Discursos João Paulo II 1981 - Sexta-feira, 20 de Novembro de 1981

Os bispos mostram-se cada vez mais conscientes do valor da vida religiosa e da responsabilidade que lhes toca a este propósito. O cuidado que têm de um melhor conhecimento do estado religioso como tal e não apenas na sua acção apostólica, manifesta-se, além do mais, nos seus esforços para dar aos seminaristas e aos sacerdotes uma informação cada vez mais profunda e mais concreta. Como eu dizia na mensagem à "Plenária" precedente, é essencial que eles atendam a procurar às religiosas um auxílio espiritual de qualidade, graças a sacerdotes de valor. É necessário igualmente o clero diocesano respeitar sempre o carácter próprio dos diversos Institutos no que se refere à espiritualidade deles, à finalidade apostólica e à vida comunitária que têm. Só religiosos autênticos podem colaborar com fruto numa verdadeira evangelização.

Guardas da doutrina e da liturgia, os Pastores velarão pois com empenho para dar a todo o próprio rebanho, mas especialmente a esta porção escolhida que os religiosos e as religiosas formam, um alimento espiritual e doutrinal são e rico, procurando preservá-los de desvios doutrinais e de abusos práticos que venham prejudicar a fecundidade apostólica e a existência mesma da vida consagrada.

Ainda que o tema da vossa Assembleia não diga respeito directamente à vida contemplativa, quero repetir aqui todo o reconhecimento da Igreja pelo auxílio inapreciável oferecido à evangelização pelas preces e os sacrifícios dos monges e das monjas. Sei que os Pastores partilham, todos, este ponto de vista e que dentre eles deseja cada um ardentemente beneficiar, na sua diocese, da presença de um ou vários mosteiros.

Quero igualmente animar, de maneira particular, os religiosos leigos e as religiosas, uns e outras associados à obra pastoral dos bispos; prestam uma colaboração que é riqueza, especialmente para a educação cristã e a catequese dos jovens.

4. Os religiosos não devem nunca temer pôr em realce os elementos essenciais da própria vida: união a Deus na oração e na contemplação, prática dos conselhos evangélicos e vida fraterna. O cuidado pastoral não deve nunca prevalecer indevidamente para eles sobre estes valores fundamentais, mas alimentar-se deles.

Devem igualmente desenvolver o sentido eclesial que têm, para melhor inserção na Igreja particular e na Igreja universal. Acima de tudo, precisam de evitar um alheamento que por uma concepção errónea da isenção, levaria a dividir a Igreja em compartimentos quase incomunicáveis. Ela não pode causar nenhuma dificuldade nas relações dentro das Igrejas particulares, pois, para as obras de apostolado, os religiosos, como todos os fiéis, estão colocados sob a jurisdição dos bispos.

A referência aos bispos é particularmente necessária na hora actual, em que bom número de Institutos sofrem insuficiência de vocações e se trata para estes de reagrupar casas ou reestruturar obras. Tais medidas devem ser sempre consideradas em colaboração com o Ordinário, que tem a responsabilidade pastoral das orientações apostólicas.

5. Em todos estes pontos, as Uniões de Superiores maiores poderão revelar-se de grande utilidade se corresponderem adequadamente à finalidade estabelecida quando foram erectas. Por isso é desejável que elas revejam periodicamente a sua acção e funcionamento, segundo as condições estabelecidas nos Estatutos.

O papel das Conferências é de primeira importância para o acolhimento das orientações da Santa Sé; toca a essas muitas vezes fazer conhecer estas últimas, difundi-las e estudá-las, em vista de melhor aplicação por parte dos religiosos.

Os temas escolhidos, quando das Assembleias Gerais, serão determinados de preferência para valorizar e promover os valores próprios da vida religiosa.

O papel das Uniões é especialmente apreciável nas relações dos Institutos entre si e com a Hierarquia, naquilo se refere à acção pastoral. É muito desejável que as questões relativas ao reagrupamento das casas e à reestruturação das obras sejam examinadas no plano da União, para o comum acordo permitir melhor distribuição dos operários evangélicos. O diálogo com o Episcopado facilita-se muito quando existem comissões mistas ou organismos análogos de bispos e de religiosos, e quando estes últimos participam nos conselhos de pastoral. As formas de diálogo podem ser múltiplas e variadas são frutuosas quando se baseiam na caridade e na confiança mútua.

Ao terminar, desejo de todo o coração que os Pastores, os Superiores religiosos e as suas Uniões colaborem intimamente para ajudar os religiosos e as religiosas a levar ao mundo actual um testemunho fiel, generoso e sereno: constituem, a título especial, a imagem de Cristo, imitando de mais perto e representando continuamente, pelo seu estado, a forma de vida do Senhor e dos Seus discípulos (cf. Lumen Gentium LG 44).

