Discursos João Paulo II 1980 - Sábado, 15 de Março de 1980

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS DE «COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO»


16 de Março de 1980



Caríssimos jovens

Este nosso encontro é todo dominado pela alegria. Alegria minha e vossa, porque podemos ver-nos e falar; alegria que no quarto domingo da Quaresma encontra expressão na liturgia: «Alegra-te, ó Jerusalém, e vós todos os que a amais, reuni-vos!». Com estas palavras somos recebidos hoje no princípio da Santa Missa. Jerusalém, isto é, a Igreja toda, é convidada a exprimir a sua esfuziante alegria. Por que motivo? Porque já vem perto a Páscoa. Cristo, Redentor do homem, está presente na Sua Igreja, no mundo, na história e no meio de nós.

1. A vós, jovens de «Comunhão e Libertação», que viestes de todas as regiões da Itália, embora à custa de notáveis sacrifícios, desejo hoje confiar um encargo e um compromisso: Sede, agora e sempre, portadores e transmissores de alegria cristã! E, ao dar-vos este encargo, não posso deixar de recordar aquilo que recomendou a todos os jovens o meu Predecessor Paulo VI na sua Exortação Apostólica Gaudete in Domino, de 9 de Maio de 1975: «Exortamo-vos cordialmente a que vos torneis atentos aos apelos interiores que vos chegam. Estimulam-vos a elevar o olhar, o coração e as energias viçosas, para as alturas, e a empreender o esforço das ascensões do espírito» (Exor. Apost. Gaudete in Domino, VI).

Trazei, primeiramente, a alegria crista no vosso coração: alegria que brota da fé serenamente aceite, intensamente aprofundada graças à meditação pessoal e ao estudo da Palavra de Deus e do ensinamento da Igreja; dinamicamente vivida na união com Deus em Cristo, na oração e na prática constante dos sacramentos, especialmente da Eucaristia e da Reconciliação; na assimilação da mensagem evangélica, por vezes dura para a Bossa débil natureza humana, que nem sempre está sintonizada com as exigências, entusiasmantes sim mas comprometedoras, do «Sermão da Montanha» e das «Bem-aventuranças». «Noli gaudere in saeculo — diz-nos Santo Agostinho —: gaude in Christo, gaude in verbo eius, gaude in lege eius... In corde christiano et tranquillitas erit et pax; sed quamdiu vigilat fides nostra; si autem dormit fides nostra, periclitamur» (Não te alegres com a realidade terrestre, alegra-te em Cristo, alegra-te na Sua palavra, alegra-te na Sua lei... No coração cristão haverá paz e tranquilidade, mas enquanto está vigilante a nossa fé; se porém adormecer a nossa fé, estamos em perigo) (Santo Agostinho, Enarr. in Ps 93,24 s.; PL 37, 1212 s).

Ora os perigos de a vossa fé de cristãos, a vossa fé de jovens cristãos, correr o risco de passar por fases de torpor estão sempre e constantemente presentes, especialmente nestes períodos de profundas e vastas transformações no campo cultural, social, político e económico.

Mas vós, jovens caríssimos, não tereis certamente nem temor, nem — menos ainda — vergonha de ser e vos manifestardes cristãos, sempre e em toda a parte.

2. Levai a alegria cristã ao ambiente em que viveis normalmente, isto é, às vossas famílias, às vossas associações, mas especialmente ao ambiente da Escola.

Com quanta esperança e quanto respeito, mas também inquietação, olham os cuidados de um Estado bem ordenado para a Escola, lugar em que os jovens, reunidos em colectividade, podem juntos buscar apaixonadamente a verdade, fazer de todos os vários conhecimentos adquiridos uma síntese unitária, que lhes forneça a capacidade de julgar e interpretar os vários e complexos fenómenos sócio-culturais! Infelizmente — é lamentação que se ouve repetir com bastante frequência — a Escola contemporânea está «em crise» e torna-se às vezes deformadora e deseducadora; enquanto, por outro lado, os instrumentos modernos da comunicação social difundem, das suas cátedras, «lições» de hedonismo, indiferentismo e materialismo, procurando conquistar e dominar, de modo especial, os jovens.

A vossa presença no ambiente escolar, e no mais vasto da cultura, desperte autênticos interesses no campo dos vários conhecimentos e no respeito do pluralismo, havendo porém firme convicção de a cultura dever olhar para a perfeição integral da pessoa humana, para o bem autêntico da comunidade e de toda a sociedade humana.

