AUDIÊNCIAS 1979

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 10 de Outubro de 1979

O significado da solidão original do homem




1. Na última reflexão do presente ciclo, chegámos a uma conclusão introdutória, tirada das palavras do Livro do Génesis, sobre a criação do homem como macho e fêmea. A estas palavras, ou seja, ao «princípio», referiu-se o Senhor Jesus na sua conversa sobre a indissolubilidade do matrimónio (Cfr. Mt Mt 19,3-9 Mc 10,1-12). Mas a conclusão, a que chegámos, não termina ainda a série das nossas análises. Deve-mos, de facto, reler a narração do primeiro e do segundo capítulo do Livro do Génesis num contexto mais largo, que nos permitirá estabelecer uma série de significados do texto antigo, a que se referiu Cristo. Hoje reflectiremos portanto sobre o significado da solidão original do homem.

2. O ponto de partida para esta reflexão vem-nos directamente das seguintes palavras do Livro do Génesis: Não é conveniente que o homem (macho) esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele (Gn 2,18). Deus-Javé que pronuncia estas palavras. Fazem parte da segunda narrativa da criação do homem e provêm portanto da tradição javista. Como já recordámos precedentemente, é significativo que no texto javista, a narrativa da criação do homem (macho) seja um trecho completo (Gn 2,7), que precede a narrativa da criação da primeira mulher (Gn 2,21-22), além disso, significativo que o primeiro homem ('adam), criado do «pó da terra», só depois da criação da primeira mulher seja definido como «macho» (' ). Assim portanto, quando Deus-Javé pronuncia as palavras a respeito da solidão, refere-as à solidão do «homem» enquanto tal, e não só à do macho*.

É difícil porém, só com base neste facto, chegar muito longe tirando conclusões. Apesar disso, o contexto completo daquela solidão de que fala o Génesis 2, 18, pode convencer-nos que se trata aqui da solidão do «homem» (macho e fêmea) e não apenas da solidão do homem-macho, causada pela falta da mulher. Parece, por conseguinte, com base no contexto inteiro, que esta solidão tem dois significados: um que deriva da própria criatura do homem, isto é, da sua humanidade (o que é evidente na narrativa de Gn 2), e o outro que deriva da relação macho-fêmea, o que é evidente, em certo modo, com base no primeiro significado. A análise particularizada da descrição parece confirmá-lo.

3. O problema da solidão manifesta-se unicamente no contexto da segunda narrativa da criação do homem. A primeira não conhece este problema. Nesta aparece o homem criado num só acto como «macho e fêmea» (Deus criou o homem à sua imagem ... criou-os homem e mulher (Gn 1,27). A segunda narrativa que, segundo já mencionámos, fala primeiro da criação do homem e, só depois, da criação da mulher da «costela» do macho, concentra a nossa atenção em o homem «estar só». Isto apresenta-se como problema antropológico fundamental, anterior, em certo sentido, ao problema apresentado pelo facto de tal homem ser macho e fêmea. Este problema é anterior não tanto no sentido cronológico quanto no sentido existencial: é anterior «por sua natureza». Tal se revelará também o problema da solidão do homem do ponto de vista da teologia do corpo, se conseguirmos fazer uma análise profunda da segunda narrativa da criação em Génesis 2.

4. A afirmação de Deus-Javé, «não é conveniente que o homem esteja só», aparece, não só no contexto imediato da decisão de criar a mulher («vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele»), mas também no contexto mais amplo de motivos e circunstâncias, que explicam mais profundamente o sentido da solidão original do homem. O texto javista liga primeiramente a criação do homem com a necessidade de cultivar a terra (Gn 2,5), o que, na primeira narrativa, corresponde à vocação de encher e dominar a terra (Cfr. Gén Gn 1,28). Além disso, a segunda narrativa da criação fala de o homem ser colocado no «jardim do Éden», e deste modo introduz-nos no estado da sua felicidade original. Até este momento o homem é objecto da acção criadora de Deus-Javé, que ao mesmo tempo, como legislador, estabelece as condições da primeira aliança com o homem. Já com este recurso é sublinhada a subjectividade do homem. Esta encontra nova expressão quando o Senhor Deus, após ter formado da terra todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, os conduziu até junto do homem (macho), a fim de verificar como ele lhes chamaria (Gn 2,19). Logo o primitivo significado da solidão original do homem é definido em função dum «test» específico, ou dum exame a que o homem é sujeito diante de Deus (e em certo modo também diante de si mesmo). Graças a esse «test», o homem toma consciência da própria superioridade, quer dizer, de não poder colocar-se em igualdade com nenhuma outra espécie de seres vivos sobre a terra.

Na verdade, como diz o texto, o homem impôs os nomes para que todos os seres vivos fossem conhecidos pelos nomes que o homem lhes desse (Ibid). O homem designou com nomes todos os animais domésticos, todas as aves dos céus e todos os animais ferozes; contudo—termina o autor — o homem (macho) não encontrou para si uma auxiliar adequada (Gn 2,20).

