Discursos João Paulo II 1981 - Sábado, 14 de Março de 1981

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À UNIÃO CATÓLICA ITALIANA


DE PROFESSORES DAS ESCOLAS MÉDIAS


Segunda-feira, 16 de Março de 1981



Irmãos e Irmãs caríssimos

1. Desejo, antes de mais, dirigir a minha sincera e afectuosa saudação a todos vós, que participais durante estes dias no 15° Congresso nacional da "União Católica Italiana de Professores das Escolas Médias". À minha saudação une-se também um profundo e necessário apreço pelas não poucas benemerências, que a vossa Associação conquistou nos seus 35 anos de vida. Não podemos deixar de recordar, neste dia de alegria recíproca, o fundador da União, o saudoso professor Gesualdo Nosengo, que em Junho de 1944, num período dramático para a história da Itália, com profunda sensibilidade cívica e cristã pensou em unir os Professores católicos das Escolas Médias para se ajudarem mutuamente numa autêntica formação espiritual e profissional, e para tornarem mais activo, mais eficaz e mais orgânico o testemunho cristão deles nas Escolas do Estado e não do Estado .

Surgiu assim a vossa Associação, que nestes 36 anos de vida teve extraordinária difusão — desde as Secções até aos Conselhos Provinciais e Regionais — e participa também nas várias iniciativas da vida eclesial italiana.

Ao dar-vos, portanto, as minhas sinceras boas-vindas, sinto também a necessidade de vos exprimir a profunda gratidão minha pessoal e a de toda a Igreja que está na Itália, exorto-vos e animo-vos a proceder, com renovado empenho e fervor, na realização das nobres finalidades, que estão na base da vossa acção.

2. Sei que no vosso 15° Congresso nacional, dedicado ao tema "Constituição e Escola", estais aprofundando o estudo dos valores fundamentais da Constituição Italiana, na qual foram generosamente derramados tantos valores cristãos, de que a Nação Italiana pode legitimamente orgulhar-se.

Sobre o fundamento da vossa rica experiência destes anos de actividade, e à luz da doutrina cristã acerca do valor, da função e dos encargos da Escola na sociedade, tendes sempre afirmado o direito de cada pessoa receber instrução e educação; o direito-dever dos pais a educar e instruir os filhos e, por conseguinte, de escolher livremente a escola mais conveniente para eles e a participar na gestão dela. E apraz-me recordar-vos, sobre este delicado e actual tema, o que disse aos vossos colegas o meu predecessor Paulo VI: "Como professores católicos, numa perspectiva de renovamento das estruturas escolares, não podeis deixar de atender à relação necessária entre a escola e a família para uma continuidade educativa. A família, tendo como fim a procriação e a educação dos filhos, possui por isso mesmo prioridade de natureza, e por conseguinte prioridade de direito-dever no campo educativo diante da sociedade. Ela não deve nem pode renunciar a este direito. É necessário por isso que, ao lado dos professores e dos alunos, também as famílias se encontrem presentes na Escola e responsáveis pela orientação educativa da comunidade escolar" (Insegnamenti di Paolo VI, VII, 1969, p. 78).

Vós afirmastes depois o direito-dever de cada cidadão ser respeitado no exercício das suas liberdades fundamentais: de religião, de pensamento, de imprensa, de associação e de ensino; e tudo isto seguindo a grande tradição do Magistério Eclesiástico, especialmente o mais recente contido na Mater et Magistra e na Pacem in terris de João XXIII, na Octogesima adveniens de Paulo VI, e nos documentos do Concílio Vaticano II, em particular nas declarações Gravissimum educationis e Dignitatis humanae e na constituição pastoral Gaudium et spes: documentos todos, que é preciso ter sempre presentes e estudar com particular atenção.

3. Na base desta vossa acção responsável está uma concepção a que o Concílio Vaticano II ofereceu o peso e a força da sua autoridade, de modo especial na declaração sobre a educação cristã. A Igreja, que no campo escolar tem uma experiência plurissecular, afirma que entre os instrumentos educativos reveste particular importância a Escola, que por um lado contribui para levar à maturidade as faculdades intelectuais, e por outro desenvolve a capacidade de juízo, coloca o aluno em contacto com o património cultural das passadas e presentes gerações, promove o sentido dos valores, prepara para a vida profissional, e produz uma relação de amizade entre alunos de índole e condições diversas. A Escola é portanto, segundo a afirmação conciliar, como que um "centro", para cuja actividade e cujo progresso devem ao mesmo tempo contribuir e participar as famílias, os professores, os vários tipos de associação com finalidades culturais, cívicas e religiosas, a sociedade civil e toda a comunidade humana (cf. Decl. Gravissimum educationis GE 5).

E vós, caríssimos Professores, naquele centro privilegiado que é a Escola tendes tarefa extremamente grave e delicada, "maravilhosa vocação", como a define o Concílio (ibid.): a de comunicar primeiro que tudo aos alunos, que são convosco os verdadeiros protagonistas da Escola, aquele conjunto de conhecimentos que adquiristes em tantos anos de estudo e reflexão. Mas tal "cultura" não pode reduzir-se simplesmente a um árido conjunto de noções; deve tornar-se forma de conhecimento, capacidade de julgar a realidade e a história, uma "sabedoria", isto é, capaz de colocar o Professor e o Discípulo na possibilidade de formarem "juízos de valor" sobre os acontecimentos — religiosos, históricos, sociais, económicos e artísticos — do passado e do presente. Neste complexo e global juízo de valor, o Mestre, que é também crente, não pode "colocar entre parêntesis" a sua fé, como se fosse elemento inútil ou mesmo alienante, na relação delicada e privilegiada com os seus discípulos, mas, no máximo respeito pela liberdade e personalidade deles, deve tornar-se autêntico "educador", formador de caracteres, de consciências e de almas, num contínuo testemunho de límpida coerência entre a sua fé e a sua vida profissional, entre o "homo sapiens" e o "homo religiosus". Da vossa cultura deveis poder dizer o que da sabedoria afirmava o sábio do Antigo Testamento: "Sine fictione didici et sine invidia communico" (Sg 7,13).

