Discursos João Paulo II 1979 - Sexta-feira, 1 de Junho de 1979

O vosso Congresso compreende, além disso, segundo o seu programa, bom número de visitas ou viagens culturais, através da Itália! Não duvido que vos tenhais reservado também intercâmbios interessantes, frutuosos e reconfortantes para vós, Mulheres, que tendes as pesadas responsabilidades de chefes de empresas nos vossos diferentes países.

Até não há muito tempo, é verdade que os homens tinham quase o monopólio de tais responsabilidades nos campos industrial, económico e social. Vós desejais, justamente, que as mulheres marquem mais a sua presença em tais campos. É modo de utilizar as vossas capacidades reais, e compreendo que tenhais com isso satisfação e desafogo pessoal. É também modo de dar o vosso contributo específico ao serviço da sociedade.. De facto, vós tomais então parte muito activa num mundo centrado no trabalho e na produção, o qual requer uma organização rigorosa: é esta a ocasião de o fazer beneficiar das vossas qualidades femininas que, certamente aliadas à alta qualificação profissional necessária, podem assegurar uma feliz complementariedade aos compromissos dos homens. Digo "complementariedade" porque vós tendes a sensatez de querer trabalhar em colaboração e harmonia com os vossos colegas masculinos, "na mesma direcção".

Os meus votos a este propósito serão simples: sede ao mesmo tempo muito competentes para dirigir as vossas empresas, e multo humanas para favorecer, nos quadros e em todos os empregados, relações justas e Condições de vida o mais humanas possíveis. O vosso sentido das relações interpessoais deverá ajudar-vos nisto.

É também normal que procureis estar representadas junto dos poderes públicos, das organizações particulares, nacionais ou internacionais, e actualmente da Europa, para fazerdes ouvir os ossos problemas e os vossos pontos de vista. Sim, dai o vosso contributo ao clima de paz, de compreensão e de fraternidade de que as nossas sociedades tanto precisam.

A vós pessoalmente, desejo-vos grande coragem, porque, como sublinha o artigo 3 dos estatutos da Associação italiana A.I.D.D.A, tendes necessidade de compreensão e de apoio para levar a bom termo a vossa dupla função de Mulher - não raro de mãe de família - e de directora de empresa: Formulo votos por que desempenheis o melhor possível as vossas responsabilidades profissionais, nestes tempos difíceis para a economia e a conservação do emprego. E formulo também votos pelos vossos lares, pelos vossos filhos, que têm necessidade da vossa presença, do vosso amor, e da vossa solicitude educativa. Porque mãe alguma poderá esquecer esta missão primordial que lhe permite, não só encontrar o próprio desenvolvimento, mas preparar para a sociedade jovens cujo equilíbrio afectivo, intelectual e espiritual tenha sido alimentado num lar unido, feliz e aberto.

Ontem, celebrámos na Igreja católica, a Visitação de Maria. Contemplamos Maria, a futura mãe do Salvador, cheia de animação, de alegria, de vigor, de humildade e também de esperança, em consequência do amor de Deus que teve para com ela a iniciativa do dom que lhe entregou. Pedir-lhe-ei por cada uma de vós, especialmente diante da imagem tão venerada no meu País, em Jasna Gora. E sobre todas vós, sobre aqueles que vos são queridos, sobre os que vos acompanharam aqui, imploro as Bênçãos do Senhor e especialmente, neste tempo de Pentecostes, os dons do Espírito Santo.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE

NO AEROPORTO DE FIUMICINO


ANTES DE PARTIR PARA A POLÓNIA


2 de Junho de 1979



No momento de deixar o amado solo da Itália a fim de me dirigir ao amado solo da Polónia, tenho a viva impressão de que a viagem se desenrola como entre duas pátrias e, quase por um contacto físico, contribuirá para as unir ainda mais no meu coração. Deixo a pátria de eleição, para onde me chamou, para um singular serviço pastoral, a vontade do Senhor, e vou à minha pátria de origem, que deixei apenas há alguns meses: é, pois, um retorno, a que se seguirá brevemente outro retorno , depois de ter percorrido um itinerário que — como já a minha precedente viagem ao México — se inspira numa motivação religiosa e pastoral.

