Discursos João Paulo II 1981 - Nagasaqui, 26 de Fevereiro de 1981


VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

ORAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

À IMACULADA VIRGEM MARIA


Igreja da Imaculada na Nugenzai-No Sono

26 de Fevereiro de 1981



Tendo-me sido concedida a possibilidade de visitar esta casa, assinalada como é pela memória do Beato Maximiliano Kolbe, quero atingir, num certo sentido, o espírito daquele zelo apostólico que outrora o levou ao Japão, e pronunciar as palavras que aquele filho de São Francisco, viva chama de amor, parece ainda dizer-nos.

Estas palavras são dirigidas a vós, Imaculada Virgem. Éreis vós que o Padre Maximiliano implorava — vós, escolhida desde a eternidade para ser Mãe do Filho de Deus; vós, que nem sequer fostes tocada pela mancha do pecado original, graças a esta santa maternidade; vós, torna da sua Mãe e Mãe da nossa esperança.

Permiti que eu, João Paulo II, Bispo de Roma e Sucessor de São Pedro, e também filho da mesma nação do Beato Maximiliano Kolbe — permiti-me, ó Imaculada, que a vós confie a Igreja do vosso Filho, a Igreja que há mais de quatrocentos anos realiza a própria missão no Japão. Esta é a antiga Igreja dos grandes Mártires e dos inflexíveis Confessores. É a Igreja de hoje, que constrói o próprio caminho, mais uma vez, mediante a obra dos sacerdotes, dos religiosos, frades e freiras, quer sejam japoneses ou missionários, e mediante o testemunho dos leigos que vivem em família e nas várias esferas da sociedade, formando a própria cultura e a própria civilização quotidianamente, e trabalhando pelo bem comum.

Esta Igreja é verdadeiramente o "pequeno rebanho" do Evangelho, tal como os primeiros discípulos e confessores o pequeno rebanho a que disse Cristo: "Não temas... porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino" (Lc 12,32).

Ó Imaculada Mãe da Igreja, mediante a vossa humilde intercessão junto de vosso Filho, concedei que este "pequeno rebanho" se torne, de dia para dia, um sinal mais eloquente do Reino de Deus no Japão! Fazei que, mediante Ele, este Reino resplandeça de luz mais viva na vida do povo e se difunda entre os outros através da graça da fé e do santo Baptismo. Oxalá cresça cada vez mais forte mediante a vida exemplar dos filhos e das filhas da Igreja no Japão. Cresça forte na expectativa da vinda do Senhor, quando a história do mundo se realizar no Deus único.

Isto vos confio, ó Única Imaculada, e isto imploro a Cristo, mediante a intercessão de todos os santos e bem-aventurados mártires japoneses, e do beato Maximiliano Kolbe, apóstolo que tanto amou esta terra. Amém.



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AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CIDADE DA IMACULADA


FUNDADA PELO BEATO MAXIMILIANO KOLBE


Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 1981



1. Desejei particularmente esta breve visita à casa fundada por um dos meus compatriotas, o Padre Maximiliano Maria Kolbe. O meu programa pomeridiano iniciou hoje com uma visita à colina dos Mártires, onde há séculos muitos cristãos deram testemunho a Cristo. Aqui, recordamo-nos de um mártir dos nossos dias, o Beato Maximiliano que não hesitou em testemunhar o amor pelo próximo, apresentado por Cristo como sinal distintivo de um cristão.

Ele deu a sua vida no campo de concentração de Oswiecim (Auschwitz) para salvar um homem casado e pai de dois filhos. Há um certo laço entre os Mártires e o Padre Kolbe, e este laço é a prontidão deles a dar testemunho da mensagem evangélica.

Permiti-me que indique outra relação que hoje descobri aqui: a relação entre o sublime sacrifício do Beato Maximiliano e a sua obra de missionário em Nagasaqui. Não era a mesma convicção de fé, o mesmo compromisso por Cristo e pelo Evangelho que o puseram a caminho do Japão e, mais tarde, a caminho do "bunker" da fome? Não havia divisão alguma na sua vida, nenhuma incoerência, nem alguma mudança de direcção, mas apenas a expressão do mesmo amor em diversas circunstâncias.

2. Vós, que estais a continuar o trabalho por ele empreendido, sois conscientes do zelo missionário que enchia aquele coração intrépido. Quando chegou ao Japão, em 1930, quis realizar imediatamente, num ambiente japonês, o que tinha descoberto como sua missão especial: promover a devoção à Virgem e ser instrumento de evangelização através da palavra impressa. Fundar a "Cidade da Imaculada" e publicar o "Seibo No kishi" constituíram para ele as duas partes de um mesmo e grande desígnio: levar Cristo, o Filho de Deus, nascido da Virgem Maria, a todas as gentes. Sabeis como os seus esforços não foram caracterizados nem limitados pelo cálculo humano, mas levados avante pela sua incansável confiança na Divina Providência. Deus não tornou vã esta confiança. O projecto que ele iniciou aqui, numa velha tipografia, adquiriu agora nova e incalculável dimensão: a força inspiradora que flui do seu sacrifício.

