Discursos João Paulo II 1980 - Quinta-feira, 27 de Novembro de 1980

Sustente o Senhor todos os generosos sacerdotes, religiosos e religiosas, tanto os tailandeses como os que vieram do estrangeiro, os quais, junto com os seus irmãos e irmãs, lutam em tempo de alegria e aflição, esperança e desilusão, para serem fiéis ao Evangelho do Reino de Deus.

6. Entre as muitas e boas obras de testemunho cristão e o serviço Amoroso que honra toda a comunidade do vosso povo, estão os que se exercem em beneficio dos refugiados, bem como em prol das pessoas cujas vidas estão profundamente afectadas pelo problema dos refugiados. A recompensa prometida por Cristo para as boas acções feitas aos que têm fome e sede, aos forasteiros e a todos os que estejam em necessidade, é nada menos que a vida eterna (cf. Mt Mt 25,31 ss.).

Oxalá possa essa certeza encorajar-vos a continuar a servir aos que se acham em necessidade na hora presente, providenciando toda a ajuda material e espiritual possível, com o auxilio oferecido pelos católicos do mundo inteiro através de várias organizações de caridade. Peço ao Senhor Jesus se mostre uma vez mais nesta geração, através dos vossos programas de assistência pastoral, como o Bom Pastor de toda a humanidade. Através da actividade caridosa do vosso povo, possa a Igreja de Cristo manifestar-se novamente como o símbolo de esperança e um sinal de misericórdia. E queira Maria, a Mãe de Misericórdia e do amor leal, interceder por todos os que mostrarem misericórdia ou receberem misericórdia, por todos os que se revestem ou são revestidos de bondade e compaixão (cf. Col Col 3,12).

7. Nesta ocasião desejo expressar os meus melhores votos para com as autoridades do vosso país e para com todos os vossos irmãos não cristãos. Em particular envio os meus respeitosos cumprimentos aos vossos concidadãos budistas. As relações cordiais, que vos esforçais por manter com eles, estão verdadeiramente em conformidade com o Concílio Vaticano II, que nos apresenta a exortação da Igreja no sentido de que, os seus filhos e filhas "prudente e afectuosamente, através do diálogo e colaboração com os adeptos de outras religiões, e na graça da fé e vida cristã, reconheçam, preservem e encorajem os bens espirituais e morais, bem como sociais e culturais que se encontram nesses povos" (Nostra Aetate NAE 2,2). Esta exortação é realmente normativa para toda a Igreja, mas tem significado especial para a Igreja na Tailândia, que procura ser fiel a Cristo, sendo a mensageira do seu Evangelho e serva dos seus irmãos e irmãs.

8. Caros Irmãos, o conselho dado na Carta aos Hebreus tem profundo significado para nós em todas as nossas actividades em prol do Evangelho: "Não percamos de vista Jesus que nos orienta na nossa fé e a conduz à perfeição" (He 12,2). Com todas as nossas fibras acreditamos no poder do Mistério Pascal, na graça salvífica de Cristo, que é capaz de manter a sua Igreja até que Ele venha em glória para nos apresentar ao seu Pai. No amor de Cristo, peço-vos que aceiteis esta mensagem de esperança para todos os que constituem as vossas Igrejas locais, "para todos os que nos amam na fé" (Tt 3,15).

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CAPÍTULO GERAL


DOS PADRES DE SCHÖNSTATT


Sexta-feira, 28 de Novembro de 1980



Amados Irmãos!

Era um desejo do vosso coração reunir-vos em Roma com o Sucessor de Pedro para o encerramento do II Capítulo Geral da vossa Comunidade dos Padres de Schönstatt. De bom grado correspondi aos vossos anseios e saúdo-vos a todos muito cordialmente.

