Discursos João Paulo II 1980 - 24 de Abril de 1980

Ofereça o vosso Congresso uma contribuição real que permita às novas tendências da economia mundial orientarem-se para uma cooperação não só continental — no plano desta velha e grande Europa — mas também mundial.

Oxalá a harmonia e a paz entre os povos levem a que se compreenda cada vez melhor e seja aceite em toda a parte — «a solis ortu usque ad occasumu, do Oriente ao Ocidente — a oração cristã que invoca o nosso Pai, o Pai de todos, pedindo-lhe para todos o nosso pão de cada dia.

Imploro sobre as vossas pessoas e sobre os vossos esforços a Bênção de Deus todo-poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO CONSELHO GERAL


DA UNIÃO MUNDIAL DOS PROFESSORES CATÓLICOS


25 de Abril de 1980



Senhor Presidente,
minhas Senhoras e meus Senhores

Por ocasião do Décimo Congresso da União Mundial dos Professores Católicos, que decorreu no verão passado sobre o tema «O professor católico pela liberdade, a justiça e a paz», quis eu, através de uma mensagem do meu Secretário de Estado, testemunhar a estima que nutro por esta União, e exprimir os meus votos pelos seus trabalhos. Ao receber-vos hoje, a vós, membros do Conselho geral acompanhados pelo vosso Assistente eclesiástico, fico muito contente por confiar-vos pessoalmente tanto os meus pensamentos como as minhas esperanças.

A U.M.E.C. tem já quase trinta anos de existência e de actividade. Pôde ela experimentar a necessidade e a fecundidade de uma coordenação, a nível mundial, entre as associações nacionais que partilham o mesmo compromisso ao serviço da educação escolar, compromisso compreendido e vivido segundo o Evangelho e na fidelidade à Igreja. Esta coordenação torna possível acolher, valorizar e pôr em circulação os contributos singulares das diferentes culturas. Favorece ainda a superação dos nacionalismos e o incremento do sentido da fraternidade e da universalidade, de que é fácil compreender a urgência.

Talvez o meio escolar permita, mais que nenhum outro, medir a gravidade dos problemas que preocupam a nossa geração, e a riqueza das respostas causadas por um sentido renovado da solidariedade. As iniciativas levadas a efeito nos diversos países do mundo durante o Ano Internacional da Criança, também puseram em evidência o primado da educação sobre os valores elementares da vida, como base da formação permanente, e com a finalidade de construir uma civilização verdadeiramente humana.

Parece-me que as associações ao aderirem à U.M.E.C. são chamadas a trazer um contributo de todo particular e qualificado a esta missão, em razão da fé professada pelos seus membros. É um contributo essencial, porque Cristo é, Ele mesmo, uma resposta, «a» resposta às interrogações do homem sobre o sentido da sua vida. Verifica-se que as novas gerações solicitam precisamente, e sem dúvida de um modo mais forte que em outras épocas, uma proposição verídica e crível de vida e de esperança. Por isso a Igreja espera muito das Associações de professores católicos, porque reconhece no seu serviço educativo um elemento determinante para o desenvolvimento pessoal dos jovens e para o progresso social de toda a família humana.

Para cumprirem esta missão, devem os professores católicos estar disponíveis para uma colaboração respeitosa e activa com as famílias e as comunidades eclesiais, a fim de realizar uma educação completa e harmoniosa de cada aluno, e de os orientar livremente para a verdade, que é um dos caminhos da paz. Tudo isto exige deles, para além de uma competência cultural e pedagógica, um testemunho verdadeiramente exemplar. E este não pode vir senão da sua intimidade com Deus, e do seu esforço diário em fazer uma síntese serena entre a fé e a cultura tal como entre a fé e a vida.

Sob o risco de ser paradoxal, permiti ao Papa, com toda a humildade, porque ele conhece os vossos méritos e a vossa alta consciência, que vos convide a entrardes na escola de Cristo. E ele o «Mestre» de todos nós. É ele «o Caminho, a Verdade e a Vida». A Ele eu rezo por cada um de vós, minhas Senhoras e meus Senhores, e por cada um dos que vós representais, pedindo-Lhe que vos abençõe, ao mesmo tempo que vos asseguro, de novo a minha inteira confiança.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A VÁRIOS GRUPOS DE PEREGRINOS ITALIANOS


Praça de São Pedro

Sábado, 26 de Abril de 1980



Caros Irmãos e Irmãs

1. Tenho o prazer de dirigir-vos uma saudação cordialíssima, que sem dúvida corresponde à espontaneidade e ao fervor da vossa presença hoje. Viestes a Roma sem dúvida para "ver o Papa", como se diz. Mas bem sabeis que isto não significa puro gesto de curiosidade; comporta, com efeito, a intenção profunda de reforçar a própria fé mediante a confirmação da vossa comunhão com ele, assim como São Paulo subiu "a Jerusalém para visitar Cefas" (Ga 1,18) e com ele aferir o seu compromisso apostólico. Sobre o pobre pescador de Betsaida, com efeito, como sobre "rocha" sólida, fundou Jesus a sua Igreja (cfr. Mt 16,18), que foi depois confiada ao ministério dos seus continuadores e representantes.

