Discursos João Paulo II 1979 - Quarta-feira, 3 de Outubro de 1979


VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM FIÉIS NO «SHEA STADIUM» DE NOVA IORQUE

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Quarta-feira, 3 de Outubro de 1979



Caros Amigos de Nova Iorque

Sinto-me verdadeiramente feliz de encontrar a oportunidade de vir aqui e saudar-vos vivamente ao dirigir-me para o aeroporto de La Guardia, após a minha visita à Arquidiocese e à Metrópole de Nova Iorque.

Obrigado pelas vossas calorosas boas-vindas. Mais uma vez quero saudar todo o povo de Nova Iorque, Long Island, New Jersey e Connecticut, Brooklyn, e todas as vossas Paróquias, hospitais, escolas e organizações, os vossos doentes e os vossos anciãos. Com afecto especial saúdo os jovens e as crianças.

De Roma trago-vos uma mensagem de esperança e de amor. A paz de Cristo reine nos vossos corações! (Col 3,15). Oxalá a paz seja o desejo do vosso coração, porque, se amais a paz, amareis toda a humanidade, sem distinção de raça, cor ou crenças.

A minha saudação é ao mesmo tempo um convite a todos vós para que vos querais sentir pessoalmente responsáveis pelo bem-estar e pelo espírito comunitário da vossa cidade. Quem visita Nova Iorque é sempre conquistado pelo carácter especial desta metrópole: arranha-céus, ruas sem fim, grandes zonas residenciais, grupos de casas, e sobretudo tantos milhões de pessoas que vivem aqui e aqui procuram o trabalho que dará sustento a eles próprios e a cada família.

Grandes concentrações de população criam especiais problemas e especiais necessidades. Requerem-se esforço pessoal e a honesta colaboração de todos, para se encontrarem as soluções justas, a fim de que todos os homens, mulheres e crianças, possam viver com dignidade e desenvolver plenamente o seu potencial sem que tenham de sofrer por falta de educação, casa, trabalho e oportunidades culturais. Mas se uma cidade deve tornar-se verdadeiro domicilio para seres humanos, tem necessidade de uma alma. Compete a vós, homens, dar-lhe esta alma. De que modo? Amando-vos reciprocamente. No Evangelho Jesus diz-nos: Amarás o próximo como a ti mesmo (Mt 22,39). Este mandamento do Senhor deve inspirar-vos para que estabeleçais as verdadeiras relações humanas entre vós: de modo que ninguém se sinta sozinho ou não desejado, e ainda menos rejeitado, desprezado e odiado. Jesus mesmo vos dará a força do amor fraterno. E então cada bairro, cada quarteirão e cada rua tornar-se-ão uma verdadeira comunidade porque vós quereis que isto aconteça e porque Jesus Cristo vos ajudará a realizá-lo.

Tende Cristo nos vossos corações, e reconhecereis o seu rosto em cada ser humano. Querereis então socorrê-lo em cada necessidade sua: as necessidades dos vossos irmãos e das vossas irmãs. Este é o modo de nos prepararmos para encontrar Jesus, quando voltar de novo, no último dia, como Juiz dos vivos e dos mortos, e nos disser: Vinde, bem-aventurados do meu Pai, recebereis em herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Porque eu tinha fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; era forasteiro e destes-me hospitalidade, nu e vestistes-me, doente e visitastes-me, prisioneiro e fostes-me visitar... Em verdade vos digo: quando algum de vós faz uma destas coisas a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o faz ( Mt Mt 25, 34-35, 39).

Desejo agora dirigir uma saudação muito cordial a cada um dos membros da colónia de língua espanhola provenientes de diversos Países e aqui presentes neste estádio:

Em vós vejo representada e desejo saudar com muito afecto a comunidade espanhola, que vive em Nova Iorque e noutras partes dos Estados Unidos.

Posso assegurar-vos que estou bem consciente do lugar que ocupais na sociedade americana, e que sigo com vivo interesse as vossas realizações, aspirações e dificuldades, dentro do tecido social desta Nação que é a vossa pátria de adopção e a terra que vos acolhe. Por esta razão, desde o momento em que aceitei o convite para visitar este País, pensei em vós, que sois parte integral e específica desta sociedade, parte considerável da Igreja nesta vasta nação.