Que a Virgem Maria, Mãe da Igreja, modelo das almas consagradas vos ajude a todos, no cumprimento desta tarefa magnífica: tal é a minha prece por vossa intenção, ao mesmo tempo que vos abençoo de todo o coração, e abençoo, através das vossas pessoas, todos e todas quantos vivem como religiosos ao longo do mundo.



DISCURSO DE JOÃO PAULO II


AO SENHOR ANTONIO CORRÊA DO LAGO


EMBAIXADOR DO BRASIL JUNTO DA SANTA SÉ


21 de novembro de 1981



Senhor Embaixador,

Há alguns meses iniciou Vossa Excelência a sua missão junto da Santa Sé, depois do encontro tido com o Senhor Cardeal Secretário de Estado. Hoje é com muito prazer que recebo as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Federativa do Brasil junto da Santa Sé, após o prematuro passamento do Embaixador Espedito de Freitas Resende.

Antes de mais, desejo dar cordiais boas-vindas a Vossa Excelência e assegurar-lhe que sempre terá aqui as portas e o coração aberto para o ajudar no cumprimento da sua alta e nobre missão de cuidar e fomentar as frutuosas relações existentes entre a Santa Sé e o seu País. Far-se-á todo o possível para que a sua missão seja fecunda e a sua estada na Cidade Eterna feliz.

Agradeço reconhecidamente as deferentes saudações e augúrios do Senhor Presidente, de que Vossa Excelência é portador. Queria confessar-lhe que fiquei profundamente sensibilizado pela atitude de participação no meu sofrimento da parte das Autoridades e do querido povo do Brasil.

Já o poderia pressentir. Na verdade, depois de doze dias de peregrinar por terras de Santa Cruz, trouxe profundamente gravadas na alma tantas imagens de vida e beleza mas, sobretudo, guardei indelevelmente a recordação do homem concreto e histórico, que em multidões entusiasmadas veio ao encontro do Sucessor de Pedro, para o saudar e para lhe testemunhar a sua fé viva em Cristo.

Como manifesta no seu discurso, as relações amistosas entre a Sé Apostólica e o Brasil, existentes ininterruptamente há mais de um século e meio, são reflexo da vida e da cultura ancestral das suas gentes. Desde mil e quinhentos, uma plêiade de missionários, entre os quais se distingue o beato José de Anchieta, “ em perigos... esforçados, mais do que permitia a força humana ”, oferecendo o melhor de si mesmos – a própria vida – levaram por toda a parte a mensagem do Evangelho.

Quanto Vossa Excelência afirma, vem corroborar a minha profunda convicção de que a alma brasileira está intrinsecamente marcada pelo seu rico patrimônio religioso. E a Igreja, juntamente com o povo brasileiro, quer continuar a caminhada, consciente da sua missão essencialmente espiritual, que procura levar a conhecer e a amar a Deus e ao próximo, participando da mesma sorte terrena dos irmãos, fomentando as iniciativas que servem os valores integrais do homem, a sua dignidade e promoção, a consolidação da família e o bem-estar da sociedade.

O passado abriu as sendas do presente cujos homens com dinamismo e boa-vontade, iluminados pela fé e guiados pela caridade, construirão uma sociedade mais fraterna e na qual todos os membros possam realizar-se em plenitude.

Senhor Embaixador: estes são os votos que formulo para o Brasil, que sempre recordo com saudade. Queira transmitir ao Senhor Presidente da República, que, há pouco, reassumiu felizmente o exercício das suas altas funções, os meus cordiais cumprimentos e os melhores desejos de bem-estar; às Autoridades e ao querido Povo Brasileiro as minhas afetuosas saudações com as bênçãos de Deus.



 VISITA DO SANTO PADRE AO INSTITUTO SÃO JOÃO BAPTISTA DE LA SALLE

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

ÀS COMUNIDADES LASSALISTAS


Cúria Generalícia de Roma

Sábado, 21 de Novembro de 1981



Dilectos Irmãos e Irmãs Caríssimos Estudantes

1. Sinto especial alegria por me encontrar hoje convosco, aqui reunidos em bom número vindos das várias parte da Itália, em representação da escola católica lassalista.

Para vós Superiores, e em primeiro lugar para o Superior-Geral, para Vós Professores, Estudantes, Familiares e Ex-alunos vai a minha mais cordial saudação, que se inspira em sentimentos de sincera estima e afecto.

