Discursos João Paulo II 1981 - Segunda-feira, 23 de Novembro de 1981

Louvado seja Deus por ter inspirado ao Papa Paulo VI a criação desta diaconia moderna da caridade, no centro mesmo da Igreja! A carta pela qual ele a instituía a 15 de Julho de 1971, como a sua protecção muitas vezes renovada daí por diante, permanecem como referências seguras e luminosas, justamente recordadas no documento que recapitula a história dos dez anos decorridos. É igualmente dever dar graças: pelo apoio esclarecido do primeiro Presidente de Cor Unum, o caro e saudoso Cardeal Jean Villot; pela dedicação sem limites do seu primeiro secretário, o Padre Henri de Riedmatten; pelo trabalho muitas vezes sobrecarregado dos colaboradores actualmente em funções; e pela cooperação apreciada dos membros e dos consultores. Sem cairmos na auto-satisfação, não podemos — vós e eu — deixar de nos impressionar e maravilhar pela soma de actividades exercidas, de há dez anos a esta parte, com meios humanos bem modestos, quer se tratasse do trabalho das Assembleias plenárias com as suas discussões temáticas ou dos grupos de reflexão organizados durante o ano, quer se tratasse das reuniões chamadas "ad hoc" com vistas em intervenções caritativas importantes ou ainda das viagens e missões efectuadas pelos responsáveis. Sim, bendigamos ao Senhor por tantos esforços convergentes: fizeram sem dúvida progredir as Igrejas locais na compreensão e actualização do mistério da Igreja, que é por essência e por vocação uma vasta comunhão de comunidades de caridade.

Este reconhecimento para com Deus e para com os servidores de Cor Unum, como a nossa admiração pela vitalidade dos organismos caritativos internacionais, nacionais e diocesanos, juntam-se na verdade a toda a história passada e presente da igreja, constantemente tecida de actividades e mesmo de epopeias de caridade. Ora, actualmente — e por vezes no interior de grupos cristãos — existe tendência para levar a crer que a justiça deve substituir a caridade. Eu próprio quis acentuar este desafio na encíclica Dives in misericordia (cf. por exemplo o n. 12). Mas eu animo-vos decididamente a contribuir, vós também, para a reabilitação da caridade evangélica. Esforçai-vos por promover cada vez mais a verdadeira concepção da Igreja, tal como Cristo a quis e a quer, tal como o Concílio Vaticano II (cf. Lumen Gentium LG 1) tentou fazê-la compreender aos cristãos deste tempo, na fidelidade às fontes mesmas da Revelação e da Tradição eclesial mais rica, isto é uma Igreja que seja comunidade de caridade concreta e desinteressada, tendo em vista o desenvolvimento humano e espiritual de todos. Sem retardar as vossas tarefas de reflexão, de intervenções, de coordenação, desejo que ajudeis os cristãos de hoje a aproximarem-se mais das fontes tonificantes da missão deles, individual e colectiva, de caridade. A primeira destas fontes é certamente um conhecimento renovado do mistério de amor que é o próprio Deus na Sua vida trinitária. Uma catequese, que não se apoiasse neste dogma fundamental, ficaria a um nível demasiado horizontal e privar-se-ia de riquezas de luz e de energia absolutamente vitais. Ajudai igualmente os cristãos a familiarizar-se com as experiências comunitárias e intercomunitárias dos tempos apostólicos e dos primeiros séculos. Provocaram a admiração dos não-cristãos. O "vede como eles se amam" ainda nos impele a nós. A sociedade contemporânea, colorida e desfigurada pelo materialismo prático e multiforme, tem profunda necessidade de encontrar comunidades crentes que vivam, com tanto humildade como convicção, o chamamento a que todo o homem é solicitado: o da filiação divina e da fraternidade humana.

A esta missão catequética de Cor Unum desejaria acrescentar ainda alguns encorajamentos práticos. O primeiro seria fazer-vos conhecer mais, ao menos por parte dos responsáveis. Muitas Igrejas locais têm ainda necessidade de descobrir, se não a existência de Cor Unum, pelo menos a sua razão de ser e os seus métodos de actividade. Progredi também no caminho deste delicado e necessário trabalho de coordenação entre as Igrejas ou os organismos que dão e as Igrejas ou os organismos que recebem. Todos os casos individuais devem receber socorro. Todavia, é indispensável que as instâncias caritativas interessadas determinem as necessidades realmente prioritárias, cuja solução terá repercussões importantes sobre o bem comum de uma região inteira, a prazo imediato ou mais afastado.