O Superior-Geral, a quem agradeço sinceramente a sua palavra de saudação, já indicou o significado e o sentido do nosso encontro de hoje. É-me pessoalmente motivo oportuno para expressar, a vós e a toda a Obra Internacional de Schönstatt, a minha alegria por o "Movimento Apostólico para a difusão, defesa e interiorização da fé cristã" (Hoerde 1919), fundado pelo P. Kentenich, ter experimentado um tal desenvolvimento profícuo desde o ano da sua fundação. Em face a tantos aspectos de crise em alguns campos da vida religiosa e eclesial, o Movimento de Schönstatt distingue-se, também hoje, nos seus diversos ramos e agrupamentos, por uma particular força de vida espiritual e um apostolado rico em bênçãos, decisivamente marcados pelo espírito do seu Fundador, por um grande amor à Igreja e uma terna devoção a Maria, Mãe de Deus. Com grato reconhecimento pelo seu legado espiritual à Igreja, eu quis citar nominalmente o Padre Kentenich e honrá-lo assim de uma forma particular na minha recente visita à Alemanha, em Fulda, como uma das grandes figuras sacerdotais da História contemporânea.

As promessas que o P. Kentenich fez pessoalmente aos meus Predecessores, o Papa Pio XII e o Papa Paulo VI, em nome da sua Obra de Schönstatt, de se empenhar decididamente pelo restabelecimento de uma ordem social cristã e também, de colaborar, na medida das suas forças, para a realização do Concílio Vaticano II, continuam mantendo a sua grande actualidade e urgência. Recebo, pois, com tanto maior gratidão de vós, seus filhos espirituais, a renovação dessas promessas e estimulo-vos, como a toda a Família de Schönstatt, a um prolongado e ainda maior compromisso co-responsável pela renovação moral da sociedade, mediante a revitalização e o aprofundamento da vida religiosa e eclesial no espírito do Concílio, nas famílias, paróquias e comunidades eclesiais.

Este estímulo vale, de uma forma particular, para a vossa Comunidade dos Padres de Schönstatt, que se compreende como "pars motrix et centralis" de toda a Obra de Schönstatt. Vós mesmos vos propusestes como meta do vosso Instituto, ajudar, juntamente com as demais comunidades de Schönstatt, "na educação de um homem novo na nova comunidade, segundo a imagem de Maria, para assim vos tornardes fermento e instrumento na mão de Deus para a renovação da Sociedade".

No espírito o vosso Fundador colocais o vosso sacerdócio e a vossa acção pastoral sob a singular protecção de Maria Mãe de Deus, a quem na minha carta de quinta-feira Santa de 1979 chamei "Mãe dos Sacerdotes".

Em adesão explícita a esta carta viestes pois a Roma, para em forma solene vos consagrardes à Mãe de Cristo e da Igreja, correspondendo assim àquele desejo que exteriorizei. Agradeço-vos sinceramente esta resposta dócil e corajosa ao meu convite fraternal. Justamente o Concílio Vaticano II destacou a posição singular de Maria no Mistério de Cristo e da Igreja, caracterizando-A como "Membro supereminente e inteiramente singular da Igreja, bem como seu protótipo e a mais clara imagem original na fé e no amor", que a Igreja Católica venera "com filial amor como Mãe carinhosa" (Lumen Gentium LG 53).

Como recordação espiritual do nosso encontro de hoje, por motivo da vossa consagração a Maria, quisera dar-vos para a vida a seguinte meditação conclusiva daquela carta a todos os Sacerdotes: "E vossa tarefa (como Sacerdotes), anunciar Cristo, que é seu Filho. Mas quem melhor do que sua Mãe vos transmitirá a verdade sobre Ele? Vós deveis alimentar os corações dos homens com Cristo: Mas quem melhor vos poderá dar a conhecer o que fazeis, do que Aquela que O alimentou?... Pertence ao nosso sacerdócio de serviço a dimensão gloriosa e formadora da proximidade da Mãe de Cristo. Esforcemo-nos, portanto, em viver esta dimensão" (a.a.O., n. 11). Também o Concílio Vaticano II destaca no último capítulo da Constituição da Igreja, que a Virgem Maria "foi na sua vida o exemplo daquele amor maternal, do qual devem estar animados todos os que actuam na missão apostólica da Igreja para o renascimento do homem" (Lumen Gentium LG 65).

