AUDIÊNCIAS 1980 - AUDIÊNCIA GERAL

Aos Jovens na Sala das Bênçãos


Queridos Jovens, rapazes e meninas

1. O meu encontro convosco, caríssimos rapazes e jovens, sempre especialmente desejado, realiza-se num dia de grande recolhimento, com referência expressa à necessidade de nos convertermos, de melhorarmos a nossa vida e subirmos para o alto.

Com o austero rito da imposição das cinzas na nossa cabeça de homens mortais, a Igreja pronuncia hoje palavras que despertam nas almas ressonâncias íntimas. A sua voz majestosa e admoestadora é a voz do próprio Deus: "Homem, és pó e em pó te hás-de tornar". Aquela cinza é, de facto, símbolo do valor relativo de todas as coisas terrestres, da extrema precariedade e fragilidade da vida presente pelos seus limites, seus condicionamentos, suas contradições e dificuldades. Dai a maternal exortação da Igreja a libertarmos o nosso espírito de qualquer forma de apego desordenado às realidades da terra, para conseguirmos olhar confiadamente para a ressurreição.

Vós, caríssimos rapazes e jovens, sabeis bem todavia que o encontro com Cristo ressuscitado há-de preparar-se, por meio de um esforço de crescimento pessoal durante esta nossa existência no tempo, e ainda mediante a entrega a uma obra construtiva de elevação humana e animação cristã do ambiente que nos circunda. Esta visão corajosa e "comprometedora" da vida, que tanto se adapta às vossas generosas ousadias, inclui portanto o conceito da penitência, da mortificação, da renúncia, virtudes estas que brotam de forte desejo de justiça e intenso amor de Deus.

2. Penitência é sinónimo de conversão, e conversão quer dizer ultrapassar tudo o que está em contraste com a dignidade dos filhos de Deus, especialmente as paixões selvagens que o Apóstolo e Evangelista São João chama concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida (1Jn 2,16), forças do mal sempre insidiosas e sempre a conspirar, embora sob formas às vezes lisonjeiras. Contra elas é necessária luta permanente, a que nos convida de modo especial o período da Quaresma, que hoje principia e tem por finalidade o regresso sincero ao Pai celeste, infinitamente bom e misericordioso.

3. Este regresso, fruto de um acto de amor, será tanto mais expressivo e a Ele agradável, quanto mais acompanhado for pelo sacrifício de alguma coisa necessária e principalmente das coisas supérfluas. Apresenta-se à vossa livre iniciativa variadíssima gama de acções, que vão desde a prática assídua e generosa do dever quotidiano até aceitação humilde e alegre dos contratempos aborrecidos que podem surgir durante o dia, e até à renúncia a alguma coisa muito agradável para assim encontrar maneira de socorrer quem se encontre em situação de necessidade; mas sobretudo é agradabilíssima ao Senhor a caridade do bom exemplo, requerido por fazermos parte de uma família de fé, cujos membros são interdependentes; e cada um precisa de ajuda e apoio por parte de todos os outros. O bom exemplo não actua só no exterior, opera também em profundidade e constrói na outra pessoa o bem mais precioso e mais activo, qual é o da adesão à própria vocação cristã.

4. Todas estas coisas são difíceis de realizar; para as nossas débeis forças é necessário suplemento de energias. Onde podemos encontrá-lo? Recordemo-nos das palavras do divino Salvador: Sem Mim nada podeis fazer (Jn 15,5). É a Ele que devemos recorrer: por outro lado, sabeis que se encontra Cristo no diálogo pessoal da oração e, de modo particular, na realidade dos sacramentos. A Quaresma é o tempo mais favorável para chegarmos a estas divinas fontes da vida sobrenatural: com o sacramento da penitência reconciliamo-nos com Deus e com os nossos irmãos; com a Eucaristia recebemos a Cristo, que sustenta as nossas vontades, de si fracas e titubeantes.

Ao animar-vos a este esforço de purificação e renovamento, invoco sobre os vossos propósitos a assistência do divino Espírito e de todo o coração concedo, a vós e às vossas respectivas famílias, a Bênção Apostólica.



                                                                    Março de 1980

JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 5 de Março de 1980




(Antes da Catequese de 5 de Março o Papa recebeu os jovens na Basílica de São Pedro)

O Significado bíblico do conhecimento na convivência matrimonial

1. Ao conjunto das nossas análises, dedicadas ao «princípio» bíblico, desejamos acrescentar ainda uma breve passagem, tirada do capítulo 4.° do Livro do Génesis. Tendo essa intenção, é necessário todavia referir-nos às palavras pronunciadas por Jesus Cristo na conversa com os fariseus (1) à volta das quais se desenvolvem as nossas reflexões; estas referem-se ao contexto da existência humana, segundo o qual a morte e a consequente destruição do corpo (expresso pelo «em pó te hás-de tornar» de Gn 3,19) se transformaram em sorte comum do homem. Cristo refere-se ao «princípio», à dimensão original do mistério da criação, quando esta dimensão já tinha sido violada pelo mysterium iniquitatis, isto é pelo pecado e, ao mesmo tempo que por este, também pela morte: mysterium mortis. O pecado e a morte entraram na história do homem, em certo modo através do coração mesmo daquela unidade, que «desde o princípio» era formada pelo homem e pela mulher, criados e chamados a tornarem-se uma só carne (Gn 2,24). Já no princípio das nossas meditações verificámos que, apelando para o princípio, Cristo nos conduz, em certo sentido, além do limite da pecabilidade hereditária do homem até à sua inocência original; e permite-nos assim encontrar a continuidade e o nexo existentes entre estas duas situações, mediante as quais se produziu o drama das origens e também a revelação do mistério do homem ao homem histórico.

Isto autoriza-nos, por assim dizer, a passar, depois das análises relativas ao estado da inocência original, à última destas, isto é, à análise do «conhecimento e da geração». Como tema, ela está intimamente ligada à bênção da fecundidade, inscrita na primeira narrativa da criação do homem, como varão e mulher (Gn 1,27-28). Historicamente, porém, está já inserida naquele horizonte de pecado e morte que, segundo ensina o Livro do Génesis (Gn 3) gravou na consciência o significado do corpo humano, juntamente com a infracção da primeira aliança com o Criador.

