Discursos João Paulo II 1979 - Quarta-feira, 24 de Janeiro de 1979

E vós, por vosso lado, durante esta semana rezai pelo Papa, para que ele seja nestes dias mensageiro de Cristo, isto é, de fé, de amor e de paz. Abençoo-vos paternalmente





VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

AO INICIAR A SUA VIAGEM APOSTÓLICA


À AMÉRICA LATINA


Aeroporto "Leonardo da Vinci", Fiumicino

Quinta-feira, 25 de Janeiro de 1979



De coração vos expresso o meu sincero agradecimento pela vossa presença aqui, no momento em que me afasto por alguns dias da minha dilecta Diocese e da Itália, para ir à América Latina.

Este vosso gesto, tão delicado e atencioso, proporciona-me conforto e é um sereno auspício pelo feliz êxito da viagem que, como sabeis, se propõe ser, antes de tudo, uma peregrinação de fé: o Papa vai ajoelhar-se diante da imagem prodigiosa de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, para invocar sobre o próprio serviço pontifical a Sua materna assistência e a Sua protecção; para voltar a dizer-Lhe, com energia intensificada pelos novos e imensos compromissos: "Totus teus sum ego! ", e para colocar nas Suas mãos o futuro da evangelização na América Latina.

Além disso, o Papa vai a algumas zonas do Novo Mundo como Mensageiro do Evangelho para os milhões de irmãos e de irmãs que crêem em Cristo; deseja conhecê-los, abraçá-los, dizer a todos — crianças, jovens, homens, mulheres, operários, camponeses e profissionais — que Deus os ama, que a Igreja os ama, que o Papa os ama. E vai também para receber deles o encorajamento e o exemplo da sua bondade e da sua fé. Assim, o Papa coloca-se idealmente na esteira dos missionários, dos sacerdotes, de todos aqueles que, desde a descoberta do Novo Mundo: com sacrifício, abnegação e generosidade, difundiram naquelas terras imensas a mensagem de Jesus, pregando o amor e a paz entre os homens.

Por fim, o Papa empreende esta viagem para tomar parte, com os seus Irmãos Bispos, na Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, que se realizará em Puebla. Ali serão tratados problemas importantes, relativos à acção pastoral do Povo de Deus, a qual, à luz do Concílio Vaticano II, deve ter presentes as complexas situações sócio-políticas Locais, para derramar nelas os fecundos fermentos do anúncio evangélico. O Papa irá a Puebla para ajudar e "confirmar" (cfr. Lc Lc 22,32) os seus Irmãos Bispos.

Ao preparar-me para tomar o avião, depois de ter saudado o Cardeal Secretário de Estado e os outros Cardeais que estão aqui com ele, exprimo o meu reconhecido apreço ao Presidente do Conselho do Governo Italiano e às Autoridades civis e militares; saúdo o Senhor Decano do Corpo Diplomático junto da Santa Sé e os Embaixadores da América Latina, bem como a todos os que vieram desejar-me boa viagem. A todos abençoo, de coração.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

ORAÇÃO DO SANTO PADRE

À NOSSA SENHORA DE GUADALUPE




Ó Virgem Imaculada,
Mãe do verdadeiro Deus e Mãe da Igreja!
Vós, que, deste lugar, manifestais
a vossa clemência e a vossa compaixão
por todos os que imploram o vosso amparo:
ouvi a oração que com filial confiança Vos dirigimos
e apresentai-a ao vosso Filho Jesus, único Redentor nosso.

Mãe de misericórdia, Mestra do sacrifício escondido e silencioso,
a Vós, que vindes ao encontro de nós todos, pecadores,
consagramos, neste dia, todo o nosso ser e todo o nosso amor.
Consagramo-Vos também a nossa vida,
os nossos trabalhos, as nossas alegrias,
as nossas doenças e os nossos sofrimentos.

Dai a paz, a justiça e a prosperidade aos nossos povos,
já que tudo o que nós temos e o que somos
o deixamos ao vosso cuidado,
Mãe e Senhora nossa.

Queremos ser totalmente vossos
e convosco desejamos percorrer
o caminho de uma fidelidade plena a Jesus Cristo
na sua Igreja:
não nos deixeis desprender da vossa mão amorosa.