Juntamente convosco recomendo a vossa vida e acção sacerdotal à singular protecção de Maria, Mãe de Deus, que vós venerais sob o título de "Três Vezes Admirável" e de coração acompanho o apostolado da vossa Comunidade e de todo o Movimento de Schönstatt com a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CONSELHO DA COMISSÃO


PARA A AMÉRICA LATINA


28 de Novembro de 1980



Senhor Cardeal Presidente,
Senhores Cardeais,
Arcebispos e Bispos,
Amadíssimos Irmãos e Irmãs!

Muito me alegra poder ter este encontro convosco, no encerramento da IX Reunião do Conselho Geral da Pontifícia Comissão para a América Latina, que vos vê reunidos em Roma. A grande satisfação que me proporciona a presença de tantas e tão distintas pessoas, unidas por um mesmo espírito de serviço à Igreja, acrescenta-se no meu íntimo a firme convicção de que vos encontrais também unidos perfeitamente no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar (1Co 1 1Co 10), a respeito do objectivo e dos métodos de actuação no específico serviço eclesial que vos foi confiado.

Quero antes de tudo, em união convosco, prestar pública homenagem ao meu inesquecível predecessor, o Papa Paulo VI: a sua visão e o seu espírito apostólicos souberam dar vida e impulso a este Conselho, com o fim de realçar mais o interesse da catolicidade pelo Continente Latino-Americano (cf. Normas, n. 1); da mesma maneira, os seus ensinamentos e directrizes, em todo o mundo imbuídos de um manifesto e constante propósito evangelizador, foram marcos particularmente orientadores nas precedentes reuniões deste mesmo Conselho Geral. Dirijam-se, pois, a ele a nossa admiração, a nossa lembrança e o nosso agradecimento.

Continuadores dessa dimensão evangelizadora estabelecida por Paulo VI, foram a experiência adquirida pelas diversas Comissões institucionais e a própria intuição pastoral da Jerarquia, diante das situações cambiantes da sociedade que sugeriram os temas de reflexão e planeamento dessas reuniões periódicas do Conselho.

Uma sumária referência a algumas das questões abordadas — tais como a distribuição de pessoal apostólico, a assistência a estudantes e sacerdotes no estrangeiro, a sustentação do clero, etc. — manifesta sensibilidade peculiar, solícita e adequada às necessidades, às vezes tão amplas como cruciantes, que se impõe de maneira mais exigente no desenvolvimento da vida da Igreja.

Vós começais agora a dar um passo avante prestando atenção às forças vivas do apostolado, de entre elas aos leigos voluntários enviados para a América Latina. Para isso, quisestes dirigir um olhar retrospectivo para o trabalho realizado nestes anos: um olhar, sem dúvida indispensável, para descobrir possíveis faltas ou deficiências involuntárias na aplicação das resoluções tomadas; mas não menos fundamental na hora de comprovar os bons resultados obtidos e definir novos objectivos a serem alcançados. E esta serena atitude de espírito, presente durante a reunião actual, que me leva a dizer-vos com São Paulo: Quanto àquilo a que já temos chegado, sigamos na mesma linha (cf. Flp Ph 3,16).

A respeito disto, é-me grato salientar um aspecto que considero primordial e que certamente sentis vibrar no vosso íntimo como dever iniludível: tornar efectiva a comunhão das Igrejas e das suas instituições, das quais sois os dignos e qualificados representantes. O vosso Organismo conta afortunadamente com numerosos especialistas e técnicos, conhecedores directos das exigências pastorais. Mas esta condição de peritos não pode ofuscar de modo algum pelo contrário, há-de constituir o autêntico testemunho de conjunto —, o que tem sido o núcleo e a alma das vossas actividades: buscar a verdadeira «concórdia» entre as Igrejas particulares, isto é, um coração comum, uma disposição que suplante o mero sentimento para se converter em presença mútua e serviço recíproco.

O Papa e toda a Igreja agradecem-vos isto. Devido a esta presença intereclesial, devido também ao esforço e colaboração com a Igreja na América Latina, esta apresenta hoje uma face rejuvenescida: a face da esperança cristã, que se divisa e se reflecte nitidamente no espelho de uma humanidade tornada solidariedade eclesial pela mesma comunhão em Cristo.

