Discursos João Paulo II 1981 - Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 1981


VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NO ENCONTRO COM OS REPRESENTANTES


DA COMUNIDADE MUÇULMANA


Davao, Ilha de Mindanao

Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 1981



Caros irmãos

Um prazer constitui sempre para mim encontrar-me com os membros das comunidades muçulmanas durante as minhas viagens e apresentar-lhes as minhas saudações pessoais e as de todos os seus irmãos cristãos e irmãs do mundo.

1. Deliberadamente dirijo-me a vós como irmãos: é certo que o somos porque membros da mesma família humana cujos esforços — dêem-se ou não conta os homens — tendem para Deus e para a verdade que vem d'Ele. Mas somos especialmente irmãos em Deus que nos criou e nós procuramos atingir, cada um pelo seu caminho, através da fé, da oração, do culto, da fidelidade â Sua lei e da submissão ao Seu querer.

Mas não sois vós sobretudo irmãos dos cristãos deste grande país pelos vínculos de nacionalidade, de história, de geografia, de cultura e de esperança num futuro melhor, futuro que estais construindo em conjunto? Não é justo pensar que, nas Filipinas, muçulmanos e cristãos estão realmente viajando na mesma barca, com boa e má sorte, e que nas tempestades, que desabam sobre o mundo, a segurança de cada indivíduo depende dos esforços e da cooperação de todos?

Deixai-me desenvolver um pouco este último ponto.

2. Dirijo-me a vós como chefe espiritual da Igreja católica, que não tem poder no campo político. Posso apenas transmitir-vos o ensinamento e a palavra de Jesus: "Bem-aventurados os construtores de paz" diz Ele no Evangelho, "porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5,9). Noutra passagem diz: "O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque esta é a Lei e os Profetas" (Mt 7,12). Estas palavras que repeti aos meus irmãos e irmãs, aos meus filhos e filhas na Igreja católica, permito-me repeti-las a vós neste momento.

3. Vós partilhais com os cristãos a mesma cidadania que adquiristes vivendo aqui e participando na vida da nação com todas as obrigações e todos os deveres que isto comporta. Além da vossa nacionalidade filipina e das outras qualidades e dos valores comuns a todos os filipinos, vós tendes consciência de ser os portadores de algumas qualidades específicas, entre as quais é talvez a mais evidente a cultura do Islão. Isto é o que acrescenta à vossa comparticipada identidade nacional um elemento original que merece atenção e respeito.

O vosso bem-estar e o dos vossos irmãos cristãos e irmãs requer clima de mútua estima e confiança. Sabeis, tão bem como eu, que no passado este clima foi demasiadas vezes deteriorado, com detrimento de todas as relações.

Mas, caros amigos, sabemos ainda e bem demais que não há qualquer razão positiva para que tal passado haja de reviver hoje. Quando muito, deveríamos com dor olhar para trás, para o passado, a fim de que se estabeleça um futuro melhor. E vós tendes a missão, ao mesmo tempo invejável e decisiva, de ajudar a construir este futuro, o futuro dos vossos filhos muçulmanos, assim como o harmonioso futuro de toda a Nação Filipina.

Sei que vós e os vossos irmãos cristãos e irmãs vos estais tornando cada vez mais conscientes das responsabilidades que pesam sobre a vossa geração. Há alguns anos que estais sentindo a urgente necessidade de vos sentardes lado a lado, de afrontardes os vossos problemas e restabelecerdes uma estima mútua e confiança. Começou assim um diálogo frutuoso e, de irá algum tempo, não passa ano sem que vos encontreis com os vossos concidadãos cristãos, sob os auspícios de órgãos governativos ou de instituições privadas, em Marawi City, Cotabato, Cagayan de Oro, Jolo, Zamboanga, Tagaytay e também nesta amena cidade de Davao.

4. Saúdo todos estes esforços com grande satisfação, e animo vivamente a que eles se multipliquem. A sociedade não pode trazer aos cidadãos a felicidade que esperam sem que a mesma sociedade seja constituída sobre o diálogo. O diálogo, por sua vez, constrói-se sobre a confiança, e a confiança pressupõe não só a justiça mas a misericórdia. Sem dúvida, a igualdade e a liberdade, que são fundamentos de qualquer sociedade, requerem lei e justiça. Mas, como disse numa recente carta dirigida a toda a Igreja católica, a justiça por si só não basta: "... a igualdade introduzida mediante a justiça limita-se ao âmbito dos bens objectivos e extrínsecos, ao passo que o amor e a misericórdia fazem que os homens se encontrem entre si naquele valor que é o homem mesmo, com a dignidade que lhe é própria" (Dives in Misericordia DM 14).

Caros muçulmanos, meus irmãos: agradar-me-ia acrescentar que nós cristãos, como vós, procuramos a base e o modelo da misericórdia em Deus mesmo, o Deus a quem o vosso Livro dá o belíssimo nome de al-Rahman, ao mesmo tempo que a Bíblia lhe chama al-Rahum, o Misericordioso.