2. Em Génesis 4, e portanto ainda no âmbito do texto javista, lemos: Adão uniu-se a Eva, sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Caim, e disse: «Gerei um homem com o auxílio do Senhor». A seguir, deu também à luz Abel (Gn 4,1-2). Se ligamos ao «conhecimento» aquele primeiro facto do nascimento de um homem na terra, fazemo-lo com base na tradução literal do texto, segundo o qual a «união» conjugal é definida precisamente como «conhecimento». De facto, a tradução citada soa assim: «Adão uniu-se a Eva, sua mulher», quando à letra se deveria traduzir: «conheceu sua mulher», o que parece corresponder mais adequadamente ao termo semita jadac (2). Pode-se ver nisto um sinal de pobreza da língua arcaica, a que faltavam várias expressões para definir factos diferenciados. Apesar disso, não deixa de ter significado que a situação, em que marido e mulher se unem tão intimamente entre si que formam «uma só carne», tenha sido definida como conhecimento». Deste modo, na verdade, é da pobreza mesma da linguagem que parece deduzir-se uma profundidade específica de significado, que deriva precisamente de todos os significados até agora analisados.

3. Evidentemente, isto é também importante quanto ao «arquétipo» do nosso modo de representar o homem corpóreo, a sua masculinidade e a sua feminilidade, e portanto o seu sexo. Assim, com efeito, por meio do termo «conhecimento», usado em Gén. 4, 1-2 e muitas vezes na Bíblia, a relação conjugal do homem e da mulher, isto é o facto de se tornarem, mediante a dualidade do sexo, uma «só carne», foi elevada e introduzida na dimensão específica das pessoas. Génesis 4, 1-2 fala só do «conhecimento» da mulher por parte do homem, como para sublinhar sobretudo a actividade deste último. Pode-se, contudo, falar também da reciprocidade deste «conhecimento», em que comunicam o homem e a mulher o seu corpo e o seu sexo. Acrescentemos que uma série de sucessivos textos bíblicos, como aliás o próprio capítulo do Génesis (Cfr. por exemplo Gn 4,17 Gn 4, Gn 4,25), falam a mesma linguagem. Isto mesmo nas palavras pronunciadas por Maria de Nazaré na Anunciação: Como será isso, se eu não conheço homem? (Lc 1 Lc 34).

4. Assim, com aquele bíblico «conheceu», que aparece a primeira vez em Génesis 4, 1-2, encontramo-nos por um lado diante da directa expressão da intencionalidade humana (porque é próprio do conhecimento) e, por outro, de toda a realidade da convivência e da união conjugal, em que o homem e a mulher se tornam «uma só carne».

Falando aqui a Bíblia de «conhecimento», seja embora devido à pobreza da língua, indica a essência mais profunda da realidade da convivência matrimonial. Esta essência aparece como elemento e ao mesmo tempo como resultado daqueles significados, cujos vestígios procuramos seguir desde o princípio do nosso estudo; eles fazem, na verdade, parte da consciência do significado do corpo mesmo. Em Génesis 4, 1, tornando-se «uma só carne», o homem e a mulher experimentam de modo especial o significado do próprio corpo. Juntos tornam-se, deste modo, quase o sujeito único daquele acto e daquela experiência, se bem que permaneçam, nessa unidade, dois sujeitos realmente diversos. Isto autoriza-nos, em certo sentido, a afirmar que «o marido conhece a mulher» ou que ambos «se conhecem» reciprocamente. Então eles revelam-se um à outra, com aquela específica profundidade do próprio «eu» humano, que por sinal se revela também mediante os sexos, masculinidade e feminilidade. E então, de maneira singular, a mulher «é dada» de modo cognoscitivo ao homem, e ele a ela.

5. Se devemos manter a continuidade com as análises até agora feitas (particularmente com as últimas, que interpretam o homem na dimensão do dom), urge observar que, segundo o Livro do Génesis, datum e donum se equivalem.

Todavia, Génesis 4, 1-2 acentua sobretudo o datum. No «conhecimento» conjugal, a mulher «é dada» ao homem e ele a ela, porque o corpo e o sexo entram directamente na estrutura e no conteúdo mesmo deste «conhecimento». Assim pois, a realidade da união conjugal, em que o homem e a mulher se tornam «uma só carne», contém em si uma descoberta nova e, em certo sentido, definitiva do significado do corpo humano na sua masculinidade e feminilidade. Mas, a propósito desta descoberta, será justo falar unicamente de «convivência sexual»? É necessário reparar que ambos eles, homem mulher, não são apenas objecto passivo, definido pelo próprio corpo e sexo e deste modo determinado «pela natureza». Ao contrário, exactamente por serem homem e mulher, cada um é dado ao outro como sujeito único e irrepetível, como «eu», como pessoa. O sexo decide não só da individualidade somática do homem, mas define ao mesmo tempo a sua pessoal identidade e determinação. E precisamente nesta pessoal identidade e determinação, como irrepetível «eu» feminino-masculino, o homem é «conhecido» quando se verificam as palavras de Génesis 2, 24: O homem... unir-se-á à sua mulher; e os dois serão uma só carne.O «conhecimento», de que falam Génesis 4, 1-2 e todos os outros textos bíblicos que vêm depois, chega às mais íntimas raízes desta identidade e determinação, que o homem e a mulher devem ao próprio sexo. Determinação significa tanto a unicidade como a irrepetibilidade da pessoa.

Valia, por conseguinte, a pena reflectirmos sobre a eloquência do texto bíblico citado e da palavra «conheceu»; não obstante a falta de precisão terminológica, esta passagem permite determo-nos na profundidade de um conceito, de que a nossa linguagem contemporânea, por muito precisa que seja, frequentemente nos priva.