Sejam estas minhas palavras um testemunho às Conferências episcopais, aos Institutos religiosos, aos organismos e às pessoas que, com espírito de genuína «concórdia», dão a sua contribuição ou, mais ainda, se interessam — como levedura dentro da massa — pelo bem da Igreja. Com a minha cordial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II AO SENHOR


JOSÉ JOAQUÍN PUIG DA BELLACASA E URDAMPILLATA


NOVO EMBAIXADOR DA ESPANHA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DA CARTAS CREDENCIAIS


Sábado, 29 de Novembro de 1980



Senhor Embaixador

Com viva satisfação recebo neste momento as Credenciais que o apresentam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciácio da Espanha junto da Santa Sé em substituição do saudoso e lembrado Embaixador Don Angel Sanz Briz. Faço votos por que a alta missão que hoje inicia tenha continuação feliz e que a sua permanência junto do Centro da Igreja seja muito fecunda e agradável.

Quero em primeiro lugar agradecer a Vossa Excelência os respeitosos sentimentos que me expressou em nome de Sua Majestade o Rei da Espanha, aos quais correspondo de bom grado com a expressão da minha mais alta estima e respeito por Ele e pelos demais membros da Família Real.

Vem Vossa Excelência como representante de um País, a Espanha, para a qual esta Sé Apostólica sempre olhou com profundo afecto e coração reconhecido pelas particulares benemerências com que, no decurso da sua história, se tornou credora diante da Igreja. Com efeito, basta fixar o olhar no mapa do mundo para nos apercebermos de que, graças ao trabalho levado a cabo pela Espanha, a obra evangelizadora deixou raízes sólidas em vastas zonas da América, no Extremo Oriente e noutras partes. Sem contar os milhares de missionários espanhóis que se espalharam por toda a parte e continuam a fazê-lo ainda hoje, ao serviço da fé e da causa da elevação do ser humano. Graças a esse esforço evangelizador, parte considerável da Igreja católica chama hoje "Padre" a Deus, em espanhol.

Mas se essa projecção para fora foi possível, é porque a fé tinha calado fundo no íntimo de um povo. Testemunhos bem eloquentes disso podem descobrir-se na literatura, na legislação, na arte, na liturgia e nos monumentos religiosos que povoam toda a geografia hispânica. E particularmente na vida do seu povo, em todo o seu conjunto histórico-religioso e nas grandes figuras de filhos exímios da Igreja, alguns dos quais foram evocados por Vossa Excelência, que tanto têm dado à Igreja.

Esse grande património de uma Nação, à qual me é grato prestar homenagem na pessoa de Vossa Excelência, sei que não pertence só ao passado, mas também se prolonga e revive na actualidade vivencial da grande maioria dos espanhóis.

Dentro do pluralismo a que a sociedade presente se foi abrindo e dentro do respeito devido às legítimas opções alheias, os católicos espanhóis têm de tirar inspiração desses profundos valores cristãos e humanos que guiaram o seu passado, para plasmarem agora uma nova sociedade de progresso cívico e económico cada vez maior, de maior solidariedade, justiça e respeito mútuo, sem prejuízo da solidez de uma fé cada vez mais consciente e vivida, no âmbito privado e público, ou da orientação prática segundo as exigências do humanismo cristão.

Nesse espírito poder-se-á conseguir uma superação harmónica de tensões históricas passadas, sem abandonar princípios que foram configurando a alma de um povo e as suas expressões vitais.

Espero que os valores essenciais do povo espanhol e a sua vigorosa espiritualidade não fiquem debilitados nesta nova fase da sua história, criando condições cada vez mais aptas para cada pessoa conseguir desenvolver toda a extensão da sua vocação pessoal; para que a família não deixe de se consolidar na sua coesão e estabilidade internas; e para que a sociedade inteira se possa revigorar idealmente na busca de novos horizontes.

A Igreja na Espanha está disposta a seguir colaborando, em fidelidade â sua missão própria e dentro do âmbito da sua competência específica, para atingir metas que dignifiquem mais as pessoas e salvaguardemos seus deveres morais e espirituais. Está pronta a cooperar, sobre tudo na elevação moral dos cidadãos, também com as suas próprias instituições nos campos educativo e assistencial, confiando ao mesmo tempo que venha a desfrutar sempre da margem justa de liberdade e apoio, que merece o seu serviço ao bem comum.

