Discursos João Paulo II 1980 - Sexta-feira, 7 de Março de 1980


JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 12 de Março de 1980



(Antes da Catequese de 12 de Março o Papa recebeu os jovens na Basílica de São Pedro)


Sala Paulo VI

O mistério da mulher revela-se na maternidade

1. Na meditação precedente analisámos a frase de Génesis 4, 1, e em particular o termo «conheceu», usado no texto original para definir a união conjugal. Fizemos também notar que este «conhecimento» bíblico estabelece uma espécie de arquétipo (1) pessoal da corporeidade e sexualidade humanas. Parece isto absolutamente fundamental para compreender o homem, que desde «o princípio» anda à busca do significado do próprio corpo. Este significado está na base da teologia mesma do corpo. O termo «conheceu» «uniu-se» (Gn 4,1-2) sintetiza toda a densidade do texto bíblico até agora analisado. O «homem» que, segundo Génesis 4, 1, pela primeira vez conhece a mulher, sua esposa, no acto da união conjugal, é de facto aquele mesmo que, impondo os nomes, isto é, «conhecendo» também, se «diferenciou» de todo o mundo dos seres vivos ou animalia, afirmando-se a si mesmo como pessoa e sujeito. O «conhecimento», de que fala Génesis 4, 1, não o afasta nem pode afastar do nível daquele primordial e fundamental autoconhecimento. Portanto — qualquer coisa que dele afirmasse uma mentalidade unilateralmente «naturalista »— em Génesis 4, 1 não pode tratar-se de uma aceitação passiva da própria determinação por parte do corpo e do sexo, exactamente porque se trata de «conhecimento».

É, pelo contrário nova descoberta do significado do próprio corpo, descoberta comum e recíproca, assim como comum e recíproca é desde o princípio a existência do homem, que «Deus criou varão e mulher». O conhecimento, que estava na base da solidão original do homem, está agora na base desta unidade do homem e da mulher, cuja clara perspectiva foi encerrada pelo Criador no mistério mesmo da criação (Gn 1,27 Gn 2,23). Neste «conhecimento», o homem confirma o significado do nome «Eva», dado à sua esposa, porque ela seria mãe de todos os vivos (Gn 3,20).

2. Segundo Gn 4,1, quem conhece é o homem e quem é conhecido é a mulher-esposa, como se a específica determinação da mulher, através do próprio corpo e sexo, escondesse aquilo que forma a profundidade mesma da sua feminilidade. O varão, porém, é aquele que — depois do pecado — foi o primeiro a sentir a vergonha da nudez e o primeiro que disse: Cheio de medo, porque estou nu, escondi-me (Gn 3,10). Será necessário voltar ainda separadamente ao estado de espírito de ambos, depois da perda da inocência original. Já desde agora, porém, é preciso verificar que, no «conhecimento», de que fala Gn 4,1, o mistério da feminilidade se manifesta e revela até ao fundo mediante a maternidade como diz o texto: «concebeu e deu à luz». A mulher apresenta-se diante do homem como mãe, sujeito da nova vida humana, que nela é concebida e se desenvolve, e dela nasce para o mundo. Assim se revela também até ao fundo o mistério da masculinidade do homem, isto é, o significado gerador e «paterno» do seu corpo (2).

3. A teologia do corpo, encerrada no Livro do Génesis, é concisa e sóbria de palavras. Ao mesmo tempo, encontram nela expressão conteúdos fundamentais, em certo sentido primários e definitivos. Todos se encontram a seu modo naquele «conhecimento» bíblico. Diferente da do varão é a constituição da mulher; mais, sabemos hoje que é diferente até às determinantes biofisiológicas mais profundas. Manifesta-se exteriormente só em certa medida, na construção e na forma do corpo. A maternidade manifesta tal constituição dentro de si, como particular potencialidade do organismo feminino, que devido à capacidade criadora serve para a concepção e geração do ser humano, com o concurso do varão. O «conhecimento» condiciona a geração.

