Discursos João Paulo II 1979 - Nova Iorque, 2 de Outubro de 1979


VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM OS REPRESENTANTES

DAS ORGANIZAÇÕES INTERGOVERNATIVAS

E DAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS

NA SEDE DAS NAÇÕES UNIDAS

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

Nova Iorque, 2 de Outubro de 1979



Senhoras e Senhores

É-me agradabilíssimo dirigir a minha saudação aos Representantes das Organizações Intergovernativas e Não Governativas aqui presentes, e agradecer-vos tão cordial acolhimento.

A vossa presença dentro das actividades das Nações Unidas é consequência da mais desenvolvida consciência de os problemas do mundo de hoje só poderem ser resolvidos quando todas as forças estão unidas, juntas e dirigidas para o mesmo fim comum. Os problemas, que a família humana encontra hoje diante de si, podem parecer esmagadores. Por meu lado, estou convencido que existe enorme potencial para lhes fazer frente. A história diz-nos que o género humano é capaz de reagir e mudar a direcção, todas as vezes que percebe com clareza que está no caminho errado. Vós tendes o privilégio de testemunhar neste edifício como os representantes das nações procuram traçar uma rota comum, a fim de neste planeta se poder viver em paz, na ordem, na justiça e no progresso de todos. Mas vós tendes também consciência de cada indivíduo dever actuar para o mesmo fim. São as acções individuais, colocadas juntas, que podem exercer, no presente e no futuro, a influência determinante em benefício ou prejuízo da humanidade.

Os diversos programas e as organizações existentes na estrutura das Nações Unidas, como também as Agências Especializadas e as Organizações Intergovernativas, constituem parte relevante deste esforço global. No âmbito da sua específica competência — alimentação, agricultura, comércio, ambiente, desenvolvimento, ciência, cultura, educação, saúde, socorro e problemas das crianças e dos refugiados — cada uma destas organizações oferece um contributo único, não só para prover às necessidades dos povos, mas também para promover o respeito da dignidade humana e a causa da paz mundial.

Nenhuma organização, todavia, nem as Nações Unidas nem nenhuma das suas agências especializadas, pode resolver sozinha os problemas globais que são constantemente submetidos à sua atenção, se tal solicitude não é compartilhada por toda a gente. É este o dever prioritário das Organizações Não Governativas: ajudar a difundir esta solicitude nas comunidades e nas casas dos homens, e levar depois às várias agências as instâncias e as aspirações dos povos, de modo que todas as soluções e todos os projectos empreendidos sejam verdadeiramente correspondentes às necessidades da pessoa humana.

Os delegados, que assinaram o Estatuto das Nações Unidas, tiveram uma visão de governos unidos e abertos à cooperação, mas, atrás das nações, viram também o indivíduo, e quiseram que fosse livre cada ser humano e gozasse — homem ou mulher — dos seus direitos fundamentais. Esta inspiração básica deve ser salvaguardada.

Desejo exprimir os meus melhores votos a todos vós que trabalhais juntos, para levar os benefícios de uma acção coordenada a todas as partes do mundo. A minha saudação cordial é dirigida aos representantes das várias associações protestantes, hebraicas e muçulmanas, e de modo especial aos representantes das Organizações Internacionais Católicas. A vossa dedicação e o vosso sentido moral não enfraqueçam nunca por causa das dificuldades; não percais nunca de vista o fim último dos vossos esforços; criai um mundo onde cada ser humano possa viver na dignidade e em harmonia de amor, corno filho de Deus.










VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM OS PROFISSIONAIS DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

NA SEDE DAS NAÇÕES UNIDAS


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Nova Iorque, 2 de Outubro de 1979



Meus caros amigos dos meios de comunicação

Não seria fácil para mim deixar as Nações Unidas sem dizer "obrigado" de coração àqueles que informaram a opinião pública, não só sobre os acontecimentos deste dia, mas também sobre todas as actividades desta válida organização. Nesta assembleia internacional, vós podeis ser, na realidade, instrumentos de paz sendo mensageiros da verdade.

Vós sois verdadeiramente servidores da verdade; sois os seus incansáveis transmissores, difusores e defensores. Dedicastes-vos à comunicação, promovendo a unidade entre todas as nações, mediante a difusão da verdade entre os povos.

