Discursos João Paulo II 1979 - Sábado, 27 de Outubro de 1979

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA ARGENTINA


POR OCASIÃO DA VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Domingo, 28 de Outubro de 1979



Queridos Irmãos no Episcopado

1. Dou graças ao Senhor por me conceder este desejado encontro convosco, Bispos da Igreja na Argentina. É um encontro cujo prazer se mostra toldado pelo recente falecimento do Cardeal António Caggiano, que durante a sua longa vida deixou tantos exemplos de virtude e obras tão fecundas.

Chega hoje ao auge a vossa visita ad limina que é ao mesmo tempo como um complemento da que realizaram os outros Prelados argentinos que vos precederam.

Pude assim encontrar-me pessoalmente com cada um de vós e, mediante vós, com os vossos colaboradores: sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos de cada uma das Dioceses de um País geograficamente distante, mas muito perto do meu coração de Pastor da Igreja universal.

Quero desde já expressar-vos a minha gratidão e apreço pelo vosso compromisso apostólico e quero dizer-vos quanto me apraz o espírito cristão que se reflecte nas comunidades eclesiais confiadas à vossa responsabilidade.

2. Sigo com especial interesse a louvável solicitude com que ides organizando uma pastoral orgânica da família, e olho com esperança para o pleno desenvolvimento do "Programa de acção pastoral Matrimónio e Família", que a vossa Conferência Episcopal — como acaba de recordar
o Senhor Arcebispo de Corrientes — iniciou com carácter prioritário, desde há anos, para todas as Igrejas particulares da Argentina.

É-me, grato que, em vistas desse objectivo, tenhais podido chegar a urna pastoral de conjunto, capaz de unir e valorizar as forças apostólicas a todos os níveis, fazendo-as confluir harmonicamente para metas de alcance nacional. Assim contribui-se eficazmente para esse feliz resultado, que só a convergência de propósitos, de acção e de métodos pode proporcionar, numa obra tão transcendental como é a de formar e dirigir as famílias em todo o âmbito de uma vida verdadeiramente cristã.

3. É também para mim motivo de alegria a vossa decisão de apresentar à Santíssima Virgem Maria o fruto dos vossos trabalhos no Congresso Mariano Nacional, que ides celebrar em Mendoza no próximo ano. Estou certo que será um fruto muito agradável ao Senhor, porque amadurecerá sob a assistência da Mãe, cuja devoção vos esforçais por fomentar nas vossas comunidades eclesiais e nas famílias, como uma garantia para o bom êxito dos vossos propósitos.

Encorajo-vos a prosseguirdes no caminho iniciado, com a maior amplitude e profundidade possíveis, dado que os seus efeitos benéficos se farão sentir tanto na Igreja como na sociedade civil.

Desta maneira ireis caminhando pelas veredas apontadas pelo Concilio Vaticano II; que nos seus documentos insistiu na importância do matrimónio e da família (Cfr. Lumen gentium LG 11,41 Gaudium et spes GS 47-52 Apostolicam actuositatem AA 11 Gravissimum educationis momentum GE 3 , n. 3.. ). É igualmente um tema a que me referi em muitas ocasiões, neste primeiro ano de Pontificado.

4. Ao falar a Bispos latino-americanos, não quero deixar de indicar que, no discurso inaugural da Conferência de Puebla indiquei o tema da família como uma das tarefas prioritárias a atender (João Paulo II, Discurso inaugural da Conferência de Puebla, IV, a). A ele dediquei, igualmente, a minha homilia no Seminário Palafoxiano. Recomendo à vossa reflexão tudo o que ali disse.

É dever preciso dos Pastores ensinar e defender a doutrina da Igreja acerca do matrimónio e da instituição familiar, para salvaguardar os seus elementos constitutivos, as suas exigências e os valores perenes.

Graças a Deus, no vosso povo conserva-se muito arraigado o sentido da família; mas não podemos desconhecer que as tendências permissivas da sociedade moderna têm um crescente impacto nesse sector vital que a Igreja deve tutelar com todas as suas energias.

O matrimónio, sobre o qual se baseia a família, é uma comunidade de vida e de amor, instituída pelo Criador para a continuação do género humano, e tem um destino não só terreno, mas também eterno ( Cfr. Gaudium et spes, GS 48). Esforçai-vos, por isso, em defender a sua unidade e indissolubilidade, aplicando à vida familiar o pensamento central da Conferência de Puebla: comunhão e participação.

