Discursos João Paulo II 1982 - Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 1982


VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS MEMBROS DO CORPO DIPLOMÁTICO


Nunciatura Apostólica de Lagos, Nigéria

Terça-feira, 16 de Fevereiro de 1982



Excelências
Senhoras e Senhores

1. Grande é o prazer de me encontrar aqui com tantos distintos Membros do Corpo Diplomático acreditados junto do Governo Federal da Nigéria. Em vós saúdo não só os eminentes representantes de diversos Governos, mas também o povo das vossas nações. Por onde quer que eu viaje, tenho a grata oportunidade de me encontrar com os membros das comunidades diplomáticas. Ao representardes directamente os vossos respectivos países, vós e os vossos companheiros estais entre os primeiros construtores de uma comunidade internacional, que vai além dos confins de qualquer território particular. De facto, sois chamados a favorecer o bem comum da comunidade universal acima de todo o interesse nacional.

2. Em muitas ocasiões expressei o meu profundo apreço pelo serviço realizado pelos Diplomatas. A própria Santa Sé, que tem sempre o intento de promover relações pacificas e frutuosas com as autoridades civis, é sempre feliz quando se estabelecem sólidas relações entre ela mesma e os Estados que assim desejam. Os Núncios Apostólicos e os Pró-Núncios estão entre os meus mais preciosos colaboradores, e os Chefes de Missões acreditados junto da Santa Sé, no Vaticano, são os mais estimados companheiros na comum procura e nos esforços em promover um clima de fraternidade e de solidariedade entre os povos de boa vontade. Com deferência mútua pelas respectivas prerrogativas da Igreja e do Estado, pode-se realizar muito num diálogo aberto e numa leal colaboração em beneficio da humanidade, de cada um dos seres humanos. Nenhuma pessoa seriamente interessada na promoção do bem-estar da pessoa humana pode eximir-se da cooperação internacional. Sei, Senhoras e Senhores, que estais conscientes da necessidade de colocar em comum todos os meios e esforços para edificar, em favor da humanidade, uma ordem mundial de paz e justiça.

3. A vossa missão é nobre e constitui constante desafio. A vossa tarefa foi descrita, de vários modos, como a delicada arte de fazer tudo o que é politicamente possível para reconciliar interesses opostos ou contraditórios entre os diversos países, de representar o papel das vossas nações no domínio internacional, e de construir pontes entre povos de origem e de identidade cultural diferentes. Por mais que se possa enfatizar qual seja a característica específica da vossa missão, é evidente que os Diplomatas se distinguem sempre como especialistas no diálogo e na colaboração.

Estamos no limiar do terceiro milénio e o nosso é como um emocionante período da história, com incríveis oportunidades no campo científico e tecnológico, mas também cheio de contrastes e de contínuos obstáculos nas relações recíprocas. É urgente colocar-se além de qualquer espécie de pontos de vista ou de posições fixas que tendam a tornar o diálogo difícil ou impossível. Isto é realizável se a dignidade da pessoa humana — de cada ser humano — for a base e o ponto de partida para melhores relações. Embora a pessoa humana seja soberana, é também verdade que ela pertence a um grupo particular ou a uma nação que nutre certos valores inerentes à sua herança histórica e cultural e que se alinha em certas posições. Isto é normal e natural. Por isso existe uma variedade de estruturas sociais e de opções políticas que podem promover o bem comum, embora "respeitando verdadeiramente a dignidade humana. Entretanto as oposições artificiais e supérfluas se transformam facilmente em polarizações e impedem quer o diálogo quer a colaboração os únicos que podem superar os obstáculos e resolver as situações de contraste.

O diálogo entre os povos e as nações, apesar das desigualdades económicas, monetárias e materiais, deve verificar-se baseado na igualdade em dignidade e soberania. A superioridade económica e monetária, a posse de bens materiais, de recursos, ou de capacidades tecnológicas não justificam uma superioridade política ou social, cultural ou moral de um povo ou de uma nação sobre outra. Isto, além disso, significa que qualquer posição que procure justificar tal superioridade em base ideológica ou filosófica não é uma posição válida e deve ser rejeitada. O verdadeiro diálogo e a colaboração exigem contínua referência à verdade fundamental sobre o homem: a dignidade e a igualdade da pessoa humana como indivíduo e como membro de uma sociedade.

