Discursos João Paulo II 1981 - Quinta-feira, 5 de Março de 1980

O princípio fundamental, que deve guiar o esforço neste delicado sector da pastoral, é o da distinção e ao mesmo tempo da complementaridade entre o ensino da Religião e a Catequese. Nas escolas, de facto, trabalha-se pela formação integral do aluno. O ensino da Religião deverá, portanto, caracterizar-se pela referência aos objectivos e critérios próprios de uma estrutura escolar moderna. Por um lado, propor-se-á, como cumprimento de um direito-dever da pessoa humana, para a qual a educação religiosa da consciência constitui manifestação fundamental de liberdade; por outro lado, deverá ser considerado como serviço que a sociedade presta aos alunos católicos, que formam a quase totalidade dos estudantes, e aos seus pais, que logicamente se presume quererem para eles uma educação inspirada nos próprios princípios religiosos. A este propósito desejo recordar o que escrevi na Exortação Apostólica Catechesi Tradendae: "E quero exprimir votos ardentes por que, em correspondência a um direito bem claro da pessoa humana e das famílias, e no respeito pela liberdade religiosa de cada um, se torne possível a todos os alunos católicos progredir na sua formação espiritual, com a contribuição de um ensino religioso que depende da Igreja, mas que, segundo os países, pode ser fornecido pela escola" ou no âmbito da escola. (cf. Catechesi Tradendae CTR 69).

O ensino religioso, ministrado nas Escolas, e a Catequese propriamente dita, dada no âmbito da Paróquia, embora distintos entre si não devem considerar-se como separados. Há mesmo entre ele e ela conexão íntima: idêntico, de facto, é o sujeito a que se dirigem os Educadores num caso e noutro, isto é o aluno; e idêntico é também o conteúdo objectivo, sobre o qual incide, embora com diferentes modalidades, a acção formativa, exercida no ensino da Religião e na Catequese. O Ensino da Religião pode ser considerado tanto como qualificado preâmbulo para a Catequese quanto como reflexão posterior sobre os conteúdos da Catequese já adquiridos.

4. Uma primeira consequência de semelhante apresentação do problema diz respeito directamente ao professor de Religião: deverá este tomar, cada vez mais, viva consciência da própria identidade de cristão empenhado na Comunidade eclesial, sentindo que esta olha para ele e o segue com exigente consideração no grave encargo que lhe confiou a Igreja.

O desempenho de tão delicado encargo requer preparação profissional especializada. O mestre de Religião deve, de facto, estar de posse, por um lado, de formação teológica sistemática, que lhe consinta propor com competência os conteúdos da fé, e, por outro, daquele conhecimento das Ciências humanas, que se mostra necessário como meio de apresentação, de modo adaptado e eficaz, dos conteúdos mesmos.

Semelhante esforço cristão e profissional, para conseguir manter-se à altura das exigências educativas, requer da parte dos Professores de Religião (da Escola Materna até à Média superior) o esforço de uma constante actualização nos conteúdos e nas metodologias, e o empenho de uma participação activa na vida da Comunidade eclesial.

5. Uma palavra desejaria reservar para a responsabilidade dos católicos no seu conjunto, em relação com a obra formativa realizada pela escola. É claro que a penetração da matéria religiosa é condicionada pela universalidade do contexto pedagógico, dentro do qual essa matéria se expõe. Deriva daqui a importância de uma presença respeitosa e activa dos católicos nos vários momentos do caminho formativo, percorrido pelo aluno: contributo importante poderão oferecer primeiramente os mestres católicos com o que é específico da profissionalidade deles; deverá depois ser valorizada e estimulada a acção dos pais para o eficaz papel de meditação e de diálogo, que eles podem desempenhar entre a Comunidade civil e a eclesial, sobretudo no âmbito dos órgãos colegiais; nem deverá ser menos estimado, por último, o concurso dos alunos, cujo influxo no ambiente escolar se manifestará sobretudo por meio do testemunho do estudo, da audição e do serviço.