2. Ao encontrarmo-nos agora aqui, perto e quase à sombra do Santuário de São João Baptista de La Salle, onde se conservam as suas veneradas relíquias, eleva-se espontâneo do nosso espírito o pensamento reconhecido a Deus, dador de todo o bem, por ter inspirado ao Fundador dos Irmãos a instituição das Escolas Cristãs.

A preocupação primária de formar bons mestres, a integração dos alunos e dos pais na acção educativa; o clima fraternal das relações entre professores e alunos, fundado no respeito, na confiança e no amor; a valiosa formação religiosa alimentada pela catequese e pela vida litúrgica; a fundação de escolas diversificadas segundo as necessidades da juventude do seu tempo: para as crianças pobres, para os filhos dos artífices, para os operários e para os mestres...; e também o uso da língua pátria, são a demonstração evidente e concreta da grande atenção que São João Baptista de La Salle teve quanto ao homem e quanto aos sinais dos tempos, e representam felizes instituições pedagógicos, proféticas e antecipadoras.

Da sua rica espiritualidade apraz-me salientar nesta circunstância o amor profundo à oração e à meditação da Palavra, a filial devoção a Maria que o tornava conhecido como "o padre do Rosário", e por último a indestrutível fidelidade ao Romano Pontífice: exactamente por isto, desde as origens do Instituto quis enviar para Roma dois Irmãos, para os colocar à disposição do Papa.

"Deveis manifestar à Igreja que amor tendes por ela. Deveis dar-lhe prova do vosso zelo, porque trabalhais pela Igreja que é o corpo de Cristo. Sois ministros da Igreja para a missão que Deus vos deu como distribuidores da Sua Palavra" (M.P. 201, 2). Isto deixou escrito para vós o Fundador, caros Irmãos, e a isto também eu vos exorto.

3. A vossa escola católica está sumamente a peito à Igreja. De facto, "a Escola Católica constitui uma comunidade autêntica e verídica, a qual, cumprindo uma sua tarefa específica de transmissão cultural, ajuda todos os seus membros a adoptar o estilo de vida próprio dos cristãos; nela, com efeito, o respeito pelo outro torna-se serviço à pessoa de Cristo; a colaboração nasce sob o signo da fraternidade; o compromisso político em favor da consecução do bem comum é assumido responsavelmente como empenho pela construção do reino de Deus", lê-se na Declaração publicada a 19 de Março de 1977 pela Sagrada Congregação para a Educação Católica (n. 60).

Sede fiéis ao carisma do vosso Instituto, sede fiéis à vossa original vocação de "apóstolos da escola". Vocação, é certo, difícil, que traz renúncias e sacrifício, dedicação total à missão educativa, confiança inexaurível nos jovens e amor grande pelo Senhor, alimentado na oração assídua, porque "é Deus que dá o crescimento" (cf. 1Co 3,7).

A minha viva complacência seja-vos de conforto e de ânimo no vosso precioso apostolado pela Igreja.

A vós e aos vossos colaboradores leigos, que eficazmente cooperam na consecução dos fins particulares da escola católica lassalista, se dirige o documento conciliar Gravissimum Educationis quando afirma: "Lembrem-se, porém, os professores de que sobretudo deles depende que a escola católica possa levar a efeito os seus propósitos e iniciativas. Unidos entre si e com os alunos pela caridade e impregnados de espírito apostólico, dêem testemunho tanto pela vida como pela doutrina do único mestre — Cristo" (n. 8).

4. A vós estudantes, que com a vossa numerosa e festiva presença, ao mesmo tempo que exprimis o afecto ao Papa, desejais também manifestar a gratidão e o afecto aos vossos educadores, desejo dizer: sede reconhecidos a estes bons Irmãos, que com amor e sacrifício tratam da vossa formação humana e cristã.

Sabei apreciar o dom e o privilégio de frequentar uma escola católica; sabei fazer que frutifique este "talento" que vos foi dado.

A primeira atitude que deveis ter é a de ouvir atentamente e receber a mensagem evangélica que a escola vos propõe. "Abri o vosso jovem coração a Cristo, não tenhais medo de Cristo"! É Ele que vos salva, Ele que pode satisfazer qualquer aspiração vossa e Ele que pode impregnar de alegria a vossa vida.

A segunda atitude que se vos pede é a de um empenho diligente para conseguir uma cuidadosa preparação cultural, moral e social. A Igreja olha para vós confiadamente, porque de vós depende um futuro melhor para a sociedade e para a civilização.

