Discursos João Paulo II 1980 - AOS PEREGRINOS ITALIANOS DO MOVIMENTO NACIONAL «RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO» 23 de Novembro de 1980

AOS PEREGRINOS ITALIANOS DO MOVIMENTO NACIONAL «RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO» 23 de Novembro de 1980



Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Obrigado, antes de tudo, por esta alegre visita e, em particular, pelas orações que dirigistes ao Senhor por mim e pelas responsabilidades do meu serviço pastoral. Dir-vos-ei com São Paulo que muito vos desejava «ver, para vos comunicar alguma graça espiritual, a fim de vos fortalecer, ou antes para me reconfortar no meio de vós pela fé que nos é comum a vós e a mim» (Rm 1,11-12).

Esta manhã tenho a alegria de encontrar-me com esta vossa Assembleia, em que vejo jovens, adultos, anciãos, homens e senhoras, todos solidários na profissão da mesma fé, animados pelo hábito de uma mesma esperança, unidos pelos vínculos dessa caridade que «foi derramada em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi concedida» (Rm 5,5). A esta «efusão do Espírito»sabemos nós ser devedores de uma experiência cada vez mais profunda da presença de Cristo, graças à qual podemos cada dia crescer no conhecimento amoroso do Pai. Com razão, portanto, presta o vosso Movimento particular atenção à actividade, misteriosa mas real, que a terceira Pessoa da Santíssima Trindade desenvolve na vida do cristão.

2. As palavras de Jesus no Evangelho são explícitas: «Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para estar convosco para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem conhece, mas que vós conheceis porque habita convosco e está em vós».(Jn 14,16-17).

Antes de subir ao céu, Jesus renova aos apóstolos a promessa de que serão baptizados «no Espírito Santo» (Ac 1,5) e, cheios do Seu poder (cf. Act Ac 2,2), darão d'Ele testemunho em todo o mundo, falando «outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes inspirará que se exprimam (cf. » Ac 2,4). No Livro dos Actos o Espírito é apresentado activo e operante naqueles de quem se narram as gestas, sejam eles os guias da comunidade (cf. Ac 2,22-36 Ac 4,5-22 Ac 5,31 Ac 9,17 Ac 15, 28, etc. )ou simples fiéis (cf. Act Ac 4,31-37 Ac 10,45-47 Ac 13, 50-52, etc. ).

Não causa maravilha que os cristãos de então haurissem em tais experiências a íntima convicção de que «se alguém não tem o Espírito de Cristo, não Lhe pertence» (Rm 8,9); e se sentissem por isso empenhados em «não extinguir o Espírito»(1Th 5,19), a «não entristecê-l'O» (Ep 4,30), mas a «deixarem-se guiar» por Ele (Ga 5,18), animados com a esperança de que «quem semeia no espírito, colherá a vida eterna»(Ga 6,8).

Com efeito, Cristo confiou ao Espírito a missão de levar a termo a «nova criação», a que Ele mesmo deu início com a ressurreição. Do Espírito, portanto, deve esperar-se a progressiva regeneração do cosmos e da humanidade, entre o «já» da Páscoa e o «ainda não» da Parusia.

É importante que também nós, cristãos colocados pela Providência a viver nos anos de encerramento deste segundo milénio, reavivemos a íntima consciência dos caminhos misteriosos através dos quais Ele vai atingindo o Seu desígnio de salvação. Deus comunicou-se irrevogavelmente em Cristo. E todavia por meio do Espírito que o Ressuscitado vive e opera permanentemente no meio de nós e pode tornar-se presente em todo o «aqui» e «agora» da experiência humana na história.

Com alegria profunda e comovida gratidão renovamos, portanto, o nosso acto de fé em Cristo redentor, sabendo bem que «ninguém pode dizer 'Jesus é o Senhor' senão por influência do Espírito Santo» (Cor. 12, 3). E Ele que, na unidade da vocação cristã e na multiplicidade dos carismas, nos reúne num só corpo. É Ele que opera a santificação e a unidade da Igreja (cf. Pontificial Romano, Rito da Confirmação, nn. 25.47).

