AUDIÊNCIAS 1981 - AUDIÊNCIA GERAL


PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 8 de Abril de 1981




Pedagogia do corpo, ordem moral e manifestações afectivas

1. Convém-nos agora concluir as reflexões e as análises baseadas nas palavras ditas por Cristo no Sermão da Montanha, com que se referiu ao coração humano, exortando-o à pureza: "Ouvistes que foi dito: Não cometerás adultério. Eu porém digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração" (Mt 5,27-28). Dissemos repetidamente que estas palavras, escutadas uma vez pelos ouvintes, em número limitado, daquele Sermão, se referem ao homem de todos os tempos e lugares, e fazem apelo ao coração humano, em que se inscreve a mais interior e, em certo sentido, a mais essencial trama da história. É a história do bem e do mal (cujo início está ligado, no Livro do Génesis, com a misteriosa árvore do conhecimento do bem e do mal) e, ao mesmo tempo, é a história da salvação, cuja palavra é o Evangelho e cuja força é o Espírito Santo, dado Aqueles que recebem o Evangelho com o coração sincero.

2. Se o apelo de Cristo ao "coração" humano e, ainda antes, a sua referência ao "princípio" nos consentem construir ou pelo menos esboçar uma antropologia, que podemos chamar "teologia do corpo", tal teologia é, ao mesmo tempo, pedagogia. A pedagogia tende a educar o homem, pondo diante dele as exigências, motivando-as, e indicando os caminhos que levam às realizações delas. Os enunciados de Cristo têm também este fim: são enunciados "pedagógicos". Contêm uma pedagogia do corpo, expressa de modo conciso e, ao mesmo tempo, o mais possível completo. Quer a resposta dada aos Fariseus quanto à indissolubilidade do matrimónio, quer a palavras do Sermão da Montanha a respeito do domínio da concupiscência, demonstram — pelo menos indirectamente — ter o Criador assinalado como característica do homem o corpo, a sua masculinidade e feminilidade; e que na masculinidade e feminilidade lhe assinalou em certo sentido como característica a sua humanidade, a dignidade da pessoa, e também o sinal transparente da "comunhão" interpessoal, em que o homem mesmo se realiza através do autêntico dom de si. Pondo diante do homem as inteligências conformes às características a ele confiadas, o Criador indica simultaneamente ao homem, varão e mulher, os caminhos que levam a assumi-las e a realizá-las.

3. Analisando estes textos-chaves da Bíblia, até à raiz mesma dos significados que encerram, descobrimos precisamente aquela antropologia que pode ser denominada "teologia do corpo". E é esta teologia do corpo que funda depois o mais apropriado método da pedagogia do corpo, isto é, da educação (melhor, da auto-educação) do homem. O que adquire particular actualidade para o homem contemporâneo, cuja ciência no campo da biofisiologia e da biomedicina muito progrediu. Todavia, esta ciência trata o homem sob determinado "aspecto" e portanto é mais parcial que global. Conhecemos bem as funções do corpo como organismo, as funções ligadas com a masculinidade e a feminilidade da pessoa humana. Mas tal ciência, de per si, não desenvolve ainda a consciência do corpo como sinal da pessoa, como manifestação de espírito. Todo o desenvolvimento da ciência contemporânea, relativo ao corpo como organismo, tem sobretudo o carácter do conhecimento biológico, porque é baseado na separação, no interior do homem, entre aquilo que é nele corpóreo e aquilo que é espiritual. Quem se serve de um conhecimento tão unilateral das funções do corpo como organismo, não é difícil que chegue a tratar o corpo, de modo mais ou menos sistemático, como objecto de manipulações; em tal caso o homem cessa, por assim dizer, de identificar-se subjectivamente com o próprio corpo, porque privado do significado e da dignidade derivantes de este corpo ser próprio da pessoa. Encontramo-nos aqui no limite de problemas, que muitas vezes exigem soluções fundamentais, impossíveis sem uma visão integral do homem.

4. Precisamente aqui vê-se claro que a teologia do corpo, como a deduzimos desses textos-chaves das palavras de Cristo, se torna o método fundamental da pedagogia, ou seja, da educação do homem do ponto de vista do corpo, na plena consideração da sua masculinidade e feminilidade. Aquela pedagogia pode ser entendida sob o aspecto de uma própria "espiritualidade do corpo"; o corpo, de facto, na sua masculinidade ou feminilidade, é dado como encargo ao espírito humano (o que de maneira estupenda foi expresso por São Paulo na linguagem que lhe é própria) e por meio de uma adequada maturidade do espírito torna-se, também ele, sinal da pessoa, de que a pessoa está consciente, e autêntica "matéria" na comunhão das pessoas. Por outras palavras: o homem, através da sua maturidade espiritual, descobre o significado esponsal, próprio do corpo. As palavras de Cristo no Sermão da Montanha indicam que a concupiscência, de per si, não desvela ao homem aquele significado, antes pelo contrário, o ofusca e obscurece. O conhecimento puramente "biológico" das funções do corpo como organismo, relacionadas com a masculinidade e feminilidade da pessoa humana, só é capaz de ajudar a descobrir o autêntico significado esponsal do corpo se caminha a par e passo com uma adequada maturidade espiritual da pessoa humana. Sem isto, tal conhecimento pode ter efeitos absolutamente opostos; isto é confirmado por múltiplas experiências do nosso tempo.

