Discursos João Paulo II 1979 - Segunda-feira, 9 de Julho de 1979

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA MUNDIAL


SOBRE A AGRICULTURA E O DESENVOLVIMENTO









14 de Julho de 1979



Senhor Presidente
Caros Amigos

A vossa Conferência aborda em Roma um tema de extrema importância para o destino da família humana e de grande interesse para a Igreja que, em virtude da sua missão, se sente obrigada a contribuir de modo desinteressado, e em virtude da própria natureza, para a elevação humana das populações agrícolas e rurais.



Não se pode duvidar que a reforma agrária e o desenvolvimento rural — problemas que vós tratais — assinalarão um passo em frente no caminho que as Organizações internacionais especializadas neste campo — e entre elas, a F.A.O. — sempre percorreram após a sua fundação.

Alegro-me por aproveitar este momento para reafirmar, como o fizeram os meus predecessores, quanto a Sé Apostólica aprecia a acção incisiva e eficaz que as Organizações da família das Nações Unidas cumprem no sector da alimentação, da agricultura e do desenvolvimento rural (Cfr. João XXIII, Encíclica Mater et Magistra , AAS 53, 1961, p. 439).

O vosso encontro oferece-vos a possibilidade de trocar informações sobre um largo campo de experiências donde sairão, muito provavelmente, convergências que convidarão e estimularão fecundas colaborações nos sectores que são objecto do vosso estudo. Eu desejo que estas convergências vos levem a prever soluções concertamente realizáveis que as políticas internas possam adoptar, permitindo obter uma melhor harmonização no plano internacional, no que respeita à originalidade cultural, aos interesses legítimos e à autonomia de cada povo, e em resposta ao direito das populações rurais ao crescimento, tanto na vida individual como colectiva.

É bem certo que o mandamento, dado por Deus de dominar a natureza para servir a vida, implica que a valorização racional e o uso dos recursos naturais sejam utilizados para atingir a finalidade fundamental do homem (Cfr. João Paulo II, Encíclica Redemptor hominis RH 15, par. 3).

E, por isso, em conformidade com o princípio basilar da destinação dos bens da terra em benefício de todos os membros da família humana. Sem dúvida «o desenvolvimento exige transformações audazes, profundamente inovadoras» (Paulo VI, Populorum Progressio PP 32).

Sendo as coisas o que são no interior de cada país, seja prevista uma reforma agrária que implique uma reorganização das propriedades agrícolas e a atribuição do solo produtivo aos camponeses, a fim de que eles tenham rendimento directo e estável, e que sejam eliminadas as formas e as estruturas improdutivas que prejudicam a colectividade.

A Constituição pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II prestou já justiça a tais exigências (Gaudium et Spes GS 71, par. 6) inserindo a procura legítima de uma utilização mais produtiva da terra na preocupação fundamental de que o trabalho dos cultivadores se desenrole em condições, com meios e para objectivos que estejam em harmonia com a sua dignidade de pessoas humanas. As palavras que eu dirigi aos índios de Cuilapan, no México, mantêm todo o seu valor sobre este assunto: «O mundo deprimido do campo — o trabalhador que rega com o seu suor também o seu desconsolo — não pode esperar mais tempo até que se reconheça, plena e eficazmente, a sua dignidade não inferior à de qualquer outro sector social. Tem direito a ser respeitado, a não ser privado — com manobras que às vezes equivalem a verdadeiros despojamentos — do pouco que tem; a que não se lhe tolha a sua aspiração a ser agente do seu próprio elevamento. Tem direito a ver levantadas as barreiras da exploração, constituídas frequentemente por egoísmos intoleráveis, contra os quais se pulverizam os seus melhores esforços de promoção. Tem direito ao auxílio eficaz — que não é esmola nem migalhas de justiça — para que tenha acesso ao desenvolvimento que a sua dignidade de homem e de filho de Deus merece João Paulo II, Discurso aos Índios de Cuilapan, no México: AAS 71, 1979, p. 209).