Aceitai portanto um sincero agradecimento por terdes ambicionado este encontro com o Sucessor de Pedro. Garanto-vos toda a minha benevolência; e, com ela, vão as minhas boas-vindas para todos os grupos aqui presentes, de diversa composição e diversas proveniências.

2. Permiti que me dirija, em primeiro lugar, à numerosa peregrinação da Diocese de Crema, na Lombardia, presidida pelo seu Venerado Pastor, Dom Carlo Manziano, e acompanhada também pelo Bispo Dom Placido Cambiaghi. Saúdo-vos a todos, filhos caríssimos, ao mesmo tempo que dirijo um pensamento especial para os Sacerdotes e os Seminaristas, para os Religiosos e as Religiosas, para os dilectos jovens, para os Responsáveis pelas Associações católicas e para os representantes das várias Autoridades locais.

Sei que o imediato ensejo desta peregrinação está em decorrer o Quarto Centenário da erecção da vossa Diocese, devida ao meu Predecessor o Papa Gregório XIII e à sua Bula Super universas de 11 de Abril do ano de 1580. Quatrocentos anos de vida cristã, mais ainda diocesana, isto é, de comunhão com um vosso Bispo próprio, sem dúvida que não são poucos. Quem poderá contar as iniciativas, os testemunhos de compromisso eclesial, os atestados de vitalidade baptismal e as obras realizadas no decurso destes quatro séculos? E sobretudo quem será capaz de redigir um diário das inumeráveis vezes em que os vossos antepassados expressaram a própria fé, esperança e caridade? E quem contará as fadigas, as lágrimas e os sofrimentos que eles padeceram em união com Cristo Senhor? Esta extraordinária acumulação de vida humana e cristã escapa-nos sem dúvida, mas não ao Senhor: na verdade, como nos assegura o profeta Malaquias, "diante d'Ele foi escrito o livro que perpetua a memória daqueles que temem o Senhor e respeitam o Seu nome" (Ml 3,16; cfr. Ps 56,9). Seja ele fundamento e garantia de nova e cada vez mais fecunda inserção na vida em Cristo e na Igreja.

Certamente, em quatrocentos anos muitas coisas mudam, não só quanto ao progresso civil e social, mas também a nível de costumes eclesiais. Todavia, como eu dizia recentemente em Turim, Cristo está sempre presente, e Ele basta para todos os tempos. Lemos, de facto, na Carta aos Hebreus, que "Jesus Cristo é o mesmo ontem e hoje e por toda a eternidade" (He 13,8). Só Ele funda e reforça a nossa recíproca comunhão: não só entre nós vivos, mas também acima do tempo, com todos aqueles que nos precederam no vínculo da fé (cfr. Rm 14,9 Mc 12,27a). Assim se alimenta a nossa vida cristã, e daqui parte também o impulso para o nosso testemunho quotidiano dado à luz do Evangelho.

3. Estou informado que a Diocese de Crema é especialmente viva e fecunda no plano da vida eclesial. Os seus Presbíteros estão dinamicamente aplicados ao próprio ministério; os seus Religiosos e Religiosas encontram-se inteiramente consagrados ao serviço do Senhor e da Igreja, mesmo em territórios de missão; o seu Laicado mostra-se generosamente comprometido num caminho de límpido e eficaz estilo de vida cristã. Os meus votos mais sinceros são, portanto, que tudo isto cresça e cada vez mais se multiplique. Com efeito, são permitidas pela Divina Providência eventuais provas e dificuldades, a fim de cada um de vós e a Comunidade diocesana no seu conjunto "darem mais fruto" (Jn 15,2).