A guiar os meus passos, está, de facto, a celebração do jubileu de Santo Estanislau, bispo e mártir: o seu holocausto pela fé, ocorrido há nove séculos, inscreve-se — não diversamente do precedente e fundamental «Millenium Poloniae» — entre os mais relevantes acontecimentos histórico-religiosos da minha Terra natal, de modo que foi decidido desde há tempo recordá-lo com celebrações apropriadas e solenes. E eu, que já tinha tomado parte na aplicação de um vasto programa de animação espiritual em vista de tal data, não podia faltar a este encontro com a minha gente, e estou ainda mais grato pelo convite do Episcopado Polaco, presidido pelo Primaz, Cardeal Stefan Wyszynski.

Se Deus quiser, irei primeiro a Varsóvia, a gloriosa capital já tão provada e agora ressurgida, operosa e pulsante de vida. Visitarei, depois, Gnienzo, a cidade que para a Nação polaca foi o berço da fé cristã, porque nela foi baptizado o soberano Mieszko em 996, cidade que se distingue pelo culto do Padroeiro São Wojciech; em seguida, o célebre Santuário Mariano de Czestochowa, e ainda Cracóvia, que continuo a chamar, com afecto imutado, a «minha» Cidade: antiga capital da Polónia, foi a sede episcopal do mártir Estanislau, e para mim, ao lado de Wadowice, a cidade da minha juventude e o campo de um apostolado de trinta anos. Em Cracóvia assume relevo o motivo, diria pessoal, da presente viagem, porque ali encontrei a Igreja de que provenho.

Mas há também um motivo internacional, e a este propósito desejo recordar a mensagem tão deferente e gentil que me chegou do Prof. Henryk Jablonski, Presidente do Conselho de Estado da República Popular da Polónia, o qual, também em nome do Governo Polaco, quis manifestar-me a satisfação da Comunidade nacional inteira por este afilho do povo polaco», que foi chamado para guia da Igreja universal, se dispor a visitar a mãe-pátria. É um gesto, este, que, para mim, foi e é ainda motivo de vivo agrado. Por isso, renovo o mais sincero apreço às Autoridades do Estado Polaco, confirmando ao mesmo tempo o que já manifestei na carta de resposta: isto é, a minha dedicação à causa da paz, da coexistência e da cooperação entre as Nações; faço votos por que a minha visita consolide a unidade interna entre os queridos compatriotas e sirva, além disso, para o desenvolvimento ulterior das relações entre o Estado e a Igreja.

É com estes sentimentos e pensamentos que me apresto a partir, levando comigo também o voto do meu Predecessor Paulo VI. Levo comigo a imagem das vossas Pessoas, Autoridades e todos vós, Senhores, que com tanta amabilidade — pelo que vos estou sinceramente grato — viestes apresentar-me uma saudação de bons votos. Levo comigo, sobretudo, o vínculo de afecto que me une à dilecta Itália e aos seus cidadãos.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA

PALAVRAS DE SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE

NA CHEGADA AO AEROPORTO DE OKECIE EM VARSÓVIA


Sábado, 2 de Junho de 1979

: Exmo. Senhor Professor
Presidente do Conselho de Estado
da República Popular Polaca

1. Exprimo sincero reconhecimento pelas palavras de saudação que agora me foram dirigidas , no início da minha permanência na Polónia. Agradeço o que lhe aprouve dizer em referência à Sé Apostólica e também em relação à minha pessoa. Nas suas mãos, Senhor Presidente, deponho a expressão da minha estima pelas Autoridades Estatais e renovo mais uma vez o meu cordial reconhecimento pela benévola atitude em relação à minha visita à POLÓNIA, «Pátria amada de todos os Polacos», à minha Pátria.

Desejo aqui recordar mais uma vez a gentil carta que recebi de Vossa Excelência em Março passado, na qual lhe aprouve, em nome próprio e no do Governo da República Popular Polaca, exprimir satisfação pelo facto de «o filho da Nação polaca chamado à suprema dignidade na Igreja» desejar visitar a Pátria. Recordo com gratidão estas palavras. Ao mesmo tempo é bom repetir o que já manifestei: isto é, que a minha visita foi ditada por motivos estritamente religiosos. Faço ardentes votos por que a presente viagem à Polónia possa servir para a grande causa da aproximação e colaboração entre as nações; que sirva para a compreensão recíproca, para a reconciliação e para a paz no mundo contemporâneo. Desejo, por fim, que o fruto desta visita seja a unidade interna dos meus compatriotas e também novo desenvolvimento das relações entre o Estado e a Igreja na minha amada Pátria.

