AUDIÊNCIAS 1982 - AUDIÊNCIA GERAL

8. Através de tal contexto "cósmico" da afirmação contida na Carta aos Romanos — em certo sentido, através do "corpo de todas as criaturas" — procuramos compreender até ao fundo a interpretação paulina da ressurreição. Se esta imagem do corpo do homem histórico, tão profundamente realista e adequada à experiência universal dos homens, esconde em si, segundo Paulo, não só a "escravidão da corrupção", mas também a esperança, semelhante àquela que acompanha "as dores do parto", isto acontece porque o Apóstolo encerra nesta imagem também a presença do mistério da redenção. A consciência daquele mistério desprende-se exactamente de todas as experiências do homem que se podem definir como "escravidão da criação"; e desprender-se, porque a redenção opera na alma do homem mediante os dons do Espírito: "... Também nós próprios, que possuímos as premissas do Espírito, gememos igualmente em nós mesmos, aguardando a filiação adoptiva, a libertação do nosso corpo" (Rm 8,23). A redenção é o caminho para a ressurreição. A ressurreição constitui o termo definitivo da redenção do corpo.

Retomaremos a análise do texto paulino da primeira Carta aos Coríntios nas nossas seguintes reflexões.

Nota

1) Os Coríntios eram provavelmente afligidos por correntes de pensamento derivadas do dualismo platónico e do neopitagorismo de inspiração religiosa, do estoicismo e do epicurismo; todas as filosofias gregas, aliás, negavam a ressurreição do corpo. Paulo tinha já experimentado em Atenas a reacção dos Gregos contra a doutrina da ressurreição, durante o seu discurso no Areópago (cf. Act Ac 17,32).

Após a alocução, o Santo Padre recitou mais uma parte da oração pela Polónia:


Oração à Rainha da Polónia


"Está connosco como nós estamos contigo".

Recebi uma carta da Polónia, escrita antes do Natal; uma carta de pessoas detidas por ter sido decretado o "estado de guerra".

Li esta carta com profunda atenção e comoção, porque era tão cheia de conteúdo humano, cristão, polaco.

E no fim — quase um convite a participar na comum vigília natalícia — liam-se as palavras "está connosco, como nós estamos contigo".

Recebi este convite, estas palavras com todo o coração e, ao mesmo tempo, dirijo-as a Ti, Senhora de Jasna Góra e Mãe da Nação polaca.

De que modo poderia responder a esta carta e a tantas outras não escritas?

Está connosco!

Está com eles! Com as pessoas detidas condenadas ao isolamento forçado, sem processo. Com todos aqueles que sofrem por terem sido presos os seus entes queridos.

Ó Mãe! Bem recordas que também Tu foste "prisioneira": houve um tempo em que ficou prisioneira a Tua imagem de Jasna Góra durante o itinerário da peregrinação em toda a Polónia, mas depois foi posta em liberdade.

Mãe, suplico-Te que voltem à liberdade todos aqueles a quem foi injustamente tirada.

Abençoo de todo o coração também o grupo dos meus Compatriotas aqui presentes.

Seja louvado Jesus Cristo.

Saudações

Queridos irmãos e irmãs

A todos saúdo com afecto e agradeço esta visita, com a qual desejastes testemunhar ao Vigário de Cristo como, mesmo no meio da vossa vida de trabalho, vos sentis mais familiarmente cristãos, enquanto filhos fiéis da Igreja.

E recebo-vos com agrado porque sei quanta dedicação depositais na vossa actividade profissional, que já de per si tende a fomentar essa união entre os homens e os povos.

Estais ao serviço das comunicações, as quais, se humanamente significam em geral promoção e extensão dos valores culturais, para um cristão alcançam o vértice na comunhão da fé e do amor cristão. A vossa experiência diz-vos quão nobre é o vosso trabalho, realizado nesta perspectiva de comunhão cristã. Além das virtudes, que vos podem dar prestígio social, como a probidade e a delicadeza de trato pessoal, pede-vos também em todos os momentos disponibilidade e atitude espiritual, cuja expressão mais genuína é a consciência e o desejo de servir os irmãos. Com a ajuda da graça divina seja a vocação cristã a característica da vossa vida pessoal, familiar e profissional.

