Discursos João Paulo II 1980 - 13 de Outubro de 1980

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DE RITO GRECO-MELQUITA CATÓLICO


POR OCASIÃO DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM


Segunda-feira, 13 de Outubro de 1980

: Beatitude
e veneráveis Irmãos

Viestes juntos, das diversas dioceses do Patriarcado Grego Melquita Católico, fazer uma visita ao Papa conforme um salutar e respeitável costume eclesial. Nesta ocasião em que estais muito próximos do túmulo do Príncipe dos Apóstolos, que recebeu o poder inalienável de conduzir e de confirmar todos os seus irmãos na fé e na caridade, sinto-me particularmente feliz ao desejar-vos as boas-vindas.

Este acolhimento fraterno é o do Bispo de Roma, do Sucessor de Pedro, "que é o princípio e o fundamento perpétuo e visível da unidade quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis" (Constituição Lumen Gentium LG 23).

Ao acolher-vos, apraz-me retomar as palavras do Apóstolo Paulo, o companheiro de Pedro nos sofrimentos suportados por Cristo: "A isto é que Ele vos chamou por meio do nosso Evangelho: à posse da glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, irmãos, permanecei firmes e conservai as tradições que de nós recebestes" (2Th 2,14-15).

A minha saudação dirige-se primeiramente e de modo todo especial — à pessoa de Sua Beatitude o Patriarca Maximos V, que celebrará proximamente, na Sede Patriarcal de Damasco, o quinquagésimo aniversário da sua Ordenação sacerdotal. Todos nós, desde já, elevamos a Cristo, Supremo Sacerdote e Redentor dos homens, as nossas preces e os nossos férvidos votos.

A Igreja Grega Melquita Católica, que representais aqui, tem acolhido, no decurso dos séculos, fiéis de língua e de origem grega, mas igualmente síria e egípcia. E, ademais, fiéis de origem árabe chegados à fé católica desde o quinto século, os quais fazem parte do Patriarcado de Antioquia, de Alexandria e de Jerusalém.

Apesar de certas vicissitudes históricas e políticas já bem remotas, e das consequências recentes de guerras fratricidas que persistem em conturbar a paz do Próximo Oriente, o Patriarcado Melquita é próspero.

Esta é precisamente para mim uma ocasião especial de exprimir a Vossa Beatitude e a todos os Bispos do Patriarcado, os meus sentimentos de satisfação e os meus incentivos a prosseguirdes este bom trabalho pastoral conforme o exemplo do próprio Senhor Jesus e os ensinamentos frequentes dos Padres da Igreja Oriental, como São Basílio Magno (cf. Moralia LXXX, 12-21, P.G. 31, 864, b-868, B).

Muitos fiéis gregos mesquitas católicos, como os dos outros ritos orientais, foram obrigados, ainda recentemente, a deixar as próprias casas e a terra dos seus antepassados. Uma parte deles conseguiu encontrar na Europa hospitalidade mais próxima. Para os fiéis da diáspora, a Santa Sé erigiu uma eparquia nos Estados Unidos e no Brasil, acaba de erigir um Exarcado Apostólico no Canadá e, por outro lado, estabeleceu Visitas Apostólicas na Europa Ocidental, na Argentina, na Venezuela, na Colômbia, no México e na Austrália, conforme as normas fixadas pelo Concílio Vaticano II com o objectivo de reforçar a Pregação da Palavra de Deus e a assistência espiritual a todas as comunidades de fiéis emigrados.

E, por outro lado, um motivo de reconforto para a Sé de Roma saber do trabalho que, à luz dos ensinamentos do Concílio, é progressivamente efectuado nos Sínodos, presididos pelo Patriarca e nos quais tomam parte também os Superiores-Maiores de Ordens masculinas, no que concerne, por exemplo, a actualização dos textos litúrgicos, da pastoral, da catequese, com solicitude particular para com o aumento das vocações sacerdotais e religiosas.

O empenho da Hierarquia por uma formação espiritual e intelectual corresponde às necessidades do nosso tempo. É conhecida, aliás, a actividade que desempenhais no campo do diálogo ecuménico com os Irmãos separados, cônscios de que a estável e verdadeira comunhão se edifica na verdade e na caridade, em colaboração com a Sé Apostólica.

