Discursos João Paulo II 1980 - 14 de Janeiro de 1980

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS REPRESENTANTES DO INSTITUTO CULTURAL DE PESCIA (ITÁLIA)


Quarta-feira, 23 de Janeiro de 1980



Ilustres Senhores, caros Irmãos e Irmãs

É-me grato dirigir-vos a minha cordial saudação, a vós que, juntamente com o Bispo de Péscia, D. Giovanni Bianchi, quisestes fazer-me uma agradável visita de homenagem e devoção.

Sei que representais o grupo promotor do "Instituto Universitário internacional Coluccio Salutati" de Letras e Ciências, que surge em Péscia para a formação cultural de jovens de todas as classes e proveniências; faço votos por que ele possa sempre prestar um bom serviço para a preparação científica de dirigentes no campo internacional.

Todos sabemos quanto hoje é necessário um sério nível de estudos, para enfrentar a complexidade dos problemas apresentados pela sociedade contemporânea, baseada em altas especializações. É igualmente importante, porém, que tudo isto se conjugue com bom património de sabedoria interior, feito de maturidade humana e sensibilidade cristã. .

Tudo isto me apraz desejar ao novo Instituto, para que ele seja e cresça cada vez mais como verdadeira forja de homens integrais e de cristãos autênticos. E com estes votos, é-me grato conceder a particular e propiciadora Bênção Apostólica ao Bispo que acolheu tal iniciativa na sua Diocese, a todas vós e àqueles que dignamente representais, aos vários Responsáveis e Professores do Instituto e, especialmente, aos jovens que, esperançosos, lhe confiarão a própria formação.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE CADETES DA MARINHA ARGENTINA


Quinta-feira, 24 de Janeiro de 1980



Amadíssimos filhos

É para mim causa de grande alegria encontrar-me convosco, que tendo terminado recentemente os estudos na Escola Prefeitura "General Matias de Irigoyen", vos preparais para servir a Nação como Oficiais subalternos da Marinha argentina.

Espero que o vosso serviço, no cumprimento fiel das incumbências diárias, seja informado pela vocação cristã, em sintonia com as nobres tradições do povo argentino. Conscientes de formar parte da comunidade humana, ireis esforçar-vos por dar vida a essa vocação, colaborando em construir uma paz activa e total, fruto do respeito pelos direitos fundamentais da pessoa e da convivência social. Não vos esqueçais que esta é possível quando há aceitação de uns valores que transcendem os limites do temporal; urge portanto levar à prática os valores espirituais do amor. Tende sempre presente no mais profundo do coração que a paz é possível quando os homens amam e buscam a verdade.

Termino estas palavras, dizendo-vos com o Apóstolo São Paulo: Se é possível, vivei em paz, quanto de vós depende, com todos os homens (Rm 12,18). A vós, às vossas famílias e a todos os amadíssimos argentinos concedo de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS CAPELÃES MILITARES DA ITÁLIA


Sala Clementina

Quinta-feira, 24 de Janeiro de 1980



Excelência Reverendíssima Caríssimos Sacerdotes

É a primeira vez que todos os Capelães Militares da Itália se reúnem em Roma e vêm à Audiência do Papa. Por isso, é este verdadeiramente um momento histórico, comovedor e importante para vós, e também para mim.

Grande é a minha alegria e o conforto que recebo ao encontrar-me convosco. Agradeço portanto de coração ao Ordinário Militar, Dom Mário Schierano, como vos agradeço a vós este ano de profunda dedicação à minha pessoa.

Com afecto saúdo cada um de vós, caros Capelães Militares, e expresso-vos o meu sincero agrado e o meu apreço mais cordial pelo trabalho que realizais, com sacrifício e empenho, em favor das Forças Militares nas unidades territoriais do Exército, nos Corpos da Aviação, nos departamentos marítimos e nas Especialidades dos Carabineiros, da Polícia e da Guarda Fiscal. O vosso esforço pastoral merece o aplauso e a compreensão de todos.