Virgem de Guadalupe, Mãe das Américas,
pedimo-Vos por todos os Bispos,
a fim de que eles conduzam os fiéis
por veredas de intensa vida cristã,
de amor
e de humilde serviço a Deus
e às almas.

Contemplai esta seara imensa
e intercedei por que o Senhor infunda fome de santidade
em todo o Povo de Deus
e conceda abundantes vocações de sacerdotes e religiosos
fortes na .fé
e zelosos dispensadores dos mistérios de Deus.

Concedei aos nossos lares
a graça de amarem e respeitarem a vida nascente,
com o mesmo amor com que Vós em vosso seio concebestes
a vida do Filho de Deus.

Virgem Santa Maria, Mãe do Amor Formoso,
protegei as nossas famílias,
para que elas estejam sempre muito unidas,
e abençoai a educação dos nossos filhos.

Esperança nossa,
olhai-nos com compaixão
ensinai-nos a ir continuamente para Jesus
e, se cairmos, ajudai-nos
a levantarmo-nos e a voltarmos para Ele,
mediante a confissão das nossas culpas e dos nossos pecados
no sacramento da Penitência que traz sossego à alma.

Suplicamo-Vos que nos concedais
um amor muito grande a todos os santos Sacramentos
que são como que as marcas que o vosso Filho
nos deixou na terra.

Assim, nossa Mãe Santíssima,
com a paz de Deus na consciência,
com os nossos corações livres do mal e de ódios,
poderemos levar a todos
a alegria verdadeira e a verdadeira paz,
as quais vêm do Vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo
que, com Deus Pai e com o Espírito Santo, vive e reina pelos séculos dos séculos.

Ámen.

IOANNES PAULUS PP. II


México, Janeiro de 1979





VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

NO AEROPORTO DE SÃO DOMINGOS


Quinta-feira, 25 de Janeiro de 1979



Senhor Presidente,
Irmãos no Episcopado,
irmãos e irmãs

Dou graças a Deus por me haver permitido chegar a esta porção da terra americana, terra amada de Colombo, na primeira etapa da minha visita a um continente para o qual tantas vezes tem voado o meu pensamento, cheio de estima e de confiança, sobretudo neste período inicial do meu ministério de Supremo Pastor da Igreja.

O desejo do passado torna-se realidade com este encontro, no qual com afecto entusiasta participam — e tantos outros o terão desejado — tão numerosos filhos desta querida terra dominicana, em cujo nome, bem conto no Seu próprio, Vossa Excelência, Senhor Presidente, quis dar-me as cordiais boas-vindas com significativas e nobres palavras. A elas correspondo com sentimentos de sincero apreço e profunda gratidão, testemunho do amor do Papa para com os filhos desta hospitaleira Nação.

Porém, nas palavras ouvidas e no acolhimento jubiloso que hoje me tributa o povo dominicano sinto também a voz, longínqua mas presente, de tantos e tantos outros filhos de todos os Países da América Latina, que desde as terras mexicanas até ao extremo sul do continente se sentem unidos ao Papa por vínculos singulares, que tocam os âmbitos mais recônditos do seu ser de homens e de cristãos. A todos e a cada um destes Países e a seus filhos chegue a mais cordial saudação, a homenagem de respeito e de afecto do Papa, a sua admiração e o seu apreço pelos estupendos valores de história e cultura que albergam, o desejo de unia vida individual, familiar e comunitária de crescente bem-estar humano, num clima social de moralidade, de justiça para todos, de cultivo intenso dos bens do espírito.

Traz-me a estas terras um acontecimento de grandíssima importância eclesial. Chego a um Continente, onde a Igreja veio deixando sulcos profundos que penetram no mais íntimo da história e do carácter de cada povo. Venho a esta viva porção eclesial, a mais numerosa, parte vital para o futuro da Igreja católica, que entre maravilhosas realizações não isentas de sombras, entre dificuldades e sacrifícios dá testemunho de Cristo e hoje quer responder ao desafio do momento actual, propondo unta luz de esperança, para já e para depois, através da sua obra de anúncio da Boa Nova, que se concretiza no Cristo Salvador, Filho de Deus e Irmão primeiro dos irmãos que são os homens.