Comunhão, quer dizer, disposição interna de compreensão e amor dos pais entre si e destes para com os filhos. Participação, ou seja, mútuo respeito e oferta, tanto nos momentos felizes como nos de provação.

Dentro desta unidade, vivificada pelo amor, resplandece o matrimónio como fonte da vida humana, de acordo com as leis estabelecidas pelo próprio Deus. Isto indica-nos a necessidade de insistir no sentido cristão da paternidade responsável, na linha da Encíclica Humanae vitae de Paulo VI. Não hesiteis sequer em proclamar um direito fundamental do ser humano: o direito de nascer (Cfr. Discurso inaugural da Conferência de Puebla, III, 5).

Uma adequada pastoral familiar deverá ter muito em conta a tríplice função que deve configurar as famílias latino-americanas como "educadoras na fé, formadoras de pessoas, promotoras de desenvolvimento" (João Paulo II, Homilia no Seminário de Puebla, 2).

De facto, o lar cristão deve ser a primeira escola da fé, onde a graça baptismal se abra ao conhecimento e amor de Deus, de Jesus Cristo, da Virgem, e onde progressivamente se vá aprofundando a vivência das verdades cristãs, feitas normas de comportamento para pais e filhos. A catequese familiar, em todas as idades e com diversas pedagogias, é importantíssima. Deve tornar-se operante com a iniciação cristã ainda antes da Primeira Comunhão e deverá ter especial desenvolvimento mediante a recepção consciente e responsável dos outros sacramentos. Assim, a família será deveras uma Igreja doméstica (Cfr. Lumen gentium LG 11 Apostolicam actuositatem AA 11).

Como formadora de pessoas, a família tem papel singular que lhe confere certo carácter sagrado, com direitos próprios fundados em última instância na dignidade da pessoa humana, e por isso devem ser sempre respeitados. Acabei de o expressar no meu discurso à Organização dos Estados Americanos: "Quando falamos de direito à vida, à integridade física e moral, ao alimento, à habitação, ao trabalho, à responsabilidade de tomar parte na vida da nação, falamos da pessoa humana. É esta pessoa humana a que a fé nos faz reconhecer como criada à imagem de Deus e destinada a uma meta eterna" (João Paulo II, Discurso à Organização dos Estados Americanos, L'Oss. Rom. Outubro de 1979). Uma pastoral familiar deve velar, por conseguinte, pela defesa destes direitos. Assim contribui-se ao mesmo tempo para fazer da família um verdadeiro e eficaz agente de desenvolvimento.

Por outro lado, é evidente que, para se poder trabalhar com eficácia nesse campo, é necessário esforço sério para eliminar as causas profundas de que brotam tantos factores desequilibradores da sociedade e, por conseguinte, da família. Ninguém deixa de ver, a este respeito, a repercussão enorme, e não só de ordem moral, que têm certas situações de clara injustiça social ou que afectam igualmente o sector das relações de trabalho.

Por isso, como parte do vosso ministério, não deixeis de propor e difundir uma sã doutrina moral pública, em plena consonância com a directriz indicada pelo ensinamento social da Igreja que, se for levada à prática com fidelidade e sem tergiversações de tendência alguma, fará que sejam realidade fecunda as exigências de ordem humana e evangélica que ela pretende tutelar.

5. Se com a justa preocupação pela salvaguarda destes direitos humanos, puserdes bem em relevo os princípios atrás enunciados, encontrareis, na falta do respeito devido a esses princípios, a raiz do desencadear-se da violência.

A fim de contribuir, no que está ao vosso alcance, para que se dissolva definitivamente o ciclo funesto da violência, procedei, Veneráveis Irmãos, com todo o zelo no cumprimento dos vossos deveres pastorais, procurando que a sociedade e a célula primeira dessa sociedade, quer dizer, a família, se integrem naquela civilização do amor, tão desejada pelo meu Predecessor Paulo VI.

6. Se perante as exigências do vosso vasto e não fácil programa, pudesse afigurar-se-vos inadequado o número de colaboradores de que dispondes — apesar do recente aumento de vocações — sirva-vos de conforto esta prometedora afirmação conciliar: "As famílias, animadas pelo espírito de fé, de caridade, e de piedade, tornam-se um contributo valiosíssimo para fomentar as vocações para a vida sacerdotal, religiosa e, em geral, para as de consagração especial" (Cfr. Optatam totius OT 2).

