AUDIÊNCIAS 1980 - AUDIÊNCIA GERAL


JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 23 de Julho de 1980




A concupiscência torna impossível a liberdade interior do dom

O corpo humano na sua masculinidade e feminilidade, segundo o mistério da criação — como sabemos pela análise de Génesis 2, 23-25 — não é só fonte de fecundidade, isto é, de procriação, mas desde «o princípio» tem carácter esponsal: quer dizer, é capaz de exprimir o amor com que o homem-pessoa se torna dom verificando assim o profundo sentido do próprio ser e do próprio existir. Nesta sua peculiaridade, o corpo é a expressão do espírito e é chamado, no mistério mesmo da criação, a existir na comunhão das pessoas «à imagem de Deus». Ora a concupiscência «que vem do mundo» — trata-se directamente da concupiscência do corpo — limita e deforma aquele modo objectivo de existir do corpo, de que o homem se tornou participante. O «coração» humano experimenta o grau desta limitação ou deformação, sobretudo no âmbito das relações recíprocas homem-mulher. Exactamente na experiência do «coração» a feminilidade e a masculinidade, nas suas relações recíprocas, parecem não ser já a expressão do espírito que tende para a comunhão pessoal, e ficam só objecto de atracção, em certo sentido como acontece «no mundo» dos seres vivos que, da mesma maneira que o homem, receberam a bênção da fecundidade (cf. Gén Gn 1).

2. Tal semelhança está certamente incluída na obra da criação; confirma-o também Génesis 2 e particularmente o versículo 24. Todavia, o que formava o substracto «natural», somático e sexual, daquela atracção, já exprimia plenamente no mistério da criação a chamada do homem e da mulher à comunhão pessoal; pelo contrário, depois do pecado, na nova situação de que fala Génesis 3, tal expressão enfraqueceu-se e ofuscou-se: como se diminuísse ao delinearem-se as relações recíprocas, ou como se fosse repelida para outro plano. O substracto natural e somático da sexualidade humana manifestou-se com força quase autógena, marcada por certo «constrangimento do corpo», activo segundo uma dinâmica própria, que limita a expressão do espírito e a experiência da troca do dom da pessoa. As palavras de Génesis 3, 16 dirigidas à primeira mulher parecem indicá-lo de modo bastante claro («Procurarás com paixão aquele a quem estarás sujeita»).

3. O corpo humano na sua masculinidade-feminilidade quase perdeu a capacidade de exprimir esse amor, em que o homem-pessoa se torna dom, conforme a mais profunda estrutura e finalidade da sua existência pessoal. como já observámos nas precedentes análises. Se aqui não formulamos este juízo de modo absoluto e lhe acrescentamos a expressão adverbial «quase», fazemo-lo porque a dimensão do dom — isto é a capacidade de exprimir o amor com que o homem, mediante a sua feminilidade ou masculinidade, se torna dom para o outro — nalguma medida não cessou de trespassar e plasmar o amor que nasce no coração humano. O significado esponsal do corpo não se tornou totalmente estranho àquele coração: não ficou nisso totalmente sufocado por parte da concupiscência, mas só habitualmente ameaçado. O «coração» tornou-se lugar de combate entre o amor e a concupiscência. Quanto mais a concupiscência domina o coração, tanto menos este experimenta o significado esponsal do corpo, e tanto menos se torna sensível ao dom da pessoa, que nas relações recíprocas do homem e da mulher exprime exactamente aquele significado. Certamente, também aquele «desejo» de que fala Cristo em Mateus 5, 27-28, aparece no coração humano em formas múltiplas: nem sempre é evidente e manifesto, às vezes é obscuro, de maneira que se faz chamar «amor», ainda que mude o seu autêntico aspecto e obscureça a limpidez do dom na relação recíproca das pessoas. Quer acaso isto dizer que tenhamos o dever de desconfiar do corpo humano? Não! Quer somente dizer que devemos manter o domínio.

4. A imagem da concupiscência do corpo, que deriva da presente análise, tem clara referência à imagem da pessoa, com que ligámos as nossas precedentes reflexões sobre o tema do significado esponsal do corpo. O homem de facto como pessoa é na terra «a única criatura que Deus quis por si mesma» e, ao mesmo tempo, aquele que não pode «encontrar-se plenamente senão através de um dom sincero de si» (Gaudium et spes GS 24). A concupiscência em geral — e a concupiscência do corpo em particular — abrange precisamente este «dom sincero»: subtrai ao homem, poder-se-ia dizer, a dignidade do dom, que é expressa pelo seu corpo mediante a feminilidade e a masculinidade, e em certo sentido «despersonaliza» o homem fazendo-o objecto «para o outro». Em vez de ser «juntamente com o outro» — sujeito na unidade, melhor na sacramental «unidade do corpo» — o homem torna-se objecto para o homem: a mulher para o varão e vice-versa. As palavras de Génesis 3, 16 — e, antes ainda, de Génesis 3, 7 — o atestam, com toda a clareza do contraste, a respeito de Génesis 2, 23-25.

