Discursos João Paulo II 1979 - Sábado, 20 de Outubro de 1979

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO PRIMEIRO ENCONTRO


MUNDIAL DOS EX-COMBATENTES


Sábado, 20 de Outubro de 1979



Meus Senhores

Não é sem emoção que recebo hoje os participantes no "Encontro mundial dos Antigos Combatentes pelo Desarmamento". Representais aqui quase quarenta milhões de antigos combatentes, da resistência, de prisioneiros, vitimas da guerra; quisestes vir juntos a um encontro com o Papa. Este facto reveste profundo significado porque as vossas quatro Confederações, mundiais, que organizaram esta manifestação internacional em Roma, têm consciência de poder ajudar a humanidade a salvaguardar as condições da paz, a evitar um novo drama da guerra, e, por seu lado, a Igreja, também ela, procura, com todos os meios que lhe são próprios, promover o espírito da paz, educar para a paz.

Para vós, a vossa dolorosa experiência da guerra, o facto de lhe suportardes as consequências desde há mais de trinta anos e o modo realista e corajoso como reagis, dão-vos, mais do que a outros, o direito de testemunhar em favor da paz e de serdes escutados.

Infelizes das nações que perdessem a memória deste período trágico, das ameaças contra os direitos das pessoas e dos povos, das imprudências e dos erros que lhe abriram a porta, das feridas e dos extermínios sem precedentes que ela causou, dos impulsos corajosos que ela suscitou para se readquirirem as liberdades ou simplesmente o direito de existir.

Sim, as novas gerações devem sabê-lo, e felizmente vós ainda estais aqui para as advertir. Mas vós não vos contentais nem com estas recordações tristes, nem com estes graves avisos. Vós quereis contribuir para preparar outro clima. E por isso, apoiando-vos precisamente sobre o passado cujos estigmas trazeis, abristes-vos vós mesmos, e não sem mérito, a um espírito de compreensão e de fraternidade, não só entre velhos aliados, mas mesmo entre combatentes de campos ontem opostos; esforçastes-vos por superar o rancor e o ódio, conscientes da parte de ideologia, de preconceito racial, de agressividade e de espírito de domínio, mantidos artificialmente que cegavam uma grande maioria. São estas raízes envenenadas que vós quereis ver extirpadas. Quer dizer que a vossa abertura, o vosso sentido da igualdade e da fraternidade, o vosso desejo de intercâmbios e de colaboração recíproca para além das fronteiras, são bem mais profundos que um sonho idílico, e têm a particularidade de estarem aliados ao orgulho legítimo das vossas pátrias, do vosso património cultural nacional e da vossa história. A humanidade que vós desejais não é a de um nivelamento, é a humanidade em que cada povo é reconhecido na sua dignidade e nas suas capacidades de radiação pacífica.

O vosso contributo quer ser realista: para além dos bons sentimentos, que infelizmente são mutáveis e sujeitos a mudanças espectaculares, ao gosto das paixões populares e dos interesses dos agitadores, vós desejais que sejam estabelecidas, a nível internacional, garantias jurídicas para o tratamento humanitário dos prisioneiros e das vítimas da guerra, e mais em geral para o respeito dos direitos do homem em todas as ocasiões; que sejam asseguradas de forma nova a distensão entre os povos e a sua segurança. As Organizações internacionais reconheceram não só o vosso mérito, mas também a parte que a vossa prudência e a vossa experiência vos permitem oferecer aos projectos em curso. Certamente as condições de uma nova guerra generalizada e as ruínas que ela causaria seriam de extrema gravidade, infelizmente, muito além de tudo o que a vossa experiência vos levou a conhecer. Mais uma razão para esconjurar a todo o custo a ameaça; e o vosso cuidado de lutar pelo desarmamento não pode ser mais oportuno nem mais urgente.

Estes objectivos de paz vêm juntar-se aos que a Igreja não deixa de promover em dois níveis complementares.

Por um lado, junto dos países ou das Organizações internacionais, a Igreja, e em particular a Santa Sé, estão sempre prontas a contribuir, quando se lhes oferece oportunidade, para o aproximação das partes, para o estabelecimento de garantias efectivas de distensão, de paz na justiça e de desarmamento progressivo. Mas de modo mais geral, a Igreja procura alertar a consciência dos novos, a opinião pública, os responsáveis e todos os homens de boa vontade. Em nome das novas gerações tão gravemente ameaçadas, ela denuncia, desmitifica, como eu fiz recentemente em Nova Iorque perante os representantes das Nações Unidas, a espiral vertiginosa dos armamentos, que tem como pretexto a ameaça de inimigos potenciais.

