Discursos João Paulo II 1981 - Hiroxima, 25 de Fevereiro de 1981


VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

DURANTE A VISITA


AO «PEACE MEMORIAL» DE HIROXIMA


Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 1981



A guerra é obra do homem. A guerra é a destruição da vida humana. A guerra é morte.

Em nenhum lugar estas verdades se impõem com tanto vigor como nesta cidade de Hiroxima, junto deste Monumento à Paz. Duas cidades terão para sempre unidos os seus nomes, duas cidades japonesas, Hiroxima e Nagasáqui, como as únicas cidades do mundo que tiveram a desventura de ser um memorial de como o homem é capaz de uma destruição incrível. Os seus nomes distinguir-se-ão sempre como os nomes das únicas cidades do nosso tempo que foram escolhidas para prevenir as gerações de que a guerra pode destruir os esforços humanos destinados a criar um mundo de paz.

Senhor Presidente da Câmara

Queridos amigos aqui presentes, todos vós que estais a ouvir a minha voz e aos quais chegará a minha mensagem.

1. É com profunda emoção que vim hoje aqui como peregrino de paz. Desejai fazer esta visita ao Monumento à Paz de Hiroxima com a profunda convicção pessoal de que recordar o passado é comprometer-se para o futuro.

Consideremos juntos aquilo que é uma das tristes empresas da humanidade, isto é, que em toda a superfície terrestre os nomes de muitos — muitíssimos — lugares são recordados sobretudo porque testemunharam o horror e o sofrimento causados pela guerra: os monumentos às vítimas de guerra que, por um lado recordam a vitória, mas por outro também recordam o sofrimento e a morte de numerosos seres humanos; os cemitérios onde repousam aqueles que sacrificaram a sua vida ao serviço do próprio País ou de uma nobre causa, e os cemitérios onde jazem as inocentes vítimas civis da fúria destruidora da guerra; os restos dos campos de concentração ou de extermínio em que o desprezo pelo homem e pelos seus direitos invioláveis tinha atingido a sua expressão mais indigna e cruel; os campos de batalha em que a natureza cicatrizou misericordiosamente as feridas da terra, sem todavia conseguir apagar da história humana do passado o ódio e a inimizade. Hiroxima e Nagasaqui distinguem-se de todos os outros lugares e monumentos como as primeiras vítimas da guerra nuclear.

Inclino a cabeça quando recordo os milhares de homens, mulheres e crianças que perderam a vida num momento terrível, e aqueles que por longos anos trouxeram no corpo e na mente os germes de morte que inexoravelmente continuaram o seu processo de destruição. O balanço definitivo do sofrimento humano iniciado aqui, ainda não foi completamente redigido, nem ainda calculado o completo custo humano pago, sobretudo se considerarmos o que a guerra nuclear provocou — e poderá ainda provocar — nas nossas ideias, nas nossas atitudes e na nossa civilização.

2. Recordar o passado é comprometer-se pelo futuro. Não posso deixar de prestar honras e apreço à sapiente decisão das autoridades desta cidade, segundo a qual o monumento em memória do primeiro bombardeamento nuclear seria um monumento à paz. Procedendo deste modo, a cidade de Hiroxima e todo o Povo do Japão manifestaram vigorosamente a sua esperança por um mundo de paz e a sua convicção de que o homem que faz a guerra é capaz também de construir, com êxito, a paz. Desta Cidade, e do acontecimento que o seu nome recorda foi-se originando uma consciência mundial contra a guerra e uma renovada determinação para agir em favor da paz.

Algumas pessoas, até mesmo entre aquelas que viveram na época dos acontecimentos que hoje recordamos, poderiam preferir não recordar o horror da guerra nuclear e as suas terríveis consequências. Aqueles que nunca experimentaram pessoalmente a realidade de um conflito armado entre nações, certamente prefeririam renunciar à própria possibilidade de uma guerra nuclear. Outros poderiam querer tomar em consideração a capacidade nuclear como meio inevitável para manter um equilíbrio do poder através de um equilíbrio do terror. Não há porém justificação alguma para não levantar o problema da responsabilidade de cada nação e de cada indivíduo perante a eventualidade de guerras e a ameaça nuclear.

3. Recordar o passado é comprometer-se pelo futuro. Reevoco perante todos vós a recordação do dia 6 de Agosto de 1945 para podermos compreender melhor o significado do desafio de hoje. Desde aquele dia fatal, os arsenais nucleares aumentaram em quantidade e poder destruidor. Os armamentos nucleares continuam a ser construídos, provados e instalados. É impossível prever as consequências totais de uma guerra nuclear em vasta escala; mas mesmo que só fosse utilizada uma parte das armas disponíveis, devemos perguntar-nos se somos verdadeiramente conscientes da sua inevitável proliferação e se a completa destruição da humanidade não será uma possível realidade. Desejo por isso repetir aqui o que disse durante a Assembleia Geral das Nações Unidas: "Os contínuos preparativos para a guerra, de que é prova a produção das armas cada vez em maior número, mais potentes e mais insidiosas, em vários países, estão a testemunhar que se quer estar prestes para a guerra e estar prestes quer dizer também correr o risco de que em qualquer momento, em qualquer parte e de qualquer maneira, alguém possa pôr em movimento o terrível mecanismo de destruição geral" (n. 10).

