Discursos João Paulo II 1980 - 25 de Outubro de 1980

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À PEREGRINAÇÃO DE FERROVIÁRIOS ITALIANOS


Domingo, 26 de Outubro de 1980



Irmãos e Irmãs caríssimos!

1. Desejo manifestar-vos a minha profunda alegria e sincera satisfação por este encontro de hoje, que é prosseguimento dos realizados a 8 de Novembro do ano passado, por ocasião do Vigésimo primeiro "Dia do Ferroviário", e a 7 de Setembro passado, quando da minha visita à Estação ferroviária de Velletri, construída — como é sabido — em 1862 durante o pontificado de Pio IX.

Sei quanto desejastes e esperastes esta Audiência. Muitos entre vós, provenientes de todas as Regiões da Itália, fizeram grandes sacrifícios para poderem estar hoje aqui presentes. Portanto, à minha alegria devo unir os sentimentos de gratidão a todos vós, reunidos neste lugar como numa serena, cordial e afectuosa festa de família.

Dirijo a minha saudação a todos vós e a todos os duzentos e vinte mil Ferroviários da Itália, que trabalham quer na sede central de Roma quer nas outras quinze Secções. A minha saudação dirige-se aos Chefes de estação, Maquinistas, Condutores, Chefes de combóio; aos Dirigentes do Tráfego, Manobradores, Operários, Encarregados das instalações eléctricas, de tracção, sinalização, segurança e telecomunicação; aos Técnicos, Vigilantes, Guardas das passagens de nível, a todos os Encarregados das oficinas e dos laboratórios de reparação, manutenção e limpeza do material; nem posso esquecer os Oficiais e os Marinheiros-ferroviários dos Serviços de Ferry-boat.

Para todos vós, para toda a grande Família dos Ferroviários da Itália, o meu pensamento afectuoso.

2. Com a vossa presença quereis, de certo modo, retribuir a visita que fiz aos vossos Companheiros da Secção Ferroviária de Roma, retomar um diálogo, nunca interrompido, e exprimir, com muita sinceridade, a vossa adesão à Cátedra de Pedro.

A primeira coisa a ser recordada e a incumbência que desejo recomendar-vos é a do testemunho da fé cristã. Sim, Irmãos e Irmãs caríssimos! Esta vossa presença é o sinal concreto e claro de que viestes a Roma em peregrinação de fé, para proclamar abertamente, diante da opinião pública, a vossa fé, aquele tesouro incomensurável recebido no santo Baptismo e cultivado pelos cuidados dos vossos pais, dos vossos sacerdotes e dos vossos educadores. Vós quereis repetir com plena consciência e legítimo orgulho, junto do túmulo de São Pedro, as palavras simples e sublimes, que a Igreja vos confiou no momento do Baptismo, isto é o Símbolo Apostólico: "Creio em Deus, Pai omnipotente, criador do céu e da terra... Creio em Jesus Cristo, seu Filho unigénito, encarnado, morto por nós, ressuscitado... Creio no Espírito Santo, que falou por meio dos Profetas... Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica.... "O símbolo da fé católica, que todos os domingos recitais na Santa Missa, deve ser sempre meditado, aprofundado, para que penetre no íntimo da vossa interioridade, anime o vosso comportamento, as vossas acções, oriente as vossas relações com Deus, convosco mesmos e com os outros, de modo que a vossa vida quotidiana — em família e no ambiente de trabalho — esteja em coerente sintonia com a fé que professais: uma fé, que nos ensina que a nossa vida não se exaure nas realidades deste mundo, mas tem como termo final Deus mesmo; uma fé, a dizer-nos que caminhamos, antes corremos para alcançar Cristo e portanto não devemos tornar-nos escravos das coisas da terra. "Nós todos somos urna espécie de corredores — adverte-nos São Basílio Magno —, cada um vai rapidamente para a meta. Precisamente para isto nós vivemos. Durante esta vida tu és viandante. Deves ultrapassar tudo, deixar tudo atrás de ti. Divisas ao longo do caminho um rebento, uma planta, uma fonte ou qualquer outra coisa que vale a pena ver: deliciaste por um momento e depois prossegues. Deparaste com rochas, vales, precipícios, escolhos, troncos, feras, répteis, espinhos; deves inquietar-te por um pouco, mas depois supera-los e vais adiante" (Sobre o Ps 1,4, PG 29, 220).

Uma fé cristã límpida e sem respeito humano dará serenidade à vossa vida e será de incisivo exemplo para quantos vos conhecem: "Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus", disse-nos Jesus no "Sermão da Montanha" (Mt 5,16).

3. A fé em Deus, em Cristo, na Igreja, vós sabereis certamente unir um profundo sentido da família, concebida e orientada à luz da Palavra de Deus, isto é como uma "Igreja em miniatura", urna "Igreja doméstica", na qual o amor é santificado pela graça de Deus e pela oração e tornado mais profundo pela recíproca dedicação, pela qual os pequenos e grandes sacrifícios da vida de todos os dias são enfrentados com plena confiança na Providência de Deus.