Sobre todo o direito de propriedade privada, como já o disse, grava uma hipoteca social (João Paulo II, Discurso à III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Puebla, 28 de Janeiro de 1979, n. III, 4). É por isso que, na reforma das estruturas, eu me permitiria convidar-vos a ter atentamente em consideração todas as formas de contratos agrícolas que permitam uma utilização eficaz da terra pelo trabalho e garantam os direitos fundamentais dos trabalhadores.

Refiro-me não só à possibilidade de trabalhar eficazmente a terra, mas também à garantia de um rendimento adequado proveniente do trabalho agrícola.

É urgente realizar o objectivo do direito ao trabalho, com todas as exigências que isso pressupõe para alargar as possibilidades de absorção do enorme número disponível de mão-de-obra agrícola e reduzir o desemprego. Do mesmo modo é preciso promover uma atitude responsável dos trabalhadores no funcionamento das empresas agrícolas, com vista a criar entre outras, e na medida do possível, uma relação particular entre o trabalhador da terra e a terra que ele trabalha.

Por outro lado, o direito ao trabalho da terra deve ser garantido ao mesmo tempo com as melhores e mais vastas condições de vida humana e civil do meio rural. É só assim que se pode favorecer a presença activa sobretudo das gerações jovens na economia do desenvolvimento agrícola e evitar um êxodo excessivo dos campos.

A reforma agrária e o desenvolvimento rural requerem também que sejam previstas reformas para reduzir as distâncias entre a prosperidade dos ricos e a indigência preocupante dos pobres.

E preciso pensar contudo que para superar os desequilíbrios e as disparidades flagrantes das condições de vida entre o sector agrícola e os outros sectores da economia ou entre os grupos sociais no interior de um país, é necessário que os poderes públicos prossigam uma política prudente: uma política que se empenhe numa redistribuição dos rendimentos a favor dos mais necessitados.

Penso que devo reafirmar o que já disse numa outra ocasião, ou seja que uma reforma mais vasta, uma distribuição mais justa e equitativa dos bens deve ser prevista «também no mundo em geral, evitando que os países mais fortes usem do seu poderio em detrimento dos mais débeis (Ibid.)

Que a reforma se estenda portanto necessariamente a uma nova regulamentação das relações entre os países.

Mas para atingir um tal objectivo «tem que se apelar, na vida internacional, para os princípios da ética, para as exigências da justiça ...; tem que se dar a primazia ao moral ... àquilo que deriva da verdade plena sobre o homem».

Trata-se, em definitivo, de restituir à agricultura o lugar que lhe compete no quadro do desenvolvimento de cada país e no plano internacional, modificando para isso, a tendência que, no processo de industrialização, conduzia, ainda recentemente, a privilegiar os sectores secundários e terciários.

Alegramo-nos por constatar que, tendo conta da experiência, aparece hoje evidente ser necessário corrigir a maneira unilateral de industrializar um país e abandonar a esperança utópica de obter dela, infalível e directamente, efeitos de desenvolvimento económico e de progresso social para todos.

A grande importância da agricultura e do mundo rural manifesta-se já pelo contributo decisivo que a agricultura oferece à sociedade pondo à sua disposição os produtos mais necessários à sua alimentação.

Mas por outro lado hoje nota-se cada vez mais a função importante da agricultura como meio de conservar o habitat natural e como fonte preciosa de energia.

O amor pela terra e pelo trabalho dos campos convida-nos, não a nostálgicos regressos ao passado, mas a considerar a agricultura como a base de uma economia sã no conjunto do desenvolvimento e do progresso social de cada país e do mundo.

A colaboração activa dos meios rurais em todos os processos de crescimento da colectividade assume um relevo progressivo.

Evidentemente é sempre preferível e desejável que a participação nas opções económicas, sindicais e políticas se faça de um modo pessoal e responsável.

Isso constitui sem qualquer dúvida, nos diferentes sistemas económicos e políticos, a maturidade progressiva de uma autêntica expressão da liberdade que é um elemento indispensável do verdadeiro progresso.