Quereria exortar-vos, como católicos, a manterdes sempre bem clara a vossa identidade cristã, com, uma referência constante aos valores da vossa fé, valores que devem iluminar a vossa busca de uma posição material digna de vós mesmos e das vossas famílias.

Dado que estais geralmente imersos em ambientes de cidades com grande densidade de população e num clima onde às vezes a tecnologia e os valores materiais tomam o primeiro lugar, deveis esforçar-vos por dar um contributo espiritual à vossa vida e ao vosso próximo.

Na vossa vida estai junto a Deus, a Deus que vos convida a serdes cada vez mais dignos da vossa condição de seres humanos que receberam uma vocação eterna, a Deus que vos convida à solidariedade e a colaborar para construir um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno.

Peço por vós, pelas vossas famílias e amigos, e sobretudo pelos vossos filhos, pelos doentes e os que sofrem. A todos dou a minha Bênção. Deus esteja sempre convosco.

Até à vista e Deus vos abençoe.







VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM OS FIÉIS NA CATEDRAL DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

Filadélfia, 3 de Outubro de 1979



Queridos irmãos e irmãs em Cristo

Agradeço ao Senhor ter-me permitido voltar a esta cidade de Filadélfia no Estado da Pensilvânia. Tenho agradáveis recordações de quando estive a primeira vez aqui como vosso hóspede e recordo-me de modo particular da celebração do Bicentenário em 1976, em que participei como Arcebispo de Cracóvia. Hoje, por graça de Deus, venho aqui como Sucessor de Pedro para trazer-vos urna mensagem de amor e para fortificar-vos na vossa fé.

Das vossas cordiais boas-vindas conclui que desejais em mim honrar a Cristo, que eu represento e vive em todos nós, em todos nós que por meio do Espírito Santo formamos uma comunidade, uma comunhão na fé e no amor.

Sinto, além disso, que me encontro verdadeiramente entre amigos e me encontro em casa, nos vossos corações.

De modo muito especial desejo agradecer ao Cardeal Krol, Arcebispo de Filadélfia, o convite que me dirigiu para vir aqui celebrar a Eucaristia com ele e com o povo. Cordial agradecimento expresso ao clero, aos leigos e aos religiosos, e a esta Igreja local.

Vim como vosso Irmão em Cristo, trazendo comigo a mesma mensagem que o próprio Jesus transmitiu à cidade e às aldeias da Terra Santa. Louvemos o Senhor, nosso Deus e nosso Pai, e amemo-nos uns aos outros.

Para mim é motivo de grande alegria encontrar-me convosco na Catedral de Filadélfia, porque tem profundo significado para mim. Primeiramente ela representa-vos a vós: a Igreja viva de Cristo aqui, agora viva na fé e unida no amor de Jesus Cristo.

Esta Catedral traz à memória São João Neumann, que foi Bispo desta Sé, e agora e para sempre é Santo da Igreja Universal.

Deste edifício devem-se transmitir a sua mensagem e o seu exemplo de santidade a todas as novas gerações de jovens. E se hoje prestamos atenção, podemos ouvir São João Neumann a falar a todos nós, com as palavras da carta aos Hebreus: Lembrai-vos daqueles que vos pregaram a palavra de Deus, considerai o êxito do seu proceder e imitai a sua fé. Jesus Cristo é sempre o mesmo ontem e hoje, e por toda a eternidade (He 13,7-8).

Por fim, una-vos esta Catedral aos grandes Apóstolos de Roma, Pedro e Paulo. Eles, por sua vez, continuam a dar-vos o seu testemunho de Cristo, a proclamar-vos a divindade de Cristo e a fazer conhecê-1'O antes que ao mundo.

Hoje aqui, em Filadélfia, a confissão de Pedro torna-se, para todos nós, acto pessoal de fé que nós expressamos juntos dizendo a Jesus: A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a Si mesmo por mim (Ga 2,20).

Esta Catedral encontra-se também unida na religião às tradições desta histórica cidade. Cada serviço prestado à moral e à elevação espiritual é serviço à civilização do homem; é contributo para a felicidade humana e para o verdadeiro bem-estar. Assim dirijo desta Catedral a minha saudação a toda a cidade de Filadélfia, às autoridades civis e à população. Como centro de amor fraterno, como primeira capital dos Estados Unidos da América, vós sois o símbolo da verdade e de relações fraternas. A minha saudação é também oração.