5. Só no interior desta estrutura de religião e das suas comuns promessas de fé se pode efectivamente falar de mútuo respeito, abertura e colaboração entre cristãos e muçulmanos. Assim surge a vontade de trabalhar em conjunto, de construir uma sociedade mais fraterna. Apesar da natureza geográfica do vosso grande país, é oportuno hoje, mais do que nunca, repetir o dito: "Nenhum homem é uma ilha".

Meus caros amigos, desejo que estejais convencidos de os cristãos, vossos irmãos e irmãs, terem necessidade de vós e terem necessidade do vosso amor. E o mundo inteiro, com o seu ardente desejo de maior paz, fraternidade e harmonia, precisa de ver uma fraterna co-existência entre cristãos e muçulmanos numa moderna, crente e pacífica Nação Filipina.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS SACERDOTES E SEMINARISTAS


POR OCASIÃO DA VISITA A CEBU,


ILHA DE MINDANAO, FILIPINAS


Auditório do Sagrado Coração

Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 1981



Caros sacerdotes e seminaristas

Saúdo-vos no Nome de Jesus! Constitui alegria para mim estar convosco e saudar, por meio de vós, os sacerdotes de todas as Filipinas, abençoar e animar os seminaristas em todas as partes desta nação.

1. "Que formosos são, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que prega a salvação, que diz a Sião: 'Reina o teu Deus' " (Is 52,7). Estas palavras do profeta Isaías vêm imediatamente ao espírito quando nos recordamos do zelo apostólico daqueles sacerdotes missionários que, há mais de quatro séculos, começaram a pregar o Evangelho da salvação aos habitantes destas ilhas. A obra misteriosa da graça de Deus tornou-lhes os corações ansiosos e moveu-lhes os pés, enquanto a paz e a salvação eram anunciadas nesta terra. Pensai no sacerdote dominicano Frei Domingos de Salazar. Deixou a sua originária Espanha para se dirigir primeiro à Venezuela e depois ao México, detendo-se brevemente na Flórida e por fim nas Filipinas. Aqui veio a ser o primeiro Bispo — em Manila no ano de 1578; aqui pregou a Boa Nova, não só à população destas ilhas, mas também aos seus compatriotas, para os convencer de que o Evangelho do Senhor significava justiça e não escravidão, para o povo que eles tinham vindo colonizar. Foi ele ainda, o Bispo Domingos de Salazar, que, regressando à Espanha, recomendou a fundação da província eclesiástica das Filipinas.

2. Vós sois os herdeiros da tarefa missionária iniciada por Frei Domingos e pelos primeiros evangelizadores Franciscanos, Jesuítas e Dominicanos, cujos pés evangelizadores sempre serão chamados formosos. Prestando homenagem a estes missionários e a todos os outros missionários — aos de todas as gerações nas Filipinas, incluindo a actual — louvo a graça de Deus que as sustentou no zelo pelo Seu Reino. Segundo misterioso desígnio de Deus fostes chamados por Cristo para ser mensageiros de alegres anúncios na vossa pátria. Juntos reflictamos sobre esta missão sacerdotal que hoje é vossa, meus irmãos sacerdotes, e para a qual, caros seminaristas, deveis diligentemente preparar-vos.

3. A fé em Jesus Cristo, que é Senhor para sempre, constitui a resposta a que Deus convida quando manda a Sua palavra à terra. A fé no centro da vocação do sacerdote anima-lhe o ministério e é o fundamento do testemunho da sua vida. Na Carta aos Romanos, São Paulo diz: "Se confessares com a tua boca o Senhor Jesus e creres no teu coração que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para alcançar a justiça, e com a boca se confessa para alcançar a salvação... Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditaram? E como hão-de acreditar n'Aquele que não ouviram? E como ouvirão se ninguém lhes pregar?... Conforme está escrito: quão formosos são os pés dos que anunciam boas novas!"... Logo, a fé vem da pregação, e a pregação pela palavra de Cristo" (Rm 10,9-17).

4. Pregar a palavra de Deus: esta é a obra de cada geração. A "fé que vem de se ouvir" é a resposta solicitada pelo próprio Deus, resposta que leva os homens a confessarem com lábios que Jesus é Senhor e leva a tornarem-se Seus discípulos. A proclamação da palavra e a resposta da fé estabelecem o encontro inicial, a comunidade fundamental da Igreja. É para este encontro que o apóstolo sacerdote é "mandado" a pregar: in persona Christi oferece o sacrifício da Eucaristia, que retoma a proclamação completa da palavra e no qual o convite mesmo de Cristo, a que se creia e para que seja edificado dentro da Igreja, é continuamente ouvido pelo seu povo. Como ensina o Concílio Vaticano: "Os presbíteros, em virtude da sagrada ordenação e da missão que recebem das mãos dos Bispos, são promovidos ao serviço de Cristo Mestre, Sacerdote e Rei, de cujo ministério participam, mediante o qual a Igreja continuamente é edificada em Povo de Deus, Corpo de Cristo, e Templo do Espírito Santo" (Presbyterorum Ordinis PO 1).

