Discursos João Paulo II 1980 - Sábado, 30 de Agosto de 1980


VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE À REGIÃO DOS ABRUZOS

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES CIVIS

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Áquila, 30 de Agosto de 1980



Senhor Governador civil,
Senhor Presidente da Câmara de Áquila!

Muito vos agradeço as gentis e nobres palavras, com as quais quisestes exprimir-me, em nome da cidade inteira, para mim tão querida, cordiais sentimentos de boas-vindas, de apreço pela minha pessoa e pelo meu magistério de Pastor da Igreja universal; agradeço aos vossos Colaboradores e Colegas, como também às Autoridades civis e militares da Província e da Região, presentes nesta manifestação em honra de S. Bernardino de Sena, no sexto centenário do seu nascimento; estou grato também pela ocasião que, com o convite a vir aqui, me se ofereceu de admirar a variada, vasta e sugestiva paisagem em que está situada esta Cidade. De facto, sobrevoando este centro geográfico da Itália, pude observar com prazer como ela está magnificamente circundada de um lado pelos ásperos maciços do Terminillo e do Gran Sasso e do outro pelas amenas cadeias do Velino e do Sirente: lugares maravilhosos que lhe conferem tanto encanto e sugestão!

1. Sei que, já desde o primeiro anúncio desta minha visita, todos os Aquilanos, com aquele inato sentido de hospitalidade, que tanto caracteriza o povo dos Abruzos, ao qual se aplica justamente o atributo de "forte e gentil", se prodigaram generosamente, não sem sacrifícios pessoais, para assegurar uma preparação minuciosa e um êxito feliz a esta minha peregrinação para venerar os restos mortais de S. Bernardino, conservados na homónima Igreja da Cidade, que se gloria de o reconhecer como celeste co-padroeiro. E hoje posso ver pessoalmente como o magnifico e festivo acolhimento, que me é reservado, corresponde em tudo aos tradicionais hábitos de cortesia e de gentileza das antigas gentes dos Abruzos, tal como me foram descritos. Também por tudo isto exprimo o meu agrado e o meu reconhecimento.

Ao falar àqueles que têm a responsabilidade de governo, e a todos vós, Aquilanos, desejo acrescentar que esta minha presença quer ser um sinal manifesto da minha benevolência e um gesto de encorajamento para quantos têm a preocupação e o desejo do bem comum. Esta Cidade, como muitas outras, espera desde há tempo interesse, estudo e dedicação para resolver multíplices, e às vezes graves problemas. São problemas de ordem social, e económica, tais como a emigração, a escassez de mão-de-obra especializada, a qualidade da vida nas famílias menos abastadas; mas nesses problemas não devem passar despercebidas, ou ser menosprezadas as dimensões e implicações morais e religiosas, que devem sempre respeitar-se e promover-se, como premissas de que não se pode prescindir, se realmente se quer alcançar um progresso autêntico que seja na verdade em beneficio de cada homem, tomado quer singularmente, quer na sua coexistência na comunidade.

2. E não foram precisamente tais valores sociais, éticos e religiosos a mover e animar a eloquência ardente e vigorosa de Bernardino de Sena? No nome de Jesus, sintetizado no conhecido monograma que vós, Aquilanos quisestes gravar na fachada do Palácio Velho e nas portas de tantas casas, ele não cessou de pregar a paz e o bem, segundo o espírito do lema franciscano "Pax et Bonum", que deve ser entendido no seu sentido mais vasto de paz interior e exterior, e de bem espiritual e material, isto é de bondade e de bem estar. Costumava ele repetir: "daria uma libra de sangue para que se faça a paz". Vindo para aqui, para Áquila, in limine vitae, quis com a sua presença fazer-se instrumento de paz e de pacificação entre as partes então em contenda, reconciliando-as no nome do Senhor. De facto, como escreve o seu biógrafo Piero Bargellini: "Áquila era toda uma voz de bronze que chamava por todo o arco dos montes e a extensão dos vales. Ao som dos sinos das igrejas tinha-se unido o de todas as torres. Também o sino da Câmara Municipal... para Bernardino tangeu com os outros. De todas as partes dos Abruzos accorreu gente" (P. Bargellini, San Bernardino, pág. 228).