O vosso encontro de hoje exprime o elo da colegialidade com o Sucessor de Pedro: possa ele relembrá-la a todos os países, aonde sois chamados a conduzir o povo de Deus, como diz o Concílio a respeito dos Bispos dispersos pelo mundo, "conservando a comunhão entre si e com o Sucessor de Pedro" (Constituição Lumen Gentium LG 25).

Como fiz recentemente por ocasião da visita dos Bispos de rito caldeu, encorajo os encontros sob a forma de Assembleias episcopais no plano nacional, para garantir a unidade de acção entre as diversas Igrejas, para assegurar a harmonia e o entendimento entre os diferentes ritos, sem todavia acarretar prejuízos aos direitos do Patriarca nem aos do seu Sínodo, segundo o direito em vigor.

Não quero terminar sem renovar a expressão do meu vivo afecto, primeiramente, para com todos os vossos sacerdotes, religiosos e religiosas, que têm a tarefa de realizar uma renovação na sua vida espiritual e na sua consagração a Deus e Igreja, e que o fazem com mérito no campo da pastoral, da assistência e da caridade; dirige-se, enfim, o meu pensamento afectuoso para os fiéis de toda a Igreja Grega Melquita Católica. Confiando-vos todos à protecção desvelada e maternal da Santíssima Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, dou-vos de todo o coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO 33º CONGRESSO


DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL FRANCESA


DOS DIRECTORES DIOCESANOS


DE PEREGRINAÇÕES


17 de Outubro de 1980



Caríssimos amigos

Vindes de Loreto, ao término dos dias de amizade, de reflexão e de oração, que vos infundiram novas energias para cumprir a missão particular a vós confiada pelos vossos respectivos Bispos. Não esperais do Papa, neste breve encontro, uma exposição sobre a arte de ser, hoje, Director diocesano de peregrinações. Permiti-me tão somente expressar-vos o meu cordial agradecimento pela vossa visita e fazer-vos sentir quanto partilho as vossas alegrias e as vossas preocupações pastorais.

1. Jamais sereis bastante felizes e reconhecidos para com Nosso Senhor por terdes que guiar os vossos irmãos cristãos por sublimes lugares espirituais e em momentos privilegiados da sua existência. Amai apaixonadamente o vosso serviço eclesial. Talvez um tanto eclipsado num passado recente, ele reencontra, felizmente, e quase por toda a parte, o seu justo lugar, muitas vezes bastante revalorizado. Se eu pudesse deter-me com cada um de vós, estou bem certo que me comunicaríeis profundas e numerosas alegrias sacerdotais, devidas às maravilhas operadas por Nosso Senhor na alma dos peregrinos.

2. Sois felizes, além disso, por haverdes contribuído para a ampliação e a qualificação das vossas equipes diocesanas ou regionais de pastoral dos peregrinos. Os vossos predecessores têm direito ao vosso respeito e à vossa gratidão. A vós cabe-vos procurar, formar e sustentar numerosos colaboradores, tanto entre os leigos, como entre os vossos irmãos de hábito e entre os religiosos e as religiosas.

Bem sabeis que o Papa vos aprova e vos encoraja. Para que a vossa alegria persista no seu vigor evangélico, mantende, antes de mais nada, no interior das vossas equipes, os elos de uma fé e de uma oração ardentes, conjugai as vossas capacidades de reflexão, as vossas experiências, partilhai as vossas responsabilidades, dai sem cessar prova de feliz imaginação! Oxalá não se glorie nenhuma equipe diocesana de ter enfim encontrado a fórmula ideal, mas todas permaneçam vigilantes, e ajudem com o seu dinamismo apostólico aqueles que se encontram em dificuldades.

