Discursos João Paulo II 1979 - Domingo, 30 de Setembro de 1979


VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À IRLANDA

ENCONTRO COM OS SEMINARISTAS EM MAYNOOTH

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


St. Patrik's College

Maynooth, 1 de Outubro de 1979

: Queridos irmãos e filhos em Nosso Senhor Jesus Cristo

Vós ocupais um lugar especial no meu coração e no coração da Igreja. Durante a minha visita a Maynooth desejava estar sozinho convosco, mesmo se apenas poucos instantes.

Há muitas coisas que queria dizer-vos: todas as que afirmei repetidamente sobre a vida dos seminaristas e sobre todos os seminários, ao longo do primeiro ano do meu pontificado.

Em particular, queria falar novamente sobre a palavra de Deus: sobre como vós sois chamados a escutar, a guardar e a pôr em prática a palavra de Deus. E sobre como deveis basear toda a vossa vida e o vosso ministério sobre a palavra de Deus, tal como é transmitida pela Igreja, como é proclamada pelo Magistério, tal como foi interpretada durante toda a história da Igreja graças à inspiração fiel do Espírito Santo: sempre e em toda a parte e por todos. A palavra de Deus é o grande tesouro das vossas vidas. Graças à palavra de Deus alcançareis um conhecimento profundo do mistério de Jesus Cristo, filho de Deus e filho de Maria: Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote do Novo Testamento e o Redentor do mundo.

O mundo de Deus deve mobilizar todos os vossos esforços. Compreendê-lo na sua pureza e integridade, e dar nele testemunho pela palavra e pelo exemplo, é grande missão.

E esta é a vossa missão, hoje e amanhã e para o resto da vossa vida. Enquanto seguis a vossa vocação — vocação tão intimamente ligada à palavra de Deus — desejo repropor-vos uma simples mas significativa lição, tirada da vida de São Patrício; e é esta: na história da evangelização, o destino de um povo inteiro, o vosso povo, foi radicalmente influenciado, naquele tempo e no tempo posterior, pela fidelidade com que São Patrício compreendeu e proclamou a palavra de Deus, e pela fidelidade com que São Patrício seguiu o chamamento dela até ao fim.

O que verdadeiramente desejo que compreendais é o seguinte: que Deus conta convosco; e os Seus planos, em certo sentido, dependem da vossa livre colaboração, da oferta das vossas vidas, e da generosidade com que seguis a inspiração do Espírito Santo no íntimo dos vossos corações.

A fé católica da Irlanda está ligada hoje, no plano de Deus, à fidelidade de São Patrício. E amanhã, sim, amanhã, uma parte do plano de Deus estará ligado à vossa fidelidade, ao fervor com que digais sim à palavra de Deus nas vossas vidas.

Hoje Jesus Cristo faz-vos um apelo através da minha pessoa, o apelo à fidelidade. Na oração descobrireis cada vez mais, em cada dia que passa, o que eu quero dizer e quais são as implicações deste apelo. Com a graça de Deus compreendereis cada vez mais, em cada dia que passa, quanto Deus deseja e aceita a vossa fidelidade como condição para a eficácia sobrenatural de todo o vosso ministério. A expressão suprema de fidelidade será a vossa entrega irrevogável e total, em união com Jesus Cristo e com o Pai. E oxalá a nossa Santa Mãe Maria vos ajude a tornar aceite este dom.

Lembrai-vos de São Patrício. Lembrai-vos de quanto significou a fidelidade de um único homem para a Irlanda e para o mundo. Sim, queridos irmãos e filhos, é a fidelidade a Cristo e ao que Ele trouxe o que determina as diferenças no mundo. Por isso, voltemos o nosso olhar para Jesus, que é em todos os tempos a testemunha fiel do Pai.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À IRLANDA