Vivei em estreitíssima união com os homens do vosso tempo; esforçai-vos por penetrar no modo de pensar deles; sabei harmonizar o conhecimento da ciência, da cultura e das mais recentes descobertas, com a moral e o pensamento cristão (Cfr. Const. past. Gaudium et Spes GS 62).

Vós, jovens de «Comunhão e Libertação» — com o vosso estudo, a vossa preparação, a vossa seriedade, o vosso entusiasmo e o vosso exemplo empenhai-vos em manter a fé dos vossos condiscípulos. Será obra altamente meritória junto de Deus e da Igreja.

3. Falando de alegria cristã, que brota da fé e da busca sincera da verdade, não podemos esquecer que ela está intimamente ligada com o amor. Quem possui e transmite a alegria cristã é, ao mesmo tempo, portador de uma mensagem de solidariedade, paz e amor. Nesta altura deseja o meu apelo ser vigoroso e urgente. Bárbara e cinicamente, continua a subida da violência a provocar e semear ódio e morte. Nesta situação, por si mesma dramática, o aspecto mais impressionante para todos os homens de boa vontade é a arrepiante verificação de uns jovens matarem outros jovens. Configurados e dominados por ideologias aberrantes, iludem-se os jovens julgando que, só dando a morte, podem transformar a sociedade presente. Mas é necessário proclamar, com energia e convicção, que um mundo de justiça, solidariedade e paz não se constrói sobre o sangue e sobre os. cadáveres de vítimas, só culpadas de pensar diversamente de outros.

À violência cega e ao ódio desumano respondei, jovens caríssimos, com a força arrastadora do amor. Testemunhai, com o vosso comportamento e a vossa vida em particular na escola, que as ideias não se impõem mas propõem-se, que o autêntico pluralismo cultural, tão apregoado pela sociedade contemporânea, exige o máximo respeito perante as ideias dos outros. Constituí sobre estas bases, dia a dia, o vosso hoje, que prepara e preludia o amanhã, de que já começais a ser verdadeiros protagonistas.

Voltando às vossas Regiões, às vossas casas e às vossas salas escolares, constituí-vos portadores destas indicações e destas preocupações do Papa que, em nome da Igreja, vos manifesta a sua compreensão, o seu afecto, a sua estima e a sua esperança.

E o canto, que sempre vivifica e anima as vossas assembleias comunitárias; constitua o sinal da vossa fé profunda em Cristo e na Igreja. «Cantate vocibus — é ainda Santo Agostinho que vos fala —, cantate cordibus, cantate oribus, cantate moribus!» (Cantai com a voz, cantai com o coração, cantai com a boca, cantai com toda a vossa vida!) (Santo Agostinho, Serm. 34, cap. 3, 6: PL 38, 211).

Com este renovado convite à alegria, que leva a que se cante, concedo-vos de coração a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS ALUNOS DA PONTIFÍCIA


ACADEMIA ECLESIÁSTICA


17 de Março de 1980



Estou deveras contente por acolher e saudar a todos vós, vindos também este ano para renovar ao Papa o testemunho da vossa fidelidade e comunhão eclesial, no termo dos exames dos alunos do segundo ano.

Agradeço vivamente ao caro Presidente da Academia, D. Cesare Zacchi, as cordiais palavras que, interpretando os vossos devotos sentimentos, tão amavelmente me dirigiu.

Este encontro permite-me manifestar, mais uma vez, não só o afecto particular que tenho por todos os sacerdotes e, especialmente, por vós que sois chamados a prestar o vosso serviço nas Representações Pontifícias do mundo, tenham elas, ou não, carácter de representação diplomática, mas também o interesse com que sigo a vida do vosso Instituto e o empenho que colocais na preparação adequada à futura missão que vos será confiada.

A missão que vos levará a viver em meio de tantas populações diferentes pela cultura, civilização, costumes, língua e tradições religiosas, deve ser entendida como serviço eclesial, no sentido dado à palavra diakonia pelas primeiras comunidades cristãs. Este serviço muitas vezes obscuro e ignorado, será tanto mais meritório, quanto mais colocardes dentro dele uma alma autenticamente sacerdotal, que não procura o próprio proveito e a própria comodidade, mas o bem e o crescimento espiritual de cada uma das Igrejas locais, procurando compreender sempre melhor com boa vontade, antes com entusiasmo, o espírito de cada povo, inseridos, como estareis naquelas Repartições Pontifícias que são, sempre, ponto de união das várias comunidades eclesiais com a Cátedra de Pedro e também, muitas vezes, sábias intermediárias entre a Santa Sé e as Supremas Autoridades das diversas Nações.