5. Toda esta parte do texto é, sem dúvida, preparatória da narrativa da criação da mulher. Esta parte do texto possui contudo significado próprio e profundo, mesmo independentemente desta criação. É o seguinte: o homem criado encontra-se, desde o primeiro momento da sua existência, diante de Deus quase à busca da própria «entidade». A verificação de o homem «estar só» no meio do mundo visível e, em especial, entre os seres vivos, tem nesta busca significado negativo, na medida em que exprime o que ele «não é». Apesar disso, a verificação de não se poder essencialmente identificar com o mundo visível dos outros seres vivos (animalia)tem, ao mesmo tempo, aspecto positivo para esta busca primária: embora esta verificação não seja ainda uma definição completa, constitui todavia um dos seus elementos. Se aceitamos a tradição aristotélica, na lógica e na antropologia, seria necessário definir este elemento como «género próximo» (genus proximum)**.

6. O texto javista consente-nos todavia descobrir ainda novos elementos naquele admirável trecho, em que o homem se encontra só, diante de Deus, sobretudo para exprimir, através duma autodefinição, a própria autoconsciência, como primitiva e fundamental manifestação de humanidade. O autoconhecimento acompanha o conhecimento do mundo, de todas as criaturas visíveis, de todos os seres vivos a que o homem deu nomes para afirmar em confronto com eles a própria diversidade. Assim portanto, a consciência revela o homem como o ser que possui a faculdade cognoscitiva a respeito do mundo visível. Com este conhecimento que o faz sair, em certo modo, fora do próprio ser, ao mesmo tempo o homem revela-se a si mesmo em toda a peculiaridade seu ser. Está não apenas essencialmente mas subjectivamente só. Solidão, de facto, significa também subjectividade do homem, a qual se forma através do autoconhecimento. O homem está só, porque é «diferente» do mundo visível, do mundo dos seres vivos. Analisando o texto do Livro do Génesis, tornamo-nos, em certo sentido, testemunhas do modo como o homem «se distingue», diante de Deus-Javé, de todo o conjunto dos seres vivos (animalia)como o primeiro acto de autoconhecimento, e de como, por conseguinte, se revela a si mesmo e ao mesmo tempo se afirma no mundo visível como «pessoa». Aquele processo delineado de modo tão enérgico em Génesis 2, 19-20, processo de busca duma definição de si mesmo, não leva só a indicar — voltando nós à tradição aristotélica — o genus proximum, que no capítulo 2.° do Génesis é expresso com as a palavras «deu os nomes», a que corresponde específica» que é, segundo a definição de Aristóteles, noûs, zoón noetikon. Tal processo leva também à primeira delineação do ser humano como pessoa humana, com a própria subjectividade sua característica.

Interrompamos aqui a análise do significado da solidão original do homem. Retomá-la-emos daqui a uma semana.

* O texto hebraico chama constantemente ao primeiro homem ha-'adam, ao passo que o termo 'is («macho») só é usado quando aparece o confronto com a 'issa («fêmea»).

Solitário estava pois «o homem» sem referência ao sexo.

Na tradução para algumas línguas europeias, é difícil porém exprimir este conceito do Génesis, porque «homem» e «macho» são definidos ordinariamente com um vocábulo único: «homo», «uomo», «homme». «hombre», «man».

** «An essencial (quidditive) definition is a statement which explains the essence or nature of things.

It will be essential when we can define a thing by its proximate genus and specific differentia.

The proximate genus includes within its comprehension all the essential elements of the genera above it and therefore includes all the beings that are cognate or similar in nature to the thing that is being defined; the specific differentia, on the other hand, brings in the distinctive element which separates this thing from all others of a similar nature, by showing in what manner it is different from all others, with which it might be erroneously identified.

«Man» is defined as a «rational animal»; «animal» is his proximate genus, «rational» is his specific differentia. The proximate genus `animal» includes within its comprehension all the essential elements of the genera above it, because an animal is a «sentient, living, material substance» (...). The specific differentia «rational» is the one distinctive essential element which distinguishes «man» and every other «animal». It therefore makes him a species of him own and separates him from every genus above animal, including plants, inanimate bodies and substance.

Furthermore, since the specific differentia is the distinctive element in the essence of man, it includes all the characteristic «properties» which lie in the nature of man as man, namely, power of speech, morality, government, religion, immortality etc. — realities which are absent in all other beings in this physical world» (C. N. Bittle, The Science of Correct Thinking, Logic, Milwaukee 1947, pág. 73-74).

Saudações

Aos participantes na XXVII Assembleia geral
da União das Superioras-Maiores da Itália (USMI)

Estão presentes na Audiência cerca de 600 Superioras-Gerais e Provinciais, que participam na XXVII Assembleia geral da União das Superioras-Maiores da Itália (USMI) subordinada ao tema: "Presença pastoral dos religiosos na Igreja hoje na Itália e o seu carisma específico".

Agradeço a vossa presença, tão significativa e merecedora de uma Audiência particular. Infelizmente os múltiplos e fatigantes compromissos deste período de tempo não mo permitiram.

