AUDIÊNCIAS 1982

1 Na primeira parle da Audiência desta quarta-feira, realizada na Basílica Vaticano, João Paulo II aó dirigir-se ao numeroso grupo de jovens e fiéis assim sc expressou:

Caríssimos jovens!

A vossa presença nesta Audiência alegra profundamente o meu coração, porque, com o vosso entusiasmo, dais a todos, e à Igreja de modo particular, a límpida certeza de poder contar convosco, com o vosso empenho e com a vossa preparação para proclamar a mensagem cristã.

Isto assume especial importância e típico significado neste período litúrgico da Quaresma, em que o Povo de Deus se prepara para a celebração anual do "Mistério pascal", isto é, para percorrer as etapas da paixão, morte e ressurreição de Cristo, Filho de Deus e Filho do homem.

Ao reflectir e ao inspirar-me na oração, que a Igreja nos faz elevar a Deus, hoje, quarta-feira da terceira Semana da Quaresma, desejo que sejais sempre "formados no empenho das boas obras", que neste tempo de conversão e de graça são a renúncia ao pecado, a mortificação, o sentido do sacrifício, concebidos não como aviltamento e depauperação da personalidade e da natureza humana, mas como o seu enobrecimento e exaltação. A isto é preciso unir "a auscultação da Palavra" de Deus, uma atenção devota, humilde, silenciosa e obediente, porque nos encontramos diante de um interlocutor, que é a Verdade infinita a responder às mais secretas e inquietantes perguntas da nossa existência como homens e cristãos. A Palavra de Deus estimular-vos-á a servi-1'O, com generosa dedicação "livres de todo o egoísmo", na compreensão de que Ele, Deus de Amor e de Misericórdia, quis entregar-se totalmente a nós e alargar o nosso coração, para torná-lo capaz de se dar a Ele, supepalavras se tinham imprimido na consciência da primeira geração dos discípulos de Cristo, e depois frutificaram repetidamente e em modo múltiplo nas gerações dos seus confessores na Igreja (e talvez também fora dela). Portanto, do ponto de vista da teologia — isto é da revelação do significado do corpo, totalmente novo a respeito da tradição do Antigo Testamento —, estas são palavras de mudança. A análise delas demonstra quanto são precisas e substanciais, apesar da concisão que têm. (Verificá-lo-emos ainda melhor quando fizermos a análise do texto paulino da primeira carta aos Coríntios, cap. 7). Cristo fala da continência "para" o Reino dos céus. Em tal modo, Ele quer sublinhar que este estado, escolhido conscientemente pelo homem na vida temporal, em que de ordinário os homens "se casam e se dão em casamento", tem uma singular finalidade sobrenatural. A continência, mesmo se escolhida de modo consciente e também se decidida pessoalmente, mas sem aquela finalidade, não entra no conteúdo do sobredito enunciado de Cristo. Falando daqueles que escolheram conscientemente o celibato ou a virgindade para o Reino dos céus (isto é "se fizeram eunucos"), Cristo nota — pelo menos de modo indirecto — que tal escolha, na vida terrena, anda unida à renúncia e também a um determinado esforço espiritual.

Alocução da Audiência Geral de quarta-feira, 17 de Março

A vocação à castidade na realidade da vida terrena

6. A mesma finalidade sobrenatural '— "para o Reino dos céus" — admite uma série de interpretações mais pormenorizadas, que não enumera Cristo em tal passagem. Pode-se porém afirmar que, através da fórmula lapidar de que-Ele se serve, indica indirectamente tudo aquilo que foi dito sobre aquele tema na Revelação,, na Bíblia e na

Aos jovens presentes na Basílica Vatieana

rando o nosso às vezes restrito e mesquinho individualismo.

A Quaresma, tempo de permanente conversão, será também tempo privilegiado para a "comum oração" a Deus, nosso Pai, para que todos nos reconheçamos "irmãos" em Cristo.