A Santa Sé, por sua parte, reafirma o espírito de concórdia e sadia colaboração que a animaram a estipular os recentes Acordos como Governo espanhol, a fim de que as relações mútuas sejam sempre presididas por esse espírito, dentro do respeito devido à recíproca independência e à observância das normas estipuladas.

Senhor Embaixador: Termino assegurando-lhe toda a minha ajuda e benevolência no desempenho da sua nobre missão. Ao mesmo tempo desejo-lhe toda a felicidade a si e à sua família. Formulo da mesma forma os votos mais cordiais para o seu País, a fim de que desfrute de um clima de bem-estar cristão e, vencendo o lamentável fenómeno do terrorismo que tantas vidas humanas está arrebatando, possam os seus cidadãos viver na paz, na justiça e na concórdia. Com estes votos, peço ao Altíssimo que abençoe as Autoridades e todos os filhos da querida Espanha.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE EMPREGADOS


DA COMPANHIA ITALIANA DE ELECTRICIDADE


Sábado, 29 de Novembro de 1980




Caros Dirigentes, Funcionários
e Operários da Companhia Nacional de Electricidade de Florença

Acolho-vos e saúdo-vos com verdadeiro prazer! Agradeço-vos esta visita, que suscita no meu ânimo tantos sentimentos, até mesmo só ao ouvir o nome da Cidade da qual provindes e na qual trabalhais: diante do espectáculo magnifico dos seus monumentos e do seu património artístico e religioso, que testemunha através dos séculos o admirável sentido de perfeição e de beleza, de sabedoria e de verdade; de alto sentir e de bem pensar, que ela soube mostrar ao género humano, o espírito eleva-se e quase se assusta. Esta vossa presença recorda-me antes de tudo como a alma florentina é profundamente rica de valores verdadeiramente humanos e verdadeiramente cristãos. Sede, pois, bem-vindos!

1. Exprimo-vos a minha satisfação não só pela homenagem que quisestes prestar ao Sucessor de Pedro, mas também pelos preciosos serviços que prestais à sociedade no importante sector da energia eléctrica, que constitui o ponto de partida; a base fundamental de toda vasta rede da actividade industrial, social, económica e comercial, e de todas as outras actividades humanas. Satisfação, de modo particular, pelas benemerências que a vossa Companhia conquistou, com admirável dedicação e desprezo dos perigos, nestes dias, nas trágicas circunstâncias do terremoto da região meridional da Itália. Um sentido de profundo respeito acrescenta-se também ao aplauso, ao considerar a competência, os talentos e a experiência que cada um de vós emprega no sector que lhe foi confiado e do qual depende o bom funcionamento dos vossos empreendimentos. Fazeis tudo isto porque, como honestos e dedicados cidadãos; tendes o alto sentido da dignidade do trabalho, dos seus direitos e dos seus deveres e, penso que também, do respeito pela centelha divina que brilha no rosto de cada um dos homens, que é o nosso irmão, e pela sua espiritualidade, às vezes oprimida pelo fenómeno do tecnicismo e do materialismo ateu.

2. Enfim, deixo-vos uma palavra de exortação, que bem se enquadra nesta vigília do tempo sagrado do Advento, que é tempo de espera do Senhor e, portanto, de reflexão e de reforma. A vossa absorvente actividade e o vosso louvável esforço por levar a vossa Companhia a posições sempre mais altas, não deve diminuir ou colocar de lado as superiores instâncias do espírito, que tanto caracterizaram os homens mais ilustres da vossa esplêndida Cidade. A tirania dos trabalhos e preocupações do dia-a-dia tende a sufocar as exigências espirituais e acaba por negar o tempo necessário para se interiorizar e ouvir a palavra de Deus que fala no segredo, convidando-nos a acolher a Sua vontade, na qual está a nossa paz, como cantava na Divina Comédia o vosso maior Poeta (cf. Dante, Paraíso III, 85).