Exorto-vos, caríssimas Irmãs, a meditar sempre, com amor e com generosidade, nos grandes documentos que dizem respeito à vossa vida: o capítulo sexto da Constituição Conciliar Lumen Gentium, o Decreto Perfectae Caritatis e a Carta Apostólica Evangelica Testificatio. Aquilo que maiormente tinha a peito comunicar-vos e a todas as Religiosas, manifestei-o recentemente nos discursos que pronunciei a 1 de Outubro em Maynooth na Irlanda, e a 7 de Outubro no Santuário da Imaculada Conceição, em Washington.

Agora, gostaria apenas de sugerir, a vós Superioras, a firmeza e a delicadeza necessárias neste momento. Mostrai-vos principalmente mães, sensíveis e esclarecidas, nunca irritadas nem de maneira alguma amarguradas, mas santamente intrépidas em sugerir a voz do Vigário de Cristo, de modo que nenhuma irmã se sinta oprimida ou marginalizada, mesmo no caso de ter errado.

Também a vós repito o que disse na Irlanda:

"Deveis ser corajosas nas vossas empresas apostólicas, não vos deixando abater nem deprimir pelas dificuldades, pela diminuição de pessoal e pela insegurança do futuro. Lembrai-vos sempre que o primeiro dever apostólico é a vossa santificação" (Discurso em Maynooth, 1 de Outubro de 1979).

A minha Bênção Apostólica vos acompanhe e conforte de modo particular.

Aos participantes no Diálogo Católico-Pentecostal

Meus queridos participantes no Diálogo Romano Católico-Pentecostal, bem-vindos outra vez a Roma. Faz sete ano agora que este esforço de mútua compreensão e reconciliação existe, e desejo assegurar-vos que lhe dedico o mais vivo interesse e piedosa protecção.

Se nós cristãos devemos alcançar a unidade desejada por nosso Senhor, somos chamados à "busca em comum da verdade no pleno sentido evangélico e cristão" (Redemptor Hominis RH 6). Estais contribuindo para isso com o vosso trabalho desta semana. O Senhor vos alude nele e com a luz do seu Santo Espírito vos permita conhecer e experimentar a sua verdade, a sua graça e o seu amor.

Aos Membros do Conselho Geral extraordinário da Companhia de Maria e a grupos de peregrinos franceses

Dirijo uma cordial e afectuosa saudação aos membros do Conselho Geral extraordinário da Companhia de Maria, mais conhecida com o nome de Congregação dos Padres Monfortinos. Saúdo o Reverendo Padre-Geral, os seus Assistentes, os Superiores provinciais e, através deles, todos aqueles que se dão a Deus e ao serviço da Igreja segundo o espírito de São Luís Maria Grignon de Monfort, que me é pessoalmente muito querido.

Há um ano, e também recentemente durante esta última viagem, falei muito da vida sacerdotal e da vida religiosa. Meditai nestes pensamentos, queridos Filhos, pois valem também para vós, com as suas exigências. Tereis assim a certeza de ser fiéis à Igreja. Sede fiéis ao espírito do vosso Santo fundador, à fonte inesgotável de espiritualidade que ele nos deixou, ensinando-nos o sentido da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. Segundo a sua palavra: "Abri a porta a Jesus Cristo", em cada um de vós, primeiro, pela vossa vida de oração, e depois nos outros, pela vossa vida missionária. E por isso, sede sempre dóceis às lições interiores da Virgem Imaculada, à qual vos recomendo, com uma especial Bênção Apostólica.

Numerosos peregrinos representam hoje as dioceses de Clermont-Ferrand e de Moulins. Sejam bem-vindos. Faço votos por que aprofundem o sentido de Igreja a fim de que depois sintam mais convicção e mais generosidade na sua vida cristã. Abençoo-os de todo o coração.

Aos Membros do Conselho Mundial da Ordem Franciscana Secular

E agora uma particular saudação a vós, Membros da Ordem Franciscana Secular mais conhecida por Ordem Terceira, que tivestes nestes dias, em Assis, a II Assembleia Plenária. Sei que, convosco, estão alguns Observadores Anglicanos aos quais tenho o prazer de dar cordiais boas-vindas.

A todos dirijo a minha palavra sincera de apreço pela vontade que demonstrais em confirmar-vos cada vez mais nos valores evangélicos da Regra Franciscana; quero sobretudo encorajar-vos a que prossigais simples e alegremente no vosso genuíno testemunho cristão oferecido ao mundo.

Faço minha, portanto, a aprovação dada à Regra pelo Papa Paulo VI, de venerada memória, pouco antes da sua morte, com o Breve Seraphicus Patriarcha, e faço votos por que muitos Leigos possam encontrar nela um válido ponto de referência para a edificação da própria vida quotidiana no único fundamento seguro que é Jesus Cristo (cfr. 1Co 3,11).

Em penhor destes votos e como sinal da minha benevolência, concedo, de coração, a todos vós e a todos aqueles que dignamente representais, a propiciadora Bênção Apostólica.

Aos Jovens

Uma cordial saudação a vós Jovens, que, como sempre, fazeis vibrar esta Praça de São Pedro com a vossa exuberante alegria.