O Papa quer estar perto desta Igreja evangelizadora, para dar alento ao seu esforço, para trazer nova esperança à sua esperança, para a ajudar a discernir melhor os seus caminhos, potenciando ou modificando o que for bom que modifique ou potencie para que ela seja cada vez mais fiel à sua missão: aquela que recebeu de Jesus, a de Pedro e seus Sucessores, a dos Apóstolos e dos seus continuadores.

E dado que a visita do Papa se propõe ser urna empresa do evangelização, desejei chegar aqui seguindo a rota que, aquando da descoberta do Continente, traçaram os primeiros evangelizadores: os Religiosos que vieram anunciar Cristo Salvador, defender a dignidade dos indígenas, proclamar os seus direitos invioláveis, favorecer a sua promoção integral, ensinar a fraternidade cones homens e conto filhos do mesmo Senhor e Pai. Deus.

Este é um testemunho de reconhecimento que quero tributar aos artífices daquela admirável gesta evangelizadora, nesta mesma terra do Novo Mundo onde se ergueu a primeira cruz, se celebrou a primeira Missa, se recitou a primeira Ave-Maria, e donde, entre diversas vicissitudes, partiu a irradiação da fé para outras ilhas vizinhas e dali para a terra firma.

Deste evocador lugar do Continente, terra de fervoroso amor à Virgem Maria e de ininterrupta devoção ao Sucessor de Pedro, o Papa quer reservar a sua lembrança e a sua mais entranhada saudação aos pobres, aos camponeses, aos doentes e marginalizados, que sentem próxima a Igreja, que a amam, que seguem a Cristo mesmo por entre obstáculos, e que, com admirável sentido humano, põem em prática a solidariedade, a hospitalidade, a alegria honesta e esperançada, para a qual Deus tem preparado o prémio.

Pensando no maior bem destes povos bons e generosos, acalento a esperança de que os responsáveis, os católicos e os homens de boa vontade da República Dominicana e de toda a América Latina, hão-de empregar as suas melhores energias, e abrir as fronteiras da sua criatividade, para edificarem um mundo mais humano e ao mesmo tempo mais cristão. Este é o apelo que o Papa vos dirige neste primeiro encontro na vossa terra.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

NA CATEDRAL DE SÃO DOMINGOS


Quinta-feira, 25 de Janeiro de 1979

: Senhor Cardeal,
Irmãos no Episcopado,
queridos filhos

Há poucos momentos tive a dita de chegar ao vosso País e agora sinto uma nova alegria ao encontrar-me convosco nesta Catedral dedicada à Anunciação — a Catedral Primaz, situada ao lado da que foi a primeira Sede Arquiepiscopal na América — aonde quisestes vir em tão grande número para ver o Papa.

Um obrigado, antes de mais, a vós, Senhor Cardeal, pelas vossas bondosas palavras, que encheram a minha alma de satisfação, de admiração e de esperança.

Desejo dizer-vos que o Papa também anseia por estar convosco, para vos conhecer e vos amar ainda mais. Só tenho pena de não poder estar e falar com cada um de vós em particular.

Mas, apesar de isto não ser possível, sabei que nenhum de vós deixa de ser abrangido pelo afecto e pela lembrança do pai comum, que mesmo estando longe pensa em vós e reza pelas vossas intenções.

Para que este encontro seja mais íntimo, façamos um momento de oração e peçamos ao Senhor, por intercessão de Nossa Senhora de "Altagrácia", cuja imagem está aqui presente, vos conceda a graça de serdes sempre bons filhos da Igreja e de crescerdes na fé, e de que a vossa vida seja urna vida digna de cristãos.

A vós, aos vossos compatriotas e familiares, sobretudo aos doentinhos e aos que sofrem, concedo com muito gosto a minha Bênção.

E rezai, também vós, pelo Papa.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

AO CORPO DIPLOMÁTICO ACREDITADO


NA REPÚBLICA DOMINICANA


São Domingos, 25 de Janeiro de 1979

: Excelências, Senhoras e Senhores

Não queria que na minha breve visita a este País faltasse este encontro convosco, que por múltiplos e variados motivos sois credores de um sinal de particular atenção por parte do Papa.