Positivamente, a Igreja quer formar os espíritos para a verdadeira paz, mostrando-lhes os fundamentos seguros da mesma: o respeito dos direitos inalienáveis do homem, de todos os seus direitos, das suas liberdades fundamentais, da liberdade dos povos, e também dos seus deveres perante a desigualdade intolerável na repartição dos bens materiais sobre a terra. Mais profundamente ainda, a Igreja procura, mediante a força do Evangelho, arrancar do coração do homem os preconceitos perigosos, as raízes da agressividade, da violência, do ressentimento, do ódio, do orgulho, da inveja e do egoísmo — digamos: do pecado - que tornam o coração do homem tão duro para os seus semelhantes e causam tantas lutas inúteis e injustas. Seria necessário acrescentar: arrancar a mentira. Sem dúvida, aparentemente, toda a gente quer a paz: ninguém quer desacreditar-se declarando uma guerra ofensiva. Trata-se sempre — diz-se violados. É frequentemente uma parte da verdade. Mas quantas mentiras habilmente camufladas para desencadear conflitos de que antecipadamente se calcularam o interesse e o proveito! Só "a verdade é a força da paz", como o exprime o tema do próximo Dia Mundial da Paz.

Em toda esta obra de educação para a paz, a Igreja dirige-se com prioridade aos seus filhos, aos cristãos, e convida-os a eles próprios a uma humilde revisão de vida sobre estes pontos, a fim de que sejam coerentes com a caridade e a justiça de Cristo; exorta-os a rezarem pela paz e a perdoarem; educa-os a serem de muitos modos artífices de paz. Tal é o seu principal contributo, que é de ordem moral e espiritual, mas pode ter um grande im pacto social e mesmo político. Ela sabe que muitos homens de boa vontade são sensíveis a esta mensagem. É com eles, convosco, que ela quer continuar, com a graça de Deus, a servir a paz.

Mais uma vez obrigado; e Deus abençoe as vossas pessoas, as vossas famílias, todos os vossos companheiros de sofrimento, e cada um dos vossos países.



RADIOMENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


NA VIGÍLIA MISSIONÁRIA DE MILÃO


Sábado, 20 de Outubro de 1979



É-me grato dirigir-me aos numerosos jovens, reunidos na Catedral de Milão com o Cardeal Arcebispo Giovanni Colombo para uma Vigília Missionária, por ocasião do Dia Mundial das Missões.

Caríssimos, saúdo-vos a todos com a alegria de quem sabe ter em vós a garantia de uma Igreja sempre jovem, que, em nome de Cristo, Redentor do homem, quer pôr as próprias energias, novas e generosas, ao serviço das graves necessidades espirituais e materiais do mundo contemporâneo. Desde o dia do primeiro Pentecostes, a comunidade cristã tem sido sempre, por sua natureza, missionária, ou seja, propensa a sair dos próprios confins para propor a dar a todos os homens a palavra de salvação (Ac 13,26), para que tenham a vida, e a tenham em abundância (Jn 10,10).

Também vós, caros jovens, e não apenas os que, de entre vós, recebem esta noite o crucifixo das mãos do Arcebispo, sois convidados pelo Senhor a prosseguir esta admirável história de amor e doação, de factos e não de palavras. Só fazendo a experiência podereis descobrir a exaltante verdade das palavras de Jesus: Quem perder a própria vida por minha causa e por causa do Evangelho, há-de salvá-la (Mc 8,35). Por isso, eu peço ao Senhor por que as vossas orações e o vosso compromisso tragam fruto não só para as exigências missionárias da Igreja, mas também para vós mesmos, como protagonistas, em primeira pessoa, do mandato que Jesus nos deixou antes de subir ao Pai (Cfr. Mt Mt 28,19). E que a minha Bênção Apostólica seja para vós, além do sinal seguro da minha benevolência, estímulo paterno para uma vida inteiramente missionária.



VISITA PASTORAL AO SANTUÁRIO DE POMPEIA E NÁPOLES

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CHEGADA A POMPEIA


Domingo, 21 de Outubro de 1979



Ao pisar o solo abençoado desta Prelazia de Pompeia, onde surge o célebre Santuário da Bem-aventurada Virgem Maria do Santíssimo Rosário, desejo manifestar o meu profundo reconhecimento ao Senhor Presidente da Câmara delas belas palavras com que se fez intérprete da gentil disposição de alma dos habitantes de Pompeia e de quantos vieram aqui em peregrinação de toda a região da Campânia e das regiões vizinhas, impelidos pela presença do Papa e pela doce atracção que a Virgem Santíssima não deixa de exercer sobre os seus filhos devotos.

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

É-me grato encontrar-me no meio de vós e agradeço-vos vivamente o convite que me dirigistes, mediante o vosso zeloso Prelado, D. Domenico Vacchiano, para visitar esta antiga terra! Ela conheceu provas e calamidades naturais, mas também foi iluminada por muitos séculos de fé cristã, que deu à história mais recente nobres e fortes figuras de testemunhas do Evangelho, entre as quais a figura brilhantíssima do Venerável Bartolo Longo, inspirado fundador do Santuário.