Por isso o aluno cristão está alegremente aberto a todos os valores humanos da verdade, do bem e da beleza, para realizar na própria pessoa a fecunda síntese de fé, cultura e vida, e está inclinado para transmitir aos outros a mensagem recebida,

5. A vós Pais, a quem por direito natural compete, em primeira instância, a função de educar os filhos, dirijo a instante exortação a que estejais conscientes da responsabilidade. "Toca, de facto, aos pais criar, dentro da família, aquela atmosfera vivificada pelo amor e pela piedade para com Deus e para com os homens, que favorece a educação completa dos filhos em sentido pessoal e social" (G.E. 3).

A escolha da escola católica pressupõe portanto uma consciente eleição educativa e a adesão leal ao projecto educativo inspirado nos valores internos do Cristianismo.

Ela comporta depois a sintonia e Cooperação entre escola e família na coerente proposta de valores, modelos e comportamentos; é necessário portanto favorecer as ocasiões e os instrumentos para construir juntamente uma vital "comunidade educadora".

Caros irmãos e irmãs, em conclusão deste encontro, desejo renovar a expressão do meu apreço pela meritória acção educativa da escola católica lassalista, que inumeráveis benemerências conquistou em trezentos anos da sua história.

Torno extensivo este apreço a toda a escola católica, animando o esforço sincero de quantos nela trabalham, para oferecer ao mundo uma imagem límpida e legível de testemunho cristão, comungando profundamente com a Igreja local.

A todos vós o meu cordial voto de todo o bem, ao qual junto a minha Bênção Apostólica, como garantia das vossas aspirações e propósitos.



VISITA DO SANTO PADRE AO INSTITUTO SÃO JOÃO BAPTISTA DE LA SALLE

ENCONTRO DO PAPA JOÃO PAULO II

COM OS IRMÃOS DAS ESCOLAS CRISTÃS


NA CÚRIA GENERALÍCIA


Sala Capitular

Sábado, 21 de Novembro de 1981



Depois de me ter encontrado com os vossos alunos vindos do mundo inteiro, depois de nos termos reunido todos à volta do altar em oração unânime e fervorosa, não quero terminar este dia sem vos oferecer uma palavra especial de apreço e encorajamento, a vós caros Irmãos das Escolas Cristãs, que representais os milhares de Irmãos distribuídos por todas as partes do mundo.

1. A carta que vos dirigi a 13 de Maio de 1980, na abertura do ano comemorativo do tricentenário da fundação do vosso Instituto, exprimia o essencial do meu pensamento.

Durante mais de um ano, celebrastes aqui e acolá este jubileu, reflectindo sobre a fidelidade ao carisma do vosso Fundador. Este carisma é necessário recordá-lo — é o de ter concebido a escola, colocada à disposição de todos, especialmente dos pobres, como comunidade educativa, segundo a visão cristã, isto é fundada no amor, capaz de formar a alma, ao mesmo tempo que o espírito das crianças e dos adolescentes, graças a mestres devidamente preparados e competentes, consagrados a Deus, familiarizados com a oração e que vivem como irmãos, na escola do único Mestre, Jesus Cristo. A escola católica, encontra aqui a sua inspiração e o seu modelo.

2. Como nas origens do vosso Instituto, este apostolado continua a ser de importância primordial e até de viva actualidade, tanto mais que a falta de educadores dedicados, competentes e desinteressados se faz sentir em toda a parte e que o estatuto da escola católica necessita de ser ratificado com modalidades diversas segundo os países — e o seu plano educativo valorizado.

Sei quanto vos esforçais, na vossa acção educativa, para atender às necessidades reais dos jovens, mediante uma pedagogia centralizada sobre as pessoas; aceitai congratulações e agradecimentos por isso. Estou igualmente certo que tendes a peito trabalhar com os pais e as suas associações.

A obra que realizais, em união com as outras Congregações de homens e de mulheres consagrados à formação dos jovens, e com tantos outros mestres leigos, faz parte do conjunto de uma pastoral cuja responsabilidade cabe em primeiro lugar a cada Bispo e às Conferências Episcopais. Como dizíamos ontem aos membros da Assembleia plenária da Congregação para os Religiosos e os Institutos Seculares, as relações confiantes, de compreensão e de colaboração, devem aprofundar-se mutuamente entre bispos e religiosos e entre os próprios Institutos religiosos, para fazer face às necessidades actuais, sobretudo quando se apresentam problemas de reestruturação, no respeito, evidentemente, do vosso carisma e da vossa vida religiosa.