Agradeço-vos esta vossa visita e o conforto que ela me proporciona ao ver-vos assim tão entusiastas na manifestação da vossa fé em Cristo e ao mesmo tempo, tão perto do seu Vigário na terra.

Fazendo eco aos meus encontros com os vossos companheiros da Irlanda e dos Estados Unidos da América, e aos repetidos apelos à justiça, à liberdade e à paz, que por ocasião da minha recente viagem apostólica dirigi, exorto-vos sobretudo, a vós filhos da nova geração, a que estejais sempre na vanguarda, com aquele ardor que sabeis pôr em tudo o que é grande e nobre, na defesa e na promoção destes inalienáveis valores, indispensáveis a cada cristão que ambiciona seguir seriamente a Cristo. Seja-vos de ajuda neste esforço o exemplo de Cristo e a sua corroborante assistência.

Aos Doentes

A vós doentes, que trazeis no vosso corpo e no vosso espírito as chagas de Cristo (Ga 6,17), dirijo de modo muito particular, a minha paterna, afectuosa e abençoadora palavra.

Agredeço-vos a vossa preciosa presença, que oferece ao olhar de todos nós um testemunho sofrido de fortaleza cristã. de coragem e de fé: virtudes estas que vos amparam nas duras provas a que fostes misteriosamente chamados e. ao mesmo tempo, fazem reflectir os outros no verdadeiro significado desta vida terrena tão frágil e efémera, e tão incompreensível sem uma fé superior. Por conseguinte, vós sois os benfeitores da humanidade. O Senhor vos recompense e vos conforte no vosso sofrimento.

Aos jovens Casais

Uma especial saudação vai agora para os jovens esposos, que depois do seu matrimónio vieram junto do Papa receber a Bênção para a sua união matrimonial e para a família que nascerá.

Ao mesmo tempo que vos felicito e vos expresso bons votos por este passo decisivo, que permanecerá no centro da vossa vida, agradeço terdes vindo aqui testemunhar perante a comunidade cristã a beleza e a grandeza do Sacramento, instituído por Jesus para santificar o amor e torná-lo estável. Oxalá o vosso exemplo seja para os mais jovens um apelo salutar aos princípios cristãos, os únicos que podem garantir ao lar doméstico a verdadeira e duradoira felicidade.

A minha Bênção vos acompanhe sempre.

Aos neo-sacerdotes do Pontifício Colégio Germânico-Húngaro

Desejo, nesta audiência, dar boas-vindas muito cordiais aos neo-sacerdotes do Pontifício Colégio Germânico-Húngaro, acompanhados pelos seus pais, familiares e amigos.

Felicito-vos de coração, como meus jovens colaboradores no sacerdócio, pela animosa decisão de consagrardes a vossa vida, como sacerdotes, totalmente ao serviço de Cristo e da Igreja. Quem puder compreender, compreenda! (Mt 19,12). Estas palavras do Senhor valem hoje mais do que nunca para a eleição da função sacerdotal. A vossa vocação e antes de tudo uma graça, um dom, que deve ser aceite, certamente, com alegria e disposição para o sacrifício. Vós fizeste-lo assistidos pela graça de Deus. Uma das vossas tarefas mais importantes será agora cuidar com zelo e guardar diligentemente esse dom precioso. Só assim será deveras fecunda a vossa tarefa sacerdotal nas comunidades. Oxalá os vossos pais e os vossos familiares continuem ao vosso lado no futuro e vos acompanhem com as suas orações.

A vós, a eles, aos vossos amigos e a todo o Colégio, concedo, em união espiritual, a minha especial Bênção Apostólica.



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 17 de Outubro de 1979

Fui em peregrinação

ao Santuário vivo do Povo de Deus




1. «O Bispo, que visita as comunidades da sua Igreja, é o autêntico peregrino que chega àquele particular santuário do Bom Pastor, que é o Povo de Deus, participante do sacerdócio real de Cristo. Mais, este santuário é cada homem cujo 'mistério' somente se explica e se resolve 'no mistério do Verbo encarnado'» (Gaudium et Spes GS 22)

Ofereceu-se-me ocasião de pronunciar as sobreditas palavras na Capela Matilde, quando o Papa Paulo VI me convidou a pregar os exercícios espirituais no Vaticano.

Estas palavras vêm-me de novo à mente hoje, porque parecem encerrar em si o que foi o conteúdo mais essencial da minha viagem à Irlanda e aos Estados Unidos, viagem a que deu ocasião o convite do Secretário-Geral da ONU.

Esta viagem, em ambas as etapas, foi, por sinal, autêntica peregrinação ao santuário vivo do Povo de Deus.

Se o ensinamento do Concílio Vaticano II nos permite olhar assim para todas as visitas do Bispo a uma paróquia, o mesmo se poderá dizer também desta visita do Papa. Julgo ter especial obrigação de expressar-me sobre este tema. Muito desejo também que aqueles que me acolheram com tanta hospitalidade saibam que procurei encontrar-me na intimidade com aquele mistério que foi e continua a ser modelado por Cristo, Bom Pastor, nas suas almas, na sua história e na sua comunidade. Para dar relevo a esta verdade, decidi interromper, nesta quarta-feira, o ciclo de reflexões a respeito das palavras de Cristo sobre o tema do matrimónio. Retomá-lo-emos daqui a uma semana.