4. A vossa missão, Senhoras e Senhores, assume particular dimensão e urgência porque a isto vos empenhastes no Terceiro Mundo. A condição de tantos países do Terceiro Mundo continua a ser constante lembrança de que a questão do desenvolvimento não se exauriu, mesmo se alguém às vezes possa ter a impressão de que não é mais considerada com a prioridade que mereceria. Muitos governos do mundo hoje parecem preocupados com tantos outros assuntos, tais como a inflação e a segurança militar. E no entanto, apesar do impressionante nível de crescimento económico, conseguido nestes últimos decénios por alguns países desenvolvidos, milhões de pessoas permanecem dominadas por uma pobreza que não significa só baixo rendimento, mas também má nutrição, fome, analfabetismo, falta de instrução, desemprego persistente e reduzida probabilidade de vida.

Na minha última Encíclica chamei, a atenção para esta situação, especialmente quando afirmei que "a distribuição desproporcionada de riqueza e de miséria e a existência de países e continentes desenvolvidos e de outros não desenvolvidos exigem uma perequação e que se procurem as vias para um justo desenvolvimento de todos" (Laborem exercens LE 2). Referi-me a "um facto desconcertante de imensas proporções; ou seja, enquanto que por um lado importantes recursos da natureza permanecem inutilizados, há por outro lado massas imensas de desempregados e subempregados e multidões ingentes de famintos" (ibid., 18).

O desenvolvimento humano integral merece também atenção particular, porque exerce função importantíssima na grande causa da paz internacional. A paz no mundo inteiro só é possível se há paz interna em cada país. E uma paz interna jamais será conseguida se cada nação não der a devida atenção à promoção de um justo desenvolvimento que seja vantajoso a todos os seus cidadãos. Também esta década deve escutar a palavra profética de Paulo VI que há quinze anos afirmou "o novo nome da paz é o desenvolvimento". Com estas palavras convidou ele milhões de pessoas a aceitarem uma nova responsabilidade pela paz e ofereceu uma nova esperança aos pobres e aos oprimidos do mundo.

Portanto é necessário planejar vias a fim de solicitar aos governos que continuem a dar aos projectos de desenvolvimento a suprema prioridade na formulação de novas políticas e programas. É além disso importante insistir sobre um desenvolvimento que respeite a dignidade e os inalienáveis direitos da pessoa, e não somente sobre um desenvolvimento tecnológico ou económico. Nesta estrutura, o integral desenvolvimento humano está intimamente unido à procura de igualdade e de justiça e a um interesse sincero pelos membros mais fracos e mais pobres da sociedade.

5. O desenvolvimento integral, como a própria paz, requer clima sereno de liberdade humana. Aqui também, como diplomatas, deveis ter uma convicção segura e um irrevogável empenho. Cada pessoa deve exprimir a sua liberdade no actual poder de escolha, na determinação responsável dos seus actos, e naquele domínio de si que exclui pressões externas. Deste modo também povos inteiros devem poder gozar efectivamente de legítima autonomia e independência, exercendo-as numa soberania nacional, sem interferências exteriores. Esta é a soberania nacional que procurais representar tão dignamente, dentro da única família da humanidade que abraça todas as nações.

6. Senhoras e Senhores, vós estais na condição mais favorável para promover o diálogo e a verdadeira colaboração, para construir pontes em vista da compreensão recíproca para o bem de todos. Num mundo e num continente tão cheio de promessas e também tão devastado por divergências, exploração, injustiças, equívocos, e por toda a espécie de ameaças à paz, tendes uma esplêndida missão a realizar: promover a justiça, trabalhar pela reconciliação e consolidar a solidariedade humana. Sois chamados a ser eminentes pacificadores, generosos servidores dos vossos companheiros na causa do desenvolvimento e fiéis defensores da verdadeira Uberdade.