A geração é perspectiva, que o varão e a mulher inserem no «conhecimento» recíproco dos dois. Por isso ultrapassa ele os limites de sujeito-objecto, quais o varão e a mulher parecem ser reciprocamente, dado indicar o «conhecimento», por um lado, aquele que «conhece» e, por outro, aquela que é «conhecida» (ou vice-versa). Neste «conhecimento» está também a consumação do matrimónio, o consummatum específico; assim se obtém a consecução da «objectividade»do corpo, escondida nas potencialidades somáticas do varão e da mulher, e ao mesmo tempo a consecução da objectividade do homem que «é» este corpo. Mediante o corpo, a pessoa humana é «marido» e é «esposa»; ao mesmo tempo, neste acto particular de «conhecimento», por meio da feminilidade e masculinidade pessoais, parece obter-se também a descoberta da «pura» subjectividade do dom: isto é, a mútua realização de si no dom.

4. A procriação faz que «o varão e a mulher (sua esposa)» se conheçam reciprocamente no «terceiro», originado de ambos. Por isso, este «conhecimento» torna-se descoberta, em perto sentido revelação do novo homem, no qual ambos, varão e mulher, se reconhecem a si mesmos e no qual reconhecem a humanidade de ambos, a imagem viva de ambos. Em tudo isto, que é determinação de ambos por meio dos corpos e dos sexos, o «conhecimento» inscreve um conteúdo vivo e real. Portanto, o «conhecimento», em sentido bíblico, significa que a determinação «biológica» do homem, por parte do seu corpo e sexo, deixa de ser alguma coisa de passivo, e atinge nível e conteúdo específicos, próprios de pessoas autoconscientes e autodeterminantes; portanto, esse conhecimento comporta especial consciência do significado do corpo humano, ligado à paternidade e à maternidade.

5. Toda a constituição exterior do corpo da mulher, o seu aspecto particular e as qualidades que, juntas à força de um perene atractivo, estão na origem do «conhecimento», de que fala Gn 4,1-2 («Adão uniu-se a Eva sua mulher»), encontram-se em união íntima com a maternidade. A Bíblia (e em seguida a liturgia), com a simplicidade que lhe é própria, honra e louva através dos séculos as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram (Lc 11,27). Constituem estas palavras elogio da maternidade, da feminilidade e do corpo feminino na sua expressão típica do amor criador. E são palavras referidas no Evangelho à Mãe de Cristo, Maria, segunda Eva. A primeira mulher, por sua vez, no momento em que primeiro se revelou a maturidade maternal do seu corpo, quando «conheceu e deu à luz», disse: Gerei um homem com o auxílio do Senhor (Gn 4,1).

6. Estas palavras exprimem toda a profundidade teológica da função de gerar-procriar. O corpo da mulher torna-se lugar da concepção do novo homem (3). No seu seio, o homem concebido assume o aspecto humano próprio, antes de ser dado ao mundo. A homogeneidade somática do homem e da mulher, que encontrou a sua primeira expressão nas palavras: É o osso dos meus ossos e a carne da minha carne (Gn 2,23) é confirmada, por sua vez, pelas palavras da primeira mulher-mãe: «Gerei um homem». A primeira mulher que deu à luz tem consciência plena do mistério da criação que se renova na geração humana. E tem ainda plena consciência da participação criadora que Deus exerce na geração humana, obra sua e do seu marido, pois diz: «Gerei um homem com auxílio do Senhor».

Não pode haver nenhuma confusão entre as esferas de acção das causas. Os primeiros progenitores transmitem a todos os pais humanos — mesmo depois do pecado, juntamente com o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e quase no limiar de todas as experiências «históricas»— a verdade fundamental acerca do nascimento do homem à imagem de Deus, segundo as leis naturais. Neste novo homem — nascido da mulher-mãe por obra do homem-pai — reproduz-se cada vez a mesma «imagem de Deus», daquele Deus que formou a humanidade do primeiro homem: Deus criou o homem à Sua imagem;... Ele os criou homem e mulher (Gn 1,27).

7. Embora existam profundas diferenças entre o estado de inocência original e o estado de pecado hereditário do homem, aquela «imagem de Deus» constitui uma base de continuidade e de unidade. O «conhecimento», de que fala Génesis 4, 1, é o acto que origina o ser, isto é, em união com o Criador, estabelece um novo homem na sua existência. O primeiro homem na sua solidão transcendental, tomou posse do mundo visível, criado para ele, conhecendo e impondo os nomes aos seres vivos (animalia). O mesmo «homem», como varão e mulher — conhecendo-se reciprocamente nesta específica comunidade-comunhão de pessoas, na qual o homem e a mulher se unem tão estreitamente entre si que se tornam «uma só carne» — constitui a humanidade, isto é, confirma e renova a existência do homem como imagem de Deus. Cada vez, por assim dizer, retomam ambos, homem e mulher, esta imagem indo buscá-la ao mistério da criação e transmitem-na «com a ajuda de Deus-Javé».

