Discursos João Paulo II 1980 - 4 de Fevereiro de 1980

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO QUINQUAGÉSIMO ANO DE VIDA


DA RÁDIO VATICANO


Terça-feira, 5 de Fevereiro de 1980



Caríssimos

Laudetur Jesus Christus: dirijo-me a vós com a saudação de que tanto gosto, que é também, e desde sempre, o mote distintivo da Rádio Vaticano.

Estou satisfeito de me encontrar aqui entre vós, para este encontro familiar, precisamente na vigília do princípio do quinquagésimo ano de vida da Rádio Vaticano e a dez anos da inauguração desta sede no Palácio Pio.

Sei bem que nem todos os que trabalham na Rádio Vaticano podem estar aqui fisicamente presentes, encontrando-se impedidos pelas exigências de um serviço que não conhece paragens; mas sei também que as outras casas, em Santa Maria de Galéria e nos jardins vaticanos, estão neste momento ligadas connosco por via rádio. A eles portanto, como a vós aqui presentes, e em especial aos Venerados Irmãos, os Senhores Cardeais Agostino Casaroli e Sergio Guerri, apresento a minha cordial saudação.

Pronta à chamada que a técnica lhe apresentava, a Santa Sé, desde os alvores da radiofonia, reconheceu a importância excepcional deste instrumento para os objectivos da evangelização, da comunhão eclesial e da compreensão e solidariedade entre os povos. A Rádio, com efeito, oferecia-lhe possibilidade de comunicação instantânea, nas mais diversas direcções e sem obstáculos de fronteiras.

E bem teve disso consciência o meu venerado predecessor Pio XI, quando ao inaugurar as transmissões da Rádio por ele desejada, iniciou a sua radiomensagem com as palavras mesmas da Sagrada Escritura:

"Escutai, ó céus, o que vos vou dizer; Ouça, toda a terra, as palavras da minha boca" (12 de Fevereiro de 1931: Discurso inaugural, primeira radiomensagem pontifícia).

Desde esse dia, "finalidade essencial da Rádio Vaticano — como disse o Papa Paulo VI durante a audiência concedida ao pessoal da Rádio no quadragésimo aniversário da fundação — é unir directamente o centro da catolicidade com os diversos Países do mundo, dar ao Papa a possibilidade de dirigir-se directamente a todos os fiéis da terra, e difundir a sua palavra e o seu pensamento, informar sobre a actividade da Santa Sé, fazer-se eco da vida católica no mundo, mostrar o modo de ver da Igreja e, em geral, expor a mensagem cristã" (27 de Fevereiro de 1971: Discurso ao pessoal da Rádio Vaticano).

A Rádio Vaticano, portanto, através da quotidiana actividade incansável de informação, evangelização, catequese e autêntica promoção do homem à luz do seu Redentor, e com sensibilidade ao diálogo ecuménico e intercultural, esforça-se por tornar presente o coração mesmo da Igreja a todas as suas partes, sobretudo ligando imediatamente, com a Sé de Pedro e entre si, aquelas Igrejas locais que se encontram em precárias condições de liberdade religiosa. Sei por experiência pessoal quanto a voz da Rádio Vaticano é esperada para confortar a fé e suster a esperança dos crentes.

Vós tendes certamente brio de servir a Igreja através da Rádio Vaticano, mas não podeis deixar de ter ao mesmo tempo consciência da grande delicadeza da missão e responsabilidade que vos é exigida.

Este encontro, que já de há tempos desejava, consente-me também verificar com satisfação os desenvolvimentos que a emissora da Santa Sé pôde realizar no plano, quer das instalações técnicas quer da produção dos programas, como ainda na organização dos serviços; desenvolvimentos que dela fazem um instrumento moderno e profissionalmente capaz de cumprir os seus encargos institucionais.

Neste esforço de potenciação, que inclui notáveis ónus, o Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano tornou-se benemérito, mantendo uma actividade de apostolado cujo alcance vai muito além do território vaticano.

Alegro-me especialmente ao ver que se vai realizando assim o designo de Paulo VI, que determinou destinar para a Rádio Vaticano esta digna sede e, em 1966, exprimia o propósito de dar à Rádio "novos aperfeiçoamentos e novos incrementos, especialmente no que diz respeito ao sector dos programas. Esta é — acrescentava — a parte principal da obra relativa à Rádio, quer dizer, a sua finalidade, o seu uso e a sua utilidade efectiva" (30 de Junho de 1966: Discurso de inauguração dos novos transmissores em Santa Maria de Galéria).

Mas, paralelamente ao desenvolvimento das secções linguísticas e dos serviços. centrais, redaccionais e administrativos, também ao mesmo tempo o sector das instalações técnicas prosseguiu na sua potenciação: estou informado que já de há tempos está em actividade, seja embora experimental, o novo transmissor de onda curta de 500 quilowatts com antena rotatória, que permite à Rádio Vaticano, se bem que na limitação dos seus meios, fazer ouvir a própria voz mesmo nos Países mais afastados, apesar da crescente saturação do éter.

Outro especial motivo de satisfação, ao encontrar-me convosco, está em verificar que representais quase um mostruário da Igreja universal. Produzis transmissões em 33 línguas e pertenceis a 43 nacionalidades diversas. Entre vós há homens e mulheres, pais e mães de família, sacerdotes e leigos empregados, religiosos e religiosas de 20 ordens e congregações diferentes. Entre estes últimos, o mais numeroso é o grupo dos membros da Companhia de Jesus, a alguns dos quais estão confiados encargos de especial responsabilidade.