Deus vos abençoe nesta altíssima tarefa!



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

POR OCASIÃO DO ENCONTRO


COM OS POLACOS RESIDENTES NA NIGÉRIA


Nunciatura Apostólica de Lagos, Nigéria

Terça-feira, 16 de Fevereiro de 1982



Agradeço cordialmente ao Senhor Embaixador ter querido exprimir, de modo conciso e cordial, as ideias e os sentimentos de todos os participantes no nosso encontro. Agradeço a Deus ter podido realizar-se este hodierno encontro. É, em certo sentido, o encontro conclusivo, pois não é certamente o primeiro, no caminho da minha permanência na Nigéria. De facto, já na primeira tarde da minha visita, durante a primeira Santa Missa que celebrei aqui, em Lagos, no Estádio nacional, pude encontrar-me com os meus compatriotas, assim como nas etapas sucessivas em Onitsha, em Enugu e sobretudo no Norte, em Kaduna, onde, no estádio, no meio de centenas de milhares de participantes lá reunidos para as ordenações sacerdotais, um grupo de polacos era assinalado pelos estandartes, por escritos e também por cânticos polacos, aliás bem executados também pelos não polacos. A cantar "Sto lat" estava um coral académico nigeriano. E eu agradeci-lhe em polaco, porque não é fácil agradecer pelo "Sto lat" noutra língua; porém, ao mesmo tempo, agradeci aos meus compatriotas. Por fim, ontem, durante a visita a Ibadan, tive a oportunidade de encontrar outro grupo de compatriotas que trabalham nas Universidades do País; e com alguns deles pude deter-me bastante longamente, assim como tinha acontecido também em Kaduna.

Estou contente por este encontro de hoje, porque uma "vez mais posso estar convosco num diverso País do mundo, e sobretudo noutro País da África. Isto depende da emigração, que pode parecer como certa dispersão de forças mas deve também ser considerada como missão e, seja como for, como um serviço. O mundo está de tal modo organizado que nenhuma Nação vive nunca em completo isolamento e até seria mal se assim vivesse. Na realidade, como cada um vive para os outros, assim também as Nações vivem em relação recíproca, uma para a outra, e a emigração, se convenientemente entendida, segundo os adequados princípios da moral social, política e internacional, é uma expressão destes recíprocos serviços da sociedade e das Nações.

Creio que a emigração vinda da Polónia para aqui, para a Nigéria, tem precisamente este carácter; indica-o a composição dos compatriotas que vivem nesta terra, o seu carácter social e profissional. E quero acrescentar ainda uma coisa: as primeiras informações relativas a vós, polacos que viveis aqui, tive-as de Bispos nigerianos, quando estes chegavam "ad limina Apostolorum", para informar o Papa sobre os problemas da Igreja deles. Todos, um após outro, me falavam dos polacos que vivem neste país, e mencionavam-nos como parte viva da Igreja que está na Nigéria. É particular testemunho prestado também à nossa Pátria; não só à Igreja na Polónia, mas também simplesmente à Polónia. Porque — como é sabido — a história da nossa Pátria durante mil anos está de modo estreitíssimo ligada à Igreja e ao cristianismo. Os últimos difíceis séculos são um período particular de prova desta aliança entre a Nação e a Igreja. Acrescentaria: de modo particular, os últimos anos.

Quero dizer-vos que — sendo eu na história o primeiro da estirpe da Polónia, filho desta terra, que veio a ser Sucessor de Pedro, Pontífice não só polaco, mas Eslavo — sinto particular dívida quanto à minha Pátria, e portanto quanto a todos os meus compatriotas. Penso que a Pátria, a sua história, a história da Igreja e a história da Nação me prepararam de modo excepcional para ser solidário com as diversas nações do mundo. Não foi sem razão que os polacos, durante a sua história, procuraram alianças, se uniram com os vizinhos mais próximos; não foi sem razão depois, que combateram "pela nossa e pela vossa liberdade". Tudo isto pertence à herança espiritual do Papa vindo da Polónia. E precisamente graças a esta herança é-me fácil sentir uma solidariedade particular a respeito daquelas gentes e daquelas nações que sofrem, que na grande família dos povos estão em certo modo discriminadas, oprimidas, privadas da liberdade, privadas da soberania nacional e privadas, na vida de todos os dias, ou antes por motivo de um sistema completo, da suficiente justiça social; é-me fácil estar imediatamente com elas porque aprendi desde pequeno a estar em sintonia com a nossa Nação que teve uma história não fácil e tem também não fácil o seu presente.