3. A vossa alegria é, igualmente, e deve ser sempre, a de superar as questões de organização, de transporte, de alojamento, de orçamento — que certamente não deixam de ter a sua importância — e de excogitar maneiras aptas a colocar os espíritos e os corações dos vossos peregrinos em vias de conversão. Neste sentido, é de capital relevância o vosso exemplo pessoal, assim como o dos vossos colaboradores. Arcais prioritariamente com a responsabilidade do clima que faz caminhar as almas rumo à luz de Deus. Mesmo afastados da fé, ficam sensibilizados comas assembleias orantes e cantantes dos cristãos. Sabemos que Agostinho, em Milão, ficou comovido com a melodia dos salmos, e que Paul Claudel foi conquistado pela graça durante o canto das vésperas de Natal em Notre-Dame de Paris. A vossa alegria de promotores de assembleias é simplesmente uma participação na alegria de Deus, Pastor do seu povo, que ressoa através da Bíblia e do Evangelho.

4. A vossa felicidade é, enfim, a de experimentardes que a peregrinação constitui um avanço ou uma redescoberta da missão que incumbe a todo o cristão. Numerosas confidências pessoais, bem como os testemunhos ou a partilha espiritual que se vai operando, cada vez mais, durante as peregrinações ou depois delas, fazem-vos conhecer e admirar adultos e jovens que despertam para uma fé melhor integrada na sua vida concreta, nas responsabilidades precisas que lhes cabem na Igreja ou nos seus ambientes de vida, enquanto alguns começam a perceber a chamada de Cristo para o dom total.

5. Gostaria, enfim, de vos ajudar a suportar as vossas preocupações pastorais. Conheço a vossa inquietude no sentido de enquadrar ou, pelo menos, educar um «turismo religioso» que se desenvolve paralelamente à expansão das verdadeiras peregrinações, com a única finalidade de visitar os sublimes lugares espirituais. Importa manter com os responsáveis e animadores de tal turismo, um relacionamento e um diálogo que possam dar os seus frutos com o tempo.

6. Tendes igualmente, de uma peregrinação à outra, e de um ano ao outro, a preocupação do alimento doutrinal das massas reunidas em assembleias. Existem assuntos doutrinais e apostólicos que é preciso ter a coragem de retomar e de aprofundar. As peregrinações tornaram-se, antes, durante e depois de se realizarem, um momento original da catequese eclesial (cf. Exortação Catechesi tradendae CTR 47). Podeis contribuir singularmente para um novo surto do apetite doutrinal no povo de Deus, que permanece uma condição absolutamente essencial da sua vitalidade espiritual e apostólica. Poder-se-iam citar bons exemplos de temas de peregrinação, a serem preparados com muito cuidado e integrados, a seguir, na vida quotidiana.

7. Penso também vir ao encontro dos vossos anseios, ao sublinhar a vossa preocupação pela qualidade das cerimónias que estruturam as jornadas de peregrinação, sobretudo com as celebrações eucarísticas e com o sacramento da reconciliação, cuja dimensão pessoal muito importa preservar. Muito já se tem feito neste sentido. Sabemos que aqui mesmo vários organismos, entre outros o Centro pastoral de acolhimento dos peregrinos de língua francesa, dão a sua contribuição. Zelai bem e constantemente para que toda a cerimónia seja digna, viva e recolhida, fiel às normas sabiamente traçadas pelo Papa e pelos Bispos; numa palavra, exemplar. As celebrações vividas no decurso de uma peregrinação, podem beneficiar muito ou, infelizmente, muito pouco — os participantes, geralmente bem dispostos. Lembrai-vos igualmente de que tais cerimónias, muitas vezes, constituem uma escola para as comunidades paroquiais das dioceses. Ponderai a vossa responsabilidade.

8. Caros amigos, tendes nas mãos uma chave do futuro religioso do nosso tempo: as peregrinações cristãs, redescobertas e vividas em todas as suas dimensões e exigências, que podem corresponder a uma expectativa mais ou menos consciente dos homens e dos crentes, insatisfeitos com o ambiente materialista actual. As concentrações religiosas, demasiadamente subestimadas por alguns, poderão evitar-lhes a aventura de uma adesão a grupos que buscam, em fontes equívocas, um certo calor humano e religioso. E tempo de conceder à pastoral das peregrinações um lugar pelo menos igual ao que se deve dar à indispensável formação de uma elite. E muito desejável que se promova tanto uma como outra, sem as opor, mas de maneira complementar e dinâmica. É com esta esperança que vos abençoo de todo o coração, como também aos vossos dedicados colaboradores.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA REPARTIÇÃO CENTRAL


PARA O ENSINO CATÓLICO NA HOLANDA


Sexta-feira, 17 de Outubro de 1980



Senhor director
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Sinto-me muito feliz por me ser oferecida a ocasião de me encontrar aqui com os membros da Repartição Central do Ensino Católico nos Países Baixos e com os Representantes da Associação dos Professores católicos.