Se o vosso trabalho nem sempre desperta a atenção que desejaríeis, ou nem sempre é coroado do êxito que desejaríeis, não desanimeis. Sede fiéis à verdade e à sua transmissão, porque a verdade permanece; a verdade não desaparecerá. A verdade não passará e não mudará.

E digo-vos — tomai-a como uma palavra minha, particular para vós — que o serviço à verdade, o serviço à humanidade através do meio da verdade, é alguma coisa que merece os vossos melhores anos, os vossos principais talentos, os vossos esforços mais intensos. Como transmissores da verdade, vós sois instrumento da compreensão entre os povos e da paz entre as nações.

Deus abençoe as vossas fadigas pela verdade, pelo fruto da paz. É esta a minha prece por vós, pelas vossas famílias e por aqueles que servis como mensageiros da verdade, e como instrumentos da paz.












VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM OS MEMBROS

DO SECRETARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Nova Iorque, 2 de Outubro de 1979



Senhoras e Senhores, caros amigos

Sinto-me muito feliz pela oportunidade de apresentar uma saudação a todos os membros do Secretariado das Nações Unidas em Nova Iorque, e por reafirmar perante vós a minha convicção do extraordinário valor e da importância do papel e das actividades desta organização internacional, de todas as suas agências e dos seus programas.

Quando aceitastes prestar aqui o vosso serviço, com o estudo ou com a pesquisa, no campo administrativo ou na planificação, nas actividades de secretaria ou de expediente, fizeste-lo na convicção de que o vosso trabalho, não raro oculto e desconhecido no conjunto das suas articulações, poderia dar válido contributo para se atingirem os objectivos desta organização. E assim é. Pela primeira vez na história da humanidade, existe a possibilidade para todos os povos, mediante os seus representantes, de se encontrarem regularmente entre si para um intercâmbio de pontos de vista; para se consultarem a fim de encontrar soluções pacificas, soluções eficazes, para os conflitos e para os problemas que trazem sofrimentos a todas as partes do mundo e a grande número de homens, mulheres e crianças. Vós sois parte desta grande e universal empresa. Atendeis aos serviços necessários, às informações e aos suportes que são indispensáveis para o bom êxito desta entusiasmante aventura; garantis continuidade de acção e de cumprimento. Cada um de vós é um servidor da unidade, da paz e da fraternidade de todos os homens.

A vossa tarefa não é menos importante da dos representantes das nações do mundo, desde que vós estejais animados pelo grande ideal da paz mundial e da colaboração fraterna entre todos os povos: aquilo que vale é o espírito com que realizais o vosso trabalho. A paz e a harmonia entre as nações, o progresso de toda a humanidade, a possibilidade para todos de viverem digna e felizmente, dependem de vós, de cada um de vós, e do trabalho que realizais aqui.

Aqueles que construíram as pirâmides no Egipto e no México, os templos na Ásia, as Catedrais na Europa, não foram apenas os arquitectos que fizeram os desenhos, ou aqueles que forneceram os meios materiais, mas também, e com igual importância, os trabalhadores das pedreiras, muitos dos quais nunca tiveram a satisfação de contemplar na sua totalidade a beleza das obras-primas que tinham criado com as suas mãos. E apesar disso eles produziram obras de arte, que seriam objecto de admiração para as gerações vindouras.

Vós sois, sob muitos aspectos, os trabalhadores das pedreiras. Uma vida intensa de laborioso serviço não vos será suficiente para ver o momento definitivo da paz universal, ou da colaboração fraterna e da verdadeira harmonia entre os povos. Algumas vezes só vereis um aceno, num acontecimento particularmente feliz, num problema resolvido, no sorriso de felicidade de uma criança doente, num conflito evitado, numa reconciliação de espíritos e de corações. Mais frequentemente, tereis experiência apenas da monotonia do vosso trabalho quotidiano, ou das frustrações dos nós burocráticos. Mas sabei que a vossa obra é grande e que a história julgará favoravelmente os vossos empreendimentos.

Os desafios que terá de enfrentar a comunidade internacional nos próximos anos e nos próximos decénios não serão inferiores aos de hoje. Os acontecimentos que transformam rapidamente o mundo, os extraordinários passos avançados pela ciência e pela tecnologia aumentarão quer o potencial do desenvolvimento quer a complexidade dos problemas. Estai preparados, sede capazes, mas sobretudo tende todos confiança no ideal que servis.