Encontrando-me convosco e falando-vos, aproveito a ocasião para vos dizer estas coisas. Porque também vós tendes parte em tudo isto; e uma vez que também vós estais fora da Pátria, assim como o Papa se encontra fora da Pátria, podeis compreendê-lo de modo particular. Acrescento que estando fora da Pátria, estavelmente em Roma e por vezes fora de Roma, estou todavia muito perto da Pátria, vivo muito profundamente todos os acontecimentos que lá sucedem, sobretudo os acontecimentos difíceis, e com alta voz exprimo aquilo a que os polacos têm direito por parte dos seus vizinhos e de todas as nações, sobretudo daquelas nações com as quais a história do nosso continente os ligou, desde as origens. Exprimi-o durante os últimos meses e nas últimas semanas, a respeito do estado de emergência, do estado de guerra na Polónia; manifestei-o dirigindo-me quer às autoridades estatais, quer a todos os representantes dos Estados e das Nações, especialmente daqueles de que mais depende que os direitos dos homens e das nações sejam respeitados.

Caríssimos compatriotas, irmãos e irmãs, estes direitos são para nós herança de séculos. Não os aprendemos somente com a Declaração da ONU sobre os Direitos do Homem, depois da segunda guerra mundial. Aprendemo-los no decurso dos séculos. Com tal mensagem chegava ao Concílio de Constança Pawel Wlodkowic. É uma herança de séculos. Torna-se difícil ser polaco sem trazer dentro de si esta herança.

Concluindo esta meditação que, segundo vedes, é também endereçada à nossa Pátria comum e ao seu lugar no mundo, desejo dirigir-me a vós que estais fora da Pátria e representais aqui, na Nigéria, a Polónia e tudo o que é polaco. O meu voto é que possais desempenhar esta representação do modo melhor, do modo mais frutuoso para esta sociedade em vias de desenvolvimento, sociedade que obteve já grandes êxitos, mas se encontra ainda no princípio do seu caminho histórico como Estado, o da Federação Nigeriana. Desejo-vos que possais realizar bem este serviço, porque deste modo desempenhareis igualmente bem o serviço quanto à vossa Pátria. É um ensinamento que tiro da minha própria vida e ao mesmo tempo da minha missão. Creio que, ao cumprir do melhor modo possível a minha missão na Sede de Pedro, também eu sirvo a minha Pátria, quanto sou capaz. É um direito nosso e um dever nosso. Deus conceda a cada um de nós transportar este direito para a própria consciência e traduzi-lo nas obras. A isto acrescento o mais caloroso voto e a mais afectuosa bênção, que atinja todos os presentes mas também todos aqueles que não tomam parte na nossa reunião. Certamente é maior o número dos ausentes do que daqueles que puderam chegar até aqui. Fala-se de cerca de dois mil polacos que vivem e trabalham em toda a Nigéria Desejaria também dirigir o meu augúrio a cada um e cada uma de vós distintamente, e de modo particular às vossas famílias, e às jovens gerações que vejo aqui presentes. Desejo, por assim dizer, encontrar-me com cada família, com cada compatriota directamente, mas também com cada compatriota tornado tal por meio de outro compatriota. Porque vejo diante de mim também essas combinações: as dos matrimónios mistos entre polacos e nigerianos, ou entre polacos e cidadãos de outros países.