Vejo com muito gosto que muitos de vós viestes com as vossas famílias, querendo acentuar com este gesto a vossa resposta alegre e franca às preocupações da Igreja que, mediante a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, durante todo este mês de Outubro meditou sobre as tarefas da família cristã no mundo contemporâneo.

Amai a vossa família! Protegei a vossa família! Sede orgulhosos da vossa família! Seja sempre ela o lar quente e acolhedor, onde possais conservar e transmitir os grandes valores espirituais, ciosamente conservados para as futuras gerações!

4. Desejaria deixar-vos uma última palavra de ordem como recordação deste dia inesquecível: a dedicação ao vosso trabalho.

Sabemos quanto é duro, desgastante, não raro perigoso, o trabalho dos Ferroviários. Mas sabemos também quanto ele é meritório, precioso e indispensável para o bom funcionamento das estruturas da sociedade.

Desejo aproveitar esta circunstância de hoje para vos manifestar, publicamente, o meu aplauso ao qual se une certamente também o do povo italiano — por aquilo que fazeis, dia e noite, à custa de tantos sacrifícios. Cumpri este vosso dever com a consciência de dar um contributo sério e determinante para o ordenado desenvolvimento social e económico do vosso País. Vós, que sois ferroviários "cristãos", participais nos "grupos de evangelização", nos "grupos de domunidade", que foram constituídos nas várias sedes secçionais e em muitas Estações ferroviárias da Itália. Na oração, na reflexão sobre a Palavra de Deus e sobre o ensinamento da Igreja, e no compromisso comum para com o irmãos, sereis os apóstolos, capazes de encaminhar os vossos companheiros de trabalho num caminho de fé e numa promoção humana autêntica e integral.

Desejo-vos, como também às vossas famílias, aos vossos Capelães e a todas as pessoas que vos são queridas a paz e a alegria, tique provêm do Senhor, e de corado vos concedo a Bênção Apostólica, sinal da minha constante benevolência e do meu profundo afecto.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR LUCIANO NOGUERA MORA


NOVO EMBAIXADOR DA VENEZUELA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÕES DAS CARTAS CREDENCIAIS


Segunda-feira, 27 de Outubro de 1980



Senhor Embaixador

Ao receber as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Venezuela junto da Santa Sé, é-me grato apresentar a Vossa Excelência as minhas cordiais boas-vindas.

Assume Vossa Excelência no dia de hoje, ao iniciar a missão que lhe confiou o Governo do seu Pais, a nobre tarefa de representar um querido povo, o venezuelano, cujo afecto e religiosa adesão a esta Sé Apostólica e ao Sucessor de Pedro têm demonstrado numerosos e confortadores testemunhos, aos quais, desde agora, desejo corresponder com gratidão e afecto sinceros.

Este sentir comum dos venezuelanos — da sua laboriosa gente do campo e da indústria, das pequenas povoações e das cidades — é reflexo, sem dúvida alguma, de uma provada profundidade de fé e costumes cristãos que, assumidos e cultivados sob a guia constante e experimentada da Igreja, contribuíram para dar àVenezuela uma configuração humana e espiritual, não só no espírito dos indivíduos, mas também no amplo contexto da sociedade.

Sei muito bem que o seu País é uma comunidade nacional próspera e pacífica, desejosa de conseguir metas mais altas e mais extensas, acessíveis a todos, tanto no plano do bem-estar material como no campo da convivência — digo-o com palavras de Vossa Excelência — "participada e solidária".

Isto supõe, naturalmente, um firme propósito de coordenar de maneira clara e constante toda a gama de serviços e responsabilidades, conforme um projecto inequívoco que realce a prioridade da pessoa humana, cuja dignidade sagrada, a mesma em todos e para todos, a torna credora de todos os bens e de toda a classe de assistência adequada à sua promoção integral. Neste sentido, é altamente esperançoso verificar como na Venezuela, e igualmente no seio de toda a comunidade-humana, se vai adquirindo maior consciência desta prioridade, como o demonstra a vontade expressa de respeitar e defender os chamados direitos humanos fundamentais; , bem entendido que o direito inalienável à vida desde o seu início; o direito ao próprio sustento mediante um trabalho suficientemente remunerado; o direito à educação e à cultura, fonte natural de tantas marginalizações, etc., não são de nenhum modo bens catalogáveis entre os bens de consumo, senão património próprio da dignidade pessoal.

Se me é permitido enumerar sumariamente alguns destes valores que, por si só e mais ainda no seu todo, enobrecem a existência humana, faço-o pela sua intrínseca conexão com uma instituição, básica para a sociedade e para a Igreja tão íntima que lhe dedica os seus melhores desvelos: a família. Quer a vida — desde o seu primeiro palpitar até ao seu final — como o trabalho e o sustento, a educação e a cultura têm manifestas repercussões no lar, onde se sente palpável a sua falta dolorosa ou a sua frutuosa vigência.