2. Quero, primeiro que tudo, dar testemunho do encontro com o mistério da Igreja na terra irlandesa. Não esquecerei nunca aquele lugar, em que parámos brevemente, nas horas da manhã do domingo, 30 de Setembro: Clonmacnois. As ruínas da abadia e do templo falam da vida que aí pulsava outrora. Trata-se dum daqueles mosteiros, cujos monges irlandeses não só enxertaram o Cristianismo na Ilha Verde, mas donde também o levaram aos outros Países da Europa. Difícil é olhar para esse conjunto de ruínas apenas como monumento do passado; gerações inteiras da Europa devem-lhes a luz do Evangelho e a base fundamental da sua cultura. Essas ruínas continuam a ter uma grande missão. Constituem sempre um estímulo. Falam sempre daquela plenitude de vida, a que nos chamou Cristo. É difícil que um peregrino chegue àqueles locais sem que esses vestígios do passado, aparentemente morto, revelem uma dimensão, permanente e não perecedoira, da vida. É assim a Irlanda: no âmago tem a missão perene da Igreja, a que deu começo São Patrício.

Peregrinando no seguimento das suas pegadas, caminhámos em direcção da Sé primacial de Armagh, e detivemo-nos, no percurso, em Drogheda, onde para essa ocasião estavam solenemente expostas as relíquias de Santo Olivério Plunkett, Bispo e Mártir. Só ajoelhando-nos diante daquelas relíquias podemos exprimir toda a verdade sobre a Irlanda histórica e contemporânea, e pode-mos tocar também nas suas feridas, com a esperança de que elas cicatrizem e não impeçam a todo o organismo pulsar com plenitude de vida. Tocamos também, na verdade, os dolorosos problemas contemporâneos, mas não interrompemos o peregrinar através daquele magnífico santuário do Povo de Deus, que se abre diante de nós, em tantos lugares, em tantas maravilhosas assembleias litúrgicas, durante as celebrações da Eucaristia em Dublim, em Galway, em Knock santuário mariano, em Maynooth e em Limerick. Em particular, tenho e terei sempre presente no meu espírito também o encontro com o Presidente da Irlanda, Senhor Patrick J. Hillery, e com as ilustres Autoridades daquela Nação. Recordem-se todos aqueles, com quem me encontrei — sacerdotes, missionários, irmãos e irmãs religiosas, alunos, leigos, esposos e pais, a juventude irlandesa, os doentes, todos — recordem-se sobretudo os amados irmãos no Episcopado, de que eu estive presente no meio deles como peregrino, de visita ao Santuário do Bom Pastor, que habita na universalidade do Povo de Deus; e recordem-se que fui atravessando aquele magnífico leito da história da salvação, que desde os tempos de São Patrício foi a Ilha Verde, e que o fiz levando a cabeça inclinada e o coração agradecido, na procura, juntamente com as pessoas referidas, dos caminhos que orientam para o futuro.

3. O mesmo quero também dizer aos meus Irmãos e às minhas Irmãs de além Oceano. Jovem é ainda essa Igreja, porque jovem é a sua grande sociedade: passaram só dois séculos da sua história no mapa político do globo. Desejo agradecer-lhes a todos o acolhimento que me reservaram; a resposta que deram a esta visita e a esta presença, necessariamente breve. Confesso ter ficado surpreendido com tal acolhimento e com tal resposta. Mantivemo-nos debaixo de chuva a cântaros, durante a Missa para os jovens, na primeira tarde em Boston. A chuva acompanhou-nos pelas ruas daquela cidade, assim como depois pelas de Nova Iorque, entre os arranha-céus. Aquela chuva não impediu muitos homens de boa vontade que perseverassem na oração, que esperassem ó momento da minha chegada, a minha palavra e a minha bênção.

Para mim ficarão inesquecíveis: os bairros de Harlem, com a maioria da população negra; de South Bronx, com os recém-chegados dos Países da América Latina; os encontros com a juventude no Madison Square Garden e no Battery Park, debaixo de chuva torrencial e tempestade furiosa, e no Estádio em Brooklyn, quando finalmente apareceu o sol; na véspera, o grande Yankee Stadium, cheio até ao máximo para a participação na liturgia eucarística; e depois, a ilustre Filadélfia, a primeira capital dos Estados independentes, com o seu sino da liberdade e talvez quase dois milhões de participantes na Santa Missa da tarde, no centro mesmo da cidade; o encontro com a América rural em Des Moines; em seguida, Chicago, onde, de modo mais apropriado se pôde desenvolver a analogia sobre o argumento «e pluribus unum»; e, por fim, a cidade de Washington, capital dos Estados Unidos, com todo o sobrecarregado programa até à última Missa, tendo-se o Capitólio à vista.