Notas

1. Cfr. Mt.19 e Mc. 10. É preciso atender a que, na conversa com os fariseus (Mt 19,7-9 Mc 10,4-6), Cristo toma posição quanto ao cumprimento da lei moisaica a respeito do chamado «libelo de repúdio». As palavras «por causa da dureza do vosso coração», pronunciadas por Cristo, reflectem não só «a história dos corações», mas ainda toda a complexidade da lei positiva do Antigo Testamento, que sempre buscava o «compromisso humano» neste campo tão delicado.

2. «Conhecer» (jadac), na linguagem bíblica, não significa só conhecimento meramente intelectual, mas também experiência concreta, como por exemplo a experiência do sofrimento (cfr. Is Is 53,3), do pecado (Sg 3,13), da guerra e da paz (Jg 3,1 Is 59,8). Desta experiência deriva também o juízo moral: «conhecimento do bem e do mal» (Gn 2,9-17).

O «conhecimento» entra no campo das relações interpessoais, quando diz respeito à solidariedade de família (Dt 33,9) e especialmente às relações conjugais. Mesmo em referência ao acto conjugal, o termo sublinha a paternidade de ilustres personalidades e a coragem da prole das mesmas (cfr. Gén Gn 4,1-25 Gn 4,17 1S 1,19), como dados de importância para a genealogia, a que a tradição dos sacerdotes (hereditários em Israel) dava grande importância.

O «conhecimento» podia todavia significar também todas as outras relações sexuais, mesmo as ilícitas (cfr. Num Nb 31,17 Gn 19,5 Jg 19,22).

Na forma negativa, o verbo denota a abstenção das relações sexuais, especialmente tratando-se de virgens (cfr. por exemplo, 1R 2,4 Jg 11,39). Neste campo o Novo Testamento usa dois hebraísmos, falando de José (Mt 1,34) e de Maria (Lc 1,34).

Significado especial adquire o aspecto da relação existencial do «conhecimento», quando o sujeito ou o objecto dele é o próprio Deus (por exemplo, Ps 139 Jr 31,34 Os 2,22 também Jn 147-9 Jn 17,3).

Apelo

Desejo agora manifestar toda a minha ânsia e preocupação pelas notícias que, nestes dias, chegam de Bogotá, capital da Colômbia.

Como sabeis, já há uma semana, numerosas pessoas encontram-se sequestradas dentro da Embaixada da República Dominicana, naquela cidade. Eram mais, porém, prevalecendo os sentimentos humanitários num momento tão dramático, algumas delas — mulheres e feridos — foram postas em liberdade.

Contudo, muitas ainda lá se encontram: entre elas, o Núncio Apostólico, o caríssimo Dom Angelo Acerbi, que nestes dias está particularmente presente nas minhas orações, e diversos Embaixadores, representantes legítimos dos respectivos Países naquela Nação. Em virtude do direito das Nações, que regula as relações internacionais, a pessoa e a liberdade delas são declaradas invioláveis. Mas sagrados também são os direitos de todos os homens.

Ao deplorar vivamente o que está a acontecer, o meu pensamento amargurado dirige-se para todas as pessoas que, de algum modo e por qualquer motivo, sofrem num momento tão doloroso.

E exprimo, do fundo do coração, o augúrio e a esperança de que em breve se possa ter uma solução, restituindo serenidade e conforto. Sabemos que as várias Embaixadas estão por isto em contínuo contacto com o Governo colombiano.

Diversas Nações, que têm o próprio Embaixador sequestrado, enviaram um representante especial para seguir de perto a situação, que justamente preocupa os Governos e a opinião pública, e que tanto me aflige. Também a Santa Sé quis que não faltasse o seu representante especial, enviado a Bogotá nesta hora tão grave, na pessoa de Dom Pio Laghi, Núncio Apostólico na Argentina.

Entanto, elevo a minha oração ao Senhor, que tem nas mãos o coração dos homens e pode neles fazer surgir rectos pensamentos e bons propósitos a fim de que Ele guie os esforços empreendidos para a solução do caso presente, e os destinados à edificação de uma sociedade mantida não pela violência, mas pela justiça, a fraternidade e a paz.

Por esta intenção peço que rezeis comigo nestes dias de ansiedade e de expectativa.

Saudações

A grupos de Sacerdotes italianos

Desejo agora dirigir uma saudação particularmente cordial a alguns grupos de Sacerdotes aqui presentes.

Em primeiro lugar, aos Missionários Verbitas, que estão a seguir, em Nemi, um curso de actualização, juntamente com alguns Padres de outras Famílias religiosas; para eles vai o meu apreço e o meu encorajamento pela preciosa actividade evangelizadora realizada em vários Países em nome de Cristo e da sua Igreja.

Depois, aos participantes num Seminário de estudo, promovido pelo Movimento dos Trabalhadores da Acção Católica Italiana sobre o tema "Evangelizar o mundo do trabalho": estai certos de que a Igreja conta muito convosco para testemunhardes o Evangelho num sector de importância vital para a nossa sociedade.

E por fim, a um grupo da Diocese de Piacenza, que festeja o 25° aniversário de Ordenação Presbiteral: juntamente com os meus parabéns, exprimo a minha confiança de que tomareis cada vez mais consciência da grandeza e das exigências do vosso sacerdócio ministerial, destinado a prestar um serviço insubstituível ao Povo de Deus.

Abençoo-vos a todos de coração.

A dois grupos de Paderborn (Alemanha)

Dentre os grupos que hoje se encontram presentes nesta audiência, dirijo uma cordial saudação aos juízes eclesiásticos da cúria arquiepiscopal de Paderborn, acompanhados pelo seu Bispo D. Friedrich Tintelen. Desejo que esta estadia de estudo na Cidade Eterna, com os múltiplos encontros da vossa comissão, vos corrobore e fortaleça como guardiães defensores da verdade e da justiça, mediante o exercício da jurisprudência eclesiástica. Nestes tempos de insegurança e de carência progressiva de todo o compromisso, os homens e a Igreja têm precisamente necessidade do vosso fiel serviço, das vossas directrizes e interpretações seguras, e da observância das leis divinas e eclesiásticas. Cristo, que é Ele mesmo a verdade e a justiça, vos ilumine e acompanhe sempre com a sua graça nesta importante e responsável tarefa. É isto que peço para vós com a minha Bênção Apostólica.