Sei também que o vosso contexto social é constituído por um ambiente de trabalho em parte rural mas em maior parte industrial. Pois bem, o convite que vos dirijo pretende que vós consigais verdadeiramente demonstrar que a nossa comum fé cristã não pode ser negativamente condicionada pelas diversas situações materiais, mas deve brilhar intacta, ou antes sedutora, acima de toda a possível diversificação mesmo cultural, sendo embora chamada a cultivar a realização da justiça com a promoção dos mais necessitados. Esta é a fé "que vence o mundo" (1Jn 5,4-5), a qual viestes reforçar aqui em Roma sobre os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, e nas catacumbas dos primeiros mártires cristãos. E é esta fé, alegre e ousada, que vós sem dúvida, especialmente vós jovens, levareis às vossas casas e aos ambientes das vossas ocupações ordinárias, de maneira que ela faça fermentar e vivifique por dentro cada uma das actividades por vós exercidas

Se me e permitido uma recomendação, é a de que estreiteis cada vez mais os vossos laços de espírito, tanto com o vosso digníssimo Bispo como entre vós mesmos. Assim é que a fé cristã se torna adulta e perfeita: mediante uma consciente, responsável e zelosa participação na vida comunitária, tanto paroquial como diocesana. Penso aliás que este é exactamente o melhor meio para celebrardes o vosso Quarto Centenário, a fim de que ele não seja unicamente simples evocação do tempo decorrido, mas, bem mais, ocasião de prosseguimento e de renovada tensão no sentido de alvos cada vez mais prometedores.

Com estes votos de coração vos concedo especial e propiciadora Bênção Apostólica, como atestado do meu afecto e em penhor de abundantes graças celestiais, tornando-a extensiva a todos os que vos são caros, especialmente as crianças e aos que sofrem.

Aos dadores de sangue da "AVIS"

4. Apraz-me poder agora dirigir uma particular e cordial saudação aos Dadores de sangue pertencentes à AVIS — Associação dos Voluntários Italianos do Sangue —, que desejaram tomar parte neste encontro, acompanhados pelo seu Presidente Nacional, Prof. Mário Zorzi.

Já expressei o meu aplauso e a minha complacência aos dadores de sangue, pela sua missão tão necessária e benemérita, ao falar em Setembro passado, por motivo da consagração do templo por eles construído em Pianezze di Valdobbiadene.

O gesto dos que generosamente dão o próprio sangue aos seus irmãos, que dele precisam, ultrapassa o aspecto puramente humanitário, de per si já tão meritório e digno de louvor, para se tornar ao mesmo tempo acto tipicamente cristão e, poder-se-ia dizer, resposta àquele amor de Cristo, que pode ser imitado e continuado.

Neste tempo em que a violência de todo o género tanto leva a que se fale de si e é causa de frequente derramamento de sangue, mais avulta e quase forma contrapeso a vossa generosidade, caríssimos irmãos, que estais prontos a oferecer parte do vosso sangue para salvar vidas ou aliviar sofrimentos.

Nesta sociedade do progresso — que vê técnicas cada vez mais avançadas, também no campo da medicina e da cirurgia, e, por causa de um crescente e frenético movimento, com meios de transporte cada vez mais velozes, é muitas vezes impressionada por notícias de incidentes estradais, que deixam após si tantas vítimas — cada vez mais urgente e indispensável se torna o contributo daqueles que, ao vosso modo, estão dispostos a dar o próprio sangue.

Por isso, de boa vontade aproveito a ocasião da vossa presença para dirigir de novo o meu elogio a todos os que pertencem à AVIS, como também a todos os dadores de sangue, por causa do bem que têm realizado e continuam a realizar e por causa da ajuda e do bom exemplo que dão à comunidade; e ao mesmo tempo exorto-os a que perseverem nesta sua obra benéfica que, além de ser serviço social de primeira ordem, é actualização moderna da parábola do Bom Samaritano.

Faço pois votos por que aumente cada vez mais o número daqueles que, não se encontrando impedidos, estão prontos a dar um pouco do seu sangue aos irmãos, e faço também votos por que esta doação se mantenha sempre longe da busca de interesses pessoais e seja animada pela genuína caridade cristã, a fim de conservar sempre a sua natureza nobre e elevada.

Nisto está, caros dadores de sangue, o que desejava dizer-vos. Levai a todos os que vos são caros, às vossas associações e aos vossos colegas, a minha saudação e a certeza da minha lembrança na oração. E sempre vos acompanhe a bênção, que vos concedo agora, também como penhor da minha paternal benevolência.

Ao grupo dos representantes dos Seminários Maiores

5. Uma especial e afectuosa saudação dirijo ao grupo de seminaristas, estudantes de teologia e representantes dos Seminários Maiores, reunidos nestes dias na Villa Cavalletti, de Grottaferrata, a fim de aprofundarem o tema "Seminários e Vocações sacerdotais". Estou-vos reconhecido, filhos caríssimos, pela vossa visita, e desejo fazer chegar o meu agradecimento aos componentes da Secretaria Nacional dos Sacerdotes, Religiosos e Religiosas, por vos ter convidado para a Reunião, consentindo-vos assim participar neste encontro.