É preciso constatar também a importância cada vez mais evidente de diferentes formas de associações que podem conduzir as novas maneiras de exprimir a solidariedade entre os trabalhadores da terra e permitir a inserção dos jovens qualificados, e também da mulher, na empresa agrícola e na comunidade social.

Naturalmente importa lembrar sempre que toda a proposta e toda a realização de verdadeiras e eficazes reformas, implicam da parte de todos uma mudança fundamental de mentalidade e de boa vontade: «Nós todos somos solidariamente responsáveis com as populações subalimentadas» reconhecia João XXIII, falando aos dirigentes e funcionários da F.A.O., a 3 de Maio de 1960; também é preciso «despertar as consciências para o sentido da responsabilidade que pesa sobre todos e sobre cada um, especialmente sobre os mais favorecidos» (Cfr. João XXIII, Encíclica Mater et Magistra , AAS 53, 1961, p. 440..

Faço-vos um apelo, responsáveis pelas escolhas e orientações de política interna e internacional.

Faço um apelo a todos os que podem estar em condições de cumprir uma tarefa, como especialistas, funcionários e como promotores de iniciativas, a fim de ajudar o desenvolvimento.

Faço um apelo sobretudo a quem tiver a possibilidade de contribuir para a educação e para a formação, especialmente no que diz respeito aos mais jovens.

Que me seja permitido exprimir a confiança viva que tenho em os ver sentirem-se cada vez mais abrangidos por este apelo à generosidade de cada um. Permiti-me que exprima a minha firme confiança de que mediante este apelo cada um será levado à generosidade para com cada indivíduo.

Terminando, peço a Deus Todo-Poderoso que vos assista, a vós, membros desta Conferência mundial, reunidos em nome da solidariedade humana e do interesse fraterno. Rezo para que os esforços que vós estais realizando em face da história e diante dos desafios urgentes que se elevam desta geração, tragam frutos abundantes para o bem-estar da humanidade, frutos que permaneçam.

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO CHEGAR EM CASTEL GANDOLFO

PARA O PERÍODO DE FÉRIAS


Domingo, 15 de Julho de 1979



Caríssimos irmãos e irmãs!

Estou sinceramente grato a todos por este acolhimento tão espontâneo e alegre, que me faz sentir imediatamente "de casa" nesta vossa cidade, escolhida pelos meus recentes Predecessores como residência para o período de descanso estivo.

Saúdo o Bispo de Albano, D. Caetano Bonicelli, que se aprouve, com gesto de fraterna comunhão, trazer-me o testemunho da sua afectuosa dedicação, e de todos os fiéis da diocese. Saúdo o pároco e toda a comunidade paroquial, da qual durante algum tempo também eu terei a honra e o prazer de me sentir participante.

Em seguida a minha saudação dirige-se à família civil: ao Senhor Presidente da Câmara e a todos aqueles que com ele compartilham os cuidados pela administração citadina; e também aos turistas e aos veraneantes, que se uniram à população local para me apresentarem estas calorosas e amáveis boas vindas.

Renovo a todos a expressão do meu reconhecimento e a todos convido a agradecerem comigo a Deus pelo espectáculo de verde, de flores e de frutos que neste período Ele derrama à nossa volta com magnânima abundância. O tempo das férias oferece a muitas pessoas a oportunidade para um contacto mais directo com a natureza. É importante que cada um de nós se torne observador atento das maravilhas da criação, da sua beleza sempre nova, da sua fecundidade inexaurível, e da sua profundidade sujestiva e misteriosa.

A redescoberta destes valores, de cujo encanto muito frequentemente a vida moderna nos mantém distantes, faz nascer no coração um sentimento de jubiloso agradecimento que facilmente se transforma em oração: Bendiz, ó minha alma, o Senhor! Senhor, meu Deus, vós sois sumamente grande! / Estais revestido de majestade e esplendor, / Envolvido em luz como num manto. / Vós estendestes o céu como um pavilhão, / Fixastes a Vossa morada acima das águas, / Fazeis das nuvens o Vosso carro, / Andais sobre as asas do vento...", com o que prossegue naquele belíssimo Salmo 103.