O tempo da formação exige particulares atenções e respeito pela personalidade em maturação, do jovem. O empenho dos particulares e o projectado organicamente pela Comunidade eclesial deverão mover-se em tal direcção, com o intento de promover, em harmonia com as características próprias da escola, a serena convivência dos componentes humanos diversos por mentalidade e cultura, favorecendo que se estabeleça entre eles aquela relação de diálogo aberto e respeitoso, o único que pode conduzir a uma sociedade autenticamente civilizada.

Entre as muitas aplicações que sugere semelhante orientação, há também a que obriga os Mestres de Religião a sentirem-se responsáveis pela proposta da mensagem cristã a todos os alunos, evitando a tentação de limitar o próprio interesse a quem vive conscientemente uma opção de fé e de prática religiosa. Respeitar a todos, não excluir ninguém, procurar activamente o diálogo com todos os componentes da comunidade escolar, eis em síntese os critérios em que o Mestre de Religião deve constantemente inspirar-se.

6. Estes, filhos caríssimos, os pensamentos que era para mim urgente comunicar-vos, sobre assunto tão complexo e tão fundamental. Desejaria, antes de concluir, pedir uma vez mais à Comunidade eclesial inteira que faça convergir sobre ele o próprio empenho generoso: o que está em jogo é a formação religiosa daqueles que serão os responsáveis pela, Comunidade de amanhã. Todas as energias gastas neste sector devem, portanto, considerar-se como gastas prudentemente.

Permanece, em todo o caso e para cada um, a dificuldade de exprimir em linguagem humana coisas divinas, e de imprimir à nossa pobre linguagem aquela secreta energia que a torna persuasiva e salutar, transformando-a numa espada que penetre na intimidade do espírito: "Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes" (He 4,12). Esta espiritual eficácia depende, mais que da capacidade e de juízos humanos, da acção transformadora da graça divina. E a graça é proporcionada oportunamente pela purificação do coração, obtida mediante a prece, a penitência e o exercício mais desinteressado e generoso da caridade. Iniciámos ontem o período quaresmal: este é o "tempo aceitável", em que é convidado cada um de nós a entrar no caminho de uma mais profunda experiência da presença, corroborante do Espírito de Cristo.

Os meus votos são que esta Quaresma seja, para cada um, tempo de interior renovação, na alegria de um contacto mais vivo com as fontes novas da graça. Com tal finalidade concedo-vos de coração a minha Bênção Apostólica, benéfica em todos os desejados confortos celestiais.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR KIM JOA SOO


NOVO EMBAIXADOR DA COREIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sábado, 7 de Março de 1981



Senhor Embaixador

É para mim uma satisfação receber hoje Vossa Excelência como Embaixador da República da Coreia, e aceitar as Credenciais enviadas por Sua Excelência Chum Doo Hwan. Peço-lhe queira transmitir-lhe os meus bons votos pela sua pessoa e pela sua missão, há pouco iniciada como Presidente.

A Coreia é um dos países que me foi impossível visitar durante a minha viagem pastoral na Ásia Oriental, no mês passado. A viagem, por conseguinte, não me deu a oportunidade de mostrar a profunda estima e o afecto que nutro pelo povo coreano, mas sinto-me feliz por ter esta ocasião, imediatamente depois, para expressar os meus calorosos sentimentos para com ele.

No passado, o seu povo mostrou força de carácter mantendo a própria identidade e cultura frente a circunstâncias adversas. Apesar da consequente oposição da parte de muitos a aceitarem qualquer ideia que vem de fora, houve sempre coreanos que souberam reconhecer o que era bom neste campo e o aceitaram. Houve membros do seu povo que introduziram o cristianismo no seu país, sabendo que a mensagem de Jesus não estava em oposição às suas nobres tradições mas, pelo contrário, as exaltaria, e apresentaria o que nelas havia de melhor.