E saudando-vos a vós, aqui presentes, pretendo também abranger com o meu afecto todos os ex-Capelães Militares, que exauriram a sua vida sacerdotal neste importante sector, e particularmente aqueles que durante o último terrível conflito, em todos os exércitos combatentes, acompanharam os seus soldados, com a angústia no coração por tanta carnificina, tão injusta e cruel, confortando-os nos campos de batalha e de prisão. E elevam-se também um pensamento reverente e uma oração de sufrágio fraterno pelos numerosos Capelães, caídos no cumprimento do próprio dever, vítimas também, ao lado dos jovens que lhes estavam entregues.

Queria que levásseis a minha saudação a todos os jovens da Itália, de que vos aproximais e a quem seguis e amais durante o serviço militar. Tornai-vos intérpretes do afecto e da bênção do Papa. Dizei a todos que o Papa os ama e deles se lembra nos seus cuidados e na sua oração.

Caros Capelães Militares: terminastes longo ciclo de actualização sobre os temas da "promoção humana", da "família" e da "catequese", argumentos de importância essencial, e alegro-me sinceramente com a vossa boa vontade e o vosso esforço.

1. Imagino, primeiro que tudo, as vossas dificuldades. Toda a vida sacerdotal as tem; mas pode-se dizer que a vossa é particularmente difícil, sobretudo na actual situação da sociedade: dificuldades na aplicação de um plano pastoral orgânico; dificuldades de aproximação e contacto com cada jovem; dificuldades pela heterogeneidade dos ambientes; dificuldades na consecução dos fins propostos e na superação das desilusões que não podem faltar; dificuldades também pelas especiais condições ideológicas e psicológicas em que se encontram de modo particular os jovens, perturbados e oprimidos pelo tumulto incessante dos acontecimentos.

Também vós tendes necessidade de compreensão, também vós sentireis às vezes o drama da solidão. Pois bem: ficai sabendo que podeis contar com a minha amizade e com a minha oração. Entre tantas ansiedades que invadem a mente e o coração do Papa, figurais também vós, Capelães Militares da Itália. Sigo-vos e acompanho-vos, como o fazem também os vossos Bispos e os vossos Superiores. Mas sobretudo exorto-vos a que mantenhais viva e alta a coragem e a certeza: chamados pela Providência a prestar um qualificado serviço sacerdotal, a vossa vida é bem empregada, embora não tenhais sempre a consolação de ver a eficácia e os resultados do vosso ministério. Tendes a alegria de servir a Cristo e à humanidade como Capelães Militares, imitando Jesus que encheu de graça e amizade o Centurião romano também. A vós de modo especial repito as famosas palavras de São Paulo aos Efésios: Fortalecei-vos no Senhor, pelo Seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir... Ficai firmes, tendo os vossos rins cingidos com a verdade, revestidos com a couraça da justiça, e os pés calçados, prontos para ir anunciar o Evangelho da paz. Empunhai sobretudo o escudo da fé... Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Orai, além disso, sem parar... Perseverai nas vossas vigílias com preces (Ep 6,10 Ep 6,14-18).

2. O encontro hodierno deve ser também estímulo para cumprirdes cada vez melhor o encargo a que fostes chamados. Além do pessoal estável nos vários sectores das Forças Armadas, estão-vos confiados nada menos de 350.000 jovens, que todos os anos passam pelos quartéis da Itália. Grande responsabilidade tendes sem dúvida, porque a Igreja, cada família, os Superiores e os jovens mesmos têm confiança em vós, e de vós esperam luz, guia, fortaleza espiritual e sólido ponto de referência. Sentis profundamente esta responsabilidades; mas experimentais também a alegria de poder anunciar Cristo e a Sua mensagem salvífica a tantos jovens que, talvez entre sofrimentos íntimos, estão em fase de busca e de escolha.