Diante da responsabilidade tão grande que vos espera, deve haver também igual esforço pela adequada preparação. Mas não é questão s de empenho humano, por mais esclarecido e constante que possa demonstrar-se: é necessário o auxílio de Deus, deixando-vos guiar pela luz que vem do alto, para ter uma visão sobrenatural das coisas. Se Deu não entra no vosso coração e nas avaliações das realidades que vos circundam, bem pouco vos valerá a cultura humana, por mais necessária e obrigatória que ela seja. De facto, se no vosso futuro serviço – inclusive o diplomático tudo fizerdes segundo o sinal de Cristo e dl seu Evangelho, vivendo profundamente o vosso sacerdócio, também o aspectos religiosos e eclesiais do vosso ministério serão por vós enfrenta dos no espírito que convém à vossa vocação e com a eficácia que provém do auxílio de Deus.

Tal concepção do serviço diplomático exige naturalmente caridade sacerdotal, espírito missionário, dedicação e abnegação, que não permitem visões terrenas, glórias temporais e privilégios de classes. Exige numa palavra, um espírito apostólico, de tal sorte que se poderá dizer de vós, de modo especial, mas igualmente de cada um dos vossos irmãos: Somos, por conseguinte, embaixadores de Cristo, e é Deus que vos exorta por nosso intermédio (2Co 5,20).

Caros Filhos que estais para partir, eu estarei sempre perto de vós 1 rezarei pelas vossas intenções. Neste momento tão delicado da vosso vida, porque chamados pela Santa Sé a dar testemunho cristão na diversas nações, digo-vos com o Apóstolo das gentes: Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito amados, e progredi na caridade segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós Se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor (Ep 5,1).

E sirva-vos de conforto a intercessão de Nossa Senhora, Mãe do Bom Conselho; e de encorajamento a minha particular benevolência, que agora vos renovo com a Bênção Apostólica, extensiva a todos os vosso, familiares e aos que a vós se unem.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR MIGUEL ANTÓNIO OLAVARRIETA


NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DOMINICANA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Segunda-feira, 17 de Março de 1980



Senhor Embaixador

É com imenso gosto que o recebo hoje, neste acto em que me apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Dominicana junto da Santa Sé.

Quero, antes de mais, apresentar a Vossa Excelência, como representante da nobre Nação Dominicana, as minhas mais cordiais boas-vindas ao Centro da catolicidade. E asseguro-lhe, desde já, que poderá contar sempre com a minha benévola ajuda no cumprimento da alta missão que lhe foi confiada de cuidar e fomentar as frutuosas relações existentes entre a Sé Apostólica e o seu País.

Com efeito, são muitos e bem profundos — como o declarou Vossa Excelência no seu discurso — os vínculos que desde há séculos unem o povo dominicano à Igreja e que, com o andar dos tempos, se foram plasmando em múltiplas vivências pessoais, em obras de vária índole e em datas com grande significado na existência dos indivíduos, na vida social e na história da Pátria.

Com profundo respeito para com o País e suas instituições, e fiel à sua própria missão, a Igreja continuará com empenho o seu trabalho de esclarecimento das consciências, para que os cidadãos, inspirados nos princípios da ética cristã, os ponham em prática através de uma digna conduta individual e colectiva e fomentem responsavelmente tudo o que promova "a dignidade da pessoa humana, a sua inteira vocação e o bem de toda a sociedade" (Gaudium et Spes GS 63).

Senhor Embaixador, são estes os votos que formulo para o seu querido País, que permanece sempre na minha recordação e afecto, sobretudo desde que, percorrendo os caminhos da evangelização do Novo Continente, tive o prazer de o visitar e de experimentar o calor humano e o fervor cristão das suas gentes.

Queira Vossa Excelência transmitir a todos os seus compatriotas, muito particularmente ao Senhor Presidente da Nação, a cordial saudação do Papa e os seus desejos tornados oração, para que sigam sempre por caminhos de paz, de mútuo respeito, de civil progresso na justiça e de fidelidade às leis do Todo-Poderoso. Que Ele os abençoe em todo o momento e, com a Sua protecção, acompanhe Vossa Excelência na missão que agora inicia.



AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 19 de Março de 1979



(Antes da Catequese de 19 de Março o Papa recebeu os jovens na Basílica de São Pedro)

Imploremos por São José força espiritual e santidade para todas as famílias

1. Dedicamos o nosso encontro de hoje, 19 de Março, Àquele que a Igreja, segundo antiquíssima tradição, exalta neste dia coma veneração devida ao maior dos Santos.

Dezenove de Março é a solenidade de São José, Esposo de Maria Santíssima, Mãe de Cristo. Já no século X encontramos indicada em vários calendários esta festividade. O Papa Sisto IV recebeu-a no calendário da Igreja de Roma a partir do ano de 1479. Em 1621 foi inscrita no calendário da Igreja universal.

Interrompendo, pois, a série das nossas meditações, que há tempos estamos desenvolvendo, dirigimo-nos hoje a esta figura tão querida e próxima do coração da Igreja e, na Igreja, de cada um e de todos os que procuram conhecer os caminhos da salvação, e segui-los na própria vida terrestre. Prepare-nos a meditação de hoje para a oração, a fim de que, reconhecendo as grandes obras de Deus naquele a quem Ele colmou os Seus mistérios, procuremos na nossa vida pessoal o reflexo vivo destas mencionadas obras para as completarmos com a fidelidade, humildade e nobreza de coração, que foram próprias de São José.

2. José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e pôr-lhes-ás o nome de Jesus; porque Ele salvará o povo dos seus pecados (Mt 1,20-21).

Encontramos estas palavras no capítulo 1 do Evangelho segundo Mateus. Elas — sobretudo na segunda parte — soam parecidas às que ouviu Miriam, isto é, Maria, no momento da Anunciação.Dentro de poucos dias, — a 25 do corrente — recordaremos na liturgia da Igreja o momento em que estas palavras foram pronunciadas em Nazaré, dirigidas a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David. E o nome da Virgem era Maria (Lc 1,27).

A narrativa da Anunciação encontra-se no Evangelho segundo Lucas.

Em seguida, Mateus nota de novo que, depois das núpcias de Maria com José, antes de coabitarem, achou-se que tinha concebido por virtude do Espírito Santo (Mt 1,18).

Assim se realizou em Maria o mistério que tivera início no momento da Anunciação, no momento em que a Virgem respondeu às palavras de Gabriel: Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38).

À medida que o mistério da maternidade de Maria se revelava à consciência de José, ele, que era justo, não queria repudiá-la e resolveu deixá-la secretamente (Mt 1,19), assim se expressa adiante a descrição de Mateus.

Exactamente então José, Esposo de Maria e perante a lei já seu marido, recebe a sua pessoal «Anunciação».

Ouve durante a noite as palavras referidas acima, que são explicação e ao mesmo tempo convite da parte de Deus: Não temas receber Maria, tua esposa (Mt 1,20).

3. Ao mesmo tempo, confia Deus a José o mistério, cuja realização tinham esperado por tantas gerações a estirpe de David e toda a «casa de Israel», e ao mesmo tempo confia-Lhe tudo aquilo de que depende a realização de tal mistério na história do Povo de Deus.

Desde o momento em que tais palavras chegaram à sua consciência, José torna-se o homem da divina eleição: o homem de particular confiança. E definido o seu lugar na história da salvação. José entra no desempenho deste lugar com a simplicidade e humildade, em que se manifesta a profundidade espiritual do homem; e ele enche-o completamente com a sua vida.

Despertando José do sono — lemos em Mateus — fez o que lhe ordenara o anjo do Senhor (Mt 1,24). Nestas poucas palavras está tudo. Toda a descrição da vida de José e a característica plena da sua santidade:

«Cumpriu». José, pelo que sabemos do Evangelho, é homem de acção. E homem de trabalho. O Evangelho não conservou palavra alguma sua. Descreveu-lhe porém as acções: acções simples, quotidianas, que têm ao mesmo tempo significado límpido no que respeita ao cumprimento da Promessa divina na história do homem; obras cheias de profundidade espiritual e de simplicidade amadurecida.

4. Tal é a actividade de José, tais as suas obras, antes que lhe fosse revelado o mistério da Encarnação do Filho de Deus que -o Espírito Santo realizara na Sua Esposa. Tal é também a obra posterior de José, quando — já informado do mistério da maternidade virginal de Maria — permanece ao lado d'Ela no período que precedeu o nascimento de Jesus e sobretudo na circunstância da Natividade.