3. A sua missão deve ser levada avante; a evangelização deve continuar. Numa nação onde os católicos constituem uma tão pequena minoria, não se pode contestar a urgência do uso da palavra escrita, nem dos outros meios de comunicação, ao serviço do Evangelho. A Igreja tem um mandato de Cristo: proclamar o Evangelho e levar a salvação a todos os povos.

Faz parte, por conseguinte, da sua resposta, anunciar a Boa Nova com o auxílio dos poderosos meios de comunicarão social.

Há ainda outro elemento, relativo à evangelização, na vida do Beato Maximiliano: a sua devoção a Maria. Não foi porventura para nos encorajar que Deus escolheu vir a nós mediante a Virgem Imaculada, concebida sem pecado? Desde o primeiro momento da sua existência, ela nunca esteve sob o poder do pecado; nós, pelo contrário, devemos ser purificados abrindo o nosso coração ao misericordioso Salvador que Ela trouxe a este mundo. Não há moda melhor de nos aproximarmos do seu Filho do que através d'Ela.

As suas orações e as do seu grande servo, o Beato Maximiliano Solbe, sejam instrumento para levar o Evangelho de Cristo, de modo cada vez mais eficaz, ao povo do Japão.





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PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II

POR OCASIÃO DA VISITA


À COLINA DOS MÁRTIRES DE NAGASAQUI


Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 1981



Caros amigos

1. Hoje quero ser um dos tantos peregrinos que vêm aqui à colina dos Mártires em Nagasaqui, ao lugar onde os cristãos, com o sacrifício da vida, selaram a sua fidelidade a Cristo. Triunfaram sobre a morte com um acto insuperável de louvor ao Senhor. Em atitude de oração diante do monumento dos Mártires, quereria penetrar no mistério da sua vida, quereria que eles me falassem, e à Igreja inteira, quereria ouvir a sua mensagem ainda viva depois de centenas de anos. Como Cristo, foram levados para um lugar onde eram justiciados os criminais comuns. Como Cristo, ofereceram a própria vida para que todos nós pudéssemos crer no amor do Pai, na missão salvífica do Filho, e na guia infalível do Espírito Santo. Em Nishizaka, a 5 de Fevereiro de 1597, vinte e seis Mártires testemunharam o poder da Cruz; eram os primeiros de uma rica messe de Mártires, porque muitos, em seguida, teriam consagrado esta terra com o seu sofrimento e morte.

2. "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos" (Jn 15,13). "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto" (Jn 12,24).

Morreram cristãos em Nagasaqui, mas a Igreja em Nagasaqui não morreu. Estava para ser subterrada, mas a mensagem cristã foi transmitida de pais a filhos, até a Igreja não voltar à luz. Radicada nesta colina dos Mártires, a Igreja de Nagasaqui cresceria e floresceria, até se tornar um exemplo de fé e de fidelidade para todos os cristãos, uma expressão de esperança fundada em Cristo Ressuscitado.

3. Hoje venho a este lugar como peregrino, para agradecer a Deus a vida e a morte dos Mártires de Nagasaqui — daqueles vinte e seis e de todos os outros que se lhes seguiram —, compreendidos os heróis da graça de Cristo recentemente beatificados. Agradeço a Deus pela vida de todos aqueles, onde quer que estejam, que sofrem pela sua fé em Deus, pela sua lealdade a Cristo Salvador e pela sua fidelidade à Igreja. Cada época — passada, presente e futura — produz, para a edificação de todos, brilhantes exemplos do poder que está em Jesus Cristo.

Hoje venho à colina dos Mártires para testemunhar o primado do amor no mundo. Neste santo lugar, pessoas de todas as condições deram prova de que o amor é mais forte que a morte. Encarnaram a essência da mensagem cristã, o espírito das Bem-aventuranças, a ponto de, quem quer que dirija os olhos para elas, poder ser inspirado a deixar modelar a própria vida pelo amor desinteressado de Deus e pelo amor do próximo.

Hoje, Eu, João Paulo II, Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, venho a Nishizaka para rezar por que este monumento possa falar ao homem moderno, como as cruzes no cimo desta colina falaram àqueles que, há séculos, foram testemunhas oculares.

Oxalá este monumento fale ao mundo, para sempre, no amor, fale de Cristo.