Também hoje o povo coreano se depara com sérias dificuldades na sua tarefa de ser coerente consigo mesmo e de obter um futuro melhor. É-me grato ouvir o autorizado testemunho de Vossa Excelência sobre a lealdade e operosidade dos católicos na Coreia que trabalham por urna sociedade caracterizada pela justiça e o progresso. Precisamente graças à sua adesão ao ensinamento de Cristo, o católico tem profunda consciência do seu dever de levar o próprio contributo para o bem-estar da sociedade a que pertence, empregando os seus talentos para a melhorar. Esta é igualmente a inspiração para as obras de educação e bem-estar das instituições católicas e das Congregações religiosas cujos membros se dedicam a seguir, tanto quanto podem, as pegadas de Jesus, de quem foi dito: "andou por toda a parte fazendo o bem" (Ac 10,38).

É minha ardente esperança que a colaboração de todos os sectores do povo coreano leve, com a ajuda de Deus, a um futuro em liberdade, justiça, cultura e harmonia. O povo do seu país é-me querido, e peço ao Senhor o guie, como também aos seus dirigentes, para procurar o que é justo e bom, e o assista constantemente na prossecução deste objectivo. Para Vossa Excelência, também peço que a sua missão possa contribuir para o bem-estar do seu país e a compreensão internacional.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO «ENCONTRO VERITAS»


PROMOVIDO PELO MOVIMENTO DE ESTUDANTES


DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA


Sábado, 7 de Março de 1981



Caríssimos Estudantes

1. Sinto-me muito feliz ao encontrar-me convosco e saudar-vos. No termo do vosso itinerário "A procura da Verdade", desejastes vir aqui, à Sé de Pedro, para exprimir, também em nome de tantos amigos vossos, os sentimentos que tendes de fé e devoção para com o Vigário de Cristo. E eu, agradecendo-vos do coração, manifesto-vos toda a minha alegria por me ser dado encontrar-me, seja embora brevemente, convosco, que representais os Jovens da Acção Católica Italiana e, quereria mesmo dizer, representais neste momento todos os estudantes da Itália. Regozijo-me vivamente com a obra que tendes realizado em cada uma das vossas Dioceses e no ambiente tão importante e delicado da Escola.

Saúdo, em primeiro lugar, o Assistente Eclesiástico Geral, Dom Giuseppe Costanzo, o Presidente Central, Professor Alberto Monticone, e todos os seus colaboradores, sacerdotes e leigos, que se ocuparam desta óptima e valiosa iniciativa; saúdo-vos a vós, aqui presentes, e todos aqueles que participaram na realização do itinerário de investigação, com questionários, discussões, reuniões e apresentação de filmes, de maneira que o Encontro Veritas, nesta já 31ª edição, foi notavelmente ampliado, conseguindo assim interessar e responsabilizar maior número de estudantes, tomando o nome de Encontro Veritas. Por vosso meio desejo também fazer chegar a minha afectuosa saudação a todos os vossos amigos estudantes, espalhados pelas tão numerosas escolas da Itália. Trabalhastes bem neste ano passado, tanto que merecestes ser designados para o Encontro em Roma e para a Audiência do Papa: tendes direito a sentir-vos alegres e satisfeitos. Mas continuai a perseverar no vosso esforço de testemunho: deveis ser portadores de certeza e de esperança no ambiente da escola; deveis, com a vossa fé e a vossa bondade, fazer sentir a presença e a amizade de Cristo. Os Bispos das vossas Dioceses, os sacerdotes das vossas Paróquias e os professores de Religião nas escolas precisam sempre do vosso auxílio, generoso e convicto. Continuai por isso a levar com serenidade e fortaleza a bandeira da vossa fé e da caridade para com todos os homens.

2. A este propósito desejo dar particularmente a vós, jovens da Acção Católica, um encargo quanto à juventude de hoje e a busca da verdade segundo aquele itinerário que vós já percorrestes.

