Discursos João Paulo II 1979 - Sexta-feira, 4 de Maio de 1979

Ao mesmo tempo, devemos dedicar o nosso esforço e adoptar os meios para levar os cristãos à unidade. O Concílio apresenta sugestões pormenorizadas. De particular importância é a questão de examinar a nossa própria fidelidade a Cristo: somos continuamente chamados à conversão ou mudança de coração. É útil hoje repetir a recomendação do Concílio: "Esta conversão do coração e esta santidade de vida, juntamente com as orações particulares e públicas pela unidade dos cristãos, devem ser tidas como a alma de todo o movimento ecuménico, e com razão podem ser chamadas ecumenismo espiritual (Unitatis Redintegratio UR 8).

É inevitável e verdadeiramente salutar que, sendo cristãos verdadeiramente empenhados na restauração da unidade, eles sofram com as divisões existentes. Como indiquei no discurso acima mencionado: "Não se cura um mal aplicando analgésicos mas atacando as causas". Devemos continuar a trabalhar humilde e resolutamente para suprimir as divisões existentes e restaurar a unidade plena na fé, que é condição para se participar na Eucaristia. De grande importância é que "em cada celebração eucarística é toda a fé da Igreja que entra em actividade: é a comunhão eclesial em todas as suas dimensões que se manifesta e realiza" (Ibid.). Participar na Eucaristia pressupõe, por conseguinte, unidade na fé. A intercomunhão entre cristãos divididos não é resposta ao apelo de Cristo para a unidade perfeita. Deus marcou uma hora para a realização do desígnio salvífico sobre a unidade dos cristãos. Como nós suspiramos por essa hora, em oração comum e em diálogo, e nos esforçamos por oferecer um coração cada vez mais purificado ao Senhor, devemos também esperar na acção do Senhor. Há-de dizer-se e repetir-se que a restauração da unidade dos cristãos é, acima de tudo, um dom do amor de Deus. Entretanto, baseados no nosso Baptismo comum e no património da fé que nos é comum, devemos intensificar o nosso testemunho comum dado ao evangelho e o nosso serviço comum à humanidade. Neste contexto gostaria de repetir as palavras que proferi durante a minha recente visita a Nassau: "Com profundo respeito e fraternal amor desejo também saudar todos os outros cristãos das Baamas" — e hoje acrescento: de todas as Antilhas — "todos quantos confessam connosco que Jesus Cristo é o Filho de Deus (1Jn 4,15). Estais certos do nosso desejo de colaborar leal e perseverantemente para conseguir, pela graça de Deus, a unidade que deseja Cristo Senhor".

Caros Irmãos no Episcopado, este mistério, da unidade em Cristo e na Sua Igreja, deve ser vivido profundamente pelo Povo de Deus; e a base e centro de todas as comunidades cristãs é a celebração da Eucaristia (Cfr. Presbyterorum Ordinis ). Peço que recordeis aos vossos fiéis o real privilégio que têm de se reunir para a Missa do Domingo, de estar unidos com Cristo na Sua adoração ao Pai. A Missa do Domingo é verdadeiramente de valor primário na vida dos fiéis, não no sentido de que as suas outras actividades careçam de importância e significado na vida cristã, mas antes no sentido de a Missa do Domingo encorajar, enobrecer e santificar tudo o que se vai fazendo durante a semana.

Quando voltardes ao campo dos vossos trabalhos pastorais, peço que certifiqueis todos os sacerdotes uma vez mais do meu afecto e, que façais todos os esforços para viver com eles a unidade da comunhão eclesial e do ministério, em toda a sua intensidade. Os missionários, ainda necessários nas vossas terras, têm especial lugar no meu coração e no coração de Cristo Salvador. Recomendo também os seminaristas aos vossos cuidados pastorais, de maneira que eles aprendam por experiência como é intensamente pessoal o amor que serão chamados a manifestar no nome de Cristo Bom Pastor, que uma a uma conhece pelo nome as suas ovelhas. E a todos quantos convosco colaboram na causa do Evangelho, em particular os catequistas, envio a expressão do meu reconhecimento. O meu especial afecto vai pára as famílias cristãs que se esforçam por dar exemplo da aliança de amor de Deus e da unidade da Igreja de Cristo.