Isto exigirá uma séria e determinada competência nas disciplinas que ensinais, e também constante e generoso compromisso de límpida vida cristã, na serena coragem de manifestar, mostrar e demonstrar as vossas convicções, especialmente no campo religioso, vivendo em coerente sintonia a mensagem evangélica, animadora da vossa profissão, ou melhor da vossa missão de Professores.

4. A vossa típica função de Professores coloca-vos, como insinuámos, numa delicada e privilegiada posição diante do problema, hoje actual, das relações entre Fé e Cultura, posição sobre a qual os Padres do Concílio Vaticano II elaboraram algumas páginas, entre as mais agudas e felizes, da constituição pastoral (Gaudium et spes (cf. nn. 53-62).

O homem contemporâneo sente-se responsável do progresso da cultura; sente com ansiedade as múltiplas antinomias, que deve resolver. E os cristãos têm o dever de colaborar com todos os homens na construção de um mundo mais humano; a cultura deve ser desenvolvida de modo que aperfeiçoe a pessoa humana na sua integridade, e ajude os homens no desempenho daquelas missões, a cujo cumprimento todos, mas especialmente os cristãos, são chamados.

Sois vós, Professores católicos, que de modo particular deveis alimentar e preparar adequadamente nos vossos discípulos, com o ensino e o exemplo, aquele humus, aquele clima e aquela atitude interior em que a fé possa florescer e desenvolver-se na sua integridade. Mediante a vossa preparação cultural sabei mostrar aos jovens que não se pode dissociar o problema da formação religiosa do da formação cultural e humana; que, entre a mensagem cristã da salvação e a cultura, existem múltiplas e fecundas relações; que a Igreja, vivendo no decurso dos séculos em condições diversas, se serviu das diferentes culturas, fruto do génio dos vários povos, para difundir e explicar a mensagem cristã, para aprofundá-la, para a exprimir na vida litúrgica e na multiforme história das várias comunidades de fiéis; que o Evangelho de Cristo renova continuamente a vida e a cultura do homem decaído, combate e remove os erros e os males, purifica e eleva a moralidade dos povos (cf. Gaudium et spes GS 58).

Isto é, sabei educar e formar os jovens contemporâneos na inteligência e na razão, aquela inteligência e aquela razão — abertas aos valores da transcendência — que a Igreja, contra toda a forma que se renova de agnosticismo e de fideísmo, sempre defendeu e manteve com grande confiança no homem, no homem completo, isto é na plenitude das suas dimensões, em que convergem e se fundem ciência e criatividade, análise e fantasia, técnica e contemplação, educação moral e preparação profissional, compromisso social e político e, por outro lado, abertura religiosa: é este o homem que deveis formar, educar e preparar na Escola, que deve ser concebida e realizada não só como simples instrumento para a formação dos dirigentes, dos técnicos, dos trabalhadores que satisfaçam as exigências de produção da sociedade de amanhã, mas também como "centro" privilegiado, vivo e vital, em que o jovem seja formado naquele "humanismo pleno", de que tantas vezes falou Paulo VI.

Estas metas educativas, caríssimos Irmãos e Irmãs, são verdadeiramente entusiasmantes. E vós, juntamente com os vossos alunos, podereis e devereis ser os protagonistas deste contínuo renovamento da Escola. A Igreja, juntamente com os pais preocupados com a formação integral dos seus filhos, confia-vos esta missão: missão exigente, porque será necessário possuir uma preparação cultural profunda e ampla, e uma fé cristã forte e serena. Vivendo e desempenhando esta missão, alguns vossos Colegas Professores atingiram os cumes da santidade e deixaram exemplos luminosos: o Beato Contardo Ferrini, o Beato José Moscati e o Servo de Deus Frederico Ozanam, em tempos não afastados de nós e sem dúvida não menos perigosos e difíceis para a Igreja e para a sociedade civil, conseguiram viver em fecunda síntese a fé e a cultura, e souberam infundir nos seus discípulos o sentido religioso da vida e da história do homem.

O exemplo deles vos ilumine e vos guie!

A minha Bênção Apostólica vos acompanhe agora e sempre!





PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 18 de Março de 1981



Aos Jovens na Basílica de São Pedro



Doutrina paulina da pureza como "vida segundo o Espírito"

1. No nosso encontro de há semanas, concentrámos a atenção sobre a passagem da primeira Carta aos Coríntios, em que São Paulo chama ao corpo humano "templo do Espírito Santo". Escreve: "Não sabeis porventura que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós, que recebestes de Deus, e que não vos pertenceis a vós mesmos? E que fostes comprados por alto preço" (1Co 6,19-20). "Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?" (1Co 6,15). O Apóstolo indica o mistério da "redenção do corpo", realizada por Cristo, como fonte de um particular dever moral, que obriga os cristãos à pureza, aquela que o mesmo Paulo define noutra passagem como exigência de "possuir o seu corpo em santidade e honra" (1Th 4,4).

