Discursos João Paulo II 1979 - Quarta-feira, 31 de Janeiro de 1979


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

ENCONTRO DO SANTO PADRE

COM OS JORNALISTAS NO COLÉGIO FLORIDA


NA CIDADE DO MÉXICO


Terça-feira, 31 de Janeiro de 1979


Queridos amigos do mundo da informação

Em muitas ocasiões durante estes dias que o entusiasmo dos mexicanos tornou febris e cheios de emoção, momentos cheios de beleza e significação religiosa passados em locais e ambientes inolvidáveis — tive a oportunidade de observar-vos enquanto passáveis dum lugar para outro, cheios da determinação e do empenho que distinguem a vossa tarefa informativa.

Encontro-me agora prestes a regressar a Roma, depois de assistir ao início desse importante acontecimento eclesial, maravilhoso pelo seu significado profundo de unidade e criatividade de futuro da Igreja, que é a Conferência de Puebla, e depois de peregrinar pelas inesquecíveis terras de Nossa Senhora de Guadalupe. E agradeço à Providência dar-me neste momento a esperada ocasião de encontrar-me com os profissionais da informação, que me quiseram acompanhar nesta viagem.

Muitos continuarão aqui para continuar a oferecer à opinião pública o acontecimento de Puebla, outros acompanhar-me-ão no meu regresso, enquanto outros serão chamados a novas missões. Vale a pena arrancar uns minutos ao nosso apertado horário, para estarmos juntos, reflectirmos e conversarmos um pouco, desta vez de pessoa a pessoa. Uma vez ao menos sem termos como intermediário nenhum meio de transmissão ou estarmos a tornar presentes espiritualmente auditórios longínquos. Desfrutemos, sem mais preâmbulos, a alegria de nos vermos juntos.

É claro que não esqueço estar por trás das câmaras uma pessoa, falar através do microfone uma pessoa, comporem e corrigirem pessoas cada linha do artigo que publicará o jornal de amanhã. Gostaria, neste breve encontro, de mostrar a todos a minha gratidão e respeito e dirigir-me a cada um pelo seu nome. Sinto desejo e necessidade de agradecer a cada um o trabalho destes dias e aquele que vai continuar em Puebla. Reflectirá este uma Igreja que abraça todas as culturas, talentos e iniciativas, contanto que se possam dirigir à construção do Reino de Deus.

Compreendo as tensões e dificuldades em que decorre o vosso trabalho. Sei bem qual o esforço requerido pela comunicação da notícia. Imagino a fadiga que supõe trasladar, montar e desmontar — correndo duma parte para a outra — toda essa complicada aparelhagem vossa. Também me não passa despercebido que o vosso é um trabalho que exige longas deslocações e vos separa da família e dos amigos, Não é vida fácil, mas, em compensação — como toda a actividade criativa, em especial a que significa serviço prestado aos outros — oferece-vos especial enriquecimento. Com certeza que todos tendes experiência disso.

Recordo agora uma ocasião análoga, há poucas semanas, em que tive ocasião de falar com os profissionais que se juntaram para informar sobre a minha eleição e sobre a inauguração do Pontificado. Fiz referência a tal missão chamando-lhe vocação. Um dos documentos mais importantes da Igreja, sobre as comunicações sociais, declara que "é necessário que o homem do nosso tempo conheça as coisas plena e fielmente, adequada e exactamente" (Communio et progressio, 54 ), e proclama que, ao ser uma informação transmitida assim, pelos meios de comunicação social, "todos os homens se tornam participantes... dos assuntos da humanidade inteira" (Communio et progressio, 19).

Com o vosso talento e experiência, a vossa competência profissional, a necessária inclinação e os meios que estão ao vosso dispor, podeis prestar este grande serviço á humanidade. E sobretudo, como o melhor que podeis realizar, quereis ser investigadores da verdade, para a oferecer a todo aquele que queira ouvi-la. Servi, primeiro que tudo, a verdade, o que é construtivo, aquilo que me,hora e dignifica o homem.

Na medida em que buscardes este ideal, asseguro-vos que a Igreja permanecerá ao vosso lado, porque é este também o seu ideal. Ela ama a verdade e a liberdade: liberdade de conhecer a verdade, de pregá-la e comunicá-la aos demais.