5. Esta Igreja é missionária por sua natureza (cf. Ad Gentes AGD 2). Todos os cristãos que crêem e são constituídos uma só coisa em Cristo partilham da mesma tarefa missionária de serviço histórico ao mundo. Mas "ouvir" o chamamento à fé — a palavra da salvação — deve ser constante convite à conversão e ao renovamento no interior da Igreja mesma, e é assim para os Apóstolos e os seus sucessores no Episcopado, juntamente com os sacerdotes seus colaboradores, a quem o Senhor confiou a tarefa de guiar o seu povo missionário. Por desígnio mesmo de Deus, a Igreja não pode existir sem estes homens apostólicos "mandados" a pregar a fim de serem na Igreja mesma um sinal sacramental do chamamento fundamental e perene para "crermos nos nossos corações" que Jesus é Senhor.

6. Hoje há alguns que ignoram ou entendem mal esta importante dimensão da natureza da Igreja e sugerem que, só diminuindo a importância do sacerdócio, pode o laicado ocupar plenamente o seu lugar na Igreja. Talvez falarem assim seja devido a reacção excessiva contra sacerdotes que, ou por humana fragilidade ou por espiritual cegueira, não tenham tomado a peito a profunda lição dada por Jesus quando replicou ao pedido da mãe de Tiago e João: "Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós; pelo contrário, quem quiser fazer-se grande entre vós seja vosso servo. Do mesmo modo, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida pelo resgate de muitos" (Mt 20,25-28).

Apesar disso, uma atitude que vê oposição ou rivalidade entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio dos fiéis não chega a compreender o desígnio de Deus ao instituir o Sacramento da Ordem Sagrada na Sua Igreja. A constituição do Concílio Vaticano II sobre a Igreja ensina claramente que "o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, embora se diferenciem essencialmente e não apenas em grau, se ordenam mutuamente um para o outro; pois um e outro participam, a seu modo, do único sacerdócio de Cristo" (Lumen Gentium LG 10). No sacerdócio ministerial da Ordem Sagrada, Deus colocou na Sua Igreja um sinal visível mediante o qual o diálogo divino por Ele iniciado — a palavra da salvação que solicita a resposta de fé — é sacramentalmente e portanto eficazmente representado. O sacerdócio é portanto sacramento cuja "celebração" diz respeito à Igreja inteira, e deve ter cuidado de toda a Igreja — laicado e clero igualmente — de que a sua "celebração" não seja diminuída por meio de incompreensões ou de zelo inoportuno pela multiplicação de ministérios entendidos como substituição do sacerdócio ministerial.

7. Jesus é Senhor! Esta proclamação da palavra atinge o momento mais perfeito na Eucaristia: "Todos os sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam... Por isso, a Eucaristia aparece como fonte e coroa de toda a evangelização" (Presbyterorum Ordinis PO 5).

A celebração da Eucaristia é o coração do ministério sacerdotal e da vida cristã, porque é o serviço do amor do próprio Cristo que se imola. Através de toda a Eucaristia, continua a Igreja a ser construída de forma nova e a receber a sua forma definitiva. Cristo, através do ministério dos seus sacerdotes, reúne em conjunto todos os seus discípulos, une-os no seu amor e envia-os para serem os portadores da unidade e do amor do banquete eucarístico, como exemplo e modelo de toda a comunidade humana e de todo o serviço.

8. Meus Irmãos sacerdotes, esta Igreja missionária, este povo eucarístico, conta convosco para a proclamação autêntica da Boa Nova. Mas se deveis ser eficazes pregadores da palavra, deveis ser homens de profunda fé, ao mesmo tempo ouvintes e executores da palavra. Com São Paulo, devemos sempre dizer: "Nós, de facto, não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus Senhor; quanto a nós, somos os vossos servidores por amor de Jesus" (2Co 4,5). Por esta razão não devemos nunca deter-nos ao examinar cuidadosamente como vivemos a nossa vida sacerdotal, a fim de evitarmos que ela se torne contratestemunho a desfigurar a presença sacramental que o Senhor quer seja por nós realizada na e pela Sua Igreja.

9. Com este objectivo ofereço-vos hoje três breves reflexões sobre o modo de viver a vida sacerdotal em conformidade com o pensamento e o coração de Cristo.