Eminentíssimo Senhor Cardeal
Primaz da Polónia!

Agradeço-lhe as palavras de saudação que me foram particularmente gratas quer em consideração da Pessoa que as pronunciou, quer porque vêm da Igreja na Polónia, da qual exprimem os sentimentos e os pensamentos.

Desejo que a resposta a estas palavras seja todo o meu serviço, previsto no programa dos dias que a Providência Divina e a vossa cordial benevolência me concedem passar na Polónia.

Caríssimos Irmãos e Irmãs,
Queridos Compatriotas

2. Beijei o solo polaco onde nasci: a terra de onde — por imperscrutável desígnio da Providência — Deus me chamou para a Cátedra de Pedro em Roma; a terra aonde hoje chego como peregrino.

Permiti, pois, que me dirija a Vós, para saudar todos e cada um com a mesma saudação com que em 16 de Outubro do ano passado saudei os presentes na Praça de São Pedro:

Seja louvado Jesus Cristo!

3. Saúdo-vos em nome de Cristo, tal como aprendi a saudar a gente aqui, na Polónia:

– na Polónia, esta minha terra natal, à qual permaneço profundamente radicado com as raízes da minha vida, do meu coração e da minha vocação;

– na Polónia, este país em que – como escreveu o poeta Cipriano Norwid – «se recolhe, por respeito dos dons do céu, cada migalha de pão que cai no chão... onde os primeiros gestos de saudação são como perpétua confissão de Cristo: sê louvado

– na Polónia que, pela sua história milenária, pertence à Europa e à humanidade, pertence à Europa e à humanidade contemporânea;

– na Polónia, que durante o longo curso da sua história se ligou à Igreja de Cristo e à Sé Romana com vínculo particular de união espiritual.

4. Oh, dilectíssimos Irmãos e Irmãs!

Oh, Compatriotas!

Chego até vós como filho desta terra, desta Nação e ao mesmo tempo – por imperscrutáveis desígnios da Providência – como Sucessor de São Pedro na Sé de Roma.

Agradeço não me terdes esquecido, e, desde o dia da minha eleição, não vos cansardes de me ajudar com as vossas orações, manifestando-me, ao mesmo tempo, tanta benevolência humana.

Agradeço-vos terdes-me convidado.

Saúdo em espírito e abraço com o coração cada Homem que vive na terra polaca.

Saúdo, além disso, todos os Hóspedes, aqui vindos do estrangeiro nestes dias, e, de modo particular, os Representantes da Emigração Polaca de todo o mundo.

5. Que sentimentos suscitam no meu coração a melodia e as palavras do hino nacional, que há pouco escutámos com o devido respeito!

Agradeço-vos que este Polaco, hoje vindo «da terra italiana à terra Polaca» (Hino Nacional Polaco) seja recebido, no início da sua peregrinação à Polónia, com esta melodia e estas palavras, em que sempre se exprimiu a incansável vontade da Nação de viver: «enquanto nós vivermos» (Hino Nacional Polaco).

Desejo que a minha estadia na Polónia contribua para reforçar esta incansável vontade dos meus Compatriotas de viver na terra que é nossa comum Mãe e Pátria, e desejo que ela sirva para o bem de todos os Polacos, de todas as famílias polacas, da Nação e do Estado.

Oxalá esta estadia, desejo repeti-lo mais uma vez, seja benéfica para a grande causa da paz, para a convivência amistosa das Nações, e para a justiça social.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA

DISCURSO SANTO PADRE

NA CATEDRAL DE VARSÓVIA


Sábado, 2 de Junho de 1979



Louvado seja Jesus Cristo!

1. No princípio da minha peregrinação através da Polónia, saúdo a Igreja de Varsóvia reunida na sua catedral: saúdo a capital e a arquidiocese.

Saúdo esta Igreja na pessoa do seu Bispo, o Primaz da Polónia.