Considerai o vosso contributo não só em termos de incremento da produção industrial, de aumento de eficiência e de amparo dos que sofrem. Considerai-o sobretudo em termos de crescente dignidade para cada ser humano, de crescente possibilidade para cada pessoa de progredir, para a plenitude da sua realização espiritual, cultural e humana. A vossa chamada para um serviço internacional haure o seu valor nos objectivos mesmos que têm em vista as organizações internacionais. Estes objectivos transcendem as esferas puramente materiais ou intelectuais; entram na esfera moral e na esfera espiritual. Mediante o vosso trabalho, podeis oferecer o vosso amor à família humana inteira, a cada pessoa que recebeu o dom maravilhoso da vida, a fim de que todos possam viver juntos em paz e harmonia, num mundo justo e pacífico, onde todas as suas necessidades fundamentais, físicas, morais e espirituais possam ser satisfeitas.

O visitante, que tendes diante de vós, admira o que fazeis e crê no valor da vossa missão.

Obrigado pelo vosso acolhimento. Envio a minha saudação cordial também às vossas famílias. De modo particular, espero que possais experimentar uma alegria profunda e duradoura na obra que realizais, para o bem de todos os homens, mulheres e crianças desta terra.












VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

SAUDAÇÃO À PARTIDA DA ONU

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Nova Iorque, 2 de Outubro de 1979



Senhor Secretário-Geral

Ao concluir a minha demasiado breve visita à sede das Nações Unidas, desejo exprimir o meu agradecimento cordial a todos aqueles que se prodigaram para tornar possível esta visita.

O meu agradecimento vai em primeiro lugar para Vossa Excelência, Senhor Secretário-Geral, pelo seu cordial convite, que não só considerei grande honra mas também obrigação, pois me permitiu, com a minha presença aqui, testemunhar, pública e solenemente, o compromisso da Santa Sé em colaborar, plenamente segundo a sua própria missão, com esta válida Organização.

O meu agradecimento vai também para o ilustre Presidente desta trigésima quarta Assembleia Geral, que me honrou ao convidar-me a dirigir a palavra a esta corte única no mundo, de delegados de quase todas as nações. Proclamando a incomparável dignidade de cada ser humano e manifestando a minha firme confiança na humanidade e na solidariedade de todas as nações, permiti-me afirmar mais uma vez um conceito fundamental da minha Carta Encíclica: "Em última análise, a paz reduz-se ao respeito dos direitos invioláveis do homem" (Redemptor hominis RH 17).

Agradeço pois a todos os ilustres delegados das nações aqui representadas, e a todo o Secretariado das Nações Unidas, o amigável acolhimento reservado aos representantes da Santa Sé e de modo particular ao nosso Observador Permanente, o Arcebispo Giovanni Cheli.

A mensagem que desejo deixar-vos é mensagem de certeza e de esperança: a certeza de que a paz é possível, quando se baseia no reconhecimento da paternidade de Deus e da fraternidade de todos os homens; a esperança de que o sentido da responsabilidade moral, que deve assumir cada pessoa, tornará possível a criação de um mundo melhor na liberdade, na justiça e no amor.

Como homem cujo ministério haure significado do facto de ser o fiel Vigário de Cristo na terra, despeço-me de vós com as palavras daquele que represento, do próprio Jesus Cristo: Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou (Jn 14,27). A minha constante oração por vós é esta: que possa haver a paz na justiça e no amor. Oxalá as vozes suplicantes de todos aqueles que crêem em Deus — cristãos e não-cristãos — façam que os recursos morais, presentes no coração dos homens e das mulheres de boa vontade, se unam para o bem comum, e façam descer do céu aquela paz, inatingível apenas com os esforços humanos.

Deus abençoe as Nações Unidas.









VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

SAUDAÇÃO O POVO DE NOVA IORQUE

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Catedral de São Patrício

Terça-feira, 2 de Outubro de 1979



Caro Cardeal Cook,
Queridos irmãos e queridas irmãs em Cristo

Considero graça especial ter voltado a Nova Iorque, ter voltado a São Patrício exactamente durante o ano centenário da Catedral.