Todos vós viveis unidos num mesmo ideal e colaborais em harmonia, ultrapassando as diversidades linguísticas e culturais, numa Rádio que é imagem da Igreja, na qual ninguém é estrangeiro.

Ao mesmo tempo conservais o património íntegro das vossas culturas, que vos permite encontrar linguagem eficaz, sendo conatural àqueles que vos escutam.

Não queria esquecer, embora não estejam aqui presentes, todos os colaboradores, em grande parte voluntários e desinteressados que enriquecem com o seu talento e a sua competência o conteúdo das transmissões.

Por fim, o meu pensamento vai para a grande família dos vossos ouvintes, dispersos por todo o mundo, cujo pedido mais instante é de as transmissões durarem mais. É para eles, para os tornar participantes sobretudo dos grandes acontecimentos eclesiais, que a Rádio Vaticano se mobiliza, dos redactores aos técnicos. Para eles, em especiais mas frequentes ocasiões, fornece a modulação sonora a outros organismos rádio-televisivos a ela ligados. Para eles segue a Rádio Vaticano o Papa nas suas viagens apostólicas, como também nas suas visitas pastorais às Paróquias da sua Diocese.

O Papa sabe que, para além das massas que se comprimem à sua volta, há sempre multidões invisíveis que se põem a escutar para lhe captarem a palavra e a voz mesma. Também através da Rádio se edifica, dia após dia, a Igreja. Esta convicção e esperança com o constante conforto de uma filial devoção a Maria Santíssima, Mãe de Cristo e da Igreja vos acompanhem no vosso trabalho quotidiano.

Ao exprimir-vos o agradecido apreço pelo vosso generoso devotamento, concedo-vos de coração a minha Bênção a vós todos, aos que vos são caros e aos vossos colaboradores, aqui presentes ou ligados radiofonicamente.





SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS DA DIOCESE DE POZZUOLI (ITÁLIA)


Quarta-feira, 6 de Fevereiro de 1980



Caros irmãos e irmãs da Diocese de Pozzuoli

É com particular afecto que vos saúdo a todos vós, que viestes tão numerosos peregrinar aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo. Sei que estais acompanhados pelo vosso benemérito Bispo, Dom Salvatore Sorrentino, que celebra o quadragésimo aniversário de Ordenação Presbiteral e vigésimo da Episcopal. Para ele vão os meus, os nossos fraternais votos.

Dirijo a minha saudação também aos representantes do Cabido da Catedral; do Clero diocesano e religioso, e das Religiosas que trabalham na Diocese. Nem quero esquecer o Senhor Presidente da Câmara da Cidade de Pozzuoli e os representantes de várias administrações municipais. Em seguida, a todos os meninos, que vejo numerosos no meio de vós, desejo assegurar um espiritual e afectuoso abraço.

A vós todos me é agradável exprimir a satisfação pela vossa presença de hoje. É mais uma prova da vossa sentida fidelidade à Sé de Pedro e do vosso desejo de estreitar cada vez mais os vínculos eclesiais mútuos. Desejo-vos de coração vida de prosperidade cristã, que se torne testemunho eficaz dé quanto pode ser fonte de serenidade e vigor a comunhão autêntica com o Senhor. Tendes a preceder-vos longa história cristã pois, quando São Paulo veio a Roma, desembarcou primeiro em Pozzuoli e lá encontrou uma pequena mas generosa comunidade de cristãos, que o recebeu com afectuosa hospitalidade (Cfr. Ac 28,13-14). Sede sempre dignos desta antiga herança, fazei-a até maturar em plenitude para vosso bem e de quantos para vós olham.

Sei também que habitais numa zona, onde ferve o trabalho tanto agrícola como industrial. Por isso, ao mesmo tempo que presto homenagem à vossa operosidade, exprimo a firme esperança de que saibais quotidianamente santificá-la por meio de uma sólida e alegre adesão de fé ao Evangelho e de amor a Cristo.

De modo especial, auguro para as várias actividades diocesanas florescimento sempre crescente: sobretudo no que diz respeito ao Seminário, à providencial instituição do Diaconado permanente, às Associações católicas e aos Institutos de instrução e de beneficência. Fecunde o Senhor abundantemente com a Sua graça o vosso constante esforço evangélico em serviço dos irmãos.

Como penhor destes votos e em sinal da minha benevolência, tenho o prazer de conceder a particular Bênção Apostólica, que me apraz tornar extensiva também a todas as vossas pessoas queridas, especialmente às crianças, aos doentes e aos necessitados.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PROFESSORES E ALUNOS DO COLÉGIO


DE DEFESA DA NATO


7 de Fevereiro de 1980



Caros amigos

Nos anos passados, o Colégio de Defesa da Nato reuniu-se repetidamente nesta sala , e tenho a satisfação de vos dar as boas-vindas hoje, no fim da vossa 55ª sessão de estudo.

Com verdadeiro prazer fui informado que na vossa sessão se debateram objectivos culturais e morais, e se buscou uma solidariedade internacional maior ainda. Há verdadeiramente relação íntima entre estas realidades e a grande causa da paz — paz construída sobre a verdade a respeito do homem.