3. No que se refere ao caminho espiritual que vós convidais os jovens a percorrer convosco, recordar-vos-eis do vosso santo fundador: "Os jovens que Deus vos confia são filhos de Deus; estão, como vós, consagrados à Trindade desde o seu baptismo". A vossa tarefa consiste pois em desenvolver as consequências ,da sua pertença espiritual, num clima de confiança, de paciência e de liberdade bem compreendida, o que presume: despertar a fé deles, fortificá-la ou fazer que eles a descubram de novo mediante uma catequese activa e renovada segundo as orientações da hierarquia; formá-los na oração, se necessário mediante retiros apropriados, ajudá-los a aceitar as exigências evangélicas, como caminhos de libertação, de vida e de oferta; ensinar-lhes a amar a Igreja e a tomar nela um lugar activo, a assumir as próprias responsabilidades de homens e de cristãos no seu meio, em espírito de serviço; alimentar neles a vontade de entreajuda para com os países menos favorecidos; cultivar devidamente, o zelo missionário deles. E para os vossos alunos que não compartilham a fé católica, o testemunho da vossa dedicação competente, do vosso respeito das consciências, dos valores espirituais e morais que vós ensinais, é igualmente capital: isto faz parte da missão evangelizadora da Igreja.

4. Para vós, o serviço educativo que prestais à sociedade e à Igreja é a obra de religiosos. Isto é, deveis haurir na oração e na fidelidade quotidiana aos vossos votos a alma do vosso apostolado. Na minha carta insistia sobre a vida de oração, que é capital. Quereria salientar outro elemento fundamental da vossa vida religiosa, para a qual São João Baptista de La Salle é não só mestre, mas também modelo: penso na vida comunitária.

A celebração do tricentenário pôs-vos diante dos olhos os inícios laboriosos do vosso Instituto, cheios de dificuldades exteriores, e também interiores: os primeiros discípulos, contestados de todas as partes, sem segurança no amanhã, eram assaltados por violentas tentações de desencorajamento e de abandono. Foi então que Monsenhor de La Salle, abandonando os seus privilégios de Cónego, começou-a partilhar no meio deles o seu estilo de vida; priva-se do seu conforto para adoptar a insegurança material deles. Tendo desde então tudo em comum, os "Mestres de escola", tornados "Irmãos das Escolas Cristãs", tiveram um só coração e uma só alma, à imagem da primeira comunidade cristã.

Que preciosa fonte de meditação para vós, caros Irmãos inseridos num mundo que volta a descobrir o sentido comunitário! Convido-vos muito cordialmente a viver com intensidade esta vida fraternal. Os jovens da nossa época são particularmente sensíveis ao testemunho de uma comunidade unida no amor e na doação de si aos outros; descobrem nela Cristo e esta presença atrai-os.

5. Que maravilhoso campo de apostolado vos foi confiado! Supõe que cada um dos Irmãos está fortalecido ele próprio no seu foro íntimo, no contacto de Jesus Cristo, que lhe pergunta de novo incessantemente como a Pedro: "Tu amas-me verdadeiramente", fazes isto por amor?

Sim, oxalá Cristo — que celebramos amanhã como Rei do universo — reine nos vossos corações, e o seu reino de amor e de santidade se expanda, graças a todos os Irmãos das Escolas Cristãs! Seja ele a vossa alegria e a vossa força! Chame para trabalhar convosco novos operários evangélicos! A Virgem Maria vos conserve na escola de Cristo! São João Baptista de La Salle vos conduza com segurança pelos caminhos ao mesmo tempo velhos e novos! De todo o coração, abençoo os responsáveis da vossa Congregação e, com eles, todos os seus Irmãos que realizam humildemente a própria missão através do mundo.



VISITA DO SANTO PADRE AO INSTITUTO SÃO JOÃO BAPTISTA DE LA SALLE

SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

ÀS RELIGIOSAS NO INSTITUTO LA SALLE


Sábado, 21 de Novembro de 1981



Dá-me satisfação poder encontrar-me também, durante a minha visita a esta casa, com os membros do Capítulo geral das Religiosas Carmelitas da Caridade.

Sei que estais a trabalhar, queridas Irmãs, na última revisão das Constituições, que deverão ser aprovadas pela Santa Sé, e na elaboração das linhas programáticas para os próximos anos.

Não duvido que desejais levar a cabo este esforço em plena fidelidade às claras normas deixadas pela vossa Fundadora, Santa Joaquina Vedruna, e aos documentos do Concílio Vaticano II e da Sé Apostólica sobre a vida religiosa. A propósito disto desejo insistir em que procureis em profundidade a vossa identidade própria como almas consagradas a Deus e à Igreja, como seguidoras sobretudo do exemplo de Cristo pobre casto e obediente. Este deve ser o vosso ponto de partida, que inspire toda a vossa actuação, individualmente e como membros de um Instituto apostólico.

