Discursos João Paulo II 1980 - 29 de Março de 1980

Mostrai a todos, com nitidez e sem compromissos, a vossa sincera adesão a Cristo e à Igreja: mostrai na família, no trabalho e nas associações que a mensagem de Jesus forma verdadeiros homens, capazes de enfrentarem, com serenidade, a dureza da vida quotidiana; disponíveis a contribuírem com as próprias forças para a construção de uma sociedade civil mais digna do homem; mostrai em tudo, com o vosso comportamento, que, com a graça de Deus, é possível viver no mundo contemporâneo o «Sermão da Montanha» e as Bem-aventuranças», com todo o radicalismo que comportam. Com estes votos invoco sobre a vossa meritória actividade, sobre todos vós e sobre os vossos familiares a abundância dos favores divinos, e concedo-vos de coração a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO IV CAPÍTULO GERAL


DA PIA SOCIEDADE DE SÃO PAULO


Segunda-feira, 31 de Março de 1980



Caríssimos Capitulares
da Pia Sociedade de São Paulo!

Sinto-me particularmente feliz em vos acolher e saudar, bem como ao neo-eleito Superior-Geral, Padre Renato Perino, no momento em que, animados pelo espírito eclesial que o vosso Fundador, Padre Giacomo Alberione, vos deixou, viestes para expressar a vossa fé em Cristo e a vossa fidelidade ao Romano Pontífice, a quem vos liga um. voto especial.

Agradeço-vos vivamente a alegria que me quisestes dar com este encontro, bem como o bom trabalho realizado durante este quarto Capítulo Geral, que teve por finalidade não só a eleição do novo Superior-Geral, mas também o trabalho delicado e empenhativo de codificação definitiva para a união desta Congregação com as outras novas Instituições que formam a Família paulina. Bastava ter em conta este último aspecto para definir de histórico o vosso Capítulo.

Estou certo de que nas vossas sessões tereis enfrentado com largueza e competência os diferentes problemas que dizem respeito à vossa Congregação, entre os quais, e em primeiro lugar, a exigência de viver autenticamente a própria vocação religiosa, cultivando a união com o Senhor através de uma profunda e sincera vida interior, e tendo sempre diante dos olhos o carisma especial e original que o vosso Fundador quis comunicar ao Instituto e que deve animar todo o vosso apostolado nos diversos campos da vossa actividade de religiosos que vivem na Igreja e para a Igreja, e sobretudo naquele a que o Padre Alberione chamava "o Apostolado da Imprensa", sem esquecer todo o leque dos instrumentos de comunicação social.

E de todos conhecida a importância que ele deu à imprensa coma veículo de difusão dos princípios cristãos e para defesa dos valores morais e religiosos. Ele compreendeu inteiramente quanto era importante que a realidade quotidiana em que vivemos tivesse uma interpretação em relação aos verdadeiros princípios e fins da vida: é precisamente isto o que a imprensa católica se propõe dar, como razão de existir, iluminando com a Palavra de Deus os acontecimentos do dia-a-dia e da história, defendendo os valores humanos e cristãos de que a sociedade hodierna sente profunda necessidade, e dando à opinião. pública e à educação social um genuíno, são e forte sentido moral.

Na esteira do vosso Fundador, continuai a lutar por estes ideais e a trabalhar constantemente em plena adesão com as orientações doutrinais e disciplinares da Igreja, sabendo avaliar bem não apenas o interesse que uma publicação pode suscitar nos leitores, mas também os efeitos que pode produzir nos espíritos em ordem ao incremento da fé e à vida espiritual. A este propósito, é útil recordar as palavras que o meu venerado Predecessor, Paulo VI, vos dirigiu por ocasião do sexagésimo aniversário da fundação da Sociedade: "Os livros e as revistas comportam uma grande responsabilidade, tanto mais grave quanto maior é a sua difusão; e vós, evitando aquilo que possa ser causa de perturbação, de condescendente e deletério permissivismo, deveis pôr todo o cuidado em formar recta e cristãmente os leitores para um profundo sentido religioso, a pureza de costumes e as austeras e nobilitantes exigências da mensagem evangélica" (Insegnamenti di Paolo VI XII, 1974, pág. 1136).

Palavras estas que são eco daquelas, ainda mais incisivas, explícitas e programáticas, que o Padre Alberione escreveu, numa carta datada de Alba, em 4 de Agosto de 1931, a dois dos seus filhos no Brasil: "Vós ireis espalhar a palavra divina com a imprensa: pregai-a com o mesmo coração que tinha Jesus Mestre quando pregava; com o ardor que animou São Paulo ao difundi-la; com a graça e a humildade por que Nossa Senhora se tornou Mãe do Verbo Encarnado. Não façais comércio, mas negócio espiritual, negotium vestrum agatis, não indústria, mas indústrias infinitas para salvar as almas; não denários, mas tesouros eternos".