Em primeiro lugar, agradeço-vos esta visita ao Papa: ela exprime a vossa preocupação de viverdes as vossas responsabilidades de professores cristãos em união com o Sucessor de Pedro e, na sua pessoa, com a Igreja universal. Permiti-me que veja neste facto um sinal da importância que vós atribuis a que a vossa acção educativa no vosso país se situe num horizonte mais vasto, o do compromisso educativo do conjunto da Igreja e dos seus professores em favor da juventude de hoje e da humanidade de amanhã.

Comemorais o sexagésimo aniversário desta Repartição: felicito todos aqueles que tiveram uma parte meritória na promoção deste ensino e formulo os melhores votos pelo futuro da mesma e pela sua qualidade educativa, no plano humano e espiritual.

Bem sabeis quanto a Igreja encoraja a responsabilidade dos leigos na formação dos jovens à luz da fé. E um dos terrenos privilegiados desta formação continua a ser a escola católica. Ao acentuar a sua "importância considerável", o Concílio Vaticano II (Declaração Gravissimum educationis GE 8), não fez mais que retomar uma convicção e uma prática constantes da Igreja. Nos Países Baixos, os católicos compreenderam-no bem e puseram-no em prática, com grande amplidão. Por isso eles beneficiaram de um sistema escolar que salvaguarda, de um modo que poderia considerar-se exemplar, a liberdade dos pais no que diz respeito à escolha da escola para os próprios filhos, segundo a sua consciência (cf. ibid., 6).

Todas as vezes que a Igreja salienta o interesse e o benefício do ensinamento católico, ela pressupõe, evidentemente, que este seja de molde a realizar os seus objectivos: criar uma atmosfera animada de espírito evangélico de liberdade e de caridade, permitir aos jovens desenvolverem a sua personalidade humana e o seu ser de baptizados, fazendo com que o conhecimento que adquirem gradualmente do mundo, da vida e do homem seja iluminado pela fé (cf. Gravissimum educationis GE 8). Por outras palavras, estas escolas devem poder propor uma verdadeira educação religiosa adaptada às situações diversas dos alunos. A catequese — católica para os católicos — é um dos tempos fortes essenciais desta formação cristã, como o recordava com vigor a Exortação apostólica Catechesi tradendae (n. 69): "O carácter próprio e a razão profunda de ser das escolas católicas, aquilo por que os pais católicos as deveriam preferir precisamente a qualidade do ensino religioso integrado na educação dos alunos".

Tal educação supõe bom número de condições que estou certo são objecto da vossa preocupação: espírito profundamente cristão da escola e do seu projecto educativo, elaborado com o concurso dos professores e dos pais; competência, saber pedagógico, fé e espírito apostólico dos professores. Sim, "apostólico", porque se trata de um verdadeiro apostolado, capital para a qualidade moral e a fé das novas gerações. Neste sentido, vós participais no trabalho pastoral da Igreja, para o qual as conclusões do Sínodo particular dos Bispos dos Países Baixos (31 de Janeiro de 1980, cf. nn. 33, 43 e 44), encorajaram vivamente os leigos.