Santo Inácio de Antioquia já celebrara a unidade que a Igreja encontra no seu Bispo. A doutrina deste grande Padre apostólico e deste grande mártir passou para a Tradição. Teve ressonância vasta e forte na Constituição Lumen gentium do Concílio Vaticano II.

Esta doutrina encontrou magnífica aplicação precisamente aqui: em Varsóvia, na Igreja de Varsóvia. De tal unidade, tornou-se o Cardeal Primaz especial fecho de abóbada. O fecho de abóbada é o que estrutura o arco, o que reflecte a força dos fundamentos do edifício. O Cardeal Primaz manifesta a força do fundamento da Igreja que é Jesus Cristo. É nisto que está a sua força. O Cardeal Primaz ensina, há mais de 30 anos, que esta força, a deve a Maria, Mãe de Cristo. Todos sabemos perfeitamente que, graças a Maria, podemos fazer resplandecer a força deste fundamento que é Cristo, e que nos podemos tornar eficazmente fecho de abóbada da Igreja.

Eis o que nos ensinam a vida e o ministério do Primaz da Polónia.

É ele o fecho de abóbada da Igreja de Varsóvia e o fecho de abóbada de toda a Igreja da Polónia. Nisto está a missão providencial que ele desempenha há mais de 30 anos. Quero o dizer, neste princípio da minha peregrinação, aqui, na capital da Polónia, e desejo uma vez mais, com toda a Igreja e a Nação, agradecer isso à Santíssima Trindade. A Igreja, de facto, em todas as suas dimensões no tempo e no espaço, nas suas dimensões geográficas e históricas, vai buscar a sua unidade à unidade do Pai, do Filho e do Espírito, como também no-lo recordou o Concílio (Lumen gentium LG 4).

2. É pois em nome da Santíssima Trindade que desejo saudar todos os que formam esta Igreja na comunhão com o seu Bispo, o Primaz da Polónia. Os Bispos: o veterano Dom Wenceslaw; Dom Jerzy; Dom Bronislaw, Secretário da Conferência Episcopal Polaca; Dom Ladislaw e Dom Sbigniew; o cabido metropolitano; todo o Clero diocesano e religioso; as Irmãs de todas as Congregações; o Seminário; a Instituição académica eclesiástica, que é a continuação da Faculdade de Teologia da Universidade de Varsóvia.

Desejo também — em união com o Arcebispo da Igreja de Varsóvia — contemplar e abraçar da maneira mais completa toda a comunidade do povo de Deus representado por quase três milhões de leigos.

A Igreja está presente «no mundo» graças aos leigos. Desejo portanto abraçar-vos, a todos vós que formais a Igreja peregrina aqui mesmo, na terra polaca, em Varsóvia, na Masóvia.

Vós, pais e mães de família; vós que viveis sozinhos; vós, pessoas idosas; vós jovens e crianças.

Vós que trabalhais na terra, na indústria, nos escritórios, nas escolas, nos ateneus, nos hospitais, nos institutos culturais, nos ministérios e em qualquer lugar que seja. Homens de todas as profissões que formais com o vosso trabalho a Polónia contemporânea, herança de tantas gerações, herança amada, herança que não é fácil, grande responsabilidade, «grande dever comunitário» para nós Polacos, a Pátria (C. K. Norwid).

Vós todos que sois ao mesmo tempo a Igreja, esta Igreja de Varsóvia. Vós que renovais o direito de cidade milenária desta Igreja na vida presente da capital, da Nação e do Estado.

3. Em união com a Igreja arquidiocesana, saúdo também todos os Bispos sufragâneos do Metropolita de Varsóvia: os Ordinários de Lodz, de Sandomierz, de Lublin, de Siedlce, de Warnia e de Plock, os seus Bispos Auxiliares e as representações das Dioceses.

4. A catedral de Varsóvia, dedicada a São João Baptista, foi quase completamente destruída durante a insurreição. Aquela em que nos encontramos é edifício totalmente novo. É também sinal da vida nova, polaca e católica, que tem o próprio centro na catedral. É sinal daquilo que disse Cristo outrora: Destruí este santuário, e eu em três dias o levantarei (Jn 2,19).