Antes de concluir, faço um apelo aos jovens das vossas Igrejas locais. Na comunhão da Igreja eles constituem sinal da juventude e dinamismo da mesma Igreja; são a esperança do Seu futuro. Façamos tudo o que pudermos pelos jovens de maneira que sejam educados na justiça e na verdade e alimentados pela palavra de Deus. Assim, rejeitando todas as ideologias enganadoras, viverão em verdadeira liberdade como irmãos e irmãs de Jesus Cristo.

A todos quantos vos estão unidos na comunhão da Igreja envio a minha Bênção Apostólica, invocando a intercessão de Maria, Rainha do céu e Mãe de Cristo Ressuscitado.

Não esqueço que, entre vós, vários Bispos são de língua francesa e até de departamentos franceses de além-mar, mas a proximidade e a semelhança dos problemas pastorais levam-vos a viver em solidariedade com os outros Bispos da região das Antilhas. Transmiti aos vossos sacerdotes, aos vossos religiosos e religiosas e aos leigos cristãos das vossas Dioceses o pensamento afectuoso do Papa, com a sua exortação a que formem comunidades bem unidas, que saibam aprofundar e exprimir a sua fé, e se preocupem por viver o Evangelho no íntimo das suas vidas.

E a vós próprios, queridos Irmãos, os meus votos ardentes pelo êxito do vosso ministério e a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SEGUNDO GRUPO DE BISPOS DA ÍNDIA


POR OCASIÃO DA VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 5 de Maio de 1979



Queridos Irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo

Alegro-me recebendo, depois de tão pouco tempo, esta segunda visita de um grupo de Bispos da Índia. Dou -vos hoje as boas-vindas no amor de Cristo, como as dei aos vossos irmãos Bispos na semana passada.

Ao chegardes a Roma para a vossa visita "ad limina", pareceis reflectir os sentimentos expressos por todos os Bispos da Igreja quando se reuniram para o Concilio Vaticano II: "Aqui reunidos... trazemos nos nossos corações as. ansiedades de todos os povos a nós confiados, as suas aflições da alma e do corpo, as suas dores e as suas esperanças" (Cons. Vat. II, Mensagens a todos os homens, 20 de Outubro de 1962). Pela minha parte, abraço em vós todo o amado povo que sois chamados a servir.

É minha sincera esperança que esta visita vos dê renovado vigor, e fortaleza para os vossos trabalhos pastorais, que sintais alegria ao saber, ao compreender profundamente, que todo o vosso zelo apostólico encontra apoio na Igreja universal. E apoiado pelo Papa, como aquele que, no mistério da Igreja, representa o Príncipe dos Pastores (1P 5,4) e se esforça por desempenhar em Seu nome um ministério de serviço universal. Em particular, desejo meu animar-vos, meus Irmãos no Episcopado, e confirmar-vos eficazmente na fé (Cfr. Lc Lc 22,32), não unicamente por palavras ou acções, mas em virtude dum carisma deixado à Igreja pelo seu Fundador, Jesus Cristo, e posto em actividade pelo Espírito Santo. Este é, pois, o sentido do nosso encontro, quando vos congregais na unidade, quando acorreis para celebrar a nossa comunhão eclesial e hierárquica.

Pelo estudo, e agora pelas nossas reuniões pessoais, estou ciente dum número de problemas que atraem a vossa solicitude diária em pró do Evangelho. Estou espiritualmente unido convosco ao encarardes — com ânimo, confiança e perseverança — os vários obstáculos que vos dificultam o ministério e embaraçam o trabalho de evangelização e de serviço humanidade. Com as minhas orações acompanho-vos no vosso trabalho pastoral, abençoando especialmente cada iniciativa tomada para aumentar o número dos colaboradores na causa do Evangelho, e abençoando cada esforço destinado a conseguir que os estudantes para o sacerdócio sejam formados na doutrina autêntica e na santidade da vida. Manifesto o meu profundo interesse pelos vossos programas catequéticos, pela educação que dais à juventude e pelos apostolados que a mesma vai exercendo, pelos esforços tentados para defender a santidade do matrimónio e consolidar a unidade do povo de Deus na fé e no amor, como também para difundir consciência missionária em todos. Desejo estar perto de vós, em fraterno entendimento e participada relação, assim como vós, por vossa parte, procurais estar perto do vosso povo em todas as suas aspirações de bem-estar humano e de plenitude de vida em Cristo. Contai com o meu apoio pelo que se faz nas vossas Igrejas locais — graças ao clero, aos religiosos e aos leigos — para ajudar os necessitados, os pobres e os doentes: para mostrar solidariedade, promover ajuda e difundir o amor do coração de Cristo. Em tudo isto, Irmãos, estou eu convosco no santo nome de Jesus.