Com a minha Bênção Apostólica para vós, para os vossos colegas e para aquele que vos são queridos.

Aos peregrinos italianos

É-me grato dirigir cordial saudação aos muitos grupos de língua italiana aqui presentes.

Recordo, em primeiro lugar, os participantes no "Curso Inaciano" para Directores e Promotores de Exercícios, para Formadores e Directores Espirituais; e também todos os participantes na "Semana de Espiritualidade Salesiana". Em consonância com a Liturgia do domingo passado, o Senhor Jesus seja centro de uma vida conforme às expectativas de Deus. Imploremos do Pai a graça de viver "no Nome do seu dilecto Filho", isto é, sob o seu impulso, na sua luz, para produzir "frutos generosos de boas obras".

Dirijo também este convite à união de sentimentos com Cristo Senhor (cf. Fil Ph 2,5), aos Fiéis das Paróquias romanas de São Marcos Evangelista em Agro Laurentino, e do Santíssimo Nome de Maria. Os primeiros comemoram o 30° aniversário da sua paróquia; os outros querem concluir, juntamente com o Vigário de Cristo, os dias de reflexão organizados pelos Padres Marianistas, a quem está confiado o seu cuidado espiritual. Queridos fiéis, na alegria de um autêntico testemunho cristão, crescei como comunidade de fé e de amor recíproco, para o bem da inteira família paroquial.

Dirijo agora um pensamento aos jovens e de modo particular ao Grupo do "Movimento GEN 2" dos Focolares, reunido em Rocca di Papa para um Congresso. Com eles saúdo os dois mil estudantes aqui presentes, que frequentam escolas de todas as ordens e graus. Queridos jovens, sede orgulhosos de pertencer a Cristo, o que comporta também uma grave responsabilidade: pessoal, para a vossa vida e o vosso futuro; social, para a justiça, para a paz, e sobretudo para a defesa dos mais elevados valores morais e para o autêntico bem comum. Recomendo-vos à intercessão de Santa Ângela Mérici, cuja festa hoje celebramos e que na Itália do Renascimento tanto se dedicou à juventude, com atitude de "caridade sapiente e corajosa" (Liturgia).

E agora uma cordialíssima saudação ao Grupo Desportivo "GIS", que se honra de ter uma bela tradição no ciclismo profissional, com um complexo de mestrança espalhada por toda a Itália. Queridos jovens desportistas, mediante o são exercício desportivo, cultivai a integração das forças físicas com as espirituais, porque é o espírito que dá luz e "sprint" à vida, e vos faz ser bravos desportistas, bravos cidadãos e bravos cristãos.

Por fim, saúdo afectuosamente os Doentes, e, como sempre, convido-os à confiança amorosa no Senhor, ao mesmo tempo que lhes asseguro a minha constante recordação na oração.

Aos jovens Casais apresento os votos mais férvidos de serena prosperidade no Senhor, e a todos concedo a minha Bênção.

Aos peregrinos de língua francesa

É com alegria que saúdo todos os peregrinos de língua francesa e, de modo particular, um grupo de seminaristas e de leigos provenientes da Bélgica. A todos vós, às vossas famílias e sobretudo aos doentes e aos deficientes concedo de muito bom grado a minha Bênção Apostólica.

Aos peregrinos de língua espanhola

Quero saudar de modo especial o grupo de jovens profissionais, provenientes dos países do Pacto Andino. Estais concluindo um curso que vos prepara para serdes funcionários de Organismos Internacionais e Regionais para o Desenvolvimento. Na tarefa que vos espera, procurai entregar-vos com generosidade cristã ao serviço integral da pessoa humana.

Saúdo também o novo grupo de estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Chile. Ao agradecer a vossa visita, exorto-vos a dedicar-vos com responsabilidade à vossa formação e preparação intelectual, para que, no dia de amanhã, possais consagrar-vos inteiramente ao bem dos vossos concidadãos.