4. Recordar o passado é comprometer-se pelo futuro. Recordar Hiroxima é abominar a guerra nuclear. Recordar Hiroxima é assumir um compromisso pela paz. Recordar tudo aquilo que sofreram os habitantes desta cidade é renovar a nossa confiança no homem, na sua capacidade de fazer o que é bem, na sua liberdade de escolher o que é justo, na sua vontade decidida para transformar uma situação trágica num começar de novo. Perante a calamidade desencadeada pelo homem, que é constituída por toda e qualquer guerra, deve-se afirmar e reafirmar, com insistência, que o recurso à guerra não é uma necessidade inevitável nem uma necessidade imutável. A humanidade não está destinada à autodestruição. Os conflitos entre ideologias, aspirações e reais necessidades podem e devem ser resolvidos e compostos com adequadas medidas, diversas da guerra e da violência. À humanidade incumbe o dever, em relação a si própria, de aplanar as diferenças e os conflitos com meios pacíficos. A vasta gama dos problemas que se apresentam a muitos povos, os quais se acham em fases diversas de desenvolvimento cultural, social, económico e político dá origem a tensões e conflitos internacionais. É de vital importância, para a mesma humanidade, que tais problemas sejam resolvidos de harmonia com os princípios éticos da equidade e da justiça, garantidos por pactos e instituições significativos de vasto alcance. Assim, a comunidade internacional deveria arranjar para si mesma um sistema de normas jurídicas que, à semelhança daquele direito que assegura a ordem no âmbito nacional, regulamentasse as relações internacionais e mantivesse a paz.

5. Todos aqueles que amam a vida sobre a terra devem exortar os governos e os que tomam as decisões em campo económico e social a agirem de harmonia com as exigências de paz, em vez de se fecharem num obtuso interesse egoísta. A paz deve ser sempre a meta: a paz perseguida e defendida em todas as circunstâncias. Não repitamos o passado, um passado de violência e de destruição. Penetremos na íngreme e difícil senda da paz, a única senda que se adapta à dignidade humana, a única que conduz para a verdadeira realização do destino do homem, a única que orienta para um futuro, em que a equidade, a justiça e a solidariedade são realidades e não apenas sonhos longínquos.

6. E por conseguinte, neste lugar, onde há 35 anos a vida de tantas pessoas se apagava num fulgor de fogo, desejo dirigir um apelo a todo o mundo em nome da vida, da humanidade, do futuro.

Aos Chefes de Estado e de Governo, àqueles que detêm o poder político e económico digo: empenhemo-nos pela paz na justiça; tomemos agora uma solene decisão, que a guerra não seja nunca mais tolerada e considerada como meio para resolver as divergências; prometamos aos nossos semelhantes que nos dedicaremos infatigavelmente ao desarmamento e à abolição de todas as armas nucleares; substituamos a violência e o ódio pela confiança e o interesse.

A cada homem e a cada mulher deste País e do mundo, digo: assumamos a responsabilidade dos outros e do futuro sem limitações de fronteiras nem distinções sociais; ensinemos a nós próprios e aos outros os caminhos da paz; nunca mais a humanidade se torne vítima de lutas entre sistemas rivais; nunca mais haja outra guerra.

Aos jovens de todo o mundo, digo: criemos juntos um novo futuro de fraternidade e solidariedade; mova-nos ao encontro dos nossos irmãos e irmãs necessitados, saciemos a fome, ofereçamos um abrigo aos sem-tecto, libertemos os oprimidos, levemos a justiça onde se ouve somente a voz das armas. Os vossos corações jovens têm uma extraordinária capacidade de bem e de amor: ponde-vos ao serviço dos vossos semelhantes.

A cada um repito as palavras do Profeta: "Das suas espadas forjarão relhas de arados, e das suas lanças, foices. Uma nação não levantará a espada contra outra nação, e não se adestrarão mais para a guerra" (Is 2,4).

Àqueles que crêem em Deus, digo: sintamo-nos fortes na Sua força que supera infinitamente a nossa; mantenhamo-nos unidos, sabendo que Ele nos chama à unidade; tornemo-nos conscientes dó facto que não são ideais afastados o amor e a participação, mas o caminho para revigorar a paz — a paz de Deus.