3. Igual multidão de gente reúne-se hoje ao redor dos restos mortais de S. Bernardino para receber mais plenamente a sua mensagerm, que, depois de tantos anos, não perdeu a actualidade nem a urgência. Seja-vos Ele encorajamento neste compromisso social e cristão, ajuda com o seu patrocínio, sob o qual não hesitaram em colocar-se os vossos antepassados para a sua tranquilidade e para a defesa das tradições de fé, de cultura e de arte, de que esta Cidade se gloria e é orgulhosa.

Acompanhe estes votos de progresso e de prosperidade a propiciadora Bênção, que agora concedo de coração a todos os presentes.



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE À REGIÃO DOS ABRUZOS

ENCONTRO COM O CLERO, OS RELIGIOSOS, AS RELIGIOSAS

E OS DIRIGENTES DE DIVERSAS ASSOCIAÇÕES CATÓLICAS


DOS ABRUZOS E MOLISE


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Basílica de São Bernardino

Áquila, 30 de Agosto de 1980



Caríssimos Irmãos e Filhos

Chegando ao momento culminante da minha viagem, depois de elevar fervorosa oração pelas intenções mais urgentes da cristandade na hora actual, é-me grato passar alguns momentos juntamente convosco, caros Sacerdotes, Religiosos, Religiosas e Dirigentes das Associações católicas da Igreja dos Abruzos e de Molise, aqui diante da urna de São Bernardino que guarda os seus incorruptos e venerados restos mortais, nesta esplêndida Basílica, que a piedade e o amor do povo aquilano erigiram em sua honra apenas trinta anos depois do seu feliz trânsito.

Antes ainda de vos dirigir a minha saudação, é-me grato confiar-vos a emoção espiritual que invade o meu coração ao pensar que a construção deste templo, sinal de ininterrupta devoção ao santo religioso, foi devida e encorajada por outro santo, João de Capestrano, grande apóstolo e defensor da Europa e tão venerado na Polónia pela sua acção pastoral incisiva e reformadora. Ele, de facto, dirigiu de Cracóvia — como vós bem sabeis — um caloroso apelo aos cidadãos de Aquila, para que erigissem um digno monumento ao próprio co-irmão e mestre, elevado às honras dos altares pelo Papa Nicolau V, em 1450, seis anos após a morte. São Bernardino e São João de Capestrano estão intimamente ligados entre si na veneração e na fé dos Polacos.

E agora dirijo o meu reconhecido aprazimento ao Reverendíssimo Padre João Vaughn, Ministro-Geral da Ordem dos Frades Menores, que, em nome das quatro grandes Famílias franciscanas, me recebeu no limiar desta Basílica com palavras de fervorosas boas-vindas, e ao mesmo tempo exprimo, com igual afecto e sincera satisfação, a minha gratidão a D. Vincenzo Fagiolo, Arcebispo de Chieti e Presidente da Conferência Episcopal dos Abruzos e de Molise, que houve por bem manifestar, com expressões tão cordiais e animadas por fé profunda, a adesão e a comunhão espiritual dos vossos corações, das vossas preocupações e dos vossos propósitos com os do humilde Vigário de Cristo.

Obrigado a vós Sacerdotes e Religiosos, pelo vosso trabalho, pelo vosso compromisso, pelo vosso serviço, que asseguram aquela acção pastoral de evangelização e de testemunho, indispensável ao crescimento da Igreja de Cristo. Vós desempenhais a vossa missão com intensa e exemplar dedicação, conscientes de serdes servidores de uma causa sublime, pela qual Cristo Senhor escolhe incessantemente dignos continuadores seus. Mantendes viva consciência da grandeza da tarefa recebida e da necessidade de vos adequardes continuamente a ela. É um serviço elevado e exaltante, que exige uma profunda convicção sobre a própria identidade sacerdotal, isto é de homens depositários e administradores dos mistérios de Deus, instrumentos insubstituíveis de perdão e graça, ministros de um Reino eterno, os quais consagram a palavra, a mão e o coração a Jesus Redentor do homem.

Ao mesmo tempo que abraço com igual benevolência e pessoal participação cada um de vós, fazendo votos por uma maturidade espiritual cada vez mais rica de alegre dedicação e de bondade, permiti-me que dirija uma particular saudação de bons votos a três famílias religiosas femininas, notoriamente beneméritas desta cidade. Elas, de facto, foram aqui fundadas para responder a precisas exigências e necessidades, e além disso, hauriram inspiração e orientação nos ideais franciscanos do álveo reformador bernardiniano, que, em Aquila, sempre ofereceu águas puras e restauradoras de exemplaridade evangélica e renovação espiritual. Dirijo, pois, com especial sentimento de cordialidade, a minha, saudação às Irmãs Missionárias Franciscanas do Menino Jesus, que celebram este ano o primeiro centenário de fundação; às Irmãs Missionárias Catequistas da Doutrina Cristã e às Irmãs Zeladoras do Sagrado Coração. Não posso, além disso, deixar de fazer afectuosa menção das Clarissas, aqui presentes em grande parte, do Mosteiro do Santíssimo Sacramento, erigido em Aquila pelo próprio São João de Capestrano.