Para quem vê no homem uma "imagem e semelhança de Deus" será facilmente compreensível que a Igreja tenha uma peculiar preferência pelo ambiente familiar, que é também lar do espírito e escola de princípios morais, capazes de redimir e orientar com firme esperança.

Senhor Embaixador: nesta singular circunstância, apresento os meus melhores votos por que a Nação venezuelana mantenha e promova sempre estes valores essenciais, provenientes de um autêntico humanismo e da inspiração cristã, a fim de que consolide cada vez mais as bases de um integral bem-estar e progresso, na paz e na justiça. A estes votos uno os melhores angúrios ao Senhor Presidente da Venezuela, a Vossa Excelência, à nova missão que hoje inicia, à sua família, aos seus compatriotas e às Autoridades do País, invocando sobre todos a constante protecção do Altíssimo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES EM DOIS CONGRESSOS


DE MEDICINA E CIRURGIA


Sala Paulo VI

Segunda-feira, 27 de Outubro de 1980



1. Com viva satisfação dou-vos as boas-vindas, ilustres representantes da Sociedade Italiana de Medicina Interna e da Sociedade Italiana de Cirurgia Geral, que, por ocasião da celebração dos respectivos Congressos Nacionais, quisestes fazer-me visita. Considero, de facto, a vossa presença particularmente significativa não só pela qualificada actividade médico-científica, a que se entrega cada um, mas também pelo implícito embora claro testemunho, que ela exprime em favor dos valores morais e humanos. Que vos levou, de facto, a solicitar esta Audiência senão a consciência desperta, e atenta às razões mais altas do viver e do actuar, razões que sabeis fazem parte da quotidiana solicitude do Sucessor de Pedro?

A vós todos, portanto, com o testemunho do meu reconhecimento, a saudação mais deferente e cordial, com um especial e grato pensamento para os Presidentes das vossas duas Sociedades, o Prof. Alessandro Beretta Angussola e o Prof. Giuseppe Zannini. Desejo, em seguida, saudar os colaboradores, os discípulos e os familiares que vos acompanharam, juntamente com o zeloso e benemérito Bispo Dom Fiorenzo Angelini.

2. Reunistes-vos em Roma, ilustres Senhores, para discutir alguns aspectos particularmente actuais das disciplinas da vossa competência. A arte médica obteve nestes anos significativas conquistas, que lhe aumentaram em medida notável as possibilidades de intervenção terapêutica. Isto favoreceu lenta modificação do conceito mesmo de medicina, ampliando-lhe o papel, da primitiva função contra a doença, para o de promoção global da saúde do ser humano. Consequência de tal atitude nova foi a progressiva evolução da relação entre médico e doente para formas organizadas cada vez mais complexas, destinadas a tutelar a saúde do cidadão desde "o nascimento até à velhice.

Tutela da infância e velhice, medicina escolar, medicina de fábrica, prevenção das doenças profissionais e dos acidentes no trabalho, higiene mental, tutela dos diminuídos e dos tóxico-dependentes, dos doentes mentais, profilaxia das doenças de inquinamento, inspecção do território, etc., constituem outros tantos capítulos do actual modo de conceber o "serviço ao homem", a que é chamada a vossa arte.

Não há motivo para não nos alegrarmos, uma vez que pode bem dizer-se que, sob este aspecto, o direito do homem sobre a sua vida nunca teve reconhecimento mais extenso. E um dos traços qualificantes da singular aceleração da história, característica da nossa época. Por este seu extraordinário desenvolvimento, a medicina desempenha papel de primeira ordem em configurar o aspecto da sociedade hodierna.

Um exame sereno e atento da situação actual no seu conjunto deve, todavia, levar a reconhecer que não desapareceram de facto formas insidiosas de violação do direito a viver de modo digno, próprio de cada ser humano. Em certos aspectos seria possível mesmo dizer que surgiram pontos negativos, como escrevi na Encíclica Redemptor Hominis: "Se o nosso tempo... se revela a nós como tempo de grande progresso, aparece também como tempo de multiforme ameaça para o homem... E por isto que é necessário seguir atentamente todas as fases do progresso hodierno: é preciso, por assim dizer, fazer a radiografia de cada uma das suas etapas... De facto, existe já um real e perceptível perigo que, ao passo que progride enormemente o domínio por parte do homem sobre o mundo das coisas, deste seu domínio ele perca os fios essenciais, e em vários modos a sua humanidade fique sujeita àquele mundo, e ele mesmo se torne objecto de multiforme, se bem que muitas vezes não directamente perceptível, manipulação" (n. 16).

3. A verdade é que o progresso tecnológico, característico do nosso tempo, sofre de uma ambivalência de fundo: enquanto, por um lado, consente ao homem tomar na mão o próprio destino, expõe-no, por outro, à tentação de ir além dos limites de um razoável domínio sobre a natureza, pondo em risco a sobreviência mesma e a integridade da pessoa humana.