Igualmente eu vos encorajo. Conheço bem as dificuldades que encontrais no vosso trabalho difícil e delicado e aprecio o compromisso generoso com que vos prodigais pessoalmente para dar aos jovens o melhor de vós mesmos. Peço a Deus torne frutuosa a vossa actividade ao serviço do ensino católico, para que ele conserve inteiramente o seu lugar, o seu lugar especifico, na educação humana e cristã da juventude do vosso querido país, e para que ele corresponda cada vez melhor a sua vocação. Abençoo-vos de todo o coração, e convosco abençoo os vossos colegas e cada uma das vossas famílias.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A SUA MAJESTADE BRITÂNICA A RAINHA ISABEL II


E O PRÍNCIPE CONSORTE DUQUE DE EDIMBURGO


Sexta-feira, 17 de Outubro de 1980



Majestade
Alteza Real

Há dezanove anos o meu predecessor João XXIII deu as boas-vindas ao Vaticano a Vossa Majestade e a Vossa Alteza Real. Hoje este júbilo e prazer competem a mim, e é meu desejo saudar a ambos com a mesma-cordialidade e respeito que marcaram as boas-vindas apresentadas pelo meu predecessor.

Nessa ocasião, João XXIII falou da grande simplicidade e dignidade com que Vossa Majestade leva o peso das suas muitas responsabilidades. Duas décadas mais tarde, essas observações são ainda igualmente justas, e é bem evidente que as responsabilidades assumidas estão longe de ter diminuído. As carências da própria humanidade aumentaram dramaticamente, como cresceram os problemas que se lhe deparam em tantas áreas vitais.

No contexto de colaboração no nosso ideal comum de serviço, tenho a satisfação de encontrar o ensejo do nosso encontro para falar a respeito de bastantes assuntos. Os contactos entre a Sé Apostólica de Roma e a Grã-Bretanha não são, de maneira nenhuma, de origem recente; na verdade abrangem um período de quase 14 séculos — sobem até aos dias em que Gregório I enviou Agostinho, monge beneditino, levar o Evangelho de Cristo à gente da Grã-Bretanha. Outras influências beneditinas marcaram a vida do mesmo povo, e das suas praias estenderam-se através da Europa graças à actividade, por exemplo, de São Bonifácio, que foi chamado "o maior inglês" e cujo 13° centenário de nascimento está a celebrar-se este ano.

Na pessoa de Vossa Majestade presto homenagem à história cristã do seu povo, como também às iniciativas culturais do mesmo. Os ideais de liberdade e democracia, radicados no seu passado, mantêm-se como exigências para cada geração de cidadãos probos na vossa terra. Neste século o povo inglês esforçou-se repetidamente por defender estes ideais contra a agressão. É meu voto que estes grandes benefícios sejam efectivamente garantidos para as gerações futuras. A influência do seu povo trabalhador, ainda nalguns outros campos, e a expansão da própria língua foram instrumentos providenciais para favorecerem a fraternidade através do mundo. Oxalá este contributo continue a ser prestado na sua máxima extensão para o progresso da humanidade nesta conjuntura da história e para a promoção do progresso integral de cada homem, mulher e criança, num mundo pacífico.

O ano passado, diante da Organização das Nações Unidas tive a oportunidade de falar da relação que existe entre o genuíno progresso e a paz, por um lado, e a cultura dos valores do espírito, por outro. A este propósito declarei: "O primado dos valores do espírito define o significado próprio e o modo de utilizar os bens terrenos e materiais, e acha-se, por este mesmo facto, na base da justa paz. Tal primado dos valores espirituais, por outro lado, influi para conseguir que o desenvolvimento material, técnico e de civilização, sirva àquilo que constitui o homem" (AAS, 1979, 71, p. 1153). Na presença de Vossa Majestade e de Vossa Alteza Real exprimo a ardente esperança de que a sua nobre nação encare esta grande empresa espiritual com, renovado entusiasmo e novo vigor moral.

Durante as duas décadas que decorreram desde a última visita de Vossa Majestade à Santa Sé, nota-se com sentimento de profunda satisfação uma cada vez maior relação existente entre as várias comunidades cristãs e entre outros homens e mulheres, religiosos e de boa vontade. É isto bem verdadeiro da situação na sua própria terra; com a graça de Deus e devido à paciência e ao esforço aturado de tanta gente honesta, movida pelos impulsos da caridade e dedicada a uma profunda convicção que foi uma vez expressa por Jesus Cristo: "A verdade libertar-vos-á" (Jn 8,32). Digno de especial menção a este propósito é o zelo com que representantes da Igreja Católica e da Comunhão Anglicana se aplicaram a este nobre intento de se aproximarem na unidade cristã e no efectivo serviço comum prestado à humanidade.