As palavras do Livro do Génesis, que são testemunho do primeiro nascimento do homem na terra, encerram ao mesmo tempo, em si, tudo o que se pode e deve dizer da dignidade da geração humana.

Notas

1. Quanto aos arquétipos, C. G. Jung descreve-os como formas «a priori» de várias funções da alma: percepção de relações, fantasia criadora. As formas enchem-se de conteúdo com materiais de experiência. São elas como inertes, embora se encontrem carregadas de sentimento e de tendência (veja-se sobretudo: «Die psychologischen aspekte des Mutterarchetypus», Eranos 6, 1938, PP 405-409).

Segundo esta concepção, pode-se encontrar um arquétipo na mútua relação varão-mulher, relação que se baseia na realização binária e complementar do ser humano em dois sexos. O arquétipo encher-se-á de conteúdo mediante a experiência individual e colectiva, e pode movimentar a fantasia, criadora de imagens. Seria necessário precisar que o arquétipo: a) não se limita nem se exalta na relação física, mas inclui a relação do «conhecer»; b) está carregado de tendência: desejo-temor, dom-posse; c) o arquétipo, como proto-imagem («Urbild») é gerador de imagens («Bilder»).

O terceiro aspecto permite-nos passar à hermenêutica; em concreto, à dos textos da Escritura e da Tradição. A linguagem religiosa primária é simbólica (cfr. W. Stahlin, Symbolon, 1958; I. Macquarrie, God Talk, 1968; T. Fawcett, The Symbolic Language of Religion, 1970). Entre os símbolos, ela prefere alguns radicais ou exemplares, que podemos chamar arquetipais. Ora, entre estes a Bíblia usa o da relação conjugal, concretamente ao nível do «conhecer» descrito.

Um dos primeiros poemas bíblicos, que aplica o arquétipo conjugal às relações de Deus com o Seu povo, culmina no verbo comentado: «Conhecerás o Senhor» (Os 2,22, weyadaeta 'et Yhwh; atenuado em «Conhecerá que eu sou o Senhor» =wydet ky'ny Yhwh: Is 49,23 Is 60,16 Ez 16,62, que são os três poemas «conjugais»). Daqui parte uma tradição literária, que virá a culminar na aplicação paulina de Ep 5, a Cristo e à Igreja; depois passará à tradição patrística e à dos grandes místicos (por exemplo, «Llama de amor viva» de São JN da Cruz).

No tratado «Grundzüge der Literaturund Sprachwissenschaft», vol. 1, Munique 1976, 4.a ed., p. 462, assim se definem os arquétipos: «Imagens e motivos arcaicos, que segundo Jung formam o conteúdo do incônscio colectivo, comum a todos os homens; apresentam símbolos, que em todos os tempos e entre todos os povos tornam vivo, de maneira imaginosa, o que para a humanidade é decisivo quanto a ideias, representações e instintos».

Freud; quanto parece, não utiliza o conceito de arquétipo. Estabelece uma simbólica ou código de correspondências fixas entre imagens presentes-patentes e pensamentos latentes. O sentido dos símbolos é fixo, embora não único; podem ser redutíveis a um pensamento último irredutível por sua vez, que é habitualmente alguma experiência da infância. Estes são primários e de carácter sexual (mas não lhes chama arquétipo). Veja-se T. Todorov, Théories du symbole, Paris, 1977, pp. 317 s.; além disso, J. Jacoby, Komplex, Archetyp in der Psychologie C. G. Jung, Zurique, 1957.

2. A paternidade é um dos aspectos da humanidade mais salientes na Sagrada Escritura. O texto de Gén. 5, 3: «Adão gerou um filho à sua imagem e semelhança» relaciona-se explicitamente com a narrativa da criação do homem (Gn 1,27 Gn 5,1) e parece atribuir ao pai terrestre a participação na obra divina de transmitir a vida, e talvez mesmo naquela alegria presente na afirmação: «Deus, vendo toda a Sua obra, considerou-a muito boa» (Gn 1,31).