E para que os vossos trabalhos de educação cristã — função que não perdeu actualidade no mundo de hoje — e de ajuda ao enfermo ou necessitado tenham sólido fundamento e garantia de contínua eficácia, obtende na oração pessoal e comunitária os critérios do Evangelho, os quais, superando critérios humanos ou sociológicos, vos configurem interior e exteriormente. Assim é que a Igreja e o mundo têm necessidade de vós: portadoras de valores e motivações superiores, eternos.

Neste compromisso eclesial, sabei que vos acompanhará a minha oração, o meu encorajamento e a minha cordial Bênção.

Saúdo também de todo o coração as Irmãs Guadalupanas de La Salle aqui presentes. Encorajo-vos a prosseguir a vossa vida consagrada e dou-vos, a vós e aos membros do vosso Instituto, a minha especial Bênção.

Saúdo muito cordialmente, as Irmãs Missionárias do Imaculado Coração de Maria aqui presentes. Representais uma numerosa Congregação que fez muito para levar a Boa Nova de Jesus àqueles que ainda não a tinham ouvido. Oxalá ela continue, mediante a palavra e a acção, a proclamar este Evangelho na sua pureza e esplendor, de modo que as palavras da Escritura possam verdadeiramente aplicar-se a todos os seus membros: "Quão formosos são os pés dos que anunciam boas novas. Peço a Deus vos assista, guie e inspire sempre no serviço zeloso e perfeito de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em seu nome abençoo todas vós.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UMA PEREGRINAÇÃO FRANCESA


Sábado, 21 de Novembro de 1981



Caros Irmãos e Irmãs

Sede bem-vindos! Fazeis aqui, em Roma, a última escala do vosso longo cruzeiro "às fontes da fé". Nos Actos dos Apóstolos, Roma é também a última etapa das viagens missionárias de São Paulo. No ano de 60, estando prisioneiro, vem trazer à comunidade romana a fé que tinha recebido do Senhor perto de Damasco, que, amadurecida em Tarso e na Arábia, tinha levado a confirmar a Jerusalém junto de Pedro, para depois a pregar em Antioquia e em Atenas e aprofundar em Corinto e em Éfeso. Ia dar a vida pela fidelidade a esta fé, quase ao mesmo tempo que São Pedro, aqui mesmo.

Sim, a fé que professamos há 20 séculos vem-nos substancialmente dos Apóstolos, graças à fidelidade da Igreja, no Espírito Santo "que é Senhor e dá a vida". Mas as etapas da expressão desta fé ficam ligadas a lugares muito queridos, a comunidades cristãs prestigiosas, a momentos importantes de clarificação e de unanimidade como o Concílio de Constantinopla comemorado este ano. Tivestes razão em percorrer estas etapas como peregrinos, fraternais e orantes, não só para evocar junto das ruínas os acontecimentos e as comunidades do passado, mas para encontrar nelas as comunidades-testemunhas de hoje, com os seus Pastores. Alegro-me em particular com a vossa visita ao Patriarcado de Constantinopla.

Do mesmo modo que a Igreja é rica com a diversidade destes testemunhos a convergir no mesmo Credo, faço votos por que a vossa fé, haurida nas fontes, brote mais pura, mais completa e mais vigorosa; e por que os laços da unidade se apertem entre todos os que a professam. Dizia-o em Paris: a Igreja deve respirar com dois pulmões, um oriental e outro ocidental.

Pelo meu lado, a minha missão, bem sabeis, é como a de Pedro, professar bem alto a fé em Cristo, confirmar os meus irmãos nesta fé para que a Igreja esteja unida apoiando-se na Rocha da fé e vivendo na mesma caridade. E comigo, é toda a Igreja que está em Roma que deve fornecer disso testemunho. Recomendo o meu ministério à vossa oração.

Quanto a vós, que recebestes um privilégio durante algumas semanas, fazei que aproveitem dele os vossos irmãos. Roma é também uma escala a partir da qual o anúncio do Evangelho retoma o seu vigor, até às extremidades da terra. E acompanhe-vos a Bênção de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA CAMPÂNIA (ITÁLIA)


EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Sábado, 21 de Novembro de 1981



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado

1. O nosso encontro de hoje, que vem coroar a "visita ad limina", realizada por vós, Pastores da Campânia, é para mim causa de profunda alegria interior, porque me dá ocasião de exprimir-vos, uma vez mais, os sentimentos de afecto e de estima, que experimento seja quanto a vós, seja quanto aos fiéis das 35 dioceses confiadas ao vosso serviço pastoral. Traz-me isto à memória a peregrinação, por mim realizada ao Santuário de Pompeia e a Nápoles de 21 de Outubro de 1979, e particularmente a breve mas intensa e comovida visita que, a 25 de Novembre do ano passado, logo a seguir ao terremoto, fiz às áreas devastadas, entre as quais Nápoles e Avelino.