                                                                           Fevereiro de 1982

PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 3 de Fevereiro de 1982




Somos portadores da imagem de Cristo ressuscitado

1. Das palavras de Cristo sobre a futura ressurreição dos mortos, referidas por todos os três Evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), passámos para a antropologia paulina da ressurreição. Analisámos a primeira Carta aos Coríntios no capítulo 15, versículos 42-49.

Na ressurreição, o corpo humano manifesta-se — segundo as palavras do Apóstolo — "incorruptível, glorioso, cheio de força e espiritual". A ressurreição não é, portanto, só uma manifestação da vida que vence a morte — uma espécie de regresso final à árvore da Vida, da qual o homem se afastou no momento do pecado original — mas é também revelação dos últimos destinos do homem em toda a plenitude da sua natureza psicossomática e da sua subjectividade pessoal. Paulo de Tarso — que, seguindo as pegadas dos outros Apóstolos, experimentou no encontro com Cristo ressuscitado o estado do Seu corpo glorioso — baseando-se nesta experiência, anuncia na Carta aos Romanos "a redenção do corpo" (Rm 8,23) e na Carta aos Coríntios (1Co 15,42-49) o consumar-se desta redenção na futura ressurreição.

2. O método literário, aplicado aqui por Paulo, corresponde perfeitamente ao seu estilo. Este serve-se de antíteses, que ao mesmo tempo aproximam aquilo que contrapõem e desse modo são úteis para nos fazerem compreender o pensamento paulino acerca da ressurreição: seja na sua dimensão "cósmica", seja no que diz respeito à característica da mesma estrutura interna do homem, "terrestre " e "celestial". O Apóstolo, de facto, ao contrapor Adão e Cristo (ressuscitado) — ou seja, o primeiro Adão ao último Adão — mostra, em certo sentido, os dois pólos, entre os quais, no mistério da criação e da redenção, foi situado o homem no cosmos; poder-se-ia também dizer que o homem foi "colocado em tensão" entre estes dois pólos na perspectiva dos eternos destinos, relativos, do princípio até ao fim, à sua mesma natureza humana. Quando Paulo escreve "O primeiro homem, tirado da terra, é terreno, o segundo veio do céu" (1Co 15,47), tem no espírito não só Adão-homem mas também Cristo como homem. Entre estes dois pólos — entre o primeiro e o último Adão — desenvolve-se o processo que ele exprime nas seguintes palavras: "Assim como reproduzimos em nós a imagem do terreno, procuremos reproduzir também a imagem do celestial" (1Co 15,49).

3. Este "homem celestial" — o homem da ressurreição, cujo protótipo é Cristo ressuscitado — não é tanto antítese e negação do "homem de terra" (cujo protótipo é o "primeiro Adão"), mas sobretudo é a sua consumação e a sua confirmação. É a consumação e a confirmação do que corresponde à constituição psicossomática da humanidade, no âmbito dos destinos eternos, isto é no pensamento e no plano d'Aquele que desde o principio criou o homem à Sua imagem e semelhança. A humanidade do "primeiro Adão", "homem, da terra", leva em si, diria, uma particular potencialidade (que é capacidade e prontidão) para acolher tudo o que se tomou o "segundo Adão", o Homem celestial, ou seja Cristo: o que Ele se tornou na sua ressurreição. Aquela humanidade de que são participantes todos os homens, filhos do primeiro Adão e, que, juntamente com a herança do pecado — sendo carnal — ao mesmo tempo é "corruptível", e leva em si a potencialidade da "incorruptibilidade".

Aquela humanidade, que em toda a sua constituição psicossomática se manifesta "ignóbil", leva em si o interior desejo da glória, isto é a tendência e a capacidade para se tornar "gloriosa", à imagem de Cristo ressuscitado. Por fim, a mesma humanidade, que o Apóstolo — conformemente à experiência de todos os homens — diz que é "débil" e tem "corpo animal", leva em si a aspiração a tornar-se "cheia de força" e "espiritual".