ENCONTRO COM OS SACERDOTES, OS RELIGIOSOS,

AS RELIGIOSAS E OS MISSIONÁRIOS


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


St. Patrik's College

Maynooth, 1 de Outubro de 1979



Meus queridos irmãos e irmãs em Cristo

1. O nome de Maynooth é muito estimado em todo o mundo católico. Recorda-nos quanto há de mais nobre no sacerdócio católico na Irlanda. Para aqui vêm seminaristas de todas as dioceses irlandesas, filhos de famílias católicas que eram elas próprias verdadeiros "seminários", verdadeiros viveiros de vocações sacerdotais e religiosas. E daqui partiram sacerdotes para todas as dioceses irlandesas e para as dioceses da diáspora. Maynooth, neste século, deu vida a duas novas sociedades missionárias, uma orientada inicialmente para a China, e a outra para a Africa; e enviou centenas de alunos seus, como voluntários para aquelas missões. Maynooth é escola de santidade sacerdotal, academia de ensino teológico, universidade de inspiração católica. O Colégio de São Patrício é um lugar de cometimentos importantes, que promete um futuro justo e grande.

Por isso Maynooth é exactamente o lugar apropriado para encontrar os sacerdotes, diocesanos e religiosos, os irmãos religiosos, as irmãs religiosas, os missionários e os seminaristas, e para lhes falar. Tendo vivido por algum tempo, quando me preparava para o sacerdócio em Paris, numa atmosfera de seminário irlandês — o Colège Irlandais de Paris, actualmente emprestado pelos Bispos irlandeses à Hierarquia da Polónia experimento agora uma alegria profunda ao encontrar-me convosco aqui, no Seminário Nacional da Irlanda.

2. As minhas primeiras palavras são para os sacerdotes, diocesanos e religiosos. Digo-vos o que São Paulo disse a Timóteo. Peço-vos que reanimeis o dom de Deus que está em vós pela imposição das... mãos (do Bispo) (2Tm 1,6). O próprio Jesus Cristo, único Sumo Sacerdote, disse: Eu vim trazer o fogo à terra; e como queria que já estivesse aceso! (Lc 12,49). Vós participais no seu sacerdócio; vós continuais a sua obra no mundo. A sua obra não pode ser realizada por sacerdotes indiferentes ou apáticos. O seu fogo de amor pelo Pai e pelos homens deve arder em vós. O seu desejo de salvar a humanidade deve consumir-vos.

Vós sois chamados por Cristo como o foram os Apóstolos. Como eles, estais destinados a estar com Cristo. Como eles, sois enviados para ir em seu nome e com a sua autoridade, fazer discípulos em todas as Nações (Cfr. Mt Mt 10,1 Mt 28,19 Mc 3,13-16).

O vosso primeiro dever é estar com Cristo. Cada um de vós é chamado a ser uma testemunha da sua. Ressurreição (Ac 1,22). Um perigo constante para os sacerdotes, mesmo para os zelosos, é o de se entregarem de tal modo ao trabalho do Senhor, que esquecem o Senhor do trabalho.

Devemos encontrar o tempo, devemos criar o tempo para nos encontrarmos com o Senhor na oração. Seguindo o exemplo do próprio Senhor Jesus, devemos retirar-nos para lugares solitários para rezar (Lc 5,16). Apenas se dedicarmos tempo ao Senhor, será também a nossa missão para o meio dos outros um levá-1'O a Ele aos outros.

3. Estar com o Senhor é também sempre ser enviados por Ele para realizar a sua obra. Um sacerdote é chamado por Cristo; um sacerdote está com Cristo; um sacerdote é enviado por Cristo. Um sacerdote é enviado com a força do mesmo Espírito Santo que guiou incansavelmente Jesus ao longo dos caminhos da vida, dos caminhos da história. Sejam quais forem as dificuldades, as desilusões e os contratempos, nós sacerdotes encontramos, em Cristo e no poder do seu Espírito, a força de nos afadigarmos e lutar, com a força que vem d'Ele e que age em mim com poder (Col 1,29).

Como sacerdotes, vós sois escolhidos para serdes pastores de um povo fiel, que prossegue respondendo generosamente ao vosso ministério e constitui um amparo válido à vossa própria vocação sacerdotal, mediante a fé e a oração. Se vós procurardes ser o tipo de sacerdotes, que o vosso povo espera e deseja que sejais, então sereis sacerdotes santos. O nível da prática religiosa na Irlanda é elevado. Por isso, devemos agradecer sempre ao Senhor. Mas tal nível manter-se-á sempre alto? Os jovens e as jovens das novas gerações serão ainda fiéis, como o foram os seus pais? Depois de ter passado dois dias na Irlanda, depois de me ter encontrado com a juventude irlandesa em Galway, tenho confiança de que será assim. Mas isto exigirá da vossa parte um trabalho incessante e uma oração incansável. Deveis trabalhar para o Senhor de maneira reforçada.