Em primeiro lugar, Jesus chamou os sacerdotes a uma especial intimidade com Ele. Requere-o a natureza mesma da nossa missão. Se devemos pregar a Cristo e não a nós mesmos, devemos conhecê-1'O intimamente nas Escrituras e na oração. Se devemos guiar os outros para o encontro e a resposta da fé, a nossa própria fé deve ser um testemunho. Nas Sagradas Escrituras, a palavra de Deus está sempre diante nós. Façamos, portanto, das Escrituras o alimento da nossa oração quotidiana e o assunto do nosso regular estudo teológico. Só deste modo nos é dado possuir a palavra de Deus — e ser possuídos pelo Verbo — naquela intimidade reservada àqueles a quem Jesus disse: "Chamei-vos amigos" (Jn 15,15).

A segunda consideração, que desejo oferecer-vos, diz respeito à unidade do sacerdócio. Os Padres do Concílio Vaticano II recordam-nos que "todos os presbíteros participam de tal maneira com os Bispos no mesmo e único sacerdócio e ministério de Cristo que a unidade de consagração e missão requer comunicarem hierárquicamente com a Ordem episcopal" (Presbyterorum Ordinis PO 7). Esta unidade deve assumir forma concretamente na tomada de consciência de os sacerdotes, diocesanos e religiosos, formarem um único presbitério volta do seu Bispo. A colegialidade, que descreve a união de fé e a participação de responsabilidade de toda a ordem episcopal com o Bispo de Roma, reflecte-se por analogia na unidade dos sacerdotes, com o seu Bispo e entre si, na comum missão pastoral. Não devemos menosprezar a importância desta unidade do nosso sacerdócio para a efectiva evangelização do mundo. O sinal sacramental do mesmo sacerdócio não deve ser fragmentado ou individualizado: nós formamos um sacerdócio — o sacerdócio de Cristo — ao qual a nossa harmonia viva e o nosso serviço apostólico devem dar testemunho. A fundamental unidade da Eucaristia, oferecida pela Igreja, requer que tal unidade seja vivida como visível realidade sacramental na vida dos sacerdotes. Na noite antes da Sua morte, Jesus invocou o seu Pai Celeste: "Rogo também por aqueles que, pela sua palavra, hão-de crer em Mim, para que todos sejam uma coisa. Como Tu, ó Pai, és em mim e eu em Ti, que também eles sejam em nós uma só coisa, para que o mundo creia que Tu me enviaste" (Jn 17,20-21). A nossa unidade no Senhor, sacramentalmente visível no centro da unidade mesma da Igreja, é condição indispensável para a eficácia de tudo o que fazemos: a nossa pregação da fé, o nosso serviço dos pobres como opção preferencial, os nossos esforços na construção de basilares comunidades cristãs como unidades vitais no Reino de Deus, o nosso esforço para promover a justiça e a paz de Cristo, todos os nossos vários apostolados paroquiais, todo o esforço para fornecer uma guia espiritual ao nosso povo — tudo isto depende totalmente da nossa união com Jesus Cristo e a Sua Igreja.

Em terceiro lugar, desejo reflectir convosco sobre o valor de uma vida de autêntico celibato sacerdotal. É difícil exagerar encarecendo o profundo testemunho dado à fé por um sacerdote mediante o celibato. O sacerdote anuncia a Boa Nova do reino como pessoa que tem a coragem de renunciar aos especiais gozos humanos do matrimónio e da vida de família, para dar testemunho da sua "convicção a respeito das coisas que não se vêem" (cf. Heb He 11,1). A Igreja tem necessidade do testemunho do celibato abraçado de boa vontade e vivido com alegria pelos seus sacerdotes por amor do Reino. O celibato não é, com efeito, marginal na vida do sacerdote: dá testemunho de uma dimensão de amor modelada pelo amor de Cristo mesmo. Este amor fala claramente a linguagem de todo o amor genuíno, a linguagem do dom de si por amor do dilecto; e o seu perfeito símbolo para sempre a Cruz de Jesus Cristo.

10. Meus caros seminaristas. Tudo aquilo que disse já aos meus irmãos sacerdotes disse-o tendo no espírito também a vós. Este precioso tempo de formação no seminário é-vos dado em vista de uma sólida base para a obra que vos espera como sacerdotes. Podeis estar certos que a Igreja inteira olha com orante expectativa para as vossas pessoas a fim de que as palavras a vós dirigidas pelo Senhor — "Vem e segue-me" — nelas se radiquem cada vez mais. E o que é verdadeiro para todo o povo de Deus é mais verdadeiro para estes sacerdotes dos quais vos preparais a ser companheiros na pregação da palavra de Deus. Os sacerdotes bem sabem quanto trabalho há para fazer e "pediram ao Senhor da messe que mandasse operários para a Sua messe" (Mt 9,37). Alegram-se agora ao ver em vós a resposta sua fervorosa oração. Por isso, vós, seminaristas, estais já unidos com os sacerdotes nesta oração pelo aumento de vocações sacerdotais. A estes jovens, em que o Senhor está ainda espalhando as sementes ocultas desta vocação, deveis vós oferecer-vos como companheiros e guias, e deveis estar desejosos por lhes mostrar o exemplo da vossa intima união com Jesus e do vosso zeloso serviço apostólico pelo Seu povo.