4. Falamos aqui da natureza humana na sua integridade, isto é da humanidade na sua constituição psicossomática. Paulo, pelo contrário, fala do "corpo". Todavia podemos admitir, com base no contexto imediato e no remoto, que não se trata, para ele, só do corpo, mas do homem inteiro na sua corporeidade, portanto também da sua complexidade ontológica. De facto, não há qualquer dúvida de que, se precisamente em todo o mundo visível (cosmos), aquele único corpo que é o corpo humano, leva em si a "potencialidade da ressurreição", isto é a aspiração e a capacidade de se tornar definitivamente "incorruptível, glorioso, cheio de força e espiritual", isto acontece porque, persistindo desde o princípio na unidade psicossomática do ser pessoal, ele pode colher e reproduzir,nesta "terrena" imagem e semelhança de Deus, também a imagem "celeste" do último Adão, Cristo. A antropologia paulina da ressurreição é cósmica e universal ao mesmo tempo: cada homem leva em si a imagem de Adão e cada um é também chamado a levar em si a imagem de Cristo, a imagem do Ressurgido. Esta imagem é a realidade do "outro mundo", a realidade escatológica (São Paulo escreve: "levaremos"); mas, entretanto, ela é já de certo modo uma realidade deste mundo, dado que foi revelada nele mediante a ressurreição de Cristo. É uma realidade enxertada no homem "deste mundo", realidade que nele se está desenvolvendo até à consumação final.

5. Todas as antíteses que se seguem no texto de Paulo ajudam à construir um válido esboço da antropologia da ressurreição. Este esboço é ao mesmo tempo mais pormenorizado do que o resultante dó texto dos Evangelhos sinópticos (Mt 22,30 Mc 12,25 Lc 20,34-35), mas por outro lado é, em certo sentido, mais unilateral. As palavras de Cristo, referidas pelos Sinópticos, abrem diante de nós a perspectiva da perfeição escatológica do corpo, submetido plenamente à profundidade divinizante da visão de Deus "face a face", em que encontrarão a sua inexaurível fonte tanto a perene "virgindade" (unida ao significado esponsal do corpo) quanto a perene "intersubjectividade" de todos os homens, que se tornarão (como varões e mulheres) participantes da ressurreição. O esboço paulino da perfeição escatológica do corpo glorificado parece ficar antes no âmbito da mesma estrutura interior do homem-pessoa. A sua interpretação da futura ressurreição pareceria ligar-se ao "dualismo" corpo-espírito que gera a fonte do interior "sistema de forças" no homem.

6.. Este "sistema de forças" sofrerá na ressurreição mudança radical. As palavras de Paulo, que o sugerem de modo explícito, não podem todavia entender-se e interpretar-se no espírito da antropologia dualista (1), como procuraremos mostrar no seguimento da nossa análise. De faceto, convir-nos-á dedicar ainda uma reflexão à antropologia da ressurreição, vista à luz da primeira Carta aos Coríntios.

Nota

1) "Paul ne tient absolument pas compte de la dichotomie grecque 'âme et corps... L'Apôtre recourt à une sorte de trichotomie ou la totalité de l'homme est corps, âme et esprit... Tous ces termes sont mouvants et la division elle-même n'a pas de frontière fixe. Il y insistance sur le fait que le corps et l'âme sont capables d'être 'pneumatiques', spirituels" (B. Rigaux, Dieu l'a ressuscité. Exégèse et théologie biblique, Gembloux 1973, Duculot, PP 406-408).



Após a alocução, o Santo Padre recitou mais uma parte da oração pela Polónia:


Oração à Rainha da Polónia


Ó Maria, Rainha da Polónia, estou contigo, recordo e vigio.

Recordo mais uma vez o tempo em que Tu foste "prisioneira", quando estavas a fazer a Tua visita peregrinante... e mesmo assim a visita continuou.

Não chegou à paróquia, a Tua imagem, mas Tu vieste — sem imagem na moldura vazia — e graças a esta moldura vazia, todos viveram igualmente a Tua presença: mais dolorosamente, talvez mais profundamente.

Acreditavam que não podias estar ausente no dia em que havias de chegar.

Acreditavam que não se pode impe dir-Te o caminho!

A esta fé me refiro neste momento, Senhora de Jasna Góra, quando tanta gente na minha Pátria sente de novo dolorosamente que o caminho à sua frente foi impedido: o caminho da liberdade na verdade, o caminho dos comuns direitos do homem, o caminho do respeito das consciências, o caminho da vida e do trabalho à medida da dignidade humana e do nobre património da nação.