Desejo-vos de todo o coração, caríssimos jovens, que o vosso propósito ,de seguir a Cristo se mantenha com firmeza, ainda que este seguimento possa comportar e exigir contínuos esforços e uma coragem a toda a prova perante o mundo, que pode estar surdo e indiferente a quanto se refira à pessoa e à missão de Jesus.

A minha Bênção Apostólica vos acompanhe sempre, como também os que vos são caros.

Desejo agora dirigir uma saudação aos fiéis da Diocese de Sovana-Pitl-gliano-Orbetello, os quais, juntamente com o seu Bispo, D. João D'Ascenzl, vieram em peregrinação a Roma para manifestar publicamente a sua fé.

Caríssimos Irmãos e Irmãs! Agradeçovos sinceramente a vossa visita e o vosso testemunho. Um pensamento de apreço julgo necessário dirigir ao numeroso grupo vindo, com notáveis sacrifícios, da Ilha do Giglio.

Exorto-vos a tornar sempre mais intenso e capilar o trabalho da catequese a todos os níveis e o empenho pelas Vocações, dando coerente e concreto testemunho de vida cristã também diante de tantos que vêm desfrutar as belezas naturais dadas por Deus à vossa região.

Com estes votos, de bom grado invoco ao Senhor a efusão dos favores celestes sobre vós aqui presentes, sobre todos os fiéis da vossa diocese, especialmente os trabalhadores das minas de Amiata agora desempregados e os tripulantes de navios, distantes das suas famílias, e con-cedo-vos de coração a minha Bênção Apostólica.

Tradição; tudo isto que se tornou riqueza espiritual da experiência da Igreja, em que o celibato e a virgindade para o Reino dos céus frutificaram de modo múltiplo nas várias gerações dos discípulos, seguidores do Senhor.

. 1) Ê verdade que Jeremias devia, por explícita ordem do Senhor, observar o celibato (cf. fer. 16, 1-2); mas isto foi um "sinal profético", que simbolizava o fu-, taro abandono e a destruição do país e do povo.

2) É verdade, como nos consta das fontes extrabfblicas, que no período inter-testamenlário o celibato era mantido no âmbito do judaísmo por alguns membros da seita dos Essénios (cf. José Flávio, Bell. Jud. II, 8, 2: 120-121; Al. Filão, Hypothel. 11, 14); mas isto acontecia à margem do judaísmo oficial e provavelmente não persistiu além do princípio do século I.

Na comunidade de Qumran o celibato não obrigava a todos, mas alguns dos membros mantinham-no até à morte, transferindo para o terreno da pacífica convivência a prescrição do Deuteronó-mio (25, 10-14) na pureza ritual que obrigava durante a guerra santa. Segundo as crenças dos Qumranianos, tal guerra durava sempre "entre os filhos da luz e os filhos das -trevas"; o celibato foi portanto para eles a expressão de estarem prontos para a batalha (cf. / Qm. 7, 5-7). - 3) Cf. 1 Cor. 7, 25-40; ver também Apoc. 14, 4.

Oração à Rainha da Polónia

Continuando a minha oração que,' durante as Audiências das quartas--feiras, elevo a Nossa Senhora de Jasna Góra, leio mais uma vez as palavras dos Bispos polacos no comunicado de 27 de Fevereiro passado:

"O entendimento social deve garantir a satisfação das necessidades e a realização das aspirações do povo, a cooperação dos cidadãos na vida pública e no efectivo controlo social!

As partes do entendimento são: a autoridade governativa e os representantes fidedignos dos grupos sociais organizados. Não podem faltar os representantes dos sindicatos temporaneamente suspensos e, entre estes, os do sindicato autónomo e independente Solidarnosc, que encontra vasto consenso social... Os problemas mencionados são uma guia de direcção das investigações e das soluções...".

Senhora de Jasna Góra!

Desde há gerações inteiras que ¦ educas os filhos e as filhas da minha Nação.