Convido agora todos a dirigirem a própria atenção e admiração para a figura hierática e apostólica do grande "orador" do Renascimento, fascinador — segundo os especialistas — no seu irrepetível e colorido idioma italiano, que tantas multidões de fiéis levou à conversão e à bem-aventurança evangélica, ao mesmo tempo que reconciliava famílias e cidades no nome de Jesus Salvador; dele haurimos motivos de conforto e de encorajamento na nossa particular missão de consagrados, de evangelizadores e de qualificadas testemunhas; a ele dirigimos as vibrações dos nossos corações de filhos convictos e alegres da Igreja.

São Bernardino, por imperscrutável desígnio da Providência, terminou a sua laboriosa jornada terrena entre os muros desta amada cidade, na resserenante véspera da Ascensão de 1444, enquanto os seus Frades, quase a selar com lema indicativo uma vida inteiramente consumida no anúncio da salvação, cantavam em coro a antífona "Pater manifestavi nomen tuum hominibus quos dedisti mihi" (Jn 17,6). Esta frase evangélica, que o Santo costumava repetir todos os dias e que foi justamente retomada pela iconografia, inserindo-a na auréola que coroa a sua cabeça, assume um valor simbólico e encerra em si o significado inteiro da acção apostólica do grande pregador.

Ele, que desejou poder falar com extrema clareza e ousadia, em todas as circunstâncias (cf. São Bernardino de Sena, Prediche, Lib. Ed. Fior., 1964, p. 219), oferece-nos um exemplo de apego à verdade, de adesão à palavra revelada, atitude que deve verificar-se de modo primário em quem quer que seja que, também no silêncio do claustro e, através do quotidiano serviço de uma consagração oculta, queira cumprir o compromisso eclesial de transmitir o amoroso desígnio de Deus em relação ao homem.

Era cara ao Santo a frase do Salmo "Declaratio sermonum tuorum illuminat et intellectum dat parvulis" (Ps 119 [118], 130), e ele advertia como compromisso imprescindível o dever de falar abertamente «a fim de que, quem ouve, ir contente e iluminado; e não embaraçado» (op cit., p. 45). Um tal amor pela verdade e pela clareza da sua exposição, deve animar o nosso serviço catequético e evangelizador, a fim de não nos desviarmos por caminhos de interpretações humanas, de cómodas adaptações com o espírito do mundo, afastando-nos assim da fé, a única que nos assegura a vitória (cf. 1Jn 5 1Jn 4).

Certamente a verdade deve ser garantida e credível pelo nosso testemunho de vida. "É necessário — afirmava o Santo — que vás atrás de Cristo, tu que queres ser pregador" (Op. cit. p. 46). Tal exemplaridade de comportamento que se requer no "orador" da palavra revelada, não pode desligar-se de humilde e sincera adesão ao magistério eclesiástico, que compromete "a deixar a heresia e conservar o que têm a Santa Igreja e os santos doutores, e a não ir nunca contra àquilo que foi ordenado" (op. cit. p. 47). Não pode haver autêntico exercício do ministério da palavra dentro da Igreja, sem a obediência do coração a quem, embora recoberto de fraqueza e de fragilidade, recebeu o mandato de assegurar a pureza da doutrina. Hoje é urgentemente exigida tal obediência confiante, que não se justifica como adesão à vontade dos homens, mas apenas como entrega ao Senhor e à sua acção na Igreja.

A nossa obra de evangelizadores, por fim, deve ser ditada e sustida pelo amor por Cristo Senhor e pelas almas. Não é possível empenhar-se a fundo, em tal tarefa sublime, sem o vigor que provém de um amor generoso, espiritual e totalitário, que se manifeste ao mundo como luz vivíssima. Neste sentido São Bernardino é de grande e viva actualidade, quer pelos seus exemplos quer pelos seus límpidos ensinamentos.