A todos, exprimo votos por que o período das férias seja uma oportunidade não só de recobro para o corpo, mas também de recuperação para o espírito, e ao invocar sobre vós e sobre os vossos entes queridos os dons copiosos da providente bondade divina, a todos abençoo de coração.



                                                      Agosto de 1979



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À PEREGRINAÇÃO NACIONAL ECUMÉNICA


DOS CAMARÕES


Quarta-feira, 15 de Agosto de 1979



É para mim uma alegria receber-vos hoje, caro Irmão no episcopado, assim como todos os que representam aqui o vosso querido país dos Camarões.

Primeiramente desejo-vos, a todos, boa peregrinação aos túmulos dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, que vieram de bem longe pregar aqui o evangelho; lembram-nos sempre que a Igreja pode implantar-se e desenvolver-se em toda a parte do mundo porque se enraíza no sacrifício do Senhor e no daqueles que desejam segui-lo; levam assim testemunho desta unidade querida pelo Senhor e pela qual ele orou.

Por isso me alegro de que a vossa peregrinação seja ecuménica. A Vossa vontade de conhecer cada vez melhor o Senhor, para melhor O seguir, oxalá vos guie sempre pelo caminho que leva à unidade que Ele deseja para a sua Igreja.

Uno-me, por fim, à vossa oração. As nossas intenções são em tão grande número!

A festa que hoje celebramos solenemente convida-nos a que nos confiemos filialmente à Virgem Maria elevada ao céu, imagem da Igreja que há-de vir. Nela, a nossa esperança encontra-se já realizada; quem nos poderia levar melhor a Cristo do que Aquela que no-lo deu? Por ela, recomendo ao Seu divino Filho o futuro espiritual de cada um dentre vós e das vossas famílias, as vossas paróquias, as vossas comunidades e as vossas dioceses; a vossa pátria e todo o imenso continente africano; sem esquecer, seguindo S. Paulo, o cuidado de todas as Igrejas, do mesmo modo que a paz e a justiça no mundo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS MISSIONÁRIOS DA REALEZA DE CRISTO

Domingo, 19 de Agosto de 1979



Caríssimos Irmãos

Por ocasião do cinquentenário da fundação do Instituto Secular dos Missionários da Realeza de Cristo, iniciativa do inolvidável Padre Agostino Gemelli O. F. M., o vosso saudoso Presidente, Professor Giancarlo Brasca, pediu a Paulo VI uma audiência particular. A Providência quis que vos encontrásseis agora com o Papa; e eu da melhor das vontades vos recebo nesta Audiência, para dar-vos a minha saudação mais cordial e sentida, e manifestar-vos a minha estima e benevolência.

Chamais-vos "Missionários da Realeza de Cristo". Nada mais sublime e nada mais necessário. Levar Cristo ao mundo; viver o Evangelho de Cristo, anunciá-lo à humanidade, sempre sedenta de verdade, e testemunhar a sua força e a novidade no mundo da cultura e dos estudos superiores: eis o vosso ideal e o vosso programa de vida. Senti a felicidade de serdes os Missionários do Rei do Amor e da paz, da justiça e da santidade.

Vós conheceis perfeitamente o boletim clínico da sociedade deste fim do século XX; sabeis fazer a diagnose dos nossos tempos.

No meio das formidáveis conquistas da ciência e da técnica, de que todos usufruímos, há uma situação de mal-estar e de insegurança, que alarma e atemoriza. Grande confusão ideológica envolve os espíritos, que leva a negarem a transcendência ou a limitá-la a um vago misticismo de natureza emotiva. Fala-se logicamente, por conseguinte, duma crise radical de todos os valores e estabelece-se infelizmente um dramático estado de inquietação social, de insegurança pedagógica, de incerteza, de impaciência, de temor, de violência e de nevrose.