Por outro lado, como eu insistia recentemente dirigindo-me à reunião especial em favor do Sahel, tende em vista uma cooperação crescente entre os colaboradores de qualquer acção caritativa importante. Não só se trata de evitar, por um lado, as censuras de assistência paternalista e, por outro, os riscos de uma passividade sempre possível, mas é preciso ajudar estes colaboradores a bem se situarem nos seus encargos de socorredores desinteressados e de socorredores cooperantes, em vista de um autêntico desenvolvimento humano e espiritual. Todos, aliás, em certo sentido, são beneficiários desta troca que se estabelece. Há sinais animadores para vós neste campo. Menciono, entre outros, o recente encontro dos delegados de Igrejas e de organismos ao serviço das populações do Sahel. Penso ainda no que foi esboçado em Junho último entre Cor Unum, o CELAM e o Secretariado episcopal da América Central e do Panamá (SEDAL). Enfim, segundo os vossos meios, por espírito realista diante das imensas necessidades e dos recursos limitados que estão à vossa disposição, desenvolvei os contactos e a colaboração com as Organizações governamentais ou não-governamentais que desejam estar ao serviço das populações necessitadas. No respeito mútuo, elas podem trazer-vos muito para melhor organizardes a vossa acção caritativa e podeis, pelo vosso lado, repartir com elas o espírito que vos anima.

Tais são alguns pensamentos que julguei bom exprimir diante de vós. Desejo que eles vos confortem no momento em que encetais o segundo decénio de Cor Unum. Estas palavras não bastam para resolver os vossos problemas. Mas o dinamismo da Páscoa de Cristo e a força do Espírito do Pentecostes estão sempre em actividade. Dai-lhes grande lugar nas vossas actividades caritativas! E eu, em nome das três Pessoas divinas, que são a fonte de todo o Amor, abençoo-vos de todo o coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA ÁFRICA DO NORTE


EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Segunda-feira, 23 de Novembro de 1981



Caros Irmãos no episcopado

Deixai-me que vos manifeste a alegria que sinto em receber-vos de novo juntos, reunidos à volta do caro e venerado Cardeal Duval, fazendo a vossa visita "ad limina". Este encontro oferece-me ocasião para vos assegurar que me conservo perto dos vossos cuidados e da, vida das vossas dioceses. Sobretudo, o meu desejo é que saibais que o Papa entende e aprecia os compromissos espirituais da Igreja no Magrebe.

O número dos vossos fiéis é hoje muito reduzido em comparação com o que era ontem. Na maioria, são pessoas, muitas vezes jovens, vindas servir por alguns anos quando muito, nos vossos países, nas administrações públicas ou sector privado. Se algumas famílias se implantaram, vós formais todavia, com os padres e as religiosas, o elemento permanente destas comunidades cristãs que reúnem quase exclusivamente estrangeiros de todas as nacionalidades e vindos de horizontes extremamente diversos. O vosso encargo é, entre outros, assegurar a cada um deles, graças à ajuda de todos os sacerdotes, que têm nisso o seu ministério primordial, o acompanhamento pastoral necessário para que o tempo da presença deles nesses países seja, quanto possível, ocasião de prestar um testemunho cristão autêntico entre os habitantes que os acolhem. Não há dúvida que este testemunho se enriquece ao descobrir a ambientação cultural e espiritual do mundo, muçulmano.

É, com efeito, uma das características essenciais da vida da Igreja no Magrebe ser convidada a entrar num diálogo muçulmano-cristão construtivo. Desejo animar-vos neste caminho difícil, em que os contratempos podem sobrevir, mas em que a esperança é mais forte ainda. Para a manter, são necessárias convicções cristãs bem caldeadas. Mais que noutras regiões é muito para desejar que participem os cristãos, como vós os animais a fazer, numa catequese permanente que integre uma refontalização bíblica, ou, mais exactamente, uma leitura da Palavra de Deus na Igreja, com o auxílio de teólogos e de mestre espirituais realmente competentes. Mas, nunca se insistirá nisto quanto baste, tal diálogo é primeiramente questão de amizade; é preciso saber dar-lhe o tempo das aproximações e do discernimento. Por isso rodeia-se de discrição devido ao cuidado de ter deferência com as lentidões da evolução das mentalidades. A seriedade da entrada neste diálogo mede-se pela do testemunho vivido, prestado aos valores em que se crê e, para o cristão, n'Aquele que é deles fundamento, Jesus Cristo. É a razão por que ele esconde uma fatal tensão entre o respeito profundo, que é devido à pessoa e às convicções do interlocutor, e o inabalável apego à própria fé. Este diálogo sincero e este testemunho exigente encerram uma parte de abnegação espiritual: como não proclamar a esperança que se recebeu de participar neste festim de núpcias do Cordeiro no qual será um dia reunida a humanidade inteira? E ainda é preciso — a fim de, entre outras razões, manter esse diálogo na verdade — que tal esperança íntima se mantenha firme, não cedendo a qualquer pusilanimidade nascida de uma doutrina incerta. Tal espírito encarna-se em primeiro lugar no serviço desinteressado em vista de participar fraternalmente no desenvolvimento destes países e de comungar nas aspirações do seu povo. Empenho-me em sublinhar aqui a qualidade da obra realizada por tantos cooperadores na discrição e no desenvolvimento, e por aqueles que os sustentaram.