E ao Criador da natureza e do homem, da verdade e da beleza, elevo uma oração:

Escuta a minha voz porque é a voz das vítimas de todas as guerras e da violência entre os indivíduos e as nações;

Escuta a minha voz, porque é a voz de todas as crianças que sofrem e sofrerão todas as vezes que os povos depuserem a sua confiança nas armas e na guerra;

Escuta a minha voz, quando Te peço para infundir nos corações de todos os seres humanos a prudência da paz, a força da justiça e a alegria da amizade;

Escuta a minha voz, porque falo pelas multidões de todos os Países e de todos os períodos da história que não querem a guerra e estão prontas a percorrer o caminho da paz;

Escuta a minha voz e dá-nos a capacidade e a força para podermos responder sempre ao ódio com o amor, à injustiça com uma dedicação total à justiça, à necessidade com a nossa própria participação, à guerra com a paz.

Ó Deus, escuta a minha voz e concede ao mundo para sempre a Tua paz.





VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO CORPO DIPLOMÁTICO


ACREDITADO JUNTO AO GOVERNO DO JAPÃO


Nunciatura de Tóquio

Terça-feira, 24 de Fevereiro de 1981



Excelências,
Senhoras e Senhores

1. No decorrer da minha visita pastoral ao Oriente asiático e às comunidades católicas das Filipinas, Guam e Japão, sinto-me feliz e honrado por ter a ocasião de encontrar-me com o Corpo Diplomático acreditado junto do Governo do Japão, nesta cidade de Tóquio.

A minha visita, como já tive ocasião de salientar durante esta viagem, é de natureza religiosa. Venho para trazer às comunidades católicas o fraterno apoio da Igreja que está em Roma e em todo o mundo. Venho também para estar com o povo de uma terra que tem a peculiaridade de ser o berço de antigas culturas e religiões. Além de ser Sucessor do Apóstolo Pedro na sede de Roma, sou igualmente herdeiro da tradição de outro Apóstolo, Paulo, que tendo recebido a fé em Jesus Cristo foi a diversas partes do mundo, então conhecido, para testemunhar aquilo em que acreditava e difundir uma palavra de fraternidade, amor e esperança para todos.

2. A vossa presença aqui, hoje, demonstra que compreendeis a minha missão e também a actividade da Igreja católica e da Santa Sé, nas diferentes partes do mundo. Em virtude da sua missão, de natureza religiosa e dimensão universal, a Santa Sé esforça-se constantemente por promover e manter um clima de recíproca confiança e de diálogo com todas as forças vivas da sociedade e, portanto, com as autoridades que receberam do povo o mandato de promover o bem comum. A Igreja católica, no respeito da sua missão evangélica, deseja colocar-se ao serviço de toda a humanidade, da sociedade actual, tão frequentemente ameaçada ou atacada. Por isso ela se esforça por manter amistosas relações com todas as autoridades civis e também, se as desejarem, relações a nível diplomático. Assim, em base do respeito e do recíproco entendimento, estabelece-se uma colaboração de serviço para o progresso da humanidade.

A Igreja e o Estado — cada um na própria esfera, espiritual ou temporal, com os seus meios específicos, sem renunciar à sua missão característica ou alterar o seu especial dever — realizam os seus esforços para prestar esse serviço à humanidade a fim de promover aquela justiça e aquela paz a que aspira toda a humanidade.

Desejo aqui render homenagem às cordiais relações mantidas pelo Governo do Japão com a Santa Sé, concretizadas pela presença do Embaixador junto da Santa Sé e do Representante pontifício em Tóquio. Este último tem especial missão entre os expoentes da comunidade católica deste País mas, como todos vós, também ele tem o dever de promover um espírito de compreensão e colaboração em campo internacional.

3. Senhoras e Senhores, na capital desta nação foi-vos confiada uma missão que toma o seu significado e inspiração dos ideais de paz e de fraterna colaboração. Estais todos plenamente conscientes do vosso dever. Ele é sem dúvida importante; em muitas circunstâncias, difícil; mas sempre compensador, porque é ao mesmo tempo uma escola para recíproca compreensão e um campo de prova para os problemas mundiais.

A base para toda a frutuosa actividade, empreendida no promover as relações de paz entre as nações, é de facto a capacidade de avaliar correcta e compreensivamente as recíprocas qualidades específicas. O Japão oferece evidentemente uma autêntica escola de compreensão porque é singular na sua história, na sua cultura e nos seus valores espirituais. Durante muitos séculos a sociedade japonesa honrou constantemente as próprias tradições, mantendo justo apreço pelos assuntos espirituais. Expressou-as nos seus torii e templos, nas artes, na literatura, no teatro e na música, preservando ao mesmo tempo, mesmo em fase de crescente desenvolvimento económico e industrial, as suas características peculiares. Como diplomatas, assistis e às vezes participais nos eventos que assinalam a história e a vida do povo japonês e, em particular, a sua cultura, tornando-vos capazes de compreender mais profundamente as diferenças formadoras do carácter e do espírito de cada nação e povo. De facto, como disse no mês passado no meu discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé: "A cultura é a vida do espírito; é a chave que abre a porta aos mais íntimos e mais zelosamente guardados segredos da vida; é a expressão fundamental e unificante da sua existência" (Discurso de 12 de Janeiro de 1981, n. 6). Assim como é necessário estar profundamente enraizado na própria cultura a fim de compreender os valores e o espírito da própria nação, também é preciso considerar com imparcialidade as manifestações da vida cultural de outros povos, a fim de entender as aspirações, as exigências e as realizações daqueles com os quais se dialoga e colabora.