Com grande antecipação espero o prazer de encontrar oportunidade de fazer uma visita pastoral aos católicos da Grã-Bretanha. Nessa ocasião espero encontrá-los como filhos e filhas da Igreja Católica e como leais cidadãos da sua nação; ao mesmo tempo espero saudar com fraternal respeito e amizade outros igualmente cristãos e outros ainda, pessoas de boa vontade.

Entretanto, a Vossa Majestade e a Vossa Alteza Real reitero os meus sentimentos pessoais de estima. Peço a Deus os acompanhe em todas as actividades de serviço e conserve de boa saúde. Invoco o favor de Deus sobre ambos, juntamente com a Família Real inteira, e com todo o povo britânico. Deus abençoe a Grã-Bretanha, permitindo-lhe desempenhar o seu elevado destino na justiça e na paz.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À ASSOCIAÇÃO ITALIANA


DE PAIS REUNIDOS EM CONGRESSO


Sábado, 18 de Outubro de 1980



Caros Dirigentes e todos os membros da Associação Italiana de Pais

Agradeço esta vossa visita, que permite encontrar-me pessoalmente convosco, beneméritos agentes da promoção da Família, primária e insubstituível instituição natural, em que o homem nasce e se forma, encontrando nela todas as bases que são necessárias para o desenvolvimento harmónico da sua personalidade.

Dou a todos as minhas cordiais boas-vindas, ao mesmo tempo que expresso o meu reconhecimento ao vosso Presidente pela atenciosa saudação que, interpretando também os vossos pensamentos, quis agora gentilmente dirigir-me.

1. Sei que vos reunistes em Roma para o vosso Encontro Nacional que tem exactamente por tema "A Família nos anos 80: suas tarefas". Aprecio a escolha desse argumento, que bem se harmoniza com a vasta e exigente temática, que os Padres Sinodais estão a tratar nestes dias para restituir à instituição familiar todas as prerrogativas queridas pelo Senhor, mas hoje infelizmente postas em perigo por certas ideologias. Tomei também conhecimento da documentação relativa aos princípios, às finalidades e aos campos de actividade da vossa Associação, que tende a identificar tudo o que diz respeito ao bem e ao interesse dos filhos sob os pontos de vista psicológico, educativo, cultural e social; deseja contribuir para o aperfeiçoamento da obra educativa dos pais, com particular referência às suas responsabilidades quanto a instrução escolar, estimulando a constituição de todos os organismos destinados a fazer participar a família na vida da Escola e da comunidade social; e procura intervir junto das autoridades competentes a fim de propor as soluções mais convenientes, para os pais conseguirem defender os próprios direitos com os meios que lhes são oferecidos pelas instituições civis. Numa palavra o vosso esforço tende a dar voz aos pais, nesta sua qualidade, em todos aqueles problemas que dizem respeito ao crescimento humano e espiritual dos próprios filhos, em particular na escola estatal, frequentada pela grandíssima maioria dos jovens italianos.

2. Vi com satisfação tudo isso e exprimo os melhores votos pela actividade e os métodos que orientam os vossos trabalhos sérios, positivos, importantes e urgentes. Mas não desejo embrenhar-me nestes problemas que vos são próprios, já por vós tratados aliás.

Não posso todavia deixar defazer notar como o vosso Encontro concentrou as intervenções num aspecto verdadeiramente importante da vida da vossa Associação, isto é, o relativo ao contributo que ela pode e deve fornecer ao seio das várias instituições, para infundir nelas aqueles reflexos de vida cristã que às mesmas conferem a possibilidade de serem verdadeiramente educativas. Significa isto que estais verdadeiramente conscientes da prioridade que a função formativa tem no conjunto de todo o processo que é próprio das associações juvenis e da Escola em particular. Esta vossa presença, activa e generosa, tendente a desenvolver as relações entre a Família e a Escola no âmbito da participação social, é mais que nunca providencial num momento em que se lhe sente com maior agudeza o sentido. Pois bem, tende sempre conceito elevado do vosso serviço em defesa dos pequenos, das crianças e da nova geração. Não vos envergonheis nunca de vos chamardes cristãos. Este qualificativo não enfraquece o vigor da vossa função; pelo contrário, reforça e confere-lhe a coesão e identidade. Contanto que sintais sempre nos vossos ânimos a ressonância confortadora do nome cristão, não só como fonte de fervor interno, mas também como esforço para a qualificação rigorosa da função que desempenhais, e ao mesmo tempo como estímulo para vos distinguirdes no vosso ambiente pelo fiel e leal cumprimento de todos os vossos deveres de cidadãos.