Saúdo também cordialmente o Senhor Reitor do Seminário arquidiocesano e os diáconos do mesmo arcebispado de Paderborn. Congratulo-me convosco pela preciosa graça da vossa vocação. É o próprio Senhor que vos chama. Entregai-Lhe sem reservas o vosso coração e a vossa vida, que Ele — mediante a consagração sacerdotal — quer tomar para o seu serviço de maneira total e irrevogável. Peço por isso para vós a contínua intimidade e o amor permanente de Cristo, e de todo o coração vos concedo a minha Bênção.

A vários grupos de peregrinos

Recebo-vos com cordial saudação de bons votos, caríssimos peregrinos da Diocese de Comacchio, que, fiéis às vossas nobres tradições religiosas, quisestes conceder-vos uma pausa no vosso fatigoso trabalho para levar ao Papa, em nome também dos vossos conterrâneos, a homenagem do vosso afecto. Ao manifestar-vos o meu reconhecimento por esta visita que tanto apreciei, exorto-vos a aceitardes com generosidade o convite da Igreja, a reflectir com fé profunda e operante no mistério de Cristo morto e ressuscitado por nós, e a tomar parte nele com a aceitação humilde dos sacrifícios quotidianos. Com estes votos concedo-vos, a vós e às vossas respectivas famílias, a minha Bênção Apostólica.

Dirijo agora um pensamento particular ao numeroso grupo das "Voluntárias" do Movimento dos Focolares, vindas de várias regiões da Itália e de alguns Países da Europa, para celebrar o seu congresso anual no Centro Mariapoli de Rocca di Papa, sobre o tema "A caridade como ideal".

Ao apresentar-vos um sincero agradecimento por esta nova prova de dedicação, exprimo-vos, caríssimas filhas, o interesse e o apreço com que sigo a vossa actividade, e encorajo-vos, neste encontro, nas escolhas que, tenho a certeza, tirastes do vosso estudo: um amor maior a Deus, fonte de energia sobrenatural, seja o motivo inspirador de todas as vossas intenções e o segredo da vossa solidariedade humana universal que, hoje mais do que nunca, é pedida aos membros da Igreja em forma de doação sem reservas. A minha Bênção Apostólica vos acompanhe na vossa missão.

Aos Doentes

Uma palavra de encorajamento e de consolação vai agora para todos vós, doentes, que com o vosso doloroso quanto precioso sofrimento enriqueceis a Igreja de méritos e de graças especiais. De facto, a doença padecida pelo Senhor e a Ele oferecida torna-se não só para vós mas também para todo o corpo místico ocasião privilegiada de expiação, de purificação, de propiciação e de elevação espiritual.

Neste tempo da Quaresma, vós que estais mais perto do "Homem das dores, experimentado nos sofrimentos", como foi descrito Cristo pelo Profeta Isaías (53, 3), sabei dar esta finalidade ao vosso sofrimento, a fim de que possais afrontá-lo com fortaleza, e também com alegria, como exclama o Apóstolo Paulo: "estou inundado de alegria, no meio de todas as nossas tribulações" (2Co 7,4).

Como prova destes votos desça com abundância sobre vós e sobre todos os que cuidam de vós com amor a minha especial Bênção.

Aos jovens Casais

Também a vós, jovens Casais, presentes nesta Audiência no início da vossa vida matrimonial, desejo exprimir os meus bons votos abençoadores e a minha afectuosa saudação. Dai sempre ao vosso amor uma unidade granítica e uma fé inabalável. Sabei conservar sempre aquele sentido de alegria e de felicidade, que hoje enche o vosso espírito. Tende sempre o sentido religioso da família, olhai para o amor infinito com que Cristo ama a Igreja e deixai-vos modelar por esse exemplo no vosso amor recíproco, e Ele não vos iludirá, mas far-vos-á crescer todos os dias no alegre testemunho de uma vida matrimonial vivida autenticamente.

Peço ao Senhor que, para isso, vos ajude e vos abençoe sempre.

Aos jovens na Basílica de São Pedro




É um prazer para mim, queridos filhos, receber-vos hoje, tão contentes e tão afectuosos. E sois tão numerosos que, também hoje, foi necessária para vós uma audiência especial, dentro desta grande Basílica que — como bem sabeis — está construída sobre o túmulo de São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, o primeiro Papa.