4. Há um segundo aspecto da vossa função diplomática. Sois chamados a ser instrumentos — ou melhor, a estar exactamente na vanguarda, — para construir uma nova ordem de relações no mundo. E isto porque cada povo, que se distingue dos outros pelas próprias tradições culturais e realizações, pode oferecer particular e insubstituível contributo a todos os outros. Sem abandonar os próprios valores, as nações podem agir em conjunto e edificar uma autêntica comunidade internacional, caracterizada pela responsabilidade comunitária para com o bem universal. Mais do que nunca, a situação mundial exige hoje que essa responsabilidade comunitária seja assumida num verdadeiro espírito universal. Cada uma das comunidades diplomáticas torna-se um campo de prova para os problemas mundiais. Nos contactos pessoais que tendes diariamente com os vossos colegas, nos vossos encontros oficiais com os governos e as sedes junto das quais estais acreditados, na obra empreendida para conhecer e compreender a cultura local, ao participardes activamente na vida da comunidade que vos hospeda, manifestareis aquelas atitudes de respeito e de apreço tão necessárias para instaurar relações fraternas entre as nações do mundo.

5. Muitos de vós têm já acumulado notável experiência nas relações e intercâmbios culturais, adquirida nos anos de serviço ao próprio País em diferentes partes do mundo. É minha esperança que a vossa missão aqui no Japão vos ajude a descobrir e compreender mais a fundo, além do contexto japonês, a rica realidade de toda a Ásia e de todos os povos asiáticos. A Ásia tem que desempenhar especial papel na constituição e no refortalecimento da comunidade das nações. Muitos problemas de alcance universal estão por ser resolvidos, e a Ásia deve participar em todas as iniciativas orientadas para este fim. Desejo transmitir-vos a minha convicção de que os problemas mundiais não serão resolvidos a não ser que cada continente e nação assumam o seu justo papel e ofereçam o seu específico contributo. As nações da Ásia devem assumir o papel que lhes compete, precisamente em razão das suas culturas seculares, da experiência religiosa, do seu dinamismo e da sua pacífica industrialização. O continente e os arquipélagos da Ásia de facto não estão privados de problemas (e que nação no mundo pode afirmar ter resolvido todos os problemas do seu povo?), mas não há empreendimento maior para um povo do que dividir os próprios bens com os outros, enquanto, ao mesmo tempo, tenta encontrar as definitivas soluções dos próprios problemas.

6. Hoje, chegámos a um ponto da história em que se tornou económica e tecnicamente possível aliviar os piores aspectos da extrema pobreza que aflige tantos dos nossos semelhantes. Os tipos de pobreza são muitos: desnutrição e fome, analfabetismo e falta de instrução de base, doenças crónicas e elevada mortalidade infantil, falta de ocupação adequada e de habitações idóneas. Os obstáculos à superação destes problemas não são mais sobretudo económicos e técnicos, como no passado, mas devem ser procurados nas esferas das convicções e instituições.

Não é talvez a falta de determinação política — a nível tanto nacional como internacional — o primeiro obstáculo à eliminação total das mais graves formas de sofrimento e de miséria? Não é a falta de fortes convicções individuais e colectivas que impede os pobres de participarem de maneira mais completa e justa no próprio desenvolvimento? As actuais dificuldades económicas, que de vários modos e graus estão a afligir todas as nações, não devem tornar-se um pretexto para ceder à tentação de fazer pesar sobre os pobres a solução dos problemas dos ricos, permitindo-se um nível de vida abaixo das mínimas exigências humanas. Embora subsistam fortes motivos para eliminar esta aviltante pobreza, sobretudo no mundo em vias de desenvolvimento, não hesito afirmar que a "arma fundamental capaz de vencer a pobreza é de ordem moral". É sinal de uma comunidade sadia — seja ela a família, a nação ou a própria comunidade internacional — o reconhecimento do imperativo moral da recíproca solidariedade, da justiça e do amor. A generosidade e o sentido de lealdade, já actuantes em muitas iniciativas e programas internacionais, devem ser ulteriormente reforçados por maior consciência da dimensão ética. O público e os governos deverão convencer-se sempre mais do facto que ninguém pode permanecer ocioso enquanto houver alguém que sofra e tenha necessidade. A Santa Sé não cessará jamais de levantar a sua voz e de empenhar todo o peso da sua autoridade moral, a fim de incrementar a consciência de todos a respeito disto.