3. Segundo o texto de Gn 1,26, a «chamada» à existência é ao mesmo tempo transmissão da imagem e da semelhança divina. O homem deve transmitir esta imagem, continuando assim a obra de Deus. A narrativa da geração de Set sublinha este aspecto: «Com 130 anos Adão gerou um filho à sua imagem e semelhança» (Gn 5,3).

Uma vez que Adão e Eva eram imagem de Deus, Set herda dos pais esta semelhança para a transmitir aos outros.

Na Sagrada Escritura, porém, cada vocação está unida a uma missão; portanto a chamada à existência é já predestinação à obra de Deus.

«Antes que fosses formado no ventre de tua mãe. Eu já te conhecia; antes que saísses do seio materno, Eu te consagrei» (Jr 1,5 cfr. Is 44,1 Is 49,1 Is 49,5).

Deus é aquele que não só chama à existência, mas sustenta e desenvolve a vida desde o primeiro momento da concepção.

«Sim, fostes Vós que me tirastes do seio materno, sois Vós o meu defensor desde o regaço de minha mãe. A Vós fui entregue logo ao nascer, desde o seio materno sois o meu Deus» (Ps 22,10 Ps 22,11 cfr. Sl Ps 139,13-15).

A atenção do autor bíblico centra-se no facto mesmo do dom da vida. O interesse pelo modo como isto se dá é bastante secundário e aparece só nos livros posteriores (cfr. Jb 10,8 Jb 10,11 2M 7,22-23 Sg 7,1-3).

Saudações

As representantes da "Katholischen Frauengemeinschaft Deutschlands"

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas ao grupo de representantes da "Katholischen Frauengemeinschaft Deutschlands" (Associação Católica Feminina da Alemanha). Estou ao corrente do rico e abençoado trabalho da vossa associação nestes primeiros 50 anos da sua existência. Como salienta o Concílio, é de grande importância no nosso tempo reconhecer abertamente o lugar e a tarefa específica da mulher na vida da Igreja, estimar esta tarefa como merece, fomentá-la cada vez mais em função do apostolado eclesial e torná-la frutuosa (cfr. Apostolicam Actuositatem AA 9). Agradeço sinceramente à vossa Associação tudo o que já fizestes neste sentido, no passado, e animo-vos ao mesmo tempo a prosseguirdes no vosso sério e decidido trabalho com fé viva e em estreita colaboração com o Pastor da Igreja, instituída por Deus. Peço por isso a Deus que vos assista com a sua luz e protecção ao mesmo tempo que vos concedo a minha Bênção Apostólica.

Saúdo também cordialmente os participantes na Peregrinação a Roma do Movimento Católico dos Homens de Bozen/ Bolzano.

Este tempo da Quaresma recorda-nos uma vez mais a nossa chamada cristã a santificação pessoal e à santificação do nosso ambiente familiar, profissional e social. Declarai-vos incondicionalmente por Cristo, vosso Senhor e Salvador, e procurai configurar a vossa vida segundo Ele e em união íntima com Ele. Que Deus vos conceda isto com a sua graça mediante a minha Bênção Apostólica.

Às Religiosas participantes no Curso para Mestras de Formação

Dirijo-me agora às numerosas Religiosas, presentes em Roma para frequentar um curso de formação e de aperfeiçoamento para mestras de formação, organizado pela União das Superioras Maiores da Itália.

Caríssimas Irmãs em Cristo, confio o vosso trabalho e os vossos propósitos de bem, sob a protecção de Maria Santíssima, "Mater Divinae Gratiae", a fim de que vos inspire a saber dizer a Deus, em todas as circunstâncias da vida de almas consagradas, a vossa proclamação de absoluta disponibilidade à graça: Eis a escrava do Senhor!" (Lc 1,38).

A vós e a todas as vossas irmãs de hábito a minha particular Bênção Apostólica.