Deveis trabalhar na convicção de que esta geração, este decénio dos anos 80 no qual estamos para entrar, poderá ser crucial e decisivo para o futuro da fé na Irlanda. Que não haja qualquer complacência. Como disse São Paulo: vigiai, permanecei firmes na fé, comportai-vos como homens, sede fortes (1Co 16,13). Trabalhai com confiança, trabalhai com alegria. Nós somos testemunhas da Ressurreição de Cristo.

4. O que o povo espera de vós, mais do que de qualquer outro, é a fidelidade ao sacerdócio. É um modo para fazer conhecer às pessoas a fidelidade de Deus. Ela torna-as fortes em serem fiéis a Cristo através de todas as dificuldades da sua vida, das dificuldades dos seus casamentos. Num mundo tão marcado pela instabilidade, como o de hoje em dia, temos necessidade de mais sinais e de mais testemunhas da fidelidade de Deus a nosso respeito e da fidelidade que Lhe devemos a Ele. Há uma coisa que dá grande pena na Igreja, uma angústia, muitas vezes silenciosa mas grande, no povo de Deus: quando os sacerdotes faltam à fidelidade do seu compromisso sacerdotal. Este anti-sinal, este antitestemunho estiveram entre os motivos do refluxo das grandes esperanças de vida nova, que jorraram na Igreja a partir do Concilio Ecuménico Vaticano II. Pelo contrário, este guiou as sacerdotes e a Igreja inteira. Uma oração mais intensa e frequente; porque nos foi ensinado que sem Cristo não podemos fazer nada (Cfr. Jo Jn 15,5).

E a fidelidade da imensa maioria dos sacerdotes demonstrou, com clareza ainda maior e com testemunho, ainda mais manifesto, a fidelidade da Igreja a Deus e a Cristo, a testemunha fiel (Cfr. Apoc Ap 1,5).

5. Num centro de estudos teológicos, que um seminário como o de Maynooth também é, este testemunho de fidelidade tem maior importância e valor especial, em relação aos candidatos ao sacerdócio, para os convencer da grandeza e da força representada pela fidelidade sacerdotal.

Aqui em Maynooth a aprendizagem teológica, sendo parte da formação para o sacerdócio, está longe de se apresentar como uma investigação académica puramente intelectual. Aqui a frequência dos cursos teológicos está ligada com a liturgia, a oração, a construção de uma comunidade de fé e amor, e portanto com a edificação do sacerdócio irlandês e consequentemente com a edificação da Igreja.

O meu convite de hoje é um convite a que se reze. Só com a oração poderemos cumprir os deveres do nosso ministério e responder às exigências de amanhã. Todos os nossos apelos à paz e à reconciliação só terão eficácia a partir da oração.

Este estudo da teologia, aqui e em toda a parte na Igreja, é reflexão sobre a fé, reflexão na fé. Uma teologia que não aprofunde a fé e não conduza à oração pode ser uma série de palavras sobre Deus; mas nunca poderá ser uma verdadeira penetração em Deus, no Deus vivo, no Deus que é, cujo ser é o amor. Disto resulta que a teologia só pode ser autêntica na Igreja, que é comunidade de fé. Só quando o ensino dos teólogos é conforme ao ensino dos Bispos unidos com o Papa, o Povo de Deus pode saber com certeza que este ensino é a fé que uma vez, para todos e para sempre, foi confiada aos santos (Jud 3).

Isto não é uma limitação para os teólogos, mas uma libertação, porque os preserva das modas variáveis, e os mantém ligados com segurança à imutável verdade de Cristo, a verdade que nos torna livres (Jn 7,32).

6. Em Maynooth, na Irlanda, falar de sacerdócio é falar de missão. A Irlanda nunca esqueceu que "a Igreja peregrina é missionária pela sua própria natureza; porque é da missão do Filho e da missão do Espírito Santo que ela recebe origem, segundo o decreto de Deus Pai" (Ad Gentes AGD 2).