3. O Concílio Vaticano II reservou particular atenção à multiforme actividade do Espírito na história da salvação: sublinhou a «admirável providência» com que Ele impeliu a sociedade a evoluir para as metas cada vez mais avançadas de justiça, amor e liberdade (cf. Const. past. Gaudium et Spes GS 26); ilustrou a Sua presença operante na Igreja, que é por Ele solicitada a realizar o plano divino (cf. Const. dogm. Lumen Gentium LG 17) mediante uma compreensão cada vez mais pro-funda da revelação (cf. Const. dogm. Dei Verbum DV 5,8), conservada íntegra no decorrer do tempo (cf. Lumen Gentium LG 25 Dei Verbum DV 10) e graças a um empenho sempre renovado de santificação (cf. Lumen Gentium LG 4 LG 40 etc. ) e de comunhão na caridade (cf. Lumen Gentium LG 13 Decr. Unitatis Red LG 2,4); e insistiu, enfim em que a Sua acção em cada fiel, estimula a um corajoso testemunho apostólico (cf. Decr. Apost. Actuos., 3), fortificando-os por meio dos sacramentos e enriquecendo-os de «graças especiais, com que os torna aptos e prontos a assumir várias obras e encargos, úteis para a renovação e a maior expansão da Igreja» (Lumen Gentium LG 12).

Que amplas perspectivas, Filhos caríssimos, se abrem diante dos nossos olhos! Certamente, não faltam os riscos, porque a acção do espírito desenvolve-se «em vasos de barro» (cf. 2Co 4,7), que lhe podem comprimir a livre expansão. Conheceis quais eles são: excessiva importância dada, por exemplo, à experiência emocional do Divino; busca desmedida do «espectacular» e do «extraordinário»; indulgência a interpretações apressadas e contorcidas da Escritura; contracção de cada um sobre si mesmo fugindo do compromisso apostólico; complacência narcisista que se isola e fecha... estes e outros são os riscos que se apresentam no vosso caminho, e não no vosso unicamente. Dir-vos-ei com São Paulo: «Examinai tudo e retende o que for bom» (1Th 5,21). Isto é, permanecei em atitude de constante e grata disponibilidade para com todos os dons, que o Espírito deseja derramar nos vossos corações, não esquecendo nunca, todavia, que não há carisma que não seja dado «para a utilidade comum» (1Co 12,7). Aspirai, em todo caso, aos melhores dons (ibid., v. 31). E vós sabeis, a este propósito, qual é o «caminho melhor de todos» (ibid.): numa página estupenda, São Paulo indica esse caminho na caridade, que é a única virtude que dá sentido e valor aos outros dons (cf. 1Co 13).

Animados pela caridade, vós não só vos poreis a escutar, espontânea e docilmente, aqueles que «o Espírito Santo colocou como Bispos a apascentar a Igreja de Deus» (cf. Act. Ac 20,28), mas sentireis também a necessidade de abrir-vos a uma compreensão cada vez mais atenta dos outros irmãos, com o desejo de chegardes a ter com eles verdadeiramente «um coração só e uma alma só» (Ac 4,32). Daqui virá a autêntica renovação da Igreja, que desejou o Concílio Vaticano II e vós procurais favorecer com a oração, o testemunho e o serviço. A «renovação no Espírito», com efeito, recordei na Exortação apostólica Catechesi tradendae, «terá grande fecundidade na Igreja, não tanto na medida em que suscitar carismas extraordinários, quanto de preferência na medida em que levar o maior número possível de fiéis, seguindo os caminhos da vida quotidiana, ao esforço humilde, paciente e perserverante para conhecerem cada vez melhor o mistério de Cristo e para o testemunharem» (n. 72).

Ao invocar sobre vós e sobre o vosso empenho a amorosa e assídua protecção d'Aquela que «por obra do Espírito Santo» concebeu no seu seio e deu à luz o Filho de Deus encarnado (cf. Lc. Lc 1,35), concedo-vos de coração a minha Benção Apostólica, que de boa vontade torno extensiva a todos os que fazem parte do Movimento e a todas as pessoas que vos são queridas no Senhor.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO XI CONGRESSO EUCARÍSTICO DO CHILE


23 de Novembro de 1980



Senhor Cardeal Enviado Especial,
Veneráveis Irmãos no Episcopado,
Amadíssimos filhos e filhas

Encerra-se hoje, sob o abrigo desse Santuário Mariano de Maipú, que tanto fala ao coração de todos os chilenos, o XI Congresso Eucarístico Nacional do Chile. O Episcopado deu-lhe um lema que me é muito querido e que encerra um vibrante convite a um empenhado programa de vida: Não temam, abram as portas a Cristo.

Nesta solene circunstância estou especialmente junto de vós, unindo a minha homenagem à vossa, para juntos adorarmos a Cristo, que no sacramento da Eucaristia nos deixou o pão da vida eterna (cf. Jo Jn 6,48 ss), o pão da fraternidade (cf. 1Co 10,16 s.), o alimento para os viandantes rumo à pátria final (cf. Sequência da Missa do Corpo de Deus).