Sim, deveis sempre ter Jesus diante dos olhos. Ele é a verdadeira razão por que estais no seminário: de facto, não pode nunca ser um motivo de carreira ou de prestígio, mas só para vos preparardes um ministério de serviço baseado na palavra do Senhor. Jesus escolheu-vos a fim de que leveis a luz da Sua palavra aos vossos irmãos e irmãs. Podeis ver, portanto, quanto é importante, para vós pessoalmente, conhecer a palavra de Deus, abraçá-la com todas as suas exigências, de amor e de sacrifício, e, como Maria, meditá-la nos vossos corações (cf. Lc Lc 2,51). O seminário existe a fim de vos preparardes para a vossa missão de proclamar a santidade e a verdade da Encarnada Palavra de Deus. Mas, se o seminário realizar a sua finalidade a vosso respeito, vós deveis abrir os vossos corações em generosidade ao Espírito de Deus, para que Ele possa formar Jesus em vós.

11. Jesus é Senhor. Como nos assegura São Paulo, "Ninguém pode dizer 'Jesus é Senhor', senão no Espírito Santo" (1Co 12,3). Tenhamos confiança na guia do Espírito Santo para toda a Igreja e no Seu poder que é activo no nosso ministério sacerdotal. Com confiança e incansável zelo pregamos a palavra de Cristo, de maneira que levemos espontaneamente aos lábios dos nossos irmãos e irmãs a palavra do profeta: "Que formosos são, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que prega a salvação, que diz a Sião: 'Reina o teu Deus' ".

Oxalá Maria, Rainha do clero, Mãe dos sacerdotes e dos seminaristas, vos ajude a repor a vossa perfeita confiança naquele mesmo Espírito Santo por obra do qual ela se tornou a Mãe de Jesus, que é Senhor para sempre.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO CORPO DIPLOMÁTICO ACREDITADO


JUNTO DO ESTADO FILIPINO


Manila, 18 de Fevereiro de 1981



Excelências, Senhoras e Senhores,

1. Vim a esta parte do mundo para me encontrar com as comunidades católicas das Filipinas e do Japão e para dirigir a estas duas nações a expressão de profunda estima que a Igreja alimenta para com elas. Ao mesmo tempo é-me muito agradável ter o ensejo de estar convosco nesta tarde, uma vez que, como diplomatas acreditados junto do Governo deste país, representais os povos não da Ásia mas do mundo inteiro. Em seguida, segundo o meu programa, dirigir-me-ei directamente a todos os povos da Ásia; mas não posso deixar que se perca a presente ocasião sem exprimir aqui, diante de vós, a alegria que encontro em saudar, nas vossas pessoas, as populações e os governos das vossas nações, muitas das quais mantêm cordialíssimas relações com a Santa Sé. Desejo manifestar de novo a profunda estima, que a Igreja alimenta pelas nobres tradições culturais e religiosas de todos os povos, e reafirmar o seu desejo de estar ao serviço de todos na comum busca da paz, da justiça e do progresso humano.

2. A Igreja não tem ambições políticas. Quando oferece o seu próprio contributo aos grandes e sempre actuais problemas da humanidade — paz, justiça, desenvolvimento e todo o meritório esforço tendente a promover e defender a dignidade humana — fá-lo por estar convencida de isto estar incluído na sua própria missão. Missão que está ligada a salvar o homem: o ser humano na sua totalidade, a pessoa individual que actua e segue a sua vocação eterna na história temporal, no interior de um complexo de comunidades e de sociedades. Quando dirige a própria atenção para as necessidades e as aspirações dos indivíduos e dos povos, a Igreja segue o mandamento do seu Fundador, pondo em prática a solicitude de Cristo por cada pessoa em particular, especialmente pelos pobres e pelos que sofrem. O seu contributo específico, para a humanização da sociedade e do mundo, deriva de Jesus Cristo e do Seu Evangelho. Mediante o ensinamento social que ministra, a Igreja não apresenta modelos pré-fabricados, nem alinha comportamentos segundo a moda e passageiros. Pelo contrário, referindo-se a Cristo, tende a transformar os corações e os espíritos, de maneira que o homem possa ver-se a si mesmo na plenitude da própria humanidade.

3. A acção da Igreja, portanto, não é política, nem económica, nem técnica. A Igreja não tem competência nos sectores da tecnologia e da ciência, nem se afirma graças ao poder político. A sua competência, como a sua missão, é por natureza religiosa e moral, e deve manter-se no seu próprio sector de competência, se não quer que a sua missão seja ineficaz e irresponsável. É hábito da Igreja, por isso, respeitar a área específica de responsabilidade do Estado, sem interferir no que pertence aos políticos e sem participar directamente na direcção dos negócios temporais. Ao mesmo tempo a Igreja anima os seus membros a assumirem as próprias plenas responsabilidades como cidadãos de uma dada nação e a procurarem, juntamente com os outros, os caminhos e os modelos que melhor consigam fomentar o progresso da sociedade. Considera como seu contributo específico reforçar as bases espirituais e morais da sociedade, e, a fim de prestar serviço humanidade, ajuda as pessoas a formarem rectamente as próprias consciências.

