Discursos João Paulo II 1981 - Sábado, 7 de Novembro de 1981

Desejo agradecer-lhes muito cordialmente, quer aos que estão hoje aqui presentes, quer aos ausentes, a sua bondade e gentileza.

Saúdo em seguida os Membros aqui presentes da Comissão para os contactos permanentes entre o Governo polaco e a Santa Sé: o Arcebispo Luigi Poggi por parte da Santa Sé e, na ausência de Roma do Ministro Kazimierz Szablewski, os Senhores Jerzy Jona e Edward Kotowski.

Saúdo por fim os colaboradores dos dois ramos na nova Instituição: da pastoral e do centro de cultura cristã que já desenvolve a sua actividade, estando ao mesmo tempo em reflexão e em busca dos mais adequados caminhos para este Centro. Sabe-se que ao Centro se apresentam particulares, importantes e difíceis tarefas, porque novas. No que diz respeito à pastoral dos peregrinos esta já abriu caminho no território romano.

Sobre o desenvolvimento desta nobre e necessária iniciativa sempre estive ao corrente. Não era nem será certamente fácil. A resposta que destes, vós e todos os outros aqui presentes, só com o pensamento e o coração testemunha que esta é a necessidade dos nossos tempos, do nosso hoje. Agradecendo, pois, à Providência o que foi realizado, com igual força recomendo hoje a Deus e à Mãe Santíssima de Cristo, no início desta Casa, esta fundação, o seu trabalho e o futuro.

Sei, caros Irmãos e Irmãs, de resto isto foi dito há pouco, que o nascimento da obra tem relação, de algum modo, com a minha pessoa, com a minha eleição para a Sé de Pedro em Roma. Daqui a minha particular gratidão e ao mesmo tempo o meu desejo de que ela se prodigue no sentido de alcançar estas metas para as quais foi desejada. Permiti que mencione aqui pelo menos os Países onde se formaram as comissões para a realização desta obra. Ei-los por ordem alfabética: Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polónia, República Federal da Alemanha, República Sul Africana, Suécia, Suíça, Uruguai, Venezuela, Zimbabwe. Juntamente com a Pátria, vinte e cinco Países. A imagem é bastante eloquente. Estes nomes foram gravados no mármore. Oxalá permaneçam como perene testemunho.

Embora nem todas as comissões dos Países mencionados estejam nesta sala em todo o caso está representada a maior parte deles. Os outros unem-se a nós espiritualmente.

4. É circunstância digna de relevância estarem entre nós os Reitores das Missões polacas dos vários Países do mundo que nesta mesma altura se reuniram em Roma no Centro da Pastoral da Emigração, na "Via delle Botteghe Oscure". O Centro —sob a dependência do Primaz da Polónia — depois de tantos anos de trabalho do Cardeal Rubin, agora é dirigido pelo Bispo Szczepan Wesoly. Os Reitores das Missões vieram encontrar-se com o novo Primaz, com o Conselho Geral do Episcopado e com o Delegado do Primaz para a Emigração, para uma troca de experiências e para formularem a si mesmos e aos outros perguntas a fim de encontrarem juntos a resposta às exigências dos tão diversos ambientes por eles representados e traçarem directrizes e programas de trabalho. Caros Irmãos! Saúdo-vos cordialmente. Nas vossas mãos confio o agradecimento ao clero, aos milhares de fiéis dos centros a vós confiados, pelo contributo deles no nascimento desta casa agora inaugurada. Abençoo-vos, e abençoo todos aqueles que colaboraram convosco, sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e todas as vossas comunidades.

Oxalá a vossa permanência em Roma, a vossa presente visita, o vosso encontro com o Episcopado da Polónia e com os representantes da Emigração polaca em todo o mundo vos dê novo alento, coragem apostólica e sabedoria, a fim de poderdes orientar as mentes e os corações dos fiéis a vós confiados, segundo as directrizes da Igreja, tendo em conta as condições em que vivem as vossas comunidades, na direcção de Cristo Redentor do homem. A Mãe da Igreja vos confio, o vosso encontro romano, as vossas preocupações e esperanças, o hoje e o amanhã de todos os Pastores de almas, dos colaboradores e dos fiéis dos centros que dirigis em várias partes do mundo.

5. O encontro de hoje é em certa medida — demonstram-no os factos — a festa de todos os polacos e de todos aqueles no mundo inteiro cujas origens de algum. modo remontam ao Vístula e, ao mesmo tempo, a esta água e a este Espírito em que, há mais de mil anos, começou a renascer a Nação que vos acolhia, quando o seu primeiro soberano histórico, guiado pela graça do Espírito e também pela clarividência política, decidiu incluí-la na família das Nações cristãs da Europa e do mundo. A maior parte dos presentes são representantes da emigração polaca em todo o mundo, isto é homens que não raro há muitas gerações nasceram e se radicaram noutra realidade diversa da Polónia, que para muitos é a "antiga Pátria", ou o "antigo País". Ao mesmo tempo eles sentem que o seu bilhete de identidade ou o passaporte não estariam completos se não lhe fosse acrescentado, pelo menos com o coração, tudo o que através de subtil ou espesso estrato, através de longo ou breve tempo se inscreveu neles e de qualquer modo decide da sua identidade interior. São sobretudo o espírito, a fé, o costume e a cultura que estão na base da identidade, da solidez e da continuação de cada Nação e, no seu âmbito, de cada homem. Portanto, o mapa espiritual-geográfico desta sala hoje, e desta riqueza representada por ela, é muito eloquente. Exprime de algum modo a Polónia não só no sentido das suas fronteiras geográficas e políticas, mas em sentido mais vasto, espiritual, étnico e cultural.