No meio de tal situação, também a vós diz Jesus como aos Apóstolos: "Não tenhais medo dos homens" (Mt 10,26 Lc 12 Lc 4); "Estou convosco até ao fim do mundo" (Mt 28,20).

Num mundo aflito, atormentado por tantas dúvidas e tantas angústias, sede vós os missionários da certeza;

— certeza acerca dos valores transcendentais, conseguidos mediante a boa e sã filosofia, que foi chamada com razão "perene", no seguimento do Doutor Angélico São Tomás, embora integrando-a com as prestações do pensamento moderno;

— certeza acerca da pessoa de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, manifestação histórica e definitiva de Deus à humanidade. Dela sua iluminação interior e pela sua redenção;

— certeza acerca da realidade histórica e da missão divina da Igreja, querida expressamente por Cristo para a transmissão da doutrina revelada e dos meios de santificação e de salvação.

Que animadora missão vos espera no vosso trabalho, nas vossas profissões e no contacto quotidiano com os homens, nossos irmãos! Reine Cristo nos vossos corações, nos vossos pensamentos, nas vossas investigações, nas vossas preocupações, nos vossos sentimentos, para, quem quer que vos encontre, poder compreender quanto é belo, grande, digno e alegre ser cristão! E Maria Santíssima, Rainha da Sabedoria, vos acompanhe e inspire, para também vós poderdes exaltar sempre o Senhor, que vos escolheu para serdes missionários da Verdade e do Amor.

São os votos que vos formula de todo o coração ao mesmo tempo que vos concedo a minha bênção.

VISITA PASTORAL À REGIÃO DO VÉNETO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO PRESIDENTE DO CONSELHO


DOS MINISTROS DA ITÁLIA


Canale d'Agordo, 26 de Agosto de 1979



Senhor Presidente

A sua presença aqui, no início da minha peregrinação à terra natal do Papa João Paulo I honra-me; as suas palavras, tão cordiais e sinceras, confortam-me, porque vejo em si, num certo modo, a Itália, oiço a voz da Itália, desta nação dilecta, que depois da morte imprevista do Papa Albino Luciani, se tornou também a minha Pátria, como Bispo de Roma e Primaz da Igreja italiana.

Por isso agradeço-lhe do coração, e ao mesmo tempo a todas as outras Autoridades civis, militares, escolares e religiosas, com os sentimentos vivos e profundos que me ditam o amor que possuo para com o povo italiano e a veneração para com o meu predecessor, que permaneceu tão pouco tempo na Cátedra de Pedro.

A minha peregrinação nesta terra abençoada pretende ser um encontro espiritual com João Paulo I, para sentir ainda mais uma vez a sua influência de serenidade e de paz interior:

— uma homenagem à fé, à cultura, às tradições humanas e cristãs, aos ideais deste povo religioso e trabalhador.

— um convite a seguir os ensinamentos e os exemplos que este grande Pontífice deu, não só à Igreja, mas a toda a humanidade, e sobretudo a sua mensagem de amor.

— Que Ela nos acompanhe hoje nesta visita à sua terra acolhedora e sugestiva; mas que nos acompanhe sobretudo durante toda a vida, Aquele que hoje recordamos de modo particular e que deixou na Igreja e no Mundo uma esteira profunda.

Senhor Presidente!

Enquanto renovo ainda o meu sentido agradecimento, desejo estender a minha saudação paterna e cordial a toda a Itália, concedendo a Bênção Apostólica.



VISITA PASTORAL À REGIÃO DO VÉNETO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA


NO AEROPORTO DE TREVISO


Domingo, 26 de Agosto de 1979



Do coração agradeço ao Senhor Bispo de Treviso as cordiais e nobres palavras, que me trouxeram a saudação de toda a Diocese neste esperado encontro, que vem coroar um dia tão intenso de contactos, conversas, emoções íntimas e visões evocadoras e exaltantes.