2. Todavia não descobriríamos até ao fundo a riqueza do pensamento encerrado nos textos paulinos, se não notássemos que o mistério da redenção frutifica no homem também de modo carismático. O Espírito Santo que, segundo as palavras do Apóstolo, entra no corpo humano como no próprio "templo", nele habita e opera unido aos seus dons espirituais. Entre estes dons, conhecidos na história da espiritualidade como os sete dons do Espírito Santo (cf. Is Is 11,2 segundo os Setenta e a Vulgata), o mais congenial à virtude da pureza parece ser o dom da "piedade" (eusebeia, clonum pietatis)(1). Se a pureza dispõe o homem para "manter o próprio corpo com santidade e respeito", segundo lemos na primeira Carta aos Tessalonicenses (4, 3-5) a piedade, que é dom do Espírito Santo, parece servir de modo particular à pureza, adaptando o sujeito humano àquela dignidade que é própria do corpo humano em virtude do mistério da criação e da redenção. Graças ao dom da piedade, as palavras de Paulo — "Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós... e que não pertenceis a vós mesmos?" (1Co 6,19) — adquirem a eloquência de uma experiência e tornam-se viva e vivida verdade nas acções. Abrem também o acesso mais pleno à experiência do significado esponsal do corpo e da liberdade do dom ligado com ele, no qual se desvelam o rosto profundo da pureza e o seu laço orgânico com o amor.

3. Embora a conservação do próprio corpo "com santidade e honra" se consiga mediante a abstenção da "impureza" — e tal caminho é indispensável —, todavia frutifica sempre na experiência mais profunda daquele amor, que foi inscrito desde o "princípio", segundo a imagem e semelhança do próprio Deus, em todo o ser humano e portanto também no seu corpo. Por isso São Paulo termina a sua argumentação da primeira Carta aos Coríntios no capítulo sexto com uma significativa exortação: "Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (v. 20). A pureza, como virtude, ou seja, capacidade de "manter o próprio corpo com santidade e respeito", aliada com o dom da piedade, como fruto da permanência do Espírito Santo no "templo" do corpo, realiza nele tal plenitude de dignidade nas relações interpessoais, que Deus mesmo é nisso glorificado. A pureza é glória do corpo humano diante de Deus. É a glória de Deus no corpo humano, através do qual se manifestam a masculinidade e a feminilidade. Da pureza brota aquela singular beleza, que penetra toda a esfera da recíproca convivência dos homens e consente que se exprimam a simplicidade e a profundidade, a cordialidade e a autenticidade irrepetível da confiança pessoal. (Talvez se apresente depois outra ocasião para tratar mais amplamente este tema. O laço da pureza com o amor, e também o laço da mesma pureza no amor — com aquele dom do Espírito Santo que é a piedade — constituem a trama pouco conhecida da teologia do corpo, que merece todavia aprofundamento particular. Isto poderá ser realizado no decurso das análises quanto à sacramentalidade do matrimónio).

4. Agora uma breve referência ao Antigo Testamento. A doutrina paulina acerca da pureza, entendida como "vida segundo o Espírito", parece indicar certa continuidade em relação com os Livros "sapienciais" do Antigo Testamento.Neles encontramos, por exemplo, a seguinte oração para obter a pureza nos pensamentos, palavras e obras: "Senhor, pai e Deus da minha vida... afastai de mim a intemperança, e não se apodere de mim a paixão da impureza" (Si 23,4-6). A pureza é, de facto, condição para encontrar a sabedoria e para segui-la, conforme lemos no mesmo Livro: "Encontrei, em mim mesmo, muita sabedoria, e nela fiz grandes progressos" (Si 51,20). Além disso, poder-se-ia também de algum modo tomar em consideração o texto do Livro da Sabedoria (8, 21) conhecido pela liturgia na versão da Vulgata: "Scivi quoniam aliter non possum esse continens, nisi Deus det; et hoc ipsum erat sapientiae, scire, cuius esset hoc donum" (2).

Segundo este contexto, não tanto é a pureza condição da sabedoria quanto a sabedoria é condição da pureza, como de um dom particular de Deus. Parece que já nos supercitados textos sapienciais se delineia o duplo significado da pureza: como virtude e como dom. A virtude está ao serviço da sabedoria, e a sabedoria predispõe para acolher o dom que provém de Deus. Este dom fortifica a virtude e consente que se gozem, na sabedoria, os frutos de um proceder e de uma vida que sejam puros.

5. Como Cristo na sua bem-aventurança do Sermão da Montanha, a qual se refere aos "puros de coração", põe em relevo a "visão de Deus", fruto da pureza e em perspectiva escatológica, assim Paulo por sua vez realça a sua irradiação nas dimensões da temporalidade, quando escreve: "Tudo é puro para os que são puros; mas, para os homens sem fé nem integridade, nada é puro; até o seu espírito e a sua consciência estão contaminados. Dizem que conhecem a Deus, mas negam-n'O com as suas obras..." (Tt 1,15 ss.). Estas palavras podem referir-se também à pureza em sentido tanto geral quanto específico, como à nota característica de todo o bem moral. Para a concepção paulina da pureza, no sentido de que falam a primeira Carta aos Tessalonicenses (4, 3-5) e a primeira Carta aos Coríntios (6, 13-20), isto é no sentido da "vida segundo o Espírito", parece ser fundamental — como resulta do conjunto destas nossas considerações — a antropologia do renascimento do Espírito Santo (cf. também Jn 3,5 ss.). Ela ergue-se das raízes lançadas na realidade da redenção do corpo, operada por Cristo: redenção, cuja expressão última é a ressurreição. Há profundas razões para relacionar a temática inteira da pureza com as palavras do Evangelho, nas quais Cristo se refere à ressurreição (e isto constituirá o tema da nova etapa das nossas considerações). Aqui pusemo-la em relação com o "ethos" da redenção do corpo.