E agora desejo que terminemos o nosso encontro com uma oração comum e que recebais a bênção que vos dou nesta circunstância. Em união com todos os meus compatriotas oro, quanto possível, todos os dias, rezando o "Angelus Domini". Por isso também agora o direi juntamente convosco.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS MEMBROS DAS COMUNIDADES ESTRANGEIRAS


PRESENTES NA NIGÉRIA


Nunciatura Apostólica de Lagos, Nigéria

Terça-feira, 16 de Fevereiro de 1982



Caros amigos

É uma grande alegria encontrar-me convosco, todos vós cidadãos estrangeiros que viveis e trabalhais neste grande país. Muitos de vós vieram da Europa e alguns da minha querida pátria. Mas há também muitos vindos de outras nações africanas.

1. Viveis e trabalhais na Nigéria porque a Nigéria vos acolheu alegremente e porque a aceitais e respeitais. Estais neste país para realizar diferentes tarefas. Alguns de vós trabalham na indústria petrolífera, outros em grandes obras de engenharia civil e mecânica ou nas maiores indústrias. Alguns de vós são membros ou funcionários de organizações internacionais, enquanto outros se ocupam do ensino ou desenvolvem actividades no campo sanitário, da administração ou do comércio. Alguns de vós trabalham por conta própria.

2. A vossa presença e as vossas actividades na Nigéria são testemunho de fraternidade universal. Vós e os nigerianos demonstrais recíprocos sentimentos de fraternidade, de amizade; de cooperação e de solidariedade. Dais e recebeis. Os nigerianos também dão e recebem.

Sede leais a esta Nigéria que vos acolhe. Amai este país. Ajudai-o. Não façais nada que possa prejudicá-lo. Obedecei às suas leis. Respeitai os seus dirigentes e chefes. Ajudai a Nigéria a crescer. Tornai-vos amigos dos nigerianos. Sois ao mesmo tempo embaixadores não oficiais dos vossos diversos países. Lembrai-vos disto. Fazei com que a vossa conduta seja motivo de honra, de paz e de alegria para as vossas pátrias, e contribua para a consolidação das relações internacionais.

3. Não quereis perder a vossa identidade nacional. E tendes razão. As vossas próprias culturas encontram-se com a cultura nigeriana como amigos que procuram sempre conhecer-se melhor. Umas e outras se enriquecem.

Não vos esqueçais da religião e da sua prática durante a vossa permanência no exterior. Se surgirem problemas de língua, tratai com os Bispos, os sacerdotes e outros chefes religiosos para ver como o vosso grupo possa ser devidamente servido.

Todos vós, cidadãos estrangeiros que trabalhais na Nigéria, sabei que o Papa tem profundo interesse pelo bem-estar vosso e das vossas famílias, especialmente quando há separação física. Honrai sempre a Nigéria e a vossa pátria. Oxalá a bênção celeste desça abundantemente sobre todos vós!



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS REPRESENTANTES DAS OUTRAS IGREJAS CRISTÃS


Nunciatura Apostólica de Lagos, Nigéria

Terça-feira, 16 de Fevereiro de 1982



Caros amigos em Nosso Senhor Jesus Cristo

1. É um grande prazer estar convosco, distintos e veneráveis Bispos e outros chefes das várias famílias religiosas cristãs na Nigéria. A minha visita pastoral, desde o momento em que foi programada, destinava-se a ter importante dimensão ecuménica, pois considero o empenho pela unidade de todos os cristãos como um elemento essencial no meu ministério como Bispo de Roma e Pastor da Igreja Católica. Realiza-se com este encontro um dos meus mais ardentes desejos. É-me grato saudar-vos no amor do nosso único Senhor: "A graça do Senhor nosso Jesus Cristo esteja com todos vós" (2Th 3,17).

A Igreja Católica tem muitas coisas em comum com as vossas diversas comunidades eclesiais. Somos todos baptizados em Cristo, que confessamos como o nosso Senhor e Salvador, e reconhecemos como "único mediador entre Deus e os homens" (1Tm 2,5). A Bíblia e de modo particular os Evangelhos são caros a todos nós, porque são a Palavra de Deus e a revelação do Seu amor salvífico. A nossa fundamental orientação religiosa é guiada pela nossa fé em Cristo, pelo nosso amor a Ele, e pelo nosso desejo de contribuir para a difusão do seu Reino nos corações de todos, entre todos os povos, em todo o tempo.