São Paulo, antes de chegar a Roma, escreveu a célebre Carta e depois, de Roma, escreveu outras Cartas. Roma era para ele o elo que o unia com as outras províncias, partes do mundo de então. São Pedro, cingido pelo seu Mestre, foi conduzido para aqui, talvez contra a sua vontade, mas não pôde esquecer nesta metrópole e centro do mundo de então que a mensagem evangélica, desde o início, foi dirigida a todo o mundo, a todas as nações até aos confins da terra. E quando se completaram os tempos marcados no relógio da história da salvação da nossa Nação, chegaram a esta o Evangelho e as Cartas de São Pedro e São Paulo, o Antigo e o Novo Testamento, chegaram os missionários da Irlanda, da Alemanha e da Itália, apareceu também a filha do povo Checo, Dobrawa, e Santo Adalberto, e depois muitos outros até que a nossa Nação tomou nas próprias mãos o seu destino cristão e o próprio futuro. E depois teve início o processo inverso, em direcção de Roma, sobretudo desde os tempos em que o Servo de Deus, Cardeal Oslo, advertiu a necessidade de organizar aqui um lar para os peregrinos cada vez mais numerosos vindos de um País distante. Esta necessidade viram-na os Bispos polacos, grandes filhos da Nação polaca, fundando sucessivamente novos centros. Graças a isto, existem em Roma o Pontifício Colégio Polaco, o Pontifício Instituto Polaco para a formação espiritual, intelectual e cultural dos sacerdotes polacos, e também o Pontifício Instituto de Estudos Eclesiásticos. Existem ainda outros centros de documentação e estudo citando apenas o Instituto Histórico Polaco.

Obviamente, outras Nações — segundo as suas possibilidades possuem aqui os seus Institutos, algumas vezes muito desenvolvidos e desde há tempo conhecidos no mundo.

Esta é uma síntese para grandes linhas. Esta troca de cartas entre Roma, escolhida por Pedro como sua sede, e onde sofreu a morte, e as novas Igrejas que nasciam e continuavam a nascer no horizonte do mundo, enriquecem a construção universal da Igreja com novos valores e novo sangue. Era assim que se ia formando a história da Igreja na Polónia e da Igreja Universal através do contributo da Igreja na Polónia e hoje é neste desígnio que se deve situar a Casa na "Via Cassia" e, nesta luz, deve ver-se o seu programa e a sua missão. Não é o momento nem o lugar para falar das premissas, de programa ou de estrutura desta Casa. Além disso, já me pronunciei a este propósito noutra ocasião. O resto será realizado pelos dirigentes de cada sector, pelos seus colaboradores e conselheiros. Oxalá esta Casa, esta instituição, dado encontrar-se em Roma, seja um ponto traçado no encruzamento daqueles caminhos que de Roma levam ao mundo, e os que trazem a Roma.

Assim foi que, há não muito tempo, benzi na cripta do Vaticano, perto do túmulo de São Pedro e de muitos seus Sucessores, a nova Capela dos Patronos da Europa, São Bento, São Cirilo e São Metódio.

Além disso, nestes dias realiza-se em Roma, organizado pela Universidade Lateranense e pela Universidade Católica de Lublim, o Colóquio Internacional sobre as comuns raízes cristãs das Nações da Europa. Ambos os factos, apesar de terem carácter diverso, são muito eloquentes. Propõem-se lançar um olhar mais universal sobre estes valores que concorreram e continuam a concorrer para a criação da Europa, da sua cultura e do seu perfil espiritual e para salientar o contributo dado à Europa e, portanto, ao mundo, por grandes e nobres povos eslavos. A sua mais ampla irradiação. Também isto deveria esclarecer o que há-de ser esta Casa que hoje me ofereceis, e o que dentro dela se deve realizar.

Oxalá, pois, este Centro que inauguramos com a graça de Deus, leia com todo o realismo no contexto da história e nos nossos tempos todos os sinais através dos quais se exprimem as necessidades da Igreja e do cristianismo na Polónia, as necessidades da cultura polaca e as expectativas de outros. Esteja o lugar de encontro dos peregrinos à altura das tarefas e das possibilidades, e do enriquecimento espiritual deles. Vá ao encontro de todas as culturas das outras Nações que servem o homem e o ajudam a definir o seu lugar na própria Nação e no mundo.