Grande é a minha alegria ao ver-vos: constituís de facto as esperanças das vossas Dioceses e de toda a Igreja. Já percorrestes notável caminhada dirigindo-vos para o sacerdócio: a vossa preparação cultural, teológica e espiritual atingiu bom andamento. O estudo da ciência de Deus e da Sua palavra revelada, que se desenvolve no contexto doutras importantes disciplinas, deve estimular cada vez mais o vosso entusiasmo por Cristo, eterno Sacerdote, que vos escolheu para serdes anunciadores da Sua mensagem evangélica, distribuidores da Sua graça e dos Seus mistérios. A esta dignidade altíssima devem corresponder fé intensa, oração constante, transparência de pensamento e de costumes, disponibilidade generosa para as expectativas do Povo de Deus, e dócil submissão ao magistério dos vossos Pastores, assistidos pelo Espírito Santo.

Embora a chegada a este meta não haja de ser excessivamente difícil, graças também à paternal solicitude dos vossos Superiores e Mestres, não será fácil o vosso ministério que, à semelhança do de Jesus, deve ser exercido com profunda humildade e sobretudo com invencível confiança n'Aquele que disse: "Vos amici mei estis" (Jn 15,14). Anime-vos saber que o Papa vos acompanha com as suas orações e com o seu afecto.

E, como estamos na véspera do Domingo dedicado às Vocações, dirijo o meu pensamento afectuoso para todos aqueles que generosamente se preparam para o Sacerdócio e para a vida religiosa, seguindo a voz divina que os chama a darem-se à Igreja e às almas; e, ao mesmo tempo que a vós, saúdo todos os jovens presentes nesta praça, dirigindo-lhes um fervoroso convite a que reflictam neste generoso testemunho recém-descrito, que pode satisfazer plenamente as ousadias e os entusiasmos que sentem, os seus ideais de serviço e de promoção, ideais que devem ser satisfeitos com fé intrépida e sem interesses humanos.

Com estes votos invoco sobre vós e sobre todos os que vos são caros a divina assistência e de coração vos concedo a Bênção Apostólica.

Aos empresários e trabalhadores da indústria de calçado de Vigevano

Saúdo agora os empresários e os operários da indústria de calçado de Vigevano, que, renovando uma tradição sua, quiseram vir a Roma em grande número para se encontrarem com o Papa.

Obrigado, caríssimos, por esta vossa visita tão calorosa e pelo presente, fruto do vosso trabalho, que desejastes pôr à minha disposição em favor de pessoas necessitadas.

Invocando, sobre vós e as vossas famílias, o auxilio do Senhor, por intercessão dos vossos Santos Protectores Crispino e Crispiniano, de coração vos abençoo.

Aos peregrinos de Garfagnana

Chegue a minha saudação ao grupo dos peregrinos da Garfagnana, vindos a Roma para festejar o quinquagésimo aniversário da Ordenação Sacerdotal do Cardeal Paolo Bertoli, Camerlengo da Santa Igreja Romana, conterrâneo deles, pessoa a quem dirijo também um meu afectuoso e particular pensamento.

Caríssimos, ao mesmo tempo que de boa vontade me uno à vossa alegria para honrar o amado Cardeal, exorto-vos a que peçais sempre pela Igreja e particularmente pelas Vocações sacerdotais nas vossas comunidades cristãs.

Acompanhe-vos a minha bênção.

Aos participantes no Congresso em favor da vida

Desejo saudar de maneira especial todos quantos se colocaram ao serviço da vida e fazem deste serviço um ideal a que dedicam a inteligência, a imaginação, o tempo e as forças. A vida humana é sagrada, quer dizer: está subtraída a qualquer poder arbitrário que desejasse causar-lhe prejuízo, feri-la ou mesmo suprimi-la. Desde o momento em que é concebida até ao último instante da sobrevivência natural no tempo, é digna de respeito, atenção e esforço, para que fiquem salvaguardados os direitos dela e elevada a sua qualidade.

Não posso, por conseguinte, senão aprovar e animar todos os que se dedicam ao serviço desta tão nobre causa, e peço a Deus que os abençoe.



SAUDAÇÃO DO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MÉDICOS CATÓLICOS ITALIANOS


Domingo, 27 de Abril de 1980



Caros e ilustres Senhores
da Associação dos Médicos Católicos Italianos!

Alegro-me por me encontrar novamente convosco neste Pátio de São Dâmaso, depois do encontro, por assim dizer, oficial e solene, que tive com esta Associação, no início do Pontificado, e por vos renovar a minha satisfação e o meu aplauso pela vossa benemérita actividade humanitária e, ainda mais, pela inspiração cristã que a ilumina e orienta.