No princípio deste ano, na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz, apelei para todos os que desejam robustecer a paz na terra. Apelei para um esforço destinado a «escorar por dentro o edifício instável e sempre ameaçado da paz, restituindo-lhe o seu conteúdo de verdade» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, n. 1). E creio que vós tendes possibilidades de promover a paz recorrendo à sua própria e fundamental fonte de verdade.

Por meio da observação e do estudo, sois capazes de verificar que todas as formas de não-verdade militam contra a paz. Em nenhuma parte é isto mais evidente do que num ideal equivocado do homem e na força arrastadora nele contida. Neste contexto, afirmei na minha Mensagem de Paz: «A primeira mentira e a falsidade fundamental está em não acreditar no homem, no homem em todo o seu potencial de grandeza» (Ibidem., n. 2.).

A concepção da dignidade que nós partilhamos quanto à família humana leva-nos a todos à prontidão para o diálogo sincero e contínuo. Contra todos os adversários, deve a verdade a respeito da humanidade manter a esperança entre os que são companheiros, chamando para a coexistência pacífica todos os seres humanos. Aqui vemos nós a necessidade imperiosa de maior sinceridade na família humana, a necessidade de esforço renovado para rejeitar aquela deplorável desconfiança e suspeita que atingem o cume na vertiginosa escalada da corrida aos armamentos.

Assim todas as iniciativas meritórias — pequenas ou grandes — de fraternidade, solidariedade internacional, amizade e respeito mútuo, baseadas na comunhão de natureza e destino, devem eficazmente ser animadas, conservadas e promovidas.

Quando a uma clara expressão da verdade a respeito do homem acrescentamos um honesto e esclarecido sentido da história a descobrir que, na prática, a causa da paz e da justiça nunca teve bom êxito quando ligada com a luta violenta e a supressão das mais profundas aspirações humanas, confirmamo-nos na nossa convicção de a verdade sobre o homem levar aos caminhos da paz e ser condição para todo o progresso no mundo moderno.

Oxalá Deus todo-poderoso mantenha os vossos corações na paz e infunda paz nas vossas casas. Oxalá vos dê profundo discernimento e coragem inflexível, a fim de caminhardes para as metas da verdade, que tem o poder da paz.

E oxalá a paz, que irradia do sorriso das crianças, convença o mundo da verdade que nos torna livres.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO ENCONTRO COM OS MEMBROS


DO INSPECTORADO DE PÚBLICA SEGURANÇA


JUNTO DO VATICANO


Quinta-feira, 7 de Fevereiro de 1980



Caros Senhores

É-me especialmente agradável dirigir hoje a minha saudação cordial a si, Senhor Inspector-Geral e a todos vós, Funcionários, Suboficiais e agentes do Inspectorado de Pública Segurança junto da Cidade do Vaticano, que viestes trazer-me os habituais e amáveis votos, desta vez para o ano de 1980.

Agradeço-vos sentidamente a ocasião que me oferecestes para exprimir os meus sentimentos de apreço e gratidão pela actividade esclarecida, generosa e inteligente, que desenvolveis para assegurar um serviço de ordem tão importante.

Agradeço ao Dr. Pasanisi as significativas palavras que, interpretando os vossos sentimentos, quis dirigir-me no princípio do seu novo cargo, como Inspector-Geral junto do Vaticano. Ao agradecimento uno os meus votos pelo bom êxito nas novas responsabilidades a que foi chamado. As suas palavras renovaram em mim a recordação viva de tudo o que tenho podido ver e experimentar nas aninhas deslocações e visitas pastorais na Diocese de Roma, como nas outras cidades da Itália: a nobreza de ânimo que inspira e guia o vosso serviço e vos leva a cumprir o vosso dever com fidelidade e dedicação, às vezes até com risco e sacrifício e, aquilo que verdadeiramente mais conta, com amor e com fé. Este binómio de fiéis Funcionários do Estado Italiano e de Filhos devotos da Igreja permite-vos assegurar, à volta da pessoa do Papa, aquela atmosfera de ordem e cortesia que tão apropriada é à presença do Vigário de Cristo no meio do seu povo.

Tudo isto, como é para vós título de honra, assim deve ser também estímulo para entrar na corrente de fervor religioso, de que neste período pós-conciliar, todos nós somos testemunhas. A preciosa experiência — que, por dever de ofício, vós viveis no meio dos fiéis e dos peregrinos provenientes de todas as partes do mundo para venerar o Sepulcro do Príncipe dos Apóstolos e para ver o seu Sucessor — consiga tornar-vos sempre mais fortes e coerentes na fé e vos estimule a dar testemunho a Cristo, o que forma a razão de ser da nossa existência.

Corroboro estes meus votos com uma especial oração por vós, pelas vossas famílias e pelos vossos queridos filhos. E a Bênção Apostólica, que concedo agora de todo o coração, vos acompanhe todos os dias e vos traga dons escolhidos de paz e prosperidade cristã.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO SECRETARIADO


PARA A UNIÃO DOS CRISTÃOS


8 de Fevereiro de 1980



Caros Irmãos no Episcopado
Caros Irmãos e Irmãs:

Decorreram já quinze meses depois do nosso último e primeiro encontro. Estava eu então mesmo no princípio do meu pontificado e tinha-me empenhado em exprimir-vos a minha satisfação e os meus mais ardentes incentivos para o vosso trabalho, dando-vos algumas orientações gerais. Gostava de me deter hoje mais longamente convosco sobre o que, com a ajuda do Senhor e sob a direcção do Espírito Santo, se passou e realizou no campo do ecumenismo durante estes quinze meses.