4. À luz destas considerações, desejo que a minha viagem através da Ásia venha a constituir chamamento à paz e ao progresso do homem, incentivo para todos os que estão empenhados em proteger e promover a dignidade de cada ser humano. Espero também que o meu encontro convosco, nesta tarde, reforce o vosso sentido de missão ao serviço dos vossos países e da família humana inteira. Não é acaso missão do diplomata ser construtor de pontes entre as nações, ser especialista no diálogo e na compreensão, ser defensor da dignidade do homem, a fim de promover o bem comum de todos?

Além de promover os legítimos interesses do vosso país, a missão, que desempenhais, orienta-vos de modo especial para os mais vastos interesses da inteira família humana, especialmente no continente asiático. Inspirados como vos mantendes pelos mais nobres ideais de fraternidade, vós — disso estou certo —querereis partilhar do meu interesse pela paz e pelo progresso nesta área, compreendendo a necessidade de enfrentar as causas mais profundas dos problemas que afligem nações e povos. Na minha recente encíclica sobre a Divina Misericórdia indiquei aquelas coisas que julgo serem "as fontes de inquietação". Falei do temor ligado à perspectiva do conflito que — atendendo aos arsenais de armas atómicas — poderia significar a parcial auto-destruição da humanidade. Chamei a atenção para aquilo que os seres humanos poderiam fazer aos outros homens servindo-se dos meios colocados disposição de uma tecnologia militar cada vez mais refinada. Mas, atraí a atenção também para outros elementos, escrevendo: "O homem tem com razão medo de ser vítima de uma opressão que o prive da liberdade interior, da possibilidade de exteriorizar a verdade de que está convencido, da fé professada, da faculdade de ser a voz da consciência que lhe indica o recto caminho que deve ser seguido. Os meios técnicos a disposição da civilização hodierna encerram, de facto, não só a possibilidade de uma auto-destruição devida a um conflito militar, mas também a possibilidade de uma sujeição "pacífica" dos indivíduos, dos campos de trabalho, de sociedades inteiras, e de nações, que por qualquer motivo possam mostrar a sua incomodidade àqueles que dispõem dos relativos meios e estão prontos a servir-se deles sem escrúpulo" (n. 11).

Mencionei também o trágico problema de todos os que sofrem por causa da fome, da má alimentação e do crescente estado de desigualdade entre indivíduos e nações, porque "ao lado daqueles que são abastados e vivem na abundância, existem os que vivem na negligência, sofrem a miséria e muitas vezes até morrem de fome." (ibidem).

5. Mas no mesmo documento também declarei (e desejaria deixar também este pensamento à vossa reflexão): "A experiência do passado e do nosso tempo demonstra que a justiça sozinha não basta e que pode até levar à negação e ao aniquilamento de si mesma, se não se consente àquela força mais profunda, que é o amor, plasmar a vida humana nas suas várias dimensões" (n. 12).

Sim, caros amigos, a minha mensagem desta tarde, a vós dirigida, diz exactamente respeito ao poder do amor. O amor profundamente sentido e manifestado na prática em acções concretas, individuais e colectivas, é força motora que impele o homem a ser verdadeiro consigo mesmo. Só o amor pode tornar o homem realmente disponível para o apelo da necessidade. E a mesma força, o amor fraterno, oxalá vos conduza aos cimos cada vez mais altos do serviço e da solidariedade.

Senhoras e senhores, na alta missão diplomática como é a vossa, contai com o meu apoio total.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

ÀS COMUNIDADES CHINESAS DA ÁSIA


Nunciatura Apostólica de Manila

Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 1981



1. Caros irmãos e irmãs em Cristo

Considero muito significativo e importante ter ocasião de dirigir uma breve palavra aos Cristãos Chineses durante a minha visita pastoral à Ásia. Saúdo, de modo particular, o Arcebispo Matteo Kia e outros Bispos que me honraram com a sua presença durante esta minha visita pastoral às Filipinas. Agradeço-vos de coração que tenhais vindo como representantes dos Cristãos das Comunidades Chinesas de Além-Mar para vos encontrardes comigo, aqui em Manila. Algumas comunidades vivem de há gerações nas Filipinas ou noutros Países asiáticos; outras vieram para aqui mais recentemente. Sei que é vosso desejo estardes plenamente integrados na vida do país onde residis, e contribuirdes com o vosso trabalho, como bons cidadãos, para a prosperidade da nação que é agora a vossa pátria. Ao mesmo tempo desejais permanecer unidos em espírito com os vossos parentes e amigos na China. Desejais conservar os tradicionais valores morais chineses e a cultura, que vos unem à pátria de origem das vossas famílias, pátria que amareis cada vez mais afectuosamente e para cujo progresso estais prontos a oferecer todo o auxílio requerido.