Oxalá a cooperação comum e os esforços conjuntos de todos vós cidadãos — católicos, protestantes e judeus — consigam levar a que o vosso centro citadino e a periferia sejam lugares onde a gente não se sinta estranha uma à outra, onde cada homem, cada mulher e cada criança sejam respeitados, onde ninguém se veja abandonado, afastado ou sozinho.

Pedindo o vosso auxílio de oração para a minha visita de amizade e de carácter pastoral, torno extensiva a minha bênção a vós todos, àqueles aqui presentes hoje, aos que vos são queridos e tiveram de ficar em casa, às pessoas idosas e doentes, e de modo especialíssimo aos jovens e às crianças.

Deus abençoe a Filadélfia.






VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM A OS SACERDOTES RELIGIOSOS

E SEMINARISTAS DA FILADÉLFIA


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

St. Charles Seminary, 3 de Outubro de 1979



Queridos irmãos e filhos em Cristo

Uma das coisas, que mais desejava durante a minha visita aos Estados Unidos, tornou-se realidade. Desejava visitar um seminário e encontrar-me com os seminaristas; e, mediante vós, quereria dizer a todos os seminaristas quanto eles são importantes para mim, e quão importantes são para o futuro da Igreja — para o futuro da missão que Cristo nos confiou.

Vós ocupais um lugar especial nos meus pensamentos e nas minhas orações. Nas vossas vidas há grande promessa para o futuro da evangelização. E vós dais-nos a esperança de a renovação autêntica da Igreja, que teve inicio com o Concílio Vaticano II, vir a dar os seus frutos. Mas, para que isto aconteça, é necessário que nos seminários recebais uma preparação sólida e completa. Esta minha convicção da importância dos seminários levou-me a escrever estas palavras na carta aos Bispos da Igreja na passada Quinta-feira Santa:

"A reconstituição plena da vida dos Seminários em toda a Igreja há-de ser o melhor meio de se aquilatar da realização do renovamento, para o qual o Concílio orientou a Igreja".

1. Se os seminários devem desempenhar a sua função na Igreja, duas actividades no programa geral do seminário são absolutamente necessárias: o ensino da palavra de Deus e a disciplina.

A formação intelectual do sacerdote, tão necessária nos tempos em que vivemos, compreende diversas ciências humanas e várias ciências sagradas. Todas elas têm lugar importante na vossa preparação para o sacerdócio. Mas a prioridade absoluta para os seminários de hoje é o ensino da palavra de Deus em toda a sua pureza e integridade, com todas as suas exigências e todo o seu vigor. Isto foi claramente explicado pelo meu amado predecessor Paulo VI quando afirmou que as Sagradas Escrituras: "serão assim para todos uma parte perene de vida espiritual, um meio de primeira ordem para transmitir a doutrina cristã e por fim a essência de toda a teologia" (Paulo VI Constituição Apostólica Missale Romanum, 3 de Abril de 1969).

Por conseguinte, se vós, seminaristas desta geração, deveis ser preparados adequadamente para receber a herança e as exigências do Concílio Vaticano II, tendes necessidade de ser bem formados na palavra de Deus.

Em segundo lugar, o seminário deve fornecer uma disciplina sã a fim de preparar para uma vida de serviço consagrado segundo a imagem de Cristo. O seu objectivo é bem definido pelo Concílio Vaticano II: "Na vida do Seminário, a disciplina deve ser considerada, não somente como forte defesa da vida comum e da caridade, mas como elemento necessário no conjunto da formação, para adquirir o domínio de si mesmo, promover uma sólida maturidade da pessoa e formar as restantes disposições de espírito, que muitíssimo preciosas são para a bem ordenada e frutuosa actividade da Igreja" (Optatam Totius OT 11).

Quando a disciplina é aplicada no devido modo, cria uma atmosfera de recolhimento que permite ao seminarista desenvolver interiormente aqueles comportamentos que tão desejáveis são num sacerdote, como a obediência alegre, a generosidade e a abnegação. Nas várias formas de vida comunitária que são próprias do seminário, aprendereis a arte do diálogo: a capacidade de escutar os outros e descobrir a riqueza das personalidades alheias e a habilidade de vos oferecerdes. A disciplina do seminário não diminui a vossa liberdade mas, pelo contrário, reforça-a, porque vos ajudará a desenvolver em vós mesmos aquelas características e aquelas disposições de mente e de coração, que Deus vos deu, e enriquecem a vossa humanidade e vos ajudam a servir o Seu povo mais eficazmente. A disciplina ajudar-vos-á também a ratificar dia a dia, no vosso coração, a obediência que deveis a Cristo e à sua Igreja.