Abençoo de coração este trabalho depondo toda esta obra nas mãos de Maria Mãe do Bom Conselho e Sede da Sabedoria.

Antes de concluir desejo ainda responder ao convite que me foi dirigido pelo Primaz, em nome do Conselho Geral do Episcopado Polaco e da Igreja na Polónia: Convite para o jubileu, a ser celebrado no próximo ano, do 600° aniversário da presença da Senhora de Jasna Gora, no seu santuário. Desejo responder a este convite público, formal, de modo muito pessoal. Digo simplesmente que há muito tempo me sentia convidado e o que ouvimos da boca do Primaz é apenas a confirmação do que sinto; e é possível, depois deste convite, resistir a este sentimento?





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


SOBRE A CRISE DO OCIDENTE


E A MISSÃO ESPIRITUAL DA EUROPA


Quinta-feira, 12 de Novembro de 1981



Ilustres Senhoras e Senhores

1. Em poucos dias, realizaram-se em Roma dois significativos congressos internacionais, cujas deliberações têm por objecto a Europa. Depois do colóquio internacional sobre as comuns raízes cristãs das nações europeias, o vosso Congresso de dois dias está a tratar "a crise do ocidente e a missão espiritual da Europa".

Já esta circunstância salienta a grande actualidade e significado que adquirem nos nossos dias os problemas e as interrogações que o presente e o futuro da Europa apresentam. Há cada vez mais pessoas que tomam consciência disto mediante um profundo conhecimento da história e das forças expressivas da herança espiritual-cultural da Europa, e procuram definir novamente a verdadeira identidade e a consequente missão da Europa no âmbito da comunidade actual dos povos.

Por ocasião deste Congresso, dou-vos as mais cordiais boas-vindas a este encontro, aqui no Vaticano, e encorajo-vos nas vossas reflexões e esforços. Tal como o Concílio Vaticano II solenemente afirmou na Constituição pastoral fundamental Gaudium et Spes, "as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo... são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo" (GS 1). Isto é válido de modo especial no que diz respeito às questões centrais da sociedade humana, como a manutenção da paz, o respeito dos direitos humanos, a luta contra a miséria e a opressão, a realização de uma convivência entre os povos mais justa e mais digna do homem.

2. O tema deste congresso, além disso, refere-se a uma constante "crise do ocidente", a uma crise da sociedade e da cultura ocidentais. Reconhecer justamente e a tempo as deficiências e os perigos significa um primeiro passo importante para os superar ou, pelo menos, para tomar as medidas oportunas. Não é só um país, nem sequer só um continente, mas a humanidade inteira que está hoje ameaçada do perigo de um autoaniquilamento atómico. A humanidade é vítima de mudanças explosivas no terceiro mundo, que levam a catástrofes de fome, à corrupção das estruturas sociais e internacionais e à expansão do terrorismo e da violência. As expansões industriais e económicas incontroladas ameaçam o equilíbrio ecológico. A ameaça do totalitarismo, com novas formas e métodos, colocam as democracias parlamentares perante novos e difíceis problemas.

As raízes e as causas desta situação crítica da humanidade no final do segundo milénio do cristianismo são profundas e múltiplas. Em última instância, fundam-se numa crise da cultura, na ruína ou enfraquecimento dos valores ideais comuns e dos princípios éticos e religiosos universais. Além disso, também as grandes ideologias modernas se gastaram como formas seculares de substituir a religião.

Quando vós, neste congresso, perante esta crise da civilização que diz respeito a todo o mundo, vos interrogais sobre a "missão espiritual da Europa", ficamos conscientes de que a Europa, da qual surgiu a cultura ocidental, também contribuiu ela própria para esta perigosa situação actual. Da Europa surgiram em breve espaço de tempo duas guerras mundiais, que provocaram intermináveis sofrimentos a muitos povos e causaram medo e horror em toda a humanidade. Da Europa expandiram-se por toda a terra ideologias que, em muitas partes, causam agora estragos como enfermidades importadas. Em consequência desta cumplicidade, nasce para a Europa especial responsabilidade, no sentido de oferecer um contributo decisivo para a superação efectiva ela presente crise mundial. Isso exige da mesma Europa, sem dúvida, antes de tudo, profunda renovação espiritual-moral e política a partir da força e da norma da sua origem cristã.

3. Essa necessária reflexão foi o que levou a Igreja, neste tempo de mudança histórica mundial, a confiar os destinos da Europa à especial protecção de três grandes Santos, os Santos Padroeiros Bento, Cirilo e Metódio. Pela mesma razão, a Santa Sé, o Conselho das Conferências Episcopais Europeias e alguns Bispos, assim como personalidades da vida eclesiástica indicaram repetidamente a grande responsabilidade que, devido à força da sua herança espiritual e religiosa, incumbe à Europa no que diz respeito ao seu próprio futuro e ao do mundo inteiro.