Deus quis deixar-nos um modelo muito perto de nós na Sagrada Família de Nazaré. Jesus, Maria e José inspirem, acompanhem e alentem a vossa pastoral familiar e a tarefa de todos os vossos colaboradores.

7. Antes de concluir este encontro, quero aludir à gratidão que me haveis manifestado pela tarefa de mediador que aceitei a fim de contribuir para a paz e a amizade entre dois povos irmãos: Argentina e Chile. Sabei que aprecio muito sinceramente o que estais a fazer, facilitando-me o trabalho, com a vossa acção pastoral que, fundada na oração e nos ensinamentos do Evangelho, contribui eficazmente para criar a atmosfera adequada para a ambicionada solução, para bem de todos.

Dou-vos, finalmente, um particular encargo: que leveis aos vossos sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas, agentes de apostolado e a todos os vossos diocesanos, a saudação e a Bênção do Papa, que pensa em todos com grande afecto e com viva esperança. Com eles, abençoo-vos a todos vós.



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE À PARÓQUIA ROMANA DE SÃO PIO V

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS PROFESSORES PERTENCENTES À PARÓQUIA


Domingo, 28 de Outubro de 1979



Este encontro convosco, professores e professoras, mestres e mestras, pertencentes a esta Paróquia de São Pio v é-me particularmente agradável, porque me sinto rodeado de pessoas beneméritas, cuja dignidade e valor atraíram sempre a minha estima e a minha gratidão.

Estima, antes de mais, pela alta missão que vos está confiada na escola, à qual me agrada juntar o desejo de que, com o vosso modo de viver cristãmente e com o esforço constante de apresentar aos jovens os valores religiosos, possais estabelecer tais contactos interpessoais que abram com eles um diálogo construtivo e vão assim ao encontro das suas verdadeiras exigências.

Gratidão, depois, pela dedicação, melhor, como espero, pela abnegação com que certamente realizais o vosso delicado serviço na formação cultural e espiritual das novas gerações. Seja a vossa atitude sempre inteligente, humilde e edificante, de maneira que faça não só apreciar, mas também e sobretudo amar a verdade.

A vossa actividade decorre num tempo em que o laicado católico é convidado a participar na missão apostólica da Igreja. Sabeis decerto como o Concílio Vaticano II pôs grande esperança na vossa colaboração, a qual, dada "com o testemunho da vida e com a palavra, adquire certo carácter específico e particular eficácia por se realizar nas condições ordinárias da vida do mundo" (Lumen Gentium LG 35).

Nesta perspectiva, sabei encontrar sempre o vosso ponto de referência ideal na figura de Jesus Mestre, ou seja, como disse já na recente Exortação sobre a Catequese, na "imagem de Cristo a ensinar, ao mesmo tempo majestosa e familiar, impressionante e tranquilizadora"; seja Ele a inspirar-vos o respeito pela "fé católica dos jovens, até ao ponto de facilitar a educação, o arraigamento, a consolidação e a livre profissão e prática da mesma fé" (Cfr. Exortação Apostólica Catechesi Tradendae CTR 8 Catechesi Tradendae, nn. 8 e 69).

Ele vos ajude no vosso trabalho educativo e vos ilumine com a sua graça. Pela minha parte asseguro-vos que estarei perto de vós com o afecto, a oração e com a minha Bênção que vos concedo agora a todos vós, aos vossos familiares e aos alunos das vossas escolas.



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE À PARÓQUIA ROMANA DE SÃO PIO V

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

ÀS COMUNIDADES RELIGIOSAS


DA PARÓQUIA SÃO PIO V


Domingo, 28 de Outubro de 1979



Caríssimos Irmãos e Irmãs no Senhor

Nesta minha visita pastoral não podia faltar um encontro particular com todos vós. Sacerdotes, Religiosos e Religiosas que, em grande número, residis nesta Paróquia.

De bom grado, portanto, me encontro convosco, e vos exprimo toda a minha alegria de pai, de irmão e de amigo: e, neste breve encontro, gostaria de vos apresentar algumas sugestões que nascem das exigências do nosso tempo.

Qual é a característica geral do tempo que a Providência nos chamou a viver? Parece poder responder-se que é uma grande crise espiritual: da inteligência, da fé religiosa e, em consequência, da vida moral.

Nós somos chamados a viver nesta nossa época e a amá-la para a salvar. Quais são, portanto, as exigências que ela nos apresenta?