2. Quero recordar-vos a importância da fidelidade. Antes de ser ordenados sois chamados por Cristo a comprometer-vos livre e irrevogavelmente e a serdes fiéis a Ele e à Sua Igreja. A dignidade humana requer que mantenhais este compromisso, que mantenhais a vossa promessa a Cristo, quaisquer que sejam as dificuldades que venhais a encontrar e as tentações que tenhais de enfrentar. A seriedade deste compromisso irrevogável impõe uma obrigação especial ao Reitor e aos professores do seminário e de modo particular ao director espiritual — obrigação de vos ajudarem a examinar a vossa aptidão para virdes a ser ordenados. Em seguida, é responsabilidade do Bispo julgar se sois chamados para o sacerdócio.

É importante ser o compromisso tomado com plena consciência e liberdade pessoal. Assim, durante estes anos de seminário, empregai tempo para reflectir sobre as sérias obrigações e sobre as dificuldades que fazem parte da vida do sacerdote. Reflecti se Cristo vos chama para uma vida de celibato. Só podereis decidir responsavelmente pelo celibato depois de terdes chegado à firme convicção de Cristo vos oferecer realmente este dom, entendido para o bem da Igreja e para o serviço dos outros (João Paulo II, cfr. Carta aos Sacerdotes, 9).

Para compreender o que significa sermos fiéis, devemos olhar para Cristo, a testemunha fiel (Ap 1,5), o Filho que aprendeu a obedecer, sofrendo (He 5,8); para Jesus que disse: o Meu juízo é justo, porque não busco a Minha vontade, mas a vontade d'Aquele que Me enviou (Jn 5,30). Olhemos para Jesus não só para ver e contemplar a sua fidelidade ao Pai apesar de toda a oposição (Cfr. He 3,2 He 12,3), mas também para aprender d'Ele os meios que usou para ser fiel: especialmente a oração e o abandono à vontade de Deus (Cfr. Lc Lc 33,39 ss.).

Recordai-vos que, em última análise, a perseverança na fidelidade é prova, não de força nem de coragem humanas, mas da eficácia da graça de Cristo. E assim, se perseveramos, devemos ser homens de oração que — mediante a Eucaristia, a liturgia das horas e os nossos encontros pessoais com Cristo — encontremos a coragem e a graça de sermos fiéis. Tenhamos, pois, confiança, recordando as palavras de São Paulo: Tudo posso n'Aquele que me dá força (Ph 4,13).

3. Meus irmãos e filhos em Cristo, tende bem presente as prioridades do sacerdócio a que aspirais, isto é, a oração e o ministério da palavra (Ac 6,4).

"É a oração que traça o estilo essencial do sacerdócio; sem ela este estilo deforma-se. A oração ajuda-nos a reencontrar sempre a luz que nos guiou desde os inícios da nossa vocação sacerdotal, e que incessantemente nos guia, embora algumas vezes pareça ficar perdida na escuridão. A oração permite-nos converter-nos continuamente, permanecer no estado de constante tensão no sentido de Deus, o qual é indispensável se queremos conduzir os outros para Ele. A oração ajuda-nos a crer, a esperar e a amar..." ( João Paulo II, Carta aos Sacerdotes, 10).

Eu espero que, durante os vossos anos de seminário, desenvolveis uma fome cada vez maior pela palavra do Senhor (Cfr. Am Am 8,11). Meditai cada dia sobre esta palavra e estudai-a continuamente, de modo que toda a vossa vida se torne um proclamar Cristo, o Verbo feito carne (Cfr. Jo Jn 1,14). Nesta palavra de Deus estão o início e o fim de cada ministério, a finalidade de cada actividade pastoral, a fonte que rejuvenesce a perseverança fiel e a única coisa que pode dar significado e unidade às múltiplas actividades de um sacerdote.