Com o andar dos anos e diante dos grandes problemas do mundo moderno, tanto como diante dos imperscrutáveis desígnios da providência de Deus quanto à Igreja, não podemos senão estar cada vez mais convencidos, com o Salmista, do princípio fundamental de que "A nossa protecção está no nome do Senhor" (Ps 123,4). Para nós, como discípulos de Cristo, ministros do Evangelho e guias do povo de Deus, é absolutamente essencial que este princípio se torne atitude integral do espírito e norma de proceder.

A nossa protecção está verdadeiramente no nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta verdade luminosa queridos Irmãos, é de imensa importância e tem directa aplicação em toda a nossa actividade pastoral, uma vez que a nossa actividade é levada a cabo sob o signo do santo nome de Jesus, pelo poder da Sua graça e unicamente para a Sua glória. A mensagem que transmitimos é pregada no Seu nome — no nome de Jesus, Salvador do mundo. A nossa pregação é de salvação n'Ele — salvação no Seu nome. Esta verdade é objecto explícito do ensinamento apostólico, tendo sido pregada pelo Apóstolo Pedro sob a inspiração do Espírito Santo. E hoje o Sucessor de Pedro deseja pregá-la de novo a vós e convosco e para vós, e para o vosso povo: Não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos possa salvar (Ac 4,12).

É no nome de Jesus que todo o nosso ministério é exercido. O arrependimento e a remissão dos pecados são pregados no seu nome a todas as nações (Cfr. Lc Lc 24,47). Nós mesmos fomos lavados, santificados e justificados pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo (Cfr. 1Co 6,11). Por meio da fé temos a vida em Seu nome (Jn 20,31). Além disso, o Espírito Santo em pessoa foi-nos enviado pelo Pai em nome de Jesus (Cfr. Jo Jn 14,26). Numa incessante pregação da mediação universal de Cristo e numa solene e explicita confissão da Sua divindade, a oração de todas as gerações de cristãos é apresentada ao Pai per Dominum nostrum Iesum Christum Filium tuum.Neste nome há protecção para a vida e consolação para a morte, alegria e esperança para o mundo inteiro.

Somos chamados a invocar este nome, a louvar este nome e a pregar este nome aos nossos irmãos. As nossas vidas inteiras e o nosso ministério devem dirigir-se para a glória deste nome. Corresponde esta atitude vontade de Deus; está na mais plena conformidade com o plano do Pai constituir Cristo, cabeça da Igreja. o Primogénito de muitos irmãos (Rm 8,29) e o acabamento de toda a criação. F com profunda convicção e intenso amor que a Igreja se dirige ao Seu Redentor com estas palavras: Tu soles sanctus, tu solus Dominus, tu solus Altissimus, Iesu Christe. A eficiência da nossa missão sobrenatural requer que nós actuemos sempre em nome de Jesus, precisamente para que Ele tenha o primeiro lugar em todas as coisas (Col 1,18).

Deste modo, queridos Irmãos, suportemos os obstáculos, enfrentemos os desafios e aceitemos os bons êxitos; façamos tudo em nome do Senhor Jesus (Col 3,17). E em palavras e actos repitamos:Nonn nobis, Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam (Ps 115,1).



ISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À PEREGRINAÇÃO DA JUVENTUDE SALESIANA


5 de Maio de 1979



Caríssimos jovens

1. Dou as minhas paternas e festivas boas-vindas a vós, queridos rapazes e meninas, que frequentais as obras dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora, aqui reunidos para vos encontrardes com o Papa e ouvi-lo, em representação também de todas as crianças, dos jovens e das jovens que fazem parte das associações religiosas, das escolas, dos centros profissionais, dos grupos culturais, recreativos e sociais, animados e dirigidos pelos Filhos de Don Bosco.

Para todos vós aqui presentes, para todos os vossos amigos e companheiros, para toda a juventude salesiana, que desde há mais de um século prossegue a sua marcha ardente e corajosa pelas veredas do mundo, vai a minha saudação afectuosa, cheia de emoção e de esperanças: vós sois a esperança, a expectativa de um amanhã mais justo, mais digno e mais pacífico. O Papa olha para vós com sentimentos intensos de presságio e bons votos, que, através de vós, se alargam a toda a humanidade. Agradeço-vos esta grandiosa manifestação de afecto e retribuo tão indomável entusiasmo com uma única saudação: viva a juventude salesiana!

Fiéis ao espírito de Don Bosco, grande santo e insigne educador, vós quereis prestar homenagem ao Sucessor de Pedro, confirmando-Lhe a fidelidade do vosso amor e do vosso serviço, por ocasião do XXV aniversário da canonização de Domingos Sávio, rapaz do Oratório de Valdocco, aluno predilecto e fruto precioso da obra formativa do filho de «Mamma Margherita».

Estais empenhados, durante todo este ano, numa larga série de iniciativas, quer nos diversos centros locais quer em escala nacional, para dar novo e vigoroso impulso às associações juvenis de inspiração cristã e para aprofundar o sistema educativo de Don Bosco, aplicando os seus critérios de fundo e princípios-chave, às exigências dos tempos modernos.

Esperais do Papa uma palavra de orientação e de encorajamento para esta renovada acção juvenil na Itália, e eu estou aqui convosco, antes de tudo, para invocar as luzes do Espírito do Senhor sobre esta importante iniciativa, que a Igreja e os seus Pastores têm tanto a peito.

2. A primeira indicação que vos quero oferecer é um convite ao optimismo, à esperança e à confiança. É verdade que a humanidade atravessa um momento difícil e que frequentemente se tem a penosa e triste impressão de que, em tantas manifestações da vida associada, as forças do mal vencem. Muitas vezes a honestidade, a justiça, o respeito da dignidade do homem devem marcar passo, ou saem delas sucumbidas. E no entanto, nós somos chamados a vencer o mundo com a nossa fé (1Jn 5,4) porque pertence-mos Aquele que, com a sua morte e ressurreição, obteve para cada um de nós a vitória sobre o pecado e sobre a morte, e nos tornou, por conseguinte, capazes de uma afirmação humilde e serena, mas segura do bem sobre o mal.

Queridos jovens, somos seus, somos de Cristo, e é Ele quem vence em nós. Devemos crer n'Ele profundamente, devemos viver esta certeza, de contrário as dificuldades que surgem continuamente terão, infelizmente, o poder de fazer penetrar nos nossos ânimos aquele caruncho insidioso que se chama desânimo, mau hábito e adaptação completa à prepotência do mal.

A tentação mais subtil que hoje atormenta os cristãos, e os jovens em especial, é precisamente a da renúncia à esperança na vitoriosa afirmação de Cristo. Quem sugere toda a insídia, o Maligno, desde sempre se empenhou em apagar no coração de cada homem a luz de tal esperança. Não é caminho fácil o da milícia cristã, mas devemos percorrê-lo com a consciência de possuir uma força interior de transformação, que nos é comunicada com a vida divina, que nos foi dada em Cristo Senhor. Em virtude do vosso testemunho, dareis a entender que os valores humanos mais altos se encontram num cristianismo vivido com coerência, e que a fé evangélica não propõe apenas uma visão nova do homem e do universo, mas dá sobretudo a capacidade de realizar tal renovação.

A este propósito, recordo-vos as palavras que os Padres Conciliares, no encerramento do Concílio Ecuménico dirigiram aos jovens: «A Igreja olha para vós com confiança e com amor ... Ela possui aquilo que faz a força e a beleza dos jovens: a capacidade de alegrar-se com aquilo que começa, de dar-se com aquilo que começa, de dar-se com generosidade, de renovar-se e tornar a partir para novas conquistas».