Quisestes vir prestar-me a vossa homenagem de respeito e de adesão como Representantes dos vossos respectivos Países, como detentores, a diversos níveis, da autoridade na Nação Dominicana, como pessoas vinculadas à Santa Sé por laços particulares ou como representantes do mundo cultural.

A todos expresso o meu sentido reconhecimento pela vossa presença benévola, assim como o meu apreço profundo pelas vossas respectivas funções. Desejo-vos todo o bem nas vossas tarefas, que podem e devem ter uma clara orientação de serviço ao bem comum, à causa da convivência humana, ao bem-estar da sociedade civil e, para muitos, também da Igreja.

Muito obrigado.



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À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

DURANTE A VISITA AO BAIRRO "LOS MINAS"


São Domingos, 26 de Janeiro de 1979

: Queridos filhos do bairro "Los Minas"

Desde o primeiro momento da preparação da minha viagem ao vosso País dei lugar prioritário a uma visita a este bairro, a fim de poder encontrar-me convosco.

E quis vir aqui precisamente porque se trata de urna zona pobre, para que tivésseis a oportunidade eu diria por um título mais alto — de estar com o Papa. Ele vê em vós uma presença mais viva do Senhor, que sofre nos irmãos mais necessitados, que continua a proclamar bem-aventurados os pobres de espírito, os que sofrem por amor da justiça e são puros de coração, os que trabalham pela paz, são compassivos e conservam a esperança em Cristo Salvador.

Mas, ao convidar-vos a cultivardes esses valores espirituais e evangélicos, desejo levar-vos a pensar na vossa dignidade de homens e de filhos de Deus. Quero encorajar-vos a serdes ricos em humanidade, no amor à família, em solidariedade com os outros. Ao mesmo tempo animo-vos a desenvolver cada vez mais as possibilidades que tendes de alcançar uma maior dignificação humana e cristã.

Mas não se fica por aqui o que desejo dizer-vos. A visão da vossa realidade deve fazer pensar a tantos outros na acção que possa ser levada a efeito para remediar eficazmente a vossa condição.

Em nome destes nossos irmãos, peço a todos os que possam fazê-lo que os ajudem a vencer a sua actual situação, para que, sobretudo com uma melhor educação, aperfeiçoem as suas inteligências e os seus corações, e sejam artífices da sua própria elevação e de uma mais profícua inserção na sociedade.

Com este urgente apelo às consciências, o Papa encoraja os vossos desejos de superação e com grande afecto vos abençoa, a vós, aos vossos filhos e familiares e a todos os habitantes deste bairro.



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À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

NA DESPEDIDA DA REPÚBLICA DOMINICANA


São Domingos, 26 de Janeiro de 1979

: Senhor Presidente

Com grande pesar da minha parte, chega o momento de ter que deixar esta querida terra da República Dominicana, onde a brevidade da minha permanência foi compensada por uma grande abundância de intensas vivências religiosas e humanas.

Pude admirar algumas das belezas deste País, dos seus monumentos histórico-religiosos, e, sobretudo, pude verificar com profunda satisfação o sentido religioso e humano dos seus habitantes.

São recordações inolvidáveis que me acompanham e continuarão a acompanhar fazendo-me presente os maravilhosos dias vividos neste berço do catolicismo no Novo Mundo.

Obrigado, Senhor Presidente, pelas inumeráveis atenções que me foram dispensadas e pela vossa presença aqui, neste momento. Obrigado a todo o querido povo dominicano, pelo seu entusiástico acolhimento, pelas suas constantes provas de amor ao Papa e pela sua fidelidade à fé cristã.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE AOS FIÉIS MEXICANOS

Sexta-feira, 26 de Janeiro de 1979

Queridos filhos

Depois de receber a saudação de boas vindas do Senhor Cardeal D. José Salazar e do Senhor Arcebispo desta Cidade, D. Ernesto Corripio, terminei há poucos momentos, nesta Catedral Metropolitana, a celebração da minha primeira Missa em terra mexicana.

Sinto-me muito feliz por me encontrar aqui convosco e saúdo a todos e cada uns de vós, sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas, pessoas adultas, pais e mães de família. Mas, uma saudação especialmente cordial desejo que vá para os jovens, para as crianças, para os anciãos e os doentinhos.