Encorajo-vos do coração a desenvolverdes sempre a vossa actividade com profunda consciência das exigências próprias do apostolado, para contribuir de modo eficaz para o verdadeiro bem das almas e para a edificação da Igreja: Esforçai-vos, além disso, por conhecer, estar próximo, servir e sobretudo amar a sociedade em que viveis: Olhai-a com os mesmos olhos do vosso Fundador e dai-vos conta das mesmas exigências espirituais: a oração, a prática da ascese e da disponibilidade em relação às almas.

Sirvam-vos estas breves exortações de guia e de estímulo nos trabalhos conclusivos do vosso Capitulo. Pela minha parte acompanho-vos com a oração, para que a luz do Espírito Santo vos ilumine e vos conforte, para seguirdes de mais perto Jesus Crucificado e Ressuscitado, sobre quem nos preparamos para, meditar; de modo especial, nestes dias da Semana Santa; e ajude-vos a aprofundar cada vez mais a vocação "`paulina", de modo que cada um de vós possa reconhecer-se no impulso generoso que orientou, desde o inicio, o vosso Instituto rumo às suas metas geniais, tão necessárias na sociedade de hoje. Nos momentos mais empenhativos e difíceis sabei encontrar refúgio em Cristo que vos escolheu como seus amigos e seus arautos no mundo, e a quem consagrastes a vossa vida. Seja Ele o vosso amparo e o vosso conforto.

Não vos deixeis desencorajar pelas dificuldades. Tendo confiança. Tende confiança em Cristo.

Como confirmação destes votos e como sinal. da minha benevolência, Concedo a todos vós e aos vossos Confrades a minha Bênção Apostólica.



                                                             Abril de 1980

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES


DO CONGRESSO INTERNACIONAL


«UNIV 80»


1 de Abril de 1980

Filhos caríssimos

Sede bem vindos a Roma nestes dias da Semana Santa, durante os quais quisestes mais uma vez realizar o vosso Congresso sobre a situação da Universidade no mundo. Saúdo-vos e agradeço-vos a vossa visita pelo significado que ela assume no coração de cada um de vós.

Com esta vossa iniciativa, continuais a focalizar a realidade, os problemas e os ideais do mundo universitário, em que se formam — ou podem deformar-se — tantas consciências de jovens, que me são muito caros. Sei que, no vosso compromisso universitário, desejais servir o homem com um esforço operante e construtivo; para isso estudais e meditais a fim de oferecerdes ideais e propostas que abram sempre novos espaços de esperança na difícil situação que a Universidade atravessa neste findar de século.

1. Esse vosso Congresso romano foi precedido de um ano inteiro de trabalho: fizestes inquéritos em mais de quatrocentas universidades dos cinco continentes e efectuastes numerosos e aprofundados debates e encontros a nível local; chegastes assim a individuar cada vez melhor as luzes e as sombras no panorama mundial da vida universitária.

Acerca dos problemas suscitados por este sector, quereria deter-me particularmente sobre um: o da fragmentação da cultura universitária e das suas repercussões sobre a formação humana. Nós vivemos uma hora de aceleração do progresso científico em todos os sectores. A expansão dos conhecimentos manifesta-se hoje na acumulação de uma quantidade inimaginável de dados. Não são só as disciplinas científico-experimentais a serem atingidas por esta fragmentação do saber, mas são-no também as humanistas, quer filosóficas quer históricas, jurídicas, linguísticas, etc. O homem não pode nem deve refrear tais impulsos do progresso científico, porque é incitado pelo próprio Deus a dominar o mundo (cfr. Gn 1,28) com o seu trabalho. E necessário, todavia, que nesta missão não esqueça a necessidade de integrar o seu dever de estudo e de investigação num saber de dimensão mais global; se assim não for, ao ocupar-se da ciência e da cultura, correrá o risco de perder a noção mesma do seu próprio ser, o sentido pleno e completo da própria existência, e consequentemente agirá em dilacerante desacordo com a sua própria e peculiar identidade.

2. De facto, quando o homem perde de vista a unidade interior do seu ser corre o risco de se perder a si mesmo, embora contemporaneamente possa agarrar-se a muitas certezas parciais relativas ao mundo ou a aspectos periféricos da realidade humana. Por estes motivos, devemos reafirmar que todos os universitários, professores ou estudantes, têm urgente necessidade de conceder, dentro de si, espaço para a investigação sobre si mesmo e sobre o seu concreto estatuto ontológico; têm necessidade de reflectir sobre o destino transcendente, marcado neles como criaturas de Deus. E aqui, neste saber, que se encontra o fio que entretece em harmoniosa unidade todo o agir do homem.