3. Recordai-vos que não estais sozinhos neste esforço, Cristo está convosco. Colaborai com Ele, deixai-vos ser alcançados por Ele (cf. Fip 3, 12), que é guia, força e luz. Não recuseis acolher em vós e nas vossas famílias aquela luz misteriosa que provém de Cristo, a qual é, melhor dizendo, Ele mesmo, que disse de Si mesmo segundo o Evangelho de João: "Eu sou a luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas" (Jn 8,12).

Caríssimos irmãos, que a Sua graça vos ilumine e vos conforte todos os dias da vossa vida! E vos sirva de apoio a Bênção Apostólica que agora vos concedo, fazendo-a de bom grado extensiva aos que vos são caros, aos vossos amigos e aos vossos companheiros de trabalho.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À CONFEDERAÇÃO DOS CONSULTORES


FAMILIARES CRISTÃOS


29 de Novembro de 1980



Caros Irmãos e Irmãs

A minha saudação cordial a todos vós, que estais a realizar o Congresso nacional, promovido pela Confederação de que fazem parte os Consultores Familiares de inspiração cristã, a que pertenceis. É-me grato aproveitar a circunstância para vos exprimir o meu apreço: estais comprometidos numa acção de grande valor quer no plano humano quer no eclesial.

A família constitui um capítulo fundamental da Pastoral, a que a Comunidade cristã inteira é chamada a prestar, no presente momento histórico, particular atenção. Não foi por acaso que o recente Sínodo dos Bispos se dedicou à reflexão sobre as tarefas da família cristã no mundo contemporâneo, a fim de individualizar os problemas, analisar as componentes e indicar as soluções. Nunca como hoje foi sentida a urgência de uma intervenção mais adequada e precisa neste sector da experiência humana, que as transformações culturais dá nossa época abalaram e puseram em crise de modo particularmente profundo.

De muitos lados são propostos modelos de interpretação da realidade conjugal, que excluem qualquer referência aos valores superiores da ética e da religião. Os comportamentos práticos que daí se deduzem, revelam-se consequentemente em contraste não só com a mensagem cristã, mas também com uma visão autenticamente humana daquela íntima comunidade de vida e de amor, que é o matrimónio (cf. Const. past. Gaudium et Spes GS 48).

2. É o dever da Comunidade cristã proclamar com energia, perante a sociedade hodierna, o alegre anúncio do amor humano redimido. Cristo libertou o homem e a mulher para a possibilidade de se amarem em verdade e plenitude. O grande perigo para a vida da família, numa sociedade cujos ídolos são o prazer, as comodidades e a independência, está no facto de os homens serem induzidos a fechar o próprio coração perante tal possibilidade, resignando-se a um ideal reduzido de vida do casal. A Comunidade cristã deve contestar uma visão da relação conjugal que, em lugar do dom recíproco sem reservas, prolonga a simples coexistência de dois amores, preocupados apenas consigo mesmos.

Se o matrimónio cristão — disse eu durante a minha peregrinação em terras de Africa — pode ser comparado a uma montanha muito alta que põe os esposos na imediata vizinhança de Deus, é necessário reconhecer que a sua ascensão requer muito tempo e muita fadiga. Mas será esta uma razão para suprimir ou abaixar tal cimo? (Quinxassa, Homilia da Missa para as famílias, 3 de Maio de 1980). E necessário ajudar cada casal a interpretar rectamente o próprio amor e a fortificar as suas próprias convenções, aprofundando as razões intrínsecas que justificam a visão do matrimónio e da família, e captando-lhes as íntimas relações com as exigências essenciais de uma antropologia verdadeiramente humana.

Para tal fim, a Comunidade deve colocar-se ao lado do casal com a oferta de auxílios concretos no caminho que ele percorre, para chegar à realização cada vez mais plena do ideal entrevisto com aquela profundidade intuitiva, que o amor dá aos olhos do coração. O homem é um ser histórico, que se torna e se constrói dia a dia graças a um compromisso múltiplice e progressivo. Também a vida conjugal é um caminho não isento de obstáculos. É importante serem os esposos amparados e encorajados, de modo a não virem a inclinar-se para uma perspectiva estreita, que não conhece os «espaços dilatos da caridade» (Agostinho).