7. Depois, durante esta minha breve permanência no Japão, terei ocasião de falar sobre o preponderante problema da paz internacional e de encorajar a comunidade internacional a intensificar os próprios esforços em favor de relações pacíficas entre as nações. Neste momento, seja-me consentido realçar que os esforços pela paz não podem estar separados da busca de uma sociedade justa e de um efectivo desenvolvimento de todas as nações e de todos os povos. Justiça e desenvolvimento caminham juntamente com a paz. São partes essenciais da nova ordem mundial ainda a ser edificada. São a via que conduz para um futuro de felicidade e de dignidade humana.

Senhoras e Senhores, esplêndida é a vossa missão: ser os mensageiros da universalidade, os edificadores de paz entre as nações, os promotores de um mundo novo e justo. Oxalá cada um de vós, com os respectivos governos, como também nos encontros e nas instituições internacionais seja advogado dos povos e das nações menos privilegiadas! O ideal de fraternidade humana, no qual todos nós cremos tão firmemente, exige isto! E assim agindo, conseguireis servir realmente o vosso País e todo o bem da humanidade.

Oxalá a paz e a justiça de Deus Todo-Poderoso estejam sempre nos vossos corações! Que a Sua bênção desça sobre vós, sobre as vossas famílias, sobre as vossas nações e sobre todos os vossos assíduos esforços ao serviço da humanidade!





VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DIÁLOGO DO PAPA JOÃO PAULO II

DURANTE O ENCONTRO


COM OS JOVENS JAPONESES (*)


Tóquio, 24 de Fevereiro de 1981



Caros jovens, meus irmãos

Depois daquilo que disse no início na vossa língua, desejo de novo agradecer-vos (faço-o desta vez com a ajuda do intérprete) toda a vossa preparação para o encontro de hoje. Agradeço-vos e aos vossos Pastores, de modo particular ao Bispo Hamao, que se ocupou dos preparativos. Predispondo-vos para este encontro, pensastes que perguntas podíeis propor Àquele que viria da longínqua Roma e, pela primeira vez na história, visitaria a vossa Pátria. Tive a oportunidade de apreciar toda a riqueza de pensamento, encerrada em tais perguntas. E agora, em conformidade com o programa do nosso encontro, desejo responder às que serão aqui apresentadas publicamente.

A esperança

1. Ora pois: Perguntais-me, primeiro de tudo, porque falei agora em japonês. Fi-lo, e pretendo continuar a fazê-lo nalgumas circunstâncias, para manifestar o meu respeito pela vossa cultura que, assim como a cultura de qualquer nação, se exprime, além de por outros modos (melhor, antes de tudo), na língua. A língua é uma forma que nós damos aos nossos pensamentos, é quase um vestuário no qual encerramos estes pensamentos. Na língua encerra-se um particular traço da identidade de um povo e de uma nação. E, em certo sentido, nela bate o coração da nação, porque na língua, na própria língua, se exprime aquilo de que vive a alma humana na comunidade de uma família, da nação e da história.

Penso, de tal modo, nestes problemas com base nas experiências ligadas com a minha língua nativa e com a vida da minha nação. (Aqui posso ainda acrescentar que, antes de descobrir em mim a vocação sacerdotal, comecei a estudar a Filosofia e as Letras da minha pátria, o que muito aprofundou as minhas relações com o tema que vós levantastes).

Por fim, ainda uma coisa: Cristo, despedindo-se dos Apóstolos no fim da Sua actividade terrena, disse-lhes: "Ide... ensinai todas as gerações..." (Mt 28,19). Para poder fazê-lo é necessário conhecer a língua da nação a que nos dirigimos. Tive pouquíssimo tempo para aprender a fundo a vossa interessante língua, a começar pela misteriosa escrita. Com a ajuda do Padre Fidelis, franciscano, pude todavia chegar ao ponto de conseguir pelo menos ler, compreendendo-os um pouco, alguns textos japoneses em transcrição, em particular os da Santa Missa. Agradeço-vos que tenhais aceitado com indulgência o resultado do esforço...

2. Para conseguir pôr em prática este plano "linguístico", tive de deixar-me guiar pelo pensamento de que viria a alcançar o que pretendia, de que chegaria (ao menos em parte) ao objectivo que me tinha proposto. Tive de cultivar certa esperança...

E agora passo à vossa segunda pergunta, que me parece a mais importante: a pergunta sobre a esperança. Pergunta muito importante, mesmo fundamental quando se trata da vida humana. O homem, em certo sentido, não pode viver sem esperança. Deve aspirar a alguma coisa, deve ter na vida uma finalidade — e a sensação de poder atingi-la. A esperança, como justamente notastes, está relacionada com o futuro. Mas contemporaneamente determina o estado da nossa alma no presente. Temos agora a esperança daquilo que mais tarde conseguiremos.