Chegou o momento de saudar-vos e renovar-vos a expressão do meu reconhecimento pelo serviço prestado à difusão da verdade, que se manifesta em Cristo e se está expressando nestes dias em actos da maior importância para a vida da fé nestes países americanos, tão próximos à Igreja. Despedimo-nos com respeito e amizade, dispostos a ser consequentes com os nossos melhores ideais. O Papa compraz-se em saudar-vos e abençoar-vos — recordando os meios que representais: diários, cadeias televisivas, emissoras radiofónicas - e em abençoar também as vossas famílias. Por vós e por elas ofereço frequentemente a minha oração. O Senhor vos acompanhe.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

AOS TRABALHADORES EM MONTERREY


Quarta-feira, 31 de Janeiro de 1979


"Campesinos", empregados e sobretudo trabalhadores de Monterrey.

Obrigado por tudo o que pude ouvir. Obrigado por tudo o que posso ver. A todos e a cada um, muito obrigado.

Agradeço-vos do coração este acolhimento tão quente e cordial, nesta vossa cidade industrial de Monterrey. A volta dela decorre a vossa existência e realiza-se o vosso trabalho rio, para ganhar o pão e o pão dos vossos filhos. Ela é ainda testemunho das vossas penas e das vossas aspirações. também obra vossa, obra das vossas mãos e da vossa inteligência, e, neste sentido, símbolo do vosso orgulho de trabalhadores e sinal de esperança, para novo progresso e para vida cada vez mais humana. Sinto-me feliz de encontrar-me entre vós como irmão e amigo vosso, como companheiro de trabalho nesta cidade de Monterrey, que é para o México algo parecido ao que significa Nova Hutta na minha longínqua e querida Cracóvia. Não esqueço os anos difíceis da guerra mundial, em que eu mesmo tive a experiência directa dum trabalho físico como o vosso, duma fadiga quotidiana e da dependência, peso e monotonia, a que obriga.

Partilhei das necessidades dos trabalhadores, das suas justas exigências e legítimas aspirações. Conheço muito bem a necessidade de que o trabalho não produza alienação nem frustração, mas corresponda à dignidade superior do homem. Posso dar testemunho duma coisa: nos momentos de maior provação, o povo da Polónia encontrou — na sua fé em Deus, na sua confiança na Virgem Maria Mãe de Deus e na comunidade eclesial, unida à volta dos seus Pastores — uma luz superior às trevas e uma esperança inquebrantável. Sei que estou a falar a trabalhadores, que são conscientes da sua condição de cristãos e querem viver esta condição com todas as suas energias e aceitando as consequências. Por isso, quer o Papa apresentar-vos algumas reflexões que dizem respeito à vossa dignidade como homens e como filhos de Deus. Desta dupla fonte brotará a luz que dará forma à vossa existência pessoal e social. Com efeito, se o espírito de Jesus Cristo habita em nós, devemos sentir a preocupação prioritária por aqueles que não tem o conveniente quanto a alimento, vestuário e habitação, nem têm acesso aos bens da cultura. Dado que o trabalho é fonte do próprio sustento, é colaboração com Deus no aperfeiçoamento da natureza e é serviço prestado aos irmãos que enobrece o homem os cristãos não podem despreocupar-se do problema do desemprego de tantos homens e mulheres, sobretudo jovens e chefes de família, a quem o desemprego conduz ao desânimo e ao desespero. Os que têm a sorte de poder trabalhar, aspiram a fazê-lo em condições mais humanas e mais seguras, a participar mais justamente no fruto do esforço comum quanto a salários, segurança social e possibilidades de desenvolvimento cultural e espiritual. Querem ser tratados como homens livres e responsáveis, chamados a participar nas decisões relativas à sua vida e ao seu futuro. Ê direito fundamental seu, criar livremente organizações que defendam e promovam os seus interesses e contribuam responsavelmente para o bem comum. A tarefa é imensa e complexa. Vê-se hoje complicada pela crise económica mundial, pela desordem de círculos comerciais e financeiros injustos, pelo esgotamento rápido dalguns recursos pelos riscos irreversíveis de contaminação do ambiente biofísico.