Da lista dos diversos grupos, que foi lida agora, pude notar que vindes de várias partes da Itália, também distantes, e que são duas, sobretudo, as formas que vos distinguem: fazeis parte quer de grupos escolares, quer de grupos paroquiais. Nenhum de vós veio sozinho, individualmente, mas cada um uniu-se aos seus coetâneos e aos condiscípulos, aos Professores da própria Escola ou aos Sacerdotes da própria Paróquia. Que significa isto? Desejo propor-me e propor-vos esta pergunta, para concentrar a nossa reflexão sobre a importância que a Escola e a Paróquia têm no campo da educação e da formação da adolescência e da juventude. Não é porventura esta a vossa idade? E não ouvis repetir-vos frequentemente que é o período em que deveis instruir-vos e preparar-vos bem para a vida? A vida é grande dom de Deus, como se lê no primeiro Livro da Bíblia: Deus criou o homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher (Gn 1,2). E da vida que é um dom divino, a idade, em que agora vos encontrais, é certamente a mais bonita, a mais viçosa, a mais rica de esperanças, debruçada para um futuro alegre e sereno. O crescei, que o Senhor deu como ordem — com os outros mandamentos a Adão e Eva, pode muito bem referir-se a cada um de vós e à vossa condição de crianças e de jovens. Vós deveis crescer, isto é desenvolver dia a dia, e tornar-vos homens e mulheres amadurecidos e completos; mas — estai atentos — não só em sentido físico, mas também e sobretudo em sentido espiritual. Seria demasiado pouco crescer só no corpo (disto, de resto, ocupa-se a própria natureza); é necessário crescer especialmente no espírito, e isto obtém-se exercitando aquelas faculdades que o Senhor — são outros dons seus — colocou dentro de vós: a inteligência, a vontade, a inclinação a amá-1'O e ao próximo. Neste trabalho nenhum de vós está sozinho: cada um encontra no seu caminho, primeiro que tudo os próprios pais, que mediante o exemplo, com o afecto e com os constantes cuidados o ajudam no necessário processo de desenvolvimento. Depois encontra também a Escola e a Paróquia. Uma destina-se à vossa formação, comunicando à mente e ao coração os vários conhecimentos que serão preciosos na vida, e as normas do recto comportamento. A outra, como porção viva da Igreja, destina-se também ela à vossa formação, para enriquecer o espírito daqueles bens superiores que se chamam — recordais? — graça divina e virtude da fé, da esperança e da caridade. Eis então que, ao lado da família, existem outras duas sedes, quase duas "oficinas" em que podeis e deveis cuidar daquela completa preparação que, como corresponde à vontade de Deus Criador, é tão vivamente esperada e desejada por todos aqueles que vos estão próximo na idade juvenil: os pais, os professores e os sacerdotes. Lemos no Evangelho de São Lucas que Jesus, nos longos anos da infância e da juventude passados em Nazaré, crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2,52). Imaginai! Jesus, que era o Filho mesmo de Deus, que se fez homem por nós, quis realizar o percurso de um desenvolvimento gradual: também Ele quis corresponder àquela ordem divina de crescer, e fazendo-o deixou-nos um exemplo maravilhoso, que é nosso dever reconhecer, seguir e imitar. Também vós, filhos caríssimos, deveis olhar para Jesus: quer na Paróquia, quer na Escola, sabei empregar as vossas jovens energias para alcançardes uma autêntica e positiva maturação, totalmente digna da vossa dignidade de homens e de cristãos. Estamos na Quaresma, que é o tempo de preparação para a Páscoa, e a nossa Páscoa — como ensina São Paulo — é Jesus Cristo (Cfr. 1Co 5,7). Para preparar do melhor modo o vosso encontro com Ele, deveis reflectir nas palavras que, em Seu nome, agora vos dirigi, e reforçar o propósito de "crescer em sabedoria, em estatura e em graça" no âmbito paroquial e escolar, aperfeiçoando o que já recebestes dentro das vossas famílias.



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 12 de Março de 1980




(Antes da Catequese de 12 de Março o Papa recebeu os jovens na Basílica de São Pedro)


Sala Paulo VI


O mistério da mulher revela-se na maternidade

1. Na meditação precedente analisámos a frase de Génesis 4, 1, e em particular o termo «conheceu», usado no texto original para definir a união conjugal. Fizemos também notar que este «conhecimento» bíblico estabelece uma espécie de arquétipo (1) pessoal da corporeidade e sexualidade humanas. Parece isto absolutamente fundamental para compreender o homem, que desde «o princípio» anda à busca do significado do próprio corpo. Este significado está na base da teologia mesma do corpo. O termo «conheceu» «uniu-se» (Gn 4,1-2) sintetiza toda a densidade do texto bíblico até agora analisado. O «homem» que, segundo Génesis 4, 1, pela primeira vez conhece a mulher, sua esposa, no acto da união conjugal, é de facto aquele mesmo que, impondo os nomes, isto é, «conhecendo» também, se «diferenciou» de todo o mundo dos seres vivos ou animalia, afirmando-se a si mesmo como pessoa e sujeito. O «conhecimento», de que fala Génesis 4, 1, não o afasta nem pode afastar do nível daquele primordial e fundamental autoconhecimento. Portanto — qualquer coisa que dele afirmasse uma mentalidade unilateralmente «naturalista »— em Génesis 4, 1 não pode tratar-se de uma aceitação passiva da própria determinação por parte do corpo e do sexo, exactamente porque se trata de «conhecimento».

É, pelo contrário nova descoberta do significado do próprio corpo, descoberta comum e recíproca, assim como comum e recíproca é desde o princípio a existência do homem, que «Deus criou varão e mulher». O conhecimento, que estava na base da solidão original do homem, está agora na base desta unidade do homem e da mulher, cuja clara perspectiva foi encerrada pelo Criador no mistério mesmo da criação (Gn 1,27 Gn 2,23). Neste «conhecimento», o homem confirma o significado do nome «Eva», dado à sua esposa, porque ela seria mãe de todos os vivos (Gn 3,20).

2. Segundo Génesis 4, 1, quem conhece é o homem e quem é conhecido é a mulher-esposa, como se a específica determinação da mulher, através do próprio corpo e sexo, escondesse aquilo que forma a profundidade mesma da sua feminilidade. O varão, porém, é aquele que — depois do pecado — foi o primeiro a sentir a vergonha da nudez e o primeiro que disse: Cheio de medo, porque estou nu, escondi-me (Gn 3,10). Será necessário voltar ainda separadamente ao estado de espírito de ambos, depois da perda da inocência original. Já desde agora, porém, é preciso verificar que, no «conhecimento», de que fala Génesis 4, 1, o mistério da feminilidade se manifesta e revela até ao fundo mediante a maternidade como diz o texto: «concebeu e deu à luz». A mulher apresenta-se diante do homem como mãe, sujeito da nova vida humana, que nela é concebida e se desenvolve, e dela nasce para o mundo. Assim se revela também até ao fundo o mistério da masculinidade do homem, isto é, o significado gerador e «paterno» do seu corpo (2).

3. A teologia do corpo, encerrada no Livro do Génesis, é concisa e sóbria de palavras. Ao mesmo tempo, encontram nela expressão conteúdos fundamentais, em certo sentido primários e definitivos. Todos se encontram a seu modo naquele «conhecimento» bíblico. Diferente da do varão é a constituição da mulher; mais, sabemos hoje que é diferente até às determinantes biofisiológicas mais profundas. Manifesta-se exteriormente só em certa medida, na construção e na forma do corpo. A maternidade manifesta tal constituição dentro de si, como particular potencialidade do organismo feminino, que devido à capacidade criadora serve para a concepção e geração do ser humano, com o concurso do varão. O «conhecimento» condiciona a geração.