Desejaria agora deter-me em três aspectos da vida das vossas comunidades. A permanência temporária nos vossos países, sobretudo para os jovens, pode ser essencial para o futuro da fé que trazem e para a atitude que manterão em seguida, ao regressarem à pátria. Sei quantos sacerdotes se dedicam para lhes levar um auxílio pastoral adaptado, guiando um auxílio pastoral adaptado, guiando-os na compreensão do Islão e dos habitantes desses países, ao mesmo tempo que despertando neles uma consciência renovada dos compromissos da vida baptismal na escolha de um estilo de vida evangélico. Verdade seja — como foi o caso em Raimundo Lúlio, e mais recentemente em Carlos de Foucauld e Alberto Peyriquère, e vários outros — que o encontro do Islão pode favorecer interiorização mais íntima da fé. Não é raro que uma graça de orar e de contemplar ande ligada à vida nesses países. E que os vossos padres, mesmo se estão muitas vezes cansados da renovação quase permanente dos efectivos das suas comunidades, possam ir mais longe, com a certeza de que a graça de Deus não deixará de fazer levedar aquilo que eles tiverem semeado!

Sei também que repetidamente, na vossa Conferência episcopal, tratastes da situação espiritual dessas mulheres cristãs, cujo número vai crescendo, que escolheram unir-se com muçulmanos para fundar o seu lar. Se, por motivos diversos, na maior parte não selaram esta união na Igreja, não é contudo raro que, uma vez inseridas no contexto familiar e social muçulmano, sintam uma espécie de reviramento interior causado pela educação dos filhos e pela atitude que têm de tomar diante de um teor de vida todo impregnado por usos religiosos islâmicos. Isto levanta, sobretudo quanto se trata dos sacramentos, questões delicadas que vos esforçais por resolver com a ajuda dos vossos sacerdotes, num espírito de lealdade diante das regras morais e canónicas. Dá-se o caso, bem o sabeis, de os organismos da Cúria romana existirem para vos oferecer a ajuda da sua competência. É preciso que tais pessoas saibam que a solicitude da Igreja lhes está garantida, e do mesmo facto estejam também persuadidas as comunidades cristãs. A presença de tais pessoas, dentro de famílias muçulmanas, marcada pela fidelidade e pela rectidão, constitui, apesar das incompreensões que podem nascer, uma contribuição, que não se deveria ter em pequena conta, para o progresso do diálogo que eu evocava acima. Dizei-lhes que o Papa reza especialmente por elas!

Desejaria dizer ainda uma palavra da vida das religiosas. Para numerosos muçulmanos, a Igreja são elas: nos rostos destas têm eles a felicidade de descobrir a santa Igreja! Muitas vezes idosas, e inquietas com uma substituição só problemática —que parece conseguir-se aqui ou acolá —, elas encontram-se por vezes espalhadas, em todo o país, longe umas das outras, e entregues ao serviço das escolas ou de dispensários pobremente montados. Apesar disso, conservam o sorriso, por amor daqueles a quem dedicam a própria existência. Vós rodeai-las com a vossa afeição, e assim deve ser: elas precisam, com efeito, de um apoio pastoral regular e de boa qualidade. Em particular, devem poder participar, com a maior frequência possível e apesar, do isolamento, na Eucaristia. Celebrar assim a Missa, para duas ou três religiosas, cristãs únicas num lugar retirado, permite ao sacerdote medir melhor, neste mistério que renova o de Nazaré, a riqueza de esperança da Redenção! Dizei-lhes também que o Papa reza com elas e por elas!

Enfim, antes de nos separarmos, quero animar-vos ainda no desempenho da vossa tarefa. Várias vezes pronunciei a palavra esperança. Com efeito, por mais débeis que sejam as vossas comunidades em meios humanos, e por mais precário que possa parecer — por causa das circunstâncias — o seu futuro, elas têm contudo a força da liberdade espiritual que as anima, da dedicação dos seus membros e sobretudo do seu papel privilegiado de embaixadores de Cristo e da Igreja universal, junto dos povos muçulmanos no meio dos quais a Divina Providência os colocou.

Desejo, invocando o nome do Senhor, abençoar-vos, e, por meio de vós, todos os membros das vossas Igrejas!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO MALI EM VISITA


«AD LIMINA APOSTOLORUM»


Quinta-feira, 26 de Novembro de 1981



Caros Irmãos no Episcopado

A vossa visita dá-me hoje a alegria de vos dizer que tomo parte nas Vossas esperanças como também nas vossas solicitudes de pastores da Igreja no Mali.

Na verdade, os católicos no vosso país não são a maioria. Mas sei que a qualidade da sua vida cristã é muito positiva. Além disso souberam conquistar a simpatia de muitos, graças ao clima de amizade por eles criado e ao testemunho que dão do amor de Deus. Participam fraternalmente com todos os seus compatriotas, no desenvolvimento do país.