Convido-vos, pois, a descobrir, na integral e grandiosa unidade interior do homem, o critério em que se devem inspirar a actividade científica e o estudo, a fim de poderdes proceder de harmonia com a profunda realidade da pessoa, e portanto ao serviço de todo o homem e de todos os homens. O compromisso científico não é uma actividade que diz respeito apenas à esfera intelectual. Envolve o homem todo. Ele, de facto, lança-se com todas as suas forças na busca da verdade, precisamente porque a verdade se lhe apresenta como um bem. Existe portanto uma insolúvel correspondência entre a verdade e o bem. Isto significa que todo o agir humano possui uma dimensão moral. Por outras palavras: em tudo o que fazemos — até no estudo sentimos no fundo do nosso espírito uma exigência de plenitude e de unidade.

Para evitar que a ciência se apresente como fim a si mesma, com tarefa apenas intelectual, e objectiva e subjectivamente estranha ao campo moral, o Concílio recordou que «a ordem moral abarca em toda a sua natureza o homem» (Inter mirifica IM 6). Em última análise - e cada um de nós sabe-o por experiência — o homem ou se procura a si mesmo, a própria afirmação, a utilidade pessoal, como finalidade última da existência, ou então volta-se para Deus, Bem supremo e verdadeiro Fim último, o Ultimo capaz de unificar subordinando e orientando para Si, os múltiplos fins que, sucessivamente, constituem o objecto das nossas aspirações e do nosso trabalho. Ciência e cultura, portanto, adquirem um sentido pleno, coerente e unitário quando aplica das para a consecução do fim último do homem, que é a glória de Deus.

Procurar a verdade e pôr-se a caminho para alcançar o Bem Supremo: eis a chave de um compromisso intelectual, que supera o risco de consentir que a fragmentação do saber divida interiormente a pessoa, fragmentando-lhe a vida em inúmeros sectores reciprocamente independentes e, no seu conjunto, indiferentes ao dever e ao destino do homem.

3. A relação entre inteligência e vontade aparece explícita sobretudo no acto de consciência, isto é no acto em que cada um avalia a razão do bem ou do mal inerente a uma acção concreta. Formar a própria consciência torna-se, assim, um dever inadiável. Formar a consciência significa descobrir com clareza cada vez maior a luz que encaminha o homem a alcançar na própria conduta a verdadeira plenitude da sua humanidade. E só obedecendo à lei divina, o homem se realiza plenamente a si mesmo como homem: «Na verdade, o homem — cito ainda o Concílio — tem uma lei inscrita por Deus no seu coração; a sua dignidade está em obedecer-lhe e segundo ela será julgado» (Gaudium et Spes GS 16).

Se a história da humanidade, desde os seus primeiros passos, está marcada pelo dramático enfraquecimento produzido pelo pecado, ela por outro lado é também, e sobretudo, a história do Amor divino: este vem ao nosso encontro e, através do sacrifício de Cristo, Redentor do homem, perdoa as nossas transgressões, ilumina a consciência e reintegra a capacidade da vontade de tender para o bem. Cristo é Caminho, Verdade e Vida (cfr. Jn 14,6); Cristo guia cada homem, ilumina-o e vivifica-o. Só com a graça de Cristo, com a sua luz e a sua força, pode ó homem situar-se ao nível sobrenatural que lhe compete como Filho de Deus; além disso, só com esta graça se lhe torna possível realizar também todo o bem proporcional à sua própria natureza humana.

4. Caríssimos, no vosso empenho pela dignidade do homem, pela defesa da unidade interior de quem trabalha nos diversos campos da ciência, a formação das consciências ocupa portanto um lugar preeminente. A esta formação opõe-se a ignorância religiosa e, de modo especial, o pecado, que estende na consciência do homem uma obscuridade que lhe impede discernir a luz que lhe é oferecida por Deus (cfr. Santo Agostinho, em Jo. Ev., Tr. I, 19). Pois bem: precisamente porque a nossa fraqueza é evidente, Cristo Redentor veio até nós como Médico que cura. Aproximai-vos d'Ele com uma fé viva e a frequência dos Sacramentos, e experimentareis em vós a força e a luz do Sangue, que por nós foi derramado na Cruz. Dizei-lhe com confiança, como o cego do Evangelho: Domine, ut videam! (Lc 18,41), «Senhor, que eu veja», e descobrireis o profundo sentido daquilo que sois e de tudo o que fazeis.

Estas reflexões levam-nos aos pés de uma cátedra singular que, especialmente nestes dias da Semana Santa, Cristo nos convida a frequentar para nos encher de uma sabedoria nova: a Cátedra da Cruz, cujas lições já no ano passado vos exortei a escutar. Detenhamo-nos diante do Filho de Deus, que morre para nos libertar dos nossos pecados .e restituir-nos a vida. Da Cruz de Cristo uma luz de extraordinária claridade passa à inteligência dos homens: é-nos dada a sabedoria de Deus e manifesta-se-nos o sentido mais alto da nossa existência, porque Aquele que está preso a esta Arvore é «a luz verdadeira que, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina» (Jn 1,9). E a nossa vontade recebe da Cruz renovada alegria e força, que nos permitem caminhar «vivendo segundo a verdade na caridade» (Ep 4,15).