A uma peregrinação proveniente de Florença (Itália)

Depois, desejo saudar o grupo de peregrinos provenientes de Florença. Caríssimos, trazeis-me o testemunho do apego que liga a Igreja florentina à Sé de Pedro. Sou-vos por isso cordialmente grato. Sei que na vossa diocese se iniciou a Visita pastoral, que tem por fim despertar em todos uma consciência renovada do "dom de Deus" (cfr. Jn 4,10) e chamar todos a um compromisso mais decisivo de evangelização, relativamente à ampla esfera de pessoas que, por razões diversas, se mantêm afastadas da Igreja, a ignoram ou até mesmo a hostilizam.

Faço votos por que toda a Comunidade diocesana saiba corresponder generosamente ao convite do seu Pastor e queira participar activamente, tornando-se sinal da divina presença e instrumento da palavra e da graça de Cristo "redentor do homem. Com estes sentimentos e votos de copiosos dons celestes para uma iniciativa pastoral tão importante. concedo, a vós e à querida Igreja de San Zanobi e de Sant'Antonino, a minha Bênção Apostólica.

À peregrinação de Peritos Industriais

Saúdo agora o numerosíssimo grupo dos Peritos Industriais vindos a esta Audiência por motivo do 50° aniversário da sua organização, representando os quinze mil colegas.

Caríssimos irmãos, a vossa específica profissão, que vos coloca qual anel ideal de união entre a mestrança e os órgãos directivos superiores, mostra a delicadeza e a importância dos vossos deveres e funções na sociedade contemporânea.

Faço votos por que a vossa vida profissional seja sempre animada e mantida por límpida honestidade, grande seriedade e laboriosidade consumada, mas principalmente por um profundo e recíproco respeito pelos outros, no nome da fraternidade cristã. Contribuí, portanto, para o progresso autêntico do País com a vossa preparação profissional e com as vossas riquezas interiores de bondade, inteligência e imaginação, a fim de que a paz social e a convivência civil sejam um legítimo benefício comum de todos.

Para vós, para as vossas famílias e todas as pessoas que vos são queridas dirija-se a minha especial Bênção Apostólica.

Aos Membros do "Circolo Magistrati della Corte dei Conti"

Saúdo também os Sócios do "Circolo Magistrati della Corte dei Conti", o seu Presidente e os seus familiares, presentes nesta Audiência para recordar os 15 anos de fundação desse Sodalício. O Senhor vos abençoe e conceda que o vosso Círculo se transforme num ambiente de crescente amizade no espírito de paz e de amor próprios do Evangelho, a fim de cumprirdes, com dedicação cada vez maior, os graves e delicados compromissos da vossa alta profissão.

Ao numeroso grupo de funcionários do Banco de Roma

Dirijo também agora uma saudação aos numerosos funcionários de direcção do Banco de Roma, provenientes tanto das sucursais italianas como das estrangeiras do mesmo Instituto, o qual celebra nestes dias o centenário da própria fundação.

Desejo de coração a todos vós que na dedicação ao trabalho possais realizar a vossa personalidade e contribuir, mediante os meios que vos são confiados, para o desenvolvimento e o bem-estar sociais.

A Bênção, que de bom grado vos concedo, é também extensiva a todos os vossos Colegas, aos vossos Colaboradores e às vossas Famílias.

Aos Oficiais Alunos da Escola de Civitavecchia (Itália)

Tenho agora o prazer de saudar o numeroso grupo de Oficiais Alunos e de Adidos aos serviços da "Scuola di Stato Maggiore", os quais, acompanhados do General do Corpo de Armada, dos Professores e das respectivas Famílias, vieram trazer a esta Audiência uma nota de entusiasmo juvenil.

Agradeço-vos esta presença e tomando como tema o mote da vossa Escola: "Alere Flammam", digo-vos: alimentai sempre no vosso espírito a chama dos ideais cristãos, segui com seriedade e empenho os vossos cursos, a fim de levardes amanhã para o campo das vossas actividades aquele sentido de responsabilidade, dignidade e dedicação que a sociedade espera de vós.

Para este fim sirva-vos de apoio a minha especial Bênção.

Aos Doentes

Urna especial palavra de saudação vai agora para todos vós, irmãos doentes aqui presentes.

Caríssimos, neste período da Quaresma procurai fazer vosso o convite de São Paulo a "revestir-vos do Senhor Jesus Cristo" (Rm 13,14) e a "configurar-vos à Paixão e Morte de Cristo" (Ph 3,10), vivendo na vossa carne a realidade do sofrimento, a exemplo de Jesus sofredor, como caminho seguro para a alegria da Ressurreição. Procurai, portanto realizar com generosidade esta vossa vocação, baseando-a numa profunda fé cristã e num ardente amor a Cristo. A minha Bênção vos acompanhe e a todos os que, corn amor, vos assistem na vossa oferta quotidiana.