Agradeço-vos sobretudo por terdes querido unir-vos a mim nesta importante circunstância que me permitirá dentro em, pouco ajoelhar-me diante do quadro venerado de Nossa Senhora do Rosário a fim de lhe exprimir o meu filial obrigado e renovar a minha confiança incondicionada, após a feliz realização da minha recente viagem apostólica à Irlanda e aos Estados Unidos, que eu havia confiado ao seu olhar materno.

Aqui, onde a voz e a obra de Maria ressoam para proclamar o louvor de Deus e anunciar a salvarão dos homens, dirijo um pensamento reconhecido a quantos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, se prodigam por que tão nobres intenções cheguem em plenitude à sua realização. Uma grata saudação vai também para todos aqueles que se dedicam às obras de beneficência que floresceram à sombra do Santuário para assistir e promover as classes menos favorecidas, isto é os pobres, os oprimidos e os marginalizados. Penso também nos asilos, nas escolas, nos círculos de recreio, nas oficinas e sobretudo no orfanato feminino e nos internatos para os filhos e as filhas dos encarcerados, que têm particular necessidade de compreensão humana e cristã. Oxalá a vossa actividade possa encontrar na piedosa e constante referência a Maria, o mais válido apoio e o mais eleito conforto!

Por meu lado, não deixo de rezar à Virgem do Rosário, para que vigie do seu Santuário sobre todos vós, habitantes deste vale de Pompeia, e vele sempre "pelas nossas famílias, pela Itália, pela Europa e pelo mundo", como suplicava o Venerável Longo.

É com estes sentimentos que vos abençoo ao prepararmo-nos para entrar no Santuário.



VISITA PASTORAL AO SANTUÁRIO DE POMPEIA E NÁPOLES

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS FIÉIS PRESENTES NO SANTUÁRIO


DE NOSSA SENHORA DE POMPEIA


Domingo, 21 de Outubro de 1979



Irmãs e Irmãos caríssimos!

Vim a este santuário, em espírito de fervorosa e humilde peregrinação, para venerar a Virgem Santíssima e para cumprir um voto quase secreto de piedade, de gratidão e de amor.

1. Saudei-A, antes de mais, a Ela, a Nossa Senhora, na venerada e prodigiosa imagem, que nos une a todos com aquela "doce cadeia" que é o santo rosário. Ela oferece-no-lo, propõe-no-lo, recomenda-no-lo como meio simples, humilde, mas rico e eficaz, de oração cristã.

Encontrei-me também brevemente com os meus irmãos no Episcopado, os vossos amados Pastores, a quem desejo renovar os meus sentimentos de estima e de gratidão pelo convite que me dirigiram.

A minha saudação dirige-se agora a todos vós, aqui presentes, que tendes a felicidade de desenvolver a vossa actividade ou de viver a vossa vida quotidiana sob o olhar amoroso e o sorriso materno de Nossa Senhora.

2. Antes de mais, a vós, caríssimos irmãos Sacerdotes, desejo dirigir-vos o meu aplauso e o meu encorajamento, que são aplauso e encorajamento da Igreja pelo vosso compromisso no ministério da pregação da Palavra de Deus, tão necessária ao homem do nosso tempo sempre em ansiosa e inquieta procura da verdade; depois, pela vossa entrega ao ministério do sacramento da Reconciliação, no qual tendes o altíssimo dever e a inefável alegria de poder dizer, como Jesus, às almas arrependidas: os teus pecados são-te perdoados (Cfr. Mt Mt 9,2); e, enfim, pelo ministério da oração, que encontra em vós os guias e animadores para as multidões de peregrinos que vêm a este Santuário. Sim! Porque este templo, dedicado a Nossa Senhora de Pompeia, é um lugar onde se reza, onde o homem vem num gesto de adoração e de súplica a Deus, Criador e Redentor; é um lugar onde se ouve religiosamente a Palavra de Deus. para que esta se torne luz no nosso caminho; é um lugar onde o homem reencontra o perdão do Pai celeste.

Reconheço quanto é, por vezes, duro e cansativo o vosso contínuo compromisso apostólico, quase sempre escondido e silencioso, mas conhecido só por Deus que saberá recompensar-vos com superabundância. Continuai com generosidade o vosso ministério, conscientes de serdes, nas mãos de Deus, instrumentos de salvação, portadores de paz e de serenidade para tantas almas.

3. A minha saudação dirige-se também a vós, caríssimas irmãs Religiosas, que perpetuais a extraordinária e espiritual herança do vosso Fundador, o venerável Bartolo Longo, a sua mensagem e os seus exemplos de fé e de caridade. Como se sabe, ele, impulsionado pela sua ardente devoção à Mãe de Deus, e confiando na divina Providência, iniciou, em Maio de 1876, a construção deste templo, hoje célebre em todo o mundo; mas, à volta do Santuário, quis criar também toda uma série de admiráveis obras educativas e caritativas, em particular em favor dos meninos e das meninas, que fizeram com que tal conjunto fosse definido como "a fortaleza viva da caridade". Na base de todas estas realizações, havia a convicção profunda, por parte do Venerável, que quem ama a Deus ama também o próximo (Cfr. 1Jn 4,21).