Além disso, a esperança está sempre ligada com certo valor, que devemos atingir. Poderia dizer doutra maneira: com um valor que desejamos imprimir na nossa vida. E, por isso, na esperança exprime-se a fundamental percepção do sentido da nossa vida.

Esta percepção do sentido da vida não depende essencialmente daquilo que temos, mas de tomar clara consciência dos valores da nossa humanidade; da nossa dignidade humana.

Lendo o material que me enviastes, notei, por um lado, uma informação amarga a respeito dos suicídios dos adolescentes e, por outro, o edificante testemunho de um jovem deficiente, que tem a profunda percepção do significado da sua vida.

Vós sabeis que venho aqui em nome de Cristo. Sim, desejo dizer-vos que precisamente Cristo é o Mestre e o educador da esperança. E é a fonte dela. Escutando as Suas palavras, vivendo a Vida que Ele quer partilhar com cada homem, encontra-se o sentido mais pleno da vida.

Sim, Cristo desvela-nos até ao fundo o sentido da vida humana. Ele mostra também o futuro definitivo dela em Deus. Este futuro ultrapassa o limite da vida humana na terra. A esperança que nos dá Cristo é mais forte que a morte.

3. Fazeis-me uma pergunta sobre o desporto. Alegro-me muito com esta pergunta a que posso responder baseado nas minhas experiências pessoais. Dei sempre (e continuo a dar) grande importância ao antigo princípio: "Mens sana in corpore sano".

O esforço físico, particularmente o desportivo, deve servir para isto. Um motivo suplementar, mas muito importante quando se tratava de empreender este esforço (nas diversas formas), foi para mim sempre o amor para com a natureza: para com os lagos, os bosques e as montanhas, quer no verão, quer nas outras estações, e em particular no inverno, quando é preciso praticar o turismo servindo-nos dos esquis.

Penso que a tal propósito teríamos, vós e eu, não pouco para contar, porque sei que também vós amais muito a natureza, e procurais ler nela, como num esplêndido livro cheio de mistérios.

O amor

4. A primeira das perguntas, que me é apresentada nesta parte do nosso colóquio é muito importante.

É sabido que o Evangelho, o ensinamento de Cristo, proclama o amor como o mandamento maior. "Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente... Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22,37 Mt 22,39). São estes os dois mandamentos, que se unem um ao outro e se condicionam reciprocamente. Segundo o ensinamento e o exemplo de Cristo, devemos amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo à medida do homem. Ao mesmo tempo, na carta de São João lemos: "Quem não ama o seu irmão, ao qual vê, como pode amar a Deus que não vê?" (1Jn 4,20). Portanto, o amor de Deus realiza-se e, em certo sentido, encontra a sua verificação no amor do homem, do próximo, que devemos amar como a nós mesmos. E o próximo é cada homem sem excepção; por isso, fala Cristo também do amor dos inimigos. Diz assim: "Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai por aqueles que vos caluniam" (Lc 6,27-28). Por outro lado, Ele mesmo deu o exemplo de tal amor quando, durante a crucifixão, pediu por aqueles que lhe davam a morte.

Neste ponto, surge a vossa pergunta: como é possível que o homem ame, quando se sente odiado, e para mais quando ele mesmo sente ter em si ódio ou pelo menos má disposição, digamos antipatia, para com algumas pessoas?

Efectivamente, do ponto de vista dos nossos sentimentos há aqui uma dificuldade, mais, "uma contradição": quando "sinto" aversão ou ódio, como posso ao mesmo tempo "sentir" amor?

Todavia o amor não se reduz só àquilo que sentimos. Tem no homem raízes ainda mais profundas, que se encontram no próprio eu espiritual, na sua inteligência e na sua vontade. Querendo cumprir o mandamento do amor (em particular quando se trata do amor dos inimigos), devemos de novo subir precisamente àquelas raízes profundas. Em consequência disso, o amor torna-se talvez "mais difícil", mas torna-se também "maior". No amor deixamo-nos guiar não só pela reacção dos sentimentos, mas pela consideração do verdadeiro bem. E deste modo aprendemos a guiar os nossos sentimentos, educamo-los. Isto requer paciência e perseverança. Cristo disse uma vez: "In patienta vestra possidebitis animas vestras" (Lc 21,10 Vulg.). Pois bem, amar verdadeira e plenamente só o sabe aquele que é capaz de "possuir" a sua alma, possuir a si mesmo: possuir para se tornar "dom aos outros". Tudo isto nos ensina Cristo não só com a Sua palavra, mas também com o seu exemplo.

5. Agora mais brevemente responderei às perguntas seguintes. O facto de os homens serem irmãos, quer dizer primeiramente que, não obstante tudo o que os divide — raça, língua, nacionalidade e religião —, eles se assemelham todavia. Cada um é homem e são homens todos.