Mãe! Tu chegas a todos! e ajudas, ensinas e convences que não se pode impedir este caminho!

Tu mostras que ele existe! Ensinas como se deve andar por ele! ... estou, contigo, recordo e vigio.

Vós, Polacos, que estais presentes nesta audiência, levai convosco, para onde quer que a vida vos conduza, esta invocação a Nossa Senhora de Jasna Góra:

"Rainha da Polónia, estou contigo, recordo e vigio".



Saudações

Aos peregrinos de língua francesa

É-me grato, durante este encontro, poder dirigir uma saudação afectuosa a todas as pessoas de língua francesa, e, de modo particular, a um grupo de alunos arquitectos, vindos a Roma para admirar as obras dos seus antepassados. A todos vós desejo uma boa permanência e abençoo de coração, sem esquecer aqueles que vos são queridos, especialmente as crianças, os doentes e os anciãos.

Aos peregrinos de língua inglesa

Apresento as minhas especiais boas-vindas aos Oficiais e aos homens da Marinha dos Estados Unidos, tripulantes do USS Eisenhower. Envio por meio de vós as minhas saudações às vossas famílias e àqueles que vos são queridos e se encontram nas suas casas; rezo para que a paz de Deus encha os vossos corações. Obrigado pela vossa visita.

Aos peregrinos de língua espanhola

Quero saudar agora de modo particular o numeroso grupo de peregrinos do Paraguai. Sei que viestes a Roma movidos por uma profunda devoção ao Beato Roque González de Santa Cruz e Companheiros mártires. Que ele vos sirva de exemplo na vossa vida. Hoje, festa de São Brás, padroeiro da vossa querida Nação, recomendo-vos e os vossos compatriotas à sua especial protecção e abençoo-vos com afecto.

Aos peregrinos italianos

Desejo dirigir cordial saudação à peregrinação, organizada pelo Centro de Estudos "II Subbio" de Bari, que reuniu em Roma numerosos fiéis da Região da Púglia e da Região da Basilicata, os Presidentes da Câmara Municipal de doze Centros, Delegações das duas Regiões e das Administrações provinciais de Bari e de Matera. Caríssimos irmãos e irmãs, exprimo-vos o meu sincero apreço por este encontro, em que quisestes manifestar a vossa adesão a Cristo e à Igreja. Seja sempre a fé a animar e a orientar toda a vossa vida.

A minha Bênção vos acompanhe e acompanhe aqueles que vos são queridos.

Uma cordial saudação também ao Conselho nacional e a todos os membros da "Associação Nacional dos Trabalhadores Anciãos de Empresas", aos quais desejo exprimir a minha gratidão e a de toda a Comunidade eclesial pelo exemplo de concreta e efectiva laboriosidade, que deram nos longos anos da sua actividade profissional.

A vós, Jovens — entre os quais se encontram muitos alunos de diversas Escolas e um numeroso grupo do "Movimento GEN 2" dos Focolarinos — exprimo o meu constante afecto, e a firme confiança dc que sabereis dar generoso contributo para a edificação de um mundo mais justo e mais pacífico.

A vós, irmãos e irmãs doentes, presentes nesta audiência, dirijo uma afectuosa saudação. Quero assegurar-vos da oração solidária de toda a Igreja pelos vossos sofrimentos, que Cristo associa aos seus, tornando-os fecundos de bem para todos os homens.

Uma sincera saudação e um férvido augúrio para vós, jovens Casais, que nestes dias consagrastes perante Deus o vosso amor no sacramento do Matrimónio. A vossa vida conjugal seja sempre serena e feliz, animada pela graça do Senhor e corroborada pela fidelidade e dedicação recíprocas.

A todos a minha saudação e a minha Bênção.





PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1982




A espiritualização do corpo fonte da sua incorruptibilidade

1. Das palavras de Cristo sobre a futura ressurreição dos corpos, referidas por todos os três Evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), passamos nas nossas reflexões àquilo que sobre o tema escreve Paulo na Primeira Carta aos Coríntios (cap. 15). A nossa análise centra-se sobretudo no que se poderia denominar "antropologia da ressurreição'' segundo São Paulo. O autor da Carta contrapõe o estado do homem "de terra" (isto é histórico) ao estado do homem ressuscitado, caracterizando, de modo lapidar e penetrante ao mesmo tempo, o interior "sistema de forças" próprio de cada um destes estados.