5. Deste ponto de vista, é necessário considerar com perspicácia as enunciações da Igreja contemporânea. Uma adequada compreensão e interpretação delas, como também a sua aplicação prática (isto é, precisamente, a pedagogia), requer aquela aprofundada teologia do corpo que, afinal, deduzimos sobretudo das palavras-chaves de Cristo. Quanto às enunciações contemporâneas da Igreja, é necessário tomar conhecimento do capítulo intitulado "Dignidade do Matrimónio e da Família e sua valorização", da Constituição pastoral do Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes, parte II, c. I) e, em seguida da Encíclica Humanae vitae de Paulo VI. Sem qualquer dúvida, as palavras de Cristo, a cuja análise dedicámos muito espaço, tinham como fim, apenas, a valorização da dignidade do matrimónio e da família; daí a fundamental convergência entre elas e o conteúdo de ambas as enunciações mencionadas, da Igreja contemporânea. Cristo falava ao homem de todos os tempos e lugares; as enunciações da Igreja tendem a actualizar as palavras de Cristo, e por isso devem ser relidas segundo os princípios daquela teologia e daquela pedagogia que nas palavras de Cristo encontram raiz e apoio.

É difícil realizar aqui uma análise global das citadas enunciações do magistério supremo da Igreja. Limitar-nos-emos a referir algumas passagens. Eis de que modo o Vaticano II — pondo entre os mais urgentes problemas da Igreja no mundo contemporâneo "a valorização da dignidade do matrimónio e da família" caracteriza a situação existente neste campo: A dignidade desta instituição (isto é, do matrimónio e da família) não resplandece em toda a parte com igual brilho. Encontra-se obscurecida pela poligamia, pela epidemia do divórcio, pelo chamado amor livre e por outras deformações. Além disso, o amor conjugal é muitas vezes profanado pelo egoísmo, pelo amor do prazer e pelas práticas ilícitas contra a geração" (Gaudium et Spes GS 47). Paulo VI, expondo na Encíclica Humanae vitae este último problema, escreve entre outras coisas: "Pode-se ainda temer que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito da mulher e (...) chegue a considerá-la como simples instrumento de gozo egoísta e não já como sua companheira respeitada e amada" (Humanae vitae HV 17).

Não nos encontramos porventura aqui na órbita da mesma solicitude, que uma vez ditara as palavras de Cristo sobre a unidade e a indissolubilidade do matrimónio, como também as do Sermão da Montanha, relativas à pureza do coração e ao domínio da concupiscência da carne, palavras desenvolvidas mais tarde com tanta perspicácia pelo Apóstolo Paulo?

6. No mesmo espírito, o Autor da Encíclica Humanae vitae, falando das exigências próprias da moral cristã, apresenta, ao mesmo tempo, a possibilidade de cumpri-las, quando escreve: "O domínio do instinto, mediante a razão e a vontade livre, impõe indubitavelmente uma ascese — Paulo VI usa este termo — para que as manifestações afectivas da vida conjugal sejam segundo a recta ordem e em particular para que se observe a continência periódica. Mas esta disciplina, própria da pureza dos esposos, bem longe de prejudicar o amor conjugal, confere-lhe, pelo contrário, mais alto valor humano. Exige contínuo esforço (precisamente esse esforço foi chamado acima "ascese"), mas graças ao seu benéfico influxo os cônjuges desenvolvem integralmente a sua personalidade enriquecendo-se de valores espirituais. Ela... favorece a atenção para com o outro cônjuge, ajuda os esposos a banir o egoísmo, inimigo do verdadeiro amor, e aprofunda o seu sentido de responsabilidade..." (Humanae vitae HV 21).

7. Contentemo-nos com estas poucas passagens. Elas — particularmente a última — demonstram de maneira clara quanto é indispensável, para uma adequada compreensão do magistério da Igreja contemporânea, aquela teologia do corpo, cuja base procurámos sobretudo nas palavras do próprio Cristo. É exactamente esta — como já dissemos — que se torna o método fundamental de toda a pedagogia cristã do corpo. Fazendo referência às palavras citadas, pode-se afirmar que o fim da pedagogia do corpo está precisamente em fazer que "as manifestações afectivas" — sobretudo as "próprias da vida conjugal" — sejam conformes à ordem moral, numa palavra, à dignidade das pessoas. Nestas palavras volta o problema da recíproca relação entre o "ecos" e o "ethos", de que já tratámos. A teologia, entendida como método da pedagogia do corpo, prepara-nos também para as novas reflexões sobre a sacramentalidade da vida humana e, em particular, da vida matrimonial.

O Evangelho da pureza do coração, ontem e hoje: concluindo nós com esta frase o presente ciclo das nossas considerações — antes de passar ao ciclo sucessivo, em que a base das análises serão as palavras de Cristo sobre a ressurreição do corpo —, desejamos ainda dedicar um pouco de atenção à "necessidade de criar clima favorável para a educação da castidade", de que trata a Encíclica de Paulo VI (cf. Humanae vitae HV 22), e queremos centrar estas observações sobre o problema do "ethos" do corpo nas obras da cultura artística, com particular referência às situações que encontramos na vida contemporânea.



Saudações

A uma peregrinação de Estrasburgo (França)

É com particular satisfação que saúdo, entre os vários grupos dignos de mérito, o dos peregrinos de Estrasburgo: pais, professores e alunos vieram juntos, meditando as exigências da misericórdia, para venerar os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, os quais, um e outro, experimentaram a alegria do perdão de Cristo. Desejo que encontrem nesta caminhada comum, vivida na fé, os meios exemplares de compreensão entre jovens e adultos conforme ao espírito evangélico da misericórdia. Oxalá possam partir mais fortes para levar um espírito novo às relações no liceu, no colégio, ou às suas famílias!

Abençoo-os de todo o coração.