5. Infringindo a dimensão do dom recíproco do homem e da mulher, a concupiscência põe também em dúvida que seja querido pelo Criador cada um «por Si mesmo». A subjectividade da pessoa cede, em certo sentido, à objectividade do corpo. Por causa do corpo, o homem torna-se objecto para o homem — a mulher para o varão e vice-versa. A concupiscência significa, por assim dizer, que as relações pessoais do homem e da mulher estão unilateral e redutivamente vinculadas ao corpo e ao sexo, no sentido de tais relações se tornarem quase incapazes de acolher o dom recíproco da pessoa. Não contêm nem tratam a feminilidade-masculinidade segundo a plena dimensão da subjectividade pessoal nem constituem a expressão da comunhão, mas permanecem unilateralmente determinadas «pelo sexo».

6. A concupiscência comporta a perda da liberdade interior do dom. O significado esponsal do corpo humano está precisamente ligado a esta liberdade. O homem pode tornar-se dom — ou seja o varão e a mulher podem existir na relação do dom recíproco de si — se cada um deles se domina a si mesmo. A concupiscência, que se manifesta como «constrangimento 'sui generis 'do corpo», limita interiormente e restringe o autodomínio de si, e por isso mesmo, em certo sentido, torna impossível a liberdade interior do dom. Juntamente com isto, sofre ofuscamento também a beleza, que o corpo humano possui no seu aspecto masculino e feminino, como expressão do espírito. Fica o corpo como objecto de concupiscência e portanto como «terreno de apropriação» do outro ser humano. A concupiscência, de per si, não é capaz de promover a união como comunhão de pessoas. Sozinha, ela não une, mas apropria-se. A relação do dom muda-se em relação de apropriação.

Nesta altura, interrompamos hoje as nossas reflexões. O último problema aqui tratado é de tão grande importância, e é além disso tão subtil do ponto de vista da diferença entre o autêntico amor (isto é, entre a «comunhão das pessoas») e a concupiscência, que devemos retomá-lo no nosso próximo encontro.

Saudação

Aos ministrantes da Arquidiocese de Saint Stephen

E agora uma especial palavra de boas-vindas ao grupo de ministrantes pertencentes à Arquidiocese de Saint Stephen, de Inglaterra, acompanhados de D. Anthony Howe. Estou contente por saber que celebrais este ano o vosso 75º aniversário. Tendes um trabalho importante a realizar garantindo a celebração digna e piedosa da liturgia da Igreja: Deus vos abençoe para que o desempenheis bem.

A uma peregrinação de Nicósia

Uma cordial e afectuosa saudação desejo dirigir aos fiéis da diocese de Nicósia que, acompanhados do seu zeloso, Pastor, D. Salvatore Di Salvo, vieram em peregrinação a Roma para venerar os túmulos dos Apóstolos e para exprimir dedicada homenagem ao Sucessor de Pedro.

Ao manifestar-vos o meu vivo apreço por este gesto, cheio de significado espiritual, faço votos por que a vossa fé cristã seja sempre sólida e forte no fundamento da Palavra de Deus e do ensinamento da Igreja; seja sempre límpida e serena no meio do tumultuar das vicissitudes humanas; seja generosa e corajosa sem nenhum respeito humano. Sede "fortes na fé... e na graça de Deus!", exorto-vos com as mesmas palavras de Pedro (cf. 1P 5,9 1P 5,12); e conservai ciosamente aquelas sadias, santas e preciosas tradições que vos foram transmitidas, durante tantos séculos, pelos vossos padres.

São Filipe d'Agira e o Beato Feliz de Nicósia continuem a inspirar, com o seu ensinamento e exemplo, o vosso testemunho cristão, e a Virgem Santíssima, que venerais com filial ardor, vos proteja sempre com a sua maternal protecção.

Acompanho estes votos com a minha Bênção Apostólica, que concedo ao vosso Bispo, a vós aqui presentes e a todos os irmãos e irmãs da dilecta diocese de Nicósia.

As Religiosas

Saúdo de coração as muitas centenas de Religiosas aqui reunidas, entre as quais se distinguem o numeroso grupo das que pertencem ao Movimento dos Focolares.

A todas agradeço a vossa presença, e faço votos por que este encontro de fé possa consolidar-vos cada vez mais na vossa generosa dedicação ao Senhor e à sua Igreja. O vosso testemunho evangélico no mundo faça sempre de vós lâmpadas acesas que iluminem e aqueçam todos aqueles que encontrais no vosso caminho.

E a minha bênção vos acompanhe sempre.

Aos Jovens

Dirijo agora uma saudação particularmente afectuosa aos Jovens que, com o seu explosivo entusiasmo, enchem e alegram esta Praça de São Pedro.

Agradeço-vos, caríssimos, esta vossa presença. Se vos acolho com especial afecto, é porque tenho verdadeiramente confiança em vós, por me ter convencido, na minha experiência entre os jovens quer como professor na Universidade, quer nos meus precedentes encontros com eles nos círculos culturais e nas excursões à montanha, de que precisamente vós, jovens, sois um dos caminhos significativos da Igreja, visto que, com sincero empenho e com nobreza de ideais, dais testemunho aberto de fé, glorificando assim o Redentor do Homem, Jesus nosso irmão e nosso amigo.