Para participarem realmente no esforço solidário da humanidade, os povos da América Latina exigem com razão que lhes sejam devolvidas a sua justa responsabilidade sobre os bens que a natureza lhes confiou e ainda as condições gerais que lhes permitam realizar um desenvolvimento conforme ao seu espírito próprio, com a participação de todos os grupos humanos que os formam. Tornam-se necessárias inovações ousadas e renovadas, para superar as graves injustiças herdadas do passado e para vencer o desafio das transformações prodigiosas da humanidade.

Em ambos os níveis, nacional e internacional, e por parte de todos os grupos sociais e de todos os sistemas, as realidades novas exigem aptidões novas. A denúncia unilateral do outro como oposto e o fácil pretexto das ideologias alheias, sejam quais forem, são álibis cada vez mais irrisórios. Se a humanidade quer dominar uma evolução que lhe escapa das mãos, se quer subtrair-se à tentação materialista que vai ganhando terreno numa fuga para a frente desesperada e se quer assegurar o desenvolvimento autêntico aos homens e aos povos, deve rever radicalmente os conceitos de progresso, que sob diversos nomes, deixaram atrofiar os deveres espirituais.

A Igreja oferece a sua ajuda. Não teme denunciar com energia os ataques à dignidade humana. Mas reserva o essencial das suas energias para ajudar os homens e grupos humanos, os empresários e trabalhadores, a que tomem consciência das imensas reservas de bondade que têm dentro de si e já fizeram frutificar na sua história, mas que devem hoje levar a frutos novos.

O movimento operário, a que a Igreja e os cristãos ofereceram um contributo original e diversificado, especialmente neste continente, reivindica a sua justa parte de responsabilidade na construção duma nova ordem mundial. Recolheu as aspirações comuns de liberdade e dignidade. Desenvolveu os valores de solidariedade, fraternidade e amizade. Na experiência comunitária, despertou formas de organização originais, melhorando substancialmente a sorte de numerosos trabalhadores e contribuindo, embora nem sempre se reconheça, para deixar vestígios no mundo industrial. Apoiando-se neste passado, deverá comprometer a sua experiência na busca de novos caminhos, renovar-se a si mesmo e contribuir, de maneira mais decidida ainda, para construir a América Latina de amanhã.

Há dez anos que o meu predecessor o Papa Paulo VI esteve na Colômbia. Queria trazer aos povos da América Latina a consolação do Pai Comum. Queria abrir à Igreja Universal as riquezas das Igrejas deste continente. Alguns anos mais tarde, celebrando o 80° aniversário da primeira Encíclica Social, a Rerum Novarum, escrevia: "O ensino social da Igreja acompanha com todo o seu dinamismo os homens nesta busca. Embora não intervenha para dar autenticidade a uma estrutura determinada ou propor um modelo prefabricado, não se limita simplesmente a recordar uns princípios gerais. Desenvolve-se por meio duma reflexão, amadurecida no contacto com situações mudáveis deste mundo sob o impulso do Evangelho como fonte de renovação, desde que a sua mensagem seja aceita na sua totalidade e nas suas exigências. Desenvolve-se com a sensibilidade própria da Igreja, marcada por uma vontade desinteressada de serviço e uma atenção aos mais pobres. Alimenta-se finalmente numa experiência rica de muitos séculos, o que permite assumir, na continuidade das suas preocupações permanentes, a inovação ousada e criadora requerida pela situação presente do mundo". São palavras de Paulo VI.

Queridos amigos: mantendo-se fiel a estes princípios, quer a Igreja chamar a atenção para um fenómeno grave e de grande actualidade: o problema dos emigrantes. Não podemos fechar os olhos à situação de milhões de homens que, na busca de trabalho e do próprio pão, têm de abandonar a sua pátria e muitas vezes a família, enfrentando as dificuldades dum ambiente novo nem sempre agradável e acolhedor, uma língua desconhecida e condições gerais, que os afogam na solidão e às vezes na marginalização — a eles, suas mulheres e seus filhos — quando não se chega mesmo a aproveitar essas circunstâncias para oferecer salários mais baixos, coarctar os benefícios da segurança social e assistencial e dar condições de habitação indignas de seres humanos. Há condições em que o critério posto em prática é o de procurar o máximo rendimento do trabalhador emigrado, sem atender à pessoa dele. Diante deste fenómeno, continua a Igreja a proclamar que não deve seguir-se, neste como noutros campos, o critério de levar a que permaneçam os factores económico, social e político, colocados acima do homem, mas que a dignidade da pessoa humana está acima de tudo o mais, e que a isto se há-de condicionar o resto.