Aos sentimentos de sincero apreço, acrescentam-se hoje aqueles, não menos sentidos, do reconhecimento pelo presente que trouxestes convosco: a Unidade Móvel de Reanimação, que vejo aqui exposta, como sinal palpável de filial afeição para com o Papa e de solidariedade cristã, porque destinada a socorrer, proteger e salvar vidas humanas, com os seus aparelhamentos técnicos de vanguarda.

Dirija-se o meu elogio a todos os que quiseram promover esta bela iniciativa e vos deram o seu contributo, e em particular ao zeloso Assistente-Geral Eclesiástico, Mons. Fiorenzo Angelini, aos membros do Conselho Central, aos Delegados Regionais e aos Presidentes das Secções diocesanas. Um especial aplauso, pela sua generosa contribuição, exprimo aos Médicos e a numerosos Capelães de hospital e Religiosas enfermeiras da diocese de Roma, que quiseram assim reafirmar o seu particular vínculo de comunhão eclesial com o seu Bispo.

Nesta feliz oportunidade quero também deixar-vos uma exortação: vós, que trabalhais no serviço médico, tende sempre um alto conceito da vossa missão, que "pela nobreza, pela utilidade e pelo ideal se avizinha bastante da vocação mesma do sacerdote", como já vos disse no encontro precedente (cfr. Encontro com os Médicos Católicos Italianos, 1, 28 de dezembro de 1978). Conforte-vos, no cumprimento exacto do vosso dever, a consciência de dar uma indispensável contribuição para a tutela e defesa da vida humana, daquela vida que traz em si a marca de Deus Criador, que formou o homem à sua imagem e semelhança. Que esta consciência difunda sobre o vosso trabalho uma luz religiosa e vos ajude sempre a ver no doente o corpo de Cristo que sofre.

Acompanho com estes votos a vossa actividade, e, enquanto auguro que sentimentos sempre nobres e cristãos a sustentem, peço Aquela, que invocais como "Salus infirmorum", que assista e recompense quantos de vós, com bons propósitos e bons métodos, empregam o seu empenho e a sua obra para restituir saúde e serenidade a tantos irmãos nossos, provados pela dor e pela enfermidade.

Sirva-vos de ajuda a Bênção Apostólica, que com grande efusão vos dou, aos que vos são caros e a todos os vossos colegas e amigos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR JEAN-PIERRE NONAULT


PRIMEIRO EMBAIXADOR


DA REPÚBLICA POPULAR DO CONGO


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Segunda-feira, 28 de Abril de 1980



Senhor Embaixador

Há já algum tempo que a Santa Sé e o seu país, desejando darem-se os meios para estabelecer, de modo permanente, um diálogo construtivo, decidiram, de comum acordo, estabelecer entre si relações diplomáticas. Um Pró-Núncio Apostólico foi já acreditado em Brazzaville. E eu estou pessoalmente contente por receber hoje o primeiro representante acreditado pela República Popular do Congo.

Digne-se Vossa Excelência aceitar os meus votos, no momento em que inicia a sua alta missão. São votos de boas-vindas, de prosperidade para a sua pessoa, para a sua família e colaboradores. E são-no à medida dos seus, cuja cortesia apreciei.

Fui igualmente sensível às palavras que me transmitiu da parte de sua Excelência o Presidente Denis Sassou N'Guesso. Queira dizer-lhe que o saúdo respeitosamente, que estou muito contente por pensar usufruir dentro em pouco da sua hospitalidade, e que lhe estou muito reconhecido por permitir esta visita pastoral em território congolês.

Porque quer ser este o carácter do meu périplo africano: uma viagem religiosa antes de mais, para visitar as comunidades cristãs locais, e uma viagem de amizade e de amor fraterno, para saudar as populações e para, conhecendo-as melhor, melhor as poder amar. Irei ao Congo como mensageiro de paz, como homem de Deus, para levar o testemunho da minha estima por esse Povo, a que desejo um futuro prometedor e próspero. Será uma etapa bastante breve, mas que se revelará, sem dúvida alguma, frutuosa e rica em recordações, na hora do regresso.

Vossa Excelência teve a bondade de sublinhar algumas das iniciativas tomadas pela Santa Sé no domínio internacional. São elas inspiradas pelo serviço do homem, de todas as grandes causas que se ligam com o serviço do homem. Nenhum outro fim anima; neste tempo, a Igreja católica que quer continuar em tudo fiel à missão que Deus lhe confiou. E dentro deste espírito, que implica o respeito pelos poderes públicos de cada Estado, que eu gostaria de ver reforçados os nossos laços com a República Popular do Congo. Pela sua parte de certo se esforçará por consolidar, atingindo assim os meus votos profundos.