Nos séculos IX e X os monges irlandeses reacenderam a luz da fé em regiões onde a sua chama se tinha abaixado ou extinguido, a seguir à queda do Império Romano, e evangelizaram novas Nações ainda não evangelizadas, inclusivamente a área da minha Polónia natal. Como poderei esquecer que houve um mosteiro irlandês, inclusivamente em Kiev, já no século XIII; e que existiu até um colégio irlandês, por um breve período, na minha própria cidade de Cracóvia durante a perseguição de Cromwell. Nos séculos XVIII e XIX, sacerdotes irlandeses seguiram os seus emigrantes por todo o mundo de língua inglesa. No século XX, novos institutos missionários masculinos e femininos floresceram na Irlanda e, juntamente com as secções irlandesas de institutos missionários internacionais e com as congregações religiosas irlandesas já existentes, deram novo ímpeto missionário à Igreja.

Nunca falte o espírito missionário nos corações dos sacerdotes irlandeses, sejam membros de institutos missionários ou do clero diocesano, ou de congregações religiosas dedicadas a outros apostolados. Seja activamente estimulado este espírito por todos vós entre os leigos, já tão devotos nas suas orações, já tão generosos no seu apoio às missões. Cresça o espírito de ajuda mútua entre as dioceses e as congregações religiosas, na missão total da Igreja, até que todas as Igrejas diocesanas locais e todas as congregações e comunidades religiosas sejam vistas como missionárias por sua própria natureza, vindo a encontrar-se no autêntico movimento missionário da Igreja universal. Soube com muito prazer que a União Missionária Irlandesa pretende dar vida a um centro missionário nacional com a dupla finalidade de uma renovação missionária por obra dos próprios missionários, e de um impulso à consciência missionária entre o clero, os religiosos e os fiéis da Igreja Irlandesa. Seja este trabalho abençoado por Deus. E contribua para uma grande e nova expansão de fervor missionário, para uma nova onda de vocações missionárias no território desta grande pátria da fé, que é a Irlanda.

7. Quero dizer uma palavra especial aos irmãos religiosos. O último decénio trouxe grandes mudanças e com elas problemas e dificuldades sem precedentes, pelo que diz respeito à vossa experiência anterior. Peço-vos que não percais a coragem. Sede homens de grande fé, de grande e indefectível esperança. O Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé, para que abundeis na esperança pela virtude do Espírito Santo (Rm 15,13).

O último decénio renovou também grandemente a consciência da vossa santa vocação, aprofundou muitíssimo a vossa vida litúrgica e a vossa oração, e alargou notavelmente o âmbito da vossa influência apostólica: peço ao Senhor que vos abençoe com uma fidelidade renovada à vocação, por todos os vossos méritos, e que faça crescer as vocações dos vossos novos institutos. A Igreja na Irlanda e nas missões deve muito a todos os Institutos de Irmãos leigos. A vossa vocação à santidade é ornamento precioso da Igreja. Acreditai na vossa vocação. Sede fiéis. Aquele que vos chama é fiel, fará tudo isto (1Th 5,23).

8. Também as irmãs conheceram anos de busca e por vezes de perturbação e de inquietação. Foram também anos de purificação. Eu creio que agora se poderá entrar num período de consolidação e de construção.

Muitas de vós estão empenhadas no apostolado da educação e no serviço pastoral da juventude. Não tenhais dúvidas sobre a continuação da importância deste apostolado, particularmente na Irlanda moderna, em que a juventude constitui parte tão numerosa e importante da população. A Igreja tem recordado repetidamente às religiosas, em documentos solenes e recentes, a importância primária da educação, e tem convidado as congregações masculinas e femininas, dotadas de tradição e de carisma educacional, a perseverarem e a redobrarem o seu empenho nesta vocação. Isto mesmo é verdade para o apostolado tradicional do serviço dos doentes, dos recém-nascidos, das pessoas idosas, dos diminuídos e dos pobres. Estes não devem ser postos à parte enquanto se especificam novas formas de apostolado. Como diz o Evangelho, vós deveis tirar do vosso tesouro coisas velhas e coisas novas (Cfr. Mt Mt 13,52).