A Cruz é o livro vivo, em que aprendemos definitivamente quem somos e como devemos agir. Este livro está sempre aberto diante de nós. Lede, reflecti e saboreai esta nova sabedoria. Fazei-a vossa e caminhareis também pelos caminhos da ciência, da cultura, da vida universitária, difundindo luz num serviço de amor, digno dos filhos de Deus.

E olhai também para Maria Santíssima, em pé ao lado da Cruz de Jesus (Jn 19,25) onde nos foi dada como Mãe: é Ela a nossa esperança e a sede da verdadeira sabedoria.

E que o Senhor vos acompanhe em cada dia, fortaleça o vosso testemunho e fecunde amplamente as vossas fadigas.

De minha parte, concedo-vos de todo o coração a Bênção Apostólica, propiciadora de abundantes favores celestes, e convido-vos a levá-la aos vossos amigos e a todos os que vos são queridos.



DISCURSO DO PAPA JOÃOPAULO II


A SUA MAJESTADE O REI HASSAN II BEN MOHAMMED


DE MARROCOS


Quarta-feira, 2 de Abril de 1980



É com viva satisfação que recebo a visita de Vossa Majestade, a primeira visita de um Soberano do Reino de Marrocos ao Chefe da Igreja católica.

Este acontecimento apresenta-se, só por si, carregado de sentido e apraz-me sublinhá-lo publicamente dirigindo-vos, perante as personalidades aqui presentes, as minhas respeitosas e cordiais saudações.

Vós reinais num País cujo prestigioso passado ninguém ignora. Entre os Povos da África do Norte, o vosso é herdeiro de tradições particularmente antigas e veneráveis, de uma civilização que se salientou e salienta sempre nos campos da cultura, da arte e da ciência. E justo prestar-lhe homenagem e dar o devido apreço a um encontro com Aquele que o governa preparando-o para o futuro.

Tem também tradições de fé. Marrocos é um Povo de crentes. Vossa Majestade quer orientá-lo no respeito de Deus, a quem nos devemos submeter em todas as coisas e a quem procuramos referir cada uma das nossas acções. Esta responsabilidade, que vos faz proteger as aspirações religiosas dos vossos Súbditos, leva-vos igualmente a manifestar a vossa benevolência para com os que, entre eles, ou entre os vossos hóspedes, não pertencem ao Islão. Alegro-me pessoalmente com o espírito de diálogo que vos levou a estabelecer relações com a Santa Sé, em sinal da vossa estima pela Igreja católica. Ela esforça-se, no vosso Reino, a fim de oferecer uma contribuição leal para a construção do progresso e da paz. Mediante as suas instituições, sobretudo pelo testemunho que pode dar no ambiente muçulmano, ela gostaria de assumir cada vez mais a sua identidade de comunidade inserida no contexto nacional. E o profundo desejo dos Arcebispos de Rabat e de Tânger, desejo que eu bem conheço e não posso deixar de encorajar.

Dentro do mesmo espírito de diálogo Vossa Majestade vem hoje falar-me de uma questão muito delicada, à qual são sensíveis tantos povos da terra. Vós sois aqui o porta-voz de grande número de países islámicos, que desejam dar a conhecer a própria opinião sobre o problema de Jerusalém. É compreensível a atenção com que vos escutei expor os seus pontos de vista, e as vossas reflexões sobre o mesmo assunto cujas linhas gerais me havíeis exposto, há já alguns meses, mediante uma carta pessoal.

Considero este colóquio muito útil. Parece-me que a Cidade Santa representa um património verdadeiramente sagrado para todos os fiéis das três grandes religiões monoteístas e para o mundo inteiro, e em primeiro lugar para as populações que vivem no seu território. Seria necessário encontrar ali novo impulso e nova aproximação que permitissem, em vez de acentuar a divisão, traduzir em actos uma fraternidade muito mais fundamental e chegar, com a ajuda de Deus, a uma solução talvez original, mas próxima e definitiva que garanta, e respeite os direitos de todos.

Oxalá possamos ver, finalmente, este voto realizado! Para isto, permito-me esperar que os crentes das três religiões sejam capazes de elevar contemporaneamente as suas orações ao Deus único pelo futuro de uma terra tão querida ao seu coração.

Sobre a nobre Pessoa de Vossa Majestade e sobre cada uma das pessoas que o acompanham, sobre todo o Povo Marroquino aqui representado invoco as Bênçãos do Todo-Poderoso e a assistência que Ele sempre concede aos seus Filhos que O invocam com piedade.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO FINAL DA VIA-SACRA


4 de Abril de 1980



1. Vai a caminho do fim este dia de Sexta-feira Santa do Ano do Senhor de 1980. E terminamos este dia, seguindo uma tradição instaurada de há alguns anos para cá, junto do Coliseu. Aqui, neste lugar precisamente, onde nos tempos do antigo império romano os cristãos morreram pela fé na Cruz, foi depois erguida a cruz em testemunho daquilo que é passado e daquilo que perdura.