Criaríamos um mundo bem pouco habitável, se apenas se olhasse a ter mais, e não se pensasse antes de tudo na pessoa do trabalhador, na sua condição de ser humano e de filho de Deus, chamado a uma vocação eterna — se não se pensasse em ajudá-lo a ser mais. Certamente, por outro lado, o trabalhador tem obrigações que há-de cumprir com lealdade, uma vez que sem isso não pode existir ordem social bem ordenada.

Aos poderes públicos, aos empresários e aos trabalhadores convido, com todas as minhas forças, a que reflictam sobre estes princípios e a que deduzam as consequentes Linhas de acção. Não faltam exemplos, é necessário reconhecê-lo também, em que se põem em prática com exemplaridade estes princípios da doutrina social da Igreja. Com isto me regozijo. Louvo os responsáveis e animo a que se imite este bom exemplo. Ganhará com isso a causa da convivência e fraternidade, entre grupos sociais e nações. Poderá ganhar até a própria economia. Sobretudo ganhará sem falta a causa do ser humano.

Não nos fiquemos porém só no homem. O Papa traz-vos ainda outra Mensagem que é para vós, trabalhadores do México e da América Latina: abri-vos para Deus. Deus ama-vos. A mãe de Deus, a Virgem Maria, ama-vos. A Igreja e o Papa amam-vos e convidam-vos a seguir a força arrebatadora do amor, que tudo pode vencer e construir. Há quase 2.000 anos, quando Deus nos enviou o seu Filho, não esperou que os esforços humanos tivessem eliminado previamente toda a espécie de injustiças. Jesus Cristo veio participar da nossa condição humana com o seu sofrimento, as dificuldades por que passou e a sua morte. Antes de transformar a existência quotidiana, Ele soube falar ao coração dos pobres, libertá-los do pecado, abrir os seus olhos a um horizonte de luz e enchê-los de alegria e esperança. O mesmo faz hoje Jesus Cristo, que está presente nas vossas igrejas, nas vossas famílias, nos vossos corações e em toda a vossa vida. Abri-Lhe todas as portas. Celebremos todos juntos nestes momentos, com alegria, o amor de Jesus e de sua Mãe. Ninguém se sinta excluído, em especial os mais desditados, porque esta alegria, que vem de Jesus Cristo, não traz ofensa para nenhuma pena. Tem o sabor e o calor da amizade, que nos é oferecida por Aquele que sofreu mais que nós, que morreu na cruz por nós, que nos prepara uma morada eterna a seu lado, e que já nesta vida proclama e afirma a nossa dignidade de homens, de filhos de Deus.

Estou com amigos trabalhadores a ficaria convosco muito mais tempo. Mas tenho de concluir. A vós aqui presentes, aos vossos companheiros do México e a todos os vossos compatriotas que trabalham fora do solo pátrio, a todos os operários da América Latina, deixo-vos a minha saudação de amigo, a minha bênção e a minha recordação. A todos, aos vossos filhos e familiares, o meu abraço de irmão.




  VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

MENSAGEM DO SANTO PADRE

AOS BISPOS DA AMÉRICA CENTRAL E DAS ANTILHAS



Queridos Irmãos

Antes de deixar o solo do México, sinto a necessidade de vos enviar e, por vosso meio, a todos os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais, uma saudação paterna.

Saudação marcada pela pena de não ter podido visitar esses queridos filhos, embora estando tão perto dos vossos Países.

Pena que se traduz numa expressão mais funda de amor. Dizei-lhes que o Papa, nos dias que viveu no vosso Continente, pensou muito neles e rezou muito por eles.

A proximidade material, devida à minha visita ao México, fez-me sentir mais vivamente o meu afecto e o meu interesse por toda a América Latina, e recordei em particular, com especial amor, todo o Arquipélago das Antilhas durante a minha breve demora em São Domingos.