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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NO ENCONTRO COM


AS RELIGIOSAS DE NAGASAQUI NO JAPÃO


Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 1981



Queridas irmãs em Cristo Jesus

1. Falar em Nagasaqui aos cristãos japoneses é evocar os heróicos inícios da fundação da Igreja neste país. E especialmente é evocar a memória de muitos mártires que, por graça de Jesus Cristo, Lhe deram neste lugar o supremo testemunho do seu amor.

Nagasaqui é por isso um lugar especialíssimo, perfeitamente apropriado para o nosso encontro de hoje, dado que, desde os primeiros séculos do cristianismo, a vida religiosa foi comparada ao martírio. Como o martírio, a vida religiosa é inspirada por um profundo amor ao Senhor sobre todas as coisas, amor manifestado pelo livre e generoso abandono dos valores reais — bens, família, liberdade — a fim de torná-los um dom completo a Cristo. Por isso, estou particularmente feliz por encontrar-me aqui e saudar-vos como um dos mais preciosos tesouros da nobre e digna Igreja no Japão, uma Igreja que é tão venerável pela sua idade como jovem pela sua vitalidade missionária.

2. É muito certo dizer que neste grande país, com os seus muitos milhões de pessoas cultas e trabalhadoras, a Igreja é como a semente de mostarda ou o pouco de fermento, que uma mulher coloca em medidas iguais de farinha para que toda a massa seja levedada. O vosso trabalho é menos manifestado e mais oculto do que em muitos países onde o catolicismo é mais difundido; mas não é menos importante, ainda que os métodos de evangelização devam ser muito diferentes.

Nesta situação, o testemunho da vossa vida assume importância e valor particular: embora nem sempre seja possível proclamar por palavras a Boa Nova, é sempre possível apresentá-la através da própria vida. Além disso, muitos valores ancestrais do povo japonês constituem bases de início para o Evangelho: amor ao trabalho, abertura aos outros, alto nível de cultura humanística e, sobretudo, o inato sentido de recolhimento e de contemplação, que é o sinal característico dos povos do Oriente.

3. A dimensão contemplativa é o verdadeiro segredo da renovação de toda a vida religiosa, e é elemento ao qual os vossos compatriotas estão particularmente atentos. Promovei sempre esta dimensão. Tornai as vossas casas centros de oração, de recolhimento e de diálogo pessoal e comunitário com Aquele que é e sempre deve ser o único com quem mais deveis falar durante as vossas ocupações diárias. Não vos deixeis seduzir pelas tentações de activismo nem pelas distracções que a moderna sociedade consumista traz dentro de si, com todas as suas sugestões materialistas.

Sem oração, deixa de ter significado a vossa vida religiosa. Ela perde os contactos com a sua fonte, esvazia-se da sua substância e não pode alcançar o seu fim. É a oração que vos põe em comunicação com Cristo vosso Esposo. As incisivas palavras da Evangelica Testificatio merecem ser meditadas: "Não esqueçais, de resto, o testemunho da história: a fidelidade à oração ou o seu abandono são o aferidor da vitalidade ou da decadência da vida religiosa" (n. 42).

4. Com estas palavras que me vêm a mente, dirijo-vos especial saudação e uma palavra de encorajamento a todas as Religiosas consagradas à vida de clausura neste país. Vós vivais bem dentro "do coração da Igreja". A vossa incessante e intensa oração, baseada numa rica herança espiritual e doutrinária, tanto é um dom ao mundo quanto um desafio ao mesmo mundo. É também uma resposta a todos os que procuram com ansiedade métodos de experiências contemplativas.

5. O testemunho evangélico que dais com a vossa consagração, vivida na prática dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, e com o testemunho do espírito de oração que anima as vossas comunidades, encontra viva e frutuosa expressão nas vossas actividades apostólicas. Penso especialmente no vosso trabalho entre os pobres, os doentes, as crianças e as suas famílias, no vasto campo do ensino e da catequese. O vosso trabalho dedicado à educação dos jovens é sempre muito relevante. Estas vossas actividades constituem uns meio especial de evangelização e de verdadeiro progresso humano. O exercício deste apostolado, com o mandato das vossas Congregações e em plena cooperação com as comunidades eclesiais do lugar, faz que tenhais uma clara posição na Igreja, posição que tem a sua tarefa específica. Sede sempre fiéis à vossa missão apesar das tantações, e sede felizes por conservai a vossa identidade interior e por ser reconhecidas exteriormente pelo que sois.

6. Ao mesmo tempo, mantende cuidadosamente o respeito constante e a delicada docilidade que sempre demonstrastes pelo Magistério da jerarquia. Como sabeis, a vida religiosa não tens sentido a não ser no interior da Igreja e em fidelidade às suas directrizes. Estai, portanto, sempre prontas a acolher os ensinamentos do Magistério e, em conformidade com o vosso particular carisma, a colaborar na obra apostólica da diocese local, sob a orientação dos vossos Bispos unidos ao Sucessor de Pedro e em união com Cristo. A palavra de Cristo, proclamada fielmente pela Igreja com a assistência do Espírito Santo, será para vós a verdadeira fonte de santidade e de sabedoria. Jesus assegura-vos: "Conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á" (Jn 8,32).