A palavra de Cristo permaneça em vós abundantemente (Col 3,16). No conhecimento de Cristo tereis a chave do Evangelho. No conhecimento de Cristo tereis uma compreensão das necessidades do mundo. Dado que Ele se tornou um de nós em tudo, excepto no pecado, a vossa união com Jesus de Nazaré não poderá nunca ser, e não será nunca, obstáculo para compreender e responder às necessidades do mundo. E finalmente, no conhecimento de Cristo não só descobrireis e compreendereis os limites da sabedoria humana e das soluções humanas para as necessidades da humanidade, mas experimentareis também o poder de Jesus e o valor da razão humana e do esforço humano, quando são tirados da força de Jesus, quando são remidos em Cristo.

Maria, nossa Mãe Santíssima, vos proteja hoje e sempre.

4. Desejo aproveitar esta ocasião para saudar os leigos que estão presentes hoje no seminário de São Carlos. A vossa presença aqui é um sinal da vossa estima pelo sacerdócio ministerial e ao mesmo tempo um apelo para aquela estreita colaboração entre o laicado e o sacerdócio, que é necessária para a missão de Cristo ser realizada no nosso tempo. Sinto-me feliz com a vossa presença, e estou-vos grato por tudo aquilo que fazeis pela Igreja em Filadélfia. Peço-vos em particular que rezeis por estes jovens e por todos os seminaristas, a fim de que perseverem na vocação. Rezai por todos os sacerdotes e pelo bom êxito do seu ministério no povo de Deus. E pedi ao Senhor da messe que mande mais operários para a sua vinha, a Igreja.










VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ORAÇÃO JUNTO DO TÚMULO DE SÃO JOÃO NEUMANN

PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II

Cripta da igreja de São Pedro

Filadélfia, 4 de Outubro de 1979



Queridos irmãos e irmãs em Cristo

Aqui estou na igreja de São Pedro para rezar sobre o túmulo de São João Neumann, missionário zeloso, pastor sacrificado, filho fiel de Santo Afonso na Congregação do Santíssimo Redentor, e quarto Bispo de Filadélfia.

Estando nesta igreja penso no único motivo de toda a vida de São João Neumann: o seu amor por Cristo. As suas orações mostram-nos este amor; porque desde pequeno costumava dizer: "Jesus, por ti quero viver, por ti quero morrer, quero ser teu na vida; quero ser todo teu na morte" (Nicola Ferrante, S. Giovanni Neumann, C.SS.R., Pioniere del Vangelo, pág. 25). E como sacerdote assim orou na sua primeira missa: "Senhor, dá-me a santidade".

Meus irmãos e irmãs em Cristo: esta é a lição, que aprendemos da vida de São João Neumann, e esta é a mensagem que eu hoje vos deixo: aquilo que verdadeiramente importa na vida é que sejamos amados por Cristo e que O amemos por nossa parte. Em comparação com o amor de Jesus, qualquer outra coisa é secundária. E sem o amor de Jesus, qualquer outra coisa é inútil.

Maria, Mãe do Perpétuo Socorro, interceda por nós; São João Neumann interceda por nós; e com a ajuda das suas orações consigamos nós perseverar na fé, alegres na esperança e fortificados no nosso amor por Jesus Cristo, nosso Redentor e nosso Senhor.

VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM A COMUNIDADE DE LÍNGUA ESPANHOLA

PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


Filadélfia, 4 de Outubro de 1979

: Amadíssimos irmãos e irmãs de língua espanhola:

Saúdo-vos com alegria e agradeço a vossa presença entusiasta, aqui na igreja de São Pedro, onde repousam os restos de São João Neumann, o primeiro santo americano.

Reunistes-vos neste lugar, em grande número, provenientes das comunidades de língua espanhola, que chegaram a este país como emigrados ou aqui nasceram de antepassados emigrados, e conservaram, uns e outros, a fé cristã como principal tesouro da sua tradição.

Também São João Neumann foi emigrante e conheceu muitas das dificuldades que vós conheceis: as da língua, de uma cultura diversa e da adaptação social.

É conhecida a vossa perseverança em conservar a vossa específica herança religiosa, ao mesmo tempo posta ao serviço da comunidade nacional inteira, a fim de que seja testemunho de unidade no seio de um pluralismo de religião, de cultura e de vida social.

Sendo fiéis à mensagem salvífica de Jesus Cristo, as vossas comunidades eclesiais encontrarão o caminho adequado para sentirem-se membros da Igreja universal e cidadãos deste mundo.