A um grupo de personalidades de Viena (Áustria)

Dirijo especial saudação de boas-vindas aos delegados e aos conselheiros da Câmara Municipal de Viena aqui presentes. Como distintos representantes dos vossos concidadãos, sacrificais boa parte do vosso tempo e das vossas energias em favor do bem comum. Esforçais-vos por encontrar as melhores soluções possíveis para cada um dos complexos problemas que a vida comunitária, hoje, apresenta. Desejaria, por isso que as vossas impressões na cidade eterna, com a sua mensagem desde a força viva do Evangelho, vos proporcionassem luz e orientação. Concedo-vos com prazer a especial bênção de Deus assim como para o vosso trabalho.

A um grupo de estudantes da diocese de Münster (Alemanha)

Saúdo também cordialmente a numerosa peregrinação da diocese de Münster, assim como o "Grupo de Peregrinos de San Ludgerus, 81", provenientes da mesma diocese. Renovação e aprofundamento da nossa vida religiosa significa sempre revisão e observação retrospectiva das fontes originárias da nossa fé. Oxalá obtenhais em abundância esta graça no vosso encontro com os lugares sagrados e se renovem o vosso ânimo e as vossas forças na missão cristã dentro da própria família, da escola e da sociedade. Para isso concedo-vos de coração a vós e a todos os peregrinos de língua alemã aqui presentes, a Bênção Apostólica.

Aos membros da Associação Cultural de Osaka (Japão)

Apresento as boas-vindas a todos vós,, membros da Associação cultural de Osaka. Saúdo todos de coração e, mediante as vossas pessoas, desejo abençoar todos os vossos irmãos e as vossas irmãs que estão no Japão.

A 300 Religiosas do Movimento dos Focolarinos

Saúdo agora com particular afecto as 300 Religiosas pertencentes ao "Movimento Internacional das Religiosas do Movimento dos Focolarinos", que vieram a Roma, provenientes de 50 Nações dos cinco Continentes, para aprofundar, no Centro Mariápolis de Rocca di Papa, o tema geral deste ano: "A vontade de Deus".

Como já tive ocasião de dizer a precedentes grupos de Focolarinos, recordai-vos nestes dias de oração e de meditação que a "vontade de Deus é a nossa santificação", segundo as palavras do Apóstolo Paulo (cf. 1Th 4,3). Se fizerdes desta bela exortação a razão de ser da vossa vida religiosa, o Senhor certamente não deixará de vos enviar as suas luzes, as suas energias e os seus confortos para aderirdes cada vez mais plenamente à vontade divina, onde reside a nossa paz. Acompanho estes votos com unta especial Bênção Apostólica.

Aos Doentes

Caríssimos doentes, a minha saudação particularmente afectuosa chegue até vós que sois aqueles que estais mais próximo do meu coração pela dívida de reconhecimento que tenho convosco: penso, de facto, no enorme dom das vossas orações e dos vossos sofrimentos que ofereceis ao Senhor pelo meu ministério.

A vossa presença na Sé de Pedro é nestes dias particularmente significativa, por coincidir com o período litúrgico que nos introduz nas celebrações da Paixão do Senhor. Não vos esqueçais que a sexta-feira santa é só momento de passagem para chegar à alegria da Páscoa, que é plenitude de vida em Cristo crucificado e ressuscitado.

Confiai-vos a Ele na vossa oração quotidiana, confiai-vos a Maria, Mãe Dolorosa.

E também a minha recordação ao Senhor, à qual uno de bom grado a confortadora. Bênção, vos acompanhe sempre.



PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 15 de Abril de 1981




O corpo humano "tema" das obras de arte

A audiência de hoje cai no período da Semana Santa, a semana 'maior" do Ano Litúrgico, porque nos faz reviver de perto o mistério pascal, em que "a revelação do amor misericordioso de Deus atinge o seu vértice" (cf. Encic. Dives in Misericordia DM 8).

Enquanto convido cada um a participar com fervor nas celebrações litúrgicas destes dias, formulo o voto de que todos reconheçam com exultação e reconhecimento o dom irrepetível de termos sido salvos pela paixão e morte de Cristo. A história inteira da humanidade é iluminada e guiada por este acontecimento incomparável: Deus, bondade infinita, derramou esta com amor indizível por meio do supremo sacrifício de Cristo. Ao mesmo tempo, portanto, que nos preparamos para elevar a Cristo, vencedor da morte, o nosso hino de glória, devemos eliminar das nossas almas tudo o que possa opor-se ao encontro com Ele. Para O ver através da fé é necessário, com efeito, ser purificado pelo sacramento do perdão e sustentado pelo esforço perseverante de um profundo renovamento do Espírito e daquela interior conversão que é começo em nós mesmos da "nova criação" (2Co 5,17), de que Cristo ressuscitado é o prelúdio e o penhor seguro.

Então a Páscoa representará, para cada um de nós, um encontro com Cristo.

É o que de coração desejo a todos.