7. Desejo também solicitar-vos a incrementar a vossa colaboração apostólica ao serviço das famílias, que são especial centro de evangelização e de formação dos jovens. Assim fazendo, agireis de acordo com as conclusões do recente Sínodo dos Bispos.

8. Para concluir, confio-vos à intercessão de todos os santos mártires de Nagasaqui e, sobretudo, à protecção de Maria, Rainha dos Mártires e Mãe da Igreja. Ela é verdadeiramente a Mãe de todos os cristãos, de modo especial dos que se consagram à vida religiosa, e que é tão venerada no Japão como Edo no Santa Maria e como Nossa Senhora de Otome-tôge.

Paulo VI apresentou-a como a Virgem que escuta, a Virgem que reza, a Virgem que gera Cristo e O oferece para a salvação do mundo. Seja Ela o vosso guia ao longo do caminho, às vezes difícil mas sempre alegre, para o ideal da completa união com Cristo! Esta é a minha oração a Maria em nome de cada uma de vós e das vossas comunidades, e dou-vos a minha Bênção Apostólica, pedindo que a vossa alegria seja plena.



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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

DURANTE O ENCONTRO COM A IMPRENSA


Hiroxima, 25 de Fevereiro de 1981



Caros amigos

É muito significativo para mim poder dirigir uma palavra de amizade aqui em Hiroxima a cada um de vós, quando se aproxima o termo da minha visita pastoral ao Extremo Oriente. Antes de tudo, agradeço-vos a paciência, o interesse e a generosidade que demonstrastes no decurso desta viagem. De maneira particular a paciência, quando eu estava atrasado no meu programa! Estou-vos muito grato e a todos aqueles que representais.

Desejaria, além disso, aproveitar a ocasião para vos dirigir uma palavra de solidariedade pelo vosso trabalho quotidiano e uma palavra de encorajamento para manterdes altos os ideais: não sensacionalismo, não domínio da opinião pública, não manipulação das atitudes das pessoas, não poder pelo mero desejo do poder. Mas antes: verdade e amor postos ao serviço de cada ser humano e orientados para a realização de uma comunidade mundial na qual vós e os vossos filhos — e os filhos de todos — possam viver na dignidade e experimentar o significado da esperança.

No mundo de hoje vós tendes realmente nas mãos os instrumentos de um poder imenso e grandioso. Mas recordai-vos sempre: tal poder pertence às pessoas. Como todas as coisas criadas, é universal no destino e orienta-se para o bem de todos. Estai, pois, ao serviço do poder do povo e do bem-estar do mesmo. A vossa é, na realidade, uma grande vocação, uma esplêndida missão; todavia, ela exige uma dedicação honesta e que seja continuamente renovada, como também uma assídua responsabilidade para com as pessoas. E assim peço para continuardes a desenvolver generosamente os vossos esforços pela causa do povo, pela melhoria da sociedade, pela promoção da unidade de toda a família humana. Procurai fazer que as vossas palavras, as vossas imagens e os vossos programas consigam criar mais intensa unidade de todos os seres humanos, os filhos e as filhas do mesmo Pai que está nos céus, porque, segundo as palavras de Paulo VI, "se a comunicação não é já por si mesma uma comunhão, pode tornar-se um caminho privilegiado para esta" (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 25 de Março de 1971).

Meus caros companheiros de viagem — percorremos muitas milhas juntos. Reservei-vos dias cansativos e pouco repouso. A cada um de vós — correspondentes, fotógrafos, técnicos da rádio e da televisão — posso simplesmente dizer: agradeço-vos e faço votos de poder encontrar-me ainda convosco!

Entretanto, Deus vos abençoe e vele por vós e, quando regressardes a casa, encontrando-vos junto dos que vos são caros, oxalá experimenteis no seio das vossas famílias o amor, a unidade e a comunicação de alegria e esperança, que estais procurando difundir no mundo. Obrigado mais uma vez.



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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS CIENTISTAS JAPONESES E REPRESENTANTES


DA UNIVERSIDADE DAS NAÇÕES UNIDAS


Hiroxima, 25 de Fevereiro de 1981



Senhoras e Senhores

1. Como poderia exprimir os meus sentimentos neste excepcional encontro, em Hiroxima, com os ilustres representantes da ciência, da cultura e da educação superior? Antes de tudo, desejaria dizer-vos que me sinto muito honrado com estar no meio de um grupo de homens e mulheres tão altamente qualificados, que dedicam as suas energias à pesquisa, à reflexão intelectual e ao ensino. Agradeço sinceramente o vosso acolhimento cordial e benévolo.