Irmãos e irmãs muito amados

Caros compatriotas

Sabeis que venho aqui, à Polónia, por causa do nono centenário do martírio de Santo Estanislau. É, entre outros, o padroeiro principal da arquidiocese de Varsóvia. Portanto aqui, em Varsóvia, começo eu a venerá-lo, na primeira etapa da minha peregrinação jubilar.

Ele, que foi antigamente Bispo de Cracóvia (durante tantos séculos capital da Polónia), parece que disse ele próprio ao rei Boleslau: «Destrói esta Igreja e Cristo, no decorrer das gerações, a reconstruirá». Disse-o do templo do seu corpo (Jn 2,21).

É sob este signo da construção nova e da vida nova — que é Cristo e vem de Cristo — que hoje vos torno a encontrar, caríssimos, e saúdo-vos como primeiro Papa vindo de origem polaca, dentro do segundo milénio do baptismo e da história da Nação.

Cristo ... já não morre; a morte já não tem domínio sobre Ele (Rm 6,9).



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA

DISCURSO DO SANTO PADRE

DURANTE O ENCONTRO


COM AS AUTORIDADES CIVIS DA POLÓNIA


Varsóvia, 2 de Junho de 1979



Ilustres Senhores
Exmo. Senhor Primeiro-Secretário

1. «Uma Polónia próspera e serena interessa também à tranquilidade e boa colaboração entre os povos da Europa». Permito-me iniciar com estas palavras pronunciadas pelo inesquecível Paulo VI na resposta ao seu discurso, Senhor Primeiro-Secretário, durante o encontro no Vaticano de 1 de Dezembro de 1977 (Cfr. L'Osservatore Romano, 2.12.77). Estou convencido que estas palavras constituem o melhor mote para a minha resposta ao seu discurso de hoje, que todos escutámos com a mais profunda atenção. Todavia, nesta minha resposta, desejo antes de tudo agradecer as palavras tão benévolas referidas à Sé Apostólica e a mim; acrescento ainda um agradecimento às Autoridades Estatais da República Popular Polaca pela sua tão gentil atitude em relação com o convite do Episcopado polaco, o qual exprime a vontade da sociedade católica na nossa pátria; palavras e atitude que por seu lado me abriram também a mim as portas da terra natal. Renovo estes agradecimentos e faço-os extensivos aos vários órgãos das Autoridades Centrais e locais, tendo presente tudo aquilo de que me tornei devedor, pelo seu contributo na preparação e na realização desta visita.

2. Passando pelas ruas de Varsóvia, tão querida ao coração de todos os polacos, não podia resistir à comoção, pensando no grande e doloroso percurso histórico que esta cidade efectuou ao serviço da nossa nação e da sua história. Os anéis especiais deste percurso são o Palácio do «Belveder» e sobretudo o Castelo real que está em construção. Este tem uma eloquência verdadeiramente particular. Nele falam os séculos da história da pátria , desde quando a capital do Estado foi transferida de Cracóvia para Varsóvia. Séculos especialmente difíceis e especialmente responsáveis. Desejo exprimir a minha alegria, ou melhor, desejo agradecer tudo isto e o que o castelo representa. Este — como quase toda a Varsóvia — foi reduzido a escombros durante a insurreição, e agora reconstrói-se rapidamente como símbolo do Estado e da soberania da Pátria.

O facto de a razão de ser do Estado estar na soberania da sociedade, da nação e da pátria, nós Polacos, sentimo-lo de modo profundíssimo. Aprendemo-lo em todo o decurso da nossa história, especialmente através das duras provas históricas dos últimos séculos. Nunca podemos esquecer aquela terrível lição histórica que foi a perda da independência da Polónia desde o fim do século XVIII até ao início do século presente. Esta experiência, dolorosa e, na sua essência, negativa, tornou-se como novo cadinho do patriotismo polaco. A palavra «pátria» tem para nós tal significado, conceitual e ao mesmo tempo afectivo, que as outras Nações da Europa e do mundo parece não conhecerem, especialmente as que não experimentaram danos históricos, injustiças e ameaças como os da nossa Nação. E por isso é que a última Guerra Mundial e a ocupação, vividas pela Polónia, foram para a nossa geração um abalo tão grande, ainda há trinta e cinco anos, quando a guerra acabou em todas as frentes. Nesse momento teve início novo período da história da nossa pátria. Não podemos porém esquecer tudo o que influiu sobre a experiência da guerra e da ocupação, não podemos esquecer o sacrifício da vida de tantos homens e mulheres da Polónia. Não podemos nem sequer esquecer o heroísmo do soldado polaco que combateu em todas as frentes do mundo apara a nossa liberdade e para a vossa».