O jovem, chamado ao serviço militar no período mais delicado e importante da sua existência, tem psicologia própria: encontra-se de improviso afastado do próprio ambiente natural e normal, e dos seus hábitos de vida, e por isso logicamente sente-se sozinho, amargurado e temeroso, e sente a necessidade de grande esforço de vontade para aceitar o novo género de vida. Além disso, obrigado a um ritmo de acções diversas ou contrárias aos seus gostos, entre pessoas desconhecidas e diversas por mentalidade e temperamento, sente-se impelido a afastar-se dalgum modo, para manter a personalidade e encher o vazio afectivo e a solidão que o afligem, e entrega-se às vezes a experiências deletérias; e tomando contacto com outros modos de pensar e viver, pode sofrer também violentas crises espirituais. Ora, vós sois chamados a estar perto destes jovens, em momento tão delicado; podeis conhecê-los, amá-los e esclarecê-los. Eles precisam da vossa amizade e do vosso afecto.

3. Em particular, em que deve consistir esta amizade, este afecto?

— Deve ser, primeiro que tudo, delicado e respeitoso. Numa sociedade tão manifestamente pluralista e autónoma, é necessário haver compreensão para com todas as exigências. Procurar compreender para melhor poder amar, não significa justificar; significa só obter a confiança, abrir as portas à simpatia recíproca, criar relações de amizade, propor caminhada a dois por esse trajecto de estrada. Requerem-se para isso grande paciência, grande sentido de equilíbrio e uma maturidade já conseguida.

— O vosso afecto deve ser clarividente. Nunca tanto como hoje sentiu o jovem a necessidade de certeza acerca do significado autêntico da vida e do destino dela. Nunca tanto como hoje sentiu o jovem a necessidade de convicções pessoais, provadas e demonstradas, para se poder encontrar em absoluta segurança com Deus, com Cristo e com a Igreja, apesar das alternativas da história e das variações nas ideologias. E necessária para isso boa Apologética, explicação exaustiva dos "preâmbulos da fé", que dissipe as trevas do erro, dos preconceitos e da confusão. Sede portanto sempre claros e lógicos em anunciar sem temor a verdade toda.

— O vosso afecto, por fim, deve ser sempre formativo. Fazei que seja conhecido e amado Jesus Cristo, seja compreendida e afiada a vida da graça, e a perspectiva eterna e responsável da existência humana. Toda a atitude de desvergonha ou mundanismo, de crítica ou indiferença, banalizam a vida sacerdotal e tiram-lhe o valor de testemunho. Mostrai-vos sempre conscientes da vossa dignidade de ministros de Cristo, e, com o auxílio dos jovens já amadurecidos e formados, procurai criar outro tipo de mentalidade, que espiritualize e eleve todo o ambiente.

Caros Capelães Militares:

Hoje festejamos S. Francisco de Sales, cujos ensinamentos, como disse Paulo VI de veneranda memória, são "muito apropriados às necessidades do nosso tempo" (Carta Apostólica Sabaudiae Gemma, de 6 de Janeiro de 1967), e apraz-me concluir deixando-vos um pensamento do Santo. Recordai-vos do que ele escrevia na Introdução à vida devota? É erro — dizia —, é mesmo heresia querer expulsar a vida devota do quartel dos soldados, da oficina dos artistas, da corte dos príncipes e da vida familiar dos casados" (Introdução à vida devota. I Parte, c. II). Mas, para conseguir esta vida de fé e de graça, todos precisam de um director espiritual em que depositem "confiança absoluta e sagrada reverência... Este guia espiritual deverá ser como um anjo... Deverá estar cheio de caridade, ciência e prudência" (Ibid., c. IV). Sede vós os "anjos" visíveis para os jovens que vos estão confiados.

Ajude-vos a intercessão do Santo Doutor da Igreja. Faça-vos sentir o seu maternal amor Maria Santíssima.

Com a minha propiciadora Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DAS COMISSÕES CIENTÍFICA


E EXECUTIVA DO INSTITUTO PAULO VI


26 de Janeiro de 1980



1. Muito prazer tenho de me encontrar convosco, Membros qualificados da Comissão Científica e da Comissão Executiva do Instituto Paulo VI, para manifestar-vos o meu apreço e o meu incitamento. E agradeço ao, Dr. Guiseppe Camadini as palavras que, interpretando os vossos sentimentos, quis dirigir-me.