Sobre Vossa Excelência e sobre os que o acompanham, imploro as bênçãos do Altíssimo, a Quem confio, de igual modo, a querida Nação congolesa.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CONSELHO DO CENTRO DE INICIATIVA JUVENIL


Terça-feira, 29 de Abril de 1980



Ilustríssimos Senhores e caros Jovens

As minhas alegres boas-vindas a vós, que pertenceis aos Conselhos Directivo e Geral do Centro de Iniciativa Juvenil, e desejastes encontrar-vos com o Papa para receber uma palavra de apoio e orientação para as vossas exemplares e dinâmicas iniciativas. Propondes-vos favorecer, entre os da vossa idade, uma participação esclarecida e iresponsável para a solução dos problemas que dizem respeito à cultura, à poli, tica, à arte e em geral à vida da sociedade, a fim de promover os valores fundamentais da justiça e da paz.

A vós aqui presentes, e a todos os vossos amigos e colegas — igualmente ansiosos por cooperar na construção de um mundo cada vez mais animado por ideais de inspiração cristã — se dirige a minha afectuosa saudação, cheia de esperança, a qual se projecta longe, para o futuro que sereis chamados a construir com empenho,. e eu desejo venha a ser operoso e sereno.

Integrado nos vossos programas e como demonstração da vossa activa presença, quisestes atribuir o "Oscar dos Jovens", pelo ano de 1979, a uma personalidade eclesiástica que, por motivo do seu cargo, representasse, de modo singular e significativa, a solicitude da Igreja Católica no campo humanitário e pela causa da paz no mundo.

O Vigário de Cristo agradece-vos o apreço e a consideração que demonstrais pela obra benéfica da Igreja no seio da sociedade actual. A Igreja, de facto, tendo embora a missão primordial de encaminhar o homem para os fins sobrenaturais e ultraterrenos que formam o conteúdo essencial da sua mensagem, não se esquece nunca da situação concreta, terrestre, da convivência civil, e, ao mesmo tempo que se empenha por animá-la interiormente com os valores da caridade e da colaboração, toma sobre si e compartilha os pesos, os dissabores e os sofrimentos da mesma situação.

A libertação interior, a observância da lei do amor, que põe o homem ao serviço do homem, a justiça, que distribui com sabedoria e equanimidade, o respeito do mandamento do perdão, que extingue a sede da vingança e apaga o ódio, são outros tantos objectivos do Reino de Deus na terra, que o crente em Cristo é chamado a implantar e radicar no contexto da própria responsabilidade individual e social. Deste modo, evangelização e promoção caminham a par e passo, e uma sustenta a outra, oferecendo a primeira as motivações ideais e sendo a outra a manifestação convincente e eficaz da primeira.

Caros jovens, esforçai-vos, então, por conhecer cada vez melhor, com a intenção de amar, a efectiva condição interior e social do homem que vos rodeia, para lhe reconhecerdes as aspirações autênticas e preverdes as dificuldades, o ajudardes quando precise, para formardes com ele irmãos e servidores sinceros da sua dignidade, e colaboradores do seu destino de liberdade e da sua vocação pessoal para o Absoluto. Caminhai juntos no desempenho de uma missão tão alta, que exige esforço comum, apoio recíproco e auxílio mútuo, para vencer e superar as tentações que se apresentam: de desânimo, desconfiança e isolamento egoísta.

Exorto-vos, pois, a que fiteis e sigais Jesus Cristo, que revela o amor do Pai e constrói o verdadeiro destino do homem, supera os limites do tempo e as barreiras da história. Na Sua vitória sobre o mal e sobre a morte encontrareis a garantia mais sólida da vossa vitória.

Com estes votos, concedo a vós e a todos os membros da vossa Associação a minha afectuosa Bênção.



                                                                Maio de 1980



PEREGRINAÇÃO APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À ÁFRICA

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NO AEROPORTO FIUMICINO


ANTES DE PARTIR PAPA A ÁFRICA


Sexta-feira, 2 de Maio de 1980



No momento em que me apresto a iniciar a minha viagem apostólica à África, desejo agradecer com profunda estima e sincera cordialidade aos presentes: os Eminentíssimos Cardeais, os Membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, o Representante do Governo Italiano e todos aqueles que desejaram manifestar-me o seu afecto e encorajamento nesta minha nova e longa caminhada.

O contexto histórico desta iniciativa é o de participar nas celebrações do centenário da evangelização no Gana e no Zaire; dirijo-me para o coração de um imenso Continente, a África, que mediante os missionários recebeu a luz da fé cristã. Ao mesmo tempo, estou feliz de poder participar intensamente, com a minha presença pessoal, da alegria daquelas jovens Igrejas, nas quais os Bispos autóctones já assumiram a sucessão dos Bispos missionários.