Para ficarmos no âmbito da biologia e da medicina, considere-se o implícito perigo que, para o direito do homem à vida, deriva das descobertas mesmas no campo da inseminação artificial, do domínio dos nascimentos e da fertilidade, da hibernação e da "morte retardada", da engenharia genética, dos remédios da "psique"; das transplantações de órgãos, etc. Certamente, o conhecimento científico tem leis próprias, que é preciso observar. Deve ele todavia reconhecer também, sobretudo em medicina, um limite intransponível no respeito da pessoa e na tutela do seu direito a viver de modo digno de um ser humano.

Se um novo método de investigação, por exemplo, lesa ou corre o risco de lesar este direito, não há-de considerar-se lícito só porque aumenta os nossos conhecimentos. A ciência, de facto, não é o valor mais alto, a que todos os outros devam subordinar-se. Mais alto, na escala dos valores, está precisamente o direito pessoal do individuo à vida física e espiritual, à sua integridade psíquica e funcional. A pessoa, de facto, é medida e critério de bondade ou de culpa em toda a manifestação humana. O progresso científico, portanto, não pode pretender situar-se numa espécie de terreno neutro. A norma ética, fundada no respeito da dignidade da pessoa, deve iluminar e disciplinar tanto a fase da investigação como a da aplicação dos resultados, nela conseguidos.

4. Há tempo que se elevam no vosso campo vozes alarmadas, que denunciam as consequências danosas derivadas de uma medicina preocupada mais de si mesma que do homem, a quem deveria servir. Penso, por exemplo, no campo farmacológico. E indubitável que, na base dos prodigiosos resultados da terapia moderna, estão a riqueza e a eficácia dos produtos farmacêuticos de que dispomos. É facto, todavia, que entre os capítulos da patologia de hoje se veio juntar um novo, o iatrogénico. Cada vez mais frequentes são as manifestações mórbidas imputáveis ao emprego indiscriminado dos produtos farmacêuticos: doenças da pele, do sistema nervoso, do aparelho digestivo, e sobretudo doenças do sangue. Não é questão só de uso inconveniente desses produtos, nem mesmo do abuso deles. Muitas vezes trata-se de verdadeira e própria intolerância do organismo.

O perigo não é para se desprezar, porque até a mais cuidadosa e conscienciosa investigação farmacológica está longe de excluir totalmente um risco potencial: o exemplo trágico da talidomide o prova. Mesmo com a intenção de ajudar, o médico pode involuntariamente lesar o direito do indivíduo sobre a própria vida. A investigação farmacológica e a aplicação terapêutica devem portanto estar sumamente atentas às normas éticas, que regem a tutela desse direito.

5. O fio das ideias trouxe-nos a um argumento muito discutido, o da experimentação. Também aqui o reconhecimento da dignidade da pessoa, e da norma ética que dela deriva, como valor superior em que deve inspirar-se a investigação científica, tem consequências concretas a nível deontológico. A experimentação farmacológico-clínica não pode iniciar-se sem todas as cautelas estarem tomadas para garantir a inocuidade da intervenção. A fase pré-clínica da investigação deve, portanto, fornecer a mais abundante documentação fármaco-toxicológica.

E óbvio, por outro lado, que o paciente deve ser informado da experimentação, do fim dela e dos seus possíveis riscos, de modo que possa dar ou recusar o próprio consentimento em plena consciência e liberdade. O médico, com efeito, tem sobre o paciente só aquele poder e aqueles direitos, que o paciente mesmo lhe comunica.
O consentimento por parte do doente não é, além disso, isento de qualquer limite. Melhorar as próprias condições de saúde continua sendo, salvo casos particulares, a finalidade essencial, da colaboração por parte do doente. A experimentação, na verdade, justifica-se primariamente com o interesse do particular, não com o da colectividade. Isto não exclui todavia que, ressalvando a própria integridade substancial, o paciente possa legitimamente tomar sobre si uma quota parte de risco, para contribuir com a sua iniciativa para o progresso da medicina e, de tal modo, para o bem da comunidade. A ciência médica apresenta-se de facto na comunidade, como força de libertação do homem quanto às enfermidades, que o embaraçam, e às fragilidades psico-somáticas, que o humilham. Dar alguma coisa de si mesmo, dentro dos limites traçados pela norma moral, pode constituir testemunho de caridade altamente meritório e ocasião de progresso espiritual tão significativo, que possa compensar o risco de uma possível diminuição física não substancial.

6. As considerações apresentadas sobre o tema de investigação farmacológica e de terapia médica podem estender-se a outros campos da medicina. Mais vezes do que se julga, no campo mesmo da assistência ao doente, pode lesar-se o seu direito pessoal à integridade psico-física, exercendo de facto violência: na investigação diagnóstica mediante procedimentos complexos e não raramente traumatizantes, no tratamento cirúrgico, que se atreve agora a realizar as intervenções mais atrevidas de demolição e reconstrução, no caso de transplantação de órgãos, na busca médica aplicada e mesmo na organização hospitalar.