6. O modo de entender e de apresentar a pureza — herdado da tradição do Antigo Testamento e característico dos Livros "sapienciais" — era certamente uma indirecta mas, apesar disso, real preparação para a doutrina paulina acerca da pureza entendida como "vida segundo o Espírito". Sem dúvida aquele modo facilitava também a muitos ouvintes do Sermão da Montanha a compreensão das palavras de Cristo, quando, explicando o mandamento "Não cometerás adultério", se referia ao "coração" humano. O conjunto das nossas reflexões pôde deste modo demonstrar, ao menos em certa medida, com que riqueza e com que profundidade se distingue a doutrina sobre a pureza nas suas mesmas fontes bíblicas e evangélicas.



Notas

1) A eusebeía ou pietas no período helenístico-romano referia-se geralmente à veneração dos deuses (como "devoção"), mas conservava ainda o sentido primitivo mais lato do respeito para com as estruturas vitais.

A eusebeía definia o comportamento recíproco dos consanguíneos, as relações entre os cônjuges, e também a atitude que as legiões deviam a César ou a dos escravos para com os patrões.

No Novo Testamento, só os escritos mais tardios aplicam a eusebeía aos cristãos; nos escritos mais antigos esse termo caracteriza os "bons pagãos" (Ac 10,2 Ac 10,7 Ac 17,23).

E assim a eusebeía helénica, como também o "donum pietatis", referindo-se embora, sem dúvida, à veneração divina, têm larga base para exprimir as relações inter-humanas (cf. W. Foerster, art. eusebeía, em: "Theological Dictionary of the New Testament", ed. G. Kittel-G. Bromi1ey, vol. VII, Grand Rapids 1971, Eerdmans, PP 177-182).

2) Esta versão da Vulgata, conservada pela Neovulgata e pela liturgia, citada várias vezes por Santo Agostinho (De S. Virg., par. 43; Confess. VI, 11; X, 29; Serm. CLX, 7), muda todavia o sentido do original grego, que se traduz assim: "Como sabia que não podia obter a sabedoria, se Deus ma não desse...".



Saudações

A grupos de Sacerdotes italianos

Com particular satisfação acolho e saúdo os trinta Diáconos do Seminário de Venegono, acompanhados do seu Arcebispo, Dom Carlos Maria Martini, e exprimo as minhas afectuosas boas-vindas aos dez Sacerdotes da Diocese de Piacenza e aos oito Religiosos da Congregação dos Clérigos Regulares de São Paulo, os quais celebram respectivamente o 40º e o 250º aniversário de sacerdócio. A vós, caríssimos jovens que aguardais o mês de Junho fixado para a vossa Ordenação, dirijo a minha paterna exortação: regozijai-vos do inefável júbilo da vossa vocação de ser luz do mundo, fermento de vida, anunciadores da Palavra de Deus, administradores de graça e de perdão.

E a vós, caríssimos irmãos sacerdotes, que viestes a Roma para uma pausa salutar de oração e de comunhão, dirijo e convite a perseverardes com confiança no vosso fervoroso testemunho. Tornastes-vos de facto participantes de Cristo e do seu ministério de salvação "desde que conserveis firmemente até ao fim a vossa fé dos primeiros dias" (He 5,14). Invoco sobre os vossos três grupos uma renovada efusão de dons celestes, e de coração vos abençoo.

A uma peregrinação proveniente da República Federal da Alemanha

Dirijo uma saudação muito cordial de boas-vindas ao Senhor Reitor e aos diáconos, aqui presentes, do Seminário diocesano de Paderborn. Desejaria, queridos jovens amigos, que o diaconado, que aceitastes solenemente na Igreja, não fosse para vós apenas uma mera etapa exterior na vossa escalada para o presbiterado, mas um treino no ministério sacerdotal mediante uma atitude constante de disponibilidade e de serviço desinteressados. Ser sacerdote significa ser servidor: servidor de Jesus Cristo; servidor do Povo de Deus e de todos os homens para honra e glória de Deus. Neste sentido desejo-vos um período de diaconado espiritualmente frutuoso, e no vosso caminho até ao sacerdócio acompanho-vos com a minha especial. Bênção Apostólica.

Aos Doentes

Que palavras vos dirijo agora, a vós, queridos doentes? Antes de tudo aceitai a minha saudação cordialíssima: sede bem-vindos aqui; se Jesus era tão sensível com todos os que sofriam, como nos diz o Evangelho, o seu Vigário, o Papa, não pode deixar de estar muito unido a vós e às vossas tribulações.

Gostaria, também, de acrescentar: estamos no período sagrado da Quaresma, que se realiza toda, para todos, sob a insígnia predominante da cruz do Senhor. O Senhor quis a sua cruz; podia tê-la afastado de si, mas desejou-a, e por amor, pelo nosso amor, para nos dar os dons da graça e da salvação, da coragem e da serenidade. Caríssimos, nas vossas horas tristes, olhando para Jesus, sabei unir com amor a vossa cruz à Sua! Sentirá com isso grande consolação a vossa alma, acumulará incalculáveis méritos a vossa vida; e também vós, mesmo na ocultação, podeis ser, com a vossa fé e o vosso amor, missionários, apóstolos, sacerdotes. Tende estas generosas intenções, que muito agradam ao nosso divino Redentor. Com o meu paterno afecto, chegue até vós a minha Bênção.