Sabei que, na Missa, o Papa rezou por todas as vossas intenções, pedindo ao Senhor que vos conduza pelo caminho da rectidão moral, do amor a Cristo e a Igreja, que vos conforte se tendes alguns motivo de tristeza ou sofrimento e vos conceda a graça de viverdes com autenticidade a vossa vida cristã.

Rezai também vós pelo Papa e pela Igreja, sobretudo nestes dias em que estaremos juntos. E peçamos com fervor à Virgem de Guadalupe que nos ajude no nosso caminho e seja a nossa guia para seu Filho e nosso Irmão, Jesus.

A todos vós, com grande afecto, o Papa dá a sua Bênção.



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À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

AO CORPO DIPLOMÁTICO


ACREDITADO NA REPÚBLICA DO MÉXICO


Sexta-feira, 26 de Janeiro de 1979

: Excelências
Ilustríssimos Membros do Corpo Diplomático

É motivo real de satisfação para mim, o facto de, no programa tão intenso da minha visita ao México haver sido incluído este encontro de saudação a um grupo tão distinto de pessoas como é o Corpo Diplomático acreditado em Cidade de México.

Muitas são as ocasiões em que a Santa Sé demonstrou a sua estima e o seu apreço pela função dos Representantes diplomáticos. Fi-lo eu também pessoalmente no início do meu Pontificado. E de bom grado reitero hoje perante Vós o meu positivo apreço por esta nobre tarefa, quando ela é posta ao serviço da grande causa da paz, do entendimento entre as Nações, da aproximação entre os povos e de um intercâmbio mutuamente proveitoso em tantos campos da interdependência na comunidade internacional.

Vós e eu, Senhores, sentimos também uma preocupação comum: o bem da humanidade e o futuro dos povos e de todos os homens. Dado que a vossa missão é, em primeiro lugar, a defesa e a promoção dos legítimos interesses das vossas respectivas Nações, a interdependência iniludível que vincula cada vez mais, nos nossos dias, todos os povos do inundo, convido todos os diplomatas a tornarem-se, em espírito sempre renovado e original, os artífices do entendimento entre os povos, da segurança internacional e da paz entre as Nações.

Vós sabeis muito bem que todas as sociedades humanas, nacionais ou internacionais, serão julgadas, neste campo da paz, pelo contributo que derem ao desenvolvimento do homem e ao respeito pelos seus direitos fundamentais. E uma vez que a sociedade deve garantir, em primeiro lugar, a fruição de um direito verdadeiro à existência, e a uma existência digna, não se poderá desligar deste direito outra exigência também fundamental e que poderíamos chamar o direito à paz e à segurança.

Com efeito, todo o ser humano aspira às condições da paz que permitam um desenvolvimento harmonioso das gerações futuras, ao abrigo do flagelo terrível que sempre há-de ser a guerra, ao abrigo do recurso à força ou de qualquer forma de violência.

Garantir a paz a todos os habitantes do nosso planeta quer dizer buscar, com toda a generosidade e dedicação, com todo o dinamismo e perseverança de que são capazes os homens de boa vontade, todos os meios concretos aptos a promover as relações pacíficas e fraternas, não só no plano internacional, mas também no plano dos diversos continentes e regiões, onde será por vezes mais fácil conseguir resultados que, nem por serem limitados, serão menos importantes. As realizações de paz no plano regional constituem, efectivamente, um exemplo e um convite para toda a comunidade internacional.

Eu desejaria exortar cada um de vós, e, por vosso intermédio, todos os responsáveis das Nações que representais, a eliminar o medo e a desconfiança, e a substituí-los pela confiança mútua, pela vigilância acolhedora e pela colaboração fraterna. Este novo clima nas relações entre as Nações tornará possível a descoberta de campos de entendimento frequentemente incalculados.

Permiti ao Papa, este humilde peregrino da paz que eu sou, chamar de novo a vossa atenção para o apelo que, na minha Mensagem para o Dia da Paz, dirigi a todos os responsáveis pela sorte das Nações: não hesiteis em comprometer-vos pessoalmente pela paz, mediante gestos de paz, cada qual no seu âmbito e na sua esfera de responsabilidade. Dai vida a gestos novos e audazes, que sejam manifestações de respeito, de fraternidade, de confiança e de bom acolhimento. Mediante estes gestos dedicareis todas as vossas capacidades pessoais e profissionais ao serviço da grande causa da paz. E eu vos prometo que, pelo caminho da paz, encontrareis sempre a Deus, que vos, acompanha.