3. Uma última exortação é esta: como membros da vossa Associação, que em poucos anos se estendeu já aos Países da Comunidade Europeia, estai unidos. Mentende compacto o Agrupamento com a vossa adesão pessoal e a abertura a novos sócios, sobretudo a jovens casais, que partilhem iguais sentimentos na promoção solidária dos vossos ideais e dos vossos interesses. Deste modo, a vossa presença nas escolas, nos bairros e nos consultórios, reforçar-se-á e poderá fazer ouvir mais eficaz mente a sua voz diante das forças que se inspiram em ideologias contrárias à Família e à autêntica promoção da pessoa na sua plena e verdadeira liberdade. Só deste modo, vós, pais, sereis capazes de obter que nas vossas famílias, na Escola e no mundo do trabalho, em cada momento e lugar da vida social, os vossos filhos sejam educados, desde tenra idade, no respeito das pessoas, das coisas e das opiniões alheias.

Faço votos por que o esforço voluntário, que foi característico da formação e afirmação deste Agrupamento, prossiga com vigor, cada vez maior para fazer sentir, mais ainda, o seu peso em favor da Família, que está no centro das atenções e preocupações da Igreja.

Seja o Senhor a protecção, o conforto e o prémio das vossas meritórias actividades. Com estes votos concedo-vos de coração a propiciadora Bênção Apostólica, que tenho o gosto de tornar extensiva aos que vos são caros e a todos os membros da Associação.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À ACÇÃO CATÓLICA


DA DIOCESE DE SENIGALLIA (ITÁLIA)


Sábado, 18 de Outubro de 1980



Caros irmãos e irmãs!

1. Exprimo-vos a minha alegria, ao receber hoje nesta Sala a peregrinação que representa a inteira Diocese de Senigallia. A minha cordial saudação dirige-se em primeiro lugar ao vosso Bispo e meu Co-irmão, que vos acompanhou junto do Sucessor de Pedro. E saúdo todos vós aqui presentes, de modo especial os numerosos e caros jovens e os jovens catequistas paroquiais. A todos se dirigem as minhas paternas e afectuosas boas-vindas, na esperança de que o encontro de hoje seja verdadeiramente uma ocasião propícia para renovar a nossa comum fé em Cristo Senhor e o nosso amor recíproco, como os vizinhos túmulos dos gloriosos Apóstolos estimulam a fazer.

2. Sei que o motivo da vossa peregrinação é dado pelo nonagésimo aniversário do nascimento de Santa Maria Goretti, em Corimaldo, uma Paróquia da vossa Diocese, onde ela recebeu os primeiros elementos da fé e teve as primeiras experiências de vida paroquial, embora depois devesse acompanhar a família na sua transferência para a região campesina pontina do Lácio. Desejastes, assim, prestar homenagem à singular figura de uma Santa, que, se de um lado constitui uma glória da vossa Comunidade diocesana, de outro brilha como exemplo de virtude, válido e apresentado à sociedade inteira.

Maria Goretti, de facto, foi uma mártir da castidade, isto é de um específico comportamento moral virtuoso, que na história do Cristianismo tem sido sempre altamente honrado, embora no nosso como em outros tempos tenham sido impingidos muitos atentados para desprezar o seu valor.

Certamente, a mensagem que provém da história de Maria Goretti não é de ordem maniqueia, de desvalorização do corpo e da sexualidade, pois que é própria da revelação bíblica toda uma profunda e sã teologia do corpo. Trata-se, antes, de uma mensagem concernente seja à dignidade pessoal a simples nível humano, que se defende de todo o abuso e de toda a violência, seja à consagração das próprias energias, mesmo físicas, ao Senhor e à Igreja, na radical obediência à Lei de Deus.