Quais são as características da juventude de hoje? Não é difícil para vós, que sois jovens e viveis sempre no meio de jovens, notar a fisionomia espiritual que lhe é característica:

— é uma juventude crítica, que, tendo notavelmente aumentado o património cultural, é levada logicamente a pensar mais, a reflectir e a julgar;

— é uma juventude exigente que, às vezes exagerando e cedendo ao egoísmo pessoal, quer e pretende honestidade, veracidade, justiça e coerência;

— é uma juventude que sofre por causa da contraditoriedade das ideologias que a impressionam, por causa do contínuo esvaziamento dos ideais de que é espectadora;

— é uma juventude interrogante, que deseja dar-se conta dos acontecimentos, que procura o sentido da própria vida e o significado da história humana e do universo inteiro, que invoca certeza e clareza sobre o próprio destino e acerca do próprio comportamento;

— é uma juventude ansiosa de verdade, de ideais para os viver, de responsabilidade, de beleza moral, de inocência e de alegria.

Pois bem, caríssimos estudantes, é da juventude desta geração que deveis aproximar-vos, a ela deveis conhecer, amar e iluminar. É com ela que deveis continuar o itinerário da busca da verdade. Com clareza e confiantemente.

Em qualquer ambiente em que vos encontreis, defendei sempre e antes de tudo a validez da busca, para combater aquele sentido de cepticismo e de problematicismo absoluto, que elimina todo o desejo de indagação, e que pode facilmente penetrar no ânimo juvenil. Ocupai-vos, em segundo lugar, da seriedade da busca, de modo que não lanceis nunca a dúvida sobre as verdades fundamentais a respeito da certeza racional sobre Deus, a mensagem de Cristo e o ensino autêntico da Igreja. E, por fim, testemunhai a eficácia da busca da verdade salvadora, com a alegria cristã, vivendo as Bem-aventuranças e sustentando a vida espiritual com a Eucaristia e a oração.

3. Aos jovens que se perguntam com angústia e ansiedade "Que é a verdade? Existe a verdade?", respondereis com corajosa convicção "Sem dúvida! Cristo é a verdade e só Ele tem palavras de vida eterna!". Aos jovens que estão sedentos de alegria, de beleza e de amor, respondereis com Santo Agostinho: "Só a verdade nos torna felizes" (Enar. in Ps 4,3). "A felicidade é gozar da verdade. É este, portanto, o gosto de Ti, que sois a Verdade, ó Deus, minha Luz, salvação da minha face, ó meu Deus. Esta é a felicidade que todos ambicionam, é esta a única vida feliz que todos querem, é esta a alegria que todos desejam: a alegria da verdade" (Confissões, liv. 10, cap. 23).

Esta é a magnífica missão que vos espera, continuando vós, com os vossos amigos estudantes, o itinerário de busca. Ajude-vos e inspire-vos Maria Santíssima, a "Sede da Sabedoria", "Causa da nossa alegria".

Com estes votos, concedo-vos de coração a minha Bênção Apostólica, que torno extensiva com afecto aos vossos professores de Religião, aos vossos Assistentes eclesiásticos e a todos os vossos amigos, estudantes da Itália!





MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS FIÉIS BRASILEIROS POR OCASIÃO DA


CAMPANHA DA FRATERNIDADE 1981


Segunda-feira, 9 de Março de 1981

Amadíssimos Irmãos e Irmãs:

Abre-se hoje mais uma Campanha da Fraternidade no Brasil. Estão vivas ainda no meu espírito, em saudade, as imagens – sobretudo dos queridos jovens – a chamarem ao Papa seu irmão, quando visitava o vosso País. Isso dava a entender que os Brasileiros se sentem irmãos entre si. A fraternidade, porém, é algo vivo, a ser feito continuamente. Donde, a oportunidade desta Campanha, de cujo “ slogan ” me sirvo para vos saudar cordialmente: “Saúde para todos”, com graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo!

Dirigindo-me hoje mesmo à Igreja universal, dizia que “a Quaresma é um tempo de verdade”. Um tempo em que o cristão é convidado particularmente à oração, à penitência, ao jejum, a despojar-se de si mesmo e a ver-se com toda a verdade, diante de Deus: “Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó hás-de voltar”, recorda a Liturgia nesta Quarta-Feira de Cinzas.