Agora que o meu pensamento e o meu afecto estão mais perto de vós, ocorre à minha memória, de maneira especial, a recordação das calamidades materiais que ainda há pouco tempo flagelaram alguns Países, muito especialmente Guatemala e Nicarágua. Damos graças a Deus por ir decorrendo satisfatoriamente o processo de reconstrução.

Oxalá pudésseis compreender quanto deseja o Papa que as gentes destes Países sejam compreendidas em toda a sua dimensão de seres humanos, e que os que têm nas suas mãos, as possibilidades e o poder, o exerçam com a devida justiça, condição da paz e do desenvolvimento dos povos!

O Papa regressa a Roma, mas fica convosco a sua palavra: seja estímulo constante para continuardes trabalhando cada dia com renovado esforço para que o grande amor às vossas Pátrias se manifeste pelo vosso esforço em favor do bem e da convivência fraternal dessa grande família, que formam todos e cada um dos Países do Continente americano.

Ao conceder aos Bispos e, por meio deles, a todos os povos destas terras, a Bênção Apostólica, o Papa deseja consolidar, acrescentar e tornar mais profundos estes laços, que se estabeleceram graças à missão pastoral dos mesmos.

Seja louvado Deus omnipotente que nos permitiu, por causa da Conferência do Episcopado Latino-Americano, constituir por uns dias o centro da Igreja em terras da América, dias todos importantes para o presente e o futuro da evangelização nesse amado e grande Continente.



JOÃO PAULO PP. II


                                                     

                                                          Fevereiro de 1979



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II

À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE

AOS CRISTÃOS DAS BAHAMAS


Quinta-feira, 1 de Fevereiro de 1979


Estou-vos agradecido por estas boas-vindas. É grande alegria para mim, no regresso a Roma poder parar em Nassau, grande alegria estar com o amado povo das Bahamas.

A minha primeira saudação vai para as autoridades desta nação jovem, de há pouco independente. Facilitastes gentilmente a minha visita, e desejo assegurar-vos da minha cordial gratidão. Contai, além disso, com as minhas orações pelo exacto desempenho das grandes tarefas que sois chamados a desempenhar, ao serviço de todos os homens e mulheres desta nação.

Estando aqui esta noite no meio de vós, tenho a oportunidade de formular os meus melhores votos em pró de toda população das Bahamas. O que espero para todos é que haja constante progresso no caminho do desenvolvimento humano autêntico e integral. Com a profunda convicção da inigualável dignidade da pessoa humana, oxalá todos os habitantes destas ilhas ofereçam o seu contributo individual e sem igual para o bem comum, que toma em conta os direitos pessoais e os deveres de todos os cidadãos.

Estar convosco é também participar na esperança de que vós, como nação soberana dentro da família das nações, ireis oferecer a vossa própria e especial contribuição à sociedade: de que ireis ajudar a erguer a paz mundial sobre as colunas sólidas da verdade e da justiça, da caridade e da liberdade. Deus abençoe todos os vossos esforços e vos ajude a desempenhar este importante papel, para bem desta geração e das seguintes.

Nesta ocasião admirável, desejo dirigir uma especial palavra de felicitações a todos os filhos e filhas da Igreja Católica. A todos asseguro o meu amor em nosso Senhor Jesus Cristo e espero que a minha presença seja para vós eficaz indicação dos grandes laços de fé e caridade que vos ligam com os católicos espalhados pelo mundo inteiro. Peço que encontreis fortaleza e alegria nesta solidariedade e companhia, e que deis constantemente testemunho da vossa crença pela qualidade das vossas vidas cristãs. As palavras de Jesus constituem um desafio constante para todos nós: "Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5,16).

Com profundo respeito e fraternal amor desejo também saudar todos os outros irmãos cristãos das Bahamas, que todos confessam connosco que "Jesus Cristo é o Filho de Deus" (1Jn 4,15). Acreditai no nosso desejo de colaborar leal e perseverantemente para chegarmos, pela graça de Deus, à unidade desejada por Cristo Senhor. A minha expressão de amizade estende-se igualmente a todos os homens e mulheres de boa vontade, que residem nesta região do Oceano Atlântico. Como filhos dum único Pai dos céus, estamos unidos na solidariedade de amor e na promoção radical da incomparável dignidade da pessoa humana.