Não é possível enfrentar agora devidamente semelhante temática, cujo exame nos levaria longe, impondo-nos que nos interrogássemos sobre o tipo de medicina para o qual nos queremos orientar: se o de uma medicina à medida do homem ou se, pelo contrário, de uma medicina sob o signo da pura tecnologia e do eficientismo organizativo.

É necessário empenharmo-nos numa "repersonalização" da medicina que, levando novamente a uma consideração mais unitária do doente, favoreça estabelecer-se com ele uma relação mais humanizada, tal que não rompa o laço entre a esfera psico-afectiva e o seu corpo que sofre. A relação doente-médico deve tornar a basear-se num diálogo constituído de audição, de respeito e de interesse; deve tornar a ser autêntico encontro entre dois homens livres ou, como foi dito, entre uma "confiança" e uma "consciência".

Isto consentirá ao doente sentir-se compreendido por aquilo que ele é verdadeiramente: indivíduo que tem dificuldades no uso do próprio corpo ou no exercício das próprias faculdades; mas que mantém intacta a essência íntima da sua humanidade, cujos direitos à verdade e ao bem, tanto no plano humano como no religioso, espera ver respeitados.

7. Ao propor-vos estas reflexões, Ilustres Senhores, ocorrem-me espontaneamente as palavras de Cristo: "Estava doente e visitastes-me" (Mt 25,36). Que enorme estímulo à desejada "personalização" da medicina pode vir da caridade cristã, que leva a que se descubra, nos traços de qualquer enfermo, o rosto adorável do grande e misterioso Paciente, que prolonga os Seus sofrimentos naqueles sobre os quais se debruça, sábia e solícita, a vossa profissão.

Para Ele vai neste momento a minha oração, a fim de invocar sobre vós, sobre os que vos são queridos e sobre todos os vossos doentes, a abundância dos favores celestes, em penhor dos quais vos concedo de coração a propiciadora Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS RELIGIOSOS E ÀS RELIGIOSAS DE DON ORIONE


Segunda-feira, 27 de Outubro de 1980



Acolhei a minha saudação mais afectuosa, vós, Religiosos e Religiosas de Don Orione, Superiores, Sacerdotes, Irmãs e Irmãos, que precisamente hoje exultais e sentis mais próxima e mais confidente a suave e austera figura do vosso Pai Fundador.

Don Orione, tendo uma inteligência de longo alcance, compreendeu perfeitamente as características e necessidades deste nosso século, e de modo especial agora, após a sua beatificação, quer iluminar-vos, encorajar e confortar, para serdes sempre os seus dignos Filhos, intrépidas testemunhas da fé cristã, ardorosos consoladores da humanidade nas suas presentes misérias, apóstolos fiéis e verdadeiros da caridade de Cristo. Os tempos são difíceis e, às vezes, o ânimo está perturbado e deprimido. Pois bem, precisamente para este nosso tempo e estes momentos, Don Orione, na felicidade já alcançada, diz-vos: "Para o alto, coragem, caros filhinhos! E sede até alegres no sofrimento: vós sofreis com Jesus Crucificado e com a Igreja; não podeis fazer nada de mais querido ao Senhor e à Santíssima Virgem, sede felizes em sofrer e ao dar a vida no amor a Jesus Cristo" (Carta de 21 de Agosto de 1930).

Desejo de coração que a alegria, experimentada hoje por vós com a exaltação do vosso Fundador, permaneça nos vossos ânimos, como perene consolação e irradiação do vosso amor a Deus e às almas, segundo os seus exemplos.

Neste nosso encontro, em que nos parece quase ver aqui connosco o próprio Don Orione, com o seu sorriso bom e confidente, com o seu vulto sereno e espontâneo, desejo deixar-vos uma só exortação, que nasce do anseio pastoral de quem preside toda a Igreja: mantende o vosso espírito! Conservai-o íntegro e inflamado em vós mesmos, na vossa Congregação, em todos os lugares aonde sois chamados para trabalhar!

O que São Paulo recomendava aos Tessalonicenses: "Não extingais o Espírito!" (1Th 5,19), repito-o também a vós, também vo-lo digo.