Apraz-me dirigir uma particular saudação aos representantes da Universidade das Nações Unidas aqui presentes com o seu Reitor, Senhor Soedjatmoko, os Vice-Reitores, os membros do Conselho e os principais colaboradores da Universidade. A vosso instituição, que segundo os próprios estatutos está ligada à Organização das Nações Unidas e à UNESCO, é criação completamente original, fundada para promover os nobres fins das Nações Unidas nos sectores da pesquisa, da formação superior e da difusão do conhecimento; foi fundada deliberadamente como instituição global e mundial. O meu predecessor Paulo VI e eu mesmo, em mais de uma ocasião, mostrámos a nossa estima por esta nobre realização e as nossas esperanças quanto ao seu futuro. Procura pôr a ciência e a pesquisa ao serviço dos grandes ideais humanitários da paz, do desenvolvimento, da melhoria dos recursos alimentares, do uso correcto dos recursos naturais e da cooperação entre as nações.

2. Senhoras e Senhores, estamos hoje reunidos aqui em Hiroxima: e gostaria de fazer-vos cientes de quanto estou convencido de nos ser oferecida uma ocasião histórica para reflectirmos juntos sobre a responsabilidade da ciência e da tecnologia neste nosso tempo, marcado como é por tantas esperanças e por tantas angústias. Em Hiroxima, os factos falam por si, e de maneira dramática, inesquecível e única. Diante de uma tragédia inesquecível, que atinge todos nós como seres humanos, como poderíamos deixar de expressar os nossos sentimentos de fraternidade e a nossa profunda solidariedade pelas terríveis feridas infligidas àquelas cidades do Japão que têm o nome de Hiroxima e de Nagasaqui?

Estas feridas atingiram toda a família humana. Hiroxima e Nagasaqui: poucos acontecimentos na história tiveram as mesmas consequências sobre a consciência do homem. Os representantes do mundo da ciência não foram os menos atingidos pela crise moral causada no mundo pela explosão da primeira bomba atómica. A mente humana fez, na verdade, uma terrível descoberta. Nós demo-nos conta, com horror, de que a energia nuclear se tornaria disponível, doravante, como arma de devastação; e de facto, naquela ocasião ficámos sabendo que este terrível instrumento tinha sido usado, pela primeira vez, para fins militares. E naquela ocasião nasceu a pergunta que não nos abandonará nunca: Esta arma, aperfeiçoada e multiplicada além das medidas, será usada no futuro? E, em caso afirmativo, não destruirá provavelmente a família humana, os seus membros e todas as conquistas da civilização?

3. Senhoras e Senhores, vós que dedicais a vossa vida às ciências modernas, vós em primeiro lugar tendes a possibilidade de avaliar os desastres que uma guerra nuclear pode infligir à família humana. Eu sei que, desde a explosão da primeira bomba atómica, muitos de vós ansiosamente se têm preocupado pela responsabilidade da ciência moderna e da tecnologia que é fruto dessa ciência.Em numerosos Países, associações de estudiosos e de pesquisadores exprimem a ansiedade do mundo científico diante de um uso irresponsável da ciência, que muito frequentemente traz graves danos ao equilíbrio da natureza, ou leva consigo a ruína e a opressão do homem sobre o homem. Pense-se, em primeiro lugar, na física, na química, na biologia e na genética; justamente vós condenais as suas aplicações ou as experiências que trazem consigo dano à humanidade. Mas tenham-se em mente também as ciências sociais e as do comportamento humano; quando são utilizadas para manipular as pessoas, para sufocar as inteligências, as almas, a dignidade e a liberdade. A crítica à ciência e à tecnologia algumas vezes é tão severa que parece condenação da ciência mesma. Pelo contrário, a ciência e a tecnologia são produto maravilhoso da criatividade humana que é dom de Deus, uma vez que nos forneceram possibilidades maravilhosas, de que nós beneficiamos com ânimo agradecido. Mas nós sabemos que tal potencial não é neutro: pode ser usado tanto para o progresso do homem como para a sua degradação. Como vós, também eu vivi naquele tempo, que chamaria o "tempo do após-Hiroxima", e compartilho as vossas ansiedades. Hoje sinto-me inspirado a dizer-vos isto: certamente chegou o momento, para a nossa sociedade e especialmente para o mundo da ciência, de tomar consciência de que o futuro da humanidade depende, hoje mais do que nunca, das nossas comuns opções morais.