Aos jovens Casais

Uma especial saudação e férvidos votos também a vós, jovens Casais, presentes hoje nesta Audiência.

Exorto-vos a serdes reconhecidos ao Senhor pelo dom da família que acabais de formar e à qual o Concílio Vaticano II chama "igreja doméstica" (LG 11). Sede orgulhosos desta família e guardai-a com todo o cuidado. Na família podereis e devereis encontrar o ambiente propício para a vossa santificação.

A fim de que esta missão cristã se realize, peço ao Senhor e à Virgem Maria que vos abençoem e protejam.

Aos jovens na Basílica de São Pedro




Caros Jovens
Caros rapazes e meninas

Viestes numerosos e talvez de longe a Roma, para rezar sobre o túmulo de São Pedro, para ver o Seu Sucessor e ouvir a Sua palavra. Saúdo-vos muito do coração e agradeço a vossa visita, da qual faço votos por que leveis às vossas casas uma recordação e um sentimento que sejam eficazes na vossa vida.

Estamos no tempo litúrgico da Quaresma, isto é, naquele período particular do ano, de mais reflexão e austeridade, que nos leva dia após dia à Semana Santa e especialmente a Sexta-feira Santa, dia que recorda a morte do Senhor na Cruz pela nossa salvação.

São Paulo, escrevendo aos cristãos da cidade de Filipos, afirmava: Cristo Jesus... humilhou-se a Si mesmo, jeito obediente até à morte e morte de Cruz (Ph 2,8). Humilhou-se a si mesmo; sim, fez-Se obediente: são palavras que hoje parecem desactualizadas, especialmente se ditas a jovens, quando há grande oposição sistemática à obediência, que é apresentada como humilhação da própria personalidade, derrota da inteligência e da vontade, abdicação da própria dignidade humana; e prega-se a autonomia, a revolta e a rebelião...

Ao contrário, Jesus deu-nos precisamente o exemplo da obediência até à morte de Cruz! E por isso vos exorto à obediência, falando-vos em nome de Jesus.

Certamente, na sociedade em que temos de viver, há quem não saiba mandar de maneira justa: e por isso a obediência, quando necessária, deve ser respeitosamente crítica.

Mas há também, e quão numerosos são!, aqueles que formam ensinamento vivo do que é bem: óptimos pais e óptimas mães, que vos amam e só desejam guiar-vos pelo caminho recto; mestres, professores e directores que vos seguem com delicado empenho; sacerdotes equilibrados e prudentes, ansiosos unicamente pela vossa verdadeira felicidade e pela vossa salvação: irmãs e catequistas, dedicadas unicamente à vossa autêntica formação... Ora, eu digo-vos, obedecei-lhes.

Como bem sabeis, todos os Santos passaram através da prova, às vezes mesmo heróica, da obediência: como Maria Santíssima, como São José, que não fizeram senão obedecer à voz de Deus que os chamava a uma missão bem sublime, mas também desconcertante e misteriosa.

Porque deveis obedecer?

Primeiro que tudo, porque a obediência é necessária no quadro geral da Providência: Deus não nos criou ao acaso, mas para um fim bem claro e linear: a Sua glória eterna e a nossa felicidade. Os pais e todos aqueles que têm responsabilidade sobre nós, devem, em nome de Deus, ajudar-nos a alcançar o fim que tem em vista o Criador.

Além disso, a obediência eterna ensina também a obedecer à lei interior da consciência, ou seja, à vontade de Deus expressa na lei moral.

Por último, deveis obedecer também porque a obediência torna serena e consoladora a vida: quando sois obedientes em casa, na escola e no trabalho, estais mais satisfeitos e comunicais a alegria ao ambiente.

E como deveis obedecer?

Com amor e também com santa coragem, sabendo bem que a obediência, quase sempre difícil, custa sacrifícios, exige esforço e às vezes requer mesmo esforço heróico.

É necessário olhar para Jesus Crucificado. É preciso também obedecer confiadamente, estando convencido que não falta nunca a graça de Deus e que depois a alma se enche de imensa alegria interior. O esforço da obediência é pago com alegria pascal contínua.