Nutrimos respeito e estamos reconhecidos a todas as ajudas que então recebemos dos outros, mas com amargura pensamos nas desilusões que não nos foram poupadas.

3. Nos telegramas e nos escritos que os altos Representantes das Autoridades estatais polacas se dignaram enviar-me, quer por ocasião da inauguração do Pontificado, quer do convite presente, voltava o pensamento da paz, da convivência e da aproximação entre as Nações no mundo contemporâneo. Certamente, o desejo expresso nesse pensamento tem profundo sentido ético. Atrás dele está também a história da ciência polaca, começando por Paulo Wlodkiwic. A paz e a aproximação entre os povos só se pode construir sobre o princípio do respeito dos direitos objectivos da nação , tais como: o direito à existência, à liberdade, a ser sujeito sócio-político e à formação da própria cultura e civilização.

Permito-me ainda mais uma vez repetir as palavras de Paulo VI. No inesquecível encontro de 1 de Dezembro de 1977, exprimiu-se nestes termos: «... Não Nos cansaremos de Nos esforçar, ainda e sempre, do melhor modo que as Nossas possibilidades o consintam, para que se evitem ou se resolvam com equidade os conflitos entre as Nações e para que sejam asseguradas e melhoradas as bases indispensáveis à mais justa ordem económica mundial; o abandono equilibrado dos armamentos, cada vez mais ameaçadores, mesmo no sector nuclear, como preparação para um gradual e equilibrado desarmamento; e a melhoria das relações económicas, culturais e humanas entre povos, indivíduos e grupos sociais (Cfr. L'Osservatore Romano, 2.12.77, pág. 2).

Nestas palavras exprime-se a doutrina social da Igreja que sempre dá apoio ao autêntico progresso e ao desenvolvimento pacífico da humanidade; por conseguinte — enquanto todas as formas do colonialismo político, económico ou cultural continuam em contradição com as exigências da ordem internacional — é necessário apreciar todas as alianças e os pactos que se baseiam sobre o respeito recíproco e sobre o reconhecimento do bem de cada nação e de cada Estado no sistema das relações recíprocas. É importante que as nações e os Estados unindo-se entre si para uma colaboração voluntária e conforme com o objectivo em vista, encontrem ao mesmo tempo nesta colaboração o aumento do próprio bem-estar e da própria prosperidade. Precisamente a tal sistema de relações internacionais e tais resoluções entre cada um dos Estados é que a Santa Sé aspira em nome das bases fundamentais da justiça e da paz no mundo contemporâneo.

4. A Igreja deseja servir os homens também na dimensão temporal da sua vida e existência. Dado que esta dimensão se realiza graças a o homem pertencer às diversas comunidades - nacionais e estatais, e por conseguinte, simultaneamente, sociais, políticas, económicas e culturais -, a Igreja descobre de novo a própria missão em relação a estes sectores da vida e da acção do homem. Confirmam-no a doutrina do Concílio Vaticano II e dos últimos Pontífices.

Estabelecendo um contacto religioso com o homem, a Igreja consolida-o nos seus laços sociais naturais. A história da Polónia confirmou de modo eminente que a Igreja na nossa Pátria sempre procurou, por vários caminhos, educar filhos e filhas capazes de bem servir a nação, bons cidadãos e trabalhadores úteis e criativos, nos diversos campos da vida social, profissional e cultural. E isto deriva da missão fundamental da Igreja que, em toda a parte e sempre, ambiciona tornar o homem melhor, mais consciente da sua dignidade, mais entregue na sua vida aos compromissos familiares, sociais, profissionais e patrióticos. A tornar o homem mais confiante, mais corajoso, consciente dos seus direitos e dos seus deveres, socialmente responsável, criativo e útil.