A devoção a Maria, nossa Mãe, e a vossa comunhão com o Vigário de Cristo continuem a ser sempre, como até agora, a força que alimenta e faz crescer a vossa fé cristã.

A todos vós aqui presentes, a quantos não puderam vir, em particular aos doentes e aos anciãos, espiritualmente unidos a este encontro, dou de todo o coração uma especial Bênção Apostólica.












VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

VISITA À CATEDRAL UCRANIANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Filadélfia, 4 de Outubro de 1979



Seja louvado Jesus Cristo!

Com esta saudação cristã me dirijo a vós, queridos irmãos e irmãs, na vossa nativa língua ucraniana, antes de vos começar a falar em inglês.

Em primeiro lugar saúdo todos os Jerarcas aqui presentes, tanto da Metrópole de Filadélfia como de Pittsburgo.

De modo particular saúdo o recém-nomeado Metropolita de Filadélfia.

Saúdo todos os caros Sacerdotes, Religiosos e Religiosas.

Saúdo cordialmente todos vós, caros fiéis da metropolia ucraniana de Filadélfia, que vos reunistes aqui, neste templo da Santíssima Mãe de Deus, para honrar na minha pessoa o sucessor de São Pedro na cátedra de Roma, Vigário de Cristo na terra.

Sobre todos vós, caros irmãos e irmãs, invoco copiosas graças do Deus Omnipotente, por intercessão da Imaculada Virgem Maria, a quem é dedicada a vossa catedral.

A todos abençoo de todo o coração.

Seja louvado Jesus Cristo!

Queridos irmãos e irmãs

Agora em Cristo Jesus... sois concidadãos dos santos e membros da Casa de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, com o próprio Cristo como pedra angular (Ep 2,13 Ep 19-20). Com estas palavras o apóstolo Paulo recorda aos Efésios a extraordinária bênção que receberam tornando-se membros da Igreja. Estas palavras valem ainda hoje. Vós fazeis parte da Igreja de Deus. Vós, membros da tradição ucraniana, fazeis parte de um edifício construído sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas com o próprio Cristo como pedra angular. Tudo aconteceu segundo o plano providencial de Deus.

Há diversos anos, o meu amado predecessor Paulo VI deu uma pedra do túmulo de São Pedro para a construção desta magnífica catedral dedicada a Maria Imaculada. Paulo VI quis que este dom fosse símbolo do amor e da estima da Sé Apostólica de Roma pela Igreja ucrariana. Ao mesmo tempo, esta pedra devia constituir um sinal da fidelidade da Igreja Ucraniana à sé de Pedro. Com este gesto profundamente simbólico, Paulo VI reafirmava o ensinamento do apóstolo Paulo, contido na carta aos Efésios.

Hoje, como sucessor de Paulo VI na Cátedra de Pedro, venho fazer-vos visita nesta magnífica nova Catedral. Sinto-me feliz por esta oportunidade, e aproveito-a para vos assegurar, enquanto pastor universal da Igreja, que todos quantos são herdeiros da tradição ucraniana têm papel importante e bem definido a desempenhar no seio da Igreja Católica.

Segundo o testemunho da história, na Igreja foram-se desenvolvendo numerosos ritos e tradições, desde que ela se dispersou, a partir de Jerusalém, por outras nações e se encarnou na linguagem, na cultura e nas tradições humanas dos vários povos que aceitaram o Evangelho com coração aberto. Estes ritos e tradições diversas, bem longe de constituírem sinal de desvio, infidelidade ou divisão, foram, de facto, prova irrefutável da presença do Espírito Santo que renova continuamente e enriquece a Igreja, o reino de Cristo já presente em mistério (Cfr. Lumen Gentium LG 3).

As várias tradições no interior da Igreja são expressão da pluralidade dos modos com que o Evangelho pode enraizar-se e florescer na vida do Povo de Deus. São sinal vivo da riqueza da Igreja. Cada modo — enquanto está unido a todos os outros na "mesma fé, mesmos sacramentos e mesmo governo" (Orientalium Ecclesiarum OE 2) — não deixa por isso de manifestar-se com a própria liturgia, disciplina eclesiástica e património espiritual. Cada tradição une às expressões artísticas particulares e às simples intuições espirituais uma própria e particular experiência vivida, de fidelidade a Cristo.