Infelizmente não é possível descer a pormenores. Não posso todavia deixar de evocar aqui, diante de vós, os numerosos encontros com responsáveis ou grupos de fiéis doutras Igrejas e Comunidades eclesiais, que principiaram no dia seguinte ao da cerimónia da inauguração do meu ministério pontifício e alcançaram o apogeu em Novembro passado, com a minha visita ao Patriarcado ecuménico onde foi lançado o diálogo teológico com as Igrejas ortodoxas.

O nosso esforço, que prossegue paciente mas activamente, deve encaminhar-se a promover este verdadeiro renovamento que, segundo a doutrina do Concílio Vaticano II, «consiste essencialmente numa maior fidelidade da Igreja à sua vocação» (Decr. Unitatis redintegratio UR 6).

O Concílio Vaticano II marcou uma etapa importante neste renovamento, etapa e ponto de partida. A experiência deste Concílio, os textos em que esta experiência se exprimiu, continuam a ser fonte sempre actual de inspiração; são ricos em orientações; em exigências que hão-de ainda ser descobertas e postas em prática na vida concreta do povo de Deus. Muitas vezes o disse no decurso destes meses, mas empenho-me em vo-lo repetir, a vós, membros do Secretariado para a promoção da unidade dos cristãos, pois o Concílio afirmou que este renovamento tem insigne valor ecuménico: a unidade de todos os cristãos era uma das suas finalidades principais (Decr. Unitatis redintegratio UR 1 UR 16); e continuou sendo parte importante do meu ministério, como da acção pastoral da Igreja.

A unidade exige uma fidelidade constantemente mais aprofundada por meio da escuta recíproca. Com liberdade fraterna, os parceiros de um verdadeiro diálogo provocam-se mutuamente para uma cada vez mais exigente fidelidade à integridade do plano de Deus.

Na fidelidade a Cristo Senhor que pediu a unidade, orou por ela e por ela se sacrificou — e na docilidade ao Espírito Santo — que encaminha os crentes para a verdade completa (Cfr. Jn 16,13) estes obrigam-se incessantemente a ultrapassar os limites que a história religiosa de cada um pode ter estabelecido, a fim de que estes se abram cada vez mais à «altura, ao comprimento, à largura e à profundidade» do desígnio misterioso de Deus que ultrapassa todo o conhecimento (Cfr. Ep 3,18-19). Por outro lado, digamo-lo de passagem, este espírito de diálogo fraterno, que deve existir, e eu diria mesmo deve existir primeiro entre os teólogos, que na Igreja católica estão comprometidos no esforço do renovamento teológico, implica também, é evidente, que este diálogo decorra dentro da verdade e da fidelidade. Torna-se então meio indispensável de equilíbrio que deveria evitar à autoridade da Igreja ver-se obrigada a declarar que alguns entram num caminho que não é o verdadeiro caminho do renovamento. Se a autoridade é obrigada a intervir, não actua contra o movimento ecuménico mas oferece a este movimento o seu contributo, advertindo-o de certas pistas ou certas súmulas não conduzirem ao fim em vista.

Quis ir a Istambul para celebrar, com Sua Santidade o Patriarca Dimítrios, a festa de Santo André, padroeiro dessa Igreja. Fi-lo para manifestar diante de Deus e diante de todo o povo de Deus, a minha impaciência pela unidade. Orámos juntos. Na catedral patriarcal, assisti com profunda comoção espiritual à liturgia eucarística que o Patriarca e o seu Sínodo 14 celebraram, do mesmo modo que o Patriarca e os Metropolitas tinham vindo assistir à liturgia que eu celebrara na catedral católica. Nesta oração sentimos com dor quanto era lastimoso não podermos concelebrar. Tudo é preciso tentar a fim de que se apresse o dia de tal concelebração; e ter durado já tanto a nossa separação mais urgente torna, ainda a necessidade de lhe pôr fim. Este ano ficará assinalado pelo começo do diálogo teológico com a Igreja ortodoxa. Este diálogo teológico é desenvolvimento do diálogo da caridade que principiou durante o Concílio e deve continuar e intensificar-se, porque é o meio vital necessário para este esforço de lucidez que há-de levar a redescobrir, para além das divergências e dos mal-entendidos herdados da história, os caminhos que nos hão-de conduzir a uma profissão comum de fé, dentro da concelebração eucarística. O segundo milénio viu a nossa separação progressiva. O movimento inverso começou por toda a parte. É preciso, e instantemente o peço ao Pai das luzes de quem desce todo o dom perfeito (Jc 1,17), que os alvores do terceiro milénio contemplem a nossa plena comunhão de novo achada.

Espero que a esse primeiro encontro se sigam em breve outros com o Patriarca Dimítrios, mas também com outros responsáveis pela Igreja e pelas Comunidades eclesiais no Ocidente.