Sei que nos meses passados o Congresso se realizou em cada diocese mediante um plano pastoral de evangelização e catequese, que terminou com uma solene Eucaristia. Hoje coroamos essa vivência eclesial nas diversas comunidades locais com esta celebração final em torno do sacramento do Amor, unidos em estreita fraternidade com todos os irmãos vindos das diferentes partes do País e com muitos outros que vivem este dia, associados espiritualmente aos actos de encerramento do Congresso.

É-me grato reiterar-vos hoje aquele convite cujos ecos chegam ainda até mim desde o limiar do meu Pontificado — a deixardes todo o temor e a abrirdes totalmente as portas a Cristo. Isto queria ser uma chamada de atenção, um apelo, um grito de esperança, para que os cristãos, as pessoas de boa vontade, as sociedades e os sistemas se abrissem à aceitação e ao respeito desses valores genuinamente humanos e que encontram a sua expressão mais alta nos planos divinos. Por isso, muito oportunamente tal convite tornou-se princípio inspirador deste Congresso que tem por centro a Eucaristia, manifestação suma do Amor, "sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade" (S.C., 47).

Com efeito, quando o Senhor nos convida a participar no banquete (cf. Lc Lc 14,15 ss.) — apelo a todos sem distinção — desaparece toda a diferença de raça ou classe social, e a participação de todos é idêntica, porque significa e exige a supressão de tudo o que divide os homens, e facilita o encontro de todos a um nível mais alto, onde toda a oposição ou diferença deve ser superada, onde se vencem obstáculos e se estabelecem novas relações interpessoais e intercamunitárias. Isto deve levar à satisfação das exigências da justiça, precisamente mediante o estabelecimento dessas novas relações, que a caridade originada na Eucaristia cria no interior da mesma comunidade.

Efectivamente, a força vital da Igreja e a de cada cristão, homem ou mulher, alcança a sua plenitude precisamente na Eucaristia (cf. Redemptor Hominis RH 20). Por isso a comunidade cristã não se edifica nem consolida se não tem a sua raiz e o seu centro na celebração da Eucaristia (cf. P.O., 6).

Por outro lado, se o culto eucarístico é vivido verdadeiramente, cada comunidade, cada cristão em particular, experimentará que aumenta a sua consciência da dignidade de todo o homem, a qual se converterá em motivo de uma adequada relação com o próximo, a nível pessoal e institucional.

A Eucaristia é também sacramento de unidade, dado que "nós, que somos muitos, constituímos um só corpo em Cristo, sendo individualmente membros uns dos outros" (Rm 12,5). Vós, católicos do Chile, congregastes-vos nesse Santuário, para dar testemunho de tal unidade, participando do mesmo Corpo e Sangue de Cristo, que constróem a Igreja como autêntica comunidade do Povo de Deus. Partindo dessa unidade profunda que significa e realiza a Eucaristia, é possível chamarmo-nos uns aos outros irmãos. Que profundas consequências derivam daqui para a nossa vida individual e social!

A Eucaristia é por isso vínculo de caridade que fortalece a vida cristã no cumprimento do amor a Deus e ao próximo, um amor que encontra a sua fonte no Amor por excelência. De facto, cada vez que participamos na Eucaristia de maneira consciente, "abre-se na nossa alma uma dimensão real daquele amor imperscrutável que em si contém tudo aquilo que Deus fez para nós homens, e que continuamente faz" (Carta a todos os Bispos da Igreja sobre o mistério e o culto da Eucaristia, 5). Como consequência, para que a celebração da Eucaristia seja sincera e completa, deve orientar cada cristão para a eficaz ajuda aos irmãos, assim como para as diversas formas de verdadeiro testemunho cristão. Só assim poderá dizer-se que o contacto com Cristo o leva a uma abertura a Ele e, por Ele, a todos os outros, ao homem imagem de Deus.

O encerramento deste Congresso Eucarístico Nacional na solenidade de Cristo Rei é um convite a abrirdes de par em par o vosso coração e a vossa sociedade actual a Cristo, para que, num clima de constante respeito, individual e social, aos valores religiosos e humanos de cada pessoa, Ele estabeleça o seu "reino eterno e universal: reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz" (Prefácio da solenidade de Cristo Rei).