4. No passado, era possível destruir uma aldeia, uma cidade, uma região, até um país. No presente é todo o planeta que está ameaçado. Tal facto deveria finalmente obrigar cada um a enfrentar uma consideração moral fundamental: doravante, somente através de uma opção consciente e de uma deliberada política é que a humanidade pode sobreviver. A opção moral e política, diante da qual nos encontramos, é a de pôr todos os recursos da inteligência, da ciência e da cultura ao serviço da paz e da construção de uma nova sociedade, sociedade que chegue a eliminar as causas das guerras fratricidas buscando generosamente o progresso total de cada indivíduo e de toda a humanidade. É verdade, os indivíduos e as sociedades estão sempre expostos às paixões da cobiça e do ódio; mas, naquilo que nos toca, tentemos eficazmente corrigir as situações sociais e as estruturas que são causa de injustiça e de conflito. Nós construiremos a paz construindo um mundo mais humano. À luz desta esperança o mundo científico, cultural e universitário tem parte eminente a desempenhar. A paz é um dos bons êxitos mais nobres da cultura, e por isso merece toda a nossa energia intelectual e espiritual.

5. Como estudiosos e pesquisadores, vós representais uma comunidade internacional, com uma função que pode resultar decisiva para a futuro da humanidade. Mas com uma condição: que vós consigais defender e servir a verdadeira cultura do homem como precioso património. A vossa tarefa é elevada, quando trabalhais pelo crescimento do homem no seu ser e não apenas no seu possuir ou no seu saber ou no seu poder. Procurei exprimir este aspecto jundamental da nossa civilização num discurso que pronunciei na UNESCO no dia 2 de Junho de 1980: "A cultura é um modo específico do 'existir' e do 'ser' do homem... A cultura é aquilo pelo qual o homem, enquanto homem, se torna mais homem, 'é' mais, atinge mais o 'ser'. É nisto também que se funda a distinção capital entre o que o homem é e o que o homem tem, entre o ser e o ter... Nem todo o 'ter' do homem é importante para a cultura, não é factor criativo da cultura senão na medida em que o homem, com a mediação do seu 'ter', pode ao mesmo tempo 'ser' mais plenamente como homem em todas as dimensões da sua existência, em tudo aquilo que caracteriza a sua humanidade". Este conceito de cultura baseia-se numa visão total do homem, corpo e espírito, pessoa e comunidade, um ser racional ao mesmo tempo elevado pelo amor: "Sim! o futuro do homem depende da cultura! Sim, a paz do mundo depende do primado do Espírito! Sim, o futuro pacífico da humanidade depende do amor!" (ibid.). Verdadeiramente, o nosso futuro, a nossa sobrevivência mesma estão ligados à imagem que nos formarmos sobre o homem.

6. O nosso futuro neste planeta, exposto como está ao risco do aniquilamento nuclear, depende de um só factor: a humanidade deve realizar uma revolução moral. No actual momento histórico deve haver uma mobilização geral de todos os homens e mulheres de boa vontade. A humanidade é chamada a dar novo passo para a frente, um passo rumo à civilização e à sabedoria. Uma falta de civilização e uma ignorância dos verdadeiros valores do homem trazem o risco da destruição da humanidade. Devemos tornar-nos mais sábios. O Papa Paulo VI, na sua Encíclica Populorum Progressio (26 de Março de 1967, n. 20), sublinhou muitas vezes a necessidade urgente de se recorrer aos sábios para a guia da nova sociedade no seu desenvolvimento. Em particular, disse que, "se a continuação do desenvolvimento exige um número cada vez maior de técnicos, mais requer ainda homens de pensamento, capazes de reflexão profunda, votados à procura de um humanismo novo, que permita ao homem moderno encontrar-se a si mesmo, assumindo os valores superiores de amor, de amizade, de oração e de contemplação".

Mas, sobretudo, neste País do Japão, conhecido pela sua criatividade, a um tempo cultural e tecnológica, País com tantos homens de ciência, estudiosos, escritores e pensadores religiosos, permito-me lançar um especialíssimo apelo. Desejo dirigir-me aos homens e às mulheres de pensamento do Japão, e através deles, aos homens e às mulheres de pensamento de todo o mundo, para encorajá-los a buscarem ainda mais eficazmente a tarefa da reconstrução social e moral, que o nosso mundo tão ardentemente deseja para si. Trabalhai juntos para defender e promover, no meio de todo o povo da vossa nação e do mundo, a ideia de um mundo justo, mundo feito à medida do homem, mundo que torne os seres humanos capazes de desfrutar das suas capacidades, mundo que os ajude nas suas carências materiais, morais e espirituais.