Gostava de manifestar também toda a atenção que dedico ao diálogo com as antigas Igrejas orientais e em particular com a Igreja copta. A visita a Roma de Sua Santidade Shenouda, Papa de Alexandria e Patriarca da Sé de São Marcos, foi acontecimento importante a marcar a abertura de tal diálogo. Seria necessário aproveitar todas as possibilidades, abertas pela declaração comum que ele assinou com o meu grande predecessor o Papa Paulo VI. Como eu já disse à delegação da Igreja copta, que tive a alegria de receber em Junho último, esta declaração, fi-la eu minha do mesmo modo que os incentivos que, daí por diante a Santa Sé imprimiu a este diálogo (Cfr. Discurso à delegação da Igreja copta-ortodoxa, 2 de Junho de 1979). A unidade dos cristãos, que pertencem ao grande povo egípcio, permitir-lhes-á oferecer plenamente, em colaboração com os seus irmãos muçulmanos, o seu contributo para o esforço nacional.

Mais, estou convencido que uma rearticulação das antigas tradições orientais e ocidentais, e a troca equilibradora que dela resultará na plena comunhão reencontrada, poderão ser de grande importância para a cura das divisões nascidas no Ocidente no século XVI.

Os diversos diálogos, que se têm travado desde o fim do Concílio, conseguiram já sérios progressos. Com a Comunhão anglicana, está a comissão mista prestes a terminar o seu trabalho e espera-se que apresente o relatório final no próximo ano. A Igreja católica poderá então pronunciar-se oficialmente e tirar as consequências para a etapa que deverá seguir-se.

Decorre este ano o quadringentésimo quinquagésimo aniversário da Confissão de Ausburgo. No nosso diálogo com a Federação luterana mundial, começámos a redescobrir os laços profundos que nos unem na fé, embora ficassem encobertos pelas polémicas do passado. Se, decorridos 450 anos, católicos e luteranos pudessem chegar a uma apreciação histórica mais exacta deste documento e a estabelecer melhor o seu papel no desenvolvimento da história eclesiástica, ficaria dado um passo notável no caminho para a unidade.

Com lucidez, abertura, humildade e caridade, é preciso continuar a estudar as principais divergências doutrinais que no passado deram origem a divisões que, hoje ainda, separam os cristãos.

Estes vários diálogos são outros tantos esforços tendentes ao mesmo fim, tomando em consideração a variedade dos obstáculos que é preciso vencer. O mesmo se diga daqueles em que a Igreja católica não está directamente implicada. Não há oposição entre estes diversos tipos de diálogo, e nada se deve descuidar do que seja de molde a adiantar o progresso no sentido da unidade.

Tudo isto é necessário, mas tudo isto não poderá ser frutuoso sem que, em toda a parte na Igreja católica, se tome consciência mais nítida da necessidade do esforço ecuménico, tal como ele foi definido pelo Concílio. O Secretariado para a União publicou em 1975 importantes orientações para o desenvolvimento da colaboração ecuménica aos níveis locais, nacionais e regionais. Já disse que o empenho de colaboração com os outros irmãos nossos, cristãos, deve encontrar o seu lugar exacto na pastoral. Requer isto mudança de atitude, conversão do coração que supõe tudo se ter orientado devidamente na formação do clero e do povo cristão. A catequese deve ter nisto o papel que recordei há pouco na Exortação Apostólica Catechesi tradendae (Cfr. Catechesi tradendae CTR 31-34).

Em busca da unidade, tanto para o diálogo como para a colaboração em toda a parte onde é possível, tem como finalidade o testemunho que se deve dar de Cristo hoje. Este testemunho comum é limitado e incompleto enquanto nós estivermos em desacordo sobre o conteúdo da fé que temos de anunciar. Daí a importância da unidade para a evangelização no dia de hoje. Efectivamente desde agora devem os cristãos ter a peito dar testemunho juntos, destes dons de fé e de vida que receberam de Deus (Cfr. Redemptor hominis RH 11). O tema principal da nossa reunião plenária é justamente o testemunho comum. O problema não está apenas em que ele seja comum, mas em que ele seja testemunho autêntico do Evangelho, testemunho dado a Jesus Cristo hoje vivo na plenitude da sua Igreja. Neste sentido, os cristãos e agora penso especialmente nos católicos preciso que aprofundem a fidelidade a Cristo e à Sua Igreja. Sim, os católicos hão-de urgentemente compreender qual deve ser este testemunho, e o que ele inclui e requer na vida da Igreja.

Faço votos por que tal reflexão e tal busca se realizem em toda a parte na Igreja, sob a direcção dos Bispos e das Conferências Episcopais. Em todas as situações, seria necessário, segundo as possibilidades, fazer esforços, com sabedoria pastoral profunda, para descobrir as possibilidades do testemunho comum dos cristãos. Ao fazê-las, aparecerão como obstáculo os limites que as nossas divergências impõem ainda a esse testemunho; e tal experiência dolorosa estimulará a que se intensifique o esforço para um acordo real na fé. Espero que os resultados da vossa Assembleia plenária vão animando as iniciativas das Igrejas locais neste sentido, que é o indicado pelo Concílio Vaticano (Cfr. Unitatis redintegratio UR 12 UR 24). Urge avançar nesta direcção com prudência e coragem. Nos nossos dias mais que nunca, não é muitas vezes a coragem exigida de nós pela prudência, de nós que sabemos em Quem acreditamos?