Há seis meses escrevi uma carta ao Cardeal Cooke, manifestando "a minha esperança ardente de que a comunidade eclesial do lugar, simbolizada por este glorioso edifício de pedra (Cfr. 1P 2,5), pudesse renovar-se na fé de São Pedro e São Paulo — na fé de Nosso Senhor Jesus Cristo — e de que todos os fiéis encontrassem novo vigor para uma autêntica vida cristã". E esta é hoje a minha esperança quanto a vós todos. Por isto é que me encontro aqui: para confirmar-vos na vossa fé santa, católica e apostólica; para invocar sobre vós a alegria e a força que vos sustentarão na vida cristã.

Nesta oportunidade dirijo a minha saudação a todos os habitantes de Nova Iorque. De modo especial, o meu coração está com os pobres, com os que sofrem, com todos os que vivem sós e abandonados no meio desta enorme metrópole.

Peço pelo bom êxito do apostolado nesta Arquidiocese: oxalá as agulhas da catedral de São Patrício simbolizem sempre o impulso com que a Igreja desempenha a sua função fundamental em todas as épocas: "dirigir o olhar do homem, orientar a consciência e a experiência de toda a humanidade em direcção ao mistério de Cristo, ajudar todos os homens a terem familiaridade com a profundidade da Redenção, que se dá em Cristo Jesus" (Redemptor Hominis RH 10).

Também isto o simboliza a catedral de São Patrício; esta é a missão da Igreja em Nova Iorque, a expressão do seu serviço essencial e característico à humanidade: orientar os corações para Deus a fim de manter viva a esperança, no, mundo. Assim repetimos nós com São Paulo: Afadigamo-nos e combatemos porque pusemos a nossa esperança em Deus vivo (1Tm 4,10).






VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM A COMUNIDADE AFRO-AMERICANA

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Igreja paroquial de São Carlos Borromeo, Harlem

Terça-feira, 2 de Outubro de 1979



Queridos amigos
Queridos irmãos e irmãs em Cristo

Este é o dia feito pelo Senhor: alegremo-nos e exultemos nele (Ps 118,24).

Saúdo-vos na alegria e na paz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com prazer encontro esta oportunidade de estar convosco e falar-vos, e por meio de vós dirigir a minha saudação a todos os negros da América.

Correspondendo à sugestão do Cardeal Cooke, tive o prazer de incluir no meu programa uma visita à paróquia de São Carlos Borromeo em Harlem, e à sua comunidade negra, que por meio século alimentou aqui as raízes culturais, sociais e religiosas da gente negra. Esperei com ansiedade estar aqui nesta tarde.

Venho ter convosco como servo de Jesus Cristo, e quero falar-vos d'Ele. Cristo veio trazer a alegria: alegria às crianças, alegria aos pais, alegria às famílias e aos amigos, alegria aos trabalhadores e aos estudantes, alegria aos doentes e aos anciãos, alegria a toda a humanidade. No seu verdadeiro significado, a alegria é a nota característica da mensagem cristã e o motivo presente do Evangelho. Recordai-vos das primeiras palavras do anjo a Maria: Ave, ó cheia de graça, o Senhor está contigo (Lc 1,28). E na altura do nascimento de Jesus os anjos anunciaram aos pastores: Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo (Lc 2,10).

Alguns anos mais tarde, quando Jesus entrou em Jerusalém no jumentinho, a multidão dos discípulos começou a louvar alegremente a Deus, em alta voz, dizendo "Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor" (Lc 19,37-38). Foi-nos dito que alguns fariseus, no meio da multidão, exclamaram: Mestre, repreende os Teus discípulos. Jesus retorquiu: Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras (Lc 19,39-40).

Não são verdade ainda hoje estas palavras de Jesus? Se nós não falarmos da alegria que vem de conhecermos Jesus, gritarão as pedras da nossa cidade. Porque nós somos o povo da Páscoa, e a "Aleluia" é a nossa canção. Com São Paulo exorto-vos:

Alegrai-vos sempre no Senhor, repito, alegrai-vos (Ph 4,4).
Alegrai-vos porque Jesus veio ao mundo!
Alegrai-vos porque Jesus morreu na cruz!
Alegrai-vos porque ressuscitou da morte!
Alegrai-vos porque no baptismo Ele apagou os nossos pecados!
Alegrai-vos porque Jesus veio tornar-nos livres!
E alegrai-vos porque Ele é o Senhor da nossa vida!