7. Homens e mulheres dedicados à pesquisa e à cultura: o vosso trabalho assume importância totalmente nova, nesta época marcada pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Que bom êxito para o nosso tempo, que força intelectual e moral, que responsabilidade para com a sociedade e a humanidade! Seremos capazes de unir-nos ao aplicar esta herança científica e cultural ao serviço do verdadeiro progresso da humanidade, para a construção de um mundo de justiça e de dignidade para todos? A tarefa, é enorme; alguém poderia defini-la utópica. Mas como poderemos não encorajar a confiança do homem moderno, contra todas as tentações do fatalismo, da passividade paralisante e do abatimento moral? Nós devemos dizer ao homem de hoje: não duvides, o teu futuro está nas tuas mãos. A construção de uma humanidade mais justa ou de uma comunidade internacional mais unida não é sonho ou ideal vão. É imperativo moral, dever sagrado, que o génio intelectual e espiritual do homem pode enfrentar através de uma nova mobilização dos talentos e das energias de cada um e aproveitando todos os recursos técnicos e culturais do homem.

8. Os povos da nossa época possuem, em primeiro lugar, extraordinários recursos científicos e tecnológicos. Nós estamos convencidos de que tais recursos poderiam ser usados com muito mais eficácia para o desenvolvimento e o crescimento dos povos; vejamos os progressos da agricultura, da biologia, da medicina, dos instrumentos de comunicação social aplicados à educação; depois, existem as ciências sociais e económicas, e a ciência do planeamento, todas podem unir-se em vista de um processo de industrialização mais humano e eficaz, e para promover novos modelos de cooperação internacional. Se todas as nações ricas do mundo quisessem, elas poderiam reunir impressionante número de especialistas para as tarefas do desenvolvimento. Tudo isto supõe, obviamente, algumas opções políticas e, mais profundamente ainda, opiniões morais. Aproxima-se o momento em que se deverão redefinir as prioridades.Segundo alguns cálculos, por exemplo, cerca da metade dos pesquisadores no mundo estão empenhados em fins militares. É moral que a família humana continue ainda nesta direcção?

E há ainda o problema dos recursos económicos necessários para dar impulso decisivo ao avanço integral da família humana.

Também neste campo devemos fazer opções. Podemos permanecer passivos diante da afirmação de a humanidade gastar imensamente mais com os armamentos do que com o desenvolvimento, e quando chegamos a saber que a equipagem de um soldado custa muitas vezes mais do que a educação de uma criança?

9. A ciência e a tecnologia sempre foram parte da cultura do homem, mas hoje assistimos a um rápido crescimento de uma tecnologia que parece ter destruído o seu equilíbrio com as dimensões da cultura intervindo como elemento de divisão. Este é o grande problema que a sociedade moderna deve resolver. A ciência e a tecnologia são os factores mais dinâmicos da sociedade actual, mas os seus limites intrínsecos não as tornam capazes, por si sós, de oferecer uma força que seja garantia da unidade da cultura. Como pode, então, uma cultura assumir em si a ciência e a tecnologia, com todo o seu dinamismo, sem perder a própria identidade?

Três tentações devem ser evitadas a este respeito. A primeira é a tentação de buscar o desenvolvimento tecnológico como fim em si mesmo, como tipo de desenvolvimento que tem, por única norma, a do seu próprio crescimento e afirmação, como realidade autónoma entre a natureza e a realidade propriamente humana, realidade que impõe ao homem a inevitável realização das suas sempre novas possibilidades, como se houvesse de ser sempre feito o que é tecnicamente possível. A segunda tentação é a de sujeitar o desenvolvimento tecnológico à utilidade económica em conformidade com a lógica do lucro ou da expansão económica sem fim, criando desta forma vantagem para alguns e deixando outros na pobreza, sem preocupar-se com o verdadeiro bem comum da humanidade, fazendo da tecnologia um instrumento ao serviço da ideologia do "ter". Em terceiro lugar, existe ainda a tentação de sujeitar o desenvolvimento tecnológico à aquisição ou à manutenção do poder, como sucede quando é usado para fins militares, e em todos os lugares onde se manipulam os povos para ser possível dominá-los,

10. Como homens e mulheres dedicados à cultura, gozais de imensa credibilidade moral, porque intervindes em todos os centros decisórios, particulares ou públicos, que são capazes de influenciar as políticas do futuro. Usando todos os meios honestos e eficazes, assegurai-vos de que prevaleçam uma visão total do homem e uma generosa ideia da cultura. Formulai argumentações que convençam, de maneira que seja cada um levado a compreender que a paz e a sobrevivência da raça humana, doravante, está ligada indissoluvelmente ao progresso, ao desenvolvimento e à dignidade de todos.Só sereis bem sucedidos na vossa missão se insistirdes com convicção no conceito de que "a ciência e a tecnologia encontram a sua justificação no serviço que prestam ao homem e à humanidade"; e de que a ciência racional deve ligar-se com uma série de campos do conhecimento largamente abertos aos valores espirituais. Apelo vivamente para os homens de ciência, para os centros de pesquisa e para as universidades, a fim de que estudem mais a fundo os problemas éticos da sociedade tecnológica, assunto que já está chamando a atenção de bom número de pensadores modernos. É um problema estreitamente ligado ao da justa participação dos recursos, do uso de técnicas para fins pacíficos e do desenvolvimento das nações.