A geração é perspectiva, que o varão e a mulher inserem no «conhecimento» recíproco dos dois. Por isso ultrapassa ele os limites de sujeito-objecto, quais o varão e a mulher parecem ser reciprocamente, dado indicar o «conhecimento», por um lado, aquele que «conhece» e, por outro, aquela que é «conhecida» (ou vice-versa). Neste «conhecimento» está também a consumação do matrimónio, o consummatum específico; assim se obtém a consecução da «objectividade»do corpo, escondida nas potencialidades somáticas do varão e da mulher, e ao mesmo tempo a consecução da objectividade do homem que «é» este corpo. Mediante o corpo, a pessoa humana é «marido» e é «esposa»; ao mesmo tempo, neste acto particular de «conhecimento», por meio da feminilidade e masculinidade pessoais, parece obter-se também a descoberta da «pura» subjectividade do dom: isto é, a mútua realização de si no dom.

4. A procriação faz que «o varão e a mulher (sua esposa)» se conheçam reciprocamente no «terceiro», originado de ambos. Por isso, este «conhecimento» torna-se descoberta, em perto sentido revelação do novo homem, no qual ambos, varão e mulher, se reconhecem a si mesmos e no qual reconhecem a humanidade de ambos, a imagem viva de ambos. Em tudo isto, que é determinação de ambos por meio dos corpos e dos sexos, o «conhecimento» inscreve um conteúdo vivo e real. Portanto, o «conhecimento», em sentido bíblico, significa que a determinação «biológica» do homem, por parte do seu corpo e sexo, deixa de ser alguma coisa de passivo, e atinge nível e conteúdo específicos, próprios de pessoas autoconscientes e autodeterminantes; portanto, esse conhecimento comporta especial consciência do significado do corpo humano, ligado à paternidade e à maternidade.

5. Toda a constituição exterior do corpo da mulher, o seu aspecto particular e as qualidades que, juntas à força de um perene atractivo, estão na origem do «conhecimento», de que fala Génesis 4, 1-2 («Adão uniu-se a Eva sua mulher»), encontram-se em união íntima com a maternidade. A Bíblia (e em seguida a liturgia), com a simplicidade que lhe é própria, honra e louva através dos séculos as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram (Lc 11,27). Constituem estas palavras elogio da maternidade, da feminilidade e do corpo feminino na sua expressão típica do amor criador. E são palavras referidas no Evangelho à Mãe de Cristo, Maria, segunda Eva. A primeira mulher, por sua vez, no momento em que primeiro se revelou a maturidade maternal do seu corpo, quando «conheceu e deu à luz», disse: Gerei um homem com o auxílio do Senhor (Gn 4,1).

6. Estas palavras exprimem toda a profundidade teológica da função de gerar-procriar. O corpo da mulher torna-se lugar da concepção do novo homem (3). No seu seio, o homem concebido assume o aspecto humano próprio, antes de ser dado ao mundo. A homogeneidade somática do homem e da mulher, que encontrou a sua primeira expressão nas palavras: É o osso dos meus ossos e a carne da minha carne (Gn 2,23) é confirmada, por sua vez, pelas palavras da primeira mulher-mãe: «Gerei um homem». A primeira mulher que deu à luz tem consciência plena do mistério da criação que se renova na geração humana. E tem ainda plena consciência da participação criadora que Deus exerce na geração humana, obra sua e do seu marido, pois diz: «Gerei um homem com auxílio do Senhor».

Não pode haver nenhuma confusão entre as esferas de acção das causas. Os primeiros progenitores transmitem a todos os pais humanos — mesmo depois do pecado, juntamente com o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e quase no limiar de todas as experiências «históricas»— a verdade fundamental acerca do nascimento do homem à imagem de Deus, segundo as leis naturais. Neste novo homem — nascido da mulher-mãe por obra do homem-pai — reproduz-se cada vez a mesma «imagem de Deus», daquele Deus que formou a humanidade do primeiro homem: Deus criou o homem à Sua imagem;... Ele os criou homem e mulher (Gn 1,27).

7. Embora existam profundas diferenças entre o estado de inocência original e o estado de pecado hereditário do homem, aquela «imagem de Deus» constitui uma base de continuidade e de unidade. O «conhecimento», de que fala Génesis 4, 1, é o acto que origina o ser, isto é, em união com o Criador, estabelece um novo homem na sua existência. O primeiro homem na sua solidão transcendental, tomou posse do mundo visível, criado para ele, conhecendo e impondo os nomes aos seres vivos (animalia). O mesmo «homem», como varão e mulher — conhecendo-se reciprocamente nesta específica comunidade-comunhão de pessoas, na qual o homem e a mulher se unem tão estreitamente entre si que se tornam «uma só carne» — constitui a humanidade, isto é, confirma e renova a existência do homem como imagem de Deus. Cada vez, por assim dizer, retomam ambos, homem e mulher, esta imagem indo buscá-la ao mistério da criação e transmitem-na «com a ajuda de Deus-Javé».

As palavras do Livro do Génesis, que são testemunho do primeiro nascimento do homem na terra, encerram ao mesmo tempo, em si, tudo o que se pode e deve dizer da dignidade da geração humana.

Notas

1. Quanto aos arquétipos, C. G. Jung descreve-os como formas «a priori» de várias funções da alma: percepção de relações, fantasia criadora. As formas enchem-se de conteúdo com materiais de experiência. São elas como inertes, embora se encontrem carregadas de sentimento e de tendência (veja-se sobretudo: «Die psychologischen aspekte des Mutterarchetypus», Eranos 6, 1938, PP 405-409).

Segundo esta concepção, pode-se encontrar um arquétipo na mútua relação varão-mulher, relação que se baseia na realização binária e complementar do ser humano em dois sexos. O arquétipo encher-se-á de conteúdo mediante a experiência individual e colectiva, e pode movimentar a fantasia, criadora de imagens. Seria necessário precisar que o arquétipo: a) não se limita nem se exalta na relação física, mas inclui a relação do «conhecer»; b) está carregado de tendência: desejo-temor, dom-posse; c) o arquétipo, como proto-imagem («Urbild») é gerador de imagens («Bilder»).