Portanto, na vossa consagração religiosa, vivei o amor para com Deus, a quem consagrastes toda a vossa vida, todo o vosso coração, toda a vossa vontade; mas vivei também, e não menos intensa e concretamente, o amor para com os irmãos necessitados, sobretudo os mais pequeninos, com generosa disponibilidade e com imensa alegria, conscientes de que quem ama o próximo cumpriu a lei (Rm 13,8).

4. A vós, meninos e meninas, que passais serenamente a vossa infância junto à Virgem Santíssima, dirijo-vos a minha afectuosa e paterna saudação. Vós sabeis como Jesus prefere os pequeninos! Estes, fascinados pela sua palavra e pela sua personalidade, manifestavam-Lhe com exuberância o seu afecto; e Jesus queria estar com as crianças, não permitia que os Apóstolos as afastassem d'Ele. Deixai vir a mim as criancinhas — dizia ele — e não as impeçais, pois das pessoas semelhantes a elas é o reino de Deus (Lc 18,6). Também o Papa, como Jesus, vos ama muito, se confia às vossas orações e, hoje, neste encontro, vos diz: Sede sempre amigos fiéis e sinceros de Jesus; estudai os seus exemplos, a sua vida, os seus ensinamentos, contidos no Santo Evangelho. Mas ser amigos fiéis e sinceros de Jesus significa segui-1'O, pôr em prática, todos os dias, ó que Ele disse. Sereis então verdadeiramente felizes, porque cristãos exemplares e bons cidadãos.

5. Não posso, por fim, deixar de saudar e de exprimir o meu apreço aos empregados da tipografia do "Avvenire". Obrigado, antes de mais, pelo precioso trabalho que desenvolveis para fazer chegar com prontidão a toda a Itália um quotidiano que pretende informar objectivamente sobre os acontecimentos e, outrossim, formar os próprios leitores segundo urna perspectiva cristã. Deste modo colaborais numa verdadeira acção de apostolado, bem meritória junto do Senhor. Dai sempre um límpido e generoso testemunho de fé na família e na sociedade, com urna continua coerência entre as ideias e a vida.

Sobre todos vós, caríssimos irmãos e irmãs, invoco a celeste protecção de Maria Santíssima e dou-vos. do coração, a minha Bênção Apostólica.

Amen.



VISITA PASTORAL AO SANTUÁRIO DE POMPEIA E NÁPOLES

PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS DOENTES DEPOIS DA ORAÇÃO DO TERÇO


NO SANTUÁRIO DE POMPEIA


Domingo, 21 de Outubro de 1979



Caríssimos irmãos e irmãs!

Já sabeis que o Papa, à imitação daquele Jesus de quem é Vigário na terra, tem predilecção pelos enfermos e pelos que sofrem. Considera esta sua particular atenção como um dos deveres mais altos do seu ministério pastoral. Desejei, por isso, este encontro para vos estreitar num único vínculo de paterna efusão, para vos falar de coração a coração, para vos deixar uma mensagem de fé, para vos dizer uma palavra de encorajamento e de esperança.

1. O homem, criado por Deus e por Ele elevado à sublime dignidade de filho, traz em si um anseio insuprimível de felicidade e sente natural aversão por toda a espécie de sofrimento. Jesus, porém, na sua obra evangelizadora, embora enclinando-se sobre os enfermos e os doentes para os curar e os consolar, não suprimiu o próprio sofrimento, mas quis submeter-se a toda a dor humana possível — moral e física — na sua paixão até à agonia mortal no Getsémani (Mc 14,23), até ao abandono do Pai no Calvário (Mt 27,46), à longa agonia, à morte de Cruz. Por isso declarou bem-aventurados os que choram (Mt 5,4) e os que têm fome e sede de justiça. A Redenção realiza-se concretamente mediante a Cruz!

Esta atitude de Jesus revela um profundo mistério de justiça e de misericórdia, que nos envolve a todos, e pelo qual todo o homem é chamado a participar na Redenção.

Eis aqui, caríssimos doentes, o primeiro motivo que torna mais generosa e eficaz a vossa fé. Vós podeis dizer, segundo os exemplos do Salvador: nós somos o sinal da alegria futura que unirá Deus e os seus filhos, no dia em que enxugará as lágrimas de todas as faces (Is 25,8); o nosso sofrimento prepara-nos para acolher o reino de Deus e consente nos revelar as obras de Deus (Jn 9,3); a glória de Deus e a do Filho de Deus (Ibid 11, 4); o nosso sofrimento não só não é inútil, mas demonstra-se, à semelhança do sofrimento do divino Mestre, preciosa energia de fecundidade espiritual. Não são em vão os nossos sacrifícios, não é desperdiçada a nossa existência, desde o momento em que, como cristãos, não somos já nós que vivemos, mas é Cristo que vive em nós (Cfr. Gál Ga 2,20); os sofrimentos de Cristo são os nossos sofrimentos (Cfr. 2Co 1,5); o nosso sofrimento configura-nos a Cristo (Cfr. Flp Ph 3,10), e como Jesus apesar de Filho, aprendeu a obedecer, sofrendo (He 5,8) também nós devemos aceitar a prova com constante porfia, mesmo se dura, erguendo os nossos olhos para Aquele que é a Cabeça da nossa fé e que, todavia, quis suportar a Cruz (Cfr. ibid. 12, ).