No contexto deste apelo, desejaria também que vós compartilhásseis um desejo particular. Refiro-me ao número crescente de refugiadas que há no mundo inteiro, e à trágica situação em que se encontram os refugiados do sudoeste asiático. Expostos a riscos que não são unicamente os de uma viagem cheia de perigos eles encontram-se também expostos a que seja rejeitado o seu pedido de asilo ou, pelo menos, a uma longa espera antes de se lhes dar a possibilidade de começarem uma nova existência num país disposto a recebê-los. A solução deste problema trágico é responsabilidade de todas as Nações, e eu desejo que as organizações internacionais apropriadas possam contar com a compreensão e a ajuda dos países de todos os continentes especialmente de um continente como a América Latina que sempre honrou a sua tradição secular de hospitalidade, para enfrentar abertamente este problema humanitário.

Permiti-me, pois, que vos encoraje a assumirdes esta incumbência, conscientes como estais do profundo sentido de ética profissional que deve acompanhar este serviço sacrificado, e por vezes incompreendido, à sociedade.

Para que Deus abençoe os vossos esforços, e as vossas pessoas e vossas famílias, invoco sobre todos a protecção do Todo-Poderoso.





VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

DURANTE O ENCONTRO COM


OS SACERDOTES E OS RELIGIOSOS DO MÉXICO


NA BASÍLICA DE GUADALUPE


Sábado, 27 de Janeiro de 1979

Queridos sacerdotes,
diocesanos e religiosos

Um dos encontros que esperava com maior anelo durante a minha visita ao México é o que tenho agora convosco, aqui no Santuário da nossa venerada e querida Mãe de Guadalupe.

Vede nele uma prova do afecto e da solicitude do Papa. Como bispo de toda a Igreja, o Papa está consciente do vosso papel insubstituível e sente-se muito próximo de todos quantos na tarefa eclesial são peças centrais, como principais colaboradores dos Bispos, como participantes dos poderes salvadores de Cristo, testemunhas, anunciadores do Seu Evangelho, animadores da fé e da vocação apostólica do Povo de Deus. E não quero esquecer, aqui, tantas outras almas consagradas, colaboradores preciosos, embora sem o carácter sacerdotal, em muitos e importantes sectores do apostolado da Igreja.

Mas não tendes só uma presença qualificada no apostolado eclesial: o vosso amor ao homem por Deus é, também, muito notável entre os estudantes dos diversos graus, entre os doentinhos e os que precisam de assistência, entre os homens de cultura, entre os pobres que reclamem compreensão e apoio, entre tantas pessoas que a vós recorrem cm busca ele conselho e de alento.

Pela vossa sacrificada entrega ao Senhor e à Igreja, pela vossa presença junto do homem, recebei o meu agradecimento em nome de Cristo.

Servidores de uma causa sublime, de tiros depende em boa parte a sorte da igreja nos sectores confiados ao vosso cuidado pastoral. Isso vos impõe uma profunda consciência da grandeza da missão recebida e da necessidade de vos conformardes cada vez mais com ela.

Trata-se, efectivamente, queridos irmãos e filhos da Igreja de Cristo — e que respeito e que amor isto deve infundir em vós! — à qual deveis servir alegremente em santidade de vida (Cfr. Ef Ep 4,13).

Este elevado e exigente serviço não poderá ser prestado sem unia clara e arraigada convicção acerca da vossa identidade como sacerdotes de Cristo, depositários e administradores dos mistérios de Deus, instrumentos de salvação para os homens, testemunhas de um reino que se inicia neste mundo mas que se completa no além. Perante estas certezas da fé, como ter dúvidas acerca da própria identidade?, porque titubear acerca do valor da própria vida?, porque hesitar no caminho empreendido?