1. Nas nossas precedentes reflexões — quer relativamente às palavras de Cristo, em que Ele faz referência ao "princípio", quer relativamente ao Sermão da Montanha, isto é quando Ele se refere ao "coração" humano — procurámos, de modo sistemático, levar a que se veja como a dimensão da subjectividade pessoal do homem é elemento indispensável, presente na hermenêutica teológica, que devemos descobrir e pressupor nas bases do problema do corpo humano. Portanto, não só a realidade objectiva do corpo, mas ainda muito mais, segundo parece, a consciência subjectiva e também a "experiência" subjectiva do corpo entram, a cada passo, na estrutura dos textos bíblicos, e por isso requerem ser tomados em consideração e encontrarem reflexo na teologia. Por conseguinte, a hermenêutica teológica deve ter sempre em conta estes dois aspectos. Não podemos considerar o corpo como realidade objectiva fora da subjectividade pessoal do homem, dos seres humanos: homens e mulheres. Quase todos os problemas do "ethos do corpo" estão ligados ao mesmo tempo à sua identificação ontológica como corpo da pessoa, e ao conteúdo e qualidade da experiência, subjectiva, isto é ao mesmo tempo do "viver" quer do próprio corpo quer nas relações inter-humanas, e em particular nesta perene relação "homem-mulher". Também as palavras da primeira Carta aos Tessalonicenses, em que o Autor exorta a "manter o próprio corpo com santidade e respeito" (isto é, todo o problema da "pureza de coração") indicam, sem qualquer dúvida, estas duas dimensões.

2. São dimensões que dizem respeito directamente aos homens concretos, vivos, às suas atitudes e aos seus comportamentos. As obras da cultura, especialmente da arte, fazem que aquelas dimensões, de "ser corpo" e de "experimentar o corpo", se escondam, em certo sentido, para fora destes homens vivos. O homem encontra-se com a "realidade do corpo" e "experimenta o corpo" também quando este se torna tema da actividade criativa, obra de arte e conteúdo da cultura. Em princípio, é necessário reconhecer que este contacto se dá no plano da experiência estética, em que se trata de contemplar a obra de arte (em grego aisthánomai: olho, observo). E é necessário reconhecer portanto, no caso determinado, que se trata do corpo objectivado, fora da sua identidade ontológica, de modo diverso e segundo os critérios próprios da actividade artística. Todavia, o homem, que é admitido a ter esta visão, está a priori demasiado profundamente ligado ao significado do protótipo, ou modelo, que neste caso é ele próprio — o homem vivo e o vivo corpo humano. Está demasiado profundamente ligado para poder arrancar e separar completamente aquele acto, substancialmente estético, da obra em si e da sua contemplação, arrancando-a e separando-a daqueles dinamismos ou reacções de comportamento e das valorizações, que dirigem aquela primeira experiência e aquele modo de viver. Este olhar, por sua natureza, "estético", não pode, na consciência subjectiva do homem, ser totalmente isolado daquele "olhar" de que fala Cristo no Sermão da Montanha: pondo em guarda contra a concupiscência.

3. Assim pois, a esfera inteira das experiências estéticas encontra-se, ao mesmo tempo, no âmbito do "ethos" do corpo. Justamente portanto é necessário pensar também aqui nas necessidades de criar clima favorável à pureza; este clima pode, de facto, ser ameaçado não só no modo mesmo em que decorrem as relações e convivência dos homens vivos, mas também no âmbito das objectivações próprias das obras de cultura, no âmbito das comunicações sociais: quando se trata da palavra viva ou escrita; no âmbito da imagem, isto é, da representação e da visão, quer no significado tradicional deste termo quer no contemporâneo. Deste modo atingimos os diversos campos e produtos da cultura artística, plástica, de espectáculo, também a que se baseia nas técnicas audiovisuais contemporâneas. Neste campo, vasto e bem diferenciado, é necessário que nos ponhamos uma pergunta à luz do "ethos" do corpo, delineado nas análises até agora realizadas, sobre o corpo humano como objecto de cultura.

4. Antes de tudo, observa-se que o corpo humano é perene objecto de cultura, no mais vasto significado do termo, pela simples razão de o homem mesmo ser sujeito de cultura e, na sua actividade cultural e criativa, empenhar a sua humanidade incluindo por isso nesta actividade também o seu corpo. Nas presentes reflexões devemos porém restringir o conceito de "objecto de cultura", limitando-nos ao conceito entendido como "tema" das obras de cultura e em particular das obras de arte. Trata-se, numa palavra, da tematização, ou da "objectivação", do corpo em tais obras. Todavia é necessário fazer aqui desde já algumas distinções, mesmo que seja à maneira de exemplo. Uma coisa é o corpo vivo humano: do homem e da mulher, que de per si cria o objecto de arte e a obra de arte (como, por exemplo, no teatro, no bailado e, até certo ponto, também durante um concerto), e outra coisa é o corpo como modelo da obra de arte, como nas artes plásticas, escultura ou pintura. É possível colocar ao mesmo nível também o filme ou a arte fotográfica em sentido lato? Parece que sim, embora do ponto de vista do corpo, qual objecto-tema, se verifique nesse caso uma diferença bastante essencial. Na pintura ou escultura o homem-corpo continua sempre a ser modelo, submetido à específica elaboração por parte do artista. No filme, e ainda mais na arte fotográfica, não é o modelo que é transfigurado, mas é reproduzido o homem vivo: e em tal caso o homem, o corpo humano, não é modelo da obra de arte, mas objecto de uma reprodução obtida mediante técnicas apropriadas.

5. É necessário notar desde já que a mencionada distinção é importante do ponto de vista do "ethos" do corpo, nas obras de cultura. E acrescenta-se imediatamente que a reprodução artística, quando se torna conteúdo da representação e da transmissão (televisiva ou cinematográfica), perde, em certo sentido, o seu contacto fundamental com o homem-corpo, de que é reprodução, e muitas vezes torna-se objecto "anónimo", assim como é, por exemplo, um anónimo acto fotografado, publicado nas revistas ilustradas, ou uma imagem difundida nos alvos de todo o mundo. Tal anonimato é o efeito da "propagação" da imagem-reprodução do corpo humano, objectivizado primeiro com a ajuda das técnicas de reprodução, que — como foi acima recordado — parece diferenciar-se essencialmente da transfiguração do modelo típico da obra de arte, sobretudo nas artes plásticas. Ora, tal anonimato (que por outro lado é modo de "velar" ou "esconder" a identidade da pessoa reproduzida), constitui também um problema específico do ponto de vista do "ethos" do corpo humano nas obras de cultura e particularmente nas obras contemporâneas da chamada cultura de massa.