E dado que o mistério da Redenção de Cristo é, na sua essência, um mistério de amor e de vida divina, enquanto manifestação da caridade do Pai que amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único (Jn 3,16); e é, ao mesmo tempo, a expressão do amor do Filho ao Pai e aos homens (Ibid. 10, 11; 1Jn 3,16), é-vos oferecida a extraordinária ocasião de atingir o vértice das possibilidades humanas: saber aceitar e querer suportar a enfermidade e as dificuldades que a acompanham, como um dom de amor sublime e abandono total à vontade do Pai.

2. Esta visão transcendente de valores sobrenaturais não faz esquecer os valores físicos e psicológicos do vosso corpo. Mesmo atingido pela doença, ele traz consigo a marca do poder criador de Deus; não foi ofuscada a sua imagem; através da graça santificante que o reanima, é sempre o templo misterioso de Deus; mais, pela promessa de Jesus, é habitação da Santíssima Trindade (Jn 14,23).

Sede de forças espirituais — a inteligência, a vontade e o livre arbítrio —, o corpo do homem, mesmo na sua imobilidade, acompanha a alma nas suas ascensões de amor e pode comparar-se a um altar preparado para o Sacrifício.

3. Conscientes de tamanha riqueza sobrenatural e dos muitos dons de Deus, elevai-Lhe, caríssimos enfermos, o vosso coração e o vosso pensamento.

Contempla-vos do seu Santuário, nesta vossa mística ascensão, Nossa Senhora do Rosário, e convida-vos a meditar os seus mistérios, especialmente os dolorosos que resumem todos os momentos da paixão e morte do seu divino Filho. Ela, que é a mãe de todos os homens, é-o de modo particular daqueles que, como vós, tomam parte no cumprimento do que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu corpo que é a Igreja (Cfr. Col Col 1,24).

Com estes sentimentos de edificação e com a minha saudação cheia de afecto paterno, é para mim motivo de grande satisfação conceder-vos a vós, às vossas respectivas famílias, e a todos, médicos, enfermeiros e seus colaboradores, que contribuem para vos curar e assistir, a minha propiciadora e confortadora Bênção Apostólica.



VISITA PASTORAL AO SANTUÁRIO DE POMPEIA E NÁPOLES

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CHEGADA À NÁPOLES


Domingo, 21 de Outubro de 1979



Dirijo a minha saudação e o meu aprazimento ao Senhor Ministro do Trabalho, Doutor Vincenzo Scotti, pela homenagem que, na sua qualidade de representante do Governo Italiano, quis expressar-me à minha chegada a esta grande e querida Metrópole. Com profundo respeito apresento, também, os devidos agradecimentos ao Senhor Presidente da Câmara Municipal que, como primeiro cidadão, quis antecipar e gentilmente interpretar, com expressões respeitosas e sinceras, os sentimentos de cordial acolhimento e de alegria de toda a população.

Depois da visita de piedade a Pompeia, cidade mariana e ponto de convergência das mais íntimas aspirações das gentes do Sul da Itália — e não apenas dessas —, onde me desloquei para prestar o meu tributo de homenagem à Mãe de Deus, que me acompanhou com o seu amoroso patrocínio na minha recente viagem à Irlanda e aos Estados Unidos da América, não podia faltar um encontro com Nápoles e com os seus filhos aqui representados pelos Responsáveis da vida citadina e do seu recto ordenamento.

Venho a esta cidade e é-me grato deter-me com estes fiéis para me sentir mais próximo deles, para estar no meio deles, para lhes auscultar directamente as ânsias e os desejos. Com coração de Pastor, investido de directa e universal responsabilidade em relação a cada um dos filhos da Igreja, melhor, a cada um dos homens, dou-me conta do dever urgente e preponderante de me aproximar das diversas comunidades. para continuar o ministério de uma catequese itinerante, que seja oferta convincente da Palavra de Deus, das suas propostas de amor, e convite a depor cada vez maior confiança na sua Providência.

Esperei, portanto, com emoção, este encontro com os Napolitanos, depois de ter confiado à Rainha do Rosário e das Vitórias as suas mais profundas expectativas e as das suas famílias.

Nápoles é uma cidade rica de história, que se estende por cerca de três milénios, desde os alvores da civilização grega até à inclusão fecunda e mais que secular na unificada estrutura da Nação italiana; é cidade rica de vida, que pulsa ardente e vigorosa na inteligência, no dinamismo e na bem conhecida e viva imaginação dos seus filhos; é cidade agitada por profundas esperanças num futuro pacífico, correspondente aos postulados fundamentais da justiça e da dignidade do homem.