Sem a esperança certa na vitória de Cristo em vós e no mundo que vos circunda, não pode haver optimismo, e sem optimismo não pode subsistir aquela alegria serena que é própria dos jovens.



ISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


SOBRE A PASTORAL DA FAMÍLIA


5 de Maio de 1979



E agora tenho verdadeiro prazer em dirigir uma saudação particular aos participantes no Congresso sobre a Pastoral da Família, que está a decorrer nestes dias aqui em Roma, e especialmente aos queridos Irmãos no Episcopado que nele tomam parte.

Agradeço-vos esta visita, caríssimos, que, se a vós oferece a possibilidade de reatar os vossos vínculos de fidelidade e de comunhão com o Sucessor de Pedro, a mim dá-me a oportunidade de falar brevemente sobre um tema de importância vital para a sociedade e para a Igreja do nosso tempo.

O Congresso destes dias, sobre a Pastoral da Família, refere-se certamente a um aspecto focal da vida e da responsabilidade dos baptizados. A sua actualidade confirma-se duplamente de um ponto de vista quer positivo quer negativo. Por um lado, de facto, vós antecipais, pelo menos parcialmente, o argumento de um qualificado acontecimento eclesial que é o Quinto Sínodo dos Bispos, que tratará precisamente das «funções da família cristã no mundo contemporâneo». Por outro lado, é requerida uma séria reflexão sobre o tema, pela simples constatação, segundo a qual o hodierno clima psicológico, social e ideológico tem frequentemente efeitos notáveis de perturbação no que diz respeito ao matrimónio e à vida familiar.

O meu dever é, portanto, louvar e estimular todas as iniciativas que têm por fim salvaguardar, educar e promover, primeiro a tomada de consciência, e depois a realização prática doscompromissos atinentes às relações mútuas entre as famílias cristãs e a comunidade eclesial. Gosto de vos repetir, porque universalmente válido, o que já disse em Puebla aos Bispos da América Latina: «Empregai todos os esforços para que haja uma pastoral da família. Atendei a um campo tão prioritário, com a certeza de que no futuro a evangelização depende em grande parte da 'Igreja doméstica'». Assim, do mesmo modo, bem se exprime o recente documento da Conferência Episcopal Italiana sobre «Evangelização e sacramento do matrimónio», quando afirma que «a família não deve ser só o termo da acção responsável das diversas estruturas da sociedade civil, mas deve tornar-se colaboradora responsável» (Evangelização e sacramento do matrimónio, n.117). Para que assim suceda, é necessário uma educação eficaz para a maturidade integral, humana e cristã, dos cônjuges, dos filhos e de uns juntamente com os outros.

Num mundo em que parece diminuir a função basilar de muitas instituições, e a qualidade da vida sobretudo urbana se deteriora de modo impressionante, a família pode e deve tornar-se um lugar de serenidade autêntica e de crescimento harmonioso; e isto, não para se isolar em forma de auto-suficiência orgulhosa, mas para oferecer ao mundo um testemunho luminoso de quanto é possível a recuperação e a promoção integral do homem, se esta tem como ponto de partida e de referência a sã vitalidade da célula primária do tecido civil e eclesial.

É necessário, por conseguinte, que a família cristã se transforme cada vez mais numa comunidade de amor, tal que permita superar, na fidelidade e na concórdia, as inevitáveis provas que derivam das preocupações quotidianas; numa comunidade de vida, para dar origem e cultivar alegremente novas e preciosas existências humanas à imagem de Deus; numa comunidade de graça, que faça constantemente de Nosso Senhor Jesus Cristo o próprio centro de gravidade e o próprio ponto de força, de modo que fecunde os compromissos de cada um e adquira sempre novo vigor no caminho de todos os dias.

E para vós, que de modo tão qualificado vos dedicais a problemas tão basilares, vão o meu apreço e o meu encorajamento mais cordiais, com o desejo de que as vossas fadigas sejam verdadeiramente profícuas para se conseguir um influxo real de famílias renovadas em Cristo no novo dinamismo da Igreja e no bem-estar geral da sociedade humana.