No momento em que me apresto a deixar esta orla de terra veneziana, abençoada e querida, constelada de torres e de cumes alpinos, eloquente pelos seus sugestivos convites à contemplação e à prece, não posso esconder a profunda comoção que invade o meu espírito. Foi, de facto, imersão extática e alegre numa natureza encantadora pela sua beleza e numa atmosfera saturada de religiosidade, a qual veio ao meu encontro robustecendo-me, sobretudo pelo contacto directo com estas generosas gentes, espiritualmente ancoradas em sólidas tradições de fé e de prática cristã. Posso assim compreender, ainda mais a fundo, a amplitude e vigor das virtudes sacerdotais que foram característica e definição da personalidade completa do meu imediato Predecessor, cuja terra natal tive o prazer de visitar.

Partindo agora da amada cidade de Treviso, seja-me consentido recordar que esta diocese deu o nascimento ao grande Pontífice São Pio X, alma excelsa de mestre e apóstolo, que, desde os primeiros anos do seu sacerdócio, aqui fez realçar um vivo e infatigável zelo pastoral, que viria a fazer dele, com o tempo, um Papa eminente, defensor da fé, da verdade e da justiça, um homem de Deus, animado sempre por uma interpretação sobrenatural das alternativas do mundo e da história. Precisamente nestes dias celebrámos o 65° aniversário da sua morte, ocorrida a 21 de Agosto de 1914, e este ano ocorre também o 25° ano da sua Canonização.

Deixo Canale d'Ágordo, Belluno e Treviso, com mais uma prova de quanto é imprescindível para o cristão assimilar vitalmente a verdade evangélica, que é capaz de libertar e reforçar no cristão todos os seus recursos de tenacidade e paciência, e sobretudo de confiança no Senhor e na sua vitória. É em tal moldura que bem se compreendem as grandes e recentes figuras de São Pio X e de João Paulo I, filhos desta terra, que, em contingências históricas tão diversas, prestaram ao Evangelho e a Cristo tão convincente testemunho.

Ao despedir-me dos queridos filhos e filhas da diocese de Treviso, aqui dignamente representados pelo seu Pastor e por numeroso grupo de clero e fiéis, ao mesmo tempo que expresso o desgosto de não poder deter-me mais tempo, desejo deixar como recordação algumas palavras de exortação e de ânimo, que o Papa João Paulo I pronunciou na sua primeira Mensagem ao Colégio Cardinalicio, à Igreja e ao Mundo, nos alvores do seu Pontificado. "Exortamos, antes de tudo, os filhos da Igreja a tomarem consciência sempre mais clara da sua responsabilidade: 'Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo' (Mt 5,13 s.). .... Os fiéis devem estar prontos a dar testemunho da própria fé diante do mundo: 'Sempre prontos a responder, para vossa defesa, a todo aquele que vos pergunte a razão da vossa esperança' (1P 3,15). A Igreja, neste esforço comum de responsabilização e de resposta aos problemas lancinantes do momento, é chamada a dar ao mundo aquele 'suplemento de alma' que de tantos lados se invoca coma coisa única que pode assegurar a salvação" (L'Osserv. Rom , Rm 6).

E agora quero elevar um hino de gratidão ao Altíssimo que me permitiu viver horas intensas e inesquecíveis, acompanhadas de manifestações de entusiasmo, cordialidade e profunda devoção para com o humilde Vigário de Cristo.

O meu pensamento dirige-se, uma vez mais, com particular benevolência, para o Presidente do Conselho de Ministros, para todas as Autoridades Civis e Militares, para os Presidentes das Câmaras e para todos os que tomaram parte neste dia tão significativo.

Dirijo uma saudação especialmente calorosa e fraterna ao Cardeal Patriarca de Veneza e aos Prelados da Região Trivéneta, com especial referência ao Bispo de Belluno e Feltre, que juntamente com o seu clero, soube tornar vivos e festivos os encontros com os fiéis desta Diocese.

Desejo, por último, formular um paternal voto que, subindo da profundidade do meu coração, se transfunda em oração ao Senhor: a alegria deste dia, alegria de fé e de comunhão, nunca se apague. mas nos acompanhe como eco sereno que dulcifique os nossos ânimos e seja inspiradora de confortantes certezas nos momentos da prova, convencidos que o Senhor está sempre perto, assim como o pudemos sentir hoje com particular e regozijante intensidade.