Nos últimos decénios tornaram-se particularmente estreitos os laços que os unem a Ti.

Permite, pois, que também hoje eu Te exprima estas palavras dos meus irmãos no ministério episcopal.

Estas palavras são manifestação da solicitude pelo futuro da Nação, da solicitude nascida em meio das provas dos últimos meses e anos.

Estas palavras são programa de vida para as condições da ordem social!

Tu, que és Mãe da Vida, concorre para que se realizem estas palavras!

VALÉRIO VOLPINI Director

E. MARCONDES Redactòr-Chefe da Edição


TIPOGRAFIA DE «LOSSERVATORE ROMANO"



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 24 de Março de 1982


Caríssimos peregrinos e ouvintes de língua portuguesa: com saudações afectuosas em Cristo, desejo-vos uma santa Quaresma!

Sobre o tema do sentido do corpo humano, à luz da Revelação, meditamos no valor da continência “por amor do reino dos Céus”. Jesus Cristo, com factos e palavras, rompendo com a tradição do Antigo Testamento, veio manifestar e proclamar: na perspectiva desse “reino”, que é do “outro mundo” da ressurreição, a pessoa - homem ou mulher - pode abraçar a continência perfeita, para nela se exprimir a fecundidade espiritual, elevada à ordem sobrenatural, por um dom proveniente do Espírito Santo.

Concebido e nascido da Virgem Maria, em cujo matrimónio com São José se verifica uma continência singular e uma perfeita comunhão de pessoas, Cristo Senhor, sobretudo com o próprio exemplo, deixou à Igreja uma imagem nova ta continência do homem, com o seu corpo, a amar e a servir o “reino”, em tensão para a glória do “Céu” e para a comunhão dos santos.

Em penhor da esperança pascal, dou-vos a Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 31 de Março de 1982


Saúdo cordialmente os peregrinos e ouvintes de língua portuguesa, neste “tempo da Paixão” do Senhor, que nos veio redimir.

Tratando ainda do sentido do corpo humano e da sua “redenção”, reflectimos hoje no valor do celibato e da virgindade, abraçados “por amor do reino dos Céus”. Ao proclamar tal valor, Cristo, sem se ater à tradição do Antigo Testamento quanto ao matrimónio, pôs em realce a sua finalidade e motivação.

Para escolher conscientemente viver em continência perfeita - Cristo foi bem claro - é necessário ser-se motivado por uma finalidade esclarecida, “entendida” só pelos chamados. É uma decisão pessoal, por motivos sobrenaturais, que tem de assentar numa fé profunda e levar a identificar-se com a verdade e a realidade do “reino dos Céus”.

É uma vocação excepcional e exigente, mas válida e importante para o testemunho e serviço do “reino”; e quem a segue tem uma participação particular no mistério da Redenção (do corpo).

Desejo-vos uma frutuosa Semana Santa, com a minha Bênção Apostólica.



                                                                             Abril de 1982

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 14 de Abril de 1982

Queridos peregrinos e ouvintes de língua portuguesa


Saúdo-vos cordialmente, desejando que a Páscoa, a certeza e alegria da gloriosa Ressurreição do Senhor perdurem em vós, com coerente vida e testemunho do amor cristão, iluminado pela esperança.

Continuamos a reflexão sobre a continência perfeita “por amor do reino dos Céus”, com o seu valor peculiar. Excluídas interpretações maniqueias e tudo o que lhe é contrário, a continência frente ao matrimónio, segundo Cristo, são duas situações pessoais, que não se contrapõem, nem dividem as pessoas na comunidade em “perfeitas” e “imperfeitas” ou “menos perfeitas”.

São opções vitais em que a perfeição é aferida pela medida da caridade, que engloba a vida toda; uma e outra escolha - continência perfeita e matrimónio - se baseiam no amor esponsal, como doação de si a outrem, sempre animada pela caridade. No caso de quem abraça a continência esse amor há-de expressar-se em “paternidade” ou “maternidade” no sentido espiritual, pela fecundidade do Espírito Santo.