A Igreja, para esta sua actividade não deseja privilégios, mas só e exclusivamente o que é indispensável para realizar a sua missão. E é nesta direcção que está orientada a actividade do Episcopado, dirigido há mais de 30 anos por um Homem de alta envergadura, como o é o Cardeal Stefan Wyszynsk, Primaz da Polónia. Se a Sé Apostólica procura neste campo um acordo com as Autoridades Estatais, está consciente que, além dos motivos relativos à criação das condições para uma actividade integral da Igreja, tal acordo corresponde às razões históricas da Nação, cujos Filhos e Filhas, na grande maioria, são os Filhos e as Filhas da Igreja católica. A luz destas indiscutíveis premissas, consideramos tal acordo como um dos elementos da ordem ética e internacional na Europa e no mundo contemporâneo, ordem que provém do respeito dos direitos das nações e dos direitos do homem. Permito-me, por conseguinte, exprimir a opinião de que não se pode desistir dos esforços e das pesquisas nesta direcção.

5. Permito-me também exprimir a minha alegria por todo o bem de que participam os meus compatriotas, que vivem na nossa Pátria, qualquer que seja a natureza deste bem e qualquer que seja a inspiração donde ele provém. Um pensamento que cria o verdadeiro bem deve trazer consigo um sinal de verdade.

É este bem, com todo o bom êxito futuro, a maior abundância e em cada sector da vida, que desejo para a Polónia. Permiti, Ilustres Senhores, que eu continue a considerar este bem como meu; que sinta a minha participação nele tão profundamente como se vivesse ainda nesta terra e fosse ainda cidadão deste Estado.

E com a mesma, ou talvez ainda maior intensidade, em consequência da distância, continuarei a sentir no meu coração tudo o que poderia ameaçar a Polónia, o que poderia lesá-la ou causar-lhe prejuízo, isto é, tudo o que poderia significar estagnação ou crise.

Permiti que eu continue a sentir, a pensar e a esperar assim, e que reze por isso.

Fala-vos um Filho da mesma Pátria.

Particularmente próximo do meu coração está tudo aquilo em que se exprime a solicitude pelo bem e pela consolidação da família, pela saúde moral da jovem geração.

Ilustres Senhores
Exmo. Senhor Primeiro-Ministro

Desejo renovar, por fim, mais uma vez um cordial agradecimento, e exprimir a minha estima por todas a vossa solicitude, que tenha como objectivo o bem comum dos nossos compatriotas e a devida importância da Polónia na vida internacional. Acrescento uma expressão de consideração por todos vós, distintos Representantes das Autoridades, e por cada um em particular, segundo o cargo que exerce e segundo a dignidade que reveste, como também segundo a importante parte de responsabilidade que pesa sobre cada um perante a história e a vossa consciência.



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA

DISCURSO DO SANTO PADRE

NA CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS EM GNIEZNO


Domingo, 3 de Junho de 1979

: Eminência
Dilectíssimo Primaz da Polónia!

1. Deus recompense as palavras de saudação que me dirigiu aqui, no caminho que leva a Gniezno. Eis os campos, os vastos campos, onde nos encontramos para iniciar a peregrinação. Esta peregrinação deve conduzir-nos a Gniezno e depois de Gniezno através da Jasna Gora, a Cracóvia, o mesmo percurso da história da Nação e paralelamente o dos nossos Santos Padroeiros, Adalberto e Estanislau, unidos na defesa do património cristão desta terra, em torna da Mãe de Deus de Jasna Gora.

Aqui, perante estes vastos campos, saúdo com veneração o berço dos Piastos, origem da história da Pátria e berço da Igreja, na qual os nossos antepassados se uniram, mediante o vínculo da fé, com o Pai, com o Filho, e com o Espírito Santo.

Saúdo este vínculo! Saúdo-o com grande veneração porque remonta aos próprios inícios da história, e depois de mil anos continua a manter-se íntegro. Saúdo também aqui, juntamente com o Ilustríssimo Primaz da Polónia, o Arcebispo Metropolita de Poznan e os Bispos Ordinários de Szcecin-Kamien, Koszalin-Kolobrzeg, Gdansk, Pelpin e Wloclawek, com os Bispos Auxiliares destas Sés. Saúdo o Clero de todas as dioceses pertencentes à comunidade metropolitana da Gniezno dos Primazes. Saúdo as Famílias Religiosas masculinas e femininas. Saúdo todos os que, tão numerosos, se reuniram aqui. Todos juntos somos a estirpe eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo que Deus adquiriu (Ped. 2, 9). Todos juntos formamos também «a estirpe real dos Piastos».