Além disso, quis alargar esta minha primeira visita a outras Nações do centro do Continente Africano, isto é, à República Popular do Congo, ao Quénia, ao Alto Volta e à Costa do Marfim.

Infelizmente não foi possível incluir também todos aqueles Países da África, dos quais me chegaram urgentes e afectuosos convites. Agradeço este gesto cordial, e espero poder um dia satisfazer o seu desejo.

Como as minhas precedentes viagens, também esta quer ter uma finalidade eminentemente religiosa e missionária: o Bispo de Roma, o Pastor da Igreja universal vai a África para confirmar (cfr. Lc 22,32) os irmãos no Episcopado, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos, as religiosas, os missionários e as missionárias, os homens e as mulheres, todos unidos na mesma fé em Cristo morto pelos nossos pecados, e ressuscitado para a nossa justificação (cfr. Rm 4,25); para rezar com eles e exprimir àquelas Igrejas locais, vibrantes de vida jovem e de entusiástico dinamismo, a admiração e o agrado que toda a Igreja nutre por elas; e para manifestar, além disso, a todos os habitantes da África os sinceros sentimentos de estima e de respeito pelas suas tradições e pela sua cultura, e para lhes externar cordial augúrio de prosperidade e de paz.

Dirijo-me à África dos Mártires do Uganda e portanto, desde este momento, não posso deixar de manifestar às Nações que visitarei, como também a todas as outras Nações daquele Continente, o afecto e a esperança que o Papa e a Igreja nutrem por elas. A África contemporânea tem indubitável importância e original missão no contexto da vida internacional hodierna, devido aos seus problemas de carácter político, social e económico; ao seu dinamismo, inserido nas forças repletas de pujança e de vitalidade dos seus habitantes. Aquele grande Continente está construindo, embora em meio às tantas tensões, a própria história. Os católicos africanos, como também todos os crentes em Cristo, juntamente com todos os que crêem em Deus, poderão sem dúvida oferecer válido e precioso contributo de ideias e de obras para a construção de uma África que, no respeito dos antigos valores culturais, saiba viver na solidariedade, na ordem e na justiça.

Queira o Senhor, nestes dias, dar forças aos meus passos, que anunciam a paz (cfr. Is 52,7).

A Virgem Maria, em cujo coração maternal depositei o êxito das finalidades espirituais da minha viagem, me assista, assista a África e a Igreja inteira.



PEREGRINAÇÃO APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À ÁFRICA

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS


EM QUINXASSA (ZAIRE)


Sexta-feira, 2 de Maio de 1980



Senhor Presidente
Senhor Cardeal
Excelências
Sanhoras, Senhores
Caros Irmãos e Irmãs

Deus abençoe o Zaire! Deus abençoe a África!

1. É para mim grande alegria desembarcar a primeira vez no continente africano: Sim, ao beijar esta terra, o meu coração transborda de comoção, alegria e esperança. É a comoção de descobrir a realidade africana e de encontrar dentro dela esta parte notável da humanidade, que merece estima e amor, e que é também chamada à salvação em Jesus Cristo. É a alegria pascal que habita dentro de mim e eu desejava repartir convosco. E a esperança de uma vida nova — uma vida melhor, uma vida mais livre e mais fraterna — ser possível nesta terra, vida essa para que a Igreja, que eu represento, pode contribuir, em notável medida. Esta visita e os encontros que ela vai permitir são graças pelas quais eu quero primeiramente agradecer ao Senhor. Bendito seja Deus!

2. A todos os habitantes da África, a qualquer país e origem pertençam, apresento as minhas saudações amigáveis e calorosas, e os meus sentimentos de confiança. Saúdo, primeiro, os meus irmãos e filhos católicos, e os outros cristãos. Saúdo todos quantos, profundamente animados de sentimentos religiosos, têm a peito submeter a sua vida a Deus ou procurar a Sua presença. Saúdo as famílias, pais e mães, filhos e anciãos. Saúdo especialmente os que sofrem no corpo e na alma. Saúdo os que trabalham no bem comum dos seus concidadãos, na educação, na prosperidade, na saúde e na segurança deles. Saúdo cada uma das nações africanas. Alegro-me com elas de que tenham tomado nas mãos o seu próprio destino. Penso ao mesmo tempo na bela herança dos seus valores humanos e espirituais, nos seus esforços meritórios e em todas as suas carências presentes. Cada nação tem ainda de percorrer longa caminhada: para forjar a sua unidade; aprofundar a sua personalidade e cultura; realizar o progresso que se impõe em tantos campos, isto dentro da justiça, com o empenho de levar todos a que participem e se interessem; e para inserir-se com participação activa no concerto das nações. Para isto, tem a Éfrica necessidade de independência e de ajuda mútua desinteressada; precisa de paz. A todos e a cada um expresso eu votos cordiais e fervorosos.