Mas, pela sua dimensão espiritual, o homem, provindo de Deus e para Deus devendo voltar, é chamado a alguma coisa diferente dos bens terrenos e materiais. Por isso, deve caminhar na vida no sentido indicado por Cristo Senhor, com a sua morte e ressurreição: caminhar, à luz do mistério pascal, no sentido da Vida, pelas vias do amor ao Pai que está nos céus e do amor aos irmãos, tantas vezes em apelo à caridade, à solidariedade e à partilha fraterna de um “coração de pobre”, capaz de compadecer-se dos menos favorecidos: desvalidos, doentes, marginalizados ou velhinhos...

Saúde para todos”: é um enunciado por demais denso de interrogações e de problemática, um verdadeiro desafio estimulante para se buscarem novos ideais e novas maneiras de ver as realidades, num mundo que parece dar mostras de cansaço, marcado pelo egoísmo e sem lugar para a misericórdia.

A boa saúde, sabemo-lo, não é apenas ausência de doenças: é vida plenamente vivida, em todas as suas dimensões, pessoais e sociais. Como o contrário, a falta de saúde, não é só a presença da dor ou do mal físico. Há tantos nossos irmãos enfermos, por causas inevitáveis ou evitáveis, a sofrer, paralisados, “à beira do caminho”, à espera da misericórdia do próximo, sem a qual jamais poderão superar o estado de “semimortos” ...(Cf. Lc Lc 10, 33ss)

À luz da fé, toda a dor tem sentido; ela pode mesmo servir para completar “ o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja ”. Em cada homem que sofre é presente, de algum modo, o mistério da morte e ressurreição do Senhor. No entanto, a saúde é direito e dever para todos.

No seu empenho por viver bem, com saúde, todo o homem se dá conta das próprias limitações, transitoriedade, ilusões e ambiguidades; e descobre precisar dos outros, da “ misericórdia ” do próximo. E talvez dolente se interrogue: “E quem é o meu próximo?”.

Hoje, ao iniciar-se a Quaresma, e esta Campanha da Fraternidade que intenta animá-la, cada um deve sentir-se interpelado e interrogar-se: e eu, na minha vida, à luz do quadro evangélico do Bom Samaritano, que personagem vivo? Atingido pela desventura? Viandante distraído, apressado e desinteressado dos outros? “ Bom Samaritano”?

“ E quem é o meu próximo? ”.

Olhai, Irmãos e Irmãs: a resposta é avalizada por Cristo Senhor: “ Aquele que usa de misericórdia ”, à imagem do Bom Samaritano, à imagem de Deus, “ rico em misericórdia ”. Cristo nos chama e nossos irmãos aguardam!

Com votos de “Saúde para todos”, convido-vos a pensar, diante de Deus, e a ser generosos na partilha fraterna, certificando-vos da minha oração por todos vós, ao abençoar-vos.

Em nome do Pai / e do Filho / e do Espírito Santo. / Ámen.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO ENCERRAMENTO DOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS


Capela Matilde

Sábado, 14 de Março de 1981



"Agimus tibi gratias".

Chegou o momento de agradecer. Devemos agradecer a Cristo, Nosso Senhor, esta comunidade que nos permitiu constituíssemos durante os últimos cinco dias. Devemos agradecer este dom quaresmal dos exercícios espirituais. É comunidade que se pode chamar "profética". Devemos agradecer o dom da comunidade profética, que todos nós constituímos durante estes dias; a comunidade profética que recebe a palavra de Deus, se identifica com a Palavra de Deus e vive a Palavra de Deus. No silêncio dos exercícios espirituais vive-se a Palavra de Deus no silêncio, para a viver depois nas diversas circunstâncias, nas diversas tarefas, na missão completa que nos é confiada ao serviço da Sé Apostólica de Pedro.