E pela vossa parte, reconhecestes com acerto a necessidade de prosseguir neste caminho, apesar de sérias dificuldades. Penso, em particular, nos esforços aceitos para manter as escolas, para sustentar os dispensários, para contribuir no melhoramento das condições de vida das populações mais deserdadas, no que diz respeito, por exemplo, aos meios de irrigação, e isto graças ajuda de organismos caritativos. Confio-vos o cuidado de dizer a todos, sacerdotes, religiosos ou leigos, que se dedicam generosamente a estas diversas tarefas, quanto o Papa aprecia o empenho corajoso e realista que os inspira assim como a solidariedade e a caridade.

Este espírito de serviço desinteressado traduz o dinamismo mesmo da fé e da oração. Não é o que as vossas comunidades testemunham, procurando compreender e viver melhor juntas o Evangelho, e procurando consolidar os laços entre todos os membros? E quando vós convidais os cristãos a entrar em diálogo com os muçulmanos — cujo sentido de Deus é grande! — como com os crentes de outros horizontes, procurais ajudá-los ainda a descobrir a razão mais profunda destes gestos concretos de amizade acima recordados: trata-se de aprender — no respeito da consciência dos outros — a prestar contas da esperança e do amor que a fé em Cristo faz vibrar neles. E se este tipo de relações amistosas é necessário no vosso país, é também precioso no quadro deste vasto diálogo entre cristãos e muçulmanos — , ou adeptos de outras religiões — que se delineia um pouco por toda a parte no mundo e que é preciso levar a bom termo. É necessário evidentemente que os cristãos tenham uma formação espiritual e doutrinal sólida, o que eu vos encorajo a continuar com todos os meios.

Mas faltaria a este diálogo mesmo uma dimensão importante se não se tivesse a possibilidade de ver a deligência daquele que, livremente, pede o baptismo. Queria evocar aqui o entusiasmo e a tenacidade dos catecúmenos. Preparando-se para o novo nascimento no Espírito Santo durante vários anos, eles mostram aos seus irmãos cristãos, como aos não cristãos, o preço que pretendem pagar, contando com a graça de Deus, para viver um estilo de vida verdadeiramente evangélico, tanta na própria família como no seio da sociedade, tanto na aldeia como na cidade. Também a eles, dizei-lhes quão perto estão do coração do Pai comum dos fiéis!

Nomeando-os, como deixar de saudar com alegria os seus catequistas? Quem dirá suficientemente tudo o que lhes deve a fé cristã na África? Com razão, esforçais-vos por associar intimamente o apostolado deles ao ministério dos sacerdotes e ao vosso. Não são eles os educadores permanentes da fé e da oração daqueles que lhes são confiados, e mesmo os guias espirituais das suas pequenas comunidades? Dedicais-vos igualmente a fazer-lhes adquirir toda a competência doutrinal e humana que requer o seu serviço qualificado. Mediante vós, como já fiz quando da minha viagem no vosso continente, desejo agradecer-lhes tudo o que fazem para Nosso Senhor.

Mas sei também que estais preocupados com o futuro, perante certa diminuição dos contingentes apostólicos dos sacerdotes e das religiosas. A idade faz-se sentir em diversos, e a recrutagem não é tão abundante como se desejaria. Peço convosco ao Senhor suscite operários para a sua messe. E isto, primeiro entre os vossos fiéis africanos, o que não vos impede, certamente, de convidar outras Igrejas e diversos Institutos a darem-vos ajuda cada vez mais generosa: como se vê nos Actos dos Apóstolos, as primeiras comunidades cristãs não hesitavam em enviar, para o serviço da missão, os melhores dos seus membros. Os novos colaboradores e colaboradoras — e desejo que sejam numerosos — que assim estimularão as vossas comunidades e poderão contribuir para despertar novas vocações oferecendo aos jovens o testemunho dos modos ricos e variados de viver o mesmo ideal sacerdotal ou religioso. E não duvido que eles próprios serão reconforta dos pelo bonito exemplo daqueles e daquelas que suportam desde há longo tempo, na vossa terra, "o peso do dia e do calor".

Diante dos Bispos da África aprofundo progressivamente este ou aquele aspecto da vida das suas comunidades cristãs. Por hoje quero deter-me aqui. O essencial é sustentar bem estes dois pólos da vida de toda a Igreja: a fé em Cristo, indefectível e comunicativa, e o amor, traduzido dia a dia em obras de justiça e de caridade, mesmo com meios muito pobres.

Quanto a vós, caros irmãos, estais certos de encontrar sempre em mim a compreensão de que tendes necessidade, e a ajuda que eventualmente eu possa oferecer-vos. Deus continue a dar-vos a sua força e a sua luz! Assista ele todos os vossos colaboradores, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, que abençoo convosco de todo o Coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO XXV ENCONTRO


DA UNIÃO DOS SUPERIORES-GERAIS


DE ORDENS E CONGREGAÇÕES RELIGIOSAS


Sábado, 28 de Novembro de 1981



Caríssimos Irmãos

É-me grato acolher-vos, hoje, Membros da União dos Superiores-Gerais, ao término dos vossos dias de estudo realizados em Grottaferrata para reflectir sobre o documento promulgado pelas Sagradas Congregações para os Bispos e para os Religiosos e os Institutos Seculares: Mutae Relationes.