Quero, por último, agradecer-vos por terdes vindo e terdes consagrado uma semana do vosso precioso tempo ao nosso Secretariado para a União. Pudestes-vos também dar conta do seu trabalho incessante, realizado com uma dedicação que pensa unicamente em servir e promover a grande causa da unidade.

O Deus da esperança nos dê plenamente a Sua força e a Sua paz, e pelo poder do Espírito Santo torne inabalável a esperança (Cfr. Rm 15,13) que anima o nosso serviço de cada dia.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS ATLETAS DA EQUIPA DE FUTEBOL «ASCOLI»


Sábado, 9 de Fevereiro de 1980



Acolhi de boa vontade o vosso desejo de serdes recebidos por mim em audiência, pois conheço os sentimentos gentis pela minha pessoa, e também — como me confirma o vosso Bispo — a sinceridade da vossa fé como cristãos. Mas, com maior prazer o acolhi porque assim me é dado saldar uma dívida do meu venerado predecessor, Paulo VI, que há alguns anos, no início da vossa ascensão ao máximo campeonato nacional, recebeu igual pedido, ao qual, contudo, não pôde dar resposta positiva devido a outros urgentes empenhos de ministério.

Eis porque o encontro de hoje assume um carácter particular e, direi, mais definitivo e mais sincero. A palavra que vos dirijo quer ser uma palavra simples e sincera, que vai às vossas pessoas, à profissão desportiva e estende-se por analogia e, melhor direi, por associação de ideias à vida religiosa e moral.

Antes de tudo, quero exprimir a minha satisfação a cada um de vós e a toda a equipa, da qual fazeis parte, que conseguiu merecidos sucessos desde a sua fundação no ano de 1898. Desde aquela data a "Ascoli-Futebol" está no auge e pouco a pouco, pelo esforço unido dos técnicos e dos atletas, mas também pelo ardor dos concidadãos entusiastas e participantes, chegou à honra de fazer parte das equipas de fetebol da Série A e — o que vale mais — de medir-se com elas nas numerosas competições. Em verdade não é pouco, se se considera que a Cidade, embora nobre e antiga, é relativamente pequena pela área e pelo número de habitantes. Disto me congratulo de coração!

Mas este vosso êxito, constituído de tantas vitórias, e também os esforços e sacrifícios que comporta, sugerem-me passar do valor e significado do desporto ao valor e significado da vida humana, da qual, como confirma a história, o êxito é uma importante e constante manifestação. A este propósito, vem-me em auxílio uma palavra altamente significativa do apóstolo São Paulo: na primeira das suas Cartas aos fiéis da cidade de Corinto, que foi na Grécia antiga a famosa sede dos Jogos Ístmicos (Olímpicos), ele quer tirar da prática agonística um apropriado ensinamento de carácter religioso. Para exortar aqueles seus filhos, que "tinha gerado em Cristo Jesus mediante o Evangelho", e exortar à imitação de si mesmo (Cfr. 1Co 4,15-16), ele evocava a imagem, que lhes era bem conhecida, dos corredores e dos lutadores no estádio, os quais, não obstante um só ganhar o prémio, se submetem a toda a sorte de sacrifícios: "e eles assim fazem — comentava o Apóstolo — para ganhar uma coroa corruptível, nós ao contrário por uma coroa eterna" (Ibid., 1Co 9,24-25).

Eis, caríssimos filhos e irmãos, a lição que desejo propor-vos como recordação deste familiar e tão agradável encontro: ao augúrio por que a vossa profissão desportiva se inspire sempre nos nobres ideais da lealdade e da coragem, da rectidão e da nobreza, acrescento o augúrio pela vossa profissão cristã, a qual, longe de estar em posição de estranheza ou de contradição à primeira, deve antes integrá-la, obviamente com a contribuição também de outros factores, e juntamente elevá-la para que a vossa própria personalidade seja completada.

O cristianismo é por si mesmo uma religião que exige um sério e forte empenho no campo espiritual e moral, e hoje especialmente — aos olhos de um mundo tantas vezes distraído ou indiferente — somente se torna acreditado quando traduzido, na vida de cada um dos cristãos, através de uma coerente e transparente profissão de vida. E profissão — prestai bem atenção — quer dizer quase confissão, ou seja, é coma um declarar e um testemunhar com factos aquilo que se é. Em palavras mais simples quero dizer-vos: assim como sois bons jogadores, procurai também ser bons cristãos, sempre fiéis ao Senhor, à sua Igreja, à sua Lei de amor por Ele e pelos irmãos.

Conforte-vos neste empenho a propiciadora Bênção postólica que agora vos concedo de coração, estendendo-a a todos os vossos familiares e amigos.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS COMUNIDADE DOS COLÉGIOS ROMANOS


«MASSIMO» E «SANTA MARIA»


Sábado, 9 de Fevereiro de 1980



Caríssimos Irmãos e Irmãs

Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus (2Th 1,2).

1. Sinto verdadeira alegria em poder encontrar-me hoje com os Superiores, os Professores e os Alunos com os seus familiares, de dois dos mais prestigiosos Colégios católicos de Roma: o Instituto "Massimo" dos Padres Jesuítas, que celebrou o primeiro centenário de fundação e o Instituto "Santa Maria" dos Religiosos Marianistas, que recorda o seu nonagésimo ano.

Duas datas que sintetizam duas histórias, vividas com empenho, com entusiasmo, com dedicação e com sacrifício.