3. Um dos modos concretos, com que a Comunidade Cristã se torna presente ao lado dos casais no seu crescimento e maturação, é constituído sem dúvida pelo Instituto dos Consultores Familiares. Nestes anos foram-se eles multiplicando e a vossa Confederação tem já cerca de noventa. Outros virão ainda, como espero. É-me grato, caríssimos, reconhecer a função verdadeiramente importante que sois chamados a realizar ao serviço da família, «primeira célula vital da sociedade, santuário doméstico da Igreja». (Decr. Apostolicam Actuositatem AA 11).

É um compromisso, o vosso, que bem merece o qualificativo de missão, tão nobres são as finalidades que tem em vista e tão determinantes, para o bem da sociedade e da própria Comunidade cristã, são os resultados que daí derivam.

Com o fim, todavia, de poder desempenhar eficazmente a sua tarefa; os Consultores de inspiração cristã deverão ser rigorosamente coerentes com a sua identidade, que é a de contribuir para a formação de famílias cristãs, conscientes da própria vocação específica. Não poderá pois faltar na organização do seu trabalho, embora aberto à realidade global do matrimónio e da família, uma atenção especial ao aspecto ético-religioso que lhe caracteriza a fisionomia.

De facto, só pondo acima de todos os outros o aspecto moral, se resolvem os problemas dos cônjuges. A chamada de atenção para a norma ética, que deve regular o comportamento dos cônjuges, é conditio sine qua non do serviço eclesial, a que são chamados os Consultores. Tal chamada, por outro lado, deve ser feita em plena conformidade com o ensinamento do Magistério que foi repetidamente expresso a este propósito, e, além disso, excluindo quer as relações pré-matrimoniais, quer as extra-matrimoniais e condenando a contracepção e o aborto .E dever dos Consultores ajudar a superar as dificuldades, e não favorecer a rendição perante elas.

4. Nesta perspectiva desejo acentuar a urgência de um testemunho inequívoco de serviço à vida. Os componentes do Consultório não só devem empenhar-se a prestar interesse e assistência a quem recorrer ao seu auxílio, mas devem sentir-se, também, em dever de excluir toda a forma de participação em procedimentos que têm por fim intervenções abortivas. Os Bispos italianos falaram claro, a este propósito: é necessário segui-los, sem as pessoas se deixarem desviar por outros mestres.

Tal atitude de coerente linearidade reentra, além disso, no âmbito daquela profunda liberdade de orientação que também a lei civil reconhece.

A inspiração cristã deverá, por outro lado, estimular cada um de vós a dedicar o máximo empenho a contribuir para fazer do Consultório uma instituição exemplar no seu género, isto é capaz de desenvolver a sua acção de forma altamente qualificada. Isto não deixará de vos granjear o apreço e a simpatia das pessoas e dos casais necessitados de ajuda, e exercerá também, com o tempo, benéfica influência sobre as organizações idênticas, levando-as a assumirem critérios de intervenção mais de acordo com uma visão plenamente humana da realidade conjugal.

Prossegui, por conseguinte, com confiança e entusiasmo na vossa acção altamente meritória. O Papa encoraja-vos e, com ele, encorajam-vos os vossos Bispos e a Comunidade cristã inteira. Tudo o que conseguirdes fazer em favor da família é destinado a ter uma eficácia que, superando o seu âmbito próprio, atinge também outras pessoas e incide sobre a sociedade. O futuro da Igreja e do mundo passa através da família.

Com estes votos, é-me grato conceder-vos, em auspício de copiosos favores celestes, a minha Bênção Apostólica, que de bom grado torno extensiva aos vossos Entes queridos e a todos os que colaboram convosco nos Consultórios Familiares.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS DE TURIM


Sala Paulo VI

Quarta-feira, 30 de Novembro de 1980



Caros irmãos e Irmãs de Turim!