Deveis ser corajosas nos vossos empreendimentos apostólicos, não permitindo que as dificuldades, a diminuição do pessoal ou a incerteza do futuro possam abater-vos ou deprimir-vos.

Mas recordai-vos sempre que o primeiro campo do vosso apostolado é a vossa vida pessoal. É aqui que a mensagem do Evangelho deve ser pregada e vivida antes de tudo. O vosso primeiro dever apostólico é a vossa própria santificação. Nenhuma mudança na vida religiosa tem qualquer importância, se não for também conversão de vós mesmas a Cristo. Nenhum movimento da vida religiosa tem qualquer valor, se não for simultaneamente movimento para dentro, para o "centro" profundo da vossa existência, onde Cristo tem a sua morada. Não é aquilo que fazeis que tem maior importância, mas sim aquilo que sois, como mulheres consagradas ao Senhor. Por vós Cristo consagrou-se a si mesmo, para que também vós possais ser consagradas na verdade (Cfr. Jo Jn 17,19).

9. A vós e aos sacerdotes, diocesanos e religiosos, eu digo: tende alegria em ser testemunhas de Cristo no mundo moderno. Não hesiteis em tornar-vos reconhecíveis e indentificáveis nas ruas, como homens e mulheres que entregaram a sua vida a Deus, que deitaram às urtigas tudo o que é do mundo, para servir Cristo. Acreditai no valor dos homens e das mulheres do nosso tempo, dos sinais visíveis da consagração das vossas vidas. As pessoas têm necessidade de sinais e de apelos para Deus, nesta cidade secular moderna, onde ficaram bem poucos sinais que remetem para o Senhor. Não deis a vossa ajuda a esta "expulsão de Deus dos caminhos do mundo", adoptando modas seculares de vestes e de comportamentos.

10. A minha bênção especial e as minhas saudações aos monges e monjas dos claustros e da contemplação. Digo-vos o meu obrigado por quanto tendes feito por mim com a vossa vida de oração e sacrifício, desde o início do meu ministério pontifício. Afirmo que o Papa e a Igreja têm necessidade de vós. Estais sobretudo naquela "grande, .intensa e crescente oração", para a qual fiz apelo na Redemptor Hominis.

A vocação contemplativa nunca foi mais preciosa e importante do que no nosso mundo moderno e sem paz. Oxalá haja na Irlanda muitos jovens, de ambos os sexos, chamados à vida contemplativa neste tempo, em que o futuro da Igreja e da humanidade depende da vossa oração.

Com alegria repito a todos os contemplativos nesta festa de Santa Teresa de Lisieux, as palavras que dirigi às religiosas de Roma: "Confio-vos a Igreja; confio-vos o género humano e o mundo. A vós, às vossas orações, ao vosso holocausto recomendo-me também a mim, Bispo de Roma. Estai comigo, perto de mim, vós que estais no coração da Igreja! Cresça em cada uma de vós o que foi o programa de vida de Santa Teresa do Menino Jesus 'in conde Ecclesiae amor ero' — no coração da Igreja eu serei o amor".

A maior parte do que acabo de dizer refere-se também aos seminaristas. Vós preparais-vos para o dom total de vós mesmos a Cristo e ao serviço do seu Reino. Vós ofereceis a Cristo o dom do vosso entusiasmo e vitalidade juvenil. Em vós Cristo é eternamente jovem e através de vós rejuvenesce Ele a Igreja. Não o desiludais.

Não desiludais o povo que espera que vós lhe leveis Cristo. Não desqualifiqueis a vossa geração de jovens, homens e mulheres da Irlanda. Levai Cristo aos jovens da vossa geração como a única resposta às suas expectativas. Cristo olha para vós e ama-vos. Não façais como o jovem do Evangelho, que se foi embora triste porque possuía muitos bens (Mt 19,22). Pelo contrário, oferecei todos os vossos tesouros de inteligência, de coração e de energia a Cristo, a fim de que se sirva deles para atrair todos os homens a si (Cfr. Jo Jn 12,32).