Depois vemos José no momento da apresentação no templo e da chegada do Oriente dos Reis Magos. Pouco depois inicia-se o drama dos recém-nascidos em Belém. José de novo é chamado e ensinado pela voz do Alto sobre como há-de comportar-se.

Realiza a fuga para o Egipto com a Mãe e o Menino.

Passado breve tempo, é o regresso à sua Nazaré.

Lá finalmente encontra a casa e a oficina, à qual teria voltado sem dúvida mais cedo se não lho impedisse a crueldade de Herodes. Quando Jesus chega aos doze anos, vai com Ele e com Maria a Jerusalém.

No templo de Jerusalém, depois de ambos encontrarem Jesus perdido, José ouve estas palavras misteriosas:

Não sabeis que devo ocupar-me das coisas do meu Pai? (Lc 2,49).

Assim falou o jovem de doze anos, e José, assim como Maria, bem sabe de Quem fala.

Apesar disso, na casa de Nazaré, Jesus estava-lhes submisso (Lc 2,51): a ambos, a José e Maria, assim como um filho é submisso aos pais. Passam os anos da vida oculta da sagrada Família de Nazaré. O Filho de Deus — mandado pelo Pai — está oculto ao mundo, oculto para todos os homens, mesmo para os mais próximos. Só Maria e José conhecem o Seu Mistério. Vivem à sua volta. Vivem este Mistério dia a dia. O Filho do Eterno Pai passa, no conceito dos homens, como filho deles; como filho do carpinteiro (Mt 13,55). Quando principiar o tempo da Sua missão pública, Jesus aplicar-Se-á na sinagoga de Nazaré as palavras de Isaías, que naquele momento se cumprem n'Ele, e os vizinhos e conterrâneos dirão: Não é o Filho de José? (Cfr. Mt 4,16-22).

O Filho de Deus, o Verbo Encarnado, durante os 33 anos da vida terrena esteve oculto; escondeu-se à sombra de José.

Ao mesmo tempo, Maria e José permaneceram ocultos em Cristo, no Seu mistério e na Sua missão. Em particular José, que — segundo se pode concluir do Evangelho — deixou o mundo antes de Jesus se revelar a Israel, como Cristo, ficou despercebido no mistério d'Aquele que o Pai celeste lhe confiara quando estava ainda no ventre da Virgem, quando lhe fora dito por meio do anjo: Não temas receber Maria, tua esposa (Mt 1,20).

Eram necessárias almas profundas — como Santa Teresa de Jesus — e eram necessários os olhos penetrantes da contemplação, para que pudessem ser revelados os traços esplêndidos de José de Nazaré: Aquele de quem o Pai celeste quis fazer, na terra, o homem da Sua confiança. Todavia a Igreja sempre esteve persuadida, e hoje de modo particular o está, quão fundamental foi a vocação daquele Homem: do Esposo de Maria, d'Aquele que, diante dos homens, passava pelo Pai de Jesus e foi, segundo o espírito, uma encarnação perfeita da paternidade na família humana e sagrada ao mesmo tempo.

A esta luz, os pensamentos e o coração da Igreja, a sua oração e o seu culto dirigem-se a José de Nazaré. A esta luz, o apostolado e a pastoral encontram n'Ele apoio dentro do campo vasto e ao mesmo tempo fundamental que é a vocação matrimonial e de pais, toda a vida na família, cheia da solicitude simples e serviçal do marido para a mulher, do pai e da mãe para os filhos — a vida na família — naquela «Igreja mais pequena» sobre a qual se constrói cada Igreja.

E como no corrente ano nos preparamos para o Sínodo dos Bispos, cujo tema é «de muneribus familiae christianae», tanto mais sentimos a necessidade da intercessão de São José e do seu auxílio nos nossos trabalhos.

A Igreja que, sendo sociedade do Povo de Deus, se chama também a si mesma a Família de Deus, vê ainda o lugar singular de S. José diante desta grande Família e reconhece-o como seu Padroeiro especial. Desperte em nós esta meditação a necessidade de orarmos tomando por intercessor Aquele em quem o Pai celeste expressou, na terra, toda a dignidade espiritual da paternidade. A meditação sobre a sua vida e as suas obras, tão profundamente ocultas no mistério de Cristo, e, ao mesmo tempo, tão simples e límpidas, ajude todos a encontrar o justo valor e a beleza da vocação, a que todas as famílias humanas vêm buscar a sua força espiritual e a santidade.