Na luz jubilosa de Cristo, nossa Páscoa, dou-vos a Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 21 de Abril de 1982




Uma sudação afectuosa aos peregrinos e ouvintes de língua portuguesa! Em especial aos Grupos provenientes do Rio de Janeiro e São Paulo, Brasil.

No clima do Mistério Pascal, para todos desejo que perdurem a alegria e a paz de Cristo ressuscitado!

Continuando a reflectir sobre a continência por amor do reino dos Céus, sabemos que ele é para todos, casados ou não: todos são chamados a trabalhar na vinha do Senhor. Quando Cristo fala da continência perfeita por amor do reino dos Céus não indica em que consiste este reino, nem determina como trabalhar nele. Diz apenas que a continência perfeita às vezes é exigida, mas não indispensável para o reino dos Céus. Deve ser escolhida não por cálculo, como uma coisa pessoalmente vantajosa, mas pelo valor que possui em si mesma, de acordo com o plano de Deus.

O reino dos Céus constitui a plena realização das aspirações de todos os homens. Para aqueles que optam pela continência perfeita, a descoberta de relação esponsal de Cristo com a Igreja adquire uma dimensão particular. Cristo põe esta vocação na perspectiva do “outro mundo”, situando-a, porém no tempo, numa participação mais plena na sua obra redentora.

Que vossa vida seja sempre iluminada pela idéia do reino dos Céus, com a minha Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


28 de Abril de 1982


Saúdo com particular afecto os peregrinos e ouvintes de língua portuguesa.

Nestes encontros semanais estamos a considerar o significado teológico do corpo. O coração humano é capaz de aceitar exigências em vista de um ideal. O ideal que exige a continência perfeita é o amor para com Cristo, esposo da Igreja e esposo das almas. Implica renúncia; mas renúncia feita por amor.

A mentalidade contemporânea se acostumou a falar de “instinto sexual”, aplicando à realidade humana o que é característico dos animais. Isto não é correcto. Sendo animal, o homem é também racional. Para exprimir a sexualidade humana não basta pois o princípio naturalístico. A Bíblia nos revela o sentido esponsal do corpo, em cuja base se encontra não apenas o instinto, mas a consciência da liberdade do dom.

Que possais apreciar o valor do corpo, visto como dom, na perspectiva do amor. Com a minha Bênção Apostólica.





                                                                              Maio de 1981

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 5 de Maio de 1982




Saúdo afectuosamente os peregrinos e ouvintes de língua portuguesa!

Estamos a considerar a renúncia consciente e voluntária ao matrimónio, proposta por Cristo por amor do reino dos Céus. Exactamente por se tratar de uma renúncia consciente, é preciso que o homem se dê conta daquilo que escolhe e também daquilo a que renuncia. A própria renúncia implica a afirmação de um valor, que no caso é o significado esponsal do corpo humano. A chave para compreender a sacramentalidade do matrimónio é o amor esponsal de Cristo para com a Igreja. A própria continência perfeita por amor do reino dos Céus, enquanto renúncia, nos leva à descoberta de um dom.

Na próxima semana, como sabeis, prezados ouvintes de língua portuguesa, estarei de viagem em peregrinação a Fátima e visita pastoral a terras de Portugal. Peço-vos que me acompanheis desde já com a oração. E neste mês de Maria, invocando para todos a protecção de Nossa Senhora de Fátima, dou-vos a minha Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 12 de Maio de 1982




Saúdo com particular afecto, hoje, os presentes e ouvintes de língua portuguesa, especialmente os fiéis de Portugal!