Neste local, tão eloquente, quase sobre as pegadas dos Mártires, nós acompanhámos Cristo que levou a Cruz pela sua Via de Jerusalém, desde o Pretório de Pilatos até ao Gólgota.

E aqui a Igreja Romana está a acabar a hodierna Sexta-Feira Santa.

2. A Cruz é um sinal visível da rejeição de Deus por parte do homem. O Deus vivo veio ao meio do Seu Povo mediante Jesus Cristo, Seu Eterno Filho, que se tornou homem: filho de Maria de Nazaré.

Mas «os seus não o receberam» (Jn 1,11).

Eles julgaram que devia morrer como um sedutor do povo. E assim, diante do Pretório de Pilatos, lançaram o grito injurioso: «Crucifica-o, crucifica-o!» (Jn 19,5).

A Cruz tornou-se o sinal da rejeição do Filho de Deus por parte do Povo de Deus, o sinal da rejeição de Deus por parte do mundo. Mas, ao mesmo tempo, a mesma cruz tornou-se o sinal da aceitação de Deus, também, por parte do homem, por parte de todo o Povo escolhido, por parte do mundo.

Quem quer que seja que acolha Deus em Cristo, acolhe-O mediante a Cruz. E quem acolheu Deus em Cristo, exprime isso mesmo mediante esse sinal: quem O aceitou, efectivamente, benze-se com o sinal da Cruz sobre a fronte, sobre os ombros e sobre o peito, para manifestar e para professar que na Cruz se encontra de novo totalmente a si mesmo, alma e corpo, e que com este sinal abraça e aperta ao peito Cristo e o seu reino.

3. Quando Cristo se apresentou aos olhos da multidão, no centro do Pretório romano, Pilatos, apontando para Ele, disse: «Aqui está o homem» (Jn 19,5). E a multidão respondeu: «crucifica-o!».

A Cruz tornou-se o sinal da rejeição do homem em Cristo. Caminham a par e passo, na verdade, a rejeição de Deus e a rejeição do homem. Ao gritar «crucifica-o!», a multidão de Jerusalém pronunciou a sentença de morte contra toda aquela verdade sobre o homem, que nos foi revelada por Cristo, Filho de Deus.

Foi rejeitada, portanto, a verdade quanto à origem do homem e quanto ao fim da sua peregrinação sobre a terra; foi rejeitada a verdade sobre o amor, que tanto nobilita e une entre si os homens, e sobre a misericórdia que faz levantar-se mesmo após as maiores quedas.

E então, eis que aqui, neste lugar onde — segundo uma tradição — os homens, por causa de Cristo, eram ultrajados e condenados à morte — aqui no Coliseu — já há muito tempo foi colocada a cruz como sinal da dignidade do homem, salvo pela Cruz; como sinal da verdade sobre a origem divina e sobre o fim da peregrinação do homem; como sinal, ainda, do amor e da misericórdia que ergue da queda e, todas as vezes que isso sucede, renova, num certo sentido, o, mundo.

4. Eis-nos diante da Cruz: eis o madeiro da Cruz («Ecce lignum Crucis»). Ela é o sinal da rejeição de Deus e o sinal da Sua aceitação; e é o sinal do vilipêndio do homem e o sinal da sua elevação.

O sinal da vitória! Sim, Cristo havia dito: «Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim» (Jn 12,32).

5. Nós congregámo-nos aqui, ao cair da noite de Sexta-Feira Santa, junto destas ruínas do Coliseu romano, que foi teatro da rejeição de Deus e do vilipêndio do homem, mediante a cruz. No entanto, eis que ele se tornou o símbolo da aceitação de Deus em Cristo crucificado e da maior dignidade do homem.

Viemos até aqui nós, os filhos deste século, que novamente se tornou teatro, de uma tal rejeição de Deus por parte do homem, como talvez raramente tenha sucedido na história. O nosso tempo tornou-se teatro da ofensa e c)a opressão do homem de tantas e tão variadas maneiras!

E viemos até aqui e os nossos pensamentos detêm-se na Cruz, cujo mistério permanece e cuja realidade se repete em circunstâncias sempre novas, no meio dos sinais dos tempos, sempre novos.

Esta rejeição de Deus por parte do homem e por parte dos sistemas que despojam o homem daquela dignidade que ele possui, proveniente de Deus, em Cristo, que despojam o homem daquele amor que somente o Espírito de Deus pode difundir nos nossos corações, uma tal rejeição — repito será contrabalançada pela aceitação, íntima e fervorosa, de Deus que nos falou na Cruz de Cristo? Será uma tal rejeição contrabalançada pela aceitação do homem, com aquela dignidade e com aquele amor cujos inícios estão na Cruz?

Esta é a pergunta principal que brota do coração do homem que, na Sexta-Feira Santa, se acha recolhido ao lado da Cruz junto do Coliseu e segue as pegadas da Via-Sacra de Cristo.