Neste momento, pois, durante esta breve paragem sinto eu também a esperança que está em cada um de vós — a gente das Bahamas — esperança pelo vosso futuro que é vasto como o oceano que vos rodeia. Tenho a honra de partilhar esta esperança convosco e de dar-lhe expressão agora, confiando que ela vos conforte em todos os vossos dignos esforços, como povo unido. Peço a Deus que vos Leve à perfeita obtenção do vosso destino. Conceda Ele ao povo das Bahamas ricas e duradoiras bênçãos. Auxilie os pobres, conforte os doentes, guie a juventude e leve a paz a todos os corações.

Deus abençoe as Bahamas, hoje e sempre!





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CHEFE DO GOVERNO ITALIANO


SENHOR GIULIO ANDREOTTI


NO REGRESSO DA SUA VIAGEM


À AMÉRICA LATINA


Quinta-feira, 1 de Fevereiro de 1979



Ouvi com sincero agrado, Senhor Presidente do Conselho de Ministros, as amáveis palavras de saudação e bons votos que desejou dirigir-me, também em nome do Governo Italiano.

No termo desta primeira viagem apostólica, que me levou além Oceano, à nobre e querida Terra do México, um sentimento domina os outros que se multiplicam no meu espírito agitado e comovido: o sentimento da gratidão.

Estou reconhecido, primeiramente, ao Senhor e à Virgem Santa de Guadalupe, pela constante ajuda com que me sustentaram nestes dias, permitindo-me coroar felizmente uma iniciativa delicada e importante, assumida em cumprimento do mandato universal que me confiou o próprio Cristo, ao chamar-me à responsabilidade de Seu Vigário na Sé de Pedro.

Penso, em seguida, com vivíssimo reconhecimento, nas numerosas demonstrações de cuidado, devoção e afecto, que me reservaram as populações encontradas no decurso da minha peregrinação e, em particular, os venerados Irmãos no Episcopado, reunidos em Puebla em representação de toda a Hierarquia católica da América Latina. O meu coração pôde bater em uníssono com os deles: alegrei-me, sofri e esperei com eles; sobretudo orei com eles, pedindo ao Pai comum a vinda dum mundo tornado mais pacífico, mais justo e mais humano, pela adesão sincera à mensagem de amor do Seu Filho encarnado.

E agora, ao regressar a esta Sé romana na qual o Orbe católico reconhece o centro e origem da própria unidade, uma nova e agradável emoção desperta em mim este vosso acolhimento tão espontâneo e cordial: saúdo, portanto, com ânimo deferente e grato, o Senhor Cardeal Secretário de Estado e as outras Personalidades eclesiásticas, as Autoridades políticas, civis e militares italianas, os Membros do Corpo Diplomático e vós todos que não reparastes em incómodos, contanto que me pudésseis trazer pessoalmente as vossas boas-vindas.

Queira Deus recompensar-vos por tanta amabilidade e, com os seus favores, vos encha a vós e a todos os que multiplicaram os seus cuidados pelo êxito pleno da viagem, a começar pelos Dirigentes, Pilotos e Pessoal das Companhias Aéreas a quem devo ter sido o voo, atraente e confortável. Para confirmar estes votos, tenho o prazer de vos conceder a vós aqui presentes, à dilecta Cidade de Roma e a todos quantos me seguiram com o pensamento e a oração, uma especial e confortadora Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS CARDEAIS PRESENTES EM ROMA


NO REGRESSO DA SUA VIAGEM


À AMÉRICA LATINA


Quinta-feira, 1° de Fevereiro de 1979



Senhores Cardeais

1. No momento em que se conclui a minha primeira viagem missionária, elevo a Deus o mais sentido agradecimento pela grande experiência que Ele me concedeu viver na plenitude dum trabalho apostólico que se estendeu, com especial intensidade, por todas as horas dos dias passados.

2. Julguei meu dever empreender esta viagem (relacionada com a realização da terceira Assembleia Geral do Episcopado latino-americano) seguindo nisto o exemplo do meu predecessor Paulo VI de venerada memória, que desejou inaugurar esta nova forma no cumprimento do ofício pastoral na Igreja.

3. É difícil falar devidamente desta inolvidável experiência, estando ainda a ecoar no meu espírito as mil vozes ouvidas e estando tão imediatas e vivas ainda as recordações de quanto pude ver, das pessoas que pude encontrar e dos temas que tive ocasião de tratar.