Finalmente, elevo a minha oração por que a fé cristã, alimentada na Eucaristia, inspire o comportamento particular e público na vossa sociedade, de modo que o Chile possa ir construindo o seu futuro num clima verdadeiramente cristão de concórdia, de justiça, e de respeito dos direitos de cada um. Invocando a protecção maternal de Nossa Senhora de Maipú, dou-vos com afecto a minha Bênção: No nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Assim seja.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO INSTITUTO SECULAR


DE CRISTO REI


Segunda-feira, 24 de Novembro de 1980



Caríssimos Irmãos!

1. É para mim grande alegria poder-me encontrar convosco, que vos reunistes estes dias em Roma para renovardes juntos a vossa profissão de fé cristã ao pé dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo e para celebrardes, com intensa espiritualidade, a profissão perpétua, a emissão de votos e a admissão de novos candidatos ao aspirantado do vosso Instituto Secular.

Este conjunto de circunstâncias é para mim testemunho quer da coerência constante do vosso benemérito Instituto com as suas finalidades originais, quer do seu contínuo e fecundo crescimento interior, quer do seu generoso compromisso pela vinda do Reino de Deus, ao qual todos vós, nas várias e multíplices qualificações profissionais de operários, artesãos, empregados, professores e dirigentes industriais, vos dedicastes de forma, muito especial diante de Deus e da Igreja.

Sede pois bem-vindos a casa do Papa, que vos acolhe com afecto e vos dirige a sua cordial saudação. O meu deferente pensamento vai para o Professor Giuseppe Lazzati, Reitor Magnífico da Universidade Católica de Milão, volta do qual no distante ano de 1938 se reuniu um grupo de leigos com a profunda consciência e o desejo ardente de oferecerem ao mundo contemporâneo, como leigos que vivem no mundo, um testemunho significativo da mensagem evangélica, vivida em toda a sua novidade e radicalidade.

O vosso Instituto Secular encontrou-em seguida nas directrizes e nas perspectivas teológicas e pastorais do Concílio Vaticano II novos caminhos e novo impulso para irradiar no mundo, numa união mais íntima com Deus, a luz da verdade e o calor da caridade.

Como afirmou o mencionado Concílio os Institutos Seculares comportam uma verdadeira e completa profissão dos conselhos evangélicos no mundo, reconhecida pela Igreja; e, ao falar da vossa forma especial de vida consagrada, acentuou-lhe claramente o carácter de apostolado, que se desenvolve no meio do mundo e, por assim dizer, a partir do mundo, ou seja para o qual os Institutos Seculares nasceram na Igreja. Todavia, saibam bem — assim continua o texto conciliar — que não podem executar tão alto ministério desde que os membros não sejam cuidadosamente instruídos nas coisas divinas e humanas, a ponto de serem, no mundo, verdadeiro fermento que fortifique e de incremento ao Corpo de Cristo" (Decr. Perfectae Caritatis PC 11).

2. Com total dedicação quereis, por meio das obras de apostolado e da vossa experiência pessoal e profissional no âmbito da sociedade civil, dar o vosso contributo activo, concreto e generoso para a "consecratio mundi", à qual todos os leigos, pela sua participação na missão sacerdotal de Cristo, são chamados e destinados em virtude do Baptismo e da Confirmação (cf. Const. dogm. Lumen Gentium LG 34). O "seguimento de Cristo" é exigência fundamental para todo o cristão; é-o, de forma especial, para vós, que quisestes dar ao vosso Instituto Secular o nome de "Cristo Rei". Sim! É Cristo o vosso Mestre! É Cristo o vosso Caminho! É Cristo a vossa Vida! Mas a sua "realeza" é completamente diferente da realeza do poder mundano; ela manifesta-se e triunfa solenemente sobre a cruz e da cruz; é uma realeza de humildade, de pobreza, de ocultação, de disponibilidade, de doação, de sacrifício até morte. E a sua coroa real é tecida de espinhos pungentes e dolorosos!

É este o Cristo "Rei", que vós vos comprometestes a seguir mediante a profissão dos conselhos evangélicos, os quais não empobrecem o homem mas, pelo contrário, o enriquecem incomparavelmente, porque o tornam capaz de acolher em plenitude o dom de Deus.

Faço pois votos por que a oração contínua e o aprofundamento pessoal e comunitário da Palavra de Deus alimentem e nutram a vossa fé, para a fazer penetrar no mais íntimo do vosso ser e para infundir a sua força em todas os momentos da vossa vida, consagrada ao testemunho aberto e límpido a Cristo e à Igreja, e da mesma forma ao compromisso de ordenar a realidade temporal segundo o desígnio de Deus.