Contudo é necessário completar este primeiro significado com o segundo. Chamamos irmãos àqueles que são filhos dos mesmos pais, do mesmo homem e da mesma mulher. São irmãos, segundo o ensinamento de Cristo (e também segundo o sentimento religioso mais comum) porque Deus é o Pai deles. Cristo coloca esta verdade, sobre a paternidade de Deus, no centro do Seu Evangelho. Quando os discípulos Lhe pedem que lhes ensine a orar, Ele ensina uma oração que principia com as palavras:

"Pai Nosso... " (Mt 6,9). Esta oração ajuda-nos muito no que diz respeito ao amor do próximo e de modo especial ao amor dos homens malévolos a nosso respeito. Dizemos nesta, em particular: Pai, "perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido" (Mt 6,12).

(Talvez no fim deste encontro rezemos esta oração).

6. Fizestes também perguntas sobre a música. Eu não sei tocar nenhum instrumento. Não me dediquei nunca activamente a este campo da arte. Vivo, pelo contrário, muito profundamente a beleza da música — e apraz-me muito cantar. Muitas horas (sobretudo das férias) passei-as cantando em companhia de jovens. E também agora, durante o período das férias, vêm a Castel Gandolfo vários grupos de jovens e cantam. Alimento a esperança de que também vós um dia queirais vir... sabendo embora que há grande distância!

Pelo que diz respeito à música, parece-me sentir, de modo particularmente profundo, a beleza da música litúrgica (o gregoriano!), mas gosto também da música contemporânea: Gerhswin, por exemplo, Armstrong, Talei Rentaro, Toshiro Mayuzumi e outros. Naturalmente estou perto de Chopin ou Szymanowski (sei que uma das primeiras classificadas, no X Concurso Internacional da música de Chopin em Varsóvia, foi a vossa compatriota Akiko Ebi), mas estou perto também de Beethoven, Bach e Mozart, mesmo nas magistrais interpretações dos vossos Seiyi Ozawa e Jwaki Hirojuki.

A paz

7. Dado que o nosso tempo é limitado, perdoar-me-eis se, nesta série de perguntas — muito importantes —, procurar ser conciso nas respostas. Tanto mais que, sobre o tema da paz, tenho a oportunidade de pronunciar-me noutras circunstâncias significativas. Um dos motivos da minha vinda ao Japão foi também o de parar em Hiroxima, no ponto da explosão da primeira bomba atómica, que encerra para a humanidade terrível advertência. Lendo o material por vós expedido, notei que vos agita muito profundamente o problema da paz — da verdadeira paz —, o que é justo e compreensível depois das experiências de 1945. Notais, nestas vossas enunciações, que a paz não pode apoiar-se unicamente no "equilíbrio dos armamentos", que ela não pode supor a prevalência dos fortes sobre os débeis, que não pode caminhar a igual passo com nenhum imperialismo...

A Igreja pensa do mesmo modo e ensina do mesmo modo. Demonstraram-no o Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII na Encíclica Pacem in terris, e Paulo VI em toda a sua incansável actividade em favor da paz, publicando além disso cada ano, para o dia 1 de Janeiro, uma especial mensagem em favor da paz. Eu procuro continuar esta actividade:

Eis os temas das minhas mensagens da paz:

em 1979: "Para alcançar a paz, educar para a paz";

em 1980: "A verdade, força da paz";

em 1981: "Para servir a paz, respeita a liberdade".

Devem construir a paz sobretudo aqueles que são responsáveis pelas decisões internacionais. Todavia estes devem ter presente — e a Igreja procura constantemente recordá-lo — que "paz" significa, em primeiro lugar, verdadeira ordem nas relações entre os homens e entre as nações. Portanto, a construção da paz, a nascer dos fundamentos, deve significar o reconhecimento e o consequente respeito de todos os direitos do homem (quer dos que dizem respeito à parte material como também aos que interessam a parte espiritual da sua existência terrena) e o respeito dos direitos de todas as Nações, sem excepção: quer grandes quer pequenas. A paz não pode existir se os grandes e os poderosos violam os direitos dos débeis. Falei deste tema muitas vezes: diante da ONU, diante da UNESCO. Desejo repeti-lo também no Japão. Se o programa da paz no mundo se exprime na fórmula "nada mais de Hiroxima", então certamente se exprime também na fórmula "nada mais de Oswiecins".

8. Assim pois o esforço, que tende para construir a paz no mundo, deve realizar-se a vários níveis. A paz não significa uma estase (como parecem exprimir algumas opiniões vossas; significa esforço, esforço enorme, em que tem cada um a própria parte.

É preciso formar a consciência e o sentido da responsabilidade. É preciso sermos solidários com aqueles cujos direitos são violados. É preciso "ver — julgar — actuar".