2. Que este sistema interior de forças deva passar, na ressurreição, por radical mudança, parece indicado, primeiro que tudo, pela contraposição entre corpo "fraco" e corpo "cheio de força". Paulo escreve: "Semeia-se na corrupção e ressuscita-se na incorrupção. Semeia-se na ignominia e ressuscita-se na glória. Semeia-se na fraqueza, ressuscita-se na força" (1Co 15,147). "Fraco" é portanto o corpo que — usando a linguagem metafísica — surge do solo temporal da humanidade. A metáfora paulina corresponde igualmente à terminologia científica, que define o princípio do homem enquanto corpo com o mesmo termo (semen). Se, aos olhos do Apóstolo, o corpo humano, que surge da semente terrestre, resulta "fraco", isto significa não só que ele é "corruptível", submetido à morte e a tudo o que a ela conduz, mas também que é "corpo animal" (1). Todavia o corpo "cheio de força", que o homem herdará do último Adão — Cristo — enquanto participante da futura ressurreição, será um corpo "espiritual". Será incorruptível, já não ameaçado pela morte. Assim, portanto, a antinomia "fraco — cheio de força" refere-se explicitamente não tanto ao corpo considerado à parte, quanto a toda a constituição do homem considerado na sua corporeidade. Só no quadro de tal constituição pode o corpo tornar-se "espiritual"; e tal espiritualização do corpo será a fonte da sua força e incorruptibilidade (ou imortalidade).

3. Este tema tem as suas origens já nos primeiros capítulos do Livro do Génesis. Pode-se dizer que São Paulo vê a realidade da futura ressurreição como certa restitutio in integrum, isto é como a reintegração e ao mesmo tempo a consecução da plenitude da humanidade. Não é só restituição, porque em tal caso a ressurreição seria, em certo sentido, volta àquele estado, em que participava a alma antes do pecado, fora do conhecimento do bem e do mal (cf. Gén Gn 1-2). Mas essa volta não corresponde à lógica interna de toda a economia salvadora, no mais profundo significado do mistério da redenção. A Restitutio in integrum, ligada com a ressurreição e a realidade do "outro mundo", pode ser só introdução a uma nova plenitude. Esta será uma plenitude que pressupõe toda a história do mundo, formada pelo drama da árvore do conhecimento do bem e do mal (cf. Gén Gn 3) e ao mesmo tempo penetrada pelo mistério da redenção.

4. Segundo as palavras da primeira Carta aos Coríntios, o homem em que a concupiscência prevalece sobre a espiritualidade — isto é "o corpo animal" (1Co 15,44) — é condenado à morte; deve porém ressurgir um "corpo espiritual", o homem em que o espírito obterá uma justa supremacia sobre o corpo, a espiritualidade sobre a sensualidade. É fácil entender que Paulo tem aqui no espírito a sensualidade, como soma dos factores que formam a limitação da espiritualidade humana, isto é, como força que "liga" o espírito (não necessariamente no sentido platónico) mediante a restrição da sua própria faculdade de conhecer (ver) a verdade e também da faculdade de querer livremente e de amar na verdade. Não pode, contudo, tratar-se aqui daquela função fundamental dos sentidos, que serve para libertar a espiritualidade, isto é, a simples faculdade de conhecer e querer, própria do compositum psicossomático do sujeito humano. Como se fala da ressurreição do corpo, isto é, do homem na sua autêntica corporeidade, por consequência o "corpo espiritual" deveria significar exactamente a perfeita sensibilidade de sentidos, a sua perfeita harmonização com a actividade do espírito humano na verdade e na liberdade. O "corpo animal", que é a antítese terrena do "corpo espiritual", indica, pelo contrário, a sensualidade como força que muitas vezes prejudica o homem, enquanto ele, vivendo "no conhecimento do bem e do mal", é solicitado e quase impelido para o mal.