Eis aqui, ó caríssimos, a exortação que desejava fazer-vos enquanto vivemos o tempo da Quaresma. Ajude-vos e acompanhe-vos sempre a Bênção Apostólica, que de coração concedo a vós, aos vossos pais e aos vossos professores.



PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM CORO DE JOVENS DA CATEDRAL DE AUGSBURG


Sexta-feira, 14 de Março de 1980



É para mim um prazer especial poder receber-vos hoje aqui, em audiência no Vaticano. Com o Bispo diocesano de Augsburg, D. Josef Stimpfle, saúdo em vós os representantes da nobre Baviera e as personalidades eclesiásticas e civis. A todos vós as minhas saudações de boas-vindas — em particular aos jovens Cantores da Catedral de Augsburg, os "Augsburger Domsingknaben". Apesar das mais diferentes proveniências e das mais diversas tarefas que desempenhais na vida, acolho-vos como um grupo único, como uma comunidade de fiéis ligados como irmãos e irmãs pela fé comum em Cristo e na sua Igreja. Vós representais, por outro lado, a vossa pátria católica, onde estão profundamente radicados o amor a Cristo e a fidelidade ao sucessor de Pedro. Neste tempo de secularização do Estado e da sociedade, torna-se deveras importante reflectir sobre a preciosa tradição cristã chegada até nós através dos nossos antepassados, e manter viva esta tradição em instituições e comportamentos eclesiais e culturais adequados aos tempos. Cada um de vós é chamado a dar o seu contributo pessoal no âmbito da própria competência e responsabilidade.

É também neste sentido que saúdo o Coro dos "Augsburger Domsingknaben", fundado há poucos anos ainda para felizmente retomar uma tradição trissecular de música sacra. Em nome de todos os presentes, agradeço aos jovens cantores os seus trechos musicais e desejo, a eles e a todos vós uma estadia em Roma feliz e espiritualmente frutuosa. Possa o encontro com tantos lugares sagrados e com tantos testemunhos de fé demonstrados pelos cristãos dos primeiros séculos reforçar a vossa fé e fazer-vos sentir alegres pela vossa vocação cristã. Com os melhores votos pessoais para cada um, imploro para vós e para os vossos familiares a particular protecção e assistência de Deus e concedo-vos a todos, do coração, a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MARMOREIROS DE CARRARA


Sábado, 15 de Março de 1980



1. Sede bem-vindos, filhos caríssimos! Saúdo fraternalmente o vosso Bispo, D. Aldo Forzoni, que quis dirigir a peregrinação organizada pela vossa Associação, testemunhando, deste modo, o afecto que o liga a todos vós.

E saúdo-vos a vós, Marmoreiros, e às vossas famílias, agradecendo-vos cordialmente a alegria que me trazeis com esta vossa visita, cujo significado acaba de ser posto em relevo pelo vosso colega; sede portadores da minha saudação para os vossos amigos que convosco compartilham as fadigas; as dificuldades e os riscos de um trabalho desgastante como é o vosso.

2. Quis a Providência que também eu, num certo período da minha vida, fizesse a dura experiência do trabalho nas pedreiras. Pude, por isso, dar-me conta pessoalmente das dificuldades que comporta: não basta a força, mas requerem-se também a destreza, o domínio dos nervos, a prontidão de reflexos e a coragem. Não basta saber manobrar as máquinas, mas é também necessário ter contacto com a montanha, conhecer-lhe os segredos e as insidias nela escondidas. Requerem-se, sobretudo, sólidos dotes morais para suportar a fadiga de um dia passado a lidar com compressores, escopros e martelos.

Acontecem, depois, os imprevistos e os acidentes, que podem transformar, em poucos instantes, o ambiente de trabalho num cenário de tragédia: também tive experiência destes casos, e são acontecimentos que nos marcam a alma para toda a vida.

Desejo que os melhoramentos introduzidos na legislação do trabalho, as formas de previdência cada vez mais segura e menos desgastante a ciência dos controles possam tornar mais segura e menos desgastante a vossa prestação de serviço. Desejo, ao mesmo tempo, porém, que a vossa fadiga seja aliviada e iluminada pela fé em Cristo, porque só a sua palavra pode dar inteiro sentido à vossa existência, confortar-vos nos vossos sofrimentos, e abrir uma clareira de céu para a vossa esperança. Sabei ver em Cristo une amigo: também ele experimentou o cansaço do trabalho manual e pode, por isso, compreender-vos inteiramente.