Mas quantas pessoas não conheceram nunca esta alegria! Alimentam-se do vazio e caminham pela estrada do desespero: Encontram-se nas trevas e na sombra da morte (Lc 1,79). E não precisamos de ir procurá-las nos confins longínquos da terra. Vivem à nossa volta, caminham pelas nossas estradas, podem ser até membros das nossas próprias famílias. Vivem sem verdadeira alegria porque vivem sem esperança. Vivem sem esperança porque não ouviram nunca, não ouviram verdadeiramente, a Boa Nova de Jesus Cristo, porque não encontraram nunca um irmão ou uma irmã que tocasse nas suas vidas com o amor de Jesus e os libertasse da sua infelicidade.

Devemos ir ter com eles como mensageiros de esperança. Devemos levar-lhes o testemunho da verdadeira alegria. Devemos prometer-lhes o nosso compromisso de trabalharmos por uma sociedade justa e por uma sociedade em que eles se sintam respeitados e amados.

Exorto-vos portanto a que sejais homens e mulheres de profunda e constante fé. Sede arautos da esperança. Sede mensageiros de alegria. Sede verdadeiros promotores da justiça. Irradiai dos vossos corações a Boa Nova de Cristo, e a paz, que só Ele pode dar, permaneça sempre no vosso espírito.

Meus queridos irmãos e irmãs da comunidade negra: "Alegrai-vos sempre no Senhor, repito, alegrai-vos".












VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

À COMUNIDADE DE LÍNGUA ESPANHOLA

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Bairro de South Bronx, Nova Iorque

Terça-feira, 2 de Outubro de 1979



Queridos irmãos e amigos

Uma das visitas, a que atribuo grande importância e desejaria poder consagrar mais tempo, é precisamente a que estou a fazer a South Bronx, nesta imensa cidade de Nova Iorque, onde residem tantos imigrados, de cores, raças e terras diversas, entre eles a numerosa comunidade de língua espanhola, vós a quem agora me dirijo.

Venho aqui para conhecer as condições difíceis da vossa existência, por saber que a dor se torna presente nas vossas vidas. Por isso, mereceis particular atenção da parte do Papa.

Deter-me neste lugar quer significar agradecimento e estímulo a quanto a Igreja fez e continua a fazer — por meio das suas paróquias, escolas, centros sanitários, postos de assistência à juventude e à terceira idade — em favor de tantos que experimentam a angústia moral e a carência material.

Desejava que esta chama de esperança — às vezes uma das poucas esperanças — não só não se apagasse, mas que aumentasse o seu alcance, para todos os habitantes da zona e da cidade chegarem a conseguir viver com dignidade e serenidade, como seres humanos individuais, como famílias e como filhos de Deus.

Não vos entregueis, irmãos e amigos, ao desespero, mas colaborai vós mesmos, dai os passos que vos sejam possíveis na empresa da vossa maior dignificação, uni as vossas forças no sentido duma elevação humana e moral. E não esqueçais também que é Deus que preside à vossa vida, vos acompanha e vos chama para o melhor, para a superação.

Mas como é também necessária uma ajuda de fora, faço insistente apelo aos "leaders", a todos os que o podem fazer, para que prestem a sua generosa colaboração em tão louvável e urgente tarefa.

Queira Deus seja, em breve, formosa realidade o projecto de construção de casas — e outros projectos necessários —, para cada pessoa e cada família encontrarem alojamento condigno, onde vivam em paz sob o olhar de Deus.

Amigos: Saúdo-vos a todos e aos vossos seres queridos, abençoo-vos e animo-vos a que não desfaleçais no bom caminho.










VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

PRECE DA MANHÃ NA CATEDRAL DE SÃO PATRÍCIO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

Nova Iorque, 3 de Outubro de 1979



Queridos irmãos e irmãs

São Paulo pergunta: "Quem nos separará do amor de Cristo?". Enquanto permanecemos aquilo que somos, esta manhã — comunidade de oração unida em Cristo, comunidade eclesial de louvor e adoração do Pai — compreenderemos e experimentaremos a resposta: que ninguém — absolutamente nada — nos poderá nunca separar do amor de Cristo. Para nós hoje a Oração da manhã da Igreja é celebração alegre e comunitária do amor de Deus em Cristo.

O valor da Liturgia das Horas é enorme. Por seu meio, todos os fiéis, mas especialmente o clero e os religiosos, exercem uma função de capital importância: a oração de Cristo continua no mundo. O próprio Espírito Santo intercede pelo povo de Deus (Cfr. Rm 8,27). A comunidade cristã glorifica com louvor e acção de graças a sabedoria, o poder, a providência e a salvação do nosso Deus.