Compartilhamos também pareceres comuns sobre os direitos fundamentais do homem, sobre a justiça e a paz, sobre o desenvolvimento e a necessidade de se viver segundo a própria fé. Acreditamos que não deva haver aqui dicotomia entre a mensagem do Evangelho e o modo de viver cristão.

2. Se infelizmente é verdade que na Nigéria, como em outras partes do mundo, existe ainda o triste fenómeno da divisão entre cristãos, é também verdade que foram realizados progressos no campo do ecumenismo, tanto neste país como a nível internacional. A Igreja Católica está empenhada num frutuoso diálogo, a nível internacional, com muitas Igrejas e comunidades confessionais por vós representadas; e aqui, na Nigéria, o diálogo, formal e informal, entre vós e também entre vós a Igreja Católica e comunidades confessionais é maior do que no passado. Há também sempre maior colaboração a nível mundial em obras de serviço cristão e de caridade. Tudo isto encontra expressão também neste país. A Associação Cristã Nigeriana para a Saúde é uma sólida associação, dentre todos os institutos sanitários da Igreja neste vasto país. Muito de bem já realizou, especialmente nos seus relacionamentos com o Governo e em iniciativas para a colecta e a distribuição de remédios a preços reduzidos. Tudo isto é um testemunho comum da caridade de Cristo.

Também o vosso empenho comum com a Igreja Católica na Sociedade Bíblica da Nigéria deu resultados, especialmente em iniciativas comuns para a tradução da Bíblia em muitas línguas, e nas subvenções a fim de também os mais pobres poderem adquiri-la. Estes esforços são a expressão de verdadeiro zelo "para que a Palavra de Deus seja conhecida e glorificada" (2Th 3,1).

Publicais também declarações conjuntas quando a ocasião assim o pede. Cuidais do importante lugar da Igreja e da religião nas escolas nigerianas. Promoveis, além disso, a unidade nacional e a compreensão também em outras direcções. Oxalá Deus abençoe todos estes esforços!

3. Tenho a esperança de que vós, cristãos nigerianos, rezareis ainda com mais fervor a fim de que o Espírito Santo vos dê o dom da perfeita unidade em Cristo. No momento presente, é necessário continuar as vossas iniciativas conjuntas de tradução da Bíblia, de diálogo e de comum testemunho de Cristo na Associação Cristã da Nigéria. Promover sempre mais o estudo dos ensinamentos de Cristo e das exigências morais da sua doutrina na vida cristã. Sobretudo, amai-vos uns aos outros como Cristo nos amou.Este é o seu especial mandamento.

Em todas estas direcções rezamos e trabalhamos, esperamos e caminhamos para o dia, conhecido por Deus só, quando seremos plenamente um em Cristo, quando celebraremos a única Eucaristia e beberemos do mesmo Cálice consagrado.

Agradeço-vos. Respeito-vos. Peço que Deus vos abençoe abundantemente. E que a paz de Cristo reine nos vossos corações.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS REPRESENTANTES


DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL


Lagos (Nigéria), 16 de Fevereiro de 1982



1. Pela primeira vez, depois de 13 de Maio, posso ter contacto directo com um grupo de representantes da imprensa, rádio e televisão. E muito me alegra que este encontro convosco se tenha realizado durante a minha mais recente viagem na África, a primeira realizada fora da Itália após o atentado à minha vida.

Muitos de vós estiveram em Roma no passado verão para informar aos vossos leitores, telespectadores e ouvintes o decurso da minha convalescença. Desejo mais uma vez agradecer-vos o interesse demonstrado durante aquele episódio. Atribuo o seu feliz êxito à especial protecção de Deus e à intercessão da sua Mãe Santíssima.