Devemos mostrar gratidão profunda, gratidão mútua uns para com os outros, porque neste verdadeiro ofício divino fomos, uns para os outros, irmãos e colaboradores, fomos mesmo testemunhas, uns para com os outros, cada um para com o outro. Tal foi o carácter desta semana para a nossa comunidade profética, porque formada pela Palavra de Deus, constituída pela Palavra de Deus e centrada na Palavra de Deus. Profética também por causa do tema, escolhido como central para estes Exercícios: "Eritis mihi testes". E aqui a nossa gratidão dirige-se ao nosso amadíssimo Pregador dos Exercícios. Estamos-lhe reconhecidos por nos ter conduzido ao longo destes dias. É verdade que todos nós, durante os Exercícios, constituímos uma comunidade profética, mas aquele que falava, com a voz humana e com a inspiração evangélica, era o nosso Pregador. Devemos agradecer-lhe este testemunho que nos deu com a sua pregação quaresmal, com todas as conferências, que seguimos com profundíssima atenção e, esperamos, com grande fruto espiritual. Estamos-lhe agradecidos por esta pregação tão rica espiritualmente, rica de toda a riqueza da palavra de Deus e rica de toda a beleza da palavra de Deus: rica precisamente por meio da longa meditação, da profunda maturação, realizada na alma do nosso Pregador. Estamos-lhe gratos por este testemunho, verdadeiro testemunho de fé, fé que se alimenta — isto sentimo-lo — da palavra de Deus, na meditação; fé que, amadurecida na consciência e no coração, depois se manifesta como fruto maduro, fruto — pudemos verificar também isto — de um grande trabalho, de uma grande preocupação pastoral, apostólica; tudo isto agradecemos: agradecemos ao nosso pregador, agradecemos ao Senhor que nos mostrou tudo isto e nos trouxe tudo isto no nosso Pregador.

O tema, tão bem escolhido, foi muito substancioso: "Eritis mihi testes"; diria eu que não se podia encontrar tema mais adequado à nossa comunidade, que devia tomar parte nos Exercícios. E depois foi apresentado tão profundamente, com tanto fervor e zelo, com tanta energia! Ouvimos, sim, a beleza da palavra de Deus, mas ouvimos também a sua força; isto graças ao nosso Pregador, que nos mostrou esta força da palavra de Deus para no-la transmitir.

Agradecemos também as perguntas que sempre nos apresentou, começando da primeira conferência. A pergunta central "se eu sou testemunha de Cristo", e depois todas as outras, que nos ajudaram a fazer um exame de consciência, a entrar naquele sacrário das nossas consciências e a procurar as respostas; assim pudemos não só admirar a beleza da palavra de Deus, mas também receber nós mesmos as perguntas e encontrar as respostas a cada uma.

De tal modo se realizou esta obra durante cinco dias, obra abençoada por Deus;. e agora, concluindo-a com o "Magnificat", queremos agradecer a Nosso Senhor e à Sua Mãe, com as palavras da Sua Mãe; queremos agradecer este grande dom quaresmal. Recompense o Senhor o grande trabalho apostólico do nosso Pregador, e ajude-nos a todos nós a viver longamente no espírito destes Exercícios espirituais.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UMA PEREGRINAÇÃO ITALIANA DE JÉSOLO


Sábado, 14 de Março de 1981



Senhor Cardeal,
Caríssimos Sacerdotes e fiéis de Jésolo

1. A vossa visita faz-me vir ao pensamento uma das zonas turísticas mais belas e mais frequentadas da Itália e enche-me de alegria, porque é um gesto de profunda fé e devoção filial para com Aquele que Jesus Cristo colocou como fundamento da sua Igreja e a quem deu as chaves do Reino dos céus. Recebei a minha cordial e reconhecida saudação!

Desejo saudar antes de mais o cardeal Patriarca de Veneza, que vos acompanhou; o Vigário e os sacerdotes que têm ao próprio cuidado as paróquias da Forânia; todos os outros sacerdotes colaboradores e vós, fiéis, que recebestes com fervor a iniciativa desta viagem de fé e de oração, e aproveito a oportunidade para fazer extensiva a minha saudação de bênção também a toda a população da querida Diocese de Veneza, que celebra este ano o sexto Centenário do nascimento de São Lourenço Giustiniani, seu primeiro Patriarca.