1. O nosso tempo exige, acima de tudo, profundas convicções filosóficas e teológicas.

Muitos naufrágios na fé e na vida consagrada, passadas e recentes, e muitas das situações actuais de angústia e de perplexidade, têm na origem uma crise de natureza filosófica. É necessário cuidar com extrema seriedade da própria formação cultural. O Concílio Vaticano II insistiu na necessidade de se manter sempre São Tomás de Aquino como mestre e doutor, porque só à luz e à base da "filosofia perene" se pode fundar o edifício bem lógico e exigente da Doutrina cristã. Leão XIII, de venerada memória, na sua célebre e sempre actual Encíclica Aeterni Patris, de que celebramos este ano o centenário, realçou e explicou a validade do fundamento racional para a fé cristã.

Por isso, hoje a nossa primeira preocupação deve ser a da verdade, tanto pela nossa necessidade interior como pelo nosso ministério. Não podemos semear o erro ou deixar a sombra da dúvida. A fé cristã de tipo hereditário e sociológico torna-se cada vez mais pessoal, interior e exigente, o que é certamente um bem, mas nós devemos ter para poder dar. Recordemos o que escrevia São Paulo ao seu discípulo Timóteo: Guarda o depósito evitando as vaidades profanas de palavras e as contradições de uma pretensa ciência que alguns professam, desviando-se da fé (1Tm 6,20).

É uma exortação válida sobretudo para a nossa época tão sedenta de certeza e de clareza, e tão profundamente atraiçoada e atormentada.

2. O nosso tempo exige personalidades maduras e equilibradas. A confusão ideológica dá origem a personalidades psicologicamente imaturas e deficientes; a própria pedagogia torna-se incerta e, por vezes, desencaminhada. Precisamente por este motivo, o mundo moderno procura modelos com afã, mas na maioria das vezes fica desiludido, vencido e humilhado. Por isso nós devemos ser personalidades maduras, que sabem dominar a própria sensibilidade, assumem os próprios deveres de responsabilidade e de guia, procuram realizar-se no trabalho e no lugar em que se encontram.

O nosso tempo exige coragem para se aceitar a realidade tal como ela é, sem críticas depressivas e sem utopias, para a amar e para a salvar.

Esforçai-vos todos, pois, por atingir estes ideais de "maturidade", mediante o amor ao próprio dever, a meditação, a leitura espiritual, o exame de consciência, o uso metódico do Sacramento da Penitência e a direcção espiritual. A Igreja e a sociedade moderna têm necessidade de personalidades maduras: devemos sê-lo com a ajuda de Deus!

3. Enfim, o nosso tempo exige um compromisso sério na própria santificação.

São imensas as necessidades espirituais do mundo actual. Se repararmos na selva ilimitada de prédios nas modernas metrópoles, invadidas por multidões sem número, ficaremos estupefactos. Como podemos atingir todas estas pessoas e levá-las a Cristo?

Ajuda-nos a certeza de sermos tão somente instrumentos da graça: quem actua em cada alma é o próprio Deus cam o seu amor e a sua misericórdia.

O nosso verdadeiro e constante compromisso deve ser o da santificação pessoal, para sermos instrumentos fiéis e eficazes da graça.

O voto mais verdadeiro e mais sincero que posso fazer-vos é este: "Fazei-vos santos, santos depressa!". Repito-vos as palavras de São Paulo aos Tessalonicenses: O Deus da paz vos santifique até à perfeição, e todo o vosso ser — o espírito, a alma e o corpo — se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo (1Th 5,23).

Caríssimos!

Alegremo-nos por viver nestes nossos tempos e empenhemo-nos com coragem no desígnio que a Providência, também através de nós, realiza misteriosamente.

São Pio V, "cuja excelsa figura — dizia João XXIII está unida a grandes provas que a Igreja teve de enfrentar em tempos bem mais difíceis que os nossos" (Discorsi, messaggi e colloqui, vol. II, pág. 720, 6 de Maio de 1960), ensina-nos também a recorrer, nas nossas necessidades, a Maria Santíssima, a nossa Mãe celeste, a vencedora de todo o erro e de toda a heresia. Rezemos-lhe continuamente, rezemos-lhe sobretudo o santo Rosário, para que o nosso único e supremo ideal seja sempre a salvação das almas.