Com estes sentimentos desejo-vos um repouso estivo sereno e abençoo-vos de coração.

Aos Doentes

Toda a minha atenção dirige-se agora para vós, Doentes da Arquidiocese de Malta, que, depois de vos terdes detido em devota peregrinação no santuário mariano de Lourdes, quisestes vir a Roma para saudar o Papa.

A vós e a todos os outros, também doentes, que se encontram hoje aqui, apesar do incómodo e sacrifício, eu digo: sabei que o Papa está junto de vós com o afecto e com a oração quotidiana. Tende confiança: o Senhor não vos abandonará nos momentos mais duros da prova; dirigi-vos a Ele e dizei, com as mesmas palavras que sugeri recentemente no Brasil:

"Senhor, concedei-nos paciência, serenidade e coragem; dai-nos a graça de viver uma caridade alegre, por vosso amor, para com quem sofre mais do que nós e para com outros que, não sofrendo, não têm esclarecido o sentido da vida" (cf. Discurso aos hansenianos de Marituba, 8 de Julho de 1980).

Com esta exortação, concedo-vos a confortadora Bênção Apostólica.

Aos jovens Casais

Uma saudação particular desejo por fim dirigir aos jovens Casais presentes nesta Audiência para fortalecer, com a Bênção do Papa, aquela união que foi santificada e sancionada pelo Sacramento do Matrimónio.

Desejo que o vosso amor, que hoje vos une tão solidamente, não só não se enfraqueça nunca, mas aumente, de dia para dia, numa harmoniosa unidade de intenções e desejos, quer no plano humano) quer no sobrenatural, no qual o amor conjugal é figura daquele mesmo amor que existe entre Cristo e a Igreja, sua esposa mística.

Invoco sobre as vossas famílias nascentes e sobre o vosso caminho a dois, que há pouco iniciastes, graças eleitas e bênçãos celestes.



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 30 de Julho de 1980




Na vontade do dom recíproco a comunhão das pessoas

1. As reflexões, que vamos desenvolvendo no actual ciclo, ligam-se às palavras pronunciadas por Cristo no Sermão da montanha sobre o «desejo» da mulher por parte do homem. Na tentativa de proceder a um exame de fundo, sobre a característica do «homem da concupiscência», subimos de novo ao Livro do Génesis. Nele, a situação que se veio a criar na relação recíproca do homem e da mulher é indicada com grande precisão. Cada frase de Génesis 3 é muito eloquente. As palavras de Deus-Javé dirigidas à mulher em Génesis 3, 16 «Procurarás com paixão aquele a quem serás sujeita, o teu marido» parecem revelar, a uma análise aprofundada, em que modo a relação de dom recíproco, que existia entre eles no estado de inocência original, se mudou, depois do pecado, em relação de apropriação recíproca.

Se o homem se relaciona com a mulher, a ponto de a considerar apenas como objecto para dela se apropriar e não como dom, ao mesmo tempo condena-se a si mesmo a tornar-se também ele, para ela, apenas objecto de apropriação, e não dom. Parece que as palavras de Génesis 3, 16 tratam de tal relação bilateral, embora directamente seja dito apenas: «a quem serás sujeita». Além disso, na apropriação unilateral (que indirectamente é bilateral) desaparece a estrutura da comunhão entre as pessoas; ambos os seres humanos se tornam quase incapazes de atingir a medida interior do coração, voltada para a liberdade do dom e para o significado esponsal do corpo, que lhe é intrínseco. As palavras de Génesis 3, 16 parecem sugerir que isto acontece sobretudo à custa da mulher, e que, seja como for, ela o sente mais do que o homem.

2. Pelo menos para este particular vale a pena dirigir agora a atenção. As palavras de Deus-Javé, segundo Génesis 3, 16, «Procurarás com paixão aquele a quem serás sujeita» e as de Cristo segundo Mateus 5, 27-28 «Todo aquele que olhar para uma mulher desejando-a...» permitem descobrir certo paralelismo. Talvez aqui não se trate sobretudo de a mulher se tornar objecto de «desejo» por parte do homem, mas sim de — corno já precedentemente pusemos em relevo — o homem «desde o princípio» dever ser guarda da reciprocidade do dom e do seu autêntico equilíbrio». A análise daquele «princípio» (Gn 2,23-25) mostra exactamente a responsabilidade do homem em acolher a feminilidade como dom e em transformá-la numa recíproca e bilateral troca. Com isto encontra-se em aberto contraste o retirar da mulher o próprio dom mediante a concupiscência. Se bem que a conservação do equilíbrio do dom pareça ter sido confiada a ambos, toca sobretudo ao homem uma especial responsabilidade, como se dele mais dependesse que o equilíbrio seja mantido ou desfeito ou mesmo — se já desfeito — possivelmente restabelecido. Certamente, a diversidade dos papéis segundo estes enunciados, a que fazemos aqui referência como a textos chaves, era também ditada pela marginalização social da mulher nas condições de então (e a Sagrada Escritura do Antigo e do Novo Testamento disso fornece suficientes provas); não obstante, está nisso encerrada uma verdade, que tem o seu peso independentemente de específicos condicionamentos devidos aos usos daquela determinada situação histórica.