Para conservar ou reforçar esta convicção firme e perseverante, ponde os olhos no modelo, Cristo, avivai os valores sobrenaturais na vossa existência, pedi a força corroborante do alto, no colóquio assíduo e confiado da oração. Hoje, como ontem, isto é-vos imprescindível. E sede também fiéis na prática frequente do Sacramento da Reconciliação, na meditação quotidiana, na devoção à Santíssima Virgem mediante a reza do terço. Numa palavra, cultivai a união com Deus mediante uma profunda vida interior. Seja este o vosso primeiro empenho. Não temais que o tempo consagrado ao Senhor tire alguma coisa ao vosso apostolado. Muito pelo contrário, isso será fonte de fecundidade no ministério.

Sois pessoas que fizestes do Evangelho urna profissão de vida. Ao Evangelho devereis ir buscar os critérios essenciais de fé — e não meros critérios psicológicos ou sociológicos que produzam uma síntese harmónica entre espiritualidade e ministério; sem permitir urna "profissionalização" do mesmo, sem rebaixar a estima que deve merecer-vos o vosso celibato ou a castidade consagrada, aceitos por amor do Reino, numa ilimitada paternidade espiritual (1Co 4,15): "A eles (os sacerdotes) devemos a nossa bem-aventurada regeneração — afirma São João Crisóstomo e conhecer uma verdadeira liberdade" (São João Crisóstomo, Sobre o sacerdócio, 4-6).

Sois participantes do sacerdócio ministerial de Cristo para o serviço da unidade da comunidade. Um serviço que se realiza em virtude do poder recebido para dirigir o Povo de Deus, perdoar os pecados e oferecer o Sacrifício Eucarístico (Cfr. Lumen Gentium LG 10 Presbyterorum Ordinis PO 2). Um serviço sacerdotal específico, que não pode ser substituído na comunidade cristã pelo sacerdócio comum dos fiéis, essencialmente diferente do primeiro (Lumen Gentium LG 10).

Sois membros de uma Igreja particular, cujo centro de unidade é o Bispo (Christus Dominus CD 28), para com o qual todo o sacerdote deve manter uma atitude de comunhão e de obediência. Por seu lado, os religiosos, no que se refere às actividades pastorais, não podem negar a sua leal colaboração e obediência à jerarquia local, alegando uma dependência exclusiva para com a Igreja universal (Cfr. Christus Dominus CD 34 Documento comum da Sagrada Congregação para os Religiosos os Institutos Seculares Sagrada Congregação para os Bispos Maio ). Muito menos seria admissível, em sacerdotes ou religiosos, uma prática de magistérios paralelos ao dos Bispos — autênticos e únicos mestres na fé — ou das Conferências Episcopais.

Sois servidores do Povo de Deus, servidores da fé, administradores e testemunhas do amor de Cristo aos homens; amor que não é partidário, que a ninguém exclui, embora se dirija de preferência aos mais pobres. A este respeito, quero lembrar-vos o que disse ainda recentemente aos Superiores-Gerais dos Religiosos, em Roma: "A alma que vive em contacto habitual com Deus e se move dentro do caloroso influxo do seu amor consegue facilmente subtrair-se à tentação de particularismos e de contraposições, que comportam o risco de molestas divisões; consegue interpretar na devida luz evangélica a opção em favor dos mais pobres e de todas as vítimas do egoísmo humano, sem ceder a radicalizações sócio-políticas, que com o andar do tempo se revelam inoportunas, contra-producentes e geradoras elas mesmas de novas violências".

Sois guias espirituais que se esforçam por orientar e melhorar os corações dos fiéis, para que estes, convertidos, vivam o amor a Deus e ao próximo e se comprometam na promoção e dignificação do homem.

Sois sacerdotes e religiosos; não sois dirigentes sociais, líderes políticos ou funcionários de um poder temporal. Por isso vos repito: "Não tenhamos a ilusão de servir o Evangelho se procuramos 'diluir' o nosso carisma através de um interesse exagerado pelo vasto campo dos problemas temporais" (Discurso ao Clero de Roma). Não esqueçais que a liderança temporal facilmente pode ser fonte de divisão, ao passo que o sacerdote deve ser sinal e factor de unidade e de fraternidade. A funções seculares são o campo próprio de acção dos leigos, que hão-de aperfeiçoar as coisas temporais com o espírito cristão (Apostolicam Actuositatem AA 4).