Mantende vivo e fervoroso o seu espírito, apesar das adversidades e tentações, recordando o que ele mesmo dizia: "Não existe outra escola para nós, outro mestre nem outra cátedra senão a Cruz. Viver a pobreza de Cristo, o silêncio e a mortificação de Cristo, a humildade e a obediência de Cristo na ilibação e santidade da vida: pacientes e mansos perseverantes na oração, todos unidos a Cristo com a mente e com o coração; numa palavra, viver Cristo" (Carta de 22 de Outubro de 1937). São palavras maravilhosas, uma perfeita síntese de doutrina e de prática; mas também são palavras impressionantes e exigentes, que dão uma característica decisiva e definida à vida do cristão:

O espírito do Beato Don Orione inunde os vossos ânimos, os comova e faça vibrar de santos propósitos, os estimule para os sublimes ideais vividos por ele mesmo com heróica constância. Vos ajude, conforte sempre e assista Maria Santíssima, que foi sempre a estrela luminosa no caminho de Don Orione, a Mãe confidente, o ideal vivido e anunciado com muito afecto. "Fé e coragem, ó meus filhinhos — digo-vos com ele —: Ave Maria e avante!". Dai-nos, ó Maria, um espírito grande, um coração grande e magnânimo, que chegue a todas as dores e lágrimas... A nossa Mãe celestial espera-nos, quer-nos todos no Paraíso!" (No Santuário de Itati, 27 de Junho de 1937). E vos acompanhe sempre a Bênção Apostólica, em penhor da minha constante benevolência.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE VISITANTES DA SUÉCIA


Sala do Consistório

Quinta-feira, 30 de Outubro de 1980



É para mim um prazer e uma honra dar as boas-vindas a Suas Altezas Reais o Príncipe Bertil e a Princesa Liliana da Suécia, ao Arcebispo de Upsala, Primaz da Igreja Luterana da Suécia, e aos outros distintos representantes da mesma Igreja que, juntamente com Sua Excelência o Embaixador da Suécia na Itália, vieram hoje ao Vaticano. É-me igualmente grato saudar as outras numerosas pessoas que vieram da Suécia, como também os Membros da Igreja Luterana da Suécia residentes em Roma. Esta visita está em perfeita continuidade com as muitas visitas que os peregrinos suecos fizeram em anos recentes ao meu predecessor Paulo VI e a mim mesmo.

A particular ocasião desta visita hodierna é a especial exposição que foi organizada na Cidade, com o título "Suécia e Roma" evidenciando as estreitas relações de amizade que existiram por tantos séculos entre o centro da Cristandade e a Suécia. As figuras mais salientes daquela história são, certamente, Brígida, grande Santa da Igreja Católica e Santa Padroeira da vossa terra, que viveu quase 20 anos em Roma e morreu aqui em 1373; e em segundo lugar, trezentos anos mais tarde, a Rainha Cristina, cujo corpo está sepultado junto do túmulo de São Pedro na Basílica Patriarcal do Vaticano. Mas Roma conheceu muitos outros dos vossos compatriotas, em particular os vários artistas que hauriram a sua inspiração de Roma e de outras partes da Itália, aumentando ainda mais o património cultural quer de Roma quer da sua terra nativa.

Mais perto dos nossos tempos, temos a figura da Madre Isabel Hesselblad, que nos alvores deste século fundou um novo ramo da Ordem de Santa Brígida, precisamente na casa onde Santa Brígida e a sua filha Santa Catarina viveram. É-me grato dirigir uma especial palavra de saudação à Abadessa-Geral da Comunidade de Santa Brígida hoje aqui presente, e agradeço-lhes o valioso serviço de hospitalidade e abertura ecuménica que oferecem, especialmente aos visitantes dos Países nórdicos.

É com gosto que aproveito esta oportunidade para renovar a expressão da amizade da Igreja Católica para com os irmãos, ainda separados, naquelas terras. Creio que a presença de todos vós em Roma neste momento servirá para consolidar os laços daquela amizade, e levará a um aumento de mútua compreensão e estima. Sei que vos unis a mim na minha oração a Deus por que, por caminhos só por ele conhecidos, apresse o dia em que a plena unidade de fé e vida cristã sejam estabelecidas entre nós.

O nosso presente encontro parece de facto ocasião propícia para todos nós, como filhos de Deus — com aumentado conhecimento do comum tesouro das Sagradas Escrituras que juntos veneramos — dirigirmos os nossos pensamento para "o Pai, do qual toda a família, nos Céus como na Terra, toma o nome" (Ep 3,15), e para o seu Filho, Jesus Cristo, o "único mediador entre Deus e os homens" (1Tm 2,5). É ele, Jesus Cristo, que mediante o seu Santo Espírito nos convida a uma união cada vez maior n'ele.

Deus vos abençoe! Deus abençoe todo o povo da Suécia!

                           

                                                               Novembro de 1980



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS GRUPOS NEOCATECUMENAIS


Paróquia do Santíssimo Sacramento, Roma

Domingo, 2 de Novembro de 1980



1. Sobretudo desejo dizer-vos que vos quero bem, ao ver-vos tão numerosos, todos reunidos, adultos, jovens, rapazes e crianças, com os vossos sacerdotes. Quero-vos bem. Segui com interesse as informações que me foram dadas pelo vosso capelão. Devo , dizer-vos que não é a primeira vez que ouço a sua palavra e também o seu entusiasmo pelo movimento neocatecumenal, que sendo "caminho" é também movimento.