A história da Europa e a de cada um dos seus povos está assinalada pela fé cristã e o respeito da dignidade do homem, criado à imagem de Deus e resgatado pelo sangue de Cristo. A responsabilidade pessoal, o respeito da liberdade, a veneração da vida, a máxima estima pelo matrimónio e a família eram os princípios normativos para ele. A compreensão cristã do homem moldou a tradição europeia dos direitos humanos, que encontrou expressão nas constituições modernas e nas declarações dos direitos humanos do Conselho da Europa e das Nações Unidas. De acordo com o pensamento cristão, o homem está no centro da vida social, económica e estatal, precisamente como eu acentuei de modo especial na minha última encíclica Laborem exercens.

O mundo necessita de uma Europa, que tome de novo consciência do seu fundamento cristão e da sua identidade e que, ao mesmo tempo, esteja disposta a organizar o seu próprio presente e o futuro a partir daí. A Europa foi o primeiro continente com que o cristianismo se familiarizou profundamente e que, a partir de então, experimentou um impulso espiritual e material incomensurável. Não será possível criar também hoje novos impulsos e forças para uma ampla renovação espiritual-moral e política da Europa a partir do mesmo fundamento ideal, mediante uma séria tomada de consciência, de modo que a Europa possa levar a cabo, responsável e efectivamente, no quadro da actual comunidade de povos, a missão espiritual que lhe cabe?

4. Assim, portanto, ilustres Senhoras e Senhores, deveis tomar consciência, nas vossas reflexões, de que a missão da Europa é a dos europeus e a missão destes é a dos cristãos da Europa. Como numerosos movimentos de renovação na história, também o que pretende um melhor conhecimento da Europa há-de começar no coração de cada homem. E antes de tudo no coração dos cristãos. Desta forma dar-se-á o decisivo sim à intensa chamada de Deus; desta forma tomar-se-ão a sério e utilizar-se-ão os meios que Deus nos oferece na sua Igreja; aí, no âmbito do indivíduo cristão, há-de viver-se concreta e exemplarmente a vontade de Deus a respeito de todos os âmbitos da existência humana. Partindo daí, em definitivo, os cristãos poderão também — individualmente ou, melhor ainda, em união com os que se encontram animados dos mesmos sentimentos — trazer os seus valores vitais e as suas convicções em colaboração com homens de outras mentalidades, na configuração humana do estado e da sociedade. E poderão também contribuir decididamente para a renovação interior de toda a Europa.

Oxalá os cristãos, em especial os políticos cristãos se dêem conta novamente e de forma total da sua responsabilidade e da tarefa que lhes incumbe neste tempo, tanto na Europa como em todo o mundo, e sejam, de acordo com a sua vocação cristã, verdadeiro fermento que preserve a humanidade de se corromper e a renove a partir de dentro. Com este fim, invoco também para as vossas deliberações a luz e a assistência de Deus e concedo-vos, de coração, a minha especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRIMEIRO-MINISTRO DE MALTA


POR OCASIÃO DO ENCONTRO NO VATICANO


Quinta-feira, 12 de Novembro de 1981



Senhor Primeiro-Ministro

É-me agradável dirigir-lhe cordiais boas-vindas, manifestando-lhe ao mesmo tempo o meu ânimo grato por esta sua visita, e dirigindo também, por seu meio, a minha saudação de bons-votos à Nação Maltesa inteira.

O primeiro pensamento que brota espontâneo, neste momento, evoca as especiais relações milenárias mantidas entre a Santa Sé e Malta, as quais foram expressão daquela constante fidelidade a Cristo e à Igreja, que distinguiu a história, a cultura, os costumes e a sensibilidade desse dilecto povo.

Ele, de facto, considera como seu particular título de glória fazer remontar as próprias origens católicas à permanência na ilha do Apóstolo das Gentes, definido a justo título evangelizador do Mediterrâneo, que nele anunciou a Palavra de salvação, correspondido, por sua vez, pela gentileza e pelos presentes daqueles habitantes.

Desde então, e precisamente graças a um começo tão significativo e robusto, a Igreja Apostólica de Malta prosseguiu correspondendo à sua vocação para o Evangelho, e soube conservar e incrementar, mesmo nas horas mais difíceis da sua história, os seus preciosos recursos espirituais e o rico património das suas antigas tradições de fé.

Em tal contexto, desejo, pela minha parte, Senhor Primeiro-Ministro, manifestar também nesta circunstância o meu constante e profundo afecto — que vem confirmar e prolongar o dos meus Predecessores — pelo povo maltês, prestando público testemunho às virtudes dos seus filhos, seja pelo que diz respeito à vida cristã que levam, seja por aquilo que pertence ao esforço nos vários sectores da vida civil, que encontrou projecção também no estrangeiro, mediante a presença e o trabalho dos compatriotas emigrados. Tudo isto constitui razão de sincera complacência e representa ao mesmo tempo garantia segura para um futuro sereno e laborioso da ilha.