A Diocese de Bréscia em que o meu venerado Predecessor Paulo VI viu a luz do sol e nasceu para a vida sobrenatural, e em que se preparou para o sacerdócio escolheu honrar a memória do maior dos seus filhos da melhor maneira. O Instituto Paulo VI, que ela quis e sustenta, poderá de facto ser meio verdadeiramente fundamental para o estudo da vida, do pensamento e da obra de Paulo VI, e também para o estudo dos tempos e dos acontecimentos, muitas vezes trágicos, em que Ele participou, sempre com a limpidez do Seu testemunho sacerdotal e com os excepcionais dotes da Sua mente e do Seu coração. Para a Diocese de Bréscia vai, pelo compromisso que tomou e pelo serviço que pretende prestar, o meu reconhecimento sincero.

E gratidão igualmente sentida exprimo a vós todos, que aceitastes o convite da Diocese de Bréscia para dar ao Instituto a vossa generosa e preciosa colaboração. Várias vezes, durante o primeiro ano do meu Pontificado, tive ocasião de recordar quanto a vida da Igreja deve ao ensinamento e à obra de Paulo VI. Na minha primeira carta encíclica reconheci-o como o meu «verdadeiro pai» (Redemptor hominis RH 4). Bem podeis compreender, pois, quanto me alegro por tudo o que ireis fazer com o propósito de honrar a Sua memória e continuar em certo modo a Sua presença no meio de nós.

2. Quanto mais passa o tempo mais se compreende a grandeza do Papa Paulo VI. E é a esta compreensão que deverá dirigir-se o esforço do Instituto e de vós todos. Permiti que, juntamente convosco, recorde algumas características de tal esforço.

Estudais Paulo VI com amor. Nem sempre no decurso da Sua vida, foi Ele compreendido. Conheceu a cruz, recebeu «insultos» e «escarros» (Cfr. Homilia durante a Capela Papal, 16 de Setembro de 1979). O amor é, nessas circunstâncias, acto de reparação devido à sua memória, além de ser auxiliar potente para lhe penetrar o espírito a fim de melhor o compreender.

Estudai-o com rigor científico. A verdade fará sempre justiça àquele Papa que, por quinze anos, inundou de verdade e sabedoria o mundo inteiro.

Estudai-o com a convicção de a sua herança espiritual continuar a enriquecer a Igreja e poder alimentar as consciências dos homens de hoje, tão necessitados de «palavras de vida eterna).

3. Com especial interesse fiquei sabendo que estais a organizar um primeiro encontro internacional de estudo, dedicado à encíclica Ecclesiam suam, que Paulo VI escreveu em 1964. Apelei para esta encíclica na Redemptor hominis (Redemptor hominis RH 3), como para continuar uma reflexão e encontrar inspiração e conforto. A verdade da Igreja foi estudada por Paulo VI durante toda a vida. Explorou continuamente a sua profundidade, saboreou-lhe a beleza, deixou que o Seu espírito fosse por ela iluminado e conquistado. Até ao último alento voaram para a Igreja o Seu pensamento e as suas energias, numa doação heróica de todas as Suas forças. É de um amor assim pela igreja, forte, fiel e generoso, que têm hoje os católicos necessidade de maneira especial, e esse amor podereis vós, com o vosso estudo, ajudar sem efeito que aumente e se torne luz e testemunho para bem da humanidade inteira.

Conforte-vos a Bênção Apostólica que a vós e a todos os que vos são caros concedo com sincero afecto.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS GRÃO-DUQUES DO LUXEMBURGO


Sábado, 26 de Janeiro de 1980



Meu Senhor
Minha Senhora

A visita de hoje dá-me a feliz ocasião de expressar a minha estima profunda por Vossas Altezas Reais e de saudar cordialmente o Governo e todo o povo do Grão-Ducado do Luxemburgo.

Com tanto maior alegria o faço quanto mais excelentes são as relações que este país mantém com a Santa Sé. A grande maioria dos cidadãos professa, na verdade, a religião católica, e permito-me dirigir uma saudação particular a esta comunidade que pode honrar-se de solidez na fé e de um compromisso cristão activo, conservando a unidade à volta do seu dedicado pastor Dom Jean Hengen. De todo o coração anima estes queridos filhos a servirem lealmente o seu país.