Saúdo a todos com particular efusão de afecto; dirijo cordial pensamento ao vosso Presidente, Padre Pedro Arrupe, a quem todos juntos queremos exprimir fervorosos votos pela sua saúde. Agradeço ao Padre Vincent de Couesnongle as delicadas palavras que desejou agora dirigir-me e ao Padre Henrique Systermans a diligente e apreciada obra por ele realizada nestes dez anos, na qualidade de Secretário-Geral do vosso Sodalício.

1. Congratulo-me principalmente convosco pela escolha do tema do encontro: "Compreensão e aplicação do documento Mutae Relationes", luz do qual procurastes aprofundar a doutrina e as relações da vida religiosa com a Igreja universal e com a particular, descendo ao concreto mediante um exame de consciência da vida religiosa hoje, e a apresentação de algumas experiências entre Bispos e Religiosos.

Na linha de quanto foi estudado no vosso encontro de Maio passado: "O carisma da vida religiosa para a Igreja e para o mundo", certamente detivestes-vos sobre a identidade dos Religiosos, porque é como tais, isto é como consagrados, que eles são chamados a inserir-se na Igreja da qual são portadores de um carisma específico, concedido pelo Espírito Santo para que a Igreja mesma "não só esteja apta para toda a boa obra... mas também, enriquecida com os variados dons de seus filhos, se apresente ornada, como esposa perante o seu esposo" (Perfectae Caritatis PC 1).

Os Religiosos, que pedem aos Bispos para que sejam acolhidos como tais, isto é, pelo que são (cf. Parte I, cap. III de Mutae Relationes), deverão aprofundar por primeiros a sua identidade de consagrados e tornar manifesta e crível esta sua identidade mediante a vida e as obras, também quando querem estar mais junto das necessidades do mundo de hoje. O testemunho da vida consagrada e a fidelidade ao próprio carisma é a primeira forma de evangelização e também a mais eficaz, tanto para os Religiosos contemplativos como para os dedicados às obras de apostolado, sendo estas apelo e estímulo a vencer as três maiores tentações, as do prazer, do possuir e do poder, no exemplo dos Santos seus Fundadores. Uma autocrítica conscienciosa e objectiva certamente vos ajudou a reconhecer-se o vosso modo de viver é tal para que possa a Igreja "apresentar Cristo, cada vez com maior clareza, tanto aos fiéis como aos infiéis" (Lumen Gentium LG 46). Também nas várias obras de apostolado, às quais os Religiosos se dedicam, segundo as finalidades do Instituto, deverá transparecer o seu empenho no seguimento radical a Cristo: o não querer distinguir-se no modo de viver e de agir seria grave empobrecimento para a Igreja.

2. A fidelidade ao carisma da vida consagrada deve suscitar nos Religiosos uma profunda e sentida consciência eclesial e, portanto, um constante esforço por viverem com a Igreja, para a Igreja e na Igreja. Se a doutrina da vida religiosa faz parte da eclesiologia, ainda mais a vida religiosa vivida é expressão da vida eclesial. Nisto baseia-se a atitude de fé, de amor e de docilidade dos Religiosos para com os Pastores colocados para governar a Igreja, como também o dever de inserção na vida da Igreja particular enriquecendo-a, com os próprios dons específicos, trabalhando dentro dela e como parte sua e não simplesmente como forças complementares.

Daqui deriva também o empenho dos Bispos, dos sacerdotes e das outras componentes, a família diocesana, de considerarem os Religiosos como parte viva da Igreja particular, pela qual o Pastor tem uma própria responsabilidade. Da consciência eclesial surge também a comunhão que deve unir os sacerdotes aos co-irmãos religiosos, partícipes do único sacerdócio, e o dever de ajudar e assistir as almas consagradas especialmente mediante o sacramento da reconciliação e a direcção espiritual, e, para todos, o dever de favorecer e cultivar as vocações para a vida consagrada que são um sinal manifestativo da vitalidade, da Igreja particular.

3. No recente discurso aos membros da Plenária da Sagrada Congregação para os Religiosos e os Institutos Seculares recomendava aos Bispos que ministrassem aos seminaristas e aos sacerdotes "informação sempre mais profunda e mais completa" para um melhor conhecimento da vida religiosa como tal. O documento Mutae Relationes exorta, no número 30, a fazer com que "os Religiosos e as Religiosas se formem desde o noviciado numa plena consciência e solicitude para com a Igreja particular", sempre na fidelidade à sua específica vocação. O aprofundamento também doutrinal dos vínculos que unem os Religiosos à Igreja universal e à particular ajudará a harmonizarem a sua inserção nesta última, fazendo-os principalmente, sentir e viver a subordinação ao Pastor Supremo, também por força do voto de obediência, e ajudará a compreenderem a sua missão de santificador, aperfeiçoador e mestre no que se refere às pessoas consagradas.