3. A concupiscência faz que se torne o corpo quase «terreno» de apropriação da outra pessoa. Como é fácil entender, isto comporta a perda do significado esponsal do corpo. E, ao mesmo tempo, adquire outro significado também o facto de se pertencerem reciprocamente as pessoas, as quais, unindo-se de maneira que sejam «uma só carne» (Gn 2,24), são ao mesmo tempo chamadas a pertencer uma à outra. A particular dimensão da união pessoal do homem e da mulher através do amor exprime-se nas palavras «meu... minha». Estes pronomes, que desde sempre pertencem à linguagem do amor humano, figuram muitas vezes nas estrofes do Cântico dos Cânticos e também noutros textos bíblicos (1. Cf. por ex. Cf. 1, 9.13.14.15.16; 2, 2.3.8.9.10.13.14.16.17; 3, 2.3.4.9; 7, 11; 8, 12, 14. Cf. além disso, por ex., Ez. 16, 8; Os 2,18 Tb 8,7). São pronomes que, no seu significado «material», denotam uma relação de posse, mas no nosso caso indicam a analogia pessoal de tal relação. Pertencerem-se reciprocamente o homem e a mulher, em especial quando se pertencem como cônjuges «na unidade do corpo», é coisa que deriva desta analogia pessoal. A analogia — como é sabido — indica ao mesmo tempo uma semelhança mas também a carência de identidade (isto é, uma substancial dissemelhança). Só podemos falar de as pessoas pertencerem uma à outra reciprocamente, se tomamos em consideração tal analogia. De facto, no seu significado original e específico, pertencer pressupõe a relação do sujeito ao objecto: relação de posse e de propriedade. É relação não só objectiva, mas sobretudo «material»: pertencer a alguém alguma coisa, portanto um objecto.

4. Os termos «meu... minha», na eterna linguagem do amor humano, não têm - certamente — tal significado. Indicam a reciprocidade da doação, exprimem o equilíbrio do dom — talvez isto precisamente em primeiro lugar — isto é, aquele equilíbrio do dom, em que se instaura a recíproca communio personarum. E se esta é instaurada mediante o dom recíproco da masculinidade e da feminilidade, conserva-se nesta também o significado esponsal do corpo. Na verdade, as palavras «meu... minha», na linguagem do amor, parecem radical negação de pertença no sentido em que um «objecto-coisa material» pertence ao sujeito-pessoa. A analogia conserva a sua função até vir a dar no significado acima exposto. A tríplice concupiscência, e em particular a concupiscência da carne, tira ao pertencer recíproco entre o homem e a mulher a dimensão que é própria da analogia pessoal, em que os termos «meu... minha» conservam o seu significado essencial. Tal significado essencial está fora da «lei de propriedade», fora do significado do «objecto de posse»; a concupiscência, pelo contrário, é orientada para este último significado. O passo que segue o possuir vai para o «gozo»: o objecto que possuo adquire para mim certo significado, enquanto disponho dele e dele me sirvo, o uso. É evidente que a analogia pessoal do pertencer se contrapõe decididamente a tal significado. E esta oposição é sinal de, o que na relação recíproca do homem e da mulher «vem do Pai», conservar a sua persistência e continuidade relativamente ao que vem «do mundo». Todavia, a concupiscência de per si impele o homem para a posse do outro como objecto, impele-o para o «gozo», que leva consigo a negação do significado esponsal do corpo. Na sua essência, o dom desinteressado é excluído pelo «gozo» egoísta. Não falam acaso dele as palavras de Deus-Javé dirigidas à mulher em Génesis 3, 16?

5. Segundo a primeira carta de João 2, 16, a concupiscência mostra sobretudo o estado do espírito humano. Também a concupiscência da carne atesta, em primeiro lugar, o estado do espírito humano. A este problema convirá dedicar nova análise. Aplicando a teologia joanina ao terreno das experiências descritas em Génesis 3, como também às palavras pronunciadas por Cristo no Sermão da montanha (Mt 5,27-28), encontramos, por assim dizer, uma dimensão concreta daquela oposição que — juntamente com o pecado — nasceu no coração humano entre o espírito e o corpo. As suas consequências fazem-se sentir na relação recíproca das pessoas, cuja unidade na humanidade é determinada desde o princípio por serem homem e mulher. Desde que o homem proclamou «outra lei a lutar contra a lei da sua razão» (Rm 7,23), existe quase um constante perigo de prevalecer tal modo de ver, de avaliar e de amar, de maneira que o «desejo do corpo» se manifesta mais forte que o «desejo da razão». Ora é exactamente esta verdade acerca do homem, este elemento antropológico, que devemos ter sempre presente, se queremos compreender até ao fundo o chamamento dirigido por Cristo ao coração humano no Sermão da montanha.