Mas — como referiu com motivada solicitude o Senhor Presidente da Câmara — a Metrópole partenopeia é também uma comunidade com sofrimentos escondidos ou patentes, inerentes a problemas graves e urgentes, cuja não solução comporta propaladas dificuldades e profundos dramas humanos.

Particularmente sensível e atenta a tais sofrimentos, a Igreja, em correspondência às exigências específicas da sua missão, e no âmbito da própria competência espiritual, quer cooperar na edificação do bem comum, chamando a atenção, antes de mais, para os princípios de ordem moral, cuja observância é insubstituível e primeiro garante de uma convivência próspera. A ajuda de Deus conceda a sabedoria e a força de espírito para resolver adequadamente os problemas mais árduos; confirme os propósitos de leal e operosa concórdia; faça resplandecer todas as virtudes que se requerem de fervorosos e honestos administradores do bem público, para exemplo dos cidadãos e conforto da própria consciência.

O Papa está aqui para encorajar, para convidar a não perderdes a esperança, mas antes a olhardes em frente com confiança. Imbuído de convicções de esperança, cumpra cada um, com coragem, o seu próprio dever, na certeza de que tal atitude traz consigo dons copiosos e os auxílios da assistência divina, de que a minha Bênção quer ser premente invocação e voto fervoroso.



VISITA PASTORAL AO SANTUÁRIO DE POMPEIA E NÁPOLES

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS NAPOLITANOS


Domingo, 21 de Outubro de 1979



Caríssimos irmãos e irmãs de Nápoles

1. Devo exprimir, antes de mais, um vivo agradecimento ao Cardeal Arcebispo pelas nobres palavras de boas-vindas que se aprouve dirigir-me em nome de toda a Comunidade eclesial desta nobilíssima Terra. Mas logo em seguida desejo saudar e agradecer a cada um de vós, por terdes aqui acorrido em tão grande número reservando-me um acolhimento particularmente caloroso, rico daqueles sentimentos de espontaneidade, de afecto, de calor humano, que em todo o mundo tornaram conhecido o vosso nome e fazem amar o vosso povo pela sua típica tradição de hospitalidade. Também neste encontro de hoje — e é com profunda convicção que o digo — se revelou o coração grande e generoso de Nápoles!

E, eis, que eu me pergunto e vos pergunto: como poderia eu deixar de fazer uma paragem entre vós? Como poderia privar-me do prazer de vos falar e abençoar? Indo em peregrinação ao vizinho Santuário mariano de Pompeia, senti o dever de visitar a vossa cidade, em recordação, sim, de precedentes contactos, mas sobretudo em resposta aos convites e às expectativas repetidamente chegadas até mim neste primeiro ano do meu ministério pastoral.

2. Fiz já menção da tradição: que significa e implica esta palavra aqui em Nápoles? Ela é certamente evocativa de uma história antiquíssima, que remonta à primeira "Paléopolis": digo as vicissitudes plurisseculares de uma Cidade que viu florescer no seu interior, como na circunstante Região da Campânia, diversas culturas e filosofias, as artes e as letras, a música e o canto, sob o signo de uma civilização, que o murado ainda hoje vê com admiração. Mas vós compreendeis muito bem que, ao dizer tradição, eu aqui entendo sobretudo aquela tradição religiosa cristã, que nos foi admiravelmente testemunhada desde a chegada do Apóstolo Paulo ao vizinho golfo de Pozzuoli, quando estava em viagem para Roma. Mais, tendo em conta o explícito testemunho dos Actos dos Apóstolos (28, 14), ele encontrou aqui alguns "irmãos" e, a pedido deles, deteve-se por sete dias. Precisamente esta confirmada presença dos cristãos nos inícios dos anos Sessenta da nossa era, e a legítima dedução de que não pôde, de certo, ser estéril de frutos espirituais a permanência entre eles do "Doutor das Gentes" são um facto que me leva a definir como literal e autenticamente "apostólica" a vossa fé, à qual, depois, o ininterrupto contacto com a Igreja de Roma, no decurso dos séculos, conferiu ulterior desenvolvimento e compacta solidez. Nápoles não conheceu nunca separações nem dilaceramentos na sua profissão cristã.

É esta a razão, filhos e irmãos da Igreja "apostólica" partenopeia, pela qual eu desejo, em primeiro lugar, exaltar o vosso património religioso e, ao mesmo tempo, exortar-vos à coerência da fidelidade e à coragem do testemunho. Os tempos estão inegavelmente mudados, e provavelmente são novas as dificuldades e mais insidiosos os perigos com que a fé hoje se depara. Por isso, é necessário um maior esforço, preocupado não apenas em conservar aquilo que uma alta tradição de Pastores e de Santos, de gente humilde e ilustre, de homens e de mulheres vos transmitiu exemplarmente, mas em reavivar, também, uma tal herança e traduzi-la em obras de claro cunho cristão. A fé — sabei-lo bem — se não produz obras, está morta em si mesma (Jc 2,17).