Ao fazer penetrar cada vez mais o espírito da Mensagem evangélica nos costumes de um povo, a Igreja não pode senão contribuir para consolidar os fundamentos da sociedade, alimentando entre os filhos de uma mesma pátria a união fraterna, a mútua colaboração e a estima daqueles valores espirituais que estão na raiz de um autêntico progresso.

É por este motivo que a Igreja, com a sua obra, oferece um contributo altamente precioso para a vida da sociedade civil, como o asseguram a multiplicidade das instituições no campo educativo, assistencial e caritativo, e o património inestimável dos valores referentes à solidez da instituição familiar.

Para realizar este seu serviço, a Igreja pede a liberdade que lhe compete, tendo recebido de Deus o mandato — que é dever e direito — de anunciar o Evangelho por formas adequadas à natureza mesma desta Mensagem e à humana dignidade daqueles que dela são os destinatários. Com isto a Igreja forma as consciências e, por conseguinte, presta o mais alto serviço não só aos particulares, para que saibam corresponder à sua vocação transcendente, mas também à comunidade civil, não podendo o cristão experimentado deixar de ser, simultaneamente, também cidadão exemplar.

Esta é sem dúvida a actividade que estão desenvolvendo meritoriamente os Bispos, que têm o cuidado pastoral do povo maltês; e eu sinto o prazer de lhe prestar por isto aqui testemunho, sabendo que o ensinamento que dão, também acerca da vida moral da família e da educação cristã dos filhos, como ainda o empenho que têm em sustentar e incrementar as escolas católicas e outras obras assistenciais, correspondem ao genuíno espírito do Evangelho e aos valores que a Igreja, hoje como sempre, defende e exalta no seu Magistério.

Assim a Igreja e o Estado, que nas suas respectivas ordens desejam promover o bem do homem, têm não poucos pontos de encontro.

E, a propósito de tal colaboração, desejo assegurar-lhe, Senhor Primeiro-Ministro, que a Igreja conhece a vontade e a actividade mostradas pela Nação Maltesa, depois de conseguir a independência, para melhorar o próprio nível de vida social e para resolver os difíceis problemas económicos que se apresentam. Neste nobre esforço, Malta encontrará nos Bispos e na Santa Sé válido apoio e plena compreensão. Assim posso também garantir a minha solicitude por todos estes propósitos tendentes a definir de modo satisfatório a delicada e complexa participação de Malta na vida internacional.

É compreensível — sempre a respeito da mencionada colaboração entre a Igreja e o Estado — que por vezes surjam dificuldades. Para as vencer é necessário procurar entendimento cordial, mútua compreensão e boa vontade prática, no recíproco respeito para com as respectivas Autoridades constituídas; numa só expressão, é necessário profundo espírito de diálogo. Por seu lado, a Igreja oferece-se sem pensamentos reservados para tal perspectiva de diálogo e terá o prazer de encontrar a mesma favorável disposição por parte do Estado Maltês.

Com estes sentimentos e votos, sobre o povo inteiro de Malta e sobre os seus Governantes, invoco a divina protecção, em penhor da qual envio à sua cara Pátria a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO NACIONAL


DA ASSOCIAÇÃO MAÎTRES ITALIANOS


DE RESTAURANTES E HOTÉIS (AMIRA)


Pátio São Dâmaso, 12 de Novembro de 1981



Caros Irmãos e Irmãs!

Sinto-me feliz por este encontro convosco, Dirigentes e Membros da "Associação Maîtres Italianos de Restaurantes e Hotéis", reunidos em Roma para o XXV aniversário de fundação, e por exprimir-vos a minha cordial saudação e apreço pelos sentimentos de fé e de adesão à Sé de Pedro.

Faço sinceros votos por que saibais dar sempre a primazia aos valores espirituais no desempenho da vossa actividade, caracterizando assim o vosso trabalho com uma nota tão nobre e tão consoladora aos olhos da Igreja. Embora em meio a numerosos problemas de ordem prática, não deixeis de vos inspirar no exemplo de Santa Marta, vossa celestial Padroeira, que, juntamente com os seus irmãos Lázaro e Maria, soube na sua casa acolher Jesus com tanta delicada atenção e espírito de fé.

Também vós, no cumprimento do vosso precioso serviço em favor de tantos hóspedes, turistas e peregrinos, fazei-o com espírito de cristã dedicação e com gentil presteza, sabendo ver em quantos se dirigem a vós, para qualquer necessidade, irmãos, e nunca esquecendo, acima de todo o interesse económico, os mais necessitados e os mais fracos, com os quais o Senhor quis identificar-se (cf. Mt Mt 25,40).

Oxalá a Santa protectora vos obtenha todas aquelas graças necessárias para um exacto e alegre cumprimento do vosso dever; da minha parte, confirmo estes votos com uma especial Bênção Apostólica, que agora concedo a todos vós e, de bom grado, faço extensiva aos vossos familiares e amigos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO GANA EM VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Quinta-feira, 12 de Novembro de 1981





Caros Irmãos em Cristo

1. Passaram-se 18 meses desde que nos encontrámos no solo ganês, para celebrarmos juntos o centenário da implantação da Igreja na vossa terra. Foram dias de alegria porque sentíamos o Espírito Santo no meio de nós. Em particular, na Catedral de Acra, dedicada ao Espírito Santo, evocámos a sua presença e a sua missão.