Saudação

A vários grupos de língua francesa

Congratulo-me de saudar, dentre os diversos grupos, as Ursulinas de Jesus, de Chavagnes-en-Paillers, reunidas em Roma, e depois em Loreto, para a segunda sessão do seu Capítulo Geral. Encorajo-vos, queridas Filhas, a prosseguirdes a obra de evangelização que vos é hoje confiada em diversos países, segundo "o Espírito do Verbo encarnado", como dizia o vosso Fundador, Louis-Marie Baudouin, isto é, um espírito de contemplação de Deus, a quem consagrais o vosso amor, e ao mesmo tempo um espírito de proximidade dos homens, especialmente dos jovens; dos pobres e dos doentes. Servi-os na alegria, com Jesus. E a sua Bênção vos acompanhe!

Saúdo também os grupos de jovens, e de modo particular os jovens do Centro Espiritual Notre-Dame de Vie. Queridos amigos, desejo louvar e encorajar vigorosamente a vossa preocupação de dar, na vossa vida de cada dia, como fizestes durante a viagem, um lugar privilegiado à oração, à escola dos Mestres espirituais do Carmelo. A nossa época tem necessidade de Mestres de oração; tem necessidade de apóstolos enraizados na oração, numa oração gratuita, e quase continua. Assim os cristãos viverão na serenidade de uma fé aprofundada, e testemunharão o essencial do Evangelho.

O Espírito Santo vos guie e vos inspire!

Abençoo-vos de todo o coração.

A peregrinos de língua inglesa

Veio de Malta um grupo de Irmãs Franciscanas do Coração de Jesus, cuja congregação celebra este ano o centenário da sua fundação. Deus vos abençoe e à vossa Congregação. Ele vos conserve a todas dedicadas, fortes e alegres.

Desejo acrescentar agora uma palavra de boas-vindas ao "Working Party on Mission Studies and Information Management", que acaba de completar uma semana de discussão e estudo em Roma Aprecio o vosso esforço em fazer que Deus seja mais conhecido, amado e servido, e ensinar todas as nações a observar tudo aquilo que Jesus ordenou. Cristo esteja sempre convosco.

Aos Jovens

O meu pensamento e a minha saudação dirigem-se agora a vós, jovens aqui presentes, que vindes de todas as partes do mundo neste período de repouso dos vossos normais compromissos de estudo. Vendo homens e cidades tereis a possibilidade de enriquecer o vosso conhecimento; mas procurai manter sempre intacto o vigor da vossa juventude e a solidez da vossa fé cristã, vivida na alegria contínua, que provém da amizade profunda com Cristo.

Uma saudação particular dirijo agora a vós, responsáveis e membros do Movimento juvenil das "Pontifícias Obras Missionárias", que celebrais nestes dias, em Roma, o vosso Congresso sobre o tema: "Missão - Vocação - Catequese", e faço votos por que leveis sempre no vosso coração e difundais especialmente entre os vossos coetâneos o ardor e o empenho do testemunho pessoal à mensagem de Jesus.

A minha Bênção Apostólica confirme estes meus votos.

Aos Doentes

E a vós, caríssimos irmãos Doentes, que no sofrimento e na enfermidade estais de modo especial unidos a Jesus, dirijo uma saudação cheia de afecto e de cordialidade e, interpretando também os sentimentos daqueles que estão presentes nesta Audiência, faço votos por que possais viver plenamente a "bem-aventurança das lágrimas" (cf. Mt Mt 5,4), proclamada por Cristo para os seus seguidores mais fiéis. A vida da Cruz é humanamente muito dura, mas ela leva à luz, à paz e à alegria sem fim.

A todos vós concedo, de coração, uma particular Bênção Apostólica, recomendando-me, e a toda a Igreja, às vossas orações, tornadas preciosas pela dor.

Aos jovens Casais

Não posso esquecer nesta circunstância os numerosos jovens Casais: faço votos por que o vosso amor, consagrado por Deus no Matrimónio, se mantenha sempre com ardor no meio do tumultuar das vicissitudes humanas e se consolide cada vez mais, animado pelas virtudes cristãs, especialmente pela fidelidade mútua, virtudes que são o tesouro precioso das famílias, segundo o plano de Deus, que, "desde o princípio", quis que fosse sagrado, inviolável e indissolúvel vínculo que vos une por toda a vida.

É com verdadeira alegria que concedo às vossas nascentes famílias cristãs a minha especial Bênção Apostólica.



                                                                           Agosto de 1980

JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 6 de Agosto de 1980

O Sermão da Montanha aos homens do nosso tempo


Prosseguindo o nosso ciclo, retomamos hoje o Sermão da Montanha, precisamente o enunciado: «Todo aquele que olha para uma mulher com mau desejo já cometeu adultério com ela em seu coração» (Mt 5,28). Jesus apela aqui para o «coração».