3. E amai a sua Mãe! Vós quisestes chamar à vossa Associação "Obra de Nossa Senhora dos Marmoreiros", e sei que nos vários jazigos de mármore, santificados pelo vosso suor e, por vezes, regados com o vosso sangue, Lhe levantastes preciosas imagens que são lugar de peregrinação em determinados períodos do ano.

Estou certo de que a Virgem se debruça, maternal, sobre cada um de vós. Não vos esqueçais de Lhe dirigir um pensamento quando, pela manhã, vos dirigis para o trabalho ou quando, à noite, dele regressais. Nossa Senhora saberá estar ao vosso lado para aliviar a vossa fadiga, olhará com desvelo por vós e pelas vossas famílias, guardar-vos-á ao longo do caminho da vida e ajudar-vos-á a transformar cada vossa dor em meio de elevação e de merecimento para a eternidade.

E, de quando em quando, rezai também por mim, para que, depois de ter feito durante algum tempo o mesmo trabalho que vós, saiba cumprir agora os deveres não menos pesados que o Senhor quis confiar-me.

Para vós, para os vossos amigos marmoreiros, para todos os que trabalham no mármore e respectivas famílias a minha afectuosa Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS ALUNOS DAS ESCOLAS CENTRAIS ANTI-INCÊNDIO


Sábado, 15 de Março de 1980



Caríssimos Alunos das Escolas Centrais Anti-incêndio!

Estou contente por vos acolher hoje a todos, prosseguindo uma tradição iniciada já há algum tempo pelos meus Predecessores.

Saúdo-vos do coração, ao mesmo tempo que vos dou as boas-vindas, como também ao vosso Capelão e aos representantes do vosso Comando. Estais a terminar um curso de formação, no qual aprendestes, de certo, muitas coisas necessárias ao trabalho que deveis levar a cabo nas vossas respectivas sedes.

A minha palavra vem juntar-se a esses preciosos ensinamentos, para vos encorajar na actividade que vos espera e para vos recordar o seu sentido oculto, que é também profundamente cristão.

A vossa tarefa é uma tarefa de generosidade e de risco, de abnegação e de sacrifício. Ela atinge o seu mais verdadeiro significado na qualificação de serviço de que se reveste em relação à sociedade. Trata-se, por isso mesmo, de um trabalho que também tem e deve manter viva uma inconfundível dimensão cristã, aliás evangélica. De quantas situações de necessidade tereis de ir ao encontro! E a quantos homens em dificuldade prestareis ajuda! Pois bem, que em tudo isto o vosso comportamento se assemelhe ao do Bom Samaritano, protagonista de uma das parábolas mais eficazes contadas por Jesus, segundo o Evangelho de São Lucas (Lc 10,29 ss.). Era precisamente a isto que eu queria convidar-vos: a enfrentardes e desenvolverdes a vossa actividade como uma expressão concreta do amor cristão para com o próximo e as suas necessidades. Um dever moral não pode ser nunca uma profissão, nem muito menos a caridade cristã que é, ao contrário, razão de vida e. impulso livre, poderoso e dinâmico em favor dos outros.

Compreendeis, pois, que só colocando-vos nesta perspectiva podeis conferir uma particular nobreza a um serviço tão delicado e necessário à comunidade; em todo o caso, ele será tanto mais profícuo quanto mais for vivificado por uma componente humana de desvelo, de benevolência e, diria, de compaixão no sentido original e, precisamente evangélico do termo, que significa "compartilhar os sofrimentos dos outros".

Baseado nestas breves reflexões, é-me grato desejar-vos os melhores sucessos. Que o Senhor vos assista com a sua graça, vos dê força e entusiasmo, e sempre vos proteja.

Pela minha parte, e como penhor de abundantes favores celestes sobre vós e sobre os vossos familiares e amigos, sobre o Capelão e os Comandantes, concedo-vos a minha paterna e cordial Bênção Apostólica.




Discursos João Paulo II 1980 - Sexta-feira, 7 de Março de 1980