Viestes a Roma em devota peregrinação e quero esperar que, embora, no meio dos ruídos e dos contrastes da moderna metrópole, tenhais podido respirar o perfume misterioso e salutar da Urbe, perfume que provém das suas incomparáveis Basílicas, dos seus Santuários, dos túmulos dos Mártires, das vicissitudes de tantos Santos e de tantas personalidades que viveram totalmente consagrados ao bem da Igreja e das almas.

Desejo-vos de coração que possais sempre conservar no vosso espírito a recordação suave e forte de Roma, sé de Pedro e centro da Cristandade.

2. Viestes a Roma sobretudo para escutar as palavras do Papa, para vos sentirdes confortados e confirmados por ele na fé e na esperança, especialmente neste período da nossa história, tão difícil e exigente.

A vossa experiência de vida e de trabalho em lugares de intensa actividade turística e balnear põe-vos em contacto com mentalidades diferentes e com todos os tipos de pessoas: desde as que fazem do prazer individual e do bem-estar a finalidade da própria vida, àquelas que, pelo contrário, se preocupam por dar um sentido à existência na busca de valores autênticos e de significados válidos e perenes.

Oxalá o vosso empenho constante e convicto seja o esforço de ser a boa semente, a luz, o sal e o fermento nesta sociedade, sem nunca vos deixardes impressionar nem arrastar pelas modas correntes e pelo costume da multidão. O facto de o próprio Deus ter querido encarnar e inserir-se na história humana, significa que Deus se destina para a história e para o homem e que, embora a economia divina permaneça misteriosa, Deus ama o homem e quer salvá-lo. Dê-vos esta certeza a força e a alegria de serdes sempre e em todos os lugares cristãos fervorosos.

Na realidade, o que tem valor diante do Altíssimo não é tanto a história com os seus fluxos e refluxos, mas cada pessoa, com as suas experiências e a sua nostalgia do divino e do eterno. E cada uma destas pessoas encontrai-la todos os dias no caminho da vossa vida. Para ela o vosso testemunho cristão pode ser um auxílio edificante.

Recomendo-vos, de modo particular, a santificação do Domingo com a participação na Santa Missa, que é o encontro com Cristo e com a Comunidade: se verdadeiramente se quer, pode-se e consegue-se! Recomendo-vos a oração pessoal e familiar e a rectidão de consciência em todo o vosso comportamento: é isto o que a sociedade moderna quer dos seguidores de Cristo!

3. Caríssimos sacerdotes e fiéis! Ao ver-vos, é-me espontâneo pensar n'Aquele que durante alguns anos foi vosso Patriarca, o Papa João Paulo I, que, no seu zelo apostólico, assim escrevia de Veneza, inculcando o amor e a devoção a Maria Santíssima: "O Rosário exprime a fé sem falsos problemas, sem subterfúgios nem jogo de palavras, ajuda o abandono em Deus, e a generosa aceitação do sofrimento. Deus serve-se também dos teólogos, mas, para distribuir as suas graças serve-se sobretudo da pequenez dos humildes e dos que se abandonam à sua vontade".

Esta exortação a amar e a rezar a Maria deixo-vo-la de bom grado também eu, juntamente com a Bênção Apostólica, que de todo o coração vos concedo e faço extensiva a todas as pessoas que vos são queridas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À ASSOCIAÇÃO DOS MUTILADOS


E INVÁLIDOS DO TRABALHO


Sábado, 14 de Março de 1981



Caríssimos Irmãos e Irmãs

No termo dos Exercícios Espirituais, que me consentiram ocasião privilegiada para mais intensa elevação do espírito a Deus Pai na oração e na reflexão, tenho o prazer de me encontrar convosco, beneméritos Representantes da Associação Nacional dos Mutilados e Inválidos do Trabalho.

1. Apresento a todos os membros desta Instituição a minha cordial saudação e afectuosas boas-vindas, agradecendo vivamente as nobres expressões com que o vosso Presidente quis introduzir este encontro familiar. Não posso deixar de, antes de mais, manifestar-vos o meu profundo sentimento de complacência e estima pelo apreciado trabalho por vós realizado na tutela e na defesa dos "interesses morais e materiais" — como bem diz o segundo artigo do vosso Estatuto — de todos os que estão provados no corpo e no espírito, em consequência de funestos desastres no trabalho nos diversos campos das actividades humanas.