Na Sua conversa com os fariseus, Jesus, referindo-se ao «princípio» (cf. as análises precedentes), pronunciou as seguintes palavras a respeito do libelo de repúdio: «Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim» (Mt 19,8). Esta frase compreende indubiamente uma acusação. «A dureza do coração» ( l ) indica o que, segundo o «ethos» do povo do Antigo Testamento, fundara a situação contrária ao original desígnio de Deus-Javé segundo Génesis 2, 24. E é lá que é preciso buscar a chave para interpretar toda a legislação de Israel no campo do matrimónio e, em sentido mais lato, no conjunto das relações entre homem e mulher. Falando da «dureza do coração», Cristo acusa, por assim dizer, o inteiro «sujeito interior» que é responsável pela deformação da lei. No Sermão da Montanha (Mt 5,27-28), faz uma referência ao «coração», mas as palavras aqui pronunciadas não parecem só de acusação.

2. Devemos reflectir uma vez mais sobre elas, inserindo-as o mais possível na sua dimensão «histórica». A análise até agora feita, tendente a fazer compreender «o homem da concupiscência» no seu momento genético, quase no ponto inicial da sua história entrelaçada com a teologia, constitui ampla introdução, sobretudo antropológica, ao trabalho que ainda é preciso empreender. A sucessiva etapa da nossa análise deverá ser de carácter ético. O Sermão da Montanha e, em particular, a passagem que escolhemos como centro das nossas análises, faz parte da proclamação do novo «ethos»: o ethos do Evangelho. No ensinamento de Cristo, ele está profundamente ligado com a consciência do «princípio», portanto com o mistério da criação na sua original simplicidade e riqueza; e, ao mesmo tempo, o «ethos», que proclama Cristo no Sermão da Montanha, é realisticamente dirigido para o «homem histórico», tornado o homem da concupiscência. A tríplice concupiscência, de facto, é herança de toda a humanidade, e o «coração» humano realmente participa dela. Cristo, que sabe «o que há em cada homem» (Jn 2,25) (2), não pode falar de outro modo, senão com semelhante consciência. Deste ponto de vista, nas palavras de Mateus 5, 27-28 não prevalece a acusação mas o juízo: juízo realista sobre o coração humano, juízo que por um lado tem fundamento antropológico, e, por outro, carácter directamente ético. Para o «ethos» do Evangelho é juízo constitutivo.

3. No Sermão da Montanha, Cristo dirige-se directamente ao homem que pertence a uma sociedade bem definida. Também o Mestre pertence a essa sociedade, a esse povo. Portanto é necessário procurar nas palavras de Cristo referência aos factos, às situações e às instituições, com que estava quotidianamente familiarizado. É necessário submeter-mos tais referências a uma análise pelo menos sumária, para que se manifeste mais claramente o significado ético das palavras de Mateus 5, 27-28. Todavia, com estas palavras, Cristo dirige-se também, de modo indirecto mas real, a todo o ser «histórico» (entendendo este adjectivo sobretudo em função teológica). E este homem é precisamente o «homem da concupiscência», cujo mistério e cujo coração são conhecidos de Cristo («Ele próprio conhecia o interior de cada homem»: Jn 2,25). As palavras do Sermão da Montanha consentem-nos estabelecer um contacto com a experiência interior deste homem, quase a toda a latitude geográfica, nas várias épocas, nos diversos condicionamentos sociais e culturais. O homem do nosso tempo sente-se chamado pelo nome por este enunciado de Cristo, não menos que o homem de «então», a quem o Mestre directamente se dirigia.

4. Nisto reside a universalidade do Evangelho, que não é de facto uma generalização. Talvez exactamente neste enunciado de Cristo, que sujeitamos aqui a análise, isto se manifeste com particular clareza. Em virtude deste enunciado, o homem de todos os tempos e todos os lugares sente-se chamado, de maneira adequada, concreta e irrepetível: porque exactamente Cristo faz apelo ao «coração» humano, que não pode sujeitar-se a nenhuma generalização. Com a categoria do «coração», cada um é individuado singularmente mais ainda que pelo nome, é atingido naquilo que o determina de modo único e irrepetível, é definido na sua humanidade «a partir de dentro».

5. A imagem do homem da concupiscência diz respeito, primeiro que tudo, ao seu íntimo (3). A história do «coração» humano depois do pecado original está escrita sob a pressão da tríplice concupiscência, a que se liga também a mais profunda imagem do «ethos» nos seus vários documentos históricos. Todavia aquele íntimo é também a força que decide do comportamento humano «exterior», e também da forma das múltiplas estruturas e instituições a nível de vida social. Se destas estruturas e instituições deduzimos os conteúdos do «ethos», nas suas várias formulações históricas, sempre encontramos este aspecto íntimo, próprio da imagem interior do homem. Esta, de facto, é o elemento mais essencial. As palavras de Cristo no Sermão da Montanha, especialmente as de Mateus 5, 27-28, indicam-no de modo inequívoco. Nenhum estudo sobre o «ethos» humano pode passar ao lado delas com indiferença.

Por isso, nas nossas sucessivas reflexões, procuraremos submeter a uma análise mais particularizada aquele enunciado de Cristo, que diz: «Ouvistes que foi dito: Não cometerás adultério. Eu porém digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (ou. «já a tornou adúltera no seu coração»).