O terceiro aspecto permite-nos passar à hermenêutica; em concreto, à dos textos da Escritura e da Tradição. A linguagem religiosa primária é simbólica (cfr. W. Stahlin, Symbolon, 1958; I. Macquarrie, God Talk, 1968; T. Fawcett, The Symbolic Language of Religion, 1970). Entre os símbolos, ela prefere alguns radicais ou exemplares, que podemos chamar arquetipais. Ora, entre estes a Bíblia usa o da relação conjugal, concretamente ao nível do «conhecer» descrito.

Um dos primeiros poemas bíblicos, que aplica o arquétipo conjugal às relações de Deus com o Seu povo, culmina no verbo comentado: «Conhecerás o Senhor» (Os 2,22, weyadaeta 'et Yhwh; atenuado em «Conhecerá que eu sou o Senhor» =wydet ky'ny Yhwh: Is 49,23 Is 60,16 Ez 16, 62, que são os três poemas «conjugais»). Daqui parte uma tradição literária, que virá a culminar na aplicação paulina de Ef. 5, a Cristo e à Igreja; depois passará à tradição patrística e à dos grandes místicos (por exemplo, «Llama de amor viva» de São Cruz).

No tratado «Grundzüge der Literaturund Sprachwissenschaft», vol. 1, Munique 1976, 4.a ed., p. 462, assim se definem os arquétipos: «Imagens e motivos arcaicos, que segundo Jung formam o conteúdo do incônscio colectivo, comum a todos os homens; apresentam símbolos, que em todos os tempos e entre todos os povos tornam vivo, de maneira imaginosa, o que para a humanidade é decisivo quanto a ideias, representações e instintos».

Freud; quanto parece, não utiliza o conceito de arquétipo. Estabelece uma simbólica ou código de correspondências fixas entre imagens presentes-patentes e pensamentos latentes. O sentido dos símbolos é fixo, embora não único; podem ser redutíveis a um pensamento último irredutível por sua vez, que é habitualmente alguma experiência da infância. Estes são primários e de carácter sexual (mas não lhes chama arquétipo). Veja-se T. Todorov, Théories du symbole, Paris, 1977, pp. 317 s.; além disso, J. Jacoby, Komplex, Archetyp in der Psychologie C. G. Jung, Zurique, 1957.

2. A paternidade é um dos aspectos da humanidade mais salientes na Sagrada Escritura. O texto de Gén. 5, 3: «Adão gerou um filho à sua imagem e semelhança» relaciona-se explicitamente com a narrativa da criação do homem (Gn 1,27 Gn 5,1) e parece atribuir ao pai terrestre a participação na obra divina de transmitir a vida, e talvez mesmo naquela alegria presente na afirmação: «Deus, vendo toda a Sua obra, considerou-a muito boa» (Gn 1,31).

3. Segundo o texto de Gén. 1, 26, a «chamada» à existência é ao mesmo tempo transmissão da imagem e da semelhança divina. O homem deve transmitir esta imagem, continuando assim a obra de Deus. A narrativa da geração de Set sublinha este aspecto: «Com 130 anos Adão gerou um filho à sua imagem e semelhança» (Gn 5,3).

Uma vez que Adão e Eva eram imagem de Deus, Set herda dos pais esta semelhança para a transmitir aos outros.

Na Sagrada Escritura, porém, cada vocação está unida a uma missão; portanto a chamada à existência é já predestinação à obra de Deus.

«Antes que fosses formado no ventre de tua mãe. Eu já te conhecia; antes que saísses do seio materno, Eu te consagrei» (Jr 1,5 cfr. Is Is 44,1 Is 49,1 Is 49,5).

Deus é aquele que não só chama à existência, mas sustenta e desenvolve a vida desde o primeiro momento da concepção.

«Sim, fostes Vós que me tirastes do seio materno, sois Vós o meu defensor desde o regaço de minha mãe. A Vós fui entregue logo ao nascer, desde o seio materno sois o meu Deus» (Ps 22,10 Ps 22,11 cfr. Sl Ps 139,13-15).

A atenção do autor bíblico centra-se no facto mesmo do dom da vida. O interesse pelo modo como isto se dá é bastante secundário e aparece só nos livros posteriores (cfr. Jb 10,8 Jb 10,11 2M 7 2M 22-23 Sg 7,1-3).

Saudações

As representantes da "Katholischen Frauengemeinschaft Deutschlands"

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas ao grupo de representantes da "Katholischen Frauengemeinschaft Deutschlands" (Associação Católica Feminina da Alemanha). Estou ao corrente do rico e abençoado trabalho da vossa associação nestes primeiros 50 anos da sua existência. Como salienta o Concílio, é de grande importância no nosso tempo reconhecer abertamente o lugar e a tarefa específica da mulher na vida da Igreja, estimar esta tarefa como merece, fomentá-la cada vez mais em função do apostolado eclesial e torná-la frutuosa (cfr. Apostolicam Actuositatem AA 9). Agradeço sinceramente à vossa Associação tudo o que já fizestes neste sentido, no passado, e animo-vos ao mesmo tempo a prosseguirdes no vosso sério e decidido trabalho com fé viva e em estreita colaboração com o Pastor da Igreja, instituída por Deus. Peço por isso a Deus que vos assista com a sua luz e protecção ao mesmo tempo que vos concedo a minha Bênção Apostólica.

Saúdo também cordialmente os participantes na Peregrinação a Roma do Movimento Católico dos Homens de Bozen/ Bolzano.

Este tempo da Quaresma recorda-nos uma vez mais a nossa chamada cristã a santificação pessoal e à santificação do nosso ambiente familiar, profissional e social. Declarai-vos incondicionalmente por Cristo, vosso Senhor e Salvador, e procurai configurar a vossa vida segundo Ele e em união íntima com Ele. Que Deus vos conceda isto com a sua graça mediante a minha Bênção Apostólica.

Às Religiosas participantes no Curso para Mestras de Formação

Dirijo-me agora às numerosas Religiosas, presentes em Roma para frequentar um curso de formação e de aperfeiçoamento para mestras de formação, organizado pela União das Superioras Maiores da Itália.