Com estes sentimentos dirijamos agora a Deus a nossa oração.

Irmãos caríssimos:

Deus dignou-se escolher o homem e a mulher para colaborarem, no amor e no trabalho, para a Sua obra de criação e de redenção do mundo. Elevemos juntos a nossa oração a Deus, interpondo a intercessão de São José chefe da sagrada Família de Nazaré e Padroeiro da Igreja universal.

Oremos juntos e digamos: Ouvi-nos, Senhor!

1. Por todos os pastores e ministros da Igreja, para que sirvam o Povo de Deus com dedicação activa e generosa, como São José serviu dignamente o Senhor Jesus e a Virgem Mãe, oremos.

2. Pelos poderes públicos, para que em serviço do bem comum dirijam a vida económica e social com justiça e rectidão, no respeito pelos direitos e pela dignidade de todos, oremos.

3. Para que Deus se digne unir à Paixão do Seu Filho as canseiras e os sofrimentos dos trabalhadores, a angústia dos desempregados, a pena dos oprimidos, e para que dê a todos auxilio e conforto, oremos.

4. Por todas as nossas famílias e por todos os que as formam — pais, filhos, anciãos e parentes — para que, respeitando a vida e a personalidade de cada um, todos colaborem no aumento da fé e da caridade, a fim de serem testemunhas autênticas do Evangelho, oremos.

Ó Senhor, dai aos vossos fiéis o Espírito de verdade e de paz, para que vos conheçam com toda a alma, e no cumprimento generoso do que vos agrada, possam sempre gozar dos vossos benefícios.

Por Cristo nosso Senhor.

Amen.



Saudações

A uma peregrinação francesa

Aos numerosos peregrinos franceses vindos a Roma seguindo os passos de Santa Teresa do Menino Jesus, acompanhados pelo Bispo de Bayeux e Lisieux, dirijo a minha cordial saudação e o meu caloroso encorajamento.

Como sabeis, a estadia em Roma da jovem Teresa Martin, em 1887, foi determinante para a sua vocação contemplativa e missionária no coração da Igreja. Sem que vós mesmos entreis no Carmelo, deveis viver, como leigos cristãos, estas duas dimensões essenciais a toda a vida baptismal. Convertei-vos mais resolutamente à oração e ao espírito missionário! Sim, organizai melhor a vossa vida quotidiana, semanal e mensal, para respirar Deus de qualquer modo, no silêncio, na meditação, na oração, a fim de vos manterdes, vós mesmos, de pé, vivificardes, com o dinamismo do amor haurido na sua fonte, todos os sectores da vossa existência humana e cristã, e saneardes de certo modo o mundo contemporâneo. Mas despertai igualmente o vosso ardor missionário, a exemplo de Santa Teresa. Onde quer que vos encontreis, segundo as vossas possibilidades e em união com os outros cristãos, vivei e anunciai o Evangelho! Como Santa Teresa, ainda, ultrapassai os vossos horizontes imediatos, estai à escuta e ao serviço das necessidades religiosas e humanas dos povos da terra, acolhedores também da própria vitalidade espiritual que pode estimular-vos! A Igreja, da qual sois membros, não terá necessidade de retomar constantemente o seu sopro missionário? Segui estes caminhos da contemplação e da acção, com a minha afectuosa Bênção!

Ao "Council of Christians and Jews"

Tenho o prazer de dirigir uma especial palavra de bons votos aos Membros do Conselho dos Cristãos e Judeus vindos de várias partes das Ilhas Britânicas. Sei que o propósito da vossa associação é esforçar-se por vencer o preconceito, a intolerância e a discriminação, e trabalhar pelo melhoramento das relações humanas. Desejo manifestar o meu cordial ,encorajamento pelo vosso louvável ideal e invoco de bom grado sobre vós a abundância das graças divinas.

A peregrinos provenientes da Irlanda

E agora uma palavra especial aos numerosos peregrinos da Irlanda que hoje se encontram aqui presentes. Destes-me calorosas boas-vindas quando visitei o vosso país: desejaria assegurar-vos que também hoje, aqui, calorosamente vos acolho. Há poucos dias celebrámos a festa de São Patrício. Peço, a Ele, que interceda por vós, e a vós que sejais fiéis ao seu ensinamento de exemplo. Senhor vos abençoe a todos.