Como prova da comoção do meu espírito neste momento, abraço com paternal benevolência todas as pessoas encontradas e todos os que me seguiram com o pensamento e a oração, ao mesmo tempo que, pressagiando todas as desejadas graças celestes, comunico mais uma vez a toda a dilecta Itália e à família humana a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CAMPEONATO


DE ESQUI AQUÁTICO REALIZADO


EM CASTEL GANDOLFO


Sexta-feira, 31 de Agosto de 1979



Caros Senhores e dilectos Irmãos

Ao agradecer-vos sentidamente as cordiais e nobres palavras que agora me foram dirigidas pelo Senhor Presidente da Comissão Olímpica Nacional Italiana, exprimo-vos o meu sincero aprazimento ao receber-vos nesta casa, tão próxima do lugar onde se realizam as vossas competições desportivas. Estou-vos grato por terdes desejado este encontro, que também da minha parte é sumamente apreciado. Por conseguinte, a todos saúdo cordial e indistintamente, qualquer que seja a nação de onde provindes.

O 33° Campeonato da Europa, África e Mediterrâneo de Esqui aquático é óptima e nova ocasião de aproximação e fraternidade entre povos diversos. O Desporto por vós praticado é certamente singular e atraente; mas, para além dos seus aspectos agonísticos e também estéticos, é também sempre, como qualquer outra actividade autenticamente desportiva, um factor de nobilitação humana: quer em sentido individual, uma vez que educa para uma salutar autodisciplina, quer em sentido interpessoal, pois favorece o encontro, o acordo e, afinal, a comunhão recíproca. Quando, além disso, é cultivado a nível internacional, então torna-se elemento propício de superação de múltiplas barreiras, a ponto de levar a descobrir de novo e a consolidar a unidade da família humana. para além de toda a divisão racial, cultural, política, ou religiosa.

Nestes tempos, em que infelizmente várias formas de violência, e por conseguinte de ódio, tendem nefastamente a lacerar o tecido da solidariedade social, vós contribuis, da vossa parte, para dar testemunho luminoso de coesão, de paz e união, numa palavra, de "saberdes estar juntos" onde a necessária competição, longe de constituir motivo de divisão, demonstra ser, pelo contrário, factor positivo de emulação dinâmica, só possível num quadro de mútuas relações aceitas, avaliadas e promovidas.

Precisamente porque as vossas competições não se realizam por simples e superficial divertimento, mas para dardes prova da própria habilidade e de que frutos pode ser fecunda uma longa e rigorosa preparação, o empenho desportivo é escola genuína de autêntica virtude humana, de que o antigo livro bíblico da Sabedoria escreve: Quando está presente, imitam-na; quando ausente, desejam-na; no século vindouro triunfará coroada por ter vencido sem mancha nos combates (Sg 4,2). No Desporto, de facto, vence a virtude; e então todos vencem, parque todos tiram proveito das suas fecundas exigências individuais e comunitárias.

Nesta altura, a minha palavra torna-se voto profundamente cordial, também em vista das próximas competições olímpicas, por um excelente êxito agonístico, de modo que dos vossos encontros atléticos saia vitorioso simplesmente o homem, nos seus mais altos valores de lealdade, de respeito mútuo, de generosidade e de beleza.

E de Deus omnipotente e bendito invoco abundância de graças sobre todos vós, sobre as vossas famílias e sobre as vossas associações.



