coração. É bem infinito e será a nossa felicidade eterna!" (27 de Setembro de 1978).

Tende presente estas palavras, simples e profundas! Dai todo o vosso amor a Jesus! Oferecei-Lhe toda a vossa vida!

E também vos acompanhe sempre o meu afecto e a minha Bênção.

Aos Doentes

Caríssimos doentes!

Também a vós, e de modo muito especial, dirijo a minha saudação, particularmente afectuosa e sensível. velos vossos sofrimentos e pelo vosso exemplo de paciência e de coragem.

Com profunda comoção quero recordar-vos o que João Paulo I disse a um Cardeal, que, depois da sua eleição, Lhe oferecia um livrinho com uma "Via-Sacra" desenhada: "O caminho dos Papas é marcado pela Cruz. Ajudai este pobre Cristo a levar a Cruz, ajudai o Papa a subir o Calvário para o bem da Igreja, das almas e da humanidade".

Palavras sérias e dolorosas que desejo recordar-vos, queridos doentes, a fim de que ofereçais as vossas orações e os vossos sofrimentos pelo Papa e pela sua Missão de Pai e de Pastor.

Sabei que eu, em nome do Senhor, estou sempre junto de vós com a minha oração e com a minha Bênção.

Aos jovens Casais

E por fim, agradeço aos jovens Casais a sua presença, sempre tão cordial e gentil! Sede sempre bem-vindos e recebei a minha saudação de bons votos para a vossa nova vida!

Desejo também recordar-vos um pensamento de João Paulo I, tirado de uma das suas famosas cartas imaginárias, publicadas quando ainda era Cardeal: "O esforço de ver as coisas pelo lado melhor deveria caracterizar o cristão: se é verdade que 'Evangelho' quer dizer boa nova, cristão significa homem alegre e distribuidor de alegria" ("Illustrissimi" - Carta a Hipócrates - Ed. Messaggero, Pádua, 1978, p. 198).

Na vossa nova vida, queridos Casais, procurai ver as coisas pelo lado melhor, procurai compreender-vos, entender-vos sempre, confiar um ao outro as vossas alegrias e os vossos sofrimentos, rezar juntos, e assim sereis sempre alegres testemunhas - da "Boa Nova"!

A minha Bênção vos ajude e acompanhe!

A um grupo de inválidos de guerra
provenientes dos Países Baixos

Dirijo uma saudação especial ao grupo de inválidos de guerra, provenientes dos Países Baixos, com as respectivas famílias. Deveis ter tido que empregar muita força física e espiritual para conseguir enfrentar a vossa invalidez física; a solidariedade dos vossos familiares ajudou-vos muito. Abençoe o Senhor esta vontade de viver e esta solidariedade, e ao mesmo tempo reforce a vossa disponibilidade para a paz.

A um grupo de peregrinos da diocese de Lugano (Suíça)

Dirijo a minha palavra particularmente cordial ao numeroso grupo de peregrinos da Diocese de Lugano, na Suíça, acompanhados pelo seu Bispo Dom Ernesto Togni.

Apraz-me, antes de tudo, que tenhais querido vir até Roma renovar a vossa fé junto do túmulo do Apóstolo Pedro e também perante o seu humilde sucessor.

Desejo-vos, pois, que possais partir deste lugar com uma fé mais robusta e alegre, com um renovado vigor para enfrentardes as asperezas da vida, e com um amor mais ardente que vos torne cada vez mais "Igreja" e sensíveis às necessidades de cada homem, nosso irmão.

Acompanhe-vos sempre a minha Bênção Apostólica, que me apraz leveis também aos vossos entes queridos, aos doentes, aos amigos e a todos os que se encontram particularmente necessitados, com o desejo de serenidade cristã para todos.

A um grupo de consulentes eclesiásticos
do Centro Desportivo Italiano

E agora, dirijo uma saudação muito particular ao grupo de Consulentes Eclesiásticos do Centro Desportivo Italiano, reunidos nestes dias em Frascati vara estudar o tema: "Comunidade cristã. desporto e território".

Os meus votos mais cordiais por que façais convergir sempre harmoniosamente a vossa necessária preocupação pastoral, em favor dum ambiente desportivo, com um autêntico apreço pelo desporto como valor de firme promoção humana.

E, a este propósito, gosto de repetir algumas palavras luminosas do Papa Paulo VI, de feliz memória, segundo o qual o desporto, "se for praticado rectamente, é grande escola de treino para as virtudes humanas, que são pedestal insubstituível para construir sobre ele, com a ajuda de Deus, as virtudes cristãs" (Insegnamenti di Paolo VI, vol. XII, 1974, p. 85).

Concedo-vos de todo o coração a minha Bênção Apostólica que faço extensiva também a todos os caríssimos jovens desportistas, e aos seus dirigentes, a quem dedicais o vosso zelo sacerdotal.

E o Senhor esteja sempre convosco.



                                                                       Setembro de 1979


AUDIÊNCIAS 1979