Às participantes no Congresso Nacional (italiano) do Patronato para a Assistência Espiritual às Forças Armadas

Estão presentes nesta Sala também as participantes no Congresso Nacional do Patronato para a Assistência Espiritual às Forças Armadas, acompanhadas pela Presidente Senhora Lívia Andreotti. Caríssimas irmãs, regozijo-me convosco pela importante actividade que realizais num sector tão delicado como o da assistência e acolhimento aos militares nas comunidades eclesiais locais. Sabei tirar estímulo do vosso encontro aqui em Roma, centro da Cristandade, para consolidar a vossa fé e tornar cada vez mais operante a vossa caridade. Deste modo dareis testemunho verdadeiramente evangélico às pessoas entre as quais desenvolveis a vossa meritória obra. Com a minha Bênção Apostólica.

A peregrinos de duas paróquias italianas

Outros dois grupos, ainda, se destacam perante a minha vista. São formados por fiéis da Paróquia de Santa Maria da Piedade, no Prato, e pelos das Paróquias de Ronciglione, na Diocese de Sutri. .
Dir-vos-ei apenas uma palavra e é esta: amai as vossas Paróquias! Nelas encontrareis solidariedade, simpatia e unidade na mesma oração; nelas sentir-vos-eis mais irmãos e encontrareis a força para fazer da família um ninho de amor, de fidelidade e de piedade; para tornar a vossa comunidade o verdadeiro povo de Deus. Vivei assim a vossa vida paroquial e o Senhor não deixará de vos abençoar e também todos os vossos esforços,



Aos jovens na Basílica de São Pedro

Caríssimos jovens

1. Estou contentíssimo de me encontrar convosco esta manhã na Basílica Vaticana, nesta Audiência reservada só para vós, que com a vossa vivacidade e a vossa alegria trazeis o dom da esperança e da confiança.

Por isso, com grande afecto vos saúdo a todos: rapazes e meninas das Escolas Elementares e Médias, os jovens e as jovens dos Cursos Superiores; dirijo depois a minha saudação aos Presidentes e Directores, aos que vos ensinam, aos Professores, aos pais e aos que vos acompanham.

Exprimo-vos o meu cordial agradecimento por esta vossa visita, inspirada em sentimentos de fé, e desejo assegurar-vos o meu afecto e a recordação que de vós terei diante de Deus.

De muitas partes da Itália viestes a Roma, e desejaria que esta peregrinação se imprimisse na vossa memória, de maneira que servisse de auxílio e de inspiração para toda a vossa vida especialmente nos momentos de dificuldade.

2. O período da Quaresma, que estamos passando para nos prepararmos dignamente para a comemoração da Páscoa, sugere-me dois pensamentos que vos deixo como recordação e como programa.

Sabeis que Jesus, antes de iniciar a vida pública, se retirou em oração quarenta dias no deserto. Ora, caríssimos jovens, procurai estabelecer também vós um pouco de silêncio na vossa vida, a fim de poderdes pensar, reflectir e orar com maior fervor e fazer propósitos com maior decisão. É difícil hoje criar "zonas de deserto e de silêncio", porque se é continuamente arrastado pela engrenagem das ocupações, pelo ruído dos acontecimentos e pela atracção dos meios de comunicação, de modo que fica comprometida a paz interior e encontram obstáculos os pensamentos mais altos que devem qualificar a existência do homem. É difícil, mas é possível e importante, saber fazê-lo.

Santa Teresa do Menino Jesus conta na sua autobiografia que, sendo criança, de vez em quando era impossível descobri-la, pois se escondia para orar. "Em que pensas?" perguntavam-lhe as pessoas de família; e ela com inocente simplicidade respondia: "Penso em Deus bom, na vida e na Eternidade" (cf. Cap. IV). Reservai também vós um pouco de tempo, especialmente à noite, para orar, para meditar, para ler uma página do Evangelho ou um episódio da biografia de algum Santo; criai-vos uma zona de deserto e de silêncio, tão necessária para a vida espiritual. E, se vos é possível, participai também nos Retiros e nos cursos de Exercícios Espirituais, organizados nas vossas dioceses e paróquias.

3. Juntamente com a importância do recolhimento, Jesus inculca também a necessidade do esforço para vencer o mal. Da narração dos Evangelistas sabemos que até Jesus quis sujeitar-se à tentação. Fê-lo para insistir na realidade dela e para ensinar a estratégia do combate e da vitória. Também vós, na vossa meninice e na vossa juventude, tendes as vossas tentações: ser cristão significa aceitar a realidade da vida e travar a luta necessária contra ó mal, segundo o método ensinado pelo Divino Mestre. E exorto-vos a que sejais, agora e sempre, corajosos, sem vos admirardes das dificuldades, confiando sempre n'Aquele que é vosso Amigo e vosso Redentor, e velando e orando para manterdes sólida a vossa fé, viva a vossa "graça".

Proteja-vos a Virgem Maria e acompanhe-vos a minha Bênção.



PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 18 de Março de 1981



Aos Jovens na Basílica de São Pedro



Doutrina paulina da pureza como "vida segundo o Espírito"

1. No nosso encontro de há semanas, concentrámos a atenção sobre a passagem da primeira Carta aos Coríntios, em que São Paulo chama ao corpo humano "templo do Espírito Santo". Escreve: "Não sabeis porventura que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós, que recebestes de Deus, e que não vos pertenceis a vós mesmos? E que fostes comprados por alto preço" (1Co 6,19-20). "Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?" (1Co 6,15). O Apóstolo indica o mistério da "redenção do corpo", realizada por Cristo, como fonte de um particular dever moral, que obriga os cristãos à pureza, aquela que o mesmo Paulo define noutra passagem como exigência de "possuir o seu corpo em santidade e honra" (1Th 4,4).