Com as mesmas palavras, que vos dirigiu em Abril de 1968 o meu grande Predecessor Paulo VI, que tanto amou e estimou o vosso Instituto Secular, desejo encorajar-vos a "levardes até às extremas consequências lógicas este compromisso de vida, que é sinal exterior de bondade, de delicadeza, de amizade, de apostolado através da cultura e do prestígio pessoal, e se alimenta no interior das linfas vivificantes da piedade bíblica, eucarística e litúrgica" (Ensinamentos de Paulo VI, VI, 1968; p. 170).

Assisto-vos e assistir-vos-ei com a minha oração por todos vós, para que a Igreja possa sempre ver-vos com total confiança. Com estes votos, concedo-vos de coração a propiciadora Bênção Apostólica.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PATRIARCA DIMÍTRIOS I


ARCEBISPO DE CONSTANTINOPLA


NA CELEBRAÇÃO DA FESTA DE SANTO ANDRÉ




A Sua Santidade DIMÍTRIOS I
Arcebispo de Constantinopla e Patriarca ecuménico

No ano passado, festejámos juntos Santo André, o Apóstolo chamado em primeiro lugar e irmão de Pedro. A oração esteve no centro desse encontro caloroso e fraterno. O tempo, desde então passado, não enfraqueceu os sentimentos nessa altura experimentados nem a lembrança de tal acontecimento; muito ao contrário, aprofundou-os e reavivou-os. Este ano, a celebração do Santo Patrono da vossa Igreja dá-me de novo ocasião para vos enviar uma Delegação, presidida pelo nosso caro irmão, o Cardeal Willebrands; ele transmitirá a Vossa Santidade, ao seu Santo Sínodo, ao clero e a todo o povo fiel, a minha saudação afectuosa e a da Igreja de Roma: "A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco!" (2Co 13,13).

É com alegria e esperança cada ano renovadas que celebramos as festas dos dois irmãos, os santos Apóstolos Pedro e André. Estou convencido, com efeito, de que esta união na prece ajudará as nossas Igrejas irmãs a apressarem o dia em que a plena comunhão seja restabelecida entre elas. A alegria desta celebração comum é como que a anticipação da que nós sentiremos então, quando pudermos testemunhar juntos a nossa fidelidade ao Senhor e, fazendo-o, dar ao mundo exemplo de verdadeira reconciliação e contribuição para a paz entre os homens.

O diálogo teológico, que a comissão mista entre as Igrejas católica e ortodoxa começou este ano na ilha de Patmos, tão rica em memórias apostólicas e em sugestões proféticas, é acontecimento da mais alta importância para as relações entre as nossas Igrejas. A atmosfera de calorosa caridade fraterna, característica deste encontro, assim como o compromisso tomado diante do Senhor de trabalharmos para o restabelecimento da unidade, permitem-nos entrever que terão realizados progressos substanciais. As antigas divergências, que tinham levado as Igrejas do Oriente e do Ocidente a deixarem de celebrar juntas a Eucaristia, vão-se encarar de maneira nova e construtiva, como testemunham não só o tema escolhido para a primeira fase do diálogo mas também as suas perspectivas gerais.

A nossa oração acompanhará o diálogo teológico para que ele seja cada vez mais profundamente enraizado na verdade, prosseguida na sinceridade e numa fidelidade recíproca sem sombras, animado pelo Espírito de Deus e portanto fecundo para a vida da Igreja. Com esta finalidade solicitei a oração de todos os fiéis católicos e, para nos permitir crescermos juntos em Cristo, fiz votos por que, onde eles vivem lado a lado, católicos e ortodoxos cultivem relações fraternas e uma colaboração desinteressada que preparem progressivamente a rearticulação da nossa unidade.

Caríssimo Irmão, aqui ficam alguns dos pensamentos, algumas das esperanças e alguns dos sentimentos que enchem o meu coração e eu me empenhei em vos exprimir nestas linhas. Permitem manifestar-vos de novo, com a minha firme vontade de fidelidade a todas as exigências do Senhor, a minha profundíssima e fraternal caridade.

Do Vaticano, 24 de Novembro de 1980.

JOÃO PAULO PP. II



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

POR OCASIÃO DA VISITA ÀS VÍTIMAS

DO TERREMOTO EM BALVANO (ITÁLIA)


Terça-feira, 25 de Novembro de 1980



Seja louvado Jesus Cristo!