4. Será necessário voltar por muito tempo a tudo isto com a oração, com a reflexão e com o coração; mas desde já posso afirmar que esta viagem, depois da breve mas significativa paragem em São Domingos, foi excepcional encontro com o México na sua realidade humana e cristã; encontro com o povo de Deus deste País, que respondeu com um grande acto de fé à presença do Papa, encontro que, iniciado no coração da Igreja mexicana, Guadalupe, se alargou até atingir as etapas de Puebla, de Oxaca, de Guadalajara e Monterrey.

5. Com a riqueza dos seus conteúdos e a multiplicidade das suas manifestações, este encontro oferece, em certo sentido, um contexto vivo aos encargos que, juntamente com os Bispos da América Latina, enfrentamos no âmbito da terceira Assembleia Geral daquele Episcopado. Tendo-se eles iniciado como sabeis a 27 de Janeiro, com a solene concelebração no santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, prosseguem em Puebla sobre o tema «A evangelização no presente e no futuro da América Latina», para terminar no próximo dia 12 de Fevereiro.

Inaugurando os trabalhos a 28 de Janeiro, dirigi à Igreja sul-americana, com grande esperança e confiança, uma mensagem que a presença dos meios de comunicação social e dos profissionais da informação que desejaram seguir com amplitude de tempo cada etapa da minha breve mas intensa viagem tornou concretamente universal. Do significado dos trabalhos de Puebla e de cada um dos problemas lá enfrentados, será certamente necessário falar, mais de uma vez, voltando a cada assunto.

6. Agora, regressando ao cabo de sete dias à sé Apostólica, sinto a necessidade de agradecer de coração a todos aqueles que, a todos os níveis, contribuíram para preparar e organizar esta viagem que tão bom êxito teve, embora se realizasse em tão breve tempo.

Desejava agradecer a todos aqueles que suportaram comigo o peso desta viagem: Suas Excelências Caprio, Casaroli, Martin, Marcinkus, Mons. Noé e todas as outras pessoas do séquito, da imprensa, da rádio e da televisão, todos os leigos que me seguiram na viagem inteira.

7. Permiti, por último, que pelo acolhimento que me reservastes dirija um «obrigado» especial a vós, a todo o Colégio dos Cardeais, que senti estarem tão perto de mim com a oração e com o coração, no decurso destes inesquecíveis dias; e de modo muito especial ao Cardeal Decano, que tão bem soube interpretar os sentimentos de todos vós, e ao Cardeal Secretário de Estado pelo precioso trabalho que realizou com generosa disponibilidade nos dias da minha ausência.

Nossa Senhora de Guadalupe, a que tanto rezei nestes dias, dê força, com a sua intercessão, ao nosso esforço, para não ficarem desiludidas as esperanças despertadas pela viagem apostólica que hoje se concluiu.




AOS JOVENS REUNIDOS NA BASÍLICA VATICANA


Quarta-feira, 7 de Fevereiro de 1979


Queridos meninos e meninas
Queridos jovens

Eis-nos de novo aqui, na Basílica de São Pedro, para a habitual Audiência semanal. Também hoje viestes numerosos para vos encontrardes com o Papa, e eu, apreciando vivamente tal testemunho de fé e de obséquio filial, agradeço-vos sentidamente e saúdo-vos com afecto.

A vossa juventude, a vossa vivacidade e a vossa alegria constituem grande tónico e também impulso para um compromisso cada vez mais intenso no serviço das vossas almas.

1. O primeiro pensamento, que desejo expressar-vos hoje, refere-se, como é óbvio, à minha recente viagem à América Latina, que representa quase metade da população católica do mundo. Julgo que a tereis podido seguir, ao menos em parte, na televisão e nos jornais.

O meu espírito está cheio de recordações inolvidáveis: esta viagem estupenda, embora cansativa, foi verdadeira graça de Deus, conseguida sem dúvida pelos meus venerados Predecessores, de quem uso o excelso nome: João XXIII, Paulo VI e o Papa João Paulo I. Acompanharam-me na longa e consoladora peregrinação de São Domingos à Cidade do México, de Guadalajara a Puebla, de Oaxaca a Monterrey, num alegre e apertado programa de compromissos e cerimónias.