Destes votos é penhor sincero a paternal Bênção Apostólica que de todo o coração concedo a todos vós e a todos os que ajudam o vosso precioso trabalho.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS RECRUTAS DA GUARDA SUÍÇA


Segunda-feira, 7 de Maio de 1979



Queridos Guardas Suíços
Queridos Irmãos e Irmãs

Como para os meus venerados predecessores, o juramento solene de novos Guardas representa para mim uma grata oportunidade para um primeiro encontro familiar com eles, com os membros da sua família e com os representantes da Associação dos Ex-Guardas.

Por conseguinte, dirijo calorosas boas vindas a todos, particularmente aos Recrutas que prestaram juramente precisamente ontem, aos seus pais, irmãos e irmãs; e felicito o Comandante e toda a Guarda Suíça nos seus novos membros.

Os anos que vós, queridos jovens amigos, estais ao serviço da Guarda Pontifícia, são anos que ofereceis à Igreja. A aceitação deste serviço é para cada um de vós ao mesmo tempo uma profissão pessoal de fé na Igreja e em Cristo na pessoa e na missão do seu representante visível, o Papa, por cuja protecção e defesa, no decurso da história, houve Guardas que chegaram a dar a própria vida. O dia do vosso juramento, 6 de Maio, é também de homenagem e gratidão à memória deles.

Cristo ensina-nos, como recentemente acentuei na minha Enciclica Redemptor Hominis, "que o melhor uso liberdade é a caridade, que se realiza no dom e no serviço" (Redemptor Hominis RH 21). Q amor e a dedicação deverão caracterizar também o vosso futuro serviço de Guardas. A fidelidade, mediante o juramento, requer em primeiro Lugar consciente desempenho das tarefas e dos deveres que nobremente aceitastes: Em última análise, a vossa promessa de fidelidade é feita ao próprio Cristo que, ao segui-1'O, requer de nós perseverança e que façamos precisamente o que corresponde à nossa vocação.

Que o vosso amor a Cristo e à Igreja possa desenvolver-se plenamente e crescer em profundidade no vosso serviço na Guarda Suíça. A fidelidade nos muitos pequenos deveres quotidianos far-vos-á também capazes de levar a cabo as grandes tarefas pessoais da vida, segundo a vontade de Cristo, com à mesma dedicação e confiança, como cristãos responsáveis e fiéis. Porque, segundo a afirmação de Cristo, Quem é fiel no pouco também é fiel no muito (Lc 16,10). Que Deus vos ajude com a graça iluminadora e confortadora da sua assistência e com a Bênção Apostólica que de bom grado vos concedo, queridos Guardas; como também às pessoas que vos são queridas.

Neste primeiro encontro com os jovens recrutas da Guarda Suíça, agora ligados à pessoa do Papa pelo juramento prestado ontem, desejo acrescentar algumas palavras em francês. Quero dizer-vos, queridos Filhos — e esta expressão "Filhos" demonstra todo o meu afecto — quanto me sinto feliz por poder realmente contar convosco daqui para o futuro. Vós sois encarregados de velar pelo Santo Padre: pois bem, o Santo Padre confia em vós tranquilamente! Agradece-vos por lhe dedicardes alguns anos da vossa vida, e promete aos vossos pais aqui presentes que se ocupará de vós.

Sei que vos é grato contribuir para criar à minha volta, e à volta dos meus colaboradores, uma atmosfera que, mantendo sempre a necessária ordem, torna possível receber os visitantes de modo ao mesmo tempo simples, afável e digno.

Vós sois herdeiros duma grande tradição de fidelidade à Igreja e à Santa Sé. Para os vossos antepassados tratava-se de um ponto de honra. Faço votos por que também assim seja para vós e que vos sintais plenamente felizes e orgulhosos disso. Para cada um de vós e para os vossos familiares, a minha Bênção paternal e os meus votos mais cordiais.



ISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA INAUGURAÇÃO DA MOSTRA


EM HONRA DE PAULO VI


Terça-feira, 8 de Maio de 1979



Caríssimos

Com compreensível emoção, unida porém a vivo prazer, estou aqui, vindo para inaugurar a Exposição dos Autógrafos oferecidos ao Papa Paulo VI por ocasião dos seus 80 anos de idade, que se completaram a 26 de Setembro de 1977. Deveria estar presente Ele na cerimónia de hoje, mas o Senhor chamou-o à glória eterna na festa da Transfiguração do ano passado.

1. O meu primeiro pensamento dirige-se, portanto, à figura do meu Predecessor: grande Papa, contínua e atentamente à escuta das vozes múltiplas e diferenciadas dos homens contemporâneos: vozes de fé, de esperança, de amor, de dedicação e de solidariedade; mas também vozes de dor, angústia, incerteza, dúvida, negociação e ódio. Ele, radicado na contínua meditação da verdade, soube fazer ouvir por tantos anos a sua voz apaixonada, iluminante, orientadora e ao mesmo tempo exortadora, a indicar à Igreja e ao mundo o caminho, às vezes acidentado e difícil em meio das actuais mudanças culturais, políticas e sociais. O seu Pontificado foi verdadeiro dom de Deus, e nós hoje, reverentes, inclinamo-nos ao recordá-lo, vigilantes e preocupados não vamos deixar perder nada do seu iluminado Magistério e do seu alto exemplo.

2. A essa triste lembrança une-se o prazer por esta Exposição, que representa homenagem especialmente significativa a Paulo VI. Assim como, pelos seus 80 anos, Lhe foram oferecidas várias obras de arte, que ilustravam a rica personalidade do apóstolo Paulo, também numerosos e preciosos autógrafos Lhe foram dados, que estão expostos hoje nesta sala, para serem depois definitivamente conservados na Biblioteca Apostólica Vaticana.

Com feliz expressão, ao ser apresentado o elegante e copioso catálogo da Exposição, fala-se de "Testemunhos do Espírito": encontramos, de facto, na presente colecção, Autógrafos de Santas e Santos, de artistas, poetas e literatos, de músicos, filósofos, estudiosos e cientistas, de homens da política e da economia. Estão representados seguidores de tendências diversas e de ideologias opostas. Mas, acima de tudo, nestas folhas manuscritas, legadas ao papel ou com nervosa rapidez ou com pacata serenidade, está presente o homem: o homem que, no momento em que traça um sinal, pretende dialogar ou consigo mesmo, para analisar-se e conhecer-se melhor; ou com os outros, para comunicar e manifestar-lhes os próprios conceitos, os próprios sentimentos; ou com Deus, para o invocar com angústia vibrante ou com humildade submissa. Está presente, nestes manuscritos, o homem na completa e complexa variedade da sua vida, das suas aspirações à verdade, ao bem, à justiça e ao amor. Para este homem, melhor, para estes homens, cujos testemunhos são zelosamente conservados, para serem integralmente transmitidos à posteridade, dirige-se o respeito da Igreja consciente de a Sua missão fundamental estar em "dirigir o olhar do homem, orientar a consciência e a experiência de toda a humanidade, para o mistério de Cristo, ajudar todos os homens a terem familiaridade com a profundidade da Redenção que se realiza em Cristo Jesus" (Cfr. Enc. Redemptor Hominis RH 10).

Aos doadores, aos organizadores e a todos os presentes, a minha afectuosa Bênção Apostólica.



ISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À FEDERAÇÃO NACIONAL


DOS CAVALEIROS DO TRABALHO


Sexta-feira, 11 de Maio de 1979



Ilustres Senhores

Sinto-me honrado e alegre com a vossa presença e agradeço-vos do coração o gesto de amável deferência, que vos levou a desejar este encontro, por ocasião da solene entrega do quinto "Marconi International Fellowship". Ao apresentar as minhas sinceras felicitações ao escolhido desce ano, o Prof. John R. Pierce, do "California Institute of Technology", Pasadena, Califórnia, apraz-me abranger também com satisfação os brilhantes, cientistas que receberam o prémio nos anos passados e quiseram estar presentes nesta Audiência.