Meus caríssimos irmãos e irmãs, não vim aqui por curiosidade, mas como vosso irmão e vosso pastor; vim por um motivo de solidariedade humana, por um motivo de compaixão, de caridade. Estais rodeados desta compaixão da parte de todos, de todos os vossos compatriotas, e de todos os cristãos. Quero que a minha passagem na vossa terra, Balvano, seja um sinal desta solidariedade humana e desta caridade cristã. O que digo para a vossa terra, digo-o também para as terras vizinhas, como aquela cujo nome não posso repetir neste momento: mas há ainda certamente muitas outras cujo nome não poderia repetir imediatamente. Sabei que venho para todos.

Houve quem me dissesse: "Mas esta gente já não pode rezar". A minha resposta é esta: "Vós, caríssimos, rezais com o vosso sofrimento". E espero, estou convencido que vós rezais mais do que muitos outros que rezam, porque levais diante do Senhor este enormíssimo sofrimento, estas vossas vitimas, de modo especial as vítimas representadas pelos jovens e pelas crianças que morreram na igreja. Vejo como sofre o vosso pároco: encontrei-o há pouco. Eis tudo o que posso dizer-vos neste momento. Vim para vos dizer que estou junto de vós. Cristo disse ao Apóstolo Pedro: "Confirma os teus irmãos".

Não posso confirmar-vos com as minhas forças humanas, com as minhas possibilidades humanas, mas posso confirmar-vos no sentido de que podemos juntos encontrar a força de Jesus, em Jesus, na nossa fé e na nossa esperança, na sua caridade que é maior do que todos os sofrimentos e também do que a morte, porque também com a morte esta sua caridade nos abre a perspectiva da vida.

Vede, a perspectiva da vida que nos abre Cristo sofredor na Cruz e Jesus ressuscitado é a que se deve abrir diante de vós todos que sofrestes a morte de tantos vossos entes queridos, dos vossos filhos, ou talvez dos vossos anciãos, que passastes através de uma cruz tão dolorosa. Não quereria, caríssimos, falar mais, multiplicar as palavras. Trago-vos sobretudo o testemunho vivo da minha presença, da minha compaixão, do meu coração e de uma lembrança especial que desejo conservar desta terra, de todas as terras vizinhas, de todos os que sofrem, de toda esta zona, do ambiente tão provado, da vossa Pátria provada nestas regiões, de todos vós como cristãos e como irmãos. Ofereço-vos, ao final destas palavras, a minha bênção: bênção do vosso Papa, sucessor de Pedro, e bênção do vosso irmão no sofrimento.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE A VISITA ÀS VÍTIMAS DO TERREMOTO


NO HOSPITAL DE POTENZA (ITÁLIA)


Terça-feira, 25 de Novembro de 1980



Quero agradecer as palavras com que fui introduzido neste momento. Senti um dever, um impulso do coração, da consciência, de vir aqui, de estar, pelo menos parcialmente, mais perto de vós sofredores, de vós que sofrestes e de vós que sofreis.

Esta necessidade interior é certamente causada por uma compaixão, não por uma sensação. Por uma compaixão humana e cristã. Vós, terremotados, feridos, vítimas, sem casa — e convosco os vossos defuntos — estais certamente circundados por uma compaixão humana e cristã da parte de todos os vossos compatriotas, de toda a Itália, e estais especialmente circundados pela compaixão da Igreja. E eu venho, caríssimos irmãos e irmãs, para vos mostrar o significado desta proximidade; para vos dizer que estamos junto de vós para vos dar um sinal daquela esperança, que para o homem devem ser o outro homem. Para o homem que sofre, o homem são; para um ferido, um médico, um assistente, um enfermeiro; para um cristão, um sacerdote. Assim um homem para outro homem. E quando sofrem tantos homens são precisos tantos homens, muitos homens, para estarem ao lado daqueles que sofrem.

Eu diria, continuando as palavras do vosso pastor, do vosso bispo: Não posso trazer-vos nada mais; nada mais do que esta presença; mas com esta presença, com esta visita, relativamente breve e parcial, exprime-se tudo. E peço-vos recebais com esta visita parcial uma atitude total, uma resposta total ao vosso sofrimento.

Disse que quando homens sofrem, quando sofre um homem, é necessário outro homem ao lado do que sofre. Perto dele. Porque assim se realiza o que, acentuou o vosso bispo. Realiza-se a presença de Cristo em ambos: no homem que sofre e no homem que está junto dele, que o assiste. E, com a presença de Cristo, o mundo também estigmatizado pela cruz traz em si a esperança da ressurreição. Um mundo estigmatizado pela morte — são tantos os mortos aqui, fala-se já de 3.000 mortes — traz em si a esperança da vida. Um mundo estigmatizado pelas ruínas traz em si a esperança da nova vida, da reconstrução, porque a vida e a caridade não podem ficar indiferentes perante a destruição. Procuram reconstruir, procuram refazer, dar de novo ao ambiente humano um carácter humano, uma dimensão humana. São estes os sentimentos, as expressões que me vêm do coração. E, como vedes, vêm-me com dificuldade, porque a comoção é maior do que a possibilidade de falar e de formular bem as ideias.