O nosso serviço, caros Irmãos, que tem o supremo objectivo de tornar os homens convictos do amor do Pai celeste, seja confiado totalmente à Mãe de Deus e nossa Mãe, tão amada e celebrada pelo nosso Santo, que tem para Ela expressões de singular ternura, exaltando-a admiravelmente na sua missão de dispensadora de graças.

Com tal perspectiva de esperança e confiança, invoco sobre todos vós a plenitude dos dons celestes e de coração concedo-vos, e a quantos vos são queridos, a minha afectuosa Bênção.



                                                         Setembro de 1980

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PREFEITOS DAS 60 CIDADES


MAIS POPULOSAS DO MUNDO


3 de Setembro de 1980



Senhoras e Senhores Caros amigos

1. Tenho o gosto de dirigir sinceras boas-vindas a todos vós que viestes de muitos países diferentes e estais participando na Conferência Internacional sobre a População e o Futuro das Cidades, que se está a realizar em Roma. Saúdo-vos, não como especialista sobre os aspectos económico, social e político que são o assunto das vossas discussões; mas como pessoa interessada vitalmente em cada dimensão humana do vosso tema — ansiosa em proclamar ao vosso lado, a partir da perspectiva do homem e da sua inviolável dignidade, a grande importância do vosso assunto.

2. Quase há 10 anos que o meu predecessor Paulo VI, num bem conhecido documento do seu pontificado, fez a seguinte reflexão: «Um fenómeno que ressalta atrai a nossa atenção, tanto nos países industrializados como nas nações em vias de desenvolvimento: a urbanização». E depois levantou as seguintes questões: «o aparecimento de uma civilização urbana... não será, na realidade, verdadeiro desafio lançado à sabedoria do homem, à sua capacidade de organização e à sua imaginação prospectiva?... Fase irreversível, sem dúvida, no desenvolvimento das sociedades humanas, a urbanização levanta ao homem problemas difíceis: como dominar o seu crescimento, regular a sua organização e conseguir a sua animação para o bem de todos?» (Octogesima Adveniens, 8-10).

3. E hoje, movidos pelo interesse humanitário, estais-vos esforçando por tomar parte em experiências úteis e por derramar luz em muitas questões incluídas neste vasto assunto do futuro urbano; estais esperando, além disso, fixara vossa atenção em políticas e em programas, e obter os meios que mais se adaptam aos vossos intentos.

A atenção que dedicais a este assunto está claramente justificada atendendo à sua importância. Quem poderá negar que o fenómeno da urbanização, e consequentemente do urbanismo em si mesmo, está intimamente ligado com o progresso do mundo de amanhã? Por causa do seu poder de efectuar alterações sociais, económicas e políticas, e de influir no homem, a urbanização deve ser contada entre os factores mais significativos deste século que afectam os interesses humanos. Permiti--me pois que expresse a convicção de que fazeis bem ao ponderar, do ponto de vista do bem-estar total do homem ponto de vista que respeita no homem uma escala de valores espirituais e materiais diferentes ramificações do fenómeno tais como a saúde, a educação, o emprego, a alimentação e o alojamento. Por seu lado, a Igreja Católica considera a questão sob um ponto de vista religioso, que não pode nunca esquecer, mas deve antes tomar em consideração todas as outras dimensões verdadeiramente humanas de uma questão que é eminentemente humana.

4. No citado documento, Paulo VI falou também explicitamente de muitos e variados males que derivam de um «crescimento desordenado» da cidade: «Por detrás das fachadas escondem-se muitas misérias...» outras estabelecem-se onde soçobra a dignidade do homem: delinquência, criminalidade, droga, erotismo, etc. São os mais fracos, efectivamente, que se tornam as vítimas das «condições de vida desumanizadoras, degradantes para as consciências e perniciosas para a instituição da família» (ibid., 10-11). Por causa deste conhecimento das consequências da urbanização desordenada, Paulo VI não pôde deixar de concluir: «É dever grave dos responsáveis procurar dominar e orientar este processar-se das coisas» (ibid., 11).

5. O desafio é verdadeiramente formidável, mas o talento do homem é grande. Mesmo as predições sobre o futuro, baseadas nos estudos sobre o passado, estão sujeitas à causalidade do homem e às suas intervenções concretas. Derivada deste princípio, temos uma confirmação da importância das discussões que vós intentastes na esperança de promover o verdadeiro bem do homem. Para aqueles de nós que são herdeiros da tradição judaico-cristã ou de outras, salientam-se também o grande elemento da providência de Deus sobre o mundo e a realidade da sua acção. O velho Salmista expressou isto dizendo: «Se o Senhor não edificar a cidade, em vão se afadigam os que a constroem» (Ps 127,1).