5. Não se pode esquecer que está aqui em questão não tanto o dualismo antropológico, quanto uma antinomia de fundo. Dela faz parte não só o corpo (como hyle aristotélica) mas, também a alma: ou seja, o homem como "ser vivo" (cf. Gén Gn 2,7). Os seus constitutivos, porém, são: — por um lado, todo o homem, o conjunto da sua subjectividade psicossomática, enquanto permanece sob o influxo do espírito vivificante de Cristo, — por outro lado, o mesmo homem, enquanto resiste e se contrapõe a este Espírito. No segundo caso, o homem é "corpo animal" (e as suas obras são "obras da carne"). Se, pelo contrário, permanece sob o influxo do Espírito Santo, o homem é "espiritual" (e produz o "fruto do Espírito": Ga 5,22).

6. Por conseguinte, pode-se dizer que, não só em 1 Cor 15, encontramos a antropologia da ressurreição, mas que toda a antropologia (e a ética) de São Paulo são penetradas pelo mistério da ressurreição, mediante o qual recebemos definitivamente o Espírito Santo. O capítulo 15 da primeira Carta aos Coríntios constitui a interpretação paulina do "outro mundo" e do estado do homem naquele mundo, no qual cada um, juntamente com a ressurreição do corpo, participará plenamente no dom do Espírito vivificante, isto é no fruto da ressurreição de Cristo.

7. Concluindo a análise da "antropologia da ressurreição" segundo a primeira Carta de Paulo aos Coríntios, convém-nos uma vez mais dirigir o espírito para aquelas palavras de Cristo sobre a ressurreição e sobre o "outro mundo", que são referidas pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas. Recordemo-nos que, respondendo aos Saduceus, Cristo juntou a fé na ressurreição com toda a revelação do Deus de Abraão, de Isaac, de Jacob e de Moisés, o qual "não é Deus dos mortos, mas dos vivos" (Mt 22,32). E ao mesmo tempo, recusando a dificuldade apresentada pelos interlocutores, pronunciou estas significativas palavras: "Quando ressuscitarem dentre os mortos... nem casarão nem se darão em casamento" (Mc 12,25). Precisamente àquelas palavras — no seu imediato contexto — dedicámos as nossas precedentes considerações, passando depois à análise da primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Co 15).

Estas reflexões têm significado fundamental para toda a teologia do corpo: para compreender tanto o matrimónio como o celibato "para o reino dos céus". A este último assunto serão dedicadas as nossas próximas análises.



Nota

1) O original grego usa aqui o termo psychikón. Em São Paulo ele aparece só na primeira Carta aos Coríntios (2, 14; 15, 44; 15, 46) e não noutra passagem, provavelmente por causa das tendências pré-gnósticas dos Coríntios, e tem um significado pejorativo; no conteúdo, corresponde ao termo "carnale" (cf. 2Co 1,12 2Co 10,4).

Todavia, nas outras cartas paulinas a "psyche" e os seus derivados significam a existência terrena do homem nas suas manifestações, o modo de viver do indivíduo e até a própria pessoa humana em sentido positivo (p. ex., para indicar o ideal de vida de comunidade eclesial: miâ-i psychè-i — "num só espírito": Ph 1,27 sympsychol = "com união dos vossos espíritos": Ph 2,2 isópsychon = "de ânimo igual", Ph 2,20 Ph 2,



Após a alocução, o Santo Padre recitou mais uma parte da oração pela Polónia:


Oração à Rainha da Polónia


No decurso dos séculos estás presente em Jasna Góra, Mãe de Cristo, dada a nós como nossa Mãe.

Quantas gerações por lá passaram para ver o Teu rosto materno, rosto cheio de trepidação e de amor.

Mediante a expressão deste rosto materno aprendemos o Evangelho..

Aprendemos o significado das Palavras de Paulo na carta aos Gálatas:

"Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher... para que recebêssemos a adopção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito que clama: 'Abbá! Pai'. Portanto, já não és servo, mas filho" (Ga 4,4-7).

Tantas gerações aprenderam esta verdade olhando para o Teu rosto materno: já não és servo! não te é permitido ser escravo; dado que és Filho!