6. No entanto, a Via-Sacra de Cristo e a sua Cruz não são somente uma pergunta: elas são uma aspiração, e uma aspiração perseverante e inflexível, e a um tempo um brado, um grande grito dos corações.

Exclamemos, pois, e oremos com Cristo:

«Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34).

«Meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27,46).

«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírita» (Lc 23,46).

Exclamemos e oremos, deixando ecoar em nós aquelas palavras de Cristo: Pai, acolhei-nos a todos na Cruz de Cristo; acolhei a Igreja e a humanidade, a Igreja e o mundo!

Pai, acolhei aqueles que aceitam a Cruz; acolhei aqueles que não a entendem e aqueles que fogem dela; acolhei aqueles que a não aceitam e aqueles que a combatem com a intenção de suprimir e de desarreigar este sinal da terra dos vivos.

Pai, acolhei-nos a todos na Cruz do vosso Filho!

Acolhei cada um de nós na Cruz de Cristo!

E, sem reparar em tudo aquilo que se passa no coração do homem, e sem reparar nos frutos das suas obras e dos acontecimentos do mundo contemporâneo, aceitai o homem!

Que a Cruz do vosso Filho permaneça o sinal do acolhimento do filho pródigo por Vossa parte, ó Pai:

Que ela continue a ser o sinal da Aliança nova e eterna!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS OFICIAIS E AGENTES DA POLÍCIA ESTRADAL


Sábado, 5 de Abril de 1980



Caríssimos!

1. Neste dia de "Sábado Santo", envolvido pelo místico silêncio e alegre expectativa, na vigília da grande solenidade da Páscoa, desejastes vir aqui, à Casa do Pai comum, para me apresentar as vossas boas-festas.

Agradeço-vos cordialmente, um a um, caros Agentes da Polícia Estradal que tantas vezes me fizestes a escolta por ocasião das minhas visitas pastorais. E de boa vontade estendo a minha afectuosa saudação a todos os vossos familiares.

Alegro-me por ter a ocasião de manifestar o meu sentido reconhecimento pelo serviço que, frequentemente, me prestastes nas minhas saídas da Cidade do Vaticano. Desejo dizer-vos quanto aprecio esta vossa obra, às vezes também onerosa, mas que prestais com dedicada solicitude e com elogiosa competência.

Ficai cientes que o Papa vos estima, vos ama, vos acompanha nas vossas aspirações e nos vossos afectos familiares e reza por vós!

Este vosso serviço vos seja, também, de estímulo a um sincero empenho de vida honesta e genuinamente cristã.

2. Apresento-vos, e às vossas famílias, os votos mais cordiais de uma Santa Páscoa! Páscoa, vós bem o sabeis, para o cristão significa júbilo e alegria; júbilo que nasce da certeza de que Cristo morreu na Cruz para a salvação dos homens, e ressuscitou verdadeiramente para confirmar a divindade da sua Pessoa e da sua missão.

O Senhor vos conceda que possais saborear sempre profundamente a alegria pascal, também nas lutas da vida e nas vicissitudes, às vezes dolorosas, da história! O Senhor vos ilumine para serdes, também vós, testemunhas da ressurreição de Cristo, com a vossa fé convicta, a honestidade, a fidelidade ao dever e à família, com o sentido da oração e com a bondade.

"Cristo ressuscitou, Alleluia! assim canta a Liturgia nestes dias na comovente solenidade dos seus ritos.

E, uma vez que Cristo ressuscitou, todo o homem e o seu trabalho, se a Ele unido e n'Ele inserido, é verdadeiramente redimido e santificado: Cristo será a nossa eterna Páscoa!

Desejo que passeis estes santos dias animados por estes sentimentos, enquanto, com particular benevolência, vos concedo e a todas as pessoas que vos são queridas, a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS UNIVERSITÁRIO CATÓLICOS DA FRANÇA


Sábado, 5 de Abril de 1980



Caros Amigos,

Sinto-me muito feliz por me encontrar convosco, estudantes universitários franceses, ligados ao Sagrado Coração de Montmartre. Viestes terminar em Roma o Tríduo Pascal. Conheço a seriedade da vossa dedicação à Igreja, o vosso desejo de aprofundar incessantemente a vossa fé, não só no estudo, mas também na oração pessoal de adoração na liturgia bem celebrada, na partilha e no testemunho.

A todos vós faço os meus melhores votos de Páscoa. A vós, como aos Apóstolos reunidos à volta de Pedro, Cristo pergunta: "Para vós, quem sou eu?". Cada um de vós deve responder na própria alma e na própria consciência. Para dizer a verdade, entregues apenas às vossas forças, só à vossa razão, talvez influenciados pelo clima de incerteza e de dúvida que reina à vossa volta, não seríeis capazes. Mas a própria Igreja, seguindo os passos do Apóstolo Pedro, proclamou para vós a fé única e justa: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Esta fé foi infundida em vós em estado de germe, de capacidade e de virtude mediante o baptismo. Vós tornaste-la vossa pouco a pouco, durante a vossa infância e a vossa adolescência, talvez com altos e baixos. A partir do interior, o Espírito Santo iluminou e fortificou esta fé, expandindo nos vossos corações o amor de Deus. É-me grato repetir-vos com o primeiro entre os Apóstolos, o primeiro dos Bispos de Roma: este Jesus, "sem o terdes visto, vós O amais sem o ver ainda, crestes n'Ele e isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque estais certos de obter, como prémio da vossa fé, a salvação das almas" (1P 1,8-9).