Saúdo, em seguida, a Senhora D. Gioia Marconi Braga, Presidente e animadora do Prémio que tem o nome de seu pai, e deste quer manter vivo no mundo os nobres ideais de generosa filantropia. Especial agradecimento devo ainda ao Engenheiro Bruno Valenti, Presidente da Federação Nacional dos Cavaleiros do Trabalho, pelas gentis e apropriadas palavras com que soube interpretar o sentir dos presentes.

A todos quero manifestar o meu apreço e a minha estima. Parece-me digna de nota a circunstância de neste encontro se verem, umas ao lado das outras, pessoas empenhadas na investigação científica de vanguarda, e outras pessoas que se distinguiram pelo contributo oferecido, com a sua industriosidade, à economia nacional. É uma espécie de ligação ideal entre a inteligência e a actividade prática; quem reflectir, pode facilmente reconhecer nela a matriz de todo o progresso humano autêntico. E, de facto, mediante o trabalho de vastos conjuntos humanos, que as intuições geniais, dum só ou duma restrita equipa de investigadores, se traduzem em serviços úteis ao bem-estar comum. Parece-me, pois, que o mote "Ingenium pro bono humanitatis", em que se inspira o Prémio agora mencionado, bem pode ser tomado como máxima inspiradora do empenho de cada um e como critério de valorização da sua "qualidade". Quero dizer que será um empenho meritório e digno, no caso de se mostrar útil para o bem verdadeiro do homem.

E este um aspecto que me importa acentuar. A Igreja, com efeito, segundo recordei na minha Encíclica Redemptor Hominis, "não pode abandonar o homem, cuja 'sorte', ou seja, a escolha, o chamamento, o nascimento e a morte, a salvação ou a perdição, estão de maneira tão íntima e indissolúvel, unidos a Cristo" (Redemptor Hominis RH 14). Ora, o homem hoje está em perigo: ameaça-o o resultado mesmo "do trabalho das suas mãos e, mais ainda, do trabalho da sua inteligência" (Ibid., 15). Nisto está "o drama da existência humana contemporânea". O homem "cada vez vive mais com medo", por que "teme que as suas produções... e precisamente aquelas que encerram uma especial porção da sua genialidade e da sua iniciativa, possam ser voltadas de maneira radical contra si mesmo" (Ibid., 15).

Ora, é evidente que tudo quanto violenta o homem e o atormenta não pode ser julgado útil para o seu verdadeiro bem, nem pode qualificar-se como progresso autêntico, embora constitua um resultado "tecnicamente" excelente. É, por isso, importante que os homens responsáveis tenham a coragem de denunciar uma ciência que se mostre "desonrada pela crueldade das suas aplicações" (P. Valéry). Importante é que eles se empenhem com toda a sua energia em orientar o próprio caminho, e o dos seus semelhantes, para metas de verdadeiro crescimento humano. Progresso autêntico, de facto, é só aquele que vem contribuir para tornar o homem mais maduro espiritualmente, mais consciente da sua dignidade, mais aberto aos outros e mais livre nas suas escolhas: aquele, quero dizer, que tenda a formar um homem que conhece o "porquê" das coisas e não apenas o "como" dessas. Nunca esteve o homem tão rico de coisas, de meios e de técnicas, e nunca tão pobre de indicações sobre o seu destino. Restituir ao homem o conhecimento dos fins, em vista dos quais vive e trabalha, eis o encargo a que estamos todos chamados neste fim de século, que termina o segundo milénio da era cristã. Esse encargo só o poderá satisfazer quem acredita "na prioridade da ética sobre a técnica, no primado da pessoa sobre as coisas, e na superioridade do espírito sobre a matéria" (Ibid., 16).

O voto, por conseguinte, que desejo exprimir nesta circunstancia, em que tenho o prazer de dirigir-me a uma reunião de pessoas tão representativas do mundo da ciência e do trabalho, é este: que o ideal de gastar as próprias energias "pro bono humanitatis" brilhe como estrela polar no espírito de cada um e lhe inspire todas as iniciativas, sustentando-lhe o esforço generoso mesmo nos momentos difíceis: trabalhar pelo homem com amor sincero é honrar e servir a Deus.


Discursos João Paulo II 1979 - Sexta-feira, 4 de Maio de 1979