O Bispo de Roma, como peregrino, entrou, seguindo as pegadas do Bom Pastor, no Seu santuário do novo continente e procurou viver, junto a vós, a realidade da Igreja, que brota do ensinamento do Concílio Vaticano II, com toda a profundidade e rigor que esta doutrina traz consigo. Parece, na realidade, que tudo isto foi sobretudo acompanhado por uma grande alegria, pelo facto de sermos esta Igreja; de sermos o Povo, a que o Pai oferece redenção e salvação no Seu Filho e no Espírito Santo. A alegria de - entre todas as tensões da civilização contemporânea, da economia e da política — se dar exactamente tal dimensão da existência humana sobre a terra; e de nós participarmos nela. E embora no pensamento nos orientemos ainda para essas tensões, que desejamos se resolvam de modo humano e digno, todavia a divina alegria do Povo — que toma consciência de ser o Povo de Deus e, dentro deste carácter, procura a própria unidade — é maior e está cheia de esperança.

4. Neste contexto, também as palavras pronunciadas diante da Organização das Nações Unidas se tornaram fruto particular da minha peregrinação sobre estas importantes etapas da história de toda a Igreja e do Cristianismo. Que outra coisa podia eu dizer perante aquele supremo «Forum» de carácter político, senão aquilo que forma a medula mesma da mensagem evangélica? As palavras de grande amor pelo homem. que vive nas comunidades de tantos povos e nações, dentro das fronteiras de tantos Estados e tantos sistemas políticos. Se a actividade política, nas dimensões de cada Estado e nas dimensões internacionais, deve assegurar um primado real ao homem sobre a terra e deve servir a verdadeira dignidade dele, precisa do testemunho do espírito e da verdade, prestado pelo Cristianismo e pela Igreja. Por isso, em nome do Cristianismo e da Igreja, estou agradecido a todos os que a 2 de Outubro de 1979 quiseram escutar as minhas palavras na sede da ONU em Nova Iorque. Como também estou profundamente reconhecido pelo acolhimento que me foi reservado, a 6 de Outubro, pelo Presidente dos Estados Unidos, Senhor Jimmy Carter, no histórico encontro na Casa Branca, com ele e a sua querida Família, e ainda com todas as altas Autoridades lá reunidas.

5. Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer (Lc 17,10). Assim ensinava Cristo aos apóstolos. Também eu, com estas palavras que provêm do meu mais profundo convencimento, ponho termo a esta alocução de hoje, cuja necessidade me foi ditada pela importância da minha última viagem. Pelo menos deste modo pague eu aquela grande dívida que contraí com o Bom Pastor e com aqueles que abriram os caminhos do meu peregrinar.

Saudação

A vários grupos de peregrinos

Com particular afecto dirijo uma especial saudação a vós, Religiosas e leigas, membros da numerosa peregrinação vinda a Roma para a beatificação do sacerdote Henrique de Ossó y Cervelló.

Sei que viestes, em grande parte, da Espanha, mas também do México, Venezuela, Colômbia, Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Itália, França, Portugal, Angola, Brasil e Estados Unidos.

Vivestes aqui dias de intensa alegria interior, tanto vós Religiosas da Companhia de Santa Teresa de Jesus, como as alunas, ex-alunas e amigos que vos acompanharam nestes dias tão dignos de memória.

Oxalá a recordação destes dias, e sobretudo o exemplo admirável do Beato Henrique de Ossó, sejam para todas vós uma chamada perene para as metas cada vez mais elevadas de espiritualidade, de entrega generosa à difusão do Reino de Cristo e de inserção fecunda nos vossos respectivos ambientes de trabalho.

A peregrinos de Vitória (Espanha)

Uma cordial saudação quero fazer chegar aos componentes da peregrinação da cidade de Vitória.

Alegra-me muito saber que viestes a Roma para celebrar os 25 anos da Coroação canónica da Virgem Branca, Padroeira de Vitória.

Animo-vos a cultivar sempre com esmero a devoção à Santíssima Virgem Maria, de tal modo que Ela vos conduza a Cristo, o Salvador. Oxalá Ela vos conceda também esse verdadeiro espírito filial que considera todos, sem limites nem distinção, irmãos em Cristo e filhos da doce Mãe da Igreja.

Juntamente com as minhas saudações para as Autoridades aqui presentes, exprimo-vos a minha profunda estima e concedo-vos, a vós e a todos os filhos da querida província de Alava, a minha especial Bênção.

Aos peregrinos da região apostólica `Midi-Pyrénées"
e da diocese de Digne (França)

E agora dirijo-me aos peregrinos franceses da região apostólica "Midi-Pyrénées" e também aos da diocese de Digne. Exprimo-vos a minha alegria, a minha grande alegria por receber a vossa visita, antes de ir, talvez um dia, se Deus quiser, ao vosso país encorajar e estimular a fé dos vossos compatriotas. E prometo-vos também rezar por vós, para que a vossa peregrinação vos dê forças novas no testemunho que deveis prestar perante Deus e perante os homens: mostrai-vos convictos, não hesiteis, estai contentes por crer e proclamar tudo o que recebestes da Igreja. Deveis enfrentar muitos problemas que neste momento dizem respeito à clareza e à fidelidade. Obrigado, obrigado por aquilo que cada um de vós, do mais humilde ao que tem sobre si o peso das responsabilidades, fará para anunciar generosamente a Boa Nova.