2. E agora a Providência de Deus fez que, no espaço de menos de dois anos, eu realizasse uma segunda visita ao continente africano. Este encontro convosco, de modo particular jornalistas e representantes da rádio e televisão dos Países da África, oferece-me a oportunidade de reflectirmos juntos sobre a importância dos meios de comunicação social na África, hoje.

Vós, aqui, estais na fase inicial do desenvolvimento dos vossos meios de comunicação, enquanto os Países mais industrializados já atingiram alto nível de desenvolvimento neste sector. Esta situação aumenta as vossas responsabilidades e ao mesmo tempo vos oferece singular oportunidade.Com a vossa acção, honestidade profissional e dedicação à causa da verdade, podeis dar um decisivo contributo a este continente. Orientando os mass-media totalmente para o serviço do homem e em favor de objectiva informação, a África pode determinar o seu futuro desenvolvimento.

3. Nós sabemos que hoje neste sector, como em outros, há perigosos desequilíbrios, e que diversas organizações internacionais se pronunciaram de modo claro sobre isto. Há uma tendência para o exercício de pressão externa sobre o mundo da imprensa, rádio e televisão, impondo, por parte de países mais poderosos, não só tecnologia mas também ideias. Por isso penso ser importante sublinhar que a soberania nacional é salvaguardada mediante o correcto uso dos meios de comunicação, precisamente porque estes podem tornar-se instrumentos de pressão ideológica. É esta pressão de ideias é mais prejudicial e insidiosa do que muitos meios evidentemente coercitivos.

4. A Igreja católica continuará a chamar a atenção para o papel das comunicações sociais. Após o Concílio Vaticano II ela multiplicou os seus esforços neste sector. Este ano assinala o décimo aniversário da publicação da Instrução Pastoral Communio et Progressio.

Neste documento três são as palavras que assumem proeminência: sinceridade, honestidade e verdade. Se cada um de vós conseguir pôr em prática estes princípios na esfera da vossa competência, então os meios de comunicação social realmente tornar-se-ão para toda a humanidade os meios do crescimento social e cultural — os meios do verdadeiro progresso.

Esta é a esperança que acompanha a expressão do meu reconhecimento por todos os vossos sacrifícios e serviços, feitos tão generosamente durante a minha peregrinação pastoral na Nigéria, que está agora a concluir-se.

Deus vos abençoe, como também as vossas famílias, e conceda a todos vós conhecer o Seu amor e experimentar a Sua paz!



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA DA NIGÉRIA


Aeroporto "Murtale Mohamed" de Lagos

Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 1982



1. Senhor Presidente, Eminência, Irmãos Bispos, Membros do Governo, e vós, gente maravilhosa da Nigéria: chegou o momento de me despedir de vós e de vos dizer adeus.

Estou repleto de gratidão. O meu coração transborda de alegria. Não poupastes esforços para organizar magnificamente a minha viagem, as celebrações e os encontros.

Desejo agradecer ao Presidente, ao Vice-Presidente e a todos os funcionários do Governo, em qualquer nível que seja, o seu acolhimento e a hospitalidade tão cordial, a sua generosa assistência.

Agradeço aos bispos católicos e a todas as comissões católicas que trabalharam com tanta dedicação e competência.

A minha gratidão vai para todos os pilotos, tripulações, homens da segurança, e para cada homem, mulher e criança, que manifestaram tão alto espírito de hospitalidade e tão vivo interesse.

2. Levo comigo a recordação muito viva de uma grande nação, de um povo generoso, de uma Igreja dinâmica, de uma juventude entusiasta e dotada de muitos talentos, de um país que honra a família, respeita os anciãos e olha para os filhos como para uma bênção. Numa palavra, levo comigo a recordação indelével de um país que honra a África, o mundo e a Igreja de Jesus Cristo.

Embora deva partir agora, o meu coração continua com todos vós. Ser-me-á possível voltar um dia à Nigéria? Quererá a Providência de Deus Omnipotente e Misericordioso dispor que eu volte a beijar o vosso solo, abraçar os vossos meninos, animar os vossos jovens e caminhar, uma vez mais, circundado com o amor e o afecto do nobre povo do vosso país? Deixamos o futuro nas mãos de Deus, a Sua sabedoria e ao Seu cuidado paterno. É a Ele, ao Deus Criador e Pai de todos nós, que eu entrego o futuro e o destino da Nigéria.