Sois também membros das comunidades da Igreja local. Estas reforçam a vossa dedicação a Cristo e penetram-vos daquele mesmo espírito cristão que foi, no passado, o selo das comunidades cristãs chinesas em várias partes do mundo. Personagens famosas na história da China encontraram Cristo e tornaram-se cristãs, em seguida ao contacto com aquelas fervorosas e dinâmicas comunidades. Se conservardes este espírito, se viverdes inspirados pela fé cristã e robustecida pelas tradições morais tipicamente chinesas, sereis em sentido profundo verdadeiros cristãos e verdadeiros chineses, e contribuireis para a riqueza da Igreja inteira.

Por meio de vós que estais aqui presentes, desejo atingir todos aqueles que se encontram na China e saudar, com alegria e afecto, todos os meus irmãos e irmãs em Cristo, que vivem naquela terra ilimitada.

2. Eu, João Paulo II, Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, saúdo-vos, meus caros irmãos e irmãs da China, em nome do Senhor nosso, Jesus Cristo. Na minha primeira visita pastoral à Ásia encontrarei Bispos, clero, religiosos e leigos da Igreja, nas Filipinas e no Japão, para lhes falar do amor misericordioso de Deus, para proclamar o nome de Jesus, "pois não há debaixo do céu qualquer outro nome dada aos homens que nos possa salvar" (Ac 4,12), e para animá-los a darem testemunho do Evangelho. Viajando assim, perto dos confins do vosso país, desejo também falar-vos porque, para além das distâncias que nos separam, nós estamos todos unidos "no nome do Senhor Jesus" (Col 3,17). Desde que a Providência de Deus, nos seus caminhos misteriosos, nos chamou da originária Polónia para a Sé de Pedro em Roma, desejei ardentemente exprimir o meu afecto e a minha estima a todos os meus irmãos e irmãs da Igreja da China, e louvar o Senhor pelas grandes coisas que operou nos corações daqueles que professam o Seu nome nas cidades e aldeias do vosso imenso pais.

O Espírito do Senhor trabalha em todos os povos e nações, e a este Espírito desejei prestar testemunho estabelecendo, como finalidade específica da minha peregrinação à Ásia, honrar os Mártires de Nangasáqui. Nas suas pessoas presto homenagem a todos os homens e mulheres da Ásia que ofereceram a sua vida pelo nome de Jesus, dando assim prova de o Evangelho de Cristo e a Sua Igreja não serem coisa estranha a algum povo ou a alguma nação, mas viverem nos corações e nas mentes das pessoas de todas as raças e de todas as nações do mundo. Assim, ao saudar-vos, faço minhas as palavras do Apóstolo Paulo, na carta à Igreja de Roma: "Em primeiro lugar, dou graças ao meu Deus, por Jesus Cristo, a respeito de vós, porque a vossa fé é conhecida em todo o mundo... Na verdade, desejo-vos ver para vos comunicar alguma graça espiritual, a fim de vos fortalecer, ou antes, para convosco me reconfortar no meio de vós, pela que nos é comum a vós e a mim" (Rm 1,8 Rm 1,11-12).

3. Com as minhas humildes palavras, desejo também exprimir a estima pelo vosso grande país. O vosso país é, de facto, grande não em termos de extensão geográfica e de população, mas especialmente por causa da sua história, pela riqueza da sua cultura, e pelos valores morais que o seu povo cultivou através dos séculos. O jesuíta Padre Matteo Ricci compreendeu e apreciou plenamente a cultura chinesa desde os princípios, e o seu exemplo haveria de servir de inspiração a muitos. Outros, por vezes, não mostraram a mesma compreensão. Mas quaisquer que tenham sido as dificuldades, elas pertencem ao passado, e agora é para o futura que devemos olhar.

O vosso país, de facto, consagra todas as suas energias ao futuro. Quer assegurar que — mediante o progresso científico e tecnológico, e mediante a colaboração industriosa de todos — os seus cidadãos possam viver em verdadeira felicidade. Estou seguro de que todos os católicos, no interior das vossas fronteiras, contribuirão plenamente para a construção da China, porque um verdadeiro e fiel cristão é também honesto e bom cidadão. O cristão — em todos os países do mundo — é fiel a Deus, mas possui também profundo sentido do dever e do amor para com a sua terra e o seu povo. Respeita as coisas do espírito, mas ao mesmo tempo consagra os seus ta lentos e capacidades ao bem comum. Um bom católico chinês actua lealmente pelo progresso da nação, observa as obrigações de piedade filial para com os pais, a família e a pátria. Reforçado pela mensagem do Evangelho, cultivará, como todo o bom chinês, as "cinco virtudes principais": caridade, justiça, temperança, prudência e fidelidade.