Caríssimas Irmãs em Cristo, confio o vosso trabalho e os vossos propósitos de bem, sob a protecção de Maria Santíssima, "Mater Divinae Gratiae", a fim de que vos inspire a saber dizer a Deus, em todas as circunstâncias da vida de almas consagradas, a vossa proclamação de absoluta disponibilidade à graça: Eis a escrava do Senhor!" (Lc 1,38).

A vós e a todas as vossas irmãs de hábito a minha particular Bênção Apostólica.

A uma peregrinação proveniente de Florença (Itália)

Depois, desejo saudar o grupo de peregrinos provenientes de Florença. Caríssimos, trazeis-me o testemunho do apego que liga a Igreja florentina à Sé de Pedro. Sou-vos por isso cordialmente grato. Sei que na vossa diocese se iniciou a Visita pastoral, que tem por fim despertar em todos uma consciência renovada do "dom de Deus" (cfr. Jo Jn 4,10) e chamar todos a um compromisso mais decisivo de evangelização, relativamente à ampla esfera de pessoas que, por razões diversas, se mantêm afastadas da Igreja, a ignoram ou até mesmo a hostilizam.

Faço votos por que toda a Comunidade diocesana saiba corresponder generosamente ao convite do seu Pastor e queira participar activamente, tornando-se sinal da divina presença e instrumento da palavra e da graça de Cristo "redentor do homem. Com estes sentimentos e votos de copiosos dons celestes para uma iniciativa pastoral tão importante. concedo, a vós e à querida Igreja de San Zanobi e de Sant'Antonino, a minha Bênção Apostólica.

À peregrinação de Peritos Industriais

Saúdo agora o numerosíssimo grupo dos Peritos Industriais vindos a esta Audiência por motivo do 50° aniversário da sua organização, representando os quinze mil colegas.

Caríssimos irmãos, a vossa específica profissão, que vos coloca qual anel ideal de união entre a mestrança e os órgãos directivos superiores, mostra a delicadeza e a importância dos vossos deveres e funções na sociedade contemporânea.

Faço votos por que a vossa vida profissional seja sempre animada e mantida por límpida honestidade, grande seriedade e laboriosidade consumada, mas principalmente por um profundo e recíproco respeito pelos outros, no nome da fraternidade cristã. Contribuí, portanto, para o progresso autêntico do País com a vossa preparação profissional e com as vossas riquezas interiores de bondade, inteligência e imaginação, a fim de que a paz social e a convivência civil sejam um legítimo benefício comum de todos.

Para vós, para as vossas famílias e todas as pessoas que vos são queridas dirija-se a minha especial Bênção Apostólica.

Aos Membros do "Circolo Magistrati della Corte dei Conti"

Saúdo também os Sócios do "Circolo Magistrati della Corte dei Conti", o seu Presidente e os seus familiares, presentes nesta Audiência para recordar os 15 anos de fundação desse Sodalício. O Senhor vos abençoe e conceda que o vosso Círculo se transforme num ambiente de crescente amizade no espírito de paz e de amor próprios do Evangelho, a fim de cumprirdes, com dedicação cada vez maior, os graves e delicados compromissos da vossa alta profissão.

Ao numeroso grupo de funcionários do Banco de Roma

Dirijo também agora uma saudação aos numerosos funcionários de direcção do Banco de Roma, provenientes tanto das sucursais italianas como das estrangeiras do mesmo Instituto, o qual celebra nestes dias o centenário da própria fundação.

Desejo de coração a todos vós que na dedicação ao trabalho possais realizar a vossa personalidade e contribuir, mediante os meios que vos são confiados, para o desenvolvimento e o bem-estar sociais.

A Bênção, que de bom grado vos concedo, é também extensiva a todos os vossos Colegas, aos vossos Colaboradores e às vossas Famílias.

Aos Oficiais Alunos da Escola de Civitavecchia (Itália)

Tenho agora o prazer de saudar o numeroso grupo de Oficiais Alunos e de Adidos aos serviços da "Scuola di Stato Maggiore", os quais, acompanhados do General do Corpo de Armada, dos Professores e das respectivas Famílias, vieram trazer a esta Audiência uma nota de entusiasmo juvenil.

Agradeço-vos esta presença e tomando como tema o mote da vossa Escola: "Alere Flammam", digo-vos: alimentai sempre no vosso espírito a chama dos ideais cristãos, segui com seriedade e empenho os vossos cursos, a fim de levardes amanhã para o campo das vossas actividades aquele sentido de responsabilidade, dignidade e dedicação que a sociedade espera de vós.

Para este fim sirva-vos de apoio a minha especial Bênção.

Aos Doentes

Urna especial palavra de saudação vai agora para todos vós, irmãos doentes aqui presentes.

Caríssimos, neste período da Quaresma procurai fazer vosso o convite de São Paulo a "revestir-vos do Senhor Jesus Cristo" (Rm 13,14) e a "configurar-vos à Paixão e Morte de Cristo" (Ph 3,10), vivendo na vossa carne a realidade do sofrimento, a exemplo de Jesus sofredor, como caminho seguro para a alegria da Ressurreição. Procurai, portanto realizar com generosidade esta vossa vocação, baseando-a numa profunda fé cristã e num ardente amor a Cristo. A minha Bênção vos acompanhe e a todos os que, corn amor, vos assistem na vossa oferta quotidiana.

Aos jovens Casais

Uma especial saudação e férvidos votos também a vós, jovens Casais, presentes hoje nesta Audiência.

Exorto-vos a serdes reconhecidos ao Senhor pelo dom da família que acabais de formar e à qual o Concílio Vaticano II chama "igreja doméstica" (L. G., c. 11). Sede orgulhosos desta família e guardai-a com todo o cuidado. Na família podereis e devereis encontrar o ambiente propício para a vossa santificação.

A fim de que esta missão cristã se realize, peço ao Senhor e à Virgem Maria que vos abençoem e protejam.


AUDIÊNCIAS 1980 - AUDIÊNCIA GERAL