Uma convicta consciência eclesial facilitará depois as opções que os religiosos não raramente são chamados a realizar, no quadro do plano pastoral, entre as várias formas de presença, também novas, no campo apostólico e nos sectores em que vão empenhar-se; presença que deverá sempre ser a consequência e o sinal da sua vida consagrada, renovada e aprofundada, até mesmo na necessária e oportuna adaptação (cf. Perfectae Caritatis PC 2-3), evitando assim o perigo do secularismo.

A União dos Superiores-Gerais, como também as Conferências dos Superiores Maiores podem dar um válido contributo para isto. Caberá enfim aos Superiores de cada um dos Institutos, dóceis às directrizes da Igreja, e em união com a Igreja particular, assegurar o prosseguimento das obras desejadas pelo Fundador, renovando-as e adaptando-as segundo as necessidades dos tempos, como também estudar e apressar novas presenças apostólicas (cf. Mutae Relationes, 40-49), tendo em conta as exigências da missão pastoral e as da vida religiosa.

Caros Responsáveis de Congregações, confio na vossa sabedoria e no vosso zelo, para que esta harmonização, entre formas variadas de apostolado conheça desenvolvimentos concretos. Neste, ponto há um problema que se tornou muito grave devido ao aumento das necessidades apostólicas na Igreja de hoje e à diminuição do pessoal. Por força dos factos abre-se, então, um vasto campo de colaboração entre os Bispos e os Institutos religiosos. E neste trabalho verdadeiramente concordado, é preciso que cada família religiosa mantenha distintamente o sinal da sua vida consagrada e da, sua fidelidade ao carisma particular do Instituto.

Finalmente, caros Irmãos, em todos os vossos esforços por permanecerdes fiéis aos vossos carismas, fiéis à vossa vocação para a santidade, fiéis ao vosso ministério de salvação, tendes Maria, a Mãe de Jesus, a inspirar-vos. Ela encoraja-vos com o seu próprio exemplo de fidelidade; sustenta-vos com as suas preces fiéis. O vosso amor, semelhante ao dela, deve ser expresso mediante a fidelidade — uma fidelidade a tudo o que Deus vos pede mediante a Igreja: Fiat voluntas tua! Para vós, fidelidade é a condição para serdes capazes de contribuir de modo efectivo para o Reino de Deus; é o requisito prévio para realmente participardes na evangelização. A Encarnação do Verbo esteve unida à fidelidade de Maria, e a vida de Jesus no mundo está hoje unida à vossa fidelidade. A vossa maior contribuição, sem dúvida, será o vosso amor — amor manifestado na constante fidelidade a Jesus e à sua Igreja.

Com a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS ITALIANOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DA BASILICATA E DA APÚLIA


EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Sábado, 28 de Novembro de 1981



Veneráveis Irmãos da Apúlia e da Basilicata!

É com grande afecto que vos dirijo hoje a minha saudação, recebendo-vos todos juntos em visita "ad limina Apostolorum"; e as minhas boas-vindas prolongam-se num fraterno colóquio sobre a condição das vossas Comunidades eclesiais, que, ao lado dalguns aspectos comuns, oferecem outros diversos entre as duas Regiões e de Diocese a Diocese.

1. As vossas populações, em dependência de particulares causas sócio-económicas, tiveram de enfrentar e lamentam ainda condições de pobreza e de precariedade, com os consequentes fenómenos do desemprego e da migração.

O desemprego, que se apresenta com perspectivas pouco serenas, está ligado com o momento de crise das grandes indústrias e das artesanais. Donde resulta um fluxo migratório, nalgumas áreas maciço e patológico, com as graves consequências do desenraizamento fora do próprio ambiente, do desconjuntamento das famílias e do depauperamento crescente das Comunidades locais. Não devem ignorar-se, além disso, os fenómenos do trabalho de menores no sector da pastorícia e nos grandes centros, como também do trabalho abaixo dos mínimos contratuais e procurado a preço de compensações, muitas vezes prolongadas no tempo.

Diante deste conjunto de problemas, ressaltam mais os dotes e os valores daqueles habitantes, que oferecem expressões de altíssima e consciente dignidade, e manifestam grande fortaleza de carácter e vontade tenaz, como se patentearam através dos séculos e de um modo particularíssimo no trágico terremoto do ano passado. Recorda-se, de facto, que a fúria do sismo de 23 de Novembro de 1980 se desencadeou do modo mais violento sobre as terras de Potenza e de Melfi, perturbando toda a vida civil e eclesial. São 36.000 as pessoas sem casa, 17.000 os habitantes transferidos para outras regiões da Itália, e 5.000 os que partiram para o estrangeiro. Mas tanta destruição material e urna provação tão perturbadora não enfraqueceram a coragem daquelas populações, mas pelo contrário puseram em evidência o propósito firme de reconstrução.