Para compreender melhor este texto, analisaremos primeiro cada uma das suas partes, com o fim de obter depois mais aprofundada visão global. Tomaremos em consideração não só os destinatários de então, que ouviram com os próprios ouvidos o Sermão da Montanha, mas também, quanto possível, os contemporâneos, os homens do nosso tempo.

Notas

1. O termo grego «sklérokardia» foi forjado pelos Setenta para exprimir o que no hebraico significava «incircuncisão do coração» (cfr. por , Dt. 10, 16; Jr 4,4 Si 3 Si 26), que, na tradução literal do Novo Testamento, aparece uma só vez (Ac 7,51).

A «incircuncisão» significava o «paganismo», a «impudicícia», a «distância que separa da Aliança com Deus»; a «incircuncisão do coração» exprimia a indómita obstinação em opor-se a Deus: Confirma-se a apóstrofre do diácono Estêvão: «Homens de cerviz dura, incircuncisos de corações e de ouvidos, sempre vos opondes ao Espírito Santo; como foram os vossos pais, assim sois vós também» (Ac 7,51).

É necessário portanto entender a «dureza de coração» em tal contexto filológico.

2. Cfr. Apoc. 2, 35: «Aquele que sonda os rins e o coração...»; Act. 1, 24: «Senhor, que conheces b coração de todos...» (kardtognostes).

3. «Do coração procedem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfémias. Eis o que torna o homem impuro...» (Mt 15,19-20).

Saudações

E agora, antes de cantarmos todos juntos o "Pater noster", não posso esquecer que, há dois anos, o meu Predecessor Paulo VI estava para concluir a sua longa e operosa jornada terrena. Dentro de poucas horas, ele apresentava-se ao Cristo Senhor para contemplar a sua Face, para Lhe dizer, com Pedro e como Pedro: "Rabbi, bonum est nos hic esse": "Mestre, como é é bom estarmos aqui" (Mc 9,5); é bom estar contigo, para sempre!

Neste final de tarde, que a recordação tinge de tristeza, voltemos o pensamento para aquele grande Pontífice, que se entregou até ao extremo ao serviço da Igreja, por ele amada como pupila dos seus olhos, por ele exaltada e defendida dos contrastes opostos, por ele guiada nas ondas perturbadas às vezes pela renovação pós-conciliar, por ele esclarecida numa catequese incansável a expor admiravelmente a sua íntima natureza, tanto a realidade escondida como a visível, a orgânica estrutura externa e o carisma do Espírito Santo que a move interiormente, a configuração "mariana" de obediência e de serviço sem limites no "sim" pronunciado pelo homem a Deus.

Como esquecer as suas palavras e os seus discursos, sempre incisivos e inspirados? Como não recordar os seus grandes documentos, como a "Populorum Progressio", a "Humanae Vitae", a "Sacerdotalis Caelibatus", a "Octogesima Adveniens", a "Marialis cultus", a "Gaudete in Domino", a "Evangelii nuntiandi"? Como não percorrer de novo as suas viagens apostólicas, que abriram definitivamente os caminhos do mundo para o hodierno testemunho do Sucessor de Pedro?

No dia da sua Transfiguração, o Senhor chamou-o para contemplar a sua glória; e sabemos, como testemunharam os seus mais íntimos colaboradores, que, neste último entardecer da sua vida, a oração continuamente saída dos seus lábios, no desfalecer das energias físicas, foi precisamente o "Pater noster". Ao recordarmo-lo juntos, esta tarde, com as mesmas palavras do "Pater noster", peçamos ao Pai Celeste que o inunde com a sua luz eternamente fulgurante, e nos conceda a todos seguirmos fielmente os ensinamentos e os exemplos, que ainda nos edificam e comovem.

A peregrinação nacional dos Camarões

Desejo dirigir uma cordial saudação aos membros da peregrinação nacional dos Camarões que comemoram este ano o 90° aniversário da sua evangelização. Por este motivo, viestes em grande número, acompanhados de D. Simon Tonye, Bispo de Douala, e de D. Jean Pasquier, Bispo Auxiliar de Garona, para agradecer ao Senhor o dom da fé. Antes de irdes à Terra Santa, onde Nosso Senhor pregou o Evangelho e morreu por todos nós, pedireis aqui aos santos Apóstolos que tornem a vossa fé semelhante à deles: forte e profunda. Pedi-lhes a fidelidade a Cristo e à sua Igreja, para vós mesmos e para aqueles a quem representais aqui.

A todos dou a minha afectuosa Bênção Apostólica.

Ao grupo "Entre Jeunes"

Tenho o prazer de saudar também o grupo "Entre Jeunes" e todos os grupos semelhantes, presentes nesta audiência, e de lhes manifestar a minha confiança neles. Como sabeis, queridos amigos, o futuro que se depara à vossa frente traz esperança ao mundo e à Igreja; para uma grande parte, ele dependerá daquilo que sereis e daquilo que fareis. É por isso que quero encorajar-vos a tomar sempre maior consciência das vossas responsabilidades e a ser generosos perante os deveres que vos incumbem.