Que a vossa dedicação a Cristo e à sua Igreja nunca desfaleça. Acolhei-O com confiança, com serenidade, com alegria, porque nós sabemos em quem depusemos a nossa fé. Esta noite vamos celebrar a sua Ressurreição. O Cristo ressuscitado está ali para "prender" as vossas pessoas, como dizia São Paulo — e ele já o fez —, para vos libertar dos vossos pecados, do que vos impediria de viver na fé religiosa, na paz com os outros, na verdade, na pureza, no perdão e na caridade; para inserir em vós a sua vida divina e o seu poder de renovação. Barreira alguma pode impedi-1'O de exercer a sua salvação, desde que haja alguém que se Lhe abra livremente. Confiai, mesmo quando tiverdes a impressão de estar ainda longe.

Este amor de Deus que vos prende é um dom gratuito. Recebei-o- em acção de graças. E ide pelos caminhos do mundo, nas vossas famílias, nas vossas cidades, nas vossas escolas, entre os outros jovens, para serdes testemunhas deste Dom, para serdes de qualquer modo o sacramento do seu amor junto de cada um dos vossos irmãos, convidando-os a acolherem o Salvador na sua própria vida. É o segredo da felicidade! E para o nosso mundo envelhecido nas suas dúvidas, nos seus limites e nos seus rancores, é a sua oportunidade de renovação. É a sua salvação.

Boa Páscoa! Com a Bênção Apostólica que vos dou de todo o coração no nome do Senhor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS DAS DIOCESES ITALIANAS


DE AQUINO, SORA, PONTECORVO E GROSSETO


Sábado, 12 de Abril de 1980



Irmãos e Filhos caríssimos
das Dioceses de Aquino, Sora, Pontecorvo e Grosseto!

Este é verdadeiramente um dia de grande alegria para mim e para vós!

1. E como não ficar alegre ao Ver-vos tão numerosos e fervorosos, vindos a Roma, com os vossos respectivos Bispos, especialmente por motivos de fé, para vos encontrardes com o Papa, com o Vigário de Cristo, para com Ele e por Ele rezar, para ouvir a Sua palavra e dele receber uma confirmação e um encorajamento na própria vida cristã?

Por isso, com profundo afecto apresento á todos vós as minhas boas-vindas e o meu agradecimento.

2. Antes de tudo saúdo os caríssimos fiéis das Dioceses de Aquino, Sora e Pontecorvo, presentes com o Bispo Dom Carlo Minchiatti, os Presidentes das Câmaras Municipais acompanhados dos respectivos Estandartes, já condecorados com "medalha de ouro" por Paulo VI em Janeiro de 1974, o Clero, o Seminário, Religiosos e as Religiosas, as várias Associações eclesiais e a numerosa representação de professores e de estudantes. A vossa presença tão imponente e afectuosa conforta-me e alegra-me: agradeço-vos de coração e a todos abraço espiritualmente no Senhor, não esquecendo os que não puderam participar neste alegre acontecimento. Desejastes ter um encontro com o Papa, para comemorar de modo digno e solene o Centenário da proclamação de São Tomás de Aquino como "Patrono das Escolas Católicas"; para celebrar, juntamente com outras iniciativas o decénio da actividade do vosso Bispo e, além disso, para obter uma especial Bênção para a construção, já iniciada, do novo Santuário de Nossa Senhora do Canneto e para os trabalhos preparatórios do próximo Sínodo-Interdiocesano.

A vossa, presença quer, também, recordar gentilmente a visita que eu mesmo pude realizar, em 1974, às vossas terras, quando tomei parte no Congresso Tomístico Internacional.

Que belas e interessantes iniciativas! Devo congratular-me convosco! Continuai a trabalhar e a empenhar-vos com amor e fervor em todas as actividades diocesanas e paroquiais! Continuai a permanecer unidos e activos na fidelidade a Cristo, à Igreja, ao Bispo! Continuai a manter grande e límpida a vossa fé na luz inextinguível de São Tomás, vosso ilustre e imortal concidadão, "seguindo as pegadas de tão grande modelo da fé, que como um dia vos disse Paulo VI, de venerada memória, — com uma síntese feliz e que não se pode esquecer — foi um sábio como poucos outros, um grande estudioso dos mistérios de Deus e da sua obra criadora e redentora, um apaixonado de Cristo e da Virgem, uma alma serena, casta, humilde, obediente, rica de todas as virtudes humanas e cristãs do perfeito religioso" (Ensinamentos de Paulo VI, XII, 1974, pág. 15).