O meu apreço dirige-se, em particular, para o louvável contributo por vós oferecido para resolver os problemas dos vossos associados e para a reinserção deles na vida social, subtraindo-os à solidão e ao aviltamento moral, e encaminhando-os para uma necessária relação humana. A rede de assistência característica sob este ponto de vista, organizada em todo o território nacional, é bem claro que testemunha a vossa acção preciosa e eficiente.

2. Tudo isto não pode deixar de encontrar incitamento por parte da Igreja, que não cessa de empreender iniciativas a fim de que a cada homem — mas em particular àquele que está mais exposto à marginalização por causa das suas precárias condições de saúde — seja garantida a sua inalienável dignidade humana, social e espiritual. A este propósito, precisamente nestes dias, exprimiu a Santa Sé, num Documento seu, "vivo reconhecimento a todas as comunidades e associações, a todos os Religiosos e Religiosas, a todos os voluntários do laicado que se prodigam no serviço das pessoas deficientes, manifestando a perene vitalidade daquele amor que não conhece barreiras"; e recomendou, ao mesmo tempo, que todo o indivíduo que sofre qualquer deficiência seja ajudado a tomar "consciência da sua dignidade e dos seus valores, e a dar-se conta de que se espera alguma coisa dele e de que também ele pode e deve contribuir para o progresso e bem da sua família e da sua comunidade" (cf. Documento da Santa Sé para o Ano Internacional das Pessoas Deficientes, 4 de Março de 1981). A Igreja Católica vê, por isso, em vós preciosos aliados na sua tarefa de promoção humana e de evangelização, e está disposta a oferecer o seu apoio e as suas organizações para se atingirem estes ideais. Partindo disto, podeis imaginar quanto são ferventes os votos de que a vossa acção assistencial se estenda cada vez mais e seja cada vez mais eficaz para todos os que sofreram nas suas pessoas e disso trazem ainda sinal na carne lacerada —, a fim de assegurarem o pão à própria família e o bem-estar à sociedade.

3. Ilustres e caros Senhores, dignai-vos aceitar uma última palavra de exortação e de augúrio: tende sempre, da vossa actividade, altíssima, consideração, que vos incite continuamente a que atinjais novas metas neste vasto e delicado campo em que sois chamados a realizar a vossa obra de elevação e conforto fraterno. Não vos considereis nunca satisfeitos de quanto realizastes e não vos canseis nunca diante das dificuldades. Sabei ler nos olhos e na alma daqueles que levam a cruz das próprias mutilações e invalidezes, sustentando duras lutas, muitas vezes desconhecidas dos homens, mas conhecidas de Deus e valorizadas pela Fé n'Ele. Sabei estar perto dos vossos assistidos e fazer-lhes sentir o calor da vossa verdadeira amizade que, como bálsamo perfumado, pode confortar tantos corações e aliviar tantos sofrimentos. Tende, além do sentido da justiça, que está na base de todas as relações humanas, também e sobretudo uma amorosa compreensão, porque, como escrevi na recente Encíclica Dives in Misericordia, "O mundo dos homens pode tornar-se cada vez mais humano, contanto que introduzamos no multiforme campo das relações inter-humanas e sociais, juntamente com a justiça, aquele 'amor misericordioso' que forma a mensagem messiânica do Evangelho" (n. 14). Só deste modo podereis descortinar, para além do homem ou da mulher necessitados de auxílio, o rosto de Cristo que sofre, que neste tempo sagrado da Quaresma nos é apresentado pela Liturgia como o cego que não tem beleza nem esplendor (Is 53,3). Seja o Senhor o vosso sustentáculo e o vosso prémio, valorizando os vossos esforços com os do mérito eterno.

É este o voto que com grande benevolência formulo por todos vós e por todos os membros da vossa Associação, voto a que junto a propiciadora Bênção Apostólica.






Discursos João Paulo II 1981 - Quinta-feira, 5 de Março de 1980