Depois também escutei com interesse o testemunho do vosso primeiro catequista. Que vos posso dizer? sobretudo isto: que a palavra ouvida mais vezes foi a palavra fé, fé. E todos vós sois fiéis; quero dizer: tendes fé. Há ainda alguma coisa mais: muitos têm fé; mas vós percorrestes um caminho para descobrir a vossa fé, para descobrir o tesouro divino que trazeis em vós, nas vossas almas. E fizestes esta descoberta, descobrindo o mistério do Baptismo. É verdade que são muitos os baptizados no mundo. Certamente são ainda uma minoria entre os cidadãos do mundo, mas são muitos. Entre estes baptizados, não sei quantos serão os que têm consciência do seu Baptismo, não simplesmente do facto de serem baptizados, mas do que significa serem baptizados, do que significa o Baptismo.

Pois bem: a estrada ou o caminho para descobrir a fé mediante o Baptismo, é a estrada que todos nós encontramos no ensinamento de Cristo, no Evangelho. Encontramo-la, e diria mesmo de modo aprofundado, mediante a reflexão, nas Cartas de São Paulo. Ele mostrou-nos qual é a profundidade imensa do mistério do Baptismo, que significa esta imersão na água baptismal, comparando aquela imersão na água baptismal com a imersão na morte de Cristo, morte que nos trouxe a redenção e morte que nos traz a ressurreição. Deste modo todo o mistério pascal está como que resumido no sacramento, quero dizer no mistério do Baptismo.

Vede, descobrir a profunda dinâmica da nossa fé é descobrir o conteúdo pleno do nosso Baptismo. Se compreendo bem, o vosso caminho consiste essencialmente nisto: descobrir o mistério do Baptismo, descobrir o seu pleno conteúdo e assim descobrir o que significa ser cristão, crente. Esta descoberta está, podemos dizer, na linha da tradição, tem raízes apostólicas, paulinas, evangélicas. Esta descoberta é ao mesmo tempo original. Sempre assim foi, é e será sempre assim. Todas as vezes que um cristão descobre a profundidade do mistério do seu Baptismo, realiza um acto completamente original, e isto não se pode fazer senão com a ajuda da graça de Cristo, com a ajuda da luz do Espírito Santo, porque é mistério, porque é realidade divina, realmente sobrenatural e o homem natural não é capaz de a compreender, de a descobrir, de a viver. Em conclusão, deve dizer-se: todos vós que obtivestes a graça de descobrir a profundidade, a plena realidade do vosso Baptismo, deveis ser muito gratos ao Dador da graça, ao Espírito Santo, que vos concedeu tal luz, o auxílio da graça para obter este dom uma vez e depois continuar. Esta é a conclusão da primeira parte da reflexão.

2. E eis brevemente a segunda parte: descobrir o Baptismo como início da nossa vida cristã, da nossa imersão em Deus, no Deus vivo, e no mistério da redenção, no mistério pascal, descobrir o nosso Baptismo como início da nossa vida simplesmente cristã, deve constituir o início da descoberta de toda a nossa vida cristã, passo a passo, dia a dia, semana após semana, período após período de vida, porque a vida cristã é um processo dinâmico. Começa-se, normalmente baptizam-se os pequeninos, as crianças, pouco depois do nascimento, mas depois crescem; cresce o homem, deve crescer também o cristão. Então deve-se projectar a descoberta do Baptismo sobre toda a vida; sobre todos os aspectos da vida; deve-se ver também, na base deste início sacramental da nossa vida, toda a dimensão sacramental da nossa vida, porque a vida inteira tem uma dimensão sacramental pluriforme.

Há os sacramentos da iniciação: Baptismo e Crisma, para alcançar a plenitude, o ponto central de tal iniciação na Eucaristia. Sabemos bem, no entanto, que os Padres da Igreja falaram do sacramento da plenitude como novo Baptismo, como segundo Baptismo, segundo, terceiro décimo, etc.

Podemos também falar do último Baptismo da vida humana, o sacramento dos enfermos; e há depois os sacramentos da vida comunitária: sacerdócio e matrimónio. A vida cristã tem uma estrutura sacramental e deve-se enquadrar a descoberta do próprio Baptismo em tal estrutura que é essencialmente santificante, porque os sacramentos abrem caminho ao Espírito Santo. Cristo deu-nos o Espírito Santo na sua plenitude absoluta. É necessário apenas abrir os corações, é necessário abrir caminho. Os sacramentos abrem caminho ao Espírito Santo que opera nas nossas almas, nos nossos corações, na nossa humanidade, na nossa personalidade; constrói-nos de novo, cria um homem novo.