Aos fiéis provenientes da Suíça Romanda

Queridos Irmãos e Irmãs da Suíça Romanda.
Mesmo que quisesse não vos poderia esquecer. Os meus guardas chamar-me-iam à ordem! Podeis adivinhar com quanta satisfação o Papa vos recebe e se encontra com o vosso Bispo D. Pierre Mamie. Quereis certamente confiar-me muitas intenções, as vossas preocupações pelo apostolado, os vossos projectos pastorais, as vossas famílias, os vossos amigos. Tudo isto que trazeis no fundo do coração apresentarei ao Senhor e à Santíssima Virgem. Da minha parte, permanecerei unido a vós, por meio da oração, nas vossas tarefas quotidianas, na vossa vida pessoal e nos vossos compromissos eclesiais, prolongando assim de qualquer modo o nosso encontro de hoje.

A peregrinação de doentes do combóio austríaco

Saúdo com especial cordialidade os numerosos doentes e o pessoal que os acompanha, do combóio austríaco da peregrinação organizada pelo Serviço de socorro da Soberana Ordem Militar de Malta. Aos irmãos e irmãs provados por sofrimentos e necessidades dirijo sempre a minha especial atenção nas audiências gerais. Quando o auxílio do homem se revela ineficaz, exorto-vos a terdes ainda mais confiança em Deus e na sua amorosa providência e bondade. Ele .sabe transformar a dor e os sofrimentos. e até mesmo a morte — segundo o exemplo e pela graça da salvação em Cristo — em nosso benefício. Por conseguinte, peço para vós ao Senhor coragem, fé e confiança consoladora, assim como a proximidade corroborante de Deus, e concedo-vos de coração, a todos vós e àqueles que vos acompanham, a Bênção Apostólica.

Aos responsáveis da União Apostólica do Clero

Uma saudação fraterna e cordial aos Responsáveis da União Apostólica do Clero, aos Conselheiros internacionais e aos Directores nacionais, provenientes de 44 nações de todas as partes do mundo, que se encontram reunidos nestes dias em Roma numa importante Assembleia Internacional da Associação.

Caríssimos sacerdotes! Agradeço-vos sentidamente a vossa presença na Audiência geral, junto do povo de Deus! Sabei que sigo o vosso trabalho com ânsia de pai e de amigo, e aprecio a vossa obra, como .lá o fizeram os meus Prede¬cessores, porque, especialmente o Clero diocesano, nas várias situações do seu ministério, tem necessidade de auxílio fraterno e concreto.

De facto a União Apostólica quer ser precisamente um auxílio aos sacerdotes para viverem de modo mais completo e autêntico a espiritualidade típica do ministro de Cristo; quer ser um serviço, a fim de que as directrizes do Papa e do Bispo sejam fielmente recebidas e executadas com espírito de generosidade e convicção; e por fim quer ainda ser um ideal para que o sacerdote necessitado de apoio espiritual e de amizade elevadora para manter firmes os compromissos da sua consagração, saiba onde o encontrar.

Quanto é, pois, necessária, especialmente hoje, a vossa obra! Continuai no vosso intento em todas as nações onde trabalhais. O Sagrado Coração de Jesus vos ilumine e vos encoraje! Maria Santíssima, a quem os sacerdotes se confiam de modo particular, nas suas alegrias e nas suas tribulações, vos inspire! Faço votos por que a União Apostólica possa contribuir com eficácia para que se realize entre o clero a unidade de doutrina, de caridade e de disciplina, absolutamente necessária para a Evangelização.

De coração vos abençoo assim como a todos os membros da União.

Aos Superiores Provinciais
do Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas

Tenho o prazer de dirigir agora a minha saudação ao grupo dos Superiores Provinciais do Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas, chamados também Irmãozinhos de Maria, os quais, juntamente com o Superior-Geral, Frei Basílio Rueda Guzman, se reuniram em Roma para discutir juntos os problemas que dizem respeito à Congregação perante as hodiernas exigências espirituais e pastorais do mundo moderno.

Caríssimos irmãos, agradeço-vos de coração esta visita e, ao mesmo tempo, manifesto-vos também o meu apreço e encorajamento pela vossa presença na Igreja católica, pela terna devoção a Maria, de quem toma o nome e em quem se inspira o vosso Instituto, e pela vossa benemérita actividade no campo da instrução e da educação cristã da juventude nas escolas, nos internatos, nos externatos e nos orfanatos, espalhados pelos cinco continentes, sem excluir as terras de missão.
O Senhor Jesus vos ilumine nos trabalhos desta vossa Conferência Geral, para responderdes cada vez mais às imensas necessidades das almas, que encontrais ao longo dos caminhos do mundo; a Virgem Maria, Sede da Sapiência, vos guie cada vez para mais perto de Jesus para vossa alegria e bem dos homens, por Ele remidos, de modo que possais realizar plenamente o que está escrito no mote do vosso Instituto: Ad Iesum per Mariam.

Com esse fim concedo-vos uma Bênção especial que de boa vontade faço extensiva a todos os membros da vossa Congregação.