1. Estou feliz por me encontrar mais uma vez convosco, depois da visita feita à vossa Cidade em Abril passado. Saúdo-vos a todos com ânimo paterno, a começar pelo vosso Pastor, o Cardeal Arcebispo Anastásio Ballestrero, que vos acompanha, os representantes do Clero, dos Religiosos e dás Religiosas, os jovens, os que sofrem e os vários grupos de Paróquias e movimentos católicos da Arquidiocese de Turim. A vossa peregrinação tão numerosa, e certamente densa de espiritualidade traz-me conforto e atesta depois quanto sois devotos e fiéis ao Sucessor de Pedro. Por isso agradeço-vos e dou-vos as minhas cordiais boas-vindas, tal como vós me fizestes por ocasião da minha inesquecível viagem. Todos juntos confessamos a nossa comum e firme fé no Senhor, ao vivermos um momento forte de caridade recíproca.

2. Para mim é belo reviver neste momento o dia que passei em Turim, em contacto com um povo trabalhador e generoso, capaz de compromisso não superficial mas sentido e enraizado.

Recordo com prazer os encontros não só com as Autoridades, mas sobretudo com os enfermos do Cottolengo, com a juventude em Valdocco, e com toda a População, diante da Catedral, para a celebração da Santa Missa e diante da Grande Mãe de Deus, para não falar daqueles particulares com o Presbitério diocesano e com as Irmãs dos vários Institutos. Pude assim constatar eficaz testemunho de amor à Igreja. Certamente ele derivava da sólida adesão a Cristo, que da Igreja é a única cabeça e o Cínico Esposo, pois que a conquistou com o próprio sangue (cf. Ac 20,28), como bem nos recorda o precioso Sudário, que vós conservais e pude venerar de forma extraordinária naquela circunstância.

3. Mas, hoje, a minha palavra quer servir também de encorajamento e de exortação a todos vós e a quantos vós aqui representais. Sede sempre dignos da vossa tradição cristã. Pensar na história da Igreja de Turim significa necessariamente reevocar à memória as figuras de alguns Santos conhecidos no mundo inteiro, de entre os quais sobressaem São José Benedito Cottolengo e São João Bosco. E, como todos sabem, trata-se sempre de uma santidade muito concreta, baseada numa particular atenção ao homem ou, dizendo em termos evangélicos, num autêntico amor ao próximo. É deste testemunho cristão que o homem de hoje e de sempre tem necessidade. Além disso, é deste modo que o cristão realiza completamente a sua identidade. De facto, como nos ensina São Paulo, o que vale para quem vive em Cristo Jesus é "a fé que actua pela caridade" (). É preciso ver na prática esta fé e este amor: com eles se nutre e cresce a comunidade eclesial, com eles também se dá o mais válido contributo construtivo à sociedade humana. Mas é preciso manter a justa relação entre os dois elementos, segundo a sua sucessão proposta pelo Apóstolo. Para nós cristãos é a fé a raiz da caridade, isto é, coma base de tudo está o nosso relacionamento com o Senhor crucificado: "Pois que o amor de Cristo nos constrange (caritas Christi urget nos) persuadidos de que um só morreu por todos" (2Co 5,14). Isto é necessário para não cair na simples filantropia ou em entusiasmos fáceis mas de breve duração, como também para dar ao nosso esforço em favor do homem o indestrutível fundamento do mesmo amor, com o qual Deus veio ao nosso encontro na cruz de Jesus Cristo e do qual absolutamente nada "poderá separar-nos" (Rm 8,39).

4. Caríssimos, ao voltar para casa, levai aos que vos são Caros, aos amigos e a quantos conheceis a mais cordial saudação do Papa. Dizei-lhes, especialmente aos que sofrem, que ele os recorda sempre na oração e lhes assegura o próprio afecto. É-me caro, de facto, a todos desejar todo o bem, a fim de que a vossa prosperidade humana seja acompanhada inseparavelmente com um verdadeiro crescimento cristão, a nível tanto pessoal como eclesial. E que vos assista sempre a graça do Senhor, cujo penhor é a particular Bênção Apostólica, que de muito bom grado concedo a todos.



                                                     Dezembro de 1980

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO «CERTAMEN VATICANUM»


1 de Dezembro de 1980




Discursos João Paulo II 1980 - Quinta-feira, 27 de Novembro de 1980