Nesta oração de louvor, nós erguemos os nossos corações ao Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, levando connosco a angústia e as esperanças, as alegrias e as dores de todos os nossos irmãos e todas as nossas irmãs do mundo.

A nossa oração torna-se também escola de sensibilidade, porque nos dá consciência de quanto estão ligados entre si os nossos destinos na família humana. A nossa oração torna-se escola de amor — um género especial de amor cristão consagrado, pelo qual amamos o mundo, mas com o coração de Cristo.

Por meio desta oração de Cristo, a quem damos voz, o nosso dia fica santificado, as nossas actividades são transformadas e as nossas acções consagradas. Rezamos os mesmos salmos que Jesus rezou e entramos em contacto pessoal com Ele — a Pessoa para quem toda a Sagrada Escritura tende, o termo para que está dirigida toda a história.

Na nossa celebração da palavra de Deus, o mistério de Cristo abre-se diante de nós e envolve-nos; através de Cristo, tornamo-nos cada vez mais uma só coisa com todos os membros do Seu Corpo. Torna-se possível, como nunca antes, alongarmo-nos para abraçar o mundo, mas para o abraçar com Cristo: com generosidade autêntica, com amor puro e eficaz, no serviço, na cura das doenças e na reconciliação.

A eficácia da nossa oração dá especial honra ao Pai, porque é sempre feita por meio de Cristo e para glória do Seu nome: "Pedimos isto por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo, Teu Filho, que vive e reina conTigo e com o Espírito Santo, um só Deus, por todos os séculos dos séculos".

Como comunidade de oração e de louvor, com a Liturgia das Horas colocada entre os actos mais importantes do dia — de todos os dias podemos estar certos que nada nos separará do amor de Deus que está em Jesus Cristo Nosso Senhor.









VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

AOS ESTUDANTES DAS ESCOLAS CATÓLICAS

NO «MADISON SQUARE GARDEN»


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Nova Iorque, 3 de Outubro de 1979



Queridos jovens

Sinto-me feliz por estar convosco no Madison Square Garden. Hoje isto é um jardim de vida, onde os jovens estão vivos: vivos de esperança e de amor, vivos da vida de Cristo. E é em nome de Cristo que hoje eu saúdo cada um de vós.

Disseram-me que a maioria dentre vós vem de High Schools Católicas. Por isso, queria dizer alguma coisa sobre a educação católica, dizer-vos porquê julga a Igreja tão importante e consome tantas forças para conseguir dar a vós e a milhões doutros jovens uma educação católica. A resposta pode ser resumida numa palavra, numa pessoa, Jesus Cristo. A Igreja quer comunicar-vos Jesus Cristo.

1. Isto é tudo o que faz a educação, este é o significado da vida: conhecer a Cristo. Conhecer a Cristo como amigo, como alguém que vos quer bem a vós e está perto de vós, de todos os homens aqui e em toda a parte — quaisquer que sejam as línguas que falam, os modos como vestem e as cores da própria pele. E assim a finalidade da educação católica é comunicar-vos Cristo, de maneira que a vossa atitude para com os outros seja a de Cristo. Aproximais-vos daquele período da vossa vida em que deveis assumir uma responsabilidade pessoal para o vosso destino. Em breve tomareis decisões importantes que influirão em todo o andamento da vossa vida. Se estas decisões reflectirem a atitude de Cristo, a vossa educação terá triunfado.

Deveis aprender a aceitar as exigências e também as crises, à luz da Cruz e da Ressurreição de Cristo.

É parte da nossa educação católica aprender a descobrir as necessidades dos outros; ter a coragem de praticar aquilo em que acreditamos. Com a ajuda duma educação católica, procuramos enfrentar qualquer circunstância da vida com a atitude de Cristo. Sim, a Igreja quer comunicar-vos Cristo, para atingirdes a plena maturidade n'Ele, que é homem perfeito e ao mesmo tempo o Filho de Deus.

2. Queridos jovens, vós, e eu, e nós todos juntos, formamos a Igreja, e ,estamos convencidos que só em Cristo encontramos verdadeiro amor e a plenitude da vida.

Assim, convido-vos hoje a olhar para Cristo.