Limitemo-nos hoje a estas considerações preliminares, que têm significado fundamental para o "ethos" do corpo humano nas obras da cultura artística. Em seguida estas considerações tornar-nos-ão conscientes de quanto elas estão intimamente ligadas às palavras, que pronunciou Cristo no Sermão da Montanha, comparando o "olhar desejando" com o "adultério cometido no coração". A extensão destas palavras ao âmbito da cultura artística é de particular importância, pois se trata de "criar um clima favorável à castidade" de que fala Paulo VI na sua Encíclica Humanae Vitae. Procuremos compreender este assunto de modo muito apropriado e essencial.

Saudações

A um grupo de peregrinos da Costa do Marfim

Não posso saudar de modo particular cada um dos grupos presentes nesta audiência. Asseguro a todos os meus cordiais bons votos, agradecendo-lhes terem vindo aqui. Permiti-me que nomeie um dos grupos, que vem de multo longe, o de peregrinos da Costa do Marfim. Com a ajuda da Companhia Air-Afrique, eles puderam assinalar deste modo o primeiro aniversário da minha viagem ao seu país. Queridos amigos, sensibiliza-me o facto de me retribuirdes de algum modo a minha visita! Conservo dela uma viva recordação. Ouso esperar que ela produza os seus frutos, de vitalidade na fé. de caridade activa e de união à volta dos vossos Pastores e com o sucessor de . Pedro. Deus vos colme das suas bênçãos.

A um grupo de jovens checoslovacos

Saúdo também o grupo de jovens checoslovacos que vieram, de várias partes da Europa ocidental, em peregrinação a Roma. Por intercessão dos Santos Cirilo e Metódio, Deus abençoe o seu povo.

A jovens lituanos

Saúdo de coração os professores e os alunos do liceu lituano. Abençoo todos vós, as vossas famílias e toda a juventude lituana.

Aos Doentes

Dirijo também uma palavra de afecta particular a vós, queridos doentes, a quem a fé e o sentido cristão da vida conduziram aqui, junto da memória de Pedro. Indico-vos, além do Pão da Eucaristia, Cristo Crucificado, cujo mistério celebramos na próxima Sexta-feira Santa.

Disse mistério. De facto, o Calvário, onde o Filho de Deus foi imolado pela salvação dos homens é verdadeiramente um mistério.

Queridos irmãos e filhos doentes, quem sofre como vós, tem um destino comum com Cristo, e de algum modo participa na sua acção redentora, conforme disse São Paulo: "Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo" (Col 1,24). Tarefa árdua, esta, que queima as carnes e por vezes o coração; mas que liberta o espírito e o torna digno de Deus e colabora na redenção do mundo. Deus vo-lo conceda, inundando de paz os vossos corações.





PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 22 de Abril de 1981




A obra de arte deve sempre observar a regularidade do dom e do recíproco dar-se

Caros Irmãos e Irmãs

A alegria pascal está viva e presente em nós durante esta solene Oitava, e a Liturgia faz-nos repetir com fervor: "O Senhor ressuscitou, como predisse; alegremo-nos todos e exultemos, porque Ele reina eternamente, aleluia".

Disponhamos, portanto, os nossos corações para a graça e a alegria; levantemos o nosso sacrifício de louvor para a vítima pascal, pois o Cordeiro remiu o Seu rebanho e o Inocente reconciliou-nos, a nós pecadores, com o Pai.

Cristo, nossa Páscoa, ressuscitou e nós ressuscitámos com Ele, por causa de quem devemos procurar as coisas do Céu, onde Cristo está sentado à direita de Deus, e devemos também afeiçoar-nos às coisas lá de cima, segundo o convite do Apóstolo Paulo (cf. Col Col 3,1-2).

Enquanto Deus nos faz passar, em Cristo, da morte para a vida, das trevas para a luz, preparando-nos para os bens celestiais, devemos tender para metas de obras luminosas, na justiça e na verdade. É caminho longo este, que temos de percorrer, mas Deus fortifica e sustenta a nossa inabalável esperança de vitória: a meditação do mistério pascal acompanha-nos de modo particular nestes dias.

1. Reflictamos agora — em relação com as palavras de Cristo pronunciadas no Sermão da Montanha — sobre o problema do "ethos" do corpo humano nas obras da cultura artística. Este problema tem raízes muito profundas. Convém aqui recordar a série de análises operadas em relação com o apelo de Cristo para o "princípio", e sucessivamente para o apelo por Ele feito ao "coração" humano, no Sermão da Montanha. O corpo humano — o nu corpo humano em toda a verdade da sua masculinidade e feminilidade — tem um significado de dom da pessoa à pessoa. O "ethos" do corpo, isto é, a regularidade ética da sua nudez, está por motivo da dignidade do sujeito pessoal, intimamente ligado àquele sistema de referência, entendido como sistema esponsal. Neste, o dar de uma parte encontra-se com a apropriada e adequada resposta da outra ao dom. Esta resposta decide da reciprocidade do dom. A objectivação artística do corpo humano na sua nudez masculina e feminina, com o fim de fazer dele, primeiro, o modelo e, depois, tema da obra de arte, é sempre certa transferência para fora desta configuração original e para ele específica da doação interpessoal. Isto constitui, em certo sentido, um desenraizar do corpo humano para fora desta configuração e um transferi-lo para a medida da objectivação artística: dimensão específica da obra de arte ou da reprodução típica das técnicas cinematográficas e fotográficas do nosso tempo.