E hoje, estamos uma vez mais profundamente conscientes da sua presença, e enche-nos de alegria celebrar a sua acção na Igreja. Glorificamos o Espírito Santo por nos ter congregado em comunhão eclesial como ministros de Cristo, Bispos da sua Igreja, homens autorizados a transmitir, mediante a palavra e o sacramento, a mensagem vivificante da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

2. Sem dúvida, a finalidade da minha visita ao Gana era proclamar convosco Jesus Cristo e o seu Evangelho. Esperava, com a graça de Deus, dar novo impulso à evangelização e confirmar-vos na vossa própria missão como pastores do rebanho. O nosso encontro aqui em Roma tem a mesma finalidade. Juntos, renovamos a nossa dedicação à causa do Evangelho em fidelidade a Cristo, que nos recomendou ensinássemos tudo quanto ele tem mandado (cf. Mt Mt 28,20). Estamos unidos na oração com Maria, implorando a efusão do Espírito Santo, a fim de podermos perpetuar o próprio trabalho de salvação de Cristo.Mediante a palavra de Deus e o poder do Espírito Santo, pretendemos continuar a edificar a munidade dos crentes exortando-os a testemunharem Cristo mediante a própria vida, e a cumprirem a própria missão de serviço fraternal no mundo.

3. Mediante o contacto pessoal que me foi dado ter com a Igreja na vossa terra, e mediante os vossos próprios relatórios, sei que os obstáculos à evangelização e à catequese são muitos. Mas cremos e estamos profundamente convictos do poder da graça de Cristo em todas as áreas de vivência cristã — mesmo nas que são mais difíceis.

Desde a minha visita pastoral ao Gana, a Igreja inteira trabalhou e rezou pelo bom êxito do Sínodo dos Bispos sobre a família no mundo contemporâneo. Dentro breve tempo espero publicar um documento que colocará o sentir daquela assembleia ao serviço pastoral de todos os Bispos da Igreja, de modo que eles possam auxiliar cada vez mais convenientemente as famílias cristãs. Espero que ele vos seja de ajuda, a vós Bispos do Gana, na vossa árdua missão de proclamar e preservar o desígnio que Deus estabeleceu desde o início, para o seu povo, e confirmado por Cristo seu Filho.

4. Ficai certos que vos estou unido no apoio fraternal que deveis dar aos vossos sacerdotes, como também no encorajamento que deveis oferecer aos Religiosos. Tenho confiança em que vós, com a ajuda de Deus e a colaboração de todos os sectores das vossas Igrejas locais, continuareis a apoiar aquelas grandes causas apostólicas que deveras me esforcei por promover, juntamente convosco, durante a minha visita. Em particular, penso na promoção das vocações eclesiásticas, no apostolado dos leigos, no papel dos catequistas e na constante inculturação da mensagem do Evangelho na vida do povo de Deus. Em todas as responsabilidades que nos incumbem no nosso sagrado ministério, confiemos firmemente nele, "Aquele que, pela virtude que opera em nós, pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto podemos ou entendemos" (Ep 3,20).

5. Além de tudo isto e de outras preocupações urgentes do nosso ministério, além das discussões colegiais e planos em que se espera tomemos parte, além das publicações pastorais individuais que dizem respeito às nossas Igrejas locais e à Igreja universal em geral, há ainda outra questão. Trata-se do nosso amor pessoal para com Jesus Cristo e da nossa fidelidade às solicitações do seu Espírito Santo. É a questão da nossa conformidade com Cristo, Sacerdote e Vítima; por outras palavras, é a questão da nossa própria santidade. Não esqueçamos as palavras de São Paulo; elas podem aplicar-se imediatamente a nós: "Esta é a vontade de Deus: A vossa santificação" (1Th 4,3). No plano de Deus, a santidade é essencial para todo o governo eficiente da Igreja; está na base de toda a genuína preocupação pastoral e da actividade colegial. Sim, a santidade tem a maior prioridade nas nossas vidas.

Deixai-me repetir as palavras que, naquele dia, disse a todos vós em Kumasi: "... como Bispos, convidemos sem descanso o nosso povo à conversão da vida e, com o nosso exemplo, indiquemos-lhe o caminho... enquanto Bispos, somos chamados a dar um testemunho constante de Cristo, Sumo Sacerdote e Pontífice de salvação, tornando-nos sinais de santidade na sua Igreja. Uma tarefa difícil? Sim, Irmãos. Mas é esta a nossa vocação, e o Espírito Santo está sobre nós. Além disso, a fecundidade do nosso ministério pastoral depende da nossa santidade de vida. Não tenhamos medo, porque a Mãe de Jesus está connosco. Ela está no meio de nós, hoje e sempre. E Nós somos fortes pelo mérito da sua oração, e estamos seguros, porque confiados aos seus cuidados" (9 de Maio de 1980).