Assim pois, há certamente muito que fazer, também para vós jovens; aqui no Japão pertence-vos o dia de amanhã. Reflecti sobre todos os programas de acção em favor da paz — também sobre aqueles nos quais se exprimem os representantes de todas as religiões. A primeira de tais conferências realizou-se precisamente no Japão no ano de 1970, em Kioto.

Cristo diz: "Bem-aventurados os agentes da paz" (Mt 5,9).

Tornai-vos também vós agentes da paz!

9. A religião cristã, a religião que em certo sentido toma início nas palavras: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados" (Lc 2,14), traz para a causa da paz, primeiro que tudo, uma ardente e incessante oração para a qual convida a todos.

E depois traz a convicção de que o homem — também o contemporâneo — é capaz, com o auxílio da graça divina, de vencer o mal multiforme que o impele para os caminhos do ódio, da guerra e da destruição. Disto é o homem capaz. Disto são capazes os homens, as sociedades e os sistemas...

O cristianismo afirma esta convicção e trabalha para que ela se consolide. Ele é, de facto, animado pela palavra de Cristo, que é o mestre e a testemunha da esperança!



(*) As perguntas dirigidas ao Papa pelos Jovens



Esperança

Michinori Makiyama (19 anos)
estudante pré-universitário

A actual riqueza do Japão pode considerar-se devida à negação da religião. Creio portanto que o Japão não precisa de religião, mas creio que a Sua vinda aqui tem grande significado. Ficar-Lhe-ia reconhecido se nos explicasse qual é o fim da Sua visita ao nosso País, empenhado em violenta luta pela sua mesma existência, e qual é a Sua mensagem aos jovens japoneses.

Daiko Kakabara (34 anos)
professora particular atacada de distrofia muscular

A sociedade japonesa tende a julgar o valor de um indivíduo pelas suas capacidades e conhecimentos técnicos, Em tal ambiente a palavra "igualdade" é destituída de significado. Nesta condição desumana, como fazem os deficientes para combater os preconceitos e a ordem estabelecida da sociedade, e com que esperança de resultado?

Moriko Fujwara (25 anos)
empregada na Sociedade vulcanológica japonesa

Visto a cristandade não ter metido raízes na cultura do Japão, os cristãos são minoria neste nosso País. Julgo que os cristãos não influenciaram nem em parte mínima a sociedade japonesa. E visto estarem ainda os cristãos obrigados a levar uma vida "clandestina", apesar das garantias de liberdade de culto e de expressão, em que podem, Santo Padre, os cristãos japoneses colocar a sua confiança?

Amor

Kazuko Yagyu (18 anos)
estudante do terceiro ano do liceu

Na sua busca de felicidade; os japoneses procuraram o bem-estar material e conseguiram-no em parte. Por outro lado, surgiram alguns aspectos obscuros, como o suicídio de estudantes da escola primária e casos de violência na escola secundária, que revelam o vazio existente no coração das crianças japonesas. Julgo que a razão destes fenómenos deve procurar-se na falta de amor nas famílias. Qual o contributo que pode dar a cristandade para remediar esta situação?

Tsuiosu Tanase (19 anos)
estudante na "Universidade do Bem-estar Social Japonês"

Todos no mundo são iguais na busca da paz e da felicidade. Na prática os povos são diversos um do outro na ideologia e na metodologia ao caminharem para estes objectivos. De que modo, Santo Padre, considera o Senhor estas situações continuais do ponto de vista da cristandade?

Miss Chamura (20 anos)
estudante na Faculdade artística da "Universidade Sophia"

Tenho a impressão de o amor não possuir poder algum no mundo político e económico, onde reinam a exploração e a opressão. Julgo que estes problemas são mais evidentes, quer no passado quer no presente, nos Países chamados cristãos do que finos chamados não cristãos. Como pode o Santo Padre afirmar o espírito de amor no mundo?

Paz

Mitsuko Sul (18 anos)
aluna do terceiro ano do liceu

Vivemos numa sociedade em que é possível comprar tudo o que desejamos. Não estamos em guerra com ninguém. Mas na nossa sociedade pacífica encontramo-nos sem verdadeiros amigos e enfastiamo-nos, com todo o dinheiro e o tempo à nossa disposição. Para que nos serve, Santo Padre, este tipo ,de paz?

Masahito Serizana (23 anos)
operário

A paz no mundo é mantida pelo equilíbrio das armas. Penso que é a maneira única de manter o "statu quo". Julga o Senhor, Santo Padre, que é possível manter a paz no mundo sem a força militar?

Kazuko Shibuya (28 anos)
professor liceal

Apesar de o Japão ser o único País do mundo que foi vítima da bomba atómica, ele goza presentemente de bem-estar material. Deveriam os jovens japoneses participar na vida dos outros Países, compreendendo os que estão em guerra e os que são afligidos pela pobreza?





Discursos João Paulo II 1981 - Hiroxima, 25 de Fevereiro de 1981