Em cada uma destas dimensões — e em cada uma de modo diverso — o corpo humano perde aquele significado profundamente subjectivo do dom, e torna-se objecto destinado a um múltiplo conhecimento, mediante o qual os que olham para ele, assimilam ou mesmo, em certo sentido, se assenhoreiam do que evidentemente existe — mais, deve existir essencialmente a nível de dom, feito de pessoa a pessoa — não já na imagem mas no homem vivo. Para dizer a verdade, aquele "assenhorear-se" realiza-se já a outro nível — isto é, ao nível do objecto da transfiguração ou reprodução artística. Todavia é impossível não reparar em que, do ponto de vista do "ethos" do corpo, profundamente entendido, surge aqui um problema.Problema muito delicado, que tem os seus níveis de intensidade conforme os vários motivos e circunstâncias, quer por parte da actividade artística, quer por parte do conhecimento da obra de arte ou da sua reprodução. De que se ponha este problema não resulta, de facto, que o corpo humano, na sua nudez, não possa tornar-se tema da obra de arte, mas só que este problema não é puramente estético nem moralmente indiferente.

2. Nas nossas precedentes análises (sobretudo em relação com apelar Cristo para o "princípio"), dedicámos muito espaço ao significado da vergonha, esforçando-nos por compreender a diferença entre a situação — e o estado — da inocência original, em que "estavam ambos nus... mas não sentiam vergonha" (Gn 2,25) e, sucessivamente, entre a situação — e o estado — da pecaminosidade, em que entre o homem e a mulher nasceu, juntamente com a vergonha, a específica necessidade da intimidade para com o próprio corpo. No coração do homem sujeito à concupiscência, serve esta necessidade, também indirectamente, para assegurar o dom e a possibilidade do dar-se recíproco. Tal necessidade forma também o modo de operar do homem como "objecto da cultura", no mais amplo significado do termo. Se a cultura mostra tendência explícita para cobrir a nudez do corpo humano, certamente fá-lo não só por motivos climáticos, mas também em relação com o processo de crescimento da sensibilidade pessoal do homem. A anónima nudez do homem-objecto contrasta com o progresso da cultura autenticamente humana dos costumes. Provavelmente é possível confirmar isto, mesmo na vida das populações chamadas primitivas. O processo de aperfeiçoar a pessoal sensibilidade humana é certamente factor e fruto da cultura.

Por trás da necessidade da vergonha, isto é, da intimidade do próprio corpo (sobre o qual informam com tanta precisão as fontes bíblicas em Gn 3), esconde-se uma norma mais profunda: a do dom, orientada para as profundidades mesmas do sujeito pessoal e para a outra pessoa — especialmente na relação homem-mulher segundo a perene regularidade do dar-se recíproco. De tal modo, nos processos da cultura humana, entendida em sentido lato, verificamos — mesmo no estado da pecaminosidade hereditária do homem — uma continuidade bastante explícita do significado esponsal do corpo na sua masculinidade e feminilidade. Aquela vergonha original, conhecida já pelos primeiros capítulos da Bíblia, é elemento permanente da cultura e dos costumes. Pertence à génese do "ethos" do corpo humano.

3. O homem de sensibilidade desenvolvida ultrapassa, com dificuldade e resistência interior, o limite daquela vergonha. O que se evidencia mesmo nas situações, que por outro lado são justificadas pela necessidade de despir o corpo, como, por exemplo, no caso dos exames ou das intervenções médicas. Em particular, é necessário também recordar outras circunstâncias, como por exemplo as dos campos de concentração ou dos locais de extermínio, onde a violação do pudor corpóreo é método conscientemente usado para destruir a sensibilidade pessoal e o sentimento da dignidade humana. Em toda a parte — embora de maneiras diversas — reconfirma-se a mesma linha de regularidade. Seguindo a sensibilidade pessoal, o homem não quer tornar-se objecto para os outros por meio da própria nudez anónima, nem quer que o outro se torne para ele objecto de maneira semelhante. Evidentemente, tanto "não quer" quanto se deixa guiar pelo sentimento da dignidade do corpo humano. Vários, de facto, são os motivos que podem induzir, incitar e mesmo constranger o homem a proceder contrariamente àquilo que exige a dignidade do corpo humano, ligada com a sensibilidade pessoal. Não se pode esquecer que a fundamental "situação" interior do homem "histórico" é o estado da tríplice concupiscência (cf. 1Jn 2,16). Este estado — e em particular a concupiscência da carne — faz-se sentir em diversos modos, quer nos impulsos interiores do coração humano quer em todo clima das relações inter-humanas e nos costumes sociais.

4. Não podemos esquecer isto, nem sequer quando se trata da ampla esfera da cultura artística, sobretudo a de carácter visual e espectacular, como também quando se trata da cultura de "massa", tão significativa para os nossos tempos e ligada com o uso das técnicas divulgativas da comunicação audiovisual. Apresenta-se uma pergunta: quando e em que caso esta esfera de actividade do homem — do ponto de vista do "ethos" do corpo — é posta sob a acusação de "pornovisão", assim como a actividade literária, que era e é muitas vezes, acusada de "pornografia" (este segundo termo é mais antigo)? Uma e outra coisa verificam-se quando é ultrapassado o limite da vergonha, ou seja da sensibilidade pessoal a respeito do que se liga com o corpo humano, com a sua nudez, quando, na obra artística ou mediante as técnicas da reprodução audiovisual, é violado o direito à intimidade do corpo na sua masculinidade ou feminilidade — e em última análise — quando é violada aquela profunda regularidade do dom e do recíproco dar-se, que está inscrita nesta feminilidade e masculinidade através da inteira estrutura de ser homem. Esta profunda inscrição mesmo incisão — decide do significado esponsal do corpo humano, isto é, da fundamental chamada que ele recebe para formar a "comunhão das pessoas" e para nela participar.