2. Todavia não descobriríamos até ao fundo a riqueza do pensamento encerrado nos textos paulinos, se não notássemos que o mistério da redenção frutifica no homem também de modo carismático. O Espírito Santo que, segundo as palavras do Apóstolo, entra no corpo humano como no próprio "templo", nele habita e opera unido aos seus dons espirituais. Entre estes dons, conhecidos na história da espiritualidade como os sete dons do Espírito Santo (cf. Is Is 11,2 segundo os Setenta e a Vulgata), o mais congenial à virtude da pureza parece ser o dom da "piedade" (eusebeia, clonum pietatis)(1). Se a pureza dispõe o homem para "manter o próprio corpo com santidade e respeito", segundo lemos na primeira Carta aos Tessalonicenses (4, 3-5) a piedade, que é dom do Espírito Santo, parece servir de modo particular à pureza, adaptando o sujeito humano àquela dignidade que é própria do corpo humano em virtude do mistério da criação e da redenção. Graças ao dom da piedade, as palavras de Paulo — "Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós... e que não pertenceis a vós mesmos?" (1Co 6,19) — adquirem a eloquência de uma experiência e tornam-se viva e vivida verdade nas acções. Abrem também o acesso mais pleno à experiência do significado esponsal do corpo e da liberdade do dom ligado com ele, no qual se desvelam o rosto profundo da pureza e o seu laço orgânico com o amor.

3. Embora a conservação do próprio corpo "com santidade e honra" se consiga mediante a abstenção da "impureza" — e tal caminho é indispensável —, todavia frutifica sempre na experiência mais profunda daquele amor, que foi inscrito desde o "princípio", segundo a imagem e semelhança do próprio Deus, em todo o ser humano e portanto também no seu corpo. Por isso São Paulo termina a sua argumentação da primeira Carta aos Coríntios no capítulo sexto com uma significativa exortação: "Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (v. 20). A pureza, como virtude, ou seja, capacidade de "manter o próprio corpo com santidade e respeito", aliada com o dom da piedade, como fruto da permanência do Espírito Santo no "templo" do corpo, realiza nele tal plenitude de dignidade nas relações interpessoais, que Deus mesmo é nisso glorificado. A pureza é glória do corpo humano diante de Deus. É a glória de Deus no corpo humano, através do qual se manifestam a masculinidade e a feminilidade. Da pureza brota aquela singular beleza, que penetra toda a esfera da recíproca convivência dos homens e consente que se exprimam a simplicidade e a profundidade, a cordialidade e a autenticidade irrepetível da confiança pessoal. (Talvez se apresente depois outra ocasião para tratar mais amplamente este tema. O laço da pureza com o amor, e também o laço da mesma pureza no amor — com aquele dom do Espírito Santo que é a piedade — constituem a trama pouco conhecida da teologia do corpo, que merece todavia aprofundamento particular. Isto poderá ser realizado no decurso das análises quanto à sacramentalidade do matrimónio).

4. Agora uma breve referência ao Antigo Testamento. A doutrina paulina acerca da pureza, entendida como "vida segundo o Espírito", parece indicar certa continuidade em relação com os Livros "sapienciais" do Antigo Testamento.Neles encontramos, por exemplo, a seguinte oração para obter a pureza nos pensamentos, palavras e obras: "Senhor, pai e Deus da minha vida... afastai de mim a intemperança, e não se apodere de mim a paixão da impureza" (Si 23,4-6). A pureza é, de facto, condição para encontrar a sabedoria e para segui-la, conforme lemos no mesmo Livro: "Encontrei, em mim mesmo, muita sabedoria, e nela fiz grandes progressos" (Si 51,20). Além disso, poder-se-ia também de algum modo tomar em consideração o texto do Livro da Sabedoria (8, 21) conhecido pela liturgia na versão da Vulgata: "Scivi quoniam aliter non possum esse continens, nisi Deus det; et hoc ipsum erat sapientiae, scire, cuius esset hoc donum" (2).

Segundo este contexto, não tanto é a pureza condição da sabedoria quanto a sabedoria é condição da pureza, como de um dom particular de Deus. Parece que já nos supercitados textos sapienciais se delineia o duplo significado da pureza: como virtude e como dom. A virtude está ao serviço da sabedoria, e a sabedoria predispõe para acolher o dom que provém de Deus. Este dom fortifica a virtude e consente que se gozem, na sabedoria, os frutos de um proceder e de uma vida que sejam puros.

5. Como Cristo na sua bem-aventurança do Sermão da Montanha, a qual se refere aos "puros de coração", põe em relevo a "visão de Deus", fruto da pureza e em perspectiva escatológica, assim Paulo por sua vez realça a sua irradiação nas dimensões da temporalidade, quando escreve: "Tudo é puro para os que são puros; mas, para os homens sem fé nem integridade, nada é puro; até o seu espírito e a sua consciência estão contaminados. Dizem que conhecem a Deus, mas negam-n'O com as suas obras..." (Tt 1,15 ss.). Estas palavras podem referir-se também à pureza em sentido tanto geral quanto específico, como à nota característica de todo o bem moral. Para a concepção paulina da pureza, no sentido de que falam a primeira Carta aos Tessalonicenses (4, 3-5) e a primeira Carta aos Coríntios (6, 13-20), isto é no sentido da "vida segundo o Espírito", parece ser fundamental — como resulta do conjunto destas nossas considerações — a antropologia do renascimento do Espírito Santo (cf. também Jn 3,5 ss.). Ela ergue-se das raízes lançadas na realidade da redenção do corpo, operada por Cristo: redenção, cuja expressão última é a ressurreição. Há profundas razões para relacionar a temática inteira da pureza com as palavras do Evangelho, nas quais Cristo se refere à ressurreição (e isto constituirá o tema da nova etapa das nossas considerações). Aqui pusemo-la em relação com o "ethos" da redenção do corpo.