Foi o encontro com milhões e milhões de pessoas que, movidas pela fé e pela esperança, se apertaram à volta do Vigário de Cristo. Foi, sobretudo, encontro contínuo de oração e meditação. Pude falar a Bispos, Sacerdotes, Religiosos, Religiosas, Seminaristas, Operários, Universitários, Estudantes, "Campesinos", índios, Doentes, Marginalizados e Crianças, como também a Responsáveis das Nações e dos Governos. Falei nos estádios, nas praças, nas ruas, nos grandes Santuários, nas Catedrais, entre as montanhas dos índios, nos bairros dos pobres, nos hospitais. Por toda a parte se apertaram as multidões à volta do Papa, como um dia se apertaram a volta de Jesus.

E neste momento, desejo dirigir um pensamento paterno a todos os jovens e crianças, tão ardentes e alegres, que encontrei. Em especial, gosto de recordar as crianças doentes de Cidade do México e os indiozinhos de Cuilapán.

2. O segundo pensamento voa à Assembleia do Episcopado Latino-americano, reunida na cidade de Puebla.

Tive a felicidade de inaugurar pessoalmente esta terceira Assembleia no sábado 27 de Janeiro, quando presidi à concelebração no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, e depois, no domingo 23 de Janeiro, pronunciando o discurso inaugural dos trabalhos, na Capela do Seminário Maior em Puebla.

Trata-se — como é sabido — da terceira reunião do Episcopado da América Latina: a primeira realizou-se no Rio de Janeiro em 1955; a segunda em Medellin em 1968.

Em Puebla estão presentes 21 Cardeais, 66 Arcebispos, 130 Bispos, 45 entre Religiosos e Religiosas, 33 Leigos e Leigas, 4 Diáconos, 4 "Campesinos", 4 Indígenas e 5 Observadores não católicos.

Esta Assembleia tem como tema de discussão o problema muito importante a "evangelização no presente e no futuro da América Latina". Recomendo-a portanto instantemente à.s vossas fervorosas orações.

3. Desejava concluir as noticias agora apresentadas com um pensamento acerca da "Colegialidade episcopal", de que fala. longamente o Concílio Vaticano II, na Constituição Lumen Gentium.

Sabeis que Jesus escolheu os doze Apóstolos e só a eles conferiu os seus poderes para o cumprimento da missão a eles confiada: anunciar a Verdade, salvar e santificar as almas e guiar a Igreja.

Como chefe dos doze colocou Pedro, na qualidade de fundamento da Igreja e Pastor universal de todas as almas, com o encargo de "confirmar os irmãos", recebendo do Senhor especial assistência para não errar na doutrina a respeito de fé e de moral. A missão e os poderes dos Apóstolos passaram aos Bispos; a missão e os poderes de Pedro passaram ao Papa, isto é, ao Bispo de Roma, seu sucessor.

Vedes como, na vontade e no projecto de Jesus, a Igreja é um Corpo só, todo unido e bem Ligado: os Bispos formam uma unidade, uma "colegialidade" com Pedro, isto é, com o Papa como Cabeça.

Logo, por meio dos Bispos sobe-se aos Apóstolos e dos Apóstolos chega-se a Jesus e, por meio de Jesus, chega-se à Santíssima Trindade.

Para uma pessoa estar segura de amar verdadeiramente a Jesus, é necessário que esteja unida ao próprio Bispo. Com motivo afirma a Constituição Lumen Gentium que na pessoa dos Bispos, coadjuvados pelos sacerdotes, está presente no meio dos crentes o Senhor Jesus Cristo (Cfr. Lumen Gentium LG 28).

Por isso, caros jovens e meninos, amai o vosso Bispo, que é pai, amigo e mestre; pedi por Ele e com Ele; escutai a sua palavra e realizai as suas iniciativas; e tornai-lhe belo e consolador o ministério pastoral. O encontro com o Bispo seja sempre uma alegria e uma festa, porque é um encontro com Jesus.

Formulando este voto, confio-vos ao amor maternal de Nossa Senhora de Guadalupe e a todos abençoo do coração.

Discursos João Paulo II 1979 - Quarta-feira, 31 de Janeiro de 1979