Quando estiverdes pasmados com o mistério de vós mesmos, olhai para Cristo que vos dá o significado da vida. Quando procurardes saber que significa estar uma pessoa já adulta, olhai para Cristo que é a plenitude do ser humano.

E quando procurardes imaginar qual será o vosso papel no futuro do mundo e dos Estados Unidos, olhai para Cristo. Só em Cristo realizareis as vossas possibilidades como cidadãos dos Estados Unidos e da comunidade mundial.

3. Ajudados pela vossa educação católica, recebestes o maior dos dons: o conhecimento de Cristo. Deste dom escreveu São Paulo: Na verdade, em tudo isso só vejo dano, comparado com o supremo conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo (Ph 3,8-9).

Sede sempre agradecidos a Deus por este dom de conhecer a Cristo. Sede agradecidos também aos vossos pais e à comunidade da Igreja que tornaram possível, com muitos sacrifícios, a vossa educação católica. Muito se espera de vós e se espera da vossa colaboração em testemunhar Cristo e transmitir a outros o Evangelho. A Igreja tem necessidade de vós. O mundo tem necessidade de vós, porque tem necessidade de Cristo e vós pertenceis a Cristo.

E assim peço-vos que aceiteis as vossas responsabilidades na Igreja, a responsabilidade da vossa educação católica: de ajudar — com as vossas palavras, e sobretudo com o exemplo da vossa vida — a difundir o Evangelho. Fazei-lo com a oração e com serdes justos, sinceros e puros.

Queridos jovens, sois chamados a testemunhar a vossa fé com uma vida verdadeiramente cristã e com a prática da religião. E, como as acções falam mais alto que as palavras, sois chamados a proclamar, com o proceder da vossa vida quotidiana, que verdadeiramente acreditais que Jesus Cristo é Senhor.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM A POPULAÇÃO DE NOVA IORQUE NO «BATTERY PARK»

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Quarta-feira, 3 de Outubro de 1979



Queridos Amigos de Nova Iorque

1. A minha visita à vossa Cidade não seria completa se eu não viesse a Battery Park, se não tivesse visto Ellis Island e, à distância, a estátua da Liberdade. Cada nação tem os seus símbolos históricos. Serão Santuários, estátuas ou documentos; mas o significado deles está nas verdades que representam para os cidadãos de uma nação e na imagem que eles exprimem para outras nações. Para os Estados Unidos, este símbolo é a Estátua da Liberdade. É um símbolo claro daquilo que os Estados Unidos seguiram desde os inícios da sua história. É um símbolo de liberdade. É um reflexo da história da imigração para os Estados Unidos, dado que os milhões de seres humanos, que chegaram a estas praias, andavam à procura de liberdade. E a liberdade foi a amorosa oferta que a jovem República lhes fez. Deste lugar desejo prestar homenagem a esta nobre característica da América e do seu povo: o desejo de serem livres, a decisão de preservarem a liberdade e a boa vontade de compartilharem esta liberdade com os outros. Oxalá este ideal de liberdade e independência seja sempre a força motriz para o vosso País e para todas as nações do mundo!

2. É motivo de honra para o vosso País ter construído, sobre este fundamento de liberdade, uma Nação onde é respeitada a dignidade de cada pessoa humana, onde o sentido religioso está em auge e a estrutura familiar é abundantemente favorecida, onde o dever e o trabalho honesto são considerados com grande honra, onde a generosidade e a hospitalidade não são palavras vazias, e onde o direito à liberdade religiosa está profundamente radicado na vossa história.

Ontem, diante da Assembleia das Nações Unidas, perorei a causa da paz e da justiça, fundadas no pleno respeito dos direitos fundamentais da pessoa humana. Falei também da liberdade religiosa, porque diz respeito às relações de uma pessoa com Deus e porque está relacionada de modo especial com outros direitos humanos. Está estreitamente relacionada com o direito de liberdade de consciência. E se a consciência não encontra segurança na sociedade, então é ameaçada também a segurança de todos os outros direitos.