É em vista destas considerações que o Concílio Vaticano II declarou: "A história, as tradições e múltiplas instituições eclesiásticas demonstram quanto as Igrejas Orientais se tornaram beneméritas de toda a Igreja. Por isto o Sagrado Concílio não só considera com a devida estima e com justo louvor este vosso património eclesiástico e espiritual, mas considera-o firmemente como património de toda a Igreja de Cristo" (Ibid., 5).

Já há muito que eu estimo profundamente o povo ucraniano. Soube dos inúmeros sofrimentos e injustiças que teve de suportar. Estes factos foram e continuam a ser motivo de grande preocupação para mim. Estou igualmente ciente das dificuldades da Igreja católica ucraniana, através dos séculos, para conseguir permanecer fiel ao Evangelho e unida ao sucessor de Pedro. Não posso esquecer os inumeráveis mártires ucranianos dos tempos passados e também recentes, cujos nomes ficaram, em grande parte, desconhecidos. Foram pessoas que preferiram perder a própria vida a perder a sua fé. Recordo isto para fazer compreender a minha profunda estima pela Igreja ucraniana e pela fidelidade provada no sofrimento.

Quero igualmente falar daquelas coisas que conservastes como património espiritual particular: a língua litúrgica eslava, a música eclesiástica e as múltiplas formas de piedade que se desenvolveram no decorrer dos séculos e continuam a alimentar a vossa vida. O valor que dais a estes tesouros da tradição ucraniana demonstrai-lo no apego que continuais a ter pela Igreja ucraniana e no modo como continuais a viver a fé segundo a vossa própria tradição.

Irmãos Irmãs em Cristo, quero recordar na vossa presença as palavras que pronunciou Jesus na véspera da sua morte na cruz: Pai... fazei que eles sejam uma coisa só (Jn 17,11). Não devemos nunca esquecer esta oração; de facto, devemos buscar meios e caminhos cada vez melhores para salvaguardar e reforçar os laços que nos unem numa única Igreja. Recordai as palavras de São Paulo: vós fostes edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, com Cristo Jesus como pedra angular (Ep 2,20). A unidade deste edifício espiritual, que é a Igreja, é mantida pela fidelidade à pedra angular, que é Cristo, e aos ensinamentos dos apóstolos conservados e explicados na tradição da Igreja. Real unidade de doutrina nos liga.

A unidade católica significa também o reconhecimento do sucessor de Pedro e do seu ministério tendente a reforçar e preservar intacta a comunhão da Igreja universal, salvaguardando no interior dela a existência das legítimas tradições particulares. A Igreja ucraniana, assim como as outras Igrejas orientais, têm o direito e o dever — em conformidade com os ensinamentos do Concílio (Cfr. Orientalium Ecclesiarum OE 5) — de conservar o seu próprio património eclesial e espiritual. Precisamente porque estas tradições particulares vêm enriquecer a Igreja universal, a Sé Apostólica de Roma preocupa-se vivamente em as proteger e promover. Por sua vez, as comunidades eclesiais que seguem estas tradições são chamadas a aderir com amor e respeito a algumas formas particulares de disciplina que o meu predecessor e eu, para satisfazermos as nossas responsabilidades pastorais em relação à Igreja universal, considerámos necessárias para o bem de todo o Corpo de Cristo.

Em grande medida depende a unidade católica da caridade recíproca. Não esqueçamos que a unidade da Igreja brotou da Cruz de Cristo, que abateu as barreiras do pecado e as divisões, reconciliando-nos com Deus e entre nós. Jesus predisse este acto unificador com estas palavras: ... Quando for levantado da terra, atrairei todos a mim (Jn 12,32). Se continuarmos a imitar o amor de Jesus nosso Salvador, na Cruz, e se perseverarmos no amor recíproco, então manteremos os vínculos de unidade na Igreja e testemunharemos que se está a cumprir a oração de Jesus: Pai,... que todos sejam uma coisa só (Ibid., 17, 11). Confio-vos à protecção de Maria Imaculada, Mãe de Deus e Mãe da Igreja. Sei que vós a honrais com grande devoção. Esta magnifica catedral dedicada à Imaculada Conceição dá eloquente testemunho deste vosso amor filial. Desde há séculos, a nossa Mãe Bendita continua a ser a força do vosso Povo nos seus sofrimentos, e a sua amorosa intercessão tem sido para ele motivo de alegria.