O Colégio "Massimo", iniciado a 9 de Novembro de 1879, dirigido por uma comissão, formada pelo arqueólogo Monsenhor Pietro Crostarosa, pelo pároco de Santa Maria Maior, don Cesare Boccanera, e pelo Padre jesuíta Massimiliano Massimo, pretendia fazer reviver as tradições culturais do célebre "Colégio Romano"; mas pode afirmar-se que o "Massimo" estava também em continuação ideal e em sintonia com a grande ideia de Santo Inácio de Loyola, que, num período em que parecia que entre cultura humanista e mensagem cristã existia incompatibilidade irredutível, sonhava um grande colégio que, em Roma centro do cristianismo, pudesse servir de modelo para muitos outros espalhados pelo mundo inteiro; e em 1551, no sopé do Capitólio, em cima da porta de uma habitação modesta tinha posto o cartaz: "Escola de Gramática, de Humanidade e de Doutrina cristã".

Nestes cem anos de vida, o Colégio "Massimo" seguiu este programa humanístico-cristão de Santo Inácio, desenvolveu-se e dilatou-se grandemente: dos 25 alunos de 1879 chegou-se a mil na antiga sede nas Termas e poderá chegar-se a 1.500, quando o novo conjunto da EUR estiver completo, como sinceramente desejo.

Não menos gloriosa é a história do nonagenário Instituto "Santa Maria", dirigido pelos filhos do Servo de Deus Joseph Chaminade, que tiveram em vista trazer para Roma as experiências educativas por eles adquiridas no "College Stanislas" de Paris e noutras obras escolares da Europa e da América do Norte: dos 40 alunos, e 9 religiosos de 1889, chegou-se a 1260 alunos, 36 religiosos e 44 professores externos do actual período. Nem podemos esquecer o "Centro Universitário Marianum", que presentemente hospeda nada menos de 106 universitários.

2. Estes números, caríssimos Irmãos e Irmãs, são eloquentes e representam testemunho eficaz e concreto do dinamismo e da vitalidade dos vossos Institutos e mesmo da Escola que se classifica de "católica". Porque, por trás destes números, há toda a indefessa obra cultural, educativa e formativa, que realizastes neste demorado lapso de tempo, dia após dia, hora após hora, em contacto contínuo com os rapazes e os jovens, com quem percorrestes juntas uma caminhada, não só através das vias dais ciências humanas, da história, da filosofia e da literatura, mas, por motivo da qualificação específica das vossas instituições e dos ideais, também e sobretudo uma caminhada através das vias da fé cristã.

Quem poderá hoje calcular o bem, manifesto ou oculto, que tantos alunos vossos — em parte já desaparecidos da cena deste mundo, em parte hoje homens bem adultos — receberam e souberam depois, por sua vez, transmitir aos seus amigos, às suas famílias, aos seus filhos e à sociedade civil? Quantos exemplares pais de família, quantos profissionais competentes e apreciados, estão ainda ligados profundamente, e não menos profundamente agradecidos, a vós, à vossa acção apostólica e aos vossos Institutos em que as suas personalidades foram modeladas com serena seriedade, para conseguirem afrontar as complexas responsabilidades da vida? Quantos sacerdotes e religiosos descobriram, aprofundaram e amadureceram a própria vocação sacerdotal ou religiosa, ajudados e apoiados pela exemplar vida sacerdotal e religiosa dos seus professores?

Às vezes, por desgraça, quando se fala de Escola "católica", ela é considerada apenas como em concorrência ou mesmo em oposição às outras Escolas, em especial às Escolas do Estado. Mas não é assim. A Escola católica quis sempre e quer formar cristãos, que sejam também cidadãos exemplares, capazes de fornecer o próprio contributo de inteligência, de seriedade, de competência, para a construção recta e ordenada, da comunidade civil.

3. Os vossos Institutos são e prezam-se de proclamar-se Escolas "católicas". Mas, que é uma Escola católica? Quais são as suas obrigações preponderantes, as suas finalidades específicas? O assunto é de tão viva e contínua actualidade, que o Concílio Vaticano II dedicou a esta problemática um Documento inteiro, a Declaração Sobre a educação cristã. E essa Declaração apresenta, em síntese completa, a tríplice característica peculiar da Escola católica, que, a par com as outras escolas, tem em vista as finalidades culturais e a formação humana dos jovens. Mas o seu elemento característico está — afirma o Documento conciliar — em "criar um ambiente de comunidade escolar animado pelo espírito evangélico de liberdade e de caridade; em ajudar os adolescentes para que, ao mesmo tempo que desenvolvem a sua personalidade, cresçam segundo a nova criatura que são, mercê do Baptismo; e em ordenar finalmente toda. a cultura humana à mensagem da salvação, de tal modo que seja iluminado pela fé o conhecimento que os alunos vão, pouco a pouco, adquirindo do mundo, da vida e do homem" (Gravissimum Educationis GE 8). É texto riquíssimo de preciosas indicações, de fermentos dinâmicos e de aplicações concretas. Mas nele aparece claramente afirmado que na escola católica é a fé cristã aquilo que ilumina o conhecimento de toda a realidade (mundo, vida e homem).