Todos sabem que o Grão-Ducado do Luxemburgo, apesar do limitado território, mantém com honra o seu lugar no plano internacional, quer se trate das diversas instituições políticas europeias quer das Organizações mundiais. Esta abertura e estas actividades são apreciáveis, tanto para a vitalidade do vosso país como para a sua participação no progresso da comunidade internacional.

A complexidade das questões económicas, politicas, jurídicas e sociais, e o entrelaçar-se dos processos não devem desanimar nem levar a que se esqueça estarem em jogo graves questões de que dependem a paz e a qualidade da civilização de amanhã. A justiça social e a equidade nas trocas, a solidariedade com as pessoas e os povos pobres e carecidos de auxílio, o respeito da vida humana e o respeito dos direitos do homem, como também de outros valores morais e espirituais, devem ser garantidos e promovidos, ao mesmo tempo que o progresso material. Sem isso, o que levantamos seria parecido com a torre de Babel, com o carácter desumano e o vazio espiritual.

Preocupação que devem ter muito a peito os Estados como também a Igreja, é a da família: oxalá a força das instituições, unida à educação do amor e da responsabilidade, favoreça a estabilidade dos lares, a expansão e a irradiação destes.

A Santa Sé não tem dúvida que todas as forças responsáveis no Grão-Ducado do Luxemburgo, em conformidade com as suas melhores tradições, oferecerão contributo positivo à causa da família.

Pela minha parte, formulo ardentes votos por Vossas Altezas Reais, a quem agradeço a visita cheia de cortesia, e por sua tão bela família. Saúdo também cordialmente os membros da Delegação que Vos acompanha. Ao dar-vos uma especial Bênção Apostólica, peço igualmente ao Senhor que inspire e com os seus dons cumule todos os cidadãos do Grão-Ducado do Luxemburgo e os seus governantes.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PARA PARTEIRAS


ORGANIZADO PELA ASSOCIAÇÃO CATÓLICA


DE AGENTES SANITÁRIOS


Sábado, 26 de Janeiro de 1980



Irmãs caríssimas

1. De bom grado satisfiz o desejo, por vós expresso, de um encontro particular em que vos fosse concedido testemunhar a devoção que vos liga ao Papa e receber dele uma palavra de conforto e de guia, no cumprimento dos delicados encargos relativos à vossa profissão.

Conheço as altas finalidades em que a vossa Associação se inspira, como me são também conhecidas as corajosas opções que ela soube operar nestes anos, para se manter fiel aos ditames da consciência iluminada pela fé. Tenho, pois, a alegria de poder manifestar-vos pessoalmente o meu cordial apreço e de comunicar-vos, ao mesmo tempo, a minha paternal exortação a perseverardes no propósito de coerente adesão às normas deontológicas da vossa profissão, não raro sujeita a fortes pressões por parte de quem teria gosto de conseguir levá-la a fazer coisas que estão em contraste directo com as finalidades para as quais ela surgiu e se realiza.

O "serviço prestado à vida e à família" foi e é, de facto, a razão de ser essencial desta profissão, como sublinhastes não sem motivo no tema mesmo do Encontro; e é precisamente nesse nobre serviço que se encontra o segredo da sua grandeza. A vós pertence velar com solicitude pelo admirável e misterioso processo de geração que se realiza no seio materno, tendo em vista seguir-lhe o desenvolvimento regular e favorecer-lhe o êxito feliz com a vinda à luz da nova criatura. Sois, portanto, as guardiãs da vida humana que se renova no mundo, trazendo a este, com o novo sorriso do recém-nascido, a alegria (Cfr. Jn 16,21) e a esperança de um futuro melhor.

2. É necessário, portanto, cultivar cada uma de vós, em si mesma, a clara consciência do altíssimo valor da vida humana: no âmbito de toda a criação visível, ela é valor único. O Senhor criou, de facto, todas as outras coisas na terra para o homem; o homem porém — como afirmou o Concílio Vaticano II — é "a única criatura que Deus quis por si mesma" (Const. Gaudium et Spes GS 24).