6. O bem do homem — visto na totalidade da sua natureza e na plena dignidade da sua pessoa — é verdadeiramente factor determinante para todas as intervenções humanas neste campo. Aqueles que servem o homem devem ser motivados por um amor e uma compaixão fraterna que efectivamente tomam em conta o homem na sua origem, na sua composição, nas leis que lhe governam a natureza, no incomparável papel que é o seu na época presente, como também na grandeza do seu destino. É este último factor que, longe de negar o valor do momento presente ou o do futuro, procura colocá-lo em plena e final perspectiva. A sacralidade da vida humana e a transmissão dela, a inviolabilidade dos direitos humanos, a importância de cada pessoa individual — tudo isto junto é a perspectiva a partir da qual cada intervenção no campo da população e do futuro das cidades é rectamente avaliada; estes são os critérios da sua utilidade e do seu bom resultado.

7. A sociedade existe hoje e existirá amanhã para o homem, para o progresso da sua dignidade pessoal. Um contributo, perante o testemunho da história, para uma verdadeira e genuína cidade do homem, é grande contributo e deve ser completado com o auxílio de Deus. É contributo digno de vós todos. E verdadeiramente esplêndida iniciativa e pesada responsabilidade que o vosso Congresso assume esforçando-se por promover o futuro humano na cidade de amanhã. Por meio dos vossos esforços e por meio da justa e iluminada contribuição de muitos outros homens e mulheres de boa vontade que entenderam o que está em jogo, seja esta cidade de amanhã cidade de dignidade humana e de serviço fraterno, cidade de justiça, de amor e de paz.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À COMISSÃO INTERNACIONAL


PARA O DIÁLOGO ENTRE A IGREJA CATÓLICA


E A COMUNHÃO ANGLICANA


4 de Setembro de 1980



Caros Irmãos em Cristo
Sois muitíssimo bem-vindos aqui

Saúdo-vos com honra, homens experientes, trabalhadores amadurecidos numa grande causa — essa unidade que pediu Cristo tão solenemente na véspera da Sua morte sacrificial.

Sabemos que esta causa está à responsabilidade de todos os que estão entregues a Cristo (cf. Unitatis Redintegratio UR 5). Pode ser servida de muitos modos; a maneira que vos foi designada pela Declaração comum de Paulo VI e do Arcebispo Michael Ramsey era a de um «sério diálogo teológico baseado na Sagrada Escritura e na antiga Tradição comum». Vedes o que as palavras autênticas deste programa estão a revelar. A unidade é dom de nosso Senhor e Salvador, o fundador da Igreja. Se bem que ela estivesse deteriorada pelo pecado dos homens, não estava inteiramente perdida. Temos um tesouro comum, que devemos descobrir de novo e cuja plenitude devemos possuir em comum, não deixando certas qualidades características e dons que foram nossos mesmo no nosso estado de divisão.

O vosso método tem sido voltar a examinar o hábito de pensamento e de expressão nascido e alimentado em inimizade e controvérsia, examinar minuciosa e conjuntamente o grande tesouro comum, revesti-lo de uma linguagem ao mesmo tempo tradicional e expressiva dos conhecimentos de uma época que já não exulta em lutas mas procura ir a par escutando a voz serena do espírito.

Não preciso de dizer-vos — vós podeis-mo dizer a mim — que a tarefa não é fácil. Não é tarefa para um homem isolado. Ao procurar afinidade, o homem deve primeiro imitar o Cristo pedindo-a na oração. Aplicastes-vos a ela e praticaste-la, orando juntos; e reflectistes também juntos, procurando nas liturgias e nos ofícios dos outros tudo o que é próprio do nosso estado ainda de divisão. Esta base foi colocada como suporte do vosso trabalho de estudo, reflexão e formulação desde o princípio, há 14 anos. Orastes e inúmeros outros oraram convosco e por vós.

Agora o vosso trabalho determinado vai chegando ao fim. Não há dúvida que regressais com amor e fraternidade a esses anos de trabalho. Alguns dos frutos deles são bem conhecidos, foram estudados por muitos outros e influíram em muitos. Está agora a aproximar-se o tempo de fazerdes um relatório final, que as respectivas autoridades eclesiásticas apreciarão.