A Virgem Maria vos ajude a servir o Senhor durante toda a vossa vida.

A grupos de peregrinos de várias religiões

As minhas especiais boas-vindas aos grupos de Presbiteranos, Metodistas e Discípulos de Cristo, hoje aqui presentes. A vossa visita dá-nos a oportunidade de manifestar a nossa fé comum em Jesus Cristo, repetindo-lhe as palavras de Pedro: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16,16).

Peço-vos que leveis os meus cordiais e respeitosos bons votos às vossas famílias e a todos os membros das vossas comunidades eclesiais.

Aos participantes no Congresso Nacional da "Cruzada do Evangelho"

Tenho o prazer de dar as boas-vindas e de dirigir o meu encorajamento aos numerosos participantes no Congresso Nacional da "Cruzada do Evangelho", que se realiza nestes dias em Riano Flamínio.

Sei que viestes de todas as partes da Itália para o vosso encontro anual de estudo, de reflexão e de oração; e, ao mesmo tempo que me alegro sinceramente convosco pelo empenho que pondes em aprofundar o conhecimento do Evangelho, a fim de que a sua luz vos ilumine no caminho da vida, faço votos por que seja cada vez mais vivo o desejo de ouvir, como Maria de Betânia aos pés de Jesus, a sua voz que nos fala. Só Ele tem palavras de vida eterna (cf. Jo Jn 6,68), só Ele é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jn 14,6). No Evangelho está a sua Palavra, no Evangelho está a sua arcana presença, que nos atrai, aquece e estimula a viver segundo a sua Lei, para ser neste mundo, muitas vezes árido e cruel, chama de fé e de amor, para a glória do Pai.

Desejo-vos isto com grande afecto, ao mesmo tempo que concedo a todos a Bênção Apostólica.

A vários grupos de peregrinos italianos

Encontram-se presentes nesta Audiência de hoje numerosos peregrinos provenientes de várias partes da Itália e entre eles os participantes na Assembleia Geral da "Piccola Famiglia Francescana", Instituto Secular que celebra o 50° aniversário de fundação; a peregrinação paroquial proveniente de Introdacqua, diocese de Sulmona; e a de Monte San Giovanni Campano, diocese de Véroli.

A todos dirijo a minha afectuosa saudação e, ao recomendar-vos que sejais sempre testemunhas coerentes do Evangelho com as palavras e com a vida, concedo-vos de coração a propiciadora Bênção Apostólica, que de boa vontade faço extensiva a todos os que vos são queridos.

Aos Jovens

Viestes em grande número de várias localidades, queridos jovens, a esta Audiência, e agradeço a vossa participação. A Liturgia de hoje faz-nos festejar um misterioso e consolador episódio da vida de Jesus: a Transfiguração do seu aspecto corpóreo, revestido da glória do Pai, no Monte Tabor. Unindo-me àquele facto, quero repetir-vos uma frase da minha mensagem aos jovens de Paris: "tende um grandíssimo respeito pelo vosso corpo e pelo corpo dos outros! Que o vosso corpo esteja ao serviço do vosso eu profundo! Que os vossos gestos, os vossos olhares, sejam sempre o reflexo da vossa alma! Adoração do corpo? Não, nunca! Desprezo do corpo? Tampouco! Domínio do corpo? Sim! Mais ainda: transfiguração do corpo!" (1 de Junho de 1980).

Desejo-vos isto com afecto. A minha paternal Bênção vos ajude.

Aos Doentes

Também a vós, caríssimos Doentes, dirijo a minha benévola e reconhecida .saudação.

Há dois anos, no Domingo 6 de Agosto à tarde, o Papa Paulo VI deixava esta terra para o céu. Para o Angelus daquele dia tinha escrito: "A Transfiguração do Senhor projecta luz deslumbrante sobre a nossa vida quotidiana... Aquele corpo, que se transfigura perante os olhos atónitos dos Apóstolos, é o Corpo de Cristo nosso irmão, mas é também o nosso corpo chamado à glória; aquela luz que o inunda é, e será também, a nossa parte de herança e de esplendor" (Insegnarnenti di Paolo VI, 1978, pág. 588).

Estas últimas palavras do grande Pontífice sejam para vós consolação e encorajamento nos vossos sofrimentos; juntamente com a minha Bênção.

Aos jovens Casais

Caríssimos jovens Casais, na vossa viagem de "lua de mel" quisestes inserir também a visita ao Papa. Agradeço de coração este vosso pensamento, e com grande afecto a todos dirijo a minha saudação muito sentida. E, na luz da Transfiguração, faço-vos também votos por que mantenhais vivo o significado daquele milagre na vossa nova vida: que a luz da fé e da graça resplandeça sempre na fidelidade do vosso amor.

São estes os votos que faço, a fim de que possais ser sempre felizes no Senhor, ao mesmo tempo. que vos acompanho com a minha Bênção.



AUDIÊNCIAS 1980 - AUDIÊNCIA GERAL