A liberdade, em todos os seus aspectos, deve ser fundada sobre a verdade. Quero repetir as palavras de Jesus: A verdade tornar-vos-á livres (Jn 8,32). Faço, pois, votos por que o vosso sentido de liberdade caminhe a par e passo com um profundo sentido de verdade e de honestidade para convosco mesmos e para com as realidades da vossa sociedade. Não é admissível que os bons êxitos do passado substituam as responsabilidades que tomastes para com a sociedade em que viveis e para com os vossos concidadãos. No mundo hodierno, o desejo de liberdade, como também a busca da .justiça, tornou-se aspiração universal. Uma organização ou instituição, que trabalhe pela paz, perde a sua credibilidade se não apoia esta busca da justiça. Ambas elas, de facto, são requisitos essenciais do espírito humano.

3. Será sempre motivo de glória para esta Nação ter ela oferecido, àqueles que olhavam para a América, a liberdade e a oportunidade de melhorarem a situação. Deve ser honrada esta tradição hoje também. A liberdade adquirida deve ser ratificada todos os dias recusando tudo aquilo que fere, enfraquece ou desonra a vida humana. Apelo, por conseguinte, para todos os que amam a liberdade e a justiça, a fim de que ofereçam oportunidades aos necessitados, aos pobres e aos indefesos; Rompei os círculos míseros da pobreza e da ignorância, que mantêm como escravos tantos irmãos e irmãs: os círculos dos preconceitos, que ainda duram apesar do enorme progresso feito para uma verdadeira igualdade na educação e no trabalho; os círculos do desespero, que mantêm prisioneiros todos aqueles a quem falta alimento, casa e trabalho; os círculos do subdesenvolvimento derivado de mecanismos internacionais que subordinam a existência humana ao domínio de um mal escondido progresso económico; por último os círculos inumanos da guerra, que deriva da violência dos direitos fundamentais do homem e causa violações ainda maiores.

A liberdade na justiça trará, como no passado, nova aurora de esperança para os sem tecto, os desempregados, os anciãos os doentes e os diminuídos, os emigrantes e os trabalhadores anónimos, para todos aqueles que neste País e no mundo aspiram a uma dignidade humana.

Com sentimentos de admiração e confiança na vossa potencialidade para uma verdadeira grandeza humana, desejo saudar em vós a rica variedade da vossa Nação, onde homens de diversas origens étnicas e várias crenças podem viver, trabalhar e progredir juntos, na liberdade e no respeito mútuo. Saúdo e agradeço a todos aqueles que me deram aqui estas cordiais boas-vindas: homens de negócios e trabalhadores, professores e empresários; assistentes sociais e autoridades civis, anciãos e jovens, saúdo-vos a todos com respeito, estima é amor. A minha calorosa saudação é para cada um de Vós e para cada grupo, para os meus irmãos católicos e para os membros das várias Igrejas Cristãs com quem estou unido na fé de Cristo.

Uma saudação especial dirijo-a aos chefes da Comunidade Judaica cuja presença me honra muito. Há alguns meses encontrei-me em Roma com um grupo internacional de representantes Judeus. Naquela ocasião, voltando-me à mente as iniciativas tomadas depois do Concílio Vaticano II, no tempo do meu predecessor Paulo VI, disse que "as nossas duas Comunidades religiosas estão ligadas e intimamente relacionadas no verdadeiro nível das suas respectivas identidades religiosas..." e que "baseadas em tudo isto, nós reconhecemos com a maior clareza que a senda que devemos percorrer, com a Comunidade religiosa judaica, é a senda do diálogo fraterno e da colaboração frutuosa" (Discurso aos representantes das Organizações Mundiais Judaicas, 12 de março de 1979; L'Oss. Rom. , Rm 3). Sinto-me feliz ao constatar que, aqui nos Estados Unidos, grandes secções de ambas as Comunidades, com as respectivas autoridades e representantes, seguiram o mesmo caminho. Vários programas de estudo, o conhecimento mútuo, a comum determinação de querer recusar qualquer forma de anti-semitismo e discriminação, e várias formas de colaboração pelo progresso humano, inspiradas pela nossa comum herança bíblica, criaram vínculos profundos e permanentes entre Judeus e Católicos. Como alguém que, na minha pátria, compartilhou os sofrimentos dos vossos irmãos, saúdo-vos com uma palavra tirada da língua hebraica: Shalom! A paz esteja convosco.

A cada um dos presentes exprimo o meu respeito, a minha estima e o meu amor fraterno. Deus vos abençoe a todos. Deus abençoe Nova Iorque.






Discursos João Paulo II 1979 - Nova Iorque, 2 de Outubro de 1979