De todo o coração vos concedo a minha particular Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA COLÔMBIA


POR OCASIÃO DA VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Segunda-feira, 29 de Outubro de 1979



Veneráveis Irmãos no Episcopado

Recebo-vos com profunda alegria, neste encontro colectivo, que me leva a alargar o meu olhar cheio de afecto, até à querida Igreja da Colômbia que vós aqui representais, a qual se fez e faz peregrina espiritual para ver o Sucessor de Pedro, juntamente convosco e com os outros Irmãos Bispos que vos precederam.

Nestes momentos de comunhão, reunidos no nome do Senhor, sentimos também a presença dos vossos sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas, membros dos movimentos de apostolado e todo o povo fiel, a cujo serviço abnegado e gozoso nos impele o mandato amoroso do divino Mestre.

Com efeito, o amor ao homem, imagem de Deus, é concretização da nossa fé no Senhor, dom que nos une na Igreja, Sacramento Universal de Salvação.

A visão da fé no serviço do homem, de todos os homens, especialmente dos mais necessitados, exige que o exercício da missão absolutamente primordial da evangelização, e juntamente com ela da catequese, "não ceda nada frente a qualquer outra preocupação" (Catechesi Tradendae CTR 63). A evangelização e a catequese, adequadamente concebidas, constituem o eixo da vossa solicitude pastoral. Como oportunamente o exprime o documento de Puebla, "o serviço aos pobres é a medida privilegiada, ainda que não exclusiva, do nosso seguimento de Cristo. O melhor serviço ao irmão é evangelizá-lo, o que o dispõe a realizar-se como filho de Deus, o liberta das injustiças e o promove integralmente" (Documento de Puebla, n. 1145).

A evangelização tem lugar insubstituível na família, pela qual deveis continuar trabalhando com vigor e esperança. Nos lares descobre-se a face de Deus por meio da oração, aquilatam-se os valores do verdadeiro humanismo e cresce a Igreja. Nos alvores deste ano observei: "À família estão ligados os mais profundos problemas humanos... A Igreja quer lembrar que à família estão ligados os valores fundamentais, que não se podem violar sem incalculáveis prejuízos de natureza moral... É necessário defender estes valores fundamentais com tenacidade e com firmeza, porque a violação deles acarreta incalculáveis prejuízos para a sociedade e, em última análise, para o homem... O primeiro desses valores é o da pessoa que se exprime na fidelidade absoluta e recíproca até à morte... A consequência desta afirmação do valor da pessoa, que se exprime na recíproca relação entre marido e esposa, deve ser também o respeito pelo valor pessoal da nova vida, isto é, da criança, desde o primeiro momento da sua concepção. A Igreja não poderá nunca dispensar-se da obrigação de tutelar estes dois valores fundamentais, ligados à vocação da família" (João Paulo II, Homilia no último dia do ano de 1978, n. 2).

Igualmente conheceis a esperança que deposita a Igreja e que tem o Papa na juventude. Repeti aos vossos jovens aquilo que eu disse na Irlanda: "Creio nos jovens com todo o meu coração e com plena convicção". Assegurai com todos os meios a mais esmerada catequese à meninice e à juventude: catequese integral, fiel ao conteúdo total do evangelho, com linguagem adaptada que não desvirtue o conteúdo do Credo, que não perturbe os espíritos mas forme cristãos firmes no essencial e humildemente felizes na sua fé. Estes são alguns dos pontos a que me referi amplamente na recente Exortação Apostólica sobre a catequese e que ofereço como critério aos que estão comprometidos nesta nobilíssima tarefa que a Igreja lhes recomenda.

Continuai, pois, animando todos os esforços sãos que se realizam no campo da catequese. Sabeis bem como, infelizmente, não faltaram "experiências e publicações equívocas e nocivas para os jovens e para a vida da Igreja" (Catechesi Tradendae CTR 49). É lamentável verificar que se divulgam de quando em quando, subtraindo-se à vigilância dos Pastores. O Espírito incita-nos a comunicarmos as certezas da nossa fé. Oxalá que também as editoriais e livrarias católicas, fiéis à missão e às exigências que tal denominação comporta, colaborem, na importante medida em que o possam fazer, nesta tarefa.

Responsáveis como sois pelas comunidades que o Senhor vos confia, ajudados por todos os vossos activos colaboradores, em primeiro lugar pelos sacerdotes, conduzi a juventude a Cristo, o único capaz de dar plena resposta às suas aspirações. Como notaram os Bispos na Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, "seja a pastoral juvenil a pastoral da alegria e da esperança, que transmite a mensagem gozosa da salvação num mundo muitas vezes triste, oprimido e desesperado em busca da sua libertação" (III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, n. 1205).