Nisto está grande responsabilidade. O vosso trabalho será feito seriamente — examinado com todo o cuidado e simpática atenção que ele pede, Agradeço a Deus o que foi terminado, e agradeço-vos a vós que trabalhastes no Seu nome com o desejo de serdes dóceis ao seu espírito.

Como aquelas duas personalidades vos recomendaram e vós compreendestes profundamente, a unidade na fé permanece nas raízes e fertiliza a vida cristã, dado que pode haver grande variedade no crescimento. Em três grandes campos de doutrina vós procurastes o acordo nessas matérias em que a doutrina não admite diversidade. Este esforço merece apreciação entusiasta.

Mas vós mesmos reconheceis que muito fica por fazer. Compreender o mistério da Igreja de Cristo, o Sacramento da Salvação, na sua plenitude, é empresa duradoura. Muitos dos problemas práticos que ainda estão diante de nós (questões de ordem, de matrimónios mistos, de vida sacramental consagrada e de moralidade cristã) só podem levar-nos à solução na medida em que o nosso conhecimento desse mistério se aprofunda.

Mas aqui e agora devemos pensar com gratidão naquilo que fizestes. O vosso trabalho e os frutos dele são já em si mesmos manifestações e contribuição para esse «maior testemunho comum» de que Paulo VI falou em Evangelii Nuntiandi (n. 77) e é um instrumento que torna capazes todos os cristãos de sentirem de modo crescente a chamada do testemunho comum. E uma advertência de tal testemunho não ser matéria de sentimento, mas dever ser fruto de oração e de trabalho aturado, de honestidade e boa-vontade de falar verdade no amor.

Com alegria abençoo e agradeço a vós todos. Garanto-vos o meu interesse pelo vosso trabalho e o meu apoio àqueles que o devem continuar, e uno-me à vossa oração pedindo ao «Pai das luzes, no qual não há mudança nem sombra de variação» (Tgo. 1,17) derrame a Sua luz sobre nós quando procuramos infatigavelmente alcançar a perfeita unidade no Seu Filho Jesus Cristo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO INTERNACIONAL


SOBRE A TERCEIRA IDADE


Castel Gandolfo, 5 de Setembro de 1980



Veneráveis Irmãos
e caros amigos

1. Com grande prazer dou as boas vindas a todos vós que realizais o Forum Internacional de Castel Gandolfo sobre o Envelhecimento Activo. A vossa iniciativa é patrocinada, segundo me informaram, pela Obra Pia Internacional para o Envelhecimento Activo, em cooperação com o Fundo das Nações Unidas para as actividades da População, e contando com a perícia do Centro para o Desenvolvimento Social e para as Actividades Humanitárias, com a assistência de vários Bispos.

Todos vós desejais prestar homenagem à humanidade que envelhece, aos anciãos. O interesse da Igreja e o amor por esta categoria de pessoas convidam-na a tomar nota da vossa zelosa iniciativa. E hoje de boa vontade aproveito eu a ocasião para oferecer algumas considerações fragmentárias sobe uma matéria que vós estais procurando legitimamente estudar em profundidade.

2. Um maior reconhecimento, na sociedade, da existência de pessoas idosas e da condição de vida das mesmas é já um bem em si mesmo. Uma tomada de consciência da actual situação de milhões de seres humanos, nossos companheiros, imediatamente nos incita a vermos a necessidade de lhes promover o melhoramento; dá-nos conhecimentos sobre as intervenções que hão-de ser aplicadas e sobre os meios prontos para que muitas vidas possam tornar-se mais plenamente humanas.

3. Voltarmos a nossa atenção para os problemas da velhice significa tomarmos consciência de quanto os anciões fazem parte do plano de Deus sobre o mundo, tendo uma missão para desempenhar, uma contribuição para fornecer, problemas para serem resolvidos, e fardos que precisam de ser transportados. Uma concentração nas amplas dimensões das vidas das pessoas idosas ajuda-nos a descobrir superfícies em que pode ser feito verdadeiro progresso humano, e ajuda-nos a ver o que seria conveniente realçar para fazer progredir o estado actual do envelhecimento.

4. A Igreja Católica de boa vontade garante o seu auxílio aos esforços que incitam as próprias pessoas idosas a olharem com realismo e serenidade para o papel que Deus lhes designou: com a sabedoria e experiência das suas vidas entraram num período de graça extraordinária, com novas oportunidades para a oração e a união com Deus estando dotadas de novas forças espirituais com que servir os outros e realizar um fervoroso oferecimento das suas vidas ao Senhor e Dador da vida. Os esforços, além disso que visam alimentar e garantir programas em benefício da velhice são merecedores do mais alto aplauso. O ensinamento de Cristo é claro: o que é feito pelos Seus irmãos é feito por Ele (cf. Mt Mt 25,40), e o valor disso avalia-se a esta luz.