Pois bem, este caminho, caminho da fé, caminho do Baptismo descoberto, deve ser um caminho do homem novo; este vê qual é a verdadeira proporção, ou melhor, a proporção da sua entidade criada, da sua criaturalidade a respeito de Deus criador, da sua majestade infinita, do Deus redentor, do Deus santo e santificador, e procura realizar-se naquela perspectiva. Eis que se impõe assim o aspecto moral da vida, que deve ser outro e também, diria, o fruto mesmo, se se descobre a estrutura sacramental da nossa vida cristã: sacramental quer dizer, de facto, santificante. Deve-se descobrir juntamente a estrutura ética, porque aquilo que é santo é sempre bom, não admite o mal, o pecado: sim, o santo, o mais Santo de todos, Cristo, aceita os pecadores, acolhe-os, mas para os tornar santos. Sim, tudo isto é o programa. E assim temos o segundo ponto, a segunda conclusão: descobrindo o Baptismo como início da nossa vida cristã em toda a sua profundidade; devemos depois descobrir-lhe as consequências, passo a passo, em toda a nossa vida cristã. Sim, devemos abrir um caminho, devemos abrir um caminho.

3. Terceiro ponto: aquela descoberta deve tomar-se em nós como fermento. Aquele fermento demonstra-se, faz-se carne, faz-se vida, na realização do nosso cristianismo pessoal, na construção, se assim podemos dizer, de um novo homem. Mas aquele fermento realiza-se também na dimensão apostólica. Somos enviados; a Igreja é apostólica, não somente fundada sobre os apóstolos, mas permeada em todo o seu corpo por um espírito apostólico, por um carisma apostólico.

Certamente, este espírito apostólico deve ser coordenado sempre na dimensão social, comunitária, de todo o corpo, e, por isso, Cristo constituiu a Jerarquia. A Igreja tem a sua estrutura jerárquica, como nos recorda o Concílio Vaticano II no seu documento fundamental que é a Lumen Gentium. Problema do fermento e do apostolado: este é o terceiro ponto.

4. O último ponto. Poderia haver muitos outros, mas eu quero terminar com este. Nós, caríssimos, vivemos num período em que se sente, se experimenta um confronto radical — e eu digo-o porque esta é também a minha experiência de tantos anos —, de um confronto radical que se impõe em toda a parte. Não há só uma versão, há diversas no mundo: fé e descrença, Evangelho e anti-evangelho, Igreja e anti-igreja, Deus e antideus, se assim podemos dizer. Não existe um antideus, não pode existir um antideus, mas pode existir um antideus no homem, pode-se criar no homem a negação radical de Deus. Sim, nós vivemos esta experiência histórica, e mais do que nas épocas precedentes. Nesta nossa época temos necessidade de descobrir uma fé radical, radicalmente compreendida, radicalmente vivida e radicalmente realizada. Nós temos necessidade de tal fé.

Espero que a vossa experiência tenha nascido em tal perspectiva e possa guiar rumo a uma sã radicalização do nosso cristianismo, da nossa fé, rumo a um autêntico radicalismo evangélico. Para isto vós tendes necessidade de grande espírito, de grande autocontrole, e também, como disse o vosso primeiro catequista, de grande obediência à Igreja. Assim se fez sempre. Este testemunho deram-no os santos. Esta prova deu-a São Francisco, esta prova deram-na vários carismáticos nas diversas épocas da Igreja. E preciso este radicalismo, diria esta radicalização da fé, sim, mas deve ser sempre enquadrada no conjunto da Igreja, na vida da Igreja, na orientação da Igreja, porque a Igreja no seu conjunto recebeu de Cristo o Espírito Santo, na pessoa dos apóstolos, depois da sua ressurreição.

Vejo que vos reunis, eu próprio vos encontrei em diversas Paróquias de Roma, diversos grupos, mas parece-me que o grupo mais numeroso existe aqui. E então por isso falo mais demoradamente e com uma preparação diria não específica, mas sempre existente na minha mente e no meu coração. Não é, digamos, um discurso magistral, é um discurso pastoral ocasional. Esta alegria que se encontra nos vossos ambientes, nos vossos cantos, no vosso comportamento, esta alegria pode ser certamente também um sinal do temperamento meridional, mas eu espero que seja um fruto do Espírito e desejo-vos que assim seja. Sim, a Igreja tem necessidade da alegria, porque a alegria, com as suas diversas expressões, é revelação da felicidade. Vede, aqui o homem encontra-se perante a sua vocação fundamental, podemos dizer quase natural: o homem é criado para ser feliz, para a felicidade. Se vê esta felicidade, se a encontra nas expressões da alegria, pode começar um caminho. Mas também aqui devo dizer-vos: sim, os cantos estão bem; as vossas expressões de alegria estão bem; mas para este caminho é o Espírito quem dá o início.

Eis, mais ou menos, tudo aquilo que desejei, que pude dizer-vos nesta circunstância, e julgo que vos disse bastante, e talvez demasiado.

Dou-vos a bênção, juntamente com os cardeais e os bispos presentes.




Discursos João Paulo II 1980 - 25 de Outubro de 1980