Aos participantes no Congresso Internacional sobre o tema "A violência contra os anciãos. Os anciãos contra a violência"

E agora dirijo-me ao numeroso grupo de participantes no Congresso internacional subordinado ao tema "A violência contra os anciãos. Os anciãos contra a violência".

Caríssimos, saúdo-vos todos cordialmente e exprimo-vos o meu sincero apreço pelas vossas iniciativas, destinadas a estudar e a promover a condição das pessoas anciãs, um dos problemas mais urgentes na sociedade actual. Estou de facto convencido de que o respeito e o amor pela pessoa anciã são índice evidente e garantia segura do respeito e do amor por cada homem e por todos os homens. Os vossos problemas, por conseguinte, são próprios da sociedade inteira, que na sua solução encontrará para si mesma uma medida mais humana.

Abençoo-vos de coração assim como a todos aqueles que se dedicam com amorosa solicitude em favor dos anciãos.

A uma peregrinação de Pescara (Itália)

Dirijo uma cordial saudação à peregrinação da cidade de Pescara, que, acompanhada pelo Pároco da Catedral, está aqui presente para realizar um acto de fé eclesial e pedir a bênção do Papa para as três estátuas de bronze que serão colocadas na fachada da mesma Igreja Catedral.

Benzo de boa vontade estas estátuas, ao mesmo tempo que invoco a protecção de Nossa Senhora, de São Pedro e de São Cetteo — que elas representam — para toda a comunidade de Pescara.

Aos jovens

Uma saudação particularmente calorosa e afectuosa aos jovens e às jovens, aos rapazes e às meninas presentes na Audiência!

Por ocasião do próximo Dia Mundial das Missões, quero repetir também a vós as palavras que dirigi à multidão de jovens reunidos no "Madison Square Garden" de Nova Iorque, durante a minha recente viagem apostólica: "Convido-vos a olhar para Cristo. Quando estiverdes pasmados com o mistério de vós mesmos, olhai para Cristo que vos dá o significado da vida. Quando procurardes saber que significa estar uma pessoa já adulta, olhai para Cristo que é a plenitude do ser humano. E quando procurardes imaginar qual será o vosso papel no futuro do mundo e da vossa Pátria. olhai para Cristo. Só em Cristo realizareis as vossas possibilidades como cidadãos da vossa Pátria e da Comunidade mundial" (Discurso de 3 de Outubro de 1979).

Tende presente este meu convite e sede também vós missionários de Cristo. hoje e durante toda a vossa vida.

Aos doentes

E agora, uma saudação e um abraço cheio de sentimento e simpatia humana e cristã chegue a cada um de vós, caríssimos doentes!

Também a vós, em vésperas do Dia das Missões, tão importante para a vida da Igreja, quero repetir considerações que me estão particularmente a peito: "Com o seu sofrimento e a sua morte, Jesus tomou sobre si todo o sofrimento humano conferindo-lhe novo valor. De facto, chama cada doente, chama cada pessoa que sofre, a colaborar conSigo na salvação do mundo. Por isso, a dor e o sofrimento nunca são suportados por uma só pessoa nem em vão. Embora seja difícil compreender o sofrimento, Jesus explicou que o valor do sofrimento de cada pessoa está ligado ao seu próprio sofrimento, ao seu próprio sacrifício. Por outras palavras, com os vossos sofrimentos vós ajudais Jesus na sua obra de salvação... A vossa chamada para o sofrimento requer uma fé forte e paciência. Sim, isto quer dizer que vós sois chamados para o amor com uma particular intensidade. Mas recordai que a Bem-aventurada Mãe de Deus está junto de vós, tal como estava junto de Jesus, aos pés da Cruz. E nunca vos deixará sozinhos" (Homilia aos doentes no Santuário de Knock, Irlanda, 30 de Setembro de 1979).

Coragem, pois, queridos doentes! Vós sois os primeiros na obra missionária da Igreja! A minha Bênção vos ajude e conforte sempre.

Aos jovens Casais

E por fim, mais uma saudação afectuosa e de felicitações aos jovens Casais que aqui vieram para iniciar a sua vida conjugal com a Bênção do Papa! Obrigado pela vossa alegre e significativa presença.

Pensando no trabalho indefesso de tantos missionários e missionárias espalhados pelo mundo para anunciar o Evangelho, digo-vos com ânsia e calor: Conservai firme a vossa fé! "A mensagem de amor trazida por Cristo é sempre importante, sempre interessante. Não é difícil ver como o mundo moderno — não obstante a sua beleza e grandeza, não obstante as conquistas da ciência e da tecnologia, não obstante os procurados e abundantes bens materiais que oferece — está desejoso de mais verdade, de mais amor, de mais alegria. E tudo isto se encontra em Cristo e no modelo de vida que apresenta" (Homilia no "Boston Common", 1 de Outubro de 1979).

Sede também vós missionários no vosso ambiente! Pedi a Deus a graça de virdes a ser pais de futuros missionários e missionárias!

Por estes grandes motivos concedo-vos de boa vontade a minha particular Bênção.




AUDIÊNCIAS 1979