3. Venho aqui como Chefe espiritual, Servo de Jesus Cristo na linhagem do Apóstolo Pedro e de todos os seus sucessores, os Bispos de Roma. Tenho a missão, com os meus irmãos os Bispos das Igrejas locais, de confirmar os filhos de toda a Igreja na verdadeira fé, e no amor devido a Jesus Cristo, a missão de velar pela unidade deles e de reforçar o testemunho que prestam. Um número importante de Africanos seguem já a fé cristã e eu desejava que a minha visita lhes trouxesse conforto, neste período significativo da sua história. Duas destas Igrejas convidaram-me especialmente para o centenário da evangelização, que outras se preparam também para celebrar.

Venho aqui como homem da religião. Aprecio o sentido religioso tão profundo na alma africana, o qual pede não ser relegado mas, pelo contrário, purificado, elevado e reforçado. Estimo aqueles que se empenham por levar a sua existência e construir a sua cidade numa relação vital com Deus, atendendo às exigências morais que Ele inscreveu na consciência de cada um e atendendo portanto também aos direitos fundamentais do homem, dos quais Deus é garantia. Com os que têm esta visão espiritual do homem, partilho eu a convicção de o materialismo, venha de onde vier, ser uma escravidão de que é preciso defender o homem.

Venho aqui como mensageiro de paz, desejoso de animar, como Jesus, os agentes de paz. O verdadeiro amor procura a paz, e a paz é absolutamente necessária para a África poder consagrar-se inteiramente às grandes tarefas que a esperam. Com todos os meus amigos africanos, desejava eu que amanhã cada filho deste continente pudesse encontrar o alimento do corpo e o alimento do espírito, num clima de justiça, segurança e concórdia.

Venho aqui como homem de esperança.

4. Sem delongas, agradeço à África o seu acolhimento. Fiquei profundamente comovido com a hospitalidade que tantos países deste continente me ofereceram muito generosamente nos últimos meses. Vi-me deveras na impossibilidade de aceitar todos os convites, durante esta primeira viagem de dez dias. Bem o senti, e penso concretamente na expectativa de certos países que podem alegar especiais méritos e uma riqueza de vitalidade cristã que eu tanto desejava satisfazer. Mas são visitas que ficarão para mais tarde. Muito espero que no futuro venha a Providência a dar ao Papa ocasião de as realizar. Tenho esperança firme de voltar a este continente. E, desde já, contem esses países todos com a minha estima e os meus votos. Neles pensarei aliás, nos seus méritos, nas suas alegrias e nas suas preocupações humanas e espirituais, quando encarar os diferentes temas da minha viagem e me dirigir às diversas categorias de interlocutores. A minha mensagem é para a África toda.

E agora volto-me muito especialmente para este país do Zaire que está no coração da África e é o primeiro a acolher-me. Este grande país cheio de promessas, que tanto gosto tenho de visitar, este país chamado a grandes tarefas; tarefas que se apresentam difíceis. A minha primeira palavra é para agradecer ao Senhor Presidente e ao seu Governo, para agradecer aos Bispos, o convite instante que me fizeram.

Conheço o apego de grande número de Zairenses à fé cristã e à Igreja católica, graças a uma evangelização que progrediu muito rapidamente.

É o centenário desta evangelização que eu venho agora celebrar convosco, caros amigos. É bom olhar para o caminho percorrido, no qual Deus não regateou as Suas graças em favor do Zaire: operários do Evangelho em plêiade vieram de longe e consagraram a vida, para também vós terdes acesso à salvação em Jesus Cristo. E os filhos e as filhas deste país receberam a fé. Ela deu frutos abundantes em numerosas pessoas baptizadas. Sacerdotes, Religiosas, Bispos e um Cardeal saíram do meio do povo zairense, para animarem, com os seus irmãos, esta Igreja local e imprimir-lhe o seu verdadeiro rosto, plenamente africano e plenamente cristão, em união com a Igreja universal que eu represento no meio de vós. Durante os dias que vão seguir-se, tornaremos a falar de tudo isto. A perspectiva de todos estes encontros alegra-me profundamente. Desde já recebam, todos estes Irmãos e Filhos, todos os habitantes deste país, a minha saudação calorosa e os votos amigáveis que o meu coração formula em favor deles.

Deus abençoe o Zaire! Deus abençoe a África!



Discursos João Paulo II 1980 - 24 de Abril de 1980