3. Mas devo também elogiar a preparação espiritual que a comunidade diocesana quis efectuar antes do presente encontro com o humilde Sucessor de Pedro, que agora vos fala. Sei, de facto, que ontem à noite houve uma especial vigília de oração sobre o tema "A Igreja em caminho".

E o meu contentamento é tanto mais sentido, enquanto a uma tal iniciativa de piedade se adapta bem o objectivo escolhido para a reflexão: vós rezastes pelo Papa, segundo as suas intenções que têm uma dimensão universal; rezastes pelo peso enorme de responsabilidade que grava sobre os seus ombros, e juntamente — como confirmação deste vínculo de comunhão com Ele — procurastes tomar maior consciência das vossas responsabilidades pessoais como sacerdotes, religiosos, pais e fiéis. Sim, a Igreja deve caminhar porque é um organismo vivo, é o corpo de Cristo animado pelo seu mesmo Espírito. Mas ela só caminha se se moverem não apenas os Pastores, mas todas as ovelhas do místico rebanho; ela caminha, quando se deixa mover pela força interior que lhe imprime o seu Fundador. Privilegiando o momento da oração, vós quisestes confirmar que a condição preliminar e indispensável, ou seja o elemento propulsor para, que este caminho eclesial se realize, é e continua sempre a ser a ajuda de Deus, que só se pode obter com a oração.

Com esta mesma finalidade rezastes também agora, enquanto esperando a minha chegada, participastes na Liturgia dominical, presidida peio vosso Arcebispo. Devo, porventura, recordar que precisamente mediante a liturgia — como escreveu o Concílio Vaticano II —, "se dá a obra da nossa redenção", e que ela "contribui no mais alto grau para que os fiéis, pela sua vida exprimam e manifestem aos outros o mistério de Cristo" (Const. dogm. Sacrosanctum Concilium SC 2 Sacrosanctum Concilium )? A razão do caminho da Igreja na história, ao lado de todos os homens e de cada homem, não consistirá em exprimir a nível pessoal e em apresentar aos outros o mistério de Cristo qual desígnio inefável de amor e de salvação? Continuai, pois, a rezar com a Igreja e pela Igreja, a fim de que rápido e seguro seja o seu caminho, e estável a sua união, com Cristo, e certa a sua chegada à meta. Estar com a Igreja quer dizer estar e permanecer com Cristo em Deus (Col 3,3).

4. Na liturgia de hoje encontra-se um pensamento que me apraz sublinhar porque me permite integrar o que vos disse até agora acerca do valor da fé e da fidelidade à Igreja. O Filho do homem — dizia Jesus intervindo numa discussão surgida entre os seus discípulos — não veio para ser servido mas para servir e dar a própria vida em resgate de muitos (Mc 10,45). Não a dominação sobre os outros, mas o serviço, não o poder sobre os irmãos, mas a vontade de os ajudar: eis uma outra virtude que qualifica o verdadeiro cristão. Por isto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros (Jn 13,35). Desta virtude que em base ao vocabulário evangélico chamamos amor do próximo, vós, cidadãos de Nápoles, encontrais à vossa frente exemplos insignes, nos quais deveis reparar, nos quais vos podeis frutuosamente inspirar. Quantos tesouros de genuína caridade cristã não revelam as páginas da vossa vida religiosa? Quantos foram os Santos e os heróis da caridade, não raro escondidos, que o Senhor suscitou nas várias idades no meio de vós, para o socorro dos pobres, para a assistência aos órfãos e às crianças abandonadas, para alívio dos doentes incuráveis, para uma intervenção sempre imediata, e muitas vezes preventiva perante a miséria que improvisamente se manifestavam? O quadro luminoso da caridade cristã, florescida aqui, no passado, sob mil formas, constitui um precioso ponto de referência e um estimulo que vos solicita a 'continuá-la e a incrementá-la, segundo as constantes ou novas exigências dosa nossos dias.