2. Querendo aludir brevemente aos aspectos morais e religiosos, deve dizer-se que a gente da Apúlia e da Basilicata tem profundas raízes não só religiosas mas cristãs, que são aprofundadas e defendidas diante do assédio de uma imoralidade invasora, difundida por vezes como cultura pelos Mass-Media e por uma mentalidade laica e secularizada.

A religiosidade, prevalentemente transmitida por tradição e por ambiente sociológico, tornou-se frágil, insuficiente, e fez-se mais difícil de aceitar e compreender. A crise nota-se particularmente na estrutura e no âmbito da família, como também dos jovens, assaltados por múltiplas e adversas ideologias. Certa expressão religiosa, que se manifesta em formas tradicionais de devoção e de costumes, evidencia o problema, aliás difundido, de a vida se separar da Fé, que se arrisca a ser vivida de modo instrumental.

3. O quadro acima esboçado, cujas linhas particulares são objecto da vossa quotidiana consideração, sugere algumas reflexões práticas e programáticas, que desejo, caros Irmãos no Episcopado, submeter à vossa atenção.

Referindo-me ao vosso grave encargo de responsáveis pela fé, desejaria antes de tudo convidar-vos a reforçar uma catequese que leve os crentes à compreensão do significado ao mesmo tempo transcendente e existencial das verdades religiosas, à consciência da fé e portanto à coerência na prática, isto é, a uma religião integrada, capaz de renovar a vida. É necessário fazer apelo a uma sabedoria perspicaz para reforçar, em todos os modos, a instrução religiosa, e produzir assim consciências verdadeiramente cristãs, iluminadas, equilibradas e sólidas, que saibam enfrentar a mentalidade corrente, a mentalidade do mundo, a que não podemos adaptar-nos: "não vos conformeis com este século" (Rm 12,2).

Tal obra de iluminação e formação deve reservar-se, com particular cuidado e intensidade, para a família e para os seus problemas. Também do exame dos vossos relatórios se evidencia a urgência de uma acção unitária e concorde de todas as Dioceses de ambas as Regiões, para a implantação e o desenvolvimento de uma pastoral mais extensa que tenha como objecto a família. Preparar os jovens para a família mediante uma séria direcção espiritual nas paróquias, nos grupos de Acção Católica e de presença cristã; ajudar as famílias a cumprir as suas obrigações; integrá-las, como igrejas domésticas, no ministério de evangelização e santificação; e principiar pelas famílias para a formação completa do homem e do cristão — são os conteúdos e as metas de uma pastoral orgânica familiar, que há-de praticar-se atentamente com acção conjunta, submetida a recíprocos confrontos, em todas as Igrejas particulares. Não se há-de desatender, a este propósito, a utilização de eficientes consultores católicos, nos quais reine a seriedade de posições doutrinais e científicas, como também a serenidade de comportamentos numa obra que requer credibilidade, profunda compreensão, generosa disponibilidade e participação. Em tal sector, mostra-se desejável a colaboração com as Autoridades civis, em vista de uma comum defesa dos fundamentos morais e espirituais da convivência civil, também para o melhoramento das condições sociais, do nível de ocupação e de todas as situações, que de perto dizem respeito às problemáticas da família.

Não é o caso de deter-me sobre a necessidade de uma pastoral orgânica acerca do Sacramento do Matrimónio, uma vez que tal urgência constituiu objecto de reflexão de toda a Conferência Episcopal Italiana, encontrando expressão num conhecido documento pastoral. Só desejo sublinhar a necessidade de formar os jovens na realidade humana e sobrenatural do amor, nas responsabilidades que derivam do matrimónio elevado à dignidade de Sacramento, numa palavra, no grande serviço que estão chamados a prestar à Igreja e à sociedade.

Sobre o estudo destes temas a respeito da família foram gastas muitas energias; é agora tempo de passar aos factos com um esforço unitário e conjunto, animado e sustentado pela fé. Se não se garantirem os valores sagrados da família, incluídos entre o património mais precioso das vossas gentes, se não se defenderem os seus invioláveis conteúdos de unidade e indissolubilidade, se não se restituir aos casais a alegria de um constante esforço de dedicação, infelizmente agredido por modelos muitas vezes capciosamente impostos, é impossível pensar na elevação espiritual e material das populações do Sul da Itália. O problema ficaria sem soluções, até mesmo piorado nas suas dificuldades. São estas preocupações que entrego à vossa solicitude pastoral.

4. Outro ponto, que desejaria submeter à vossa atenção, diz respeito à formação das consciências cristãs num espírito litúrgico, em vista de uma sã e prudente valorização da piedade popular.