Queridos sacerdotes e religiosos: dir-vos-ia ainda muitas outras coisas, mas não quero prolongar demasiado este encontro. Algumas, di-las-ei noutro lugar, e para elas me remeto. Termino, reafirmando-vos a minha grande confiança em vós. Espero muito do vosso amor a Cristo e aos homens. Muito há ainda que fazer. Empreendamos o caminho com novo entusiasmo, unidos a Cristo, sob o olhar materno da Santíssima Virgem, Nossa Senhora de Guadalupe, terna Mãe dos sacerdotes e dos religiosos. Com a afectuosa Bênção do Papa, para vós e para todos os sacerdotes e religiosos do México.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

DURANTE O ENCONTRO COM AS RELIGIOSAS


DO MÉXICO NO COLÉGIO "MIGUEL ÁNGEL"


Sábado, 27 de Janeiro de 1979

: Queridas filhas religiosas do México

Este encontro do Papa com as religiosas mexicanas, que era para realizar-se na Basílica da nossa Mãe de Guadalupe, realiza-se aqui, tendo-A espiritualmente presente, a Ela, modelo perfeito de mulher, o melhor exemplo de vida inteira mente dedicada a seu Filho, o Salvador, numa constante atitude interna de fé, de esperança, de entrega amorosa a uma mis. são sobrenatural.

Neste lugar privilegiado e perante esta figura da Virgem, quer o Papa passai uns momentos convosco, numerosas religiosas aqui presentes, que representais, as mais de vinte mil distribuídas por todo o território mexicano e também fora da Pátria.

Sois uma força importantíssima dentre da Igreja e da própria sociedade, colocadas em inumeráveis sectores como o das escolas e colégios, das clínicas e hospitais, do campo caritativo e assistencial, das obras paroquiais, da catequese dos grupos de apostolado e tantos outros. Fazeis parte de diversas famílias religiosas mas com um mesmo ideal dentro de diferentes carismas: seguir a Cristo, ser testemunho vivo da perenidade da Sua mensagem.

A vossa vocação é uma vocação que merece a máxima estima por parte do Papa e da Igreja, ontem como hoje. Por isso, vos quero manifestar a minha alegre confiança em vós e animar-vos a não desfalecerdes no caminho empreendido, que vale a pena prosseguir com renovados espírito e entusiasmo. Sabei que o Papa vos acompanha com a sua oração e se compraz com a vossa fidelidade à própria vocação, a Cristo, à Igreja

Ao mesmo tempo, contudo, permitir-me-eis que acrescente algumas reflexões que proponho à vossa consideração e ao vosso exame.

É certo que em grande parte das religiosas prevalece um louvável espírito de fidelidade ao próprio compromisso eclesial, e que se advertem aspectos de grande vitalidade na vida religiosa, com o retorno a uma visão mais evangélica, crescente solidariedade entre as famílias religiosas, e maior aproximação dos pobres, que são objecto de justa atenção prioritária. São motivos, estes, de alegria e de optimismo.

Mas também não faltam exemplos de confusão acerca da própria essência da vida consagrada e do próprio carisma. Por vezes abandona-se a oração, substituindo-a com a acção; interpretam-se os votos segundo a mentalidade secularizante que esfuma as motivações religiosas do próprio estado; abandona-se com certa ligeireza a vida em comum; adoptam-se posições sócio-políticas como sendo o verdadeiro objectivo a alcançar, inclusivamente com bem definidas radicalizações ideológicas.

E quando acontece que se obscurecem as certezas da fé, alegam-se motivos de busca de novos horizontes e experiências, talvez com o pretexto de estar mais perto dos homens, quiçá de grupos bem concretos, escolhidos com critérios nem sempre evangélicos.

Queridas religiosas: não esqueçais nunca que para manter um conceito claro do valor da vossa vida consagrada ser-vos-á necessária uma profunda visão de fé, que se alimenta e mantém com a oração (Cfr. Perfectae caritatis PC 6); a mesma fé que vos fará superar toda a incerteza acerca da vossa própria identidade, que vos fará permanecer fiéis a essa dimensão vertical que vos é essencial, para vos identificardes com Cristo desde as bem-aventuranças, e serdes testemunhas autênticas do Reino de Deus para os homens do mundo actual.


Discursos João Paulo II 1979 - Quarta-feira, 24 de Janeiro de 1979