Este encontro comum deseja ser ainda como que a síntese ideal de tudo o que dissemos também nas audiências particulares, com dada um de vós, que, mediante a "visita ad limina", quisestes reafirmar a perfeita união de espírito e de coração que existe entre as Igrejas particulares da vossa Região e a Igreja de Roma; entre vós, Bispos das Igrejas da Campânia e o Bispo de Roma, sucessor de Pedro.

Esta união na fé e na caridade, testemunho concreto da unidade querida por Jesus (cf. Jo Jn 17,11 Jo Jn 17, imagem eficaz da vida da Igreja Mãe, Jerusalém (cf. Act 4, 32), deve continuar animar orientar as vossas Dioceses, também inspirar todas as múltiplas iniciativas carácter pastoral, que vós, na vossa solicitude episcopal, desejais promover. Para evitar dispersões energias, diversidades orientações nas escolhas iniciativas esporádicas desarticuladas, nota-se vez mais necessidade uma autêntica coordenação unitária não nível diocesano, mas também nível regional. É necessário, para o bem da Igreja, saber vencer, na unidade na caridade, certo tipo não bem entendida autonomia, que poderia manifestar-se, diante da prova dos factos, ou inútil ou ineficiente.

2. Dos nossos colóquios pessoais brotou uma exigência prioritária: da preparação e da formação dos candidatos ao sacerdócio e do cuidado mesmo e formação permanente do Clero. Numa população de mais de 5 milhões e meio de habitantes, na Campânia trabalham cerca de 2.500 sacerdotes, além de 2.300 religiosos. Para todos estes irmãos, que são "ministros de Cristo e administradores dos mistérios de Deus" (1Co 4,1) e dedicam a sua vida à difusão do Evangelho, vão a minha afectuosa recordação, o meu apreço e a minha palavra de incitamento, a fim de que, apesar de em meio de tantas dificuldades, sejam sempre fiéis à sua altíssima vocação e se prodigalizem de boa vontade, mais ainda — segundo afirma São Paulo de si — se consumam a si mesmos pelas almas (cf. 2Co 12,15). Não faltarão certamente o vosso empenho, a vossa solicitude e o vosso cuidado, caríssimos Irmãos no Episcopado, para que o problema das vocações, o da preparação dos Seminaristas e da formação permanente do Clero estejam ao de cima nos vossos pensamentos. Lembro neste momento, com sincero afecto, os 300 Seminaristas dos 10 Seminários menores, os 150 dos Seminários Maiores de Nápoles e de Benevento, como também a Faculdade Teológica da Itália Meridional, com as suas 2 Secções; continuem todos estes Institutos a ser autênticas forjas de profunda formação espiritual e, de séria preparação cultural e teológica, para que os Sacerdotes da Campânia possam corresponder plenamente às expectativas da Igreja e da sociedade contemporânea.

Nem posso esquecer os Diáconos permanentes, que são formados e preparados no "Instituto Diocesana para a Iniciação nos ministérios", em Nápoles: ao mesmo tempo que exprimo a minha satisfação por esta iniciativa, que responde a um voto concreto do Concílio Vaticano II, faço votos por que tal preparação e formação sejam sempre orgânicas e completas, para os candidatos ao Diaconado poderem adequadamente cumprir o seu serviço eclesial, prestando verdadeira colaboração ao Clero, com desinteressado empenho e generosa dedicação nos vários campos da pastoral, que lhes serão confiados pelas Autoridades competentes.

Uma especial palavra de incitamento desejo neste momento dirigir às cerca de 6.000 Religiosas da Campânia, que nas várias actividades catequéticas, educativas e assistenciais, ou no silêncio orante da clausura, dão precioso testemunho do valor perene da total doação a Deus, mediante a pobreza, a castidade e a obediência consagradas.

3. O desastroso terremoto que a 23 de Novembro do ano passado assolou a Basilicata e a Campânia, semeando lutos e destruições, foi objecto especial das nossas audiências. Cada um de vós quis-me informar sobre a real extensão das ruinosas consequências do sismo, sobre quanto foi até agora feito para vir ao encontro das legítimas exigências dos nossos irmãos atingidos, e sobre perspectivas que se apresentam para o futuro, que se deseja melhor e mais sereno.