Agradeço-Te, Senhora de Jasna Góra, por todos aqueles que da Tua imagem aprenderam — e aprendem sempre o grande mistério da Filiação Divina;

por todos aqueles que aprenderam — e aprendem sempre — tal dignidade do homem, a qual não pode nunca nem em lugar algum ser-lhe tirada.

Mantenhamo-nos fiéis ao rosto materno!



Saudações

Aos peregrinos de língua francesa

Saúdo todos os peregrinos de língua francesa. Alegra-me de modo especial receber os alunos e os animadores da Escola da Fé de Friburgo. Vós, queridos amigos, propondes-vos nunca separar a oração e a vida fraternal do conhecimento profundo do Evangelho, e é assim precisamente que nos tornamos discípulos de Cristo, capazes de dar testemunho da sua Boa Nova. Desejo que após o vosso tirocínio, ajudeis eficazmente as pessoas que vos rodeiam e as vossas comunidades mediante uma catequese coerente com a vida.

As férias escolares na França reuniram numerosos alunos, como os do Liceu Saint-Michel de Paris e de várias escolas, e também seminaristas. Abri os vossos corações, queridos jovens, a esta rica história romana e ao testemunho dos cristãos neste lugar, para dar o vosso contributo a uma sociedade mais fraternal e a comunidades cristãs mais fervorosas.

Agradeço a todos a vossa visita. Recomendo à vossa oração a minha iminente viagem a quatro países da África, para ali confirmar as jovens Igrejas.

E abençoo-vos de todo o coração, na véspera da festa de Nossa Senhora de Lourdes.

Aos peregrinos de língua inglesa

Dou especiais boas-vindas ao grupo de peregrinos de Taiwan: aos queridos sacerdotes, irmãs e leigos que vieram de tão longe. Rezo para que encontreis alegria e força para a vossa vida cristã, nos túmulos dos santos Apóstolos Pedro e Paulo. E faço votos por que a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós, com as vossas famílias e com todos aqueles que, em Taiwan, vos são queridos.

Aos peregrinos de língua espanhola

Desejo agora saudar de modo particular um grupo de chilenos que vão como peregrinos à Terra Santa. Oxalá esta vossa passagem por Roma, e pela terra santificada por Jesus e pelos seus discípulos, vos estimule a serdes testemunhas fiéis do Evangelho e a viverdes intensamente a caridade na Igreja de Deus.

Saúdo também com afecto um grupo de desportistas chilenos. O encontro convosco faz-me também ter presentes a vossa terra, as vossas famílias e toda a juventude dessa querida Nação. Desejo que a visita ao túmulo de São Pedro vos confirme na fé e vos ajude a dar testemunho dela na vossa vida.

Aos peregrinos italianos

Desejo agora estender a minha saudação aos grupos provenientes das várias partes da Itália. De entre estes desejo de modo particular mencionar as Religiosas Passionistas de São Paulo da Cruz, reunidas em Roma para o seu Capítulo Geral, c chamadas a eleger o novo Conselho e a rever a Constituição. Encorajo, queridas-irmãs, a actuação generosa do vosso programa: "Viver a paixão de Cristo na paixão do homem". De facto, nele está sintetizado e definido o carisma da vossa vida consagrada. Abençoo-vos de coração e faço a minha Bênção extensiva às vossas Irmãs e às pessoas que vos são queridas.

Aos peregrinos croatas

Saúdo cordialmente os superiores, os professores e os alunos do seminário de Rijeka. Caríssimos, o futuro da fé nas vossas Igrejas locais depende da vossa actual preparação espiritual e teológico-pastoral. Por conseguinte, rezai, estudai e maturai nas virtudes sacerdotais. A minha oração e a Bênção Apostólica vos acompanhem neste caminho.



PAPA JOÃO PAULO

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 1982




A Igreja na África não pode cessar de ser missionária

1. "Memento homo quia pulvis es, et in pulverem reverteris".
"Paenitemini, et credite Èvangelio".

Lembra-te homem que és pó e em pó te hás-de tornar.

AUDIÊNCIAS 1982 - AUDIÊNCIA GERAL