Interrompendo neste ponto a nossa consideração, que desejamos continuar na quarta-feira próxima, convém verificar que a observância ou a não-observância destas regularidades, tão profundamente ligadas com a sensibilidade pessoal do homem, não pode ser indiferente para o problema de "criar clima favorável à castidade" na vida e na educação social.



Apelo

Não posso deixar de fazer uma referência às dramáticas notícias que, infelizmente, enlutaram a crónica destes dias santos, perturbando a alegria, que é o sentimento mais espontâneo e mais vivo que promana do Mistério pascal. São factos que certamente conheceis, mas que eu desejo recordar para um premente convite à oração.

— No dia de Páscoa foram lançadas duas bombas na Catedral de Davao, nas Filipinas: uma por baixo do altar, quando estava para começar a Santa Missa, e a outra em frente da entrada principal, semeando a morte e o pânico entre a multidão: os mortos foram 15 e os feridos algumas centenas.

— Também na Irlanda do Norte se verificaram graves combates, tornando a situarão mais tensa e ameaçadora.

Por fim, no Líbano, recomeçou a luta entre as facções opostas: devido a novos, cerradíssimos bombardeamentos nas cidades principais — como esta manhã comunicaram os Bispos de Zahle — muitas pessoas foram mortas e outras feridas. O aeroporto de Beirut e as Cidades de Tiro e de Sarda estão ainda sob o fogo da artilharia, como se daquele tão nobre País se quisesse fazer terra queimada.

Frente aos factos do Líbano, desejo dirigir às Autoridades políticas a nível interno e internacional, um premente apelo, a fim de que se prodiguem resolutamente para fazer cessar tão dolorosos acontecimentos. Para com estes três Países sinto o dever de condenar fortemente toda a violência, qualquer que seja a parte de onde ela. venha. Aqueles que se dizem crentes em Deus, compreendam finalmente qual é de facto a vontade do Altíssimo e quais são as exigências da própria fé religiosa. Não é lícito a ninguém trair esta fé, que sempre ensina e recomenda a paz, a fraternidade, o amor recíproco e o respeito da vida!

O sofrimento do Papa é o sofrimento de toda a Igreja e dos homens de boa vontade, e transforma-se em oração, à qual vos convido calorosamente, antes de mais pelos inocentes, que demasiado frequentemente são vítimas destas agitações de ódio, e também pelos responsáveis, a fim de que sejam iluminados e trabalhem para o bem do próprio País e dos próprios irmãos.

A solenidade da Páscoa inspire pensamentos de paz, e não já de aflição. O exemplo do divino Redentor leve os ânimos ao perdão recíproco e à compreensão mútua!

Saudações

A peregrinos de língua alemã

"Jesus está vivo — e com Ele eu também! — Aleluia!".

Queridos peregrinos das dioceses de língua alemã!

Agradeço-vos, a vós que, em grande número, empreendestes o caminho para Roma; o caminho da cidade onde se encontram os túmulos dos Apóstolos e as Catacumbas; a cidade cuja história está cheia de morte e de vida, de pecado e de santidade; a cidade de São Pedro e dos seus sucessores.

Saúdo os grupos de peregrinos e de estudantes das dioceses, das associações e das paróquias;
os sacerdotes e os religiosos e todos aqueles que se preparam para esta vocação;
todos aqueles que, devido à sua profissão ou a título honorífico, se encontram ao serviço da Igreja.

Saúdo os jovens das várias dioceses e de modo especial os que participam na grande peregrinação de Ratisbona. No vosso rico programa previstes igualmente uma vigília de oração e de meditação, assim como um encontro com os jovens peregrinos de outros países e com a juventude da diocese de Roma, que me foi confiada. Faço votos por que nesta ocasião possais experimentar e apreciar a viva alegria da fé — na paz do Senhor misericordioso que se encontra entre vós.

Sinto-me particularmente unido nesta festa pascal aos peregrinos da Alemanha; no entanto, já em Novembro passado Deus ofereceu-nos os dias benditos do nosso encontro e do revigoramento recíproco na fé, na esperança e no amor.

Sinto-me igualmente unido aos peregrinos vindos da Suíça. Já estou a pensar com alegria nos próximos dias do nosso encontro e renovação recíprocos, pela força de nosso Senhor ressuscitado e do seu Espírito Santo a quem nos dirijimos durante estes cinquenta dias santos.

Aos participantes na I Peregrinação Diocesana de Roermond (Holanda)

Desejo dirigir agora particular saudação à peregrinação diocesana de Roermond. Acompanhados pelo seu Bispo, D. Johannes Gipsen, os sacerdotes, religiosos, seminaristas e leigos holandeses de Limburgo vieram a Roma para reafirmar e aprofundar a sua fé junto dos túmulos dos Apóstolos. A vossa permanência na Cidade Eterna vos proporcione uma grande força espiritual para a vossa vida pessoal e para a da vossa comunidade diocesana a fim de a edificardes com toda a fidelidade ao Evangelho do Senhor e à sua Igreja. A todos vós e àqueles que vos são queridos e que ficaram em casa, concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica.