                                                               Setembro de 1979



VISITA PASTORAL A NETTUNO (ITÁLIA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS ALUNOS DA ESCOLA DE OFICIAIS SUBALTERNOS


DA POLÍCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA


Sábado, 1 de Setembro de 1979



Desejo, antes de mais, exprimir o meu reconhecimento a Vossa Excelência, Senhor Ministro do Interior, pela nobre e cordial saudação com que se dignou acolher-me, também em nome do Governo Italiano, e interpretar os sentimentos do Comandante, do Corpo Docente, dos Superiores e dos Alunos, aos quais dirijo igualmente o meu obrigado pelo amável convite que me foi feito. O facto de ter descido directamente do céu sobre a área desta Escola, desejo considerá-lo um sinal de bênção, que não deixei de implorar do Senhor, abundante e preciosa, durante o breve trajecto aéreo de Castel Gandolfo a Nettuno.

É-me verdadeiramente agradável, queridos Alunos, estar entre vós para um encontro familiar que permita manifestar-vos pessoalmente a minha estima e o meu afecto, e dirigir-vos, ao mesmo tempo, uma palavra de encorajamento a que aprofundeis os ideais que devem sempre iluminar o vosso caminho.

Vendo-vos aqui reunidos à minha frente, ao fixar o olhar nos vossos rostos, o meu primeiro pensamento corre com benevolência para as vossas famílias, e a elas dirijo a minha saudação paternal. Mas sobretudo a vós, exprimo a minha admiração pela escolha que fizestes de um serviço que, como muito bem salientou o Senhor Ministro, não se apresenta fácil, requer em cada momento maturo e vigilante sentido de responsabilidade, e comporta também um risco consciente para as vossas próprias pessoas.

Aprestais-vos a exercer um trabalho, altamente digno de louvor e de estima, como tutores e guardas da ordem pública, chamados a vigiar pelo decurso ordenado da vida civil. A vossa missão revela-se insubstituível, dado tratar-se de garantir o cumprimento da lei, evitar ou reprimir — quando é necessário — as violações da mesma, e sobretudo educar os cidadãos no respeito pela norma comum e, por conseguinte, no amor da "Civitas", isto é, duma convivência ordenada e pacífica. Tarefa elevadíssima, inteiramente destinada a promover aquele respeito convicto pelo direito alheio, que faz de um povo uma nação civil. Tal serviço constitui uma profissão aberta e um testemunho daqueles valores morais e espirituais cuja ausência ou inadequado apreço torna vão e infrutuoso qualquer esforço para subtrair a sociedade às contínuas tentações da desordem, do domínio e da violência.

Para proteger a convivência civil de todas as instigações subversivas e destruidoras é necessário voltar, sem hesitações, a uma clareza de ideais, a uma certeza de valores simbólicos, a uma interpretação do homem e do seu destino, que é a oferecida pelo Evangelho e pela Lei de Deus. Sem uma obra comum de formação do homem, é inútil pensar em poder salvaguardar os coeficientes da verdadeira prosperidade e do autêntico progresso.

Constantemente animados por propósitos de respeito da dignidade da vida humana, de magnânima dedicação ao dever, de tutela imparcial da legalidade: e de corajosa defesa dos direitos do cidadão, particularmente do mais fraco e inerme. vós granjeareis a estima de todas as pessoas de boa vontade — e são quase a totalidade — que aspiram e se dedicam por uma pátria livre, democrática, concordemente propensa à conquista de metas cada vez mais avançadas de convivência honesta e fraterna, de solidariedade e de paz.

Por fim, nas proximidades do Sacrário dos Caídos do Corpo de Segurança Pública, elevo comovido o meu pensamento e a minha fervorosa oração por aqueles que no cumprimento do próprio dever ofereceram a vida em defesa dos cidadãos. Este lugar glorioso e modesto convida eloquentemente a comemorar e exaltar aquele genuíno amor pátrio de que tantas vezes já desabrochou nas vossas fileiras a flor purpúrea do heroísmo, o qual, unido à vontade de assumir um grave e árduo dever em benefício da comunidade, se torna assim exercício e prova de caridade.

Caríssimos Alunos, conforte o Senhor o vosso compromisso com a sua graça. Ao mesmo tempo, em penhor da assistência divina, concedo-vos do coração a Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva às vossas famílias e a todas as pessoas que vos são queridas.




Discursos João Paulo II 1979 - Segunda-feira, 9 de Julho de 1979