Ajudar a mobilizar forças para alívio do envelhecimento é outro objectivo merecedor de ser posto em prática: apoiar as iniciativas que levarão as forças da ciência a aliviar os sofrimentos dos mais idosos; defender o direito deles à vida e à plenitude dela tudo isto é parte do horizonte que se abre aos homens e às mulheres dos nossos dias.

5. Proclamar a missão dos anciãos e portanto fomentar o especial papel deles na família humana, é tarefa de grande importância. Entende-se que os anciãos são parte da cena social; a verdadeira existência deles dá conhecimento da criação realizada por Deus e da vida da sociedade. A vida dos anciãos ajuda a clarificar uma escala de valores humanos; mostra a continuidade de gerações e prova maravilhosamente a interdependência do povo de Deus. A ancianidade muitas vezes teve o carisma de lançar uma ponte entre hiatos de gerações antes de eles estarem consumados: quantas crianças encontraram compreensão e amor nos olhos, nas palavras e nas carícias das pessoas idosas! E quanta gente idosa subscreveu de boa vontade a frase inspirada que diz: «Os filhos dos filhos são a coroa dos velhos»! (Pr 17,6).

Realçar os recursos que pertencem à velhice é sensibilizar os próprios anciãos e pôr em relevo a riqueza inerente à sociedade - riqueza que a própria sociedade não aprecia. A idade avançada é capaz de enriquecer o mundo por meio da oração e do conselho; a sua imensa capacidade de evangelização pela palavra e pelo exemplo, e por actividades eminentemente adaptadas aos talentos dessa idade, é uma força para a Igreja de Deus ainda por conhecer minuciosamente ou utilizar quanto possível. Uma descrição dos factores positivos do envelhecimento poderia ser finalmente ampliada.

6. A vossa digna meta de ver um «activo envelhecimento» é partilhada por homens e mulheres através do mundo inteiro. O interesse gera o interesse. Actividades criativas, por e com anciãos e por meio deles, produzirão frutuosos resultados para uma sociedade mais humana e para uma renovada civilização, que favorecerá maior fraternidade de amor e comunhão de esperança e de paz.

É meu ardente desejo que a vossa iniciativa e outras semelhantes venham a apresentar no mundo mais fundado interesse pelos anciãos em toda a parte. Antecipadamente saúdo com entusiasmo e com sentimentos de particular esperança a Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Ancião em programa para 1982, que o presente Forum antevê desde já com prazer e se esforça por ajudar a sua presente deliberação.

No contexto da fé católica, os meus pensamentos dirigem-se para todos os anciãos da Igreja que dão exemplo com serenidade e alegria, de sincera vida cristã, manifestando ao mesmo tempo apreço pelo mistério da morte humana que deve aceitar-se realisticamente, mas transformado até ao íntimo pelo Mistério Pascal do Senhor Jesus. Os meus pensamentos vão para todos os que se vêem curvados sob o peso da doença ou da incapacidade, para aqueles que suportam o fardo da solidão, da marginalização ou do temor. Na oração e com fraternal amor confio-os todos ao Coração de Jesus, fonte de toda a consolação, ao Coração de Jesus, nossa Vida e Ressurreição. E peço a Deus, por intercessão da nossa Bem-aventurada Mãe Maria, que vos ampare nos vossos esforços, e vos abençoe como a todos quantos amam e ajudam os anciãos.



PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS FIÉIS DE VARESE E FAENZA


POR OCASIÃO DA RECITAÇÃO DO ROSÁRIO


Castel Gandolfo, 6 de Setembro de 1980



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

Nesta alegre ocasião, que nos reuniu em devota oração a Deus e à Virgem Santíssima, desejo manifestar-vos o meu sincero agradecimento pela vossa participação e, além disso, dirigir-vos uma palavra de saudação e bons votos.

A vós, jovens e rapazes da Paróquia de S. Vitor Mártir de Varese, que viestes em pereginação a Roma, centro da catolicidade, para comemorar o octogésimo aniversário da fundação do vosso Oratório, exprimo o meu vivo apreço e o paterno auspício para que continueis, com sempre renovado empenho e fervor, a fazer maturar e crescer em vós o grande dom da fé cristã, mediante a contínua meditação da Palavra de Deus e do ensino da Igreja, e igualmente mediante a frequência assídua aos Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia.