Aos Membros da União Profissional Internacional dos Ginecologistas e Obstetras

Entre os numerosos grupos presentes, notei o da União Profissional Internacional dos Ginecologistas e Obstetras, cujo Congresso se realizará em Roma. Senhoras e Senhores, os momentos da gravidez e do parto são de tal importância para as mães, para a sua saúde e a sua psicologia, para a vida e para todo o futuro do seu filho, que a sociedade deposita grandes esperanças nos progressos da vossa ciência e da vossa arte médica, nos vossos conselhos, dados com competência e rectidão moral, a fim de que estas etapas delicadas se passem nas melhores condições, em todos os planos. Os lares, mesmo os que sofrem de esterilidade curável, contam muito convosco. Vós estais essencialmente ao serviço da vida. Tudo o que fazeis para proteger a vida humana que nasce e lhe favorecer o desenvolvimento, e para ajudar as mães a esse nível, é abençoado por Deus. É neste sentido que vos animo com o meu encorajamento.

A uma representação do exército belga

Saúdo igualmente os participantes na 29ª Peregrinação militar belga. Felicito-vos por esta fidelidade em virdes celebrar a festa da Páscoa a Roma, junto dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, testemunhas da Ressurreição de Cristo. Peço ao Senhor que vos cumule das graças de que tendes necessidade, em família, para a educação dos vossos filhos, e nas vossas relações profissionais, onde deveis também ser testemunhas do Espírito de Cristo que habita cm vós. Abençoo-vos de todo o coração, assim como todos aqueles que vos são queridos.

A numerosos peregrinos polacos

Saúdo cordialmente todos os peregrinos da Polónia e os que vivem no estrangeiro. Saúdo de modo particular o grupo de sacerdotes da diocese de Gorzów, de Stettino, de Koszalin e os de Lubaczów; as Irmãs Servas de Pleszów e do Sagrado Coração de Cracóvia, e os peregrinas provenientes de Breslávia, Skarzysko, Opole, Rzeszów, Tarnowskie Góry, Stettino, Wadowice, Przemysi, Cracóvia, Lublin, Varsóvia e Gniezno. Saúdo também os peregrinos polacos provenientes de outros países, sobretudo dos Estados Unidos, e de modo particular de Nova Iorque
e do Canadá, e ainda da Alemanha, da Holanda e da Argentina. A todos dou cordiais boas-vindas com a saudação pascal: "Cristo ressuscitou / como exemplo nos é dado / que devemos ressuscitar / com o Senhor reinar".

É este talvez o mais antigo canto pascal polaco em que estão contidas quer a verdade da ressurreição, quer as boas festas cristãs por ocasião da ressurreição de Cristo. São estes os votos que hoje desejo formular de modo particularmente sentido a todos os presentes.

Também hoje desejo dirigir-me especialmente aos agricultores polacos, quer por motivo dos importantes acontecimentos verificados durante a Semana Santa, a propósito do direito dos agricultores individuais a associarem-se em sindicato, quer porque começa, também na Polónia, a primavera e o período de trabalho nos campos. Todos sabemos que o ano passado foi para nós um ano muito difícil, até na agricultura. Os efeitos daquelas dificuldades ainda se fazem sentir. Daqui, calorosos bons votos, um caloroso "Deus te ajude para o trabalho dos agricultores na Polónia no ano corrente, para o trabalho que inicia com a primavera "Deus te ajude".

Penso que a palavra "Solidarnosc" requer uma profunda associação de ideias entre a vida de toda a sociedade, de todas as nações e a necessidade de um esforço que tenha em vista uma renovação moral das bases económicas de toda a nossa vida.

Desejo, por fim, dirigir um pensamento ao Padroeiro da Polónia cuja festividade se celebra amanhã — venerado na Colina de Lech em Gniezno e em toda a nossa pátria, juntamente com Santo Estanislau. Dirigindo o pensamento para Gniezno, penso no Cardeal Primaz. Em união com toda a Igreja na Polónia e com toda a nossa sociedade, rezo por ele para que tenha saúde e vigor a fim de poder realizar a sua grande missão para com nação e a Igreja.

A todos vós aqui presentes peço que sejais mensageiros das minhas calorosas boas festas de Páscoa para os compatriotas que se encontram na Pátria e também para os emigrados.

Aos seminaristas participantes no Congresso organizado pelo Movimento "GEN"

Uma saudação afectuosa e de bons votos dirijo a todos os seminaristas presentes na Praça de São Pedro, e de modo particular é-me grato mencionar os que participam no Congresso de oração e de estudo organizado pelo Movimento "GEN" dos Focolares, sobre o tema: "O sim do homem a Deus".

Caríssimos Seminaristas, da alegre estação litúrgica da Páscoa, à qual está ligada a recordação da instituição do Sacerdócio, dom incomparável do Redentor, exorto-vos a empenhardes-vos cada vez mais generosamente na preparação interior e na aplicação das ciências sagradas para serdes um dia dignos de Cristo.

Com a minha Bênção Apostólica.

Aos Doentes

Uma saudação particularmente cordial desejo dirigir-vos, a vós, caríssimos doentes. Acompanho-vos com a minha oração e com o meu afecto. Gostaria de vos convidar a contemplar Cristo ressuscitado, que venceu o sofrimento, que aliás precisamente por meio do sofrimento nos salvou e entrou na vida nova e perene da ressurreição. Hauri sempre de Cristo pascal nova esperança: uni ao Seu sacrifício o vosso sacrifício quotidiano para bem da Igreja e da humanidade inteira. O vosso sofrimento não inútil quando está unido ao de Cristo. É como a gota de água que deitada no vinho da Santa Missa se transforma no Sangue precioso de Cristo para a salvação do mundo.



AUDIÊNCIAS 1981 - AUDIÊNCIA GERAL