Aos Monges Beneditinos

Desejo agora dirigir uma particular saudação aos Monges Beneditinos da Basílica de São Paulo fora dos Muros, acompanhados pelo seu novo Abade e presentes na Audiência juntamente com um grupo de Paroquianos; aos Monges Beneditinos de São Pedro de Perugia acompanhados de alguns fiéis e Animadores pastorais da Associação "Secretariado de Assistência às Famílias".

Queridos Filhos de São Bento e queridos fiéis que n'Ele vos inspirais!

Enquanto já vivemos com intensa participação a alegria espiritual que brota das solenidades comemorativas do XV centenário do seu nascimento, recordo-vos a escultórica e programática exortação com a qual o grande Patriarca resume e conclui a sua célebre "Regra": "Christo omnimo nibil praeponant, qui nos pariter ad vitam aeternam perducat" (cap. RB 72): não preferir nunca nada ao amor de Cristo, que , deseja conduzir-nos todos à vida eterna do Céu!

Seja este o vosso programa de vida. É tudo o que de coração vos desejo, para vosso bem e da humanidade sedenta daquela luz e daquela ordem que São Bento promoveu com as suas benéficas instituições.

A minha particular Bênção Apostólica vos acompanhe.

Aos Casais pertencentes ao Movimento dos Focolares

Uma cordial saudação também para os numerosos Casais provenientes de toda a Europa e pertencentes ao Movimento dos Focolares, e que se encontram em Roma para um curso sobre a caridade; e aos voluntários italianos do mesmo Movimento, reunidos também eles num Congresso anual sobre o tema: "A caridade como ideal".

Caríssimos, não é possível amar verdadeira e concretamente, se não se tem uma fé firme e profunda em Jesus Cristo, o Verbo Divino encarnado e morto na Cruz pela humanidade. Sede, pois, testemunhas desta verdade essencial: a autêntica caridade é possível só em Jesus Cristo conhecido, amado e seguido com fé serena e corajosa.

A minha Bênção vos proteja.

Aos Doentes

Aos caríssimos doentes aqui presentes, e a todos os que sofrem no corpo e no espírito, desejo dirigir a minha cordial saudação, que acompanho com votos paternais de melhoras e com a promessa de orações.

A festividade de São José proporciona-me a ocasião para vos exortar a dirigirdes o olhar para Ele, homem justo e pio, a fim de aprenderdes as grandes lições da absoluta fidelidade ao Senhor, obterdes a energia necessária para superar com coragem e mérito as adversidades da vida, e obterdes sempre a Sua poderosa e doce protecção.

Com o sorriso do Santo Patriarca, vos acompanhe a minha Bênção.

Aos jovens Casais

E agora dirijo uma palavra de cordial saudação e de férvidos bons votos aos jovens Casais, presentes nesta Audiência.

O Senhor abençoe o vosso amor, sustenha o vosso generoso propósito de dar testemunho de vida matrimonial cristãmente, exemplar, e esteja sempre junto de vós como Seu auxílio, no caminho que escolhestes para percorrer juntos até à morte.

São José, Esposo afectuoso, Pai exemplar e Homem justo, vos proteja sempre e vos conceda a graça de viverdes sempre segundo a justiça, isto é; virtuosamente, a fim de serdes queridos a Deus, serenos com vós mesmos e bons para com o próximo.

Com estes votos, abençoo-vos de coração.

Aos jovens na Basílica de São Pedro


Caríssimos jovens,
rapazes e meninas

Apresento-vos cordialíssimas boas-vindas e apresso-me em dizer-vós que me sinto verdadeiramente contente por encontrar-me convosco, provenientes de paróquias, escolas e de associações o mais variadas possível... E como o nosso encontro se realiza no dia da solenidade litúrgica de São José, aproveito a circunstância para recordar-vos a figura silenciosa mas importante deste Santo, que por tantos anos viveu ao lado de Maria e de Jesus, e é venerado como Patrono da Igreja. Por isso tenho o gosto de apresentar os parabéns mais cordiais a quantos de vós têm o seu nome.

Meus caros, já disse outras vezes, e gosto de o repetir, que sois a esperança não só do mundo, mas sobretudo da Igreja, e do Papa em particular. A vossa juventude é, de facto, rica de promessas, do mesmo modo que uma árvore florida na primavera promete, já só por isso, abundância de frutos para as estações seguintes. Eis porque, diante de vós, não se pode deixar de ter confiança e de esperar, com paciência mas também com segurança, a plena maturação das muitas virtualidades, colocadas em vós quer pela simples natureza humana, quer pelo Espírito que vos fez cristãos no baptismo.