4. A Igreja quer respeitar as tradições e os valores culturais de cada povo, seguindo tudo o que São Paulo diz quando recomendou aos primeiros cristãos de Filipos que fizessem objecto dos seus pensamentos "tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável e honrado, aquilo que é virtude e merece louvor" (Ph 4,8). Desde os primeiros tempos, aprendeu a Igreja a exprimir a verdade de Cristo através do auxílio das ideias e segundo a cultura dos vários povos, porque a mensagem que ela prega é destinada a todos os povos e nações. A mensagem cristã não é propriedade exclusiva de um grupo ou de uma raça; dirige-se a cada um e pertence a cada um. Não há, por isso, oposição ou incompatibilidade em ser-se, ao mesmo tempo, verdadeiro cristão e autêntico chinês.

Proclamando Jesus Cristo como eterno Filho de Deus e Salvador do mundo, a Igreja tem apenas em vista ser fiel à missão que lhe foi confiada pelo seu Divino Fundador. Não tem intenções políticas ou económicas; não tem missão terrena. Deseja ser, na China como em qualquer outro país, mensageira do Reino de Deus. Não deseja privilégios, mas que todos aqueles que seguem a Cristo, tenham a possibilidade de exprimir a sua fé, livre e publicamente, e de viver segundo a própria consciência.

Cristo veio para servir e dar testemunho à verdade. No mesmo espírito oferece a Igreja o seu contributo para reforçar a fraternidade humana e a dignidade de todo o ser humano. Anima, portanto, os seus membros a que sejam bons cristãos e cidadãos exemplares, dedicados ao bem comum e ao serviço dos outros, e colaborando com pessoal contributo no progresso da sua pátria.

5. Tudo isto vo-lo digo, caros irmãos e irmãs, porque me sinto muito perto de vós. O decurso da história, determinado por decisões humanas, foi tal que por muitos anos não pudemos ter contactos mútuos. Muito pouco se sabia de vós, das vossas alegrias, das vossas esperanças e também dos vossos sofrimentos. Recentemente, todavia, de várias partes do vosso imenso território, chegaram-me informações sobre vós. Mas, naqueles longos anos, passastes sem dúvida através de experiências que nos são ainda a nós desconhecidas, e por vezes vos perguntastes, nas vossas consciências, qual era para vós a coisa justa que devíeis fazer. Para aqueles, que não tiveram nunca experiências deste género, é difícil imaginar plenamente tais situações. Apesar disto, desejo que saibais: durante todo esse período e até hoje, eu, e toda a Igreja comigo, estivemos convosco com o pensamento, com a oração, no genuíno amor fraterno e na solicitude pastoral. Coloco a minha confiança na vossa e no Senhor que prometeu: "Não vos preocupeis nem com o que haveis de dizer; nessa altura, ser-vos-á inspirado o que tiverdes que dizer" (Mt 10,19). Se permanecerdes unidos com o Senhor na e na oração, Ele vos sustentará e vos guiará.

Desejo também exprimir a minha profunda admiração pelos testemunhos de fé heróica que muitos de vós têm mostrado e continuam a mostrar ainda hoje. Toda a Igreja tem orgulho por vós e sente-se robustecida com o vosso testemunho. Ao mesmo tempo espera que também vós, por vosso turno, tenhais sido reforçados pela contínua oração dela e pela comunhão no Senhor nosso, Jesus Cristo.

6. O que nos une, caros irmãos e irmãs, não é um laço de natureza física ou de associação política, mas é a fé n'Aquele que é o Filho de Deus e o Salvador do mundo, e proclamou a fraternidade de todos os homens. É Jesus Cristo, que ama todos os povos independentemente da raça ou cultura e da sua condição social e política. Todos somos irmãos e irmãs, e no centro da mensagem de Jesus está o chamamento para a fraternidade universal. Não é animador descobrir que tal mensagem foi claramente expressa também pelo provérbio chinês: "Entre os quatro mares todos os homens são irmãos?". Hoje, mais do que nunca é necessário proclamar esta mensagem em todo o mundo porque a injustiça e a discriminação entre os povos e as nações serpeiam ainda.

7. Como a minha viagem me traz tão perto do vosso país, permiti-me enviar uma mensagem que brota do meu coração e da nossa comum. Neste tempo de graça e de mudança, abri os vossos corações e as vossas mentes a Deus que na sua Divina Providência guia todos os acontecimentos e leva a efeito os seus planos em tudo o que acontece. Servindo-se dos sofrimentos humanos e também das fraquezas e dos erros, o Senhor prepara novo florescimento. É minha sincera e profunda esperança que depressa possamos unir-nos todos para louvar o Senhor e dizer: "Oh! como é bom, como é agradável viverem os irmãos em boa união!" (Ps 133,1).

Confio-vos todos vós a Maria, Virgem fidelíssima, Rainha da China. A paz de Jesus Cristo, seu Filho, esteja com todos vós. Deus abençoe a China!



Discursos João Paulo II 1981 - Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 1981