6. O modo de entender e de apresentar a pureza — herdado da tradição do Antigo Testamento e característico dos Livros "sapienciais" — era certamente uma indirecta mas, apesar disso, real preparação para a doutrina paulina acerca da pureza entendida como "vida segundo o Espírito". Sem dúvida aquele modo facilitava também a muitos ouvintes do Sermão da Montanha a compreensão das palavras de Cristo, quando, explicando o mandamento "Não cometerás adultério", se referia ao "coração" humano. O conjunto das nossas reflexões pôde deste modo demonstrar, ao menos em certa medida, com que riqueza e com que profundidade se distingue a doutrina sobre a pureza nas suas mesmas fontes bíblicas e evangélicas.



Notas

1) A eusebeía ou pietas no período helenístico-romano referia-se geralmente à veneração dos deuses (como "devoção"), mas conservava ainda o sentido primitivo mais lato do respeito para com as estruturas vitais.

A eusebeía definia o comportamento recíproco dos consanguíneos, as relações entre os cônjuges, e também a atitude que as legiões deviam a César ou a dos escravos para com os patrões.

No Novo Testamento, só os escritos mais tardios aplicam a eusebeía aos cristãos; nos escritos mais antigos esse termo caracteriza os "bons pagãos" (Ac 10,2 Ac 10,7 Ac 17,23).

E assim a eusebeía helénica, como também o "donum pietatis", referindo-se embora, sem dúvida, à veneração divina, têm larga base para exprimir as relações inter-humanas (cf. W. Foerster, art. eusebeía, em: "Theological Dictionary of the New Testament", ed. G. Kittel-G. Bromi1ey, vol. VII, Grand Rapids 1971, Eerdmans, PP 177-182).

2) Esta versão da Vulgata, conservada pela Neovulgata e pela liturgia, citada várias vezes por Santo Agostinho (De S. Virg., par. 43; Confess. VI, 11; X, 29; Serm.CLX, 7), muda todavia o sentido do original grego, que se traduz assim: "Como sabia que não podia obter a sabedoria, se Deus ma não desse...".



Saudações

A grupos de Sacerdotes italianos

Com particular satisfação acolho e saúdo os trinta Diáconos do Seminário de Venegono, acompanhados do seu Arcebispo, Dom Carlos Maria Martini, e exprimo as minhas afectuosas boas-vindas aos dez Sacerdotes da Diocese de Piacenza e aos oito Religiosos da Congregação dos Clérigos Regulares de São Paulo, os quais celebram respectivamente o 40º e o 250º aniversário de sacerdócio. A vós, caríssimos jovens que aguardais o mês de Junho fixado para a vossa Ordenação, dirijo a minha paterna exortação: regozijai-vos do inefável júbilo da vossa vocação de ser luz do mundo, fermento de vida, anunciadores da Palavra de Deus, administradores de graça e de perdão.

E a vós, caríssimos irmãos sacerdotes, que viestes a Roma para uma pausa salutar de oração e de comunhão, dirijo e convite a perseverardes com confiança no vosso fervoroso testemunho. Tornastes-vos de facto participantes de Cristo e do seu ministério de salvação "desde que conserveis firmemente até ao fim a vossa fé dos primeiros dias" (He 5,14). Invoco sobre os vossos três grupos uma renovada efusão de dons celestes, e de coração vos abençoo.

A uma peregrinação proveniente da República Federal da Alemanha

Dirijo uma saudação muito cordial de boas-vindas ao Senhor Reitor e aos diáconos, aqui presentes, do Seminário diocesano de Paderborn. Desejaria, queridos jovens amigos, que o diaconado, que aceitastes solenemente na Igreja, não fosse para vós apenas uma mera etapa exterior na vossa escalada para o presbiterado, mas um treino no ministério sacerdotal mediante uma atitude constante de disponibilidade e de serviço desinteressados. Ser sacerdote significa ser servidor: servidor de Jesus Cristo; servidor do Povo de Deus e de todos os homens para honra e glória de Deus. Neste sentido desejo-vos um período de diaconado espiritualmente frutuoso, e no vosso caminho até ao sacerdócio acompanho-vos com a minha especial. Bênção Apostólica.

Aos Doentes

Que palavras vos dirijo agora, a vós, queridos doentes? Antes de tudo aceitai a minha saudação cordialíssima: sede bem-vindos aqui; se Jesus era tão sensível com todos os que sofriam, como nos diz o Evangelho, o seu Vigário, o Papa, não pode deixar de estar muito unido a vós e às vossas tribulações.