3. E agora desejo dirigir uma palavra final a uma pessoa muito especial que está entre vós, para onde quer que eu olhe. É o menino nigeriano: cada menino e cada menina, criados à imagem e semelhança de Deus. É ao menino deste grande país, ao menino dotado de dignidade humana e de direitos inalienáveis, ao menino que reflecte o amor de Deus nos olhos e o exprime através do sorriso, que eu deixo a minha mensagem de fraternidade, de amizade e de amor. Peço-te, menino querido — sei que de facto me estás a ouvir — para transmitires esta mensagem aos teus irmãos e às tuas irmãs, e aos meninos que virão depois de ti.

Quem quer que sejas, esta mensagem de amor pertence à tua religião como pertence à minha: digo que tu, como qualquer outro menino, és amado por Deus e digno de amor. E que este amor deve difundir-se em toda a parte e tomar posse de todos os corações. O amor de que estou a falar significa que deves amar a Deus em paga do Seu amor; e isto faze-lo amando qualquer outro filho de Deus nesta terra. Este amor quer dizer que não há lugar para o egoísmo, a mentira, a mesquinhez, o ódio, a discriminação e a violência neste mundo. Significa que tu, como qualquer outro menino na terra, tens a mesma dignidade aos olhos de Deus: qualquer que seja a tua idade, a tua raça, a tua nacionalidade; quer sejas menino ou menina, rico ou pobre, forte ou fraco, são ou enfermo ou deficiente. O amor que te peço tenhas para cada irmão e irmã, para cada pessoa viva, é o amor de generosidade e de bondade, de sacrifício, de amizade e de paz.

Todas estas coisas podem resumir-se em poucas palavras, e podem dizer-se de diversos modos. Mas deixai que as diga à minha maneira, à maneira que aprendi, como me foi ensinado por minha mãe, que me dizia quando eu era menino: "O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles" (Mt 7,12). Caro menino da Nigéria: procedendo desta maneira tens mais poder que todas as centrais nucleares do mundo, porque tens o poder de levar paz e felicidade ao mundo. Falo do poder que é teu, porque te vem de Deus, e é o poder de amar, o poder de amar qualquer outro menino. Caro menino: Deus amou-te; agora deves amar também tu em paga.

Adeus, e Deus abençoe toda a Nigéria.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

A NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS


EM COTONOU, BENIM


Aeroporto Internacional

Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 1982



Senhor Presidente
Queridos Irmãos no Episcopado
e todos vós, filhos e filhas de Benim
saúdo-vos com grande alegria

Agradeço-vos por me acolherdes tão calorosamente entre vós. A minha permanência será breve, mas, graças a vós, será muito rica. Era justo que me detivesse convosco, pois era esse o vosso tão insistente desejo, tão grandes são os vossos méritos e a fama da vossa fé tão conhecida em Roma!

Acabo de beijar esta terra de Benim, porque ela é preciosa a Deus. Sim, Deus ama-a. Ele ama todos os seus habitantes, o que significa que Ele os abençoa. Ele quer fazer desta terra também o lugar da salvação realizada pelo Evangelho.

Venho, como amigo da paz e solicito de tudo aquilo que é verdadeiramente humano, ao encontro de todos os cidadãos deste país e dos seus dirigentes. Com eles, faço votos por que a nação desenvolva todas as suas possibilidades nas melhores condições de justiça, de paz, de fraternidade. Sei também que a maior parte da população de Benim adora Deus e reza com sinceridade profunda. Sinto-me particularmente perto daqueles que compartilham a fé cristã e que mantêm entre si boas relações. Venho encorajar de modo muito especial os fiéis católicos que, com os seus irmãos do mundo inteiro, formam uma mesma família, um mesmo Corpo, à volta do nosso Salvador muito amado Jesus Cristo.


Discursos João Paulo II 1982 - Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 1982