O cristão não cultiva a castidade ou qualquer outra virtude somente por si mesma, tornando-a um fim ou ideal absoluto. São Paulo exorta-nos: "Ainda que entregue o meu corpo a fim de ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita" (1Co 13,3). A castidade é um valor muito nobre, se está orientada para Cristo Senhor e inserida em todo o contexto da típica vida cristã, à qual o Espírito Santo confere o próprio carácter fundamental e inconfundível, tendo entre os próprios frutos também "o domínio de si" (Ga 5,22), precedido e contornado por muitos outros.

3. Por isso, o convite que vem de Maria Goretti a todos nós, e especialmente aos rapazes e às jovens, é para cuidar com profundidade da própria identidade baptismal e inserir no contexto desta formação, como um dos seus componentes, também o cultivo vigoroso e diligente da íntegra dignidade própria, não só cristã mas também humana, da qual a castidade é uma expressão de capital importância.

Neste sentido, caros irmãos e irmãs, não deveis fazer senão prosseguir e intensificar todas as actividades de vida diocesana, que já vos distinguem. Estou informado, de facto, que entre vós é florescente a Acção Católica dos Rapazes, com as suas várias e fecundas iniciativas pedagógicas que estimulam experiências comunitárias de alegria e de compromisso, e preparam para uma vida de responsabilidade quer eclesial quer civil.

Um sector decisivo, por vós cuidado, é também o dos catequistas. A estes quero recordar a extrema seriedade desta tarefa, tão determinante para o crescimento dos jovens na fé. Tudo isto que é feito para os catequistas e pelos catequistas é certamente digno das mais eleitas graças e recompensas celestes. Certamente a força de Maria Goretti aprofundou as próprias raízes também naquele ensinamento catequético, que teve a felicidade de receber na própria família.

E a vós Pais, e não só aos aqui presentes, vai o meu insistente e encorajante convite a dedicardes a vossa compreensão cristã à família e aos filhos. Maria Goretti, que analfabeta partiu de Corinaldo, encontrou precisamente nos seus pais a escola melhor, porque eles tinham-se formado com a assídua participação na catequese paroquial e na vida litúrgica da terra de origem. Trata-se de um exemplo, que bem se enquadra na moldura do actual Sínodo dos Bispos, o qual justamente nestes dias está a estudar os vários aspectos e problemas da família no mundo contemporâneo.

4. É-me grato, portanto, desejar a todos vós todo o bem no Senhor, no qual vos asseguro a minha recordação na prece, para que "praticando a verdade cresçamos em todas as coisas pela caridade n'Aquele que é a Cabeça" (Ep 4,15). Acompanhe-vos Ele sempre com a sua graça, de que deseja ser penhor a minha Bênção Apostólica, que de coração concedo a todos vós e faço extensiva aos vossos Entes queridos e a toda a dilecta Diocese de Senigallia.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA INAUGURAÇÃO DOS NOVOS LOCAIS


DO ARQUIVO SECRETO VATICANO


Sábado, 18 de Outubro de 1980



1. Sinto-me contente ao dirigir a minha cordial saudação aos Padres Sinodais e às Personalidades da Cúria Romana, do Corpo Diplomático e da cultura, nesta feliz oportunidade da inauguração das novas dependências do Arquivo Secreto Vaticano.

De modo particular, desejo exprimir um vivo aprazimento aos Cardeais Sérgio Guerri, Pró-Presidente da Pontifícia Comissãopara o Estado da Cidade do Vaticano, e António Samoré, Arquivista da Santa Igreja Romana, que nos ilustraram, sob os relativos aspectos, quanto foi feito para chegar à erecção das novas dependências, destinadas ao Arquivo Secreto Vaticano, para a conservação, o cuidado e o estudo das fontes documentárias dos Organismos da Santa Sé e de outras Entidades.


Discursos João Paulo II 1980 - 13 de Outubro de 1980