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES


NA 21ª SESSÃO DA CONFERÊNCIA DA FAO


Sexta-feira, 13 de Novembro de 1981



Senhor Presidente
Senhor Director-Geral da Organização para a Alimentação e a Agricultura
Distintos Delegados e Observadores

- 1. Mantendo a feliz tradição estabelecida em anos passados, é-me grato hoje dirigir calorosas boas-vindas a todos vós, que realizais a 21ª Sessão da Conferência da FAO. A importância da vossa Organização é evidente por si, pois o seu objectivo é promover o desenvolvimento agrícola e o fornecimento de alimentos suficientes para cada ser humano. Neste particular, a situação mundial está hoje longe de ser satisfatória embora haja factores de esperança. A fome e a subalimentação são ainda algo bem real para milhões de pessoas. A batalha contra a fome e a subalimentação pode e deve ser continuada, mediante esforços tenazes e harmónicos de todos: dos indivíduos, grupos e associações de voluntários, de instituições particulares e públicas, de governos e organizações internacionais, especialmente daquelas que executam programas e iniciativas que são multilaterais e mesmo de todo altruístas, em benefício daqueles países que são os mais fracos e os mais necessitados de ajuda.

Com absoluta prioridade, os enérgicos esforços de todos deveriam ser dirigidos para a eliminação da "pobreza absoluta", aquela pobreza que aflige as populações de muitos países em vias de desenvolvimento. A pobreza absoluta é uma condição em que a vida é bastante limitada pela falta de alimentos, subnutrição, analfabetismo, elevada mortalidade infantil e curta duração da vida, abaixo de qualquer definição racional do decoro humano. A persistência de tal pobreza degradante e de modo especial a falta absoluta do mínimo básico de alimentação é um escândalo do mundo moderno, em que se encontram enormes contrastes de rendimento e de padrões de vida entre os países ricos e os países que são materialmente pobres.

As condições de subdesenvolvimento e real dependência, que são características dos países em vias de desenvolvimento, não podem ser atribuídas apenas a falta de vontade e de empenho, por parte das populações interessadas, nem à corrupção e indevido enriquecimento, por parte de poucas pessoas dentro das comunidades que recentemente obtiveram a independência. Porque estas condições são também mantidas e provocadas por estruturas rígidas e retrógradas, económicas e sociais, tanto nacionais como internacionais, estruturas que não podem ser mudadas de repente, mas necessitam de ser mudadas mediante um processo longo e gradual, fruto de esforço perseverante e unido, segundo os critérios de justiça nas relações entre os povos do mundo inteiro.

2. Nunca deveria esquecer-se que a verdadeira finalidade de todo o sistema económico, social e político, e de todo o modelo de desenvolvimento, é o progresso integral da pessoa humana. O desenvolvimento é claramente alguma coisa muito mais fundamental do que o progresso meramente económico, medido em termos de produto nacional bruto. O verdadeiro desenvolvimento toma como seu critério a pessoa humana com todas as suas carências, justas expectativas e direitos fundamentais, que lhe pertencem.

Esta é a ideia central que apresentei na minha Encíclica Laborem Exercens recentemente publicada.

O seu objectivo é pôr em realce "o homem que trabalha" e assim contribui para o desenvolvimento económico e para o progresso civil do seu próprio país e do mundo inteiro. O trabalho humano constitui, de facto, a "chave essencial" da questão social toda. É um critério fundamental para a avaliação crítica das opções da política interna e internacional, que vós sois chamados a considerar nesta Conferência Geral da FAO. É critério para a reforma das relações económicas e dos sistemas a nível mundial, sempre do ponto de vista do bem do homem (cf. Laborem Exercens LE 3).

3. A presente 21ª Sessão da Conferência da FAO, entre outros pontos da agenda, está a examinar e a esforçar-se por levar a efeito as resoluções conclusivas da Conferência Mundial sobre a Reforma da Terra e o Desenvolvimento Rural. Tive já a oportunidade de exprimir os meus pensamentos, a este propósito, durante o encontro realizado naquela ocasião (Discurso de 14 de Julho de 1979).

Neste momento desejo apenas confirmá-lo, com as palavras de Laborem Exercens: "Em muitas situações.., são necessárias mudanças radicais e urgentes, para restituir à agricultura — e aos homens dos campos — o seu justo valor como base de uma sã economia, no conjunto do desenvolvimento da comunidade social" (n. 21).

Portanto aprecio de maneira especial o apelo que a vossa Assembleia tenciona dirigir para se reconhecer o primado do desenvolvimento agrícola e da produção alimentar a nível nacional, regional e mundial. Isto é especialmente importante no tempo presente, quando estamos procurando idear uma estratégia para o desenvolvimento mundial nos anos de 80.