Sei muito bem que procurais exercer este ministério evangelizador em contacto estreito com os fiéis e seguindo de perto as circunstâncias concretas ambientais em que se desenrola a sua vida de cristãos. Isso faz-vos testemunhas de não poucas situações penosas, que derivam da falta de formação moral e religiosa, de cultura e de trabalho, e ainda de condições lamentáveis de injustiça, que vão aumentando a distância entre quem possui excessivamente e quem carece do essencial.

Em vista disto, não deixeis de fazer tudo o que vos for possível em favor de uma formação integral das pessoas, prestando toda a atenção que é devida à dimensão social que deve também estar presente no vosso ministério; com essa fina sensibilidade que hoje em dia caracteriza muita gente, sobretudo jovens, desejosos de verem implantado um sistema de relações sociais muito mais justas.

Partindo duma grande finalidade ao Evangelho e com uma clara noção do que é a missão específica da Igreja, sede — com o vosso ensino e as vossas obras, com o conforto dado aos vossos colaboradores — promotores eficazes de autêntica justiça em todos os campos, de acordo com as regras fixadas pela Igreja em todos os seus documentos de doutrina social.

Irmãos bem amados: confortados com a minha palavra e apoio, continuai a vossa missão, e levai a todos os membros das vossas respectivas Igrejas o afecto e a bênção do Papa. E com ela, o desejo de paz, de alegria e de esperança na fidelidade a Cristo, o Salvador.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO MÉXICO


POR OCASIÃO DA VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Terça-feira, 30 de Outubro de 1979



Senhor Cardeal,
queridos Irmãos no Episcopado

1. Bem-vindos sejais a este encontro, ponto culminante da vossa visita à sé dos Apóstolos Pedro e Paulo.

Em espírito de fé, empreendestes a vossa peregrinação até Roma, com o vivo desejo de reforçar a vossa comunhão com o Pastor de toda a Igreja, e fazê-lo participante dos vossos êxitos, propósitos e esperanças, assim como das dificuldades e obstáculos no caminho diário do serviço apostólico às vossas comunidades eclesiais.

Obrigado por esta especial alegria que me traz a vossa visita. Sim, porque através dos vossos rostos que bem conheço, das confidências recebidas dos vossos corações de Pastores e, mais imediatamente, através das expressivas e sentidas palavras que acaba de pronunciar em nome de todos, o Presidente da vossa Conferência Episcopal, o Senhor Cardeal Arcebispo de Guadalajara, tornam-se-me presentes, junto de vós, as imensas multidões dos vossos fiéis — que representam quase metade da Igreja no vosso País — e de todo o querido povo do México, com o qual passei dias inesquecíveis na minha primeira viagem apostólica, que prossegue ocupando na minha memória e no meu coração um lugar muito destacado.

Quereria que a sintonia de sentimentos, que se criou naquelas minhas jornadas mexicanas, e a abundante semente evangélica depositada dessem o seu melhor fruto e realização num crescente aprofundamento da fé e da vida cristã na vossa Pátria.

2. Tudo isto requer de vós, ajudados por quantos colaboram na missão apostólica, uma perseverante e sistemática obra de evangelização a todos os níveis, para que receba cada membro das vossas comunidades a Boa Nova da salvação, desenvolva de modo cada vez mais consciente e pessoal a fé recebida, e chegue plenitude da vida em Cristo. Tarefa ampla, urgente, mas nobilíssima e meritória, na qual me alegra encontrar o espírito de ajuda mútua que reina entre as vossas Igrejas particulares, com adequadas planificações pastorais a nível regional e com a assistência recíproca entre dioceses, que podem socorrer as mais necessitadas em meios e sobretudo em agentes qualificados de evangelização.

Vós, que vindes de terras que ligaram estreitamente o seu nome com tão valiosos documentos sobre a evangelização, não necessitais que me alongue muito sobre este ponto, no qual vos sei comprometidos com todas as vossas forças e convicção. Permiti-me, contudo, que vos estimule uma vez mais no desempenho dessa grave responsabilidade eclesial, para que a Igreja cumpra fielmente a sua missão, e desejando ser sempre "boa mãe, cuide das almas em todas as necessidades, anunciando o Evangelho, administrando os Sacramentos, salvaguardando a vida das famílias mediante o sacramento do Matrimónio, reunindo a todos na comunidade eucarística por meio do Santo Sacramento do altar, acompanhando-os amorosamente desde o berço até à entrada na eternidade" (João Paulo II, Homilia na Basílica de Guadalupe, 27 de Janeiro de 1979).