Em várias partes, de facto, vão-se felizmente descobrindo de novo a realidade e a importância da religiosidade popular, cujo sentido deve ser interpretado de maneira não diminuidora. Existe, de facto, o perigo de unir, a essas expressões do espírito, um sentido apenas antropológico ou sociológico de subcultura, excluindo e ignorando o conteúdo genuinamente religioso, em consequência de esquemas prejudiciais. Pelo contrário, trata-se muitas vezes de momentos de plenitude religiosa em que o homem recupera uma identidade perdida ou despedaçada, reencontrando as próprias raízes. Seguindo certa moda desvalorizadora da religiosidade popular, há o risco de os bairros, as povoações e as aldeias se tornarem deserto sem história, sem cultura, sem religião, sem linguagem e sem identidade, com gravíssimas consequências.

Como disse na Homilia pronunciada no Santuário de Nossa Senhora de Zapopán, no México, a 30 de Janeiro de 1979, "esta piedade popular não é necessariamente sentimento vago, despojado de sólida base doutrinal... Quantas vezes é, pelo contrário, a verdadeira expressão da alma de um povo, quando tocada pela graça e forjada pelo encontro feliz entre a obra de evangelização e a cultura local" (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, 1979, p. 293). Na base da maior parte das expressões de religião popular, ao lado de elementos que devem eliminar-se, há outros que, se bem utilizados, ajudam a progredir no conhecimento do mistério de Cristo e da Sua mensagem (cf. Exort. Apost. Catechesi Tradendae CTR 54). É necessário portanto valorizar a piedade popular, e ao mesmo tempo purificá-la e elevá-la, numa palavra evangelizá-la, enriquecendo-a, quer dizer, cada vez mais, de conteúdos válidos, verdadeiramente cristãos.

A este propósito, mostra-se urgente o esforço concreto de uma pastoral litúrgica que leve o cristão ao conhecimento da fé, em ordem à participação pessoal no Mistério da salvação. Primeiramente, por meio do Sacrifício Eucarístico somos cada vez introduzidos no Mistério de Deus mesmo, que eleva e salva, e também em toda a profundidade da realidade humana. A Eucaristia é anúncio de morte e de ressurreição, e portanto de nova vida para o homem da presente geração; e o Mistério pascal exprime-se nela como início de um novo tempo e como expectativa final. Assim, o "Opus salutis" é sempre actual e a união de Cristo Redentor está continuamente presente e eficaz nos mistérios celebrados liturgicamente.

Vivendo a Liturgia, o homem não é abandonado ao seu esforço frequentemente vão, ao seu empenho frágil e descontínuo, mas é enxertado e mergulhado na grande corrente vital da condescendência de Deus e da ascensão humana, sempre per Christum, in Spiritu Sancto, ad Patrem.

5. Por último, desejo indicar outro sector importante para o vosso zelo apostólico: a assistência espiritual aos doentes.

Em tal campo intervieram diversas mutações sócio-culturais, com importância pastoral, que põem em evidência diversos modos de conceber a promoção da saúde e a luta contra a doença. Poderia, daí resultar uma tendência para a neutralidade no campo espiritual, que não pode sempre identificar-se com o devido respeito pela pessoa do doente, mas pelo contrário poderia levar a uma manipulação das consciências e à falta de respeito pela verdadeira liberdade de decisão. Diante de problemas tão vastos, é necessário formular um projecto unitário de pastoral da saúde, dispondo a inteira Comunidade cristã para tal tipo de apostolado.

Este requer preparação especial dos médicos, destes profissionais da saúde, de todo o pessoal paramédico, dos fiéis diante do tempo da doença e da hospitalização, e preparação específica para o acolhimento e para a audição dos doentes. Este programa entra nos deveres da assistência ao doente, como a administração dos Sacramentos, sendo ele a sua propedêutica e dispondo o ambiente a ela propício.

De modo especialíssimo deverá atender-se ao serviço dos Capelães. A acção do distribuidor dos Mistérios de Deus é por vezes exercida em condições de incómodo, e em circunstâncias não bem aceitas. Os Capelães exerçam um ministério discreto e inteligente, prudente e exigente; seja a pastoral deles iluminadora, que disponha para a confiança, para o sereno arrependimento e para a esperança. No âmbito desta pastoral de conjunto, apresenta-se, como alvo imediato de actividade, a criação de laços estáveis e activos entre a pastoral deste específico sector e a da inteira Igreja local.

Caríssimos Irmãos

O campo que se abre às vossas quotidianas perspectivas é imenso: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos" (Mt 9,37). É portanto à confiança serena e corajosa que eu convido, para dirigirdes os corações, porque "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8,31). É ainda Ele que nos repete: "Digo-vos isto para terdes paz em Mim... Tende confiança, Eu venci o mundo" (Jn 16,33).

Com estes sentimentos de afecto e de viva participação nas vossas ansiedades e fadigas, como auspício de íntimas alegrias do espírito, concedo-vos, e às vossas Comunidades eclesiais — com particular referência aos Sacerdotes e a todos os Consagrados à vinda do Reino de Cristo — a minha Bênção Apostólica.




Discursos João Paulo II 1981 - Segunda-feira, 23 de Novembro de 1981