Além disso, grande importância deve ser atribuída ao presente planeamento político para o desenvolvimento mundial; por isso, deseja-se animar os países em vias de desenvolvimento a ganhar confiança em si mesmos, definir e levar a efeito a sua própria estratégia nacional para o desenvolvimento, com um modelo adaptado às actuais condições e capacidades, como também à cultura única de cada país. Mas isto não forneceria conveniente desculpa para nações mais prósperas fugirem às próprias responsabilidades, como se elas pudessem deixar o peso do desenvolvimento unicamente aos países necessitados: ao contrário, a estes últimos deve ser garantido apoio externo adequado, de uma qualidade que lhes respeite a dignidade e a autonomia de iniciativa.

4. Não pode haver dúvida de os países em vias de desenvolvimento se encontrarem com falta de assistência técnica e financeira, para se tornarem auto-suficientes na produção agrícola e assim poderem alimentar os seus próprios habitantes.

Uns poucos países em vias de desenvolvimento começam a atingir um nível de auto-suficiência, ao menos nalguns produtos básicos, muitas vezes graças aos seus mesmos esforços e com a ajuda de países mais prósperos. É sinal animador; mas há muitos outros países com poucos recursos e com sérias carências alimentares, os quais precisam de ajuda em larga escala e urgente a fim de vencerem a pobreza que sofrem.

A cada vez mais óbvia interdependência, entre os diferentes países do mundo, exige que as diferenças de interesses económicos e políticos sejam superadas e que se dê maior expressão à solidariedade que liga todos os povos numa única família.

Mas as exigências de justiça na solidariedade mundial não podem ser satisfeitas unicamente pela distribuição de "excedentes", mesmo que eles sejam suficientes e fornecidos a tempo. Porque as exigências de solidariedade pedem uma cada vez maior e mais efectiva boa-vontade para colocar à disposição de toda a gente — especialmente dos mais necessitados de ajuda para o seu desenvolvimento — "as variadas riquezas da natureza: do subsolo, do mar, da terra e do espaço" (Laborem Exercens LE 12). O primário destino dos recursos da terra para o bem comum pede que as necessidades da vida sejam satisfeitas para todos os seres humanos, antes de indivíduos ou grupos apropriarem para si mesmos as riquezas da natureza ou os produtos da habilidade humana.

Por isso, a necessidade de levar a efeito a cooperação efectiva entre países altamente avançados e países que necessitam de que as suas limitadas capacidades e os seus recursos recebam complementos de fora. Devem portanto ser consideradas formas de auxílio que evitam contínuo recurso a investimentos, obtidos por meio de empréstimos onerosos, conseguidas de entidades particulares ou de fontes não tão suficientemente desinteressadas como os métodos multilaterais das Organizações Intergovernamentais.

5. Desejo, acima de tudo, fazer o mais instante apelo possível à consciência moral dos povos para a concreta afirmação dos critérios objectivos de justiça que devem orientar as relações entre os membros da comunidade civil — quer sejam indivíduos, ou grupos e interesses, ou países soberanos. Neste sentido devem-se reconhecer as obrigações que prendem, em primeiro lugar do ponto de vista ético, os países mais avançados, como os assim chamados "Norte", para com os países em vias de desenvolvimento, do assim chamado "Sul". A justiça pede que assuma a sua parte de responsabilidade cada nação, para o desenvolvimento das nações necessitadas dentro de uma verdadeira solidariedade internacional, ciente cada nação de que todos os povos têm igual dignidade, e de que, juntas, todas constituem unia comunidade mundial. É necessário tomar decisões firmes, com relação à quota que as nações economicamente ricas devem ter de assumir e com relação às estruturas que hão-de em comum ser estabelecidas para se criarem novas e justas relações em todas as áreas de desenvolvimento. Cada nação reclama a solidariedade de todas as outras, mas os países, que vêem a verdadeira existência e dignidade das suas populações ameaçadas, têm uma reclamação prioritária. Corresponder a este clamor não é um luxo. É um dever.

Ao oferecer estes pensamentos à vossa reflexão, desejo garantir-vos, uma vez mais, a minha estima pelas vossas pessoas e o meu total apoio ao vosso trabalho. Como alguém cujo total ministério está em representar a Cristo na terra — o historicamente compassivo Cristo que se interessou pelo necessitado e deu de comer ao faminto —, não posso deixar de testemunhar a minha profunda admiração pelo contributo que estais oferecendo, por meio de esforços combinados, à causa da humanidade. Deus Omnipotente vos acompanhe na vossa missão.

Em referência ao número da agenda que se ocupa da energia na agricultura e para o desenvolvimento rural, tenho o gosto de oferecer ao Presidente desta Conferência e ao Director-Geral da FAO um exemplar das actas da Conferência de Estudo, convocada pela Academia Pontifícia das Ciências em Novembro de 1980, sobre "Humanidade e Energia".




Discursos João Paulo II 1981 - Sábado, 7 de Novembro de 1981