3. Como ponto de partida que vos facilitará muito o vosso trabalho, podeis contar com a profunda religiosidade do vosso povo, que de tantas formas a evidencia. Ele, apesar das lacunas que apresenta, oferece um campo bem disposto à recepção do Evangelho que há que saber valorizar e aproveitar com oportuna disponibilidade.

Naqueles casos em que a fé cristã se apresenta misturada com formas menos perfeitas de religiosidade popular, impõe-se um prudente critério , pastoral, para não apagar a fé mais ou menos autêntica, mas — partindo dela purificá-la, robustecê-la e integrá-la gradualmente na vivência consciente do mistério integral de Cristo.

4. Lugar de particular importância ocupa, entre os vossos fiéis, a devoção a Virgem Maria, que de Guadalupe — verdadeiro "Santuário do povo do México" — e também de Zapopán e de tantos outros lugares tão queridos à alma do México mariano, acompanha os seus; filhos no peregrinar da fé. A vossa história mostra-vos que papel tão primordial teve e tem a figura de Maria na vida cristã do vosso povo.

Cultivai, por isso, com todo o mimo essa faceta religiosa dos vossos fiéis que sentem e vivem a devoção a Maria Santíssima como algo que pertence à sua identidade própria. Seja Ela que — sendo perfeitamente compreendido o seu lugar na economia da graça, e incutindo o seu exemplo de perfeita cristã — conduza os vossos fiéis pelo caminho dos verdadeiros discípulos de Jesus, o Salvador.

E sejam os seus santuários, mediante uma pastoral bem orientada e cuidada, "lugares privilegiados para o encontro de uma fé cada vez mais purificada» (Homilia no Santuário de Zapopán, 30 de Janeiro de 1979).

5. Uma das notas mais características do vosso ambiente eclesial é a juventude da população, não chegando 60 por cento aos 20 anos. Este facto constitui para vós um verdadeiro desafio que a Igreja não pode perder. Esses jovens de hoje são a Igreja e a sociedade de amanhã, são o seu futuro, a sua esperança.

É preciso saber conduzi-los a Cristo apresentando-O como o único ideal grande que pode saciar as suas inquietações, os seus desejos de liberdade, de justiça, de autenticidade e de transformação dos corações com eles, de uma sociedade tantas vezes injusta e doente. Só assim, com ideias nobres na sua mente e vivências generosas nos corações, poderão os jovens superar os vazios existenciais que estão na raiz dos tristes fenómenos de violência, de droga e sexo, ou de extravios, para ideologias que afinal se encontram em contradição com os ideais dignos por que julgava lutar.

6. A causa de uma profunda educação moral das consciências — sobretudo nos ambientes da paróquia, da família, dos centros de formação — não podem dissociar-se de uma oportuna educação social, em que a Igreja insistiu com tanta frequência nos documentos dedicados a este tema, e que formam parte importante do seu ensinamento.

Ao longo da história da vossa comunidade eclesial não faltaram exemplos e figuras que, partindo das indicações da doutrina social dos Papas, especialmente desde Leão XIII, deram prova — mesmo no meio de difíceis circunstâncias externas — de fecunda inserção no campo social e associativo, defendendo as justas reivindicações dos sectores necessitados, de operários e camponeses, numa linha de verdadeiro humanismo e de inspiração, nos princípios cristãos. Obra que vai continuando, que deve prosseguir, com força e empenho renovado, sob o impulso do Episcopado. Oxalá todos os que trabalham em tal campo — sacerdotes, religiosos e leigos católicos — se adaptem a estes critérios, para que o seu esforço seja fecundo e eclesial, sem criar exageros, tensões ou rupturas prejudiciais.

Neste terreno não quero deixar de recomendar o especial cuidado por um sector particular da vossa grei: as comunidades de índios. Recordo com afecto o meu encontro de Cuilapán com alguns grupos aborígenes e remeto-vos a quanto ali disse.

7. Queridos Irmãos. Outros pontos mereceriam a nossa atenção, mas não posso alongar mais este encontro, a eles me referirei ao receber os outros membros do Episcopado mexicano.