O que importa é que não desiludais estas ardentes e às vezes ansiosas expectativas da sociedade, quer civil quer eclesial, que estima rever em vós não só a repetição de si mesma, quanto sobretudo a realização do próprio melhoramento, não só mediante a correcção do que foi mal semeado, mas especialmente mediante a tenaz continuação de tudo o que foi iniciado no bem.

Recordai as palavras de São Paulo aos Efésios: Cristo amou a Igreja e por ela se entregou... para a apresentar a Si mesmo como Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e imaculada (Ep 5,25 Ep 5,27). Ao contrário do que sucede com qualquer indivíduo que vive na terra, isto deve acontecer a igreja: que o passar do tempo e a sucessão dos séculos façam que ela, em lugar de envelhecer, rejuvenesça cada vez mais, para estar sempre mais à altura do seu Esposo eternamente jovem, Jesus Cristo, o qual agora ressuscitado dos mortos, já não torna a morrer (Rm 6,9), mas é sempre o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos (He 13,8).

Caríssimos jovens, se não vos assinalardes por esta comunhão com o Senhor, que será da vossa vida? Arriscais-vos a construí-la sobre a areia, em vez de sobre a rocha. Que sentido poderia, de facto, ter ela e que alegria podereis testemunhar, se não estiverdes unidos Àquele que, segundo a Bíblia, é a minha alegria (Ps 43,4 LXX) e renova todas as coisas (Ap 21,5)?

Sabeis que neste tempo, nestes dias, estamos perto da celebração da solenidade da Páscoa. Certamente estais a preparar-vos com uma caminhada de fé e de conversão para tal festa, que é a maior de todo o Ano Litúrgico. Por minha parte, recomendo que vos esforceis por que, não só um dia ao ano mas a vossa vida inteira sejam Páscoa autêntica, como nos exorta São Paulo: Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado. Celebremos, pois, a festa não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da pureza e da verdade (1Co 5,7-8). Por isso, seja verdadeiramente, a vossa, vida de ressuscitados com Cristo e testemunhas dinâmicas da sua entusiasmante mensagem diante do mundo inteiro. Com Ele, de facto, conhecereis bem a fundo o que significa tanto amar os homens que por eles se dê a própria vida (Cfr. Mc 10,45 Jn 3,16), o que significa promover a paz e o progresso integrais, o que significa viver na luz, proveniente do Sol da justiça (Ml 3,20), que é precisamente Cristo ressuscitado. E conhecereis também que essa altura de virtude e essa feliz juventude não se conseguem nem se mantêm sem a austera experiência da Cruz; e esta, a quem a aceita com fé, revela-se como o grande valor que acende os vossos entusiasmos, os verifica e, afinal, os exalta e reforça.

Isto vos desejo de todo o coração e isto peço também ao Senhor. E a minha bênção seja penhor da Sua graça fecunda, além de o ser da minha paternal benevolência.

Desejo agora dirigir uma saudação especial aos mil jovens "tedóforos" da Diocese de Nórcia e de Espoleto, e das Abadias de Subiaco e de Montecassino, os quais, juntamente com numerosos familiares e com amigos de várias escolas, como também do Centro Desportivo Italiano, vieram aqui para que o Papa acenda e benza o Facho Beneditino, que será levado em seguida pelos mesmos atletas, a fim de atravessar as sobreditas cidades, até Nórcia; cidade natal de São Bento, para recordar o 15° centenário do nascimento do grande Patriarca do Ocidente e de Santa Escolástica, sua irmã.

Caríssimos jovens, enquanto empunhardes e fizerdes resplandecer este Facho, recordai-vos das luminosas tradições culturais e espirituais de que a terra umbra é herdeira e guardiã, e tende brio nisso. Realizai esta marcha sob o sinal de Cristo: Lumen Gentium. Oxalá este facho desperte nos ânimos sentimentos de fraternidade, de concórdia e sobretudo de solidariedade cristã com aqueles que ainda sofrem por causa das devastações do terremoto na vossa terra.


Ao benzer agora este Facho, desejo fazer chegar a minha saudação de bons votos a todos os que se unirem a vós no nome do Senhor, pregustando a alegria do encontro que, no próximo domingo, terei com a vossa região muito amada.





Discursos João Paulo II 1980 - Sábado, 15 de Março de 1980