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Meus compatriotas! Desejo que a minha peregrinação através da terra polaca em comunhão com todos vós, se torne uma catequese viva, complemento daquela catequese que inteiras gerações dos nossos antepassados escreveram na história. Seja ela catequese de toda a história da Igreja e da Polónia e ao mesmo tempo a catequese dos nossos tempos.

O dever fundamental da Igreja é a catequese. Sabemo-lo bem, não só pelos trabalhos do último Sínodo dos Bispos, mas também pelas nossas experiências nacionais. Sabemos quanto a acção desenvolvida em vista duma fé cada vez mais consciente, a ser de novo introduzida na vida de cada geração depende do esforço comum dos pais, da família, da paróquia, dos sacerdotes pastores de almas, dos catequistas e das catequistas, do ambiente, dos instrumentos da comunicação social e dos usos tradicionais. De facto, as muralhas, os campanários das igrejas, as cruzes nas encruzilhadas, as imagens santas nas paredes das casas e dos quartos — tudo isto, dalgum modo, catequiza. E desta grande síntese da catequese da vida, do passado e do presente, depende a fé das gerações futuras.

Por isso desejo hoje encontrar-me convosco aqui, no berço dos Piastos, neste berço da Igreja; aqui onde há mais de mil anos se iniciou a catequese em terra polaca.

E saudar daqui todas as comunidades da Igreja em terra polaca, nas quais se aperfeiçoa hoje a catequese. Todos os grupos de catequese nas igrejas, capelas, salões e salinhas...

Desejo saudar daqui toda a Polónia jovem, todas as crianças polacas e toda a juventude reunida nesses grupos, onde se agrupa com perseverança e sistematicamente... Sim, digo a jovem Polónia; e o meu coração dirige-se a todas as crianças polacas, tanto àquelas que neste momento estão aqui presentes, como a todas as que vivem sobre o solo polaco.

Nenhum de nós pode alguma vez esquecer as seguintes palavras de Jesus: Deixai vir a mim as criancinhas, não as impeçais (Lc 18,16). Desejo ser, diante de Vós, caríssimas crianças polacas, um eco vivo destas palavras do nosso Salvador, particularmente neste ano em que se celebra, em todo o mundo, o ano da criança.

Com o pensamento e com o coração, abraço as crianças, ainda no colo dos pais e das mães. Não lhes faltem nunca os braços amorosos dos pais! Sejam pouquíssimos na terra polaca, os órfãos chamados «sociais», de famílias desagregadas ou incapazes de educar os próprios filhos.

Todas as crianças em idade pré-escolar tenham acesso fácil a Cristo. Preparem-se com alegria para acolhê-Lo na Eucaristia. Cresçam em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens (Lc 2,52), como Ele próprio crescia na casa de Nazaré.

E enquanto crescem assim nos anos, enquanto da infância passam à adolescência, nenhum de nós, caríssimos Irmãos e Irmãs, seja alguma vez culpado diante deles daquele escândalo de que fala Jesus de modo tão severo. De vez em quando meditemos nestas palavras. Ajudem-nos elas a prosseguir a grande obra de educação e catequização com maior zelo e maior sentido de responsabilidade.

3. O Cardeal Primaz saudou-me em nome da Polónia sempre fiel. A primeira e fundamental prova desta fidelidade, a sua condição essencial para o futuro, é exactamente esta juventude, estas crianças polacas e, junto a elas, os pais, os pastores de almas, as irmãs, os catequistas e as catequistas, reunidos na obra quotidiana da catequese em toda a terra polaca.

Deus vos abençoe a todos, como, há tantos anos, abençoou os nossos antepassados, os nossos soberanos Mieszko e Boleslau, aqui, ao longo do percurso entre Poznan e Gniezno. Ele vos abençoe a todos!

Recebei este sinal de bênção das mãos do Papa-peregrino que vos visita.



Discursos João Paulo II 1979 - Sexta-feira, 1 de Junho de 1979