Isto, pelo que diz respeito ao seu ser e à sua essência, significa que, o homem não pode ter como fim criatura nenhuma, mas só Deus. Este o conteúdo profundo da passagem bíblica bem conhecida, segundo a qual Deus criou o homem à Sua imagem..., criou-os homem e mulher (Gn 1,27); é isto também o que se pretende recordar quando se afirma que a vida humana é sagrada. O homem, como ser dotado de inteligência e de vontade livre, recebe o direito à vida imediatamente de Deus, de quem é imagem, não dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana. Só Deus pode, portanto, "dispor" esse seu dom singular: Eu é que sou Deus, Eu só, e nenhum outro Deus além de Mim! Que só Eu é que dou a vida e dou a morte, Eu tiro e curo, e nada pode isentar-se do Meu poder (Dt 32,39).

O homem tem portanto a vida como dom, do qual porém não pode considerar-se proprietário; assim, da vida própria como da alheia não pode julgar-se árbitro. O Antigo Testamento formula esta conclusão num preceito do Decálogo: Não matarás (Ex 20,13), com a explicação que segue pouco depois: Não causarás a morte do inocente e do justo, porque jamais Eu absolverei o culpado (Ex 23,7). Cristo, no Novo Testamento, confirma tal preceito como condição para "entrar na vida" (Cfr. Mt 19,18); mas — significativamente — faz que o siga a menção do preceito que resume em si todo o aspecto da norma moral, levando-o à perfeição, isto é, o preceito do amor (Cfr. Mt 19,19). Só quem ama, pode aceitar até ao fundo as exigências que brotam do respeito pela vida do próximo.

A este propósito, recordais-vos certamente das palavras de Cristo no "sermão da montanha": nessa ocasião apela Jesus, quase polemicamente, para o "não matarás" do Antigo Testamento, vendo nele uma expressão da justiça "insuficiente" dos escribas e dos fariseus (Cfr. Mt 5,20) e convidando a que nos examinemos mais profundamente a nós mesmos, para descobrirmos as raízes ruins, de que brotam todas as violências contra a vida; culpado não é só quem mata, mas ainda quem cultiva sentimentos malévolos e diz palavras ofensivas contra o próximo (Cfr. Mt 5,21 ss). Há uma violência verbal que prepara o terreno e favorece o despertar dos pressupostos psicológicos para o desencadeamento da violência física.

Quem deseja respeitar a vida e colocar-se até generosamente ao serviço dela, deve cultivar em si mesmo sentimentos de compreensão para com o próximo, de participação nas suas dificuldades, de solidariedade humana, numa palavra, sentimentos de amor sincero. O crente encontra nisto facilidades, porque sabe reconhecer em cada homem um irmão (Cfr. Mt 23,8), com quem está Cristo identificado, a ponto de considerar feito a Si mesmo aquilo que é a ele feito (Cfr. Mt 25,40 Mt 25,45).

3. Homem é, contudo, também a criança ainda não nascida; e mais, se é título especial de identificação com Cristo estar alguém entre "os mais pequeninos" (Cfr. Mt 25,40), como não ver uma presença especial de Cristo no ser humano em gestação que, entre os outros seres humanos; é verdadeiramente o mais pequeno e está inerme, privado de qualquer meio de defesa, até mesmo da voz para reclamar contra as transgressões cometidas violando os seus direitos mais elementares?

É missão vossa: testemunhar, diante de todos, a estima e o respeito que alimentais no coração pela vida humana; dando-se o caso, tomar ousadamente a defesa dela; e recusar a cooperação para directamente a suprimir. Não há disposição humana que possa legitimar uma acção intrinsecamente iníqua, e menos ainda obrigar, seja quem for, a consentir nela. A lei, de facto, vai buscar o seu valor obrigatório à função que ela — em fidelidade à lei divina — desempenha no serviço do bem comum; isto, por sua vez, vale na medida em que promove o bem-estar da pessoa. Diante, pois, de uma lei que se coloque em contraste directo com o bem da pessoa, que renegue mesmo a pessoa em si própria, tirando-lhe o direito de viver, o cristão, lembrado das palavras do Apóstolo Pedro diante do sinédrio Importa mais obedecer a Deus do que aos homens (Ac 5,29), não pode senão opor a sua cortês mas firme recusa.