A minha saudação dirige-se também a vós, fiéis da Diocese de Faenza, peregrinos à Terra Santa, e a vós, jovens e famílias da Paróquia de Santo Antonino da mesma Diocese. O vosso testemunho de vida cristã seja sempre sereno e límpido, baseado no conhecimento e no amor de Jesus Cristo.

A Virgem Santíssima, que esta noite nos reuniu no vínculo espiritual do seu Rosário, vos proteja e dirija os vossos passos no caminho do bem!

Com a minha Bênção Apostólica.



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE À VELLETRI (ITÁLIA)

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES CIVIS

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Velletri, 7 de Setembro de 1980



Desejo, Senhor Presidente da Câmara, manifestar o meu sincero apreço pelas amáveis expressões com que desejou apresentar-me uma cordial saudação, interpretando os devotos sentimentos da cidade inteira que representa.

A Vossa Excelência e Colaboradores na Vereação da Câmara, às personalidades civis e religiosas e a todos os que estão aqui presentes, o meu afectuoso agradecimento por este exultante acolhimento, no qual me apraz ver uma prova da tradicional hospitalidade das gentes do Lácio.

Vim para vos dizer quanto me sois queridos, e como admiro e estimo a vossa antiquíssima cidade, que, várias vezes na sua história, se tornou epicentro de invasões e de sangrentos recontros no seu território; sei bem ainda que, no último conflito mundial, ela foi gravemente mutilada. Hoje, animosamente por vós reconstruída e aumentada, envolvida, por estas sugestivas colinas floridas, na confluência de grandes estradas, Velletri mostra ser um dos mais vitais centros da Região.

A minha maior consolação está em saber como foi e é fervorosa e operante a vossa fé cristã. Do que são eloquente prova a bela Catedral, as muitas igrejas e as sagradas instituições surgidas com o generoso concurso dos vossos pais, por vós emulados não só em dar vida a outras actividades benéficas ao serviço dos vossos irmãos menos favorecidos, mas ainda em participar com edificante fervor nas várias manifestações de culto e particularmente na vida sacramental. A minha visita tem por objectivo animar esse vosso testemunho a Cristo Redentor, formando dique, com a rectidão do vosso pensamento e com os comportamentos inspirados nas leis do Evangelho, contra as correntes de ideias e os costumes, infelizmente . não conformes à mensagem de Cristo e aos ensinamentos da Igreja.

Exorto-vos com sinceridade a não serdes nunca infiéis a este precioso património de fé e sensibilidade religiosa da vossa cidade. Ela muito brilha na história da Igreja pelo eficaz contributo dado pelas numerosas personalidades insignes que, outrora pastores desta Diocese, vieram a ser sucessores de Pedro na sua Cátedra e tiveram nos seus filhos espirituais os mais estrénuos defensores da Sé Apostólica.

Outro título distingue a vossa cidade: a piedade mariana. Com a Mãe de Deus, venerada sob o título de "Santa Maria das Graças", os vossos antepassados estabeleceram um pacto de devoção e fidelidade, por vós lealmente continuado. Este meu encontro quer pois ser, ao vosso lado, renovação do tributo de fidelidade àquele pacto de amor. A fé vem-nos ao encontro ao fazer-nos admirar na Rainha de Misericórdia aquela que não só nos obtém, com a sua poderosa intercessão, as graças necessárias para conseguir a salvação eterna, mas também a terna e solícita Mãe que "...não apenas socorre — a quem pede, mas muitas vezes — livremente se adianta ao pedir" (Dante, Par.XXXIII, 16-18).

Nós invocaremos juntos a celestial Padroeira, que esteve sempre ao vosso lado nos momentos mais difíceis da vossa história e certamente não deixará de o estar se, às vossas legítimas perspectivas de expansão e progresso cultural e industrial, se juntar a obra de restauração moral, imprescindível condição para a constante e pacífica convivência. Desça sobre vós todos, confortadora de generosos propósitos, a minha Bênção Apostólica.



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE À VELLETRI (ITÁLIA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NO ENCONTRO COM OS JOVENS


Praça São Clemente

Velletri, 7 de Setembro de 1980



Caríssimos jovens


Discursos João Paulo II 1980 - Sábado, 30 de Agosto de 1980