Permanecem todavia múltiplos e graves problemas de carácter material, espiritual e pastoral. Muitíssimos dos nossos irmãos e irmãs perderam a casa, os seus bens, fruto de longas e difíceis economias; perderam o seu lugar de trabalho, e estão portanto preocupados com o seu futuro e com o das suas famílias. Os jovens, em particular, andam à procura de uma colocação, e sofrem na alma por tantas esperanças que ficaram até agora iludidas. Esta soma de problemas de carácter social e humano, com evidente dramatização, influi profundamente, ainda nos aspectos da vida religiosa das áreas atingidas. É necessário e urgente, restituir a estes nossos caríssimos irmãos e irmãs o sentido de uma autêntica confiança, fundada na solidariedade de todos; porque é dever de todos contribuir para a solução dos seus problemas fundamentais. Será necessário reconstruir tudo: casas, postos de trabalho e povoações. Os Bispos dos lugares feridos pelo sismo devem ser os animadores e os sustentadores de todas aquelas iniciativas de solidariedade, que podem contribuir para a reconstrução das Regiões devastadas.

O dramático acontecimento deve representar para todos incitamento, convite para a acção indefessa e também para uma pastoral orgânica, unitária e solidária, e, em certos aspectos, nova, porque novos e imprevistos são os problemas que o terremoto provocou e pôs em clara evidência. Tais problemas estão relacionados com o mais geral, que sociologicamente é denominado como o "problema do Sul da Itália"; é de carácter não só regional mas nacional, e deve ser portanto estudado e enfrentado, "viribus unitis", com a Conferência Episcopal Italiana, que não deixará certamente de oferecer valiosas ajudas e oportunos contributos para tal fim. Exprimo o voto mais cordial de que, graças também à acção de incitamento por vós generosamente desenvolvida, possa ser eliminado o crónico flagelo do desemprego e assegurada a cada família uma adequada fonte de honesto ganho, com habitação conveniente, de maneira que para a amada Terra da Campânia sorriam finalmente dias melhores.

É neste amplo contexto que devem ser aprofundadas e animadas a promoção apostólica do Laicado da Campânia e a sua específica formação, no âmbito do compromisso primário da evangelização e da catequese; em fomentar uma religiosidade que, longe de manter-se por força de inércia, proceda de uma profunda e radicada convicção, fundada na meditação contínua da Palavra de Deus, na consciente e activa participação na vida dos Sacramentos e na dócil audição do Magistério eclesiástico, concretizando-se num coerente e corajoso testemunho da própria identidade de cristãos; na urgência de reacender uma "cultura", que saiba responder às melhores tradições cristãs locais, para um profícuo diálogo com um mundo pluralista cada vez mais pronunciado; na recuperação daquela alma religiosa inconfundível da gente da Campânia, que encontrou em Santo Afonso Maria de Ligório o fiel intérprete e o eficaz inspirador, mediante as missões populares, a poesia, os cânticos e as várias obras de formação religiosa. O Laicado católico da Campânia poderá e deverá dar um contributo determinante e original na reconstrução material, e espiritual de toda a vossa Região e, em particular, das áreas devastadas pelo terremoto. É o convite instante, que hoje dirijo, nesta privilegiada circunstância do meu encontro convosco, Pastores da dilecta, Campânia.

4. O triste acontecimento do terremoto obrigou-nos a falar de "reconstrução". E tal imagem encontra a sua analogia na da Igreja, considerada como "edifício de Deus" (1Co 3,9), que deve ser continuamente construída sobre o fundamento de Cristo. Quer dizer, será necessário que a fé, interiormente assimilada e dinamicamente praticada, incite, a conservar intactos aqueles valores humanos e cristãos, que por séculos foram transmitidos, de geração em geração, como tesouro precioso: a confiança na Providência divina, a santidade da família, o respeito da vida e a solidariedade com os outros, especialmente na necessidade e no sofrimento e, de maneira especial e singular, a terna e filial devoção a Maria Santíssima, que tem no antigo santuário de Montevergine e no de Pompeia, fundado pelo beato Bártolo Longo, os seus dois lugares privilegiados, conhecidos em todo o mundo. E é à Virgem Santíssima, Mãe de Deus e da Igreja, que entrego a vossa Região, que foi fecunda em eminentes figuras de santos, como São Januário, Santo Afonso Maria de Ligório e São Gerardo Majella, para citar só os mais conhecidos e mais profundamente radicados na devoção popular.

Ao mesmo tempo que renovo os sentimentos da minha afectuosa estima e sincera cordialidade por vós, caros Irmãos no Episcopado e pelos fiéis da Região da Campânia, invoco sobre todos, do fundo do coração, a minha Bênção Apostólica.



Discursos João Paulo II 1981 - Sexta-feira, 20 de Novembro de 1981