A todos vós eu digo: este é um tempo maravilhoso para a história da Igreja. É tempo maravilhoso para se ser sacerdote, se ser religioso, se ser missionário de Cristo. Alegrai-vos sempre no Senhor. Alegrai-vos na vossa vocação. Repito-vos as palavras do Apóstolo Paulo: Alegrai-vos sempre no Senhor; repito, alegrai-vos. Não vos angustieis por nenhum motivo, mas em todas as necessidades apresentai os vossos pedidos a Deus, com orações, súplicas e acções de graças, e a paz de Deus, que ultrapassa toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus (Ph 4,4-7).

Maria, Mãe de Cristo, sacerdote eterno, mãe dos sacerdotes e dos religiosos, vos conserve afastados de todas as preocupações, enquanto "aguardais em alegre esperança a vinda do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". Confiai-vos a Ela, como eu vos recomendo a Ela, a Maria, Mãe de Jesus e Mãe da sua Igreja.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À IRLANDA

CERIMÓNIA DE DESPEDIDA DO POVO IRLANDÊS

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Aeroporto de Shannon, 1 de Outubro de 1979



Queridos Irmãos e Irmãs

Chegou para mim o momento de deixar a Irlanda, a fim de continuar a minha missão pastoral, a minha viagem apostólica.

Vim para proclamar a paz e o amor, para vos falar do Filho de Deus feito homem e da vossa vida em Cristo. Sim, como sucessor do Apóstolo Pedro vim para confirmar a minha fraternidade na fé e para pedir a toda a Irlanda que levante o seu coração para uma nova visão de esperança, com as palavras de São Paulo: a Jesus Cristo nossa esperança (1Tm 1,1).

Comecei a minha peregrinação sob a protecção da Bem-aventurada Virgem Maria e na festa dos Arcanjos. Deixo-vos agora na festa de Santa Teresa do Menino Jesus, exemplo esplêndido da simplicidade alegre e prova da eficácia extraordinária do amor cristão generoso.

Estou profundamente grato pela gentileza que as autoridades civis e religiosas deste país tiveram para comigo. Agradeço àqueles que trabalharam duramente e com grande paixão aqui na Irlanda, para organizar esta visita nos seus mínimos pormenores. Agradeço a todos os irlandeses o acolhimento caloroso e afectuoso, com que manifestaram o seu sentido de humanidade e a sua fé viva.

Com o Apóstolo Paulo, suplico-vos que sempre vos comporteis de maneira digna da vocação que recebestes... procurando conservar a unidade do Espírito por meio do vínculo da paz (Ep 4,1-3).

Em nome do Senhor recomendo-vos a conservação do grande tesouro da vossa fidelidade a Jesus Cristo e à Sua Igreja. Como a primeira comunidade cristã, descrita nos Actos dos Apóstolos, a Irlanda é chamada a ser assídua no ouvir o ensino dos Apóstolos e na união fraterna, na fracção do pão e na oração (Ac 2,42).

Irlanda: semper fidelis, sempre fiel! Irlanda: sempre fiel!



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS NO AEROPORTO DE BOSTON

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Segunda-feira, 1 de Outubro de 1979



Seja louvado Jesus Cristo

É grande alegria para mim estar nos Estados Unidos da América, a fim de começar a minha visita pastoral à Igreja Católica desta terra, e ao mesmo tempo saudar todo o povo americano de qualquer raça, cor ou fé religiosa.

Sinto-me reconhecido pelas cordiais boas-vindas expressas em nome do Presidente Carter, a quem quero agradecer muito sinceramente ter-me convidado a vir aos Estados Unidos. Espero com agrado poder encontrar o Presidente depois da minha visita às Nações Unidas.

O meu obrigado vai também ao Cardeal Arcebispo de Boston que é o primeiro que, nesta cidade, me oferece a hospitalidade do vosso país. Sinto-me grato à Conferência Episcopal e a todos os Bispos que tão amavelmente me convidaram a vir. A minha única pena é não poder aceitar todos os convites que me foram feitos por religiosos, autoridades civis, indivíduos, famílias e grupos.

De tantas partes — Católicos, Protestantes e Hebreus — abre a América para mim o seu coração. Pela minha parte, venho a ti com sentimentos de amizade, reverência e estima. Venho como alguém que já te conhece e ama, como alguém que deseja que tu possas realizar o teu destino de serviço ao mundo. Mais uma vez me é dado admirar a beleza desta vasta terra que se estende entre os dois oceanos; mais uma vez me é dada experimentar a calorosa hospitalidade do povo americano.