Quero falar-vos apenas com a minha presença, e com este serviço da presença. Algumas vezes resta-nos sobretudo ou unicamente esta forma de prestar o nosso serviço, o nosso ministério humano, cristão a presença. Sim, há também a minha bênção. Quereria abençoar todos os presentes, especialmente todos os que sofrem, os que estão internados, e também todos os professores, os médicos, os enfermeiros, as enfermeiras, e todos aqueles que assistem os doentes e os que sofrem, e aqueles que trabalham ainda nas terras vítimas do terremoto à procura das pessoas que ainda se encontram debaixo das ruínas.

A todos quero abençoar de coração com as palavras e com a graça que a bênção do sucessor de Pedro nos traz.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR EUGÈNE RITTWEGER


NOVO EMBAIXADOR DA BÉLGICA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 27 de Novembro de 1980



Senhor Embaixador

Vossa Excelência acaba de me exprimir os sentimentos elevados que o inspiram no limiar da sua missão de Embaixador extraordinário e plenipotenciário de Sua Majestade o Rei dos Belgas junto da Santa Sé. Agradeço-lhos vivamente, assim como a Suas Majestades o Rei Balduíno e a Rainha Fabíola, de quem me apresentou os bons votos. Terá a gentileza, Senhor Embaixador, de os certificar dos meus sentimentos respeitosos e cordiais.

A sua missão junto da Santa Sé será guiada pelos princípios que recordou, esse amor da paz e da justiça que orienta a acção internacional do seu país. Vale acaso a pena garantir-lhe que encontrará aqui sempre compreensão e apoio? Hoje estão os homens cada vez mais conscientes de o primado da acção pela paz não constituir desejo platónico e de certo modo ritual, mas de tratar-se de exigência imposta à humanidade pela tomada de consciência dos perigos que a ameaçam e pela necessidade mesma de sobreviver. A intensidade de tal sentimento levará, esperamo-lo, a atitudes cada vez mais decididas a este propósito. Por isso, ao passo que os países signatários do Acto final de Helsínquia se esforçam por assegurar a este último todo o alcance e a plena aplicação, quis eu recordar, em vésperas da reunião de Madrid, a dimensão espiritual que julgo indispensável para se chegar a uma verdadeira atmosfera de segurança, de cooperação e de paz na Europa. O meu apelo foi plenamente compreendido pelas altas Autoridades do seu país, do que me alegro profundamente.

Neste contexto, a obra da Bélgica na Europa toma todo o seu sentido. Procurando forjar, em modelos novos, uma unidade fundada sobre uma comunidade de origem e de destino, os países que formam este continente não devem sucumbir tentação de se fecharem sobre si mesmos, mas procurar ao contrário pôr em execução formas renovadas de cooperação internacional.

Tive muitas vezes ocasião de sublinhar que a concepção do homem necessariamente subentendida na base de todo o esforço desinteressado de cooperação — concepção fundada nos direitos inerentes à pessoa humana — exige que esta última seja compreendida em todas as suas dimensões espirituais, portanto também na dimensão religiosa. Por isso, as convergências que existem, num país, entre as preocupações humanitárias dos seus responsáveis e as da Igreja não são de maneira alguma acidentais nem destituídas de relações entre si. Na Bélgica, a história mostra bem que a vitalidade cristã que o país testemunha com tanto brilho está intimamente ligada à sua irradiação universitária e ao ideal humanista que inspira os seus concidadãos.

Por isso, formulo os votos mais fervorosos por intenção da Bélgica, do seu Soberano Sua Majestade o Rei Balduíno I, e de todos os seus dirigentes, pela prosperidade deles e pelo bom êxito dos esforços que fazem no serviço da comunidade dos povos. A Si mesmo, Senhor Embaixador, desejo que a sua missão junto da Santa Sé seja feliz e frutuosa, e peço ao Senhor a abundância das bênçãos divinas para a sua pessoa e o seu querido país.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA TAILÂNDIA


POR OCASIÃO DA VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Quinta-feira, 27 de Novembro de 1980



Veneráveis e queridos Irmãos Bispos da Tailândia

1. O aspecto mais importante do nosso encontro de hoje é o amor que nos une em nome de Jesus Cristo e em serviço do seu Evangelho. Esse amor está na base da nossa collegialitas affectiva; é também esse amor que nos ajuda a perseverar na nossa missão de realizar sempre mais perfeitamente a collegialitas effectiva para a qual o Senhor nos está constantemente chamando.