Gostaria, também, de acrescentar: estamos no período sagrado da Quaresma, que se realiza toda, para todos, sob a insígnia predominante da cruz do Senhor. O Senhor quis a sua cruz; podia tê-la afastado de si, mas desejou-a, e por amor, pelo nosso amor, para nos dar os dons da graça e da salvação, da coragem e da serenidade. Caríssimos, nas vossas horas tristes, olhando para Jesus, sabei unir com amor a vossa cruz à Sua! Sentirá com isso grande consolação a vossa alma, acumulará incalculáveis méritos a vossa vida; e também vós, mesmo na ocultação, podeis ser, com a vossa fé e o vosso amor, missionários, apóstolos, sacerdotes. Tende estas generosas intenções, que muito agradam ao nosso divino Redentor. Com o meu paterno afecto, chegue até vós a minha Bênção.

Às participantes no Congresso Nacional (italiano) do Patronato para a Assistência Espiritual às Forças Armadas

Estão presentes nesta Sala também as participantes no Congresso Nacional do Patronato para a Assistência Espiritual às Forças Armadas, acompanhadas pela Presidente Senhora Lívia Andreotti. Caríssimas irmãs, regozijo-me convosco pela importante actividade que realizais num sector tão delicado como o da assistência e acolhimento aos militares nas comunidades eclesiais locais. Sabei tirar estímulo do vosso encontro aqui em Roma, centro da Cristandade, para consolidar a vossa fé e tornar cada vez mais operante a vossa caridade. Deste modo dareis testemunho verdadeiramente evangélico às pessoas entre as quais desenvolveis a vossa meritória obra. Com a minha Bênção Apostólica.

A peregrinos de duas paróquias italianas

Outros dois grupos, ainda, se destacam perante a minha vista. São formados por fiéis da Paróquia de Santa Maria da Piedade, no Prato, e pelos das Paróquias de Ronciglione, na Diocese de Sutri. .
Dir-vos-ei apenas uma palavra e é esta: amai as vossas Paróquias! Nelas encontrareis solidariedade, simpatia e unidade na mesma oração; nelas sentir-vos-eis mais irmãos e encontrareis a força para fazer da família um ninho de amor, de fidelidade e de piedade; para tornar a vossa comunidade o verdadeiro povo de Deus. Vivei assim a vossa vida paroquial e o Senhor não deixará de vos abençoar e também todos os vossos esforços,



Aos jovens na Basílica de São Pedro

Caríssimos jovens

1. Estou contentíssimo de me encontrar convosco esta manhã na Basílica Vaticana, nesta Audiência reservada só para vós, que com a vossa vivacidade e a vossa alegria trazeis o dom da esperança e da confiança.

Por isso, com grande afecto vos saúdo a todos: rapazes e meninas das Escolas Elementares e Médias, os jovens e as jovens dos Cursos Superiores; dirijo depois a minha saudação aos Presidentes e Directores, aos que vos ensinam, aos Professores, aos pais e aos que vos acompanham.

Exprimo-vos o meu cordial agradecimento por esta vossa visita, inspirada em sentimentos de fé, e desejo assegurar-vos o meu afecto e a recordação que de vós terei diante de Deus.

De muitas partes da Itália viestes a Roma, e desejaria que esta peregrinação se imprimisse na vossa memória, de maneira que servisse de auxílio e de inspiração para toda a vossa vida especialmente nos momentos de dificuldade.

2. O período da Quaresma, que estamos passando para nos prepararmos dignamente para a comemoração da Páscoa, sugere-me dois pensamentos que vos deixo como recordação e como programa.

Sabeis que Jesus, antes de iniciar a vida pública, se retirou em oração quarenta dias no deserto. Ora, caríssimos jovens, procurai estabelecer também vós um pouco de silêncio na vossa vida, a fim de poderdes pensar, reflectir e orar com maior fervor e fazer propósitos com maior decisão. É difícil hoje criar "zonas de deserto e de silêncio", porque se é continuamente arrastado pela engrenagem das ocupações, pelo ruído dos acontecimentos e pela atracção dos meios de comunicação, de modo que fica comprometida a paz interior e encontram obstáculos os pensamentos mais altos que devem qualificar a existência do homem. É difícil, mas é possível e importante, saber fazê-lo.

Santa Teresa do Menino Jesus conta na sua autobiografia que, sendo criança, de vez em quando era impossível descobri-la, pois se escondia para orar. "Em que pensas?" perguntavam-lhe as pessoas de família; e ela com inocente simplicidade respondia: "Penso em Deus bom, na vida e na Eternidade" (cf. Cap. IV). Reservai também vós um pouco de tempo, especialmente à noite, para orar, para meditar, para ler uma página do Evangelho ou um episódio da biografia de algum Santo; criai-vos uma zona de deserto e de silêncio, tão necessária para a vida espiritual. E, se vos é possível, participai também nos Retiros e nos cursos de Exercícios Espirituais, organizados nas vossas dioceses e paróquias.

3. Juntamente com a importância do recolhimento, Jesus inculca também a necessidade do esforço para vencer o mal. Da narração dos Evangelistas sabemos que até Jesus quis sujeitar-se à tentação. Fê-lo para insistir na realidade dela e para ensinar a estratégia do combate e da vitória. Também vós, na vossa meninice e na vossa juventude, tendes as vossas tentações: ser cristão significa aceitar a realidade da vida e travar a luta necessária contra ó mal, segundo o método ensinado pelo Divino Mestre. E exorto-vos a que sejais, agora e sempre, corajosos, sem vos admirardes das dificuldades, confiando sempre n'Aquele que é vosso Amigo e vosso Redentor, e velando e orando para manterdes sólida a vossa fé, viva a vossa "graça".

Proteja-vos a Virgem Maria e acompanhe-vos a minha Bênção.





Discursos João Paulo II 1981 - Sábado, 14 de Março de 1981