Mesmo se não me é possível entrar em cada uma das vossas casas, saudar cada homem e cada mulher, acarinhar cada criança em cujos olhos se reflectem a inocência e o amor, de igual modo me sinto perto de cada um de vós e todos vós estais presentes nas minhas orações.

Seja-me lícito exprimir os meus sentimentos na lírica do vosso canto: "América! América! Deus faça descer a sua graça sabre ti, retribua o teu bem com a fraternidade, de um ao outro mar".

E a paz do Senhor esteja sempre contigo, América!






VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM OS FIÉIS NA CATEDRAL DE SANTA CRUZ

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Boston, 1 de Outubro de 1979

: Caríssimo Cardeal Medeiros, queridos irmãos e irmãs em Cristo

Neste primeiro dia da minha visita pastoral aos Estados Unidos da América, é grande alegria para mim vir a esta cidade de Boston e poder encontrar-me com a comunidade católica, agora nesta Catedral, e depois, esta tarde, no parque público. É a primeira vez na história que um Sucessor de Pedro vem ao meio de vós. Nesta ocasião quero prestar homenagem à Santíssima Trindade em cujo nome venho até vós. Faço minha a saudação do Apóstolo Paulo aos Coríntios: A vós que fostes santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos juntamente com todos aqueles que em toda a parte invocam o nome do Senhor Nosso Jesus Cristo, Senhor Nosso e deles: graças a vós e paz da parte de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo (1Co 1,2-3).

O meu cordial agradecimento a Vossa Eminência, Senhor Cardeal Medeiros, Arcebispo de Boston, pelo seu acolhimento. Na sua igreja catedral é-me grato poder renovar-lhe a expressão da minha profunda estima e amizade. Saudações afectuosas também aos Bispos Auxiliares e a todo o clero quer diocesano quer religioso. Vós sois meus irmãos sacerdotes, em virtude do Sacramento da Ordem. Pelo vosso sacerdócio, vós sois também o dom de Deus à comunidade cristã. E, como sois servidores do Evangelho, deveis estar sempre junto do povo e dos seus problemas. Dado que participais do sacerdócio de Cristo, a vossa presença no mundo será sempre caracterizada pelo zelo de Cristo, por ele vos ter eleito a fim de que possais edificar o seu Corpo, a Igreja (Cfr. Ef Ep 4,12).

Desejo fazer extensiva a minha bênção a vós, Irmãos e Irmãs Religiosos, que consagrastes a vossa vida a Jesus Cristo. Oxalá possais sempre encontrar alegria no seu amor. E a todos vós, leigos desta diocese, que estais unidos ao vosso Cardeal e ao vosso Clero numa missão comum, abro o meu coração no amor e na confiança. Vós sois quem trabalha para a evangelização na realidade da vida quotidiana, e testemunhais o amor de Cristo no serviço que prestais aos vossos irmãos, homens e mulheres, a começar pelas vossas famílias.

A todos quero dizer que me sinto muito grato de estar no meio de vós. Rezo por cada um de vós, pedindo-vos que permaneçais sempre unidos em Jesus Cristo e na sua Igreja, a fim de que juntos possamos "manifestar ao mundo a nossa unidade: no anúncio do mistério de Cristo, ao revelar a dimensão, divina e juntamente humana, da Redenção, ao lutar com incansável perseverança pela dignidade que alcançou cada homem e pode alcançar continuamente em Cristo" (Redemptor hominis RH 11). Oxalá esta Catedral, dedicada à Santa Cruz de Jesus, nos recorde a grandeza do nosso chamamento, porque, mediante o mistério da Encarnação e o Sacrifício redentor de Jesus na cruz, nós participa-mos nas imperscrutáveis riquezas de Cristo (Ep 3,8).

Da Catedral envio a minha saudação a toda a população desta cidade de Boston: de modo particular àqueles que por qualquer motivo estão oprimidos pelo sofrimento; aos doentes, aos internados, aos marginalizados da sociedade, àqueles que perderam a fé em Deus e nos outros homens. A todos, trago eu uma mensagem de esperança e de paz — a esperança e a paz de Cristo Jesus. Para Ele, cada ser humano tem valor e dignidade imensa, e n'Ele encontram-se todos os tesouros da justiça e do amor.