A formidável capacidade intelectiva de São Tomás, analítica e sintética; o insuperável conhecimento da Sagrada Escritura; a sua inconfundível santidade devem ser para vós, em particular, guia e conforto. A vossa Diocese seja sempre modelo de fervor eucarístico e mariano, consolação do Bispo, do Papa e da Igreja inteira! Sirva-vos também de ajuda nestes propósitos, o meu encorajamento, unido à minha constante oração.

3. E agora a minha saudação dirige-se aos fiéis, igualmente muito amados, da Diocese de Grosseto, que, acompanhados pelo Bispo Dom Adelmo Tacconi, também quiseram vir em peregrinação a Roma para se encontrar com o Papa e O ouvir.

Vós sabeis que aqui em Roma existe um Pai, um Irmão, um Amigo, que vos ama, pensa em vós e vos acompanha com a oração e com os anseios da sua missão universal... E viestes visitá-l'O! Obrigado pela vossa tão delicada gentileza, que desejo retribuir com a minha afectuosa recordação na prece.

Neste momento, penso nas várias categorias de pessoas da vossa Diocese: os Párocos e os Sacerdotes, o Seminário e a Acção Católica, os Religiosos e todos os Grupos e Movimentos eclesiais, tão numerosos e activos, os Voluntários do Sofrimento, os Responsáveis pela vida pública, os trabalhadores, os pais e as mães de família, os jovens e as crianças...

E não posso esquecer o Pe. Zeno Saltini, bem conhecido pelas suas inúmeras experiências, a sua Comunidade de Nomadélfia; e nem tão-pouco posso esquecer o "Conjunto Coral Puccini', celebre na Itália e no estrangeiro!

Vejo neste momento a vossa terra de Marenima, recordada por ilustres poetas e descrita por célebres escritores: a região costeira tornada um jardim de produtividade famosa pelo atractivo do seu mar; a região agrícola, povoada de lindas e acolhedoras casas coloniais no fascinante verde do Campo; a região de colinas, com as importantes minas e as oficinas para a extracção e lapidação dos vários metais...A vossa Diocese é toda um fervor de trabalho e participação; é toda uma troca de experiências e de ideais. Também a vós, fiéis de Grosseto, com todo o amor que nasce da fé e da responsabilidade, eu digo: mantende firme e corajosa a vossa fé cristã! No turbulento contexto da sociedade moderna, tão esplêndida mas tão inquieta, tão inteligente e também tão frágil, não abandoneis nunca os vossos princípios de fé! É justamente esta sociedade que devemos amar, ajudar, salvar! Como o Bom Samaritano, que com misericórdia e confiança se curva diante dos seus irmãos e os ajuda, no nome de Deus!

De modo particular exorto-vos a aprofundar cada vez melhor o conhecimento da fé cristã e a tornar-vos apóstolos da frequência à Santa Missa e aos Sacramentos!

4. Em recordação deste nosso encontro fraterno, quereria deixar-vos ainda, peregrinos e hóspedes tão queridos, uma exortação final, sugerida pelo tempo pascal que estamos vivendo na Liturgia, de modo que a vossa peregrinação "à sede de Pedro" não seja depois somente uma doce recordação, mas estímulo para um compromisso cristão sempre mais intenso.

Vivei a vossa vida com o sentido da Páscoa! O cristão, de facto, deve distinguir-se precisamente por este sentido pascal da vida e da história. E que significa isto?

Significa estar convicto de que a Ressurreição de Jesus é o acontecimento decisivo e determinante de toda a história humana, e portanto da nossa existência, porque lhe dá a garantia de um significado transcendente e eterno. As vezes é difícil ver a luz para além das trevas!

E no entanto, o cristão é aquele que, na noite, espera confiante o sorriso da aurora; é aquele que além das trevas e da angústia da Sexta-feira Santa, divisa a alegria e a glória do Domingo de Páscoa! Cristo ressuscitou, e por isso a sua palavra é divina: Deus ama-nos, o homem está salvo, a história está redimida! Levai à vossa vida e ao vosso ambiente, à família e ao trabalho, nos momentos de serenidade e aos ambientes do sofrimento, este sentido pascal da salvação e da verdadeira esperança; é isto o que o mundo moderno espera é deseja do cristão!

Irmãos e Filhos caríssimos!

Confio-vos à Virgem Santíssima: Ela ama-nos, protege-nos, ilumina-nos e espera-nos! Esteja sempre presente nas vossas orações e nas vossas decisões! Mantenha viva em vós a inteligência da fé e, como disse, aquele sentido pascal que é fonte de alegria interior e de fervor.

Acompanhe-vos também a garantia da minha afectuosa e orante recordação, com a Bênção Apostólica, que concedo efusivamente a vós e a todas as pessoas que vos são queridas!

Discursos João Paulo II 1980 - 29 de Março de 1980