A vossa responsabilidade, todavia, não se limita a esta função, por assim dizer, negativa. Leva-vos a um amplo conjunto de encargos positivos de grande importância. A vós pertence: confirmar no animo dos pais o desejo da nova vida e a alegria pela mesma, que desabrocha de eles se amarem; a vós sugerir-lhes a visão cristã, mostrando com a vossa atitude reconhecer na criança, formada no seio materno, um dom e uma bênção de Deus (Cfr. Ps 126,3 Ps 127,3 ss): a vós, ainda, estar ao lado da mãe para nela reavivardes a consciência da nobreza da sua missão e para reforçardes a resistência diante de possíveis sugestões da pusilanimidade humana; a vós, por último, prestar todos os cuidados para assegurardes à criança um nascimento saudável e feliz.

E como não recordar também numa visão mais ampla do vosso serviço prestado à vida, o importante contributo de conselho e orientação prática que podeis oferecer a cada casal, desejoso de realizar uma procriação responsável, dentro do respeito pela ordem estabelecida por Deus? Também a vós se dirigem as palavras do meu Predecessor Paulo VI, com que exortou os membros do pessoal sanitário a perseverar "em promover em todas as circunstâncias as soluções inspiradas na fé e na recta recta razão" e a esforçar-se "por suscitar a convicção e o respeito diante delas no seu ambiente" (Enc. Humanae Vitae HV 27).

É óbvio que, para cumprir de modo conveniente todos estes encargos complexos e delicados, é necessário que procureis adquirir competência profissional incontestável, continuamente actualizada à luz dos mais recentes progressos da ciência. Essa provada competência é que, além de consentir-vos intervenções oportunas e adequadas a nível estritamente profissional, vos assegurará, naqueles que a vós recorrem, a consideração e o crédito capazes de lhes disporem o ânimo para o acolhimento dos vossos conselhos nas questões morais, relacionadas com o vosso oficio.

4. Aqui ficam traçadas algumas linhas directrizes, que vos exortam a que orienteis segundo elas o vosso encargo cívico e cristão. É encargo que supõe vivo sentimento do dever e generosa adesão aos valores morais, compreensão humana e paciência incansável, firmeza corajosa e ternura maternal. Dotes não fáceis, como a experiência vos ensina. Dotes, apesar de tudo, requeridos por uma profissão que se coloca, por sua natureza, ao nível de missão. Dotes, todavia, normalmente compensados pelas provas de estima e afectuoso reconhecimento que vos chegam da parte daqueles que beneficiaram da vossa assistência.

À luz de Maria, invoco sobre vós e sobre a vossa actividade os dons copiosos da divina Bondade, ao mesmo tempo que, em penhor de especial benevolência, a todas concedo a propiciadora Bênção Apostólica.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO POVO MEXICANO POR OCASIÃO


DO 1º ANIVERSÁRIO DA VIAGEM APOSTÓLICA






Queridos Irmãos e filhos do México

Ao completar-se o primeiro aniversário da minha visita ao vosso País, quero que chegue até vós a minha palavra de saudação, lembrança, reconhecimento e ânimo no caminho do bem.

O beijo que à minha chegada imprimi na terra mexicana, pretendia ser sincera homenagem à Nação e prova de afecto e estima, iniciando aquele intenso intercâmbio de sentimentos que, em alegre sintonia de corações, se foi manifestando durante a minha permanência na cidade do México, em Puebla, Guadalajara e Monterrey, e abrangendo desde tais pontos todos os lares mexicanos.

Ao evocar agora aqueles momentos inapagáveis, desejo manifestar de novo a minha gratidão pelo vosso magnífico acolhimento, que enquadrava aquele acontecimento eclesial evangelizador, que teve a sua mais alta expressão na III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano.