Nesta cidade de Boston saúdo uma comunidade que, através das vicissitudes da história, sempre conseguiu mudar, embora permanecendo fiel a si mesma uma comunidade onde homens de ambientes diversos, de diversas crenças, raças e convicções, souberam encontrar soluções justas para os seus problemas e criaram uma família onde a dignidade humana de cada um é respeitada. Em honra dos cidadãos de Boston, que herdaram uma tradição de amor e solicitude fraterna, quereria eu recordar as palavras de um dos fundadores desta cidade. Enquanto navegavam rumo à América, que seria a sua nova pátria, ele disse aos seus companheiros colonos: "Devemos amar-nos fervorosamente com coração puro; devemos levar os pesos uns dos outros". Estas palavras tão simples revestem significado profundo para a nossa vida a nossa vida de irmãos em Jesus Cristo.

A paz de Deus desça sobre esta cidade de Boston e traga alegria a cada consciência, alegria a cada coração!







VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

SAUDAÇÃO AO SECRETÁRIO-GERAL DA ONU

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Nova Iorque, 2 de Outubro de 1979



Senhor Secretário-Geral,
Senhoras e Senhores

Respondo com profunda gratidão à saudação do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. Esperei com ansiedade este momento desde o dia em que me dirigiu, imediatamente a seguir à inauguração do meu pontificado, o convite para falar à XXXIV Assembleia geral. A sua cordial iniciativa, para mim grande honra, esteve na base desta viagem que me levou primeiramente à Irlanda e vou continuando nos Estados Unidos da América.

A sua Organização tem particular significado para o mundo inteiro, porque nela convergem os desejos e as aspirações de todas as gentes do nosso planeta.

Esta suprema assembleia internacional assume os esforços e a determinação de todos os homens e de todas as mulheres de boa vontade, que decidiram manter o compromisso tomado há 34 anos pelos fundadores das Nações Unidas. Vem escrito no 1° artigo do Estatuto: trabalhar em conjunto para harmonizar as actividades das Nações na prossecução da paz e da segurança internacional, para desenvolver relações amigáveis entre as Nações, para realizar a cooperação internacional, e promover o respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais de todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

Precisamente, já no dia seguinte ao solene início do meu ministério de Supremo Pastor da Igreja Católica, dirigindo-me às representações dos Estados e das Organizações Internacionais, aproveitei o ensejo para exprimir a minha consideração pelo importante papel das Organizações Internacionais, e das Nações Unidas em particular. Aqui desejo declarar mais uma vez o grande valor que atribuo à vossa Instituição. Por isso nessa oportunidade afirmei: "Vós sois os primeiros a estar convencidos que não pode haver progresso humano ou paz duradoura sem a corajosa, leal e desinteressada procura de uma cada vez mais estreita cooperação e unidade entre os povos" (L'Oss. Rom , Rm 5).

Sim, a convicção, que nos une neste comum serviço à humanidade, é que, na base de todos os esforços, deve estar "a dignidade e o valor da pessoa humana" (Estatuto, preâmbulo). Do mesmo modo, é a pessoa humana — cada indivíduo — que deve trabalhar para os objectivos da vossa organização se realizarem em concretas relações amigáveis, de tolerância, de liberdade e de harmonia para com todos. Possíveis deliberações e resoluções podem ser adoptadas pelos representantes das Nações, mas a verdadeira realização delas há-de ser obra da gente toda.

Nas vossas pessoas, Senhor Secretário-Geral e ilustres Senhoras e Senhores, ao iniciar a minha visita às Nações Unidas, dirijo a minha saudação a todos os homens, mulheres e crianças dos países que estão aqui representados. Oxalá as esperanças, que eles depõem nos esforços e na solidariedade que nos unem, não sejam nunca desiludidas. Oxalá eles vejam, nos empreendimentos das Nações Unidas, que há um mundo só, que é casa de todos.

Obrigado, oxalá o Senhor vos conserve nos vossos elevados ideais.







Discursos João Paulo II 1979 - Domingo, 30 de Setembro de 1979