11. A construção de uma nova ordem social pressupõe, além e acima das essenciais capacidades tecnológicas, uma elevada inspiração, uma corajosa motivação, uma fé no futuro do homem, na sua dignidade e no seu destino. É ao coração e ao espírito do homem que se deve chegar, para além das divisões provocadas por interesses individuais, por egoísmos e por ideologias. Numa palavra, deve-se amar o homem por ele mesmo. Este é o valor supremo que procuram promover todos os humanistas sinceros, os pensadores generosos e todas as grandes religiões. O amor pelo homem, enquanto tal, está no centro da mensagem de Jesus Cristo e da sua Igreja: este relacionamento é indissolúvel. No meu discurso à UNESCO, reafirmei com força o laço fundamental entre o Evangelho e o homem na sua própria humanidade: "Este laço é, com efeito, gerador de cultura no seu fundamento mesmo... É preciso afirmar o homem por ele mesmo... Mais ainda, é preciso amar o homem porque é homem, é preciso reivindicar o amor pelo homem em razão da dignidade particular que ele possui. O conjunto das afirmações relativas ao homem pertence à substância mesma, da mensagem de Cristo e da missão da Igreja" (n. 10).

Todos os que desejam verdadeiramente a defesa e o progresso do homem devem, por isso mesmo, amar o homem por ele mesmo; e por isso é essencial valorizar os valores do espírito, os únicos capazes de transformar os corações e as atitudes profundamente radicadas. Todos nós, que trazemos no coração o tesouro de uma fé religiosa, devemos tomar parte no trabalho comum para o desenvolvimento do homem, e devemos fazê-lo com clareza de visão e com coragem. Todos os cristãos, todos os que reconhecem a Deus, todas as famílias espirituais devem ser convidados a unirem-se num esforço comum para encorajar, espiritual e culturalmente, todos aqueles homens e mulheres que se dedicam ao crescimento total do homem.

12. Neste País, não se podem deixar de recordar as grandes tradições espirituais e religiosas da Ásia, tradições que tanto enriqueceram a herança universal do homem. Nem se poderia deixar de fazer votos por um diálogo mais intenso e por uma colaboração eficaz entre aqueles que crêem na vocação espiritual do homem, na sua busca do Absoluto, da justiça, da fraternidade, e, como nos exprimimos nós na nossa fé, na sua sede de redenção e de imortalidade. A ciência racional e o conhecimento religioso do homem necessitam de encontrar-se em união. Vós que vos dedicais às ciências, não sois convidados a estudar o laço que é necessário estabelecer entre o conhecimento científico e tecnológico e a consciência moral do homem? Ciência e virtude foram cultivadas juntas pelos antigos, no Oriente e no Ocidente. Ainda hoje, bem o sei, muitos estudiosos, mesmo se nem todos professam uma religião particular, buscam uma integração entre a sua ciência e o seu desejo de servir o homem na sua integridade. Constróem uma grande família espiritual, através da sua honestidade intelectual, do seu interesse pelo que é verdadeiro, da sua autodisciplina como estudiosos, e da sua objectividade e respeito diante dos mistérios do universo. Todos aqueles, que generosamente aplicam os seus conhecimentos ao progresso dos povos e todos aqueles, que têm fé na vocação espiritual do homem, são convidados a desempenhar uma tarefa comum: constituir uma verdadeira ciência para o desenvolvimento integral do homem.

13. Numa palavra, creio que a nossa geração se encontra a enfrentar um grande desafio moral: consiste em harmonizar os valores da ciência e os valores da consciência. Falando à UNESCO no dia 2 de Junho de 1980, lancei um apelo que vos proponho novamente hoje: "Ao homem, que tomou consciência da situação, ... impõe-se uma convicção, que é, ao mesmo tempo, um imperativo moral: é preciso mobilizar as consciências! É preciso aumentar os esforços das consciências humanas na medida da tensão entre o bem e o mal, a que são submetidos os homens no final do século XX. É preciso convencermo-nos da prioridade da ética sobre a técnica, do primado da pessoa sobre as coisas, da superioridade do espírito sobre a matéria (cf. Redemptor Hominis RH 16). A causa do homem será servida se a ciência se aliar à consciência. O homem de ciência ajudará verdadeiramente a humanidade se conservar "o sentido da transcendência do homem sobre o mundo e de Deus sobre o homem" (Discurso à Pontifícia Academia das Ciências, 10 de Novembro de 1979, n. 4).

Senhoras e Senhores, a vós compete aceitar este nobre desafio.





Discursos João Paulo II 1981 - Nagasaqui, 26 de Fevereiro de 1981