Continuai com renovado brio e entusiasmo a vossa missão de Mestres, Pastores e Pais. Mantende, entre vós e também com a Conferência Episcopal, uma estreita união no desempenho das vossas responsabilidades pessoais e colectivas, para a edificação na fé das vossas Igrejas.

A todos e a cada um dos membros das mesmas, dos grupos que encontrei nos diversos momentos da minha peregrinação ao México, a quantos não puderam ver-me por doença ou por outros motivos, faço chegar o meu pensamento cheio de afecto e os meus braços para os abençoar.

Concluo com um profundo desejo que se torna oração: Seja a doce Senhora do Tepeyac, a Mãe de Guadalupe — a cujo Santuário o Papa continua a ir espiritualmente em peregrinação e cuja imagem conserva muito presente — aquela que indique a todos: "ide a Jesus", caminho, verdade e vida. Assim seja.



                                                         Novembro de 1979



PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PODISTAS PARTICIPANTES


NA «PRIMEIRA MARCHA ECOLÓGICA»


Quinta-feira, 1 de Novembro de 1979



Caríssimos

A Sociedade "Radiotaxi" romana, com a colaboração do Departamento de Desporto e Cultura da Câmara de Roma, organizou esta "Primeira Marcha Ecológica" pelas ruas da nossa Cidade e desejou contar com a saudação do Papa. Agradeço-vos de coração a vossa deferência, e de boa vontade apresento a todos os meus bons votos.

A marcha, que estais para iniciar e vos conduzirá através das magníficas ruas da Capital, sirva para fazer que vos sintais cada vez mais unidos, melhores e mais compreensivos, a fim de que reine sempre entre vós, cidadãos de Roma, a paz, a caridade, o respeito e o auxílio fraternal.

E como se realiza a vossa marcha precisamente hoje, 1 de Novembro, solenidade de Todos os Santos, desejo a todos vós que sintais intimamente a alegria que nasce da certeza de se caminhar cada dia na direcção do Céu, nossa última meta, para a qual fomos criados e onde estaremos juntos, eternamente felizes.

Desejo-vos uma manhã alegre e serena.

Seja-vos propícia a minha Bênção, que com. particular benevolência concedo aos organizadores, aos participantes e a todas as pessoas que lhes são queridas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A DOIS GRUPOS INTERNACIONAIS


DE CIENTISTAS


3 de Novembro de 1979



Queridos Amigos

1. Tenho especial gosto de me encontrar aqui com os membros do Centro de Ligação das Equipas de Investigações (CLER). No apostolado com os casais — em que tanto insistiu o decreto conciliar Apostolicam Actuositatem (n. 11) — vós desempenhastes as funções de pioneiros, muito antes do Concílio Vaticano II. E actualmente as vossas equipas — em que médicos, psicólogos, conselheiros conjugais e educadores põem em comum as suas competências e as suas convicções de cristãos — têm papel muito apreciável, não só para estudar as questões que se relacionam com a regulação dos nascimentos e a fecundidade dos casais, mas também para estudar concretamente os lares quanto a todos os problemas da sua vida conjugal e familiar, e para contribuir no melhor sentido para a educação sexual dos jovens. Vós tivestes confiança na Igreja e no seu Magistério, certos que trabalhando assim não andáveis enganados. A vossa peregrinação oferece a oportunidade de agradecer ao Senhor, de reflectir sobre a obra realizada a fim de ela prosseguir cada vez com maior ânimo e fidelidade, e de estreitar os vossos laços de união com a Igreja que desejais servir, neste momento em que se prepara o Sínodo dos Bispos sobre o papel da família cristã. Manifesto-vos, juntamente com o agradecimento da Igreja, as minhas felicitações e o meu vivo incitamento.

2. Permiti-me que saúde, ao mesmo tempo que a vós, os membros do Conselho Administrativo da Federação Internacional da Acção Familiar (FIDAP e IFFLP) que vai ter reunião em Roma, com os membros e os conselheiros da nossa Comissão para a Família; essa federação realiza, mesmo junto das grandes Organizações internacionais, um trabalho semelhante, de que o CLER continua a ser parte responsabilizada: o de busca e promoção dos métodos naturais da planificação familiar e da educação para a vida familiar. Alegro-me com a seriedade e a extensão da vossa actividade e da sua convergência com a acção pastoral da Igreja católica nestes campos.


Discursos João Paulo II 1979 - Sábado, 27 de Outubro de 1979