Continuai a confiar-vos à sua protecção.

Continuai a ser fiéis ao seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, o Redentor do mundo.

E a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós.









VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM A COMUNIDADE RURAL DE SÃO PATRÍCIO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Igreja de São Patrício, Des Moines (Iowa)

4 de Outubro de 1979



Queridos irmãos e irmãs

É para mim grande prazer estar hoje aqui convosco, no centro da América, na graciosa igreja de São Patrício, nesta comunidade irlandesa. A minha viagem pastoral através dos Estados Unidos parecer-me-ia incompleta sem uma visita, embora breve, a uma comunidade rural como esta. Queria relembrar convosco algumas reflexões que esta comunidade faz despertar e que foram provocadas pelo encontro com as famílias que formam esta paróquia rural.

Proclamar Cristo e o seu Evangelho é a missão fundamental que a Igreja recebeu do seu Fundador e assumiu desde a alvorada do primeiro Pentecostes. Os primeiros cristãos foram fiéis à missão que o Senhor Jesus lhes deu através dos Apóstolos: Eram assíduos à pregação dos Apóstolos, às reuniões comuns, à fracção do pão e às orações (Ac 2,42). É isto o que todas as comunidades de fiéis devem fazer: proclamar Cristo e o seu Evangelho em comunhão com a fé apostólica, na oração e na celebração da Eucaristia.

Quantas paróquias católicas começaram como a vossa, ao principiarem as comunidades nesta região: uma igreja pequena, sem pretensões, ao centro de um grupo de casas de colonos, lugar e símbolo da oração e do encontro, coração de uma verdadeira comunidade cristã, onde as pessoas se podem conhecer, pôr em comum os seus problemas e dar testemunho juntas do amor a Jesus Cristo.

Nas vossas propriedades estais perto da natureza e de Deus; no vosso trabalho da terra seguis o ritmo das estações e nos vossos corações sentis-vos perto uns dos outros, como filhos de um Pai comum e como irmãos e irmãs em Cristo. Que privilégio poder adorar em conjunto a Deus, como vós nesta zona, celebrar a vossa unidade espiritual e ajudar-vos reciprocamente a enfrentar as dificuldades da vida. O Sínodo dos Bispos em Roma, em 1974; e Paulo VI, na sua Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, dedicaram notável atenção às pequenas comunidades onde é possível conseguir uma dimensão humana maior do que numa grande cidade ou numa metrópole convulsa. Fazei que a vossa pequena comunidade seja autêntico lugar de vida e evangelização cristã, sem vos isolardes da diocese ou da Igreja universal, sabendo que uma comunidade com rosto humano deve também reflectir o rosto de Cristo.

Estamos reconhecido a Deus pelas bênçãos que vos concede, e também pela bênção de pertencerdes a esta comunidade paroquial rural. O Pai celeste vos abençoe, abençoe cada um de vós. A simplicidade do vosso estilo de vida e a concórdia da vossa comunidade sejam terreno fértil para uma responsabilização crescente para com Cristo, Filho de Deus e Salvador do mundo.

Pela minha parte, agradeço ao Senhor a oportunidade que me deu de vir visitar-vos, e de O representar no meio de vós como Vigário de Cristo. Agradeço-vos as boas-vindas cordiais e terdes-me concedido a vossa hospitalidade, enquanto me preparo para o encontro com uma multidão de gente nas "Living Farms".

A minha especial gratidão ao Bispo de Des Moines pelo seu agradabilíssimo convite. Ele pôs em relevo muitas razões que tornam significativa a minha visita a Des Moines: cidade que é um dos maiores centros rurais deste país; sede da dinâmica e meritória "Conferência Católica para a Vida Rural", cuja história está tão intimamente ligada ao nome de um pastor e amigo da gente rural, Monsenhor Luis Ligutti; região que se distingue pelo esforço comunitário e pela actividade acerca da família; diocese que participa, juntamente com todos os Bispos católicos desta região, num esforço maior para a construção da comunidade.

A minha saudação e os meus bons votos também para todo o Estado de Iowa, para as Autoridades civis e para toda a população, que me reservou generosamente uma hospitalidade cordial.

Deus vos abençoe, pela intercessão de Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

VISITA À CATEDRAL DO SANTO NOME EM CHICAGO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II



Discursos João Paulo II 1979 - Quarta-feira, 3 de Outubro de 1979