Ao recordar agora o que foi precisamente o objectivo central da minha visita, isto é, oferecer pela minha parte toda a contribuição possível à causa da evangelização, desejaria uma vez mais animar-vos a que robusteçais a vossa consciência cristã, a vossa vida de fé, a vossa alegria na prática esperançosa da mensagem de Cristo e a vossa decisão de trabalhar pelo bem espiritual e material de todos.

Não me é possível, nestes breves momentos, dizer-vos tudo o que desejaria, para ajudar-vos no caminho da fidelidade a Cristo.

Aos Irmãos no Episcopado renovo a minha confiança e cordial benevolência, assegurando-lhes que os acompanho nas suas solicitudes e desvelos constantes, assim como na sua generosa entrega à Igreja e ao bem de cada um dos seus fiéis.

Os sacerdotes, religiosos, religiosas e todos os que ,se preparam para a consagração especial a Deus e aos irmãos, animo-os com intenso afecto na sua valorosa eleição e incito-os a manterem-se fiéis à sua vocação, caminhando sempre no amor a Cristo (Cfr. Ep 5,2), com olhar constante de fé acerca da sua própria identidade e do valor da sua entrega eclesial.

Ao laicado católico organizado e a todos os que — dedicando-se à sua tarefa pessoal, familiar ou profissional — se esforçam com denodo por tornar presente Cristo na vossa sociedade, convido-os a robustecer a consciência de pertencerem à Igreja e de serem chamados ao apostolado como derivação do próprio baptismo (Cfr. Apostolicam actuositatem AA 3).

Aos intelectuais, universitários, estudantes e jovens em geral, exorto-os a considerarem a sua vida, não só em função de uma sólida formação pessoal, mas também como verdadeira vocação a serem promotores de elevação humana e moral na sociedade, para a tornarem mais digna, mais justa e mais à medida do homem completo (Discurso aos Universitários católicos, 31 de Janeiro de 1979 e Carta Autógrafa de 15 de Fevereiro de 1979).

Às crianças, que tantas vezes se tornaram presença alegre no meu caminho, ofereço a minha oração especial, para que sejam educadas como bons cristãos, imitando o modelo mais sublime — Jesus — o Deus feito homem (Cfr. Catechesi tradendae CTR 35-38).

A minha palavra dirige-se ainda, com acentos de especial intensidade vivencial aos membros das comunidades indígenas, aos sectores rural e operário. Sois depositários de grande dignidade pessoal e de valores que merecem, queridos filhos, todo e respeito, consideração e apoio. Tende consciência do vosso importante papel na sociedade e na Igreja, aspirando e esforçando-vos por alcançar metas mais altas humanas e cristãs (Cfr. Discurso em Cuilapán e Monterrey, 29 e 31 de Janeiro de 1979).

Finalmente, para o mundo da dor, para os enfermos e para todos os que sofrem, reservo a minha lembrança de predilecção, que se torna prece por todos. No meio do sofrimento, mantende a esperança e o ânimo, recordando-vos que, unida a, cruz de Cristo, a vossa soledade interior se transforma em graças de salvação para vós e para toda a Igreja (Col 1,24 ss.; 2Co 12,10).

Amados Irmãos e filhos: Ninguém se sinta esquecido pelo Papa, que a todos abrange nesta visão panorâmica global. Façamos todos juntos, eu no meio de vós, uma peregrinação de fé ao lar e santuário do México: Aos pés da bem-aventurada Mãe Nossa, a Virgem de Guadalupe, quero depositar, unido a vós, uma oração: a fim de que, com a sua ajuda, essa Igreja de Deus, cuja vitalidade quis aumentar tom a minha visita, experimente pujante crescimento, renovado florescimento espiritual, incremento de vida cristã, consolidação das forças evangelizadoras e aproximação constante a Cristo do México fiel, o que é meta e objectivo da nossa labuta de cada dia.

Como irmão e amigo peço ao Pai do céu que vos encha da Sua graça e paz, ao mesmo tempo que abençoo, de coração cada um dos mexicanos, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo Amen.






Discursos João Paulo II 1980 - 14 de Janeiro de 1980