5. Falo — como é fácil perceber — da urgência de desenvolver este espírito de serviço, que o Senhor Jesus não só reivindicou para si mesmo, mas que recomendou como "seu" preceito a todos os seus e, portanto, também a nós. Falo do exercício da caridade para com o próximo que, no contexto do supremo mandamento do amor, é a prova concreta da caridade para com o outro termo: Deus. Mas, ao dizer isto, não ignoro, de certo, nem menosprezo a importância e a gravidade dos problemas da justiça. Como poderia eu, aqui em Nápoles, fechar os olhos diante de algumas dolorosas realidades, que se chamam incerteza de vida pela falta de trabalho e, por consequência, escassez de pão, perigo de doenças, alojamentos inadequados, um estado de crise difusa para algumas das camadas sociais? Esta situação — acreditai-me — toca-me profundamente o coração e, se me referi ao exercício mais activo e concreto da caridade fraterna, é porque pretendo estimular aquelas forças espirituais e morais que podem, aliás, devem pôr em movimento simultaneamente a justiça social. Caridade e justiça não estão em oposição, nem se anulam mutuamente: a caridade, primeiro dever de todo o cristão, não só não torna supérflua, mas requer e completa a justiça, que é a virtude cardeal para todo o homem. A 2 de Outubro, diante da Assembleia das Nações Unidas, eu quis reafirmar que a paz depende da honesta actuação dos direitos do homem, como já afirmara o meu predecessor João XXIII, na Encíclica Pacem in terris. Vós sabeis como estes direitos têm uma dupla dimensão, na medida em que o homem vive "contemporaneamente no mundo dos valores materiais e dos valores espirituais. Para o homem concreto que vive e espera, as necessidades, as liberdades e as relações com os outros nunca correspondem apenas a uma só das esferas de valores, mas pertencem a ambas as esferas" (Pacem in terris PT 14). Pelo que também "qualquer ameaça aos direitos humanos, quer no âmbito dos bens materiais quer no dos bens espirituais, é igualmente perigosa para a paz, porque diz sempre respeito ao homem na sua integralidade" (Cfr. ibid.17 e 19).

Uma vez mais, portanto, quero desejar a paz a todas as Nações e Países do mundo e, já que falo em terra italiana, quero desejar a paz também à dilecta Itália, que amo como uma segunda pátria. Desejo a todas as Nações a paz interna, que quer dizer superamento das tensões exasperadas e renúncia à prática sempre reprovável da acção violenta e terrorística. Como disse recentemente, "a paz não pode ser estabelecida pela violência, a paz não pode nunca expandir-se em clima de terror, de intimidação e de morte" (Homilia em Drogheda, 29.9.79). A violência, de facto, é um mal, é inaceitável como solução dos problemas; é indigna do homem. O sentido cristão dos valores deve convencer-nos que é absurdo recorrer à violência para alcançar a paz e a justiça.

A minha visita a Nápoles coincide com a peregrinação ao Santuário de Pompeia, onde fui para dar graças pela última viagem apostólica e pedir que ela produza abundantes frutos de bem, especialmente para que sejam reforçadas as bases mesmas da paz e da ordem no mundo. Esta finalidade espiritual da viagem torna-a extensiva ao presente encontro convosco, queridos cidadãos de Nápoles. Sim, também diante de vós e convosco eu rezo, repito, pela paz interna da amada Itália e faço-o por uma íntima exigência do coração para com esta terra abençoada pelo Senhor. Recordemos que a "luta pela justiça", conduzida segundo uma concepção unilateral, pode tornar-se fonte de uma injustiça maior e resolver-se numa mais pesada ameaça para toda a vida social. Portanto, será necessário que todos se empenhem, com particular intensidade, a fim de obter esta paz interior, e dirijo este convite a todos os homens responsáveis, incitando-os a esta obra de primária necessidade. Trata-se, de facto, do bem de todos.

6. O apelo que eu dirijo, em primeiro lugar, aos filhos da Igreja, mas também a todos os homens de boa vontade, às Autoridades religiosas e civis, é o de redobrarem os esforços, para que certas situações de penúria e de dificuldade, que injustamente atingem e fazem sofrer tantos irmãos, sejam, felizmente superadas em espírito de concórdia e de colaboração.

Ao propor-vos como objectivo imediato e primário um tal empenho de solidariedade operosa, quero confiar-vos que era precisamente a isto que eu pensava ao aceitar o vosso convite, e que considerarei, portanto, como o fruto mais confortante da minha visita o ter contribuído — ainda que em medida modesta — para estimular e apoiar as necessárias iniciativas a empreender. Nápoles, de facto, merece este especial interesse; Nápoles exige uma directa solicitude; Nápoles tem necessidade de esperar: falo da esperança no seu modo de vida, no seu futuro, falo da esperança também em sentido humano e civil, a qual — tal como o binómio justiça e caridade — é indissociável da esperança mais elevada que, na luz de Deus, sorri à vida cristã.

Coragem, pois, irmãos e amigos de Nápoles! Quero ser eu o primeiro a esperar, desejando e desejando-vos que, com a ajuda do Senhor providente, com o esforço coordenado e dedicado dos bons, na fidelidade a toda a prova aos valores cristãos, possa desenhar-se no horizonte desta fascinante Cidade um período de mais vigoroso desenvolvimento para um futuro feliz e sereno, em tudo digno do seu grande passado. E quero concluir este meu voto, invocando para vós a celeste protecção da Virgem Santa, aqui venerada sob o belo título de Nossa Senhora do Carmo. Com Ela invoco o patrocínio dos Santos a vós mais queridos: São Januário, Santo Afonso Maria de Ligório, o Beato José Moscati e o Venerável Bartolo Longo, enquanto de todo o coração vos dou a minha Bênção Apostólica.




Discursos João Paulo II 1979 - Sábado, 20 de Outubro de 1979