É verdade que a escola, enquanto tal, é o lugar ou a comunidade da aprendizagem e da cultura; mas a Escola católica é também; antes primeiro que tudo, um lugar e uma comunidade privilegiada para a educação e a maturação da fé. Insisti especialmente neste assunto na minha recente Exortação Apostólica sobre a catequese no nosso tempo. Uma escola católica — dizia eu — mereceria ainda tal nome "se, apesar de brilhar por um nível elevado de ensino no que se refere às matérias profanas, houvesse, qualquer motivo justificado para lhe censurar uma negligência ou um desvio, na educação propriamente religiosa? E não se diga nunca que esta há-de ser sempre dada implicitamente ou de maneira indirecta. O carácter e a razão profunda de ser, das escolas católicas, aquilo por que os pais católicos as deveriam preferir, é precisamente a qualidade do ensino religioso integrado na educação dos alunos" (Catechesi tradendae CTR 69). E direito dos alunos das Escolas católicas receberem nelas catequese permanente, aprofundada, articulada e adaptada às exigências da idade e da preparação cultural que têm. Esse ensino religioso deve ser integro no seu conteúdo, porque todo o discípulo de Cristo tem o direito de receber a palavra da fé, não mutilada mas completa e integral, em todo o seu rigor e em todo o seu vigor (Cfr. ibid., CTR 30).

4. No centro do ensino escolar, no ápice de todo o interesse; deve estar a pessoa, a obra e a mensagem de Cristo: é Ele o nosso verdadeiro Mestre (Cfr. Mt 23,8 Mt 23,10), é Ele a nossa via, a verdade e a vida (Cfr. Jn 14,6), é . Ele o nosso Redentor e. Salvador (Cfr. Ep 1,7 Col 1,14). Obrigação prioritária e insubstituível, tanto dos professores como dos alunos, é conhecer Jesus, estudando, aprofundando e meditando a Sagrada Escritura, não como simples livro de história, mas como testemunho perene de um Ser vivo, porque Jesus ressuscitou e "está sentado à direita do Pai". Além disso, quando se trata de Jesus, não é suficiente ficar no plano do conhecimento teórico: a sua palavra e a sua mensagem continuam a interpelar-nos, a responsabilizar-nos e a impelir-nos a que vivamos d'Ele e n'Ele. Então, verdadeiramente cristãos sempre o somos quando, dia após dia, cumprimos as exigências, nem sempre fáceis, do Evangelho de Jesus. Por coisa nenhuma se apliquem a vós, Irmãos e Irmãs, as palavras de Santo Agostinho: "Aqueles que se vangloriam de um nome que não realizam na vida, que aproveita o nome se não há a realidade?... Assim, muitos chamam-se cristãos, mas não se mostram tais na realidade, porque não são aquilo que dizem, quer dizer, não o são na vida, nos costumes, na esperança e na caridade" (In Epist. Joann. tract IV, 4; PL 35, 2007).

A vós, sacerdotes e religiosos, desejo que no meio dos vossos queridos alunos sejais sempre alegres testemunhas de entrega total e consagração a Deus, e que tenhais como verdadeira honra, além de grave dever, transmitir e comunicar-lhes a fé cristã no ensino da Religião. Mas a vossa vida evangélica seja viva e luminosa catequese para os rapazes e os jovens confiados ao vosso apostolado educativo.

A vós, professores leigos, desejo que vivais intensamente o sentido da responsabilidade que envolve o ensinar numa Escola católica. Deste modo os vossos discípulos apreciar-vos-ão e ter-vos-ão amor, não só pela vossa especifica competência profissional e cultural, mas sobretudo pela vossa coerência cristã.

A vós, pais e mães, justamente preocupados com a preparação cultural, mas ainda mais com a formação humana, civil e religiosa dos vossos filhos, desejo estejais sempre conscientes de os primeiros, autênticos e insubstituíveis educadores dos vossos filhos, serdes vós próprios. Segui-os sempre com aquele amor singular, que Deus Pai semeou nos vossos corações. Sabei compreendê-los, ouvi-los e orientá-los.

E a vós, caríssimos estudantes, verdadeiros protagonistas da Escola, que vos dirá hoje o Papa neste encontro, carregado de promessas e de entusiasmo? Vós sois o ponto de convergência do afecto, dos cuidados e do interesse dos vossos pais, dos vossos professores e dos vossos-superiores. A esta soma de amor respondei com esforço continuo pela vossa maturação humana, cultural e cristã. Preparai-vos, no estudo sério e assíduo, para os encargos que a Providência divina vos há-de preparar amanhã dentro da sociedade civil e da comunidade eclesial. O futuro da Nação, até mesmo do mundo, depende de vós. A sociedade futura será aquela que vós construirdes; e estais a construi-la, nestes anos, nas vossas aulas, nos vossos encontros e nas vossas associações.

Oxalá o Papa também a vós possa repetir, com alegria, as palavras dirigidas aos jovens por São João: Escrevo-vos, jovens, porque sois fortes, porque a palavra de Deus permanece em vós, e porque vencestes o maligno (1Jn 2,14).

Sim, caríssimos jovens! Sede fortes na fé! Cristo, Palavra encarnada de Deus, oriente a vossa vida! Deste modo vencereis o mal, que se manifesta no egoísmo, nas divisões, no ódio e na violência.

A todos a minha Bênção Apostólica






Discursos João Paulo II 1980 - 4 de Fevereiro de 1980