Vós vindes também com a expressão do amor que o vosso povo tem por num como o Pastor e servo da Igreja universal. Fico-vos profundamente grato, e nesta ocasião ofereço a todos vós a dimensão total do meu próprio amor em Jesus Cristo Nosso Senhor.

É realmente um prazer para mim saudar-vos hoje como Bispos de um grande povo com três séculos de experiência cristã, no meio do qual a palavra de Deus se enraizou como em bom solo (cf. Mt Mt 13,23); essa mesma palavra de Deus continua a ser para vós nestes dias uma fonte de força e motivo de alegria.

2. Com particular satisfação tenho notado o vosso empenho pela promoção da unidade eclesial. Esse interesse é demonstrado nas vossas diversas actividades e programas orientados a encorajar a solidariedade, colaboração e responsabilidade compartilhada, que deveria caracterizar todos aqueles que constituem uma família em Cristo, e são chamados para ser as suas testemunhas "até ao fim do mundo" (Ac 1,8). Todo o esforço para nutrir a unidade católica é importante sobretudo porque é dirigido para a manifestação da unidade da Santíssima Trindade, a qual é a suprema revelação de Deus. Como discípulos de Cristo somos chamados para sermos um, como ele também é um com o seu Pai Eterno. A credibilidade, ademais, da missão de Cristo diante do inundo está para sempre ligada com a unidade da sua Igreja (cf. Jo Jn 17,21 f.).

3. A vossa legítima solicitude pastoral estimula-vos a atender à construção de várias comunidades cristãs, nas quais o vosso povo pode encontrar um suporte efectivo para a sua fé. Estas comunidades, por sua natureza, estão baseadas na palavra de Deus, que se torna o critério para todas as acções da humanidade remida. Cada comunidade deve estar consciente de um novo nascimento, que, nas palavras de São Pedro, se realiza "através da vida e convincente palavra de Deus" (1P 1,23). Cada núcleo do povo de Deus, regenerado pela água e pelo Espírito Santo, é chamado para dar glória, pelo testemunho de boas obras, ao Pai que está o céu (cf. Mt Mt 5,17). Cada comunidade é chamada para ser uma comunidade de oração e acção de graças: e cada comunidade encontra a sua completa realização no Sacrifício da Eucaristia, para o qual toda a vida cristã está orientada.

4. Por esta razão, tudo o que fizerdes como Bispos a fim de promover vocações para o sacerdócio é de vital importância para todo o vosso povo.

É especialmente necessário que todos os seminaristas sejam habilitados a uma profunda compreensão da natureza da Igreja, que é destinada a propagar a luz de Cristo e ser "um sinal e instrumento de íntima união com Deus e a unidade de toda a raça humana" (Lumen Gentium LG 1). Estai certos das minhas especiais orações pelo vosso Seminário nacional, Lux Mundi, que sempre realiza louvavelmente a sua nobre missão evangelizadora. Dá-me, além disso, grande alegria, saber que as vocações, tanto para o sacerdócio como para a vida religiosa, estão crescendo no vosso país. Realmente, para todos nós é isto motivo de acção de graças e de louvor. Esse facto leva-nos a aceitar o convite do Salmista: "Canta para o Senhor um cântico novo, seu louvor na assembleia dos fiéis" (Ps 149,1).

5. Vai igualmente o meu encorajamento fraternal para os vossos esforços em promover a participação dos leigos na missão salvífica da Igreja.

Estou confiante de que a realização pelos leigos do seu específico e indispensável papel trará sempre os maiores frutos nos próximos anos. Ao mesmo tempo, fiquem os leigos cada vez mais cônscios da sua configuração sacramental com Jesus Cristo e da sua vocação pessoal para a santidade dentro da comunidade de evangelização e catequese, que é a Igreja. O corpo inteiro da Igreja universal está solidário com a Igreja na Tailândia, na árdua tarefa de levar o Evangelho à vida das crianças, dos jovens e dos adultos. E toda a Igreja está convosco quando proclamais para o vosso povo o objectivo de toda a educação católica, que São Paulo sucintamente sintetiza como: donec formetur Christus in vobis (Ga 4,19).


Discursos João Paulo II 1980 - AOS PEREGRINOS ITALIANOS DO MOVIMENTO NACIONAL «RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO» 23 de Novembro de 1980