Estou prestes a partir, como peregrino, para Fátima. Vou agradecer a Nossa Senhora ter-me conservado a vida, no dia treze de Maio do ano passado; acolher novamente o apelo da mensagem de Maria Santíssima em Fátima à oração, à conversão e à penitência; exprimir ao querido povo português a minha estima e apreço pela grande obra missionária de que foi protagonista e, se possível, comunicar-lhe algum dom espiritual.

Peço que me acompanheis nesta viagem com orações. E dou-vos a Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 19 de Maio de 1982




Caríssimos peregrinos e ouvintes de língua portuguesa

Após a minha peregrinação a Portugal, é-me grato saudar hoje, com afecto em Cristo, os Portugueses presentes, os seus compatriotas, e manifestar-lhes o júbilo, que me vai na alma, e reconhecimento, pela maneira digna como acolheram o Sucessor de Pedro e viveram a sua visita pastoral a terras portuguesas. Bem hajam! Saúdo igualmente os demais - também os grupos provenientes do Brasil.

Fátima foi o ponto culminante dessa peregrinação. Aí fui render graças a Deus - com Maria, Mãe de Cristo - pela Sua misericórdia, ao salvar-me a vida no ano passado, possibilitando-me continuar a servir a Igreja na Sé de Pedro. Mas fui também responder, mais uma vez, ao apelo da “Senhora da Mensagem”, daí lançado há sessenta e cinco anos, com sentido da responsabilidade da Igreja pelo mundo contemporâneo; por isso, aí renovei, em união colegial com os Bispos do mundo, o acto de entrega confiante, pelo Coração Imaculado de Maria, do mesmo mundo e dos Povos mais necessitados, a Deus omnipotente e misericordioso.

Guiou esta minha visita pastoral, como é óbvio, também o desejo de reforçar os laços de unidade - que encontrei vivos e cordiais - na Igreja universal, daquela sua parcela que está em Portugal; aí estruturada de há vários séculos, ela realizou pelo mundo uma admirável obra missionária, pela qual quis testemunhar o apreço e gratidão de toda a Igreja. Fui também para celebrar e honrar os seus Santos, em Santo António de Lisboa, neste ano de comemorações centenárias.

Fui para estar com a Igreja viva, encontrando-me com as suas componentes - Pastores e diversos grupos de fiéis - para a confirmar e estimular; e fui também ao encontro do homem concreto, procurando levar-lhe a mensagem de Cristo, Redentor do homem e do mundo.

Percorri um itinerário “mariano”, na Terra de Santa Maria; por Ela, por Nossa Senhora, dou graças a Deus por tudo; e agradeço também aos homens, por tanto amor e compreensão, desejando-lhes todo o bem, com a Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 26 de Maio de 1982




Amados peregrinos e ouvintes de língua portuguesa

Saúdo-vos com afecto no Senhor, nesta Audiência geral. O tempo litúrgico fala-nos muito do Espírito Santo e da Sua virtude, para darmos testemunho de Cristo. É um imperativo. Consciente disso, o Romano Pontífice, nestes últimos tempos, tem-se feito peregrino pelo mundo, para levar esse testemunho aos homens.

Há muito estava prevista, programada e preparada uma dessas visitas apostólicas à Inglaterra, Escócia e País de Gales. Dolorosas vicissitudes, por causa do conflito no Atlântico Sul, puseram em dúvida essa viagem. Após ter ponderado, não obstante tudo, decidi realizá-la, com algumas alterações.

Dedico esta Audiência a explicar, sobretudo aos fiéis católicos da Argentina (explicação que exarei em carta) as razões dessa minha decisão e o carácter estritamente pastoral da visita. Ao mesmo tempo renovo votos e refiro, prometo e peço orações - como já fiz em Fátima e há dias na Santa Missa em São Pedro - pelo restabelecimento da paz.

Reafirmo a minha estima pelo Povo argentino - que seria meu desejo visitar brevemente, para aí rezar com ele - e por toda a América Latina. Apelo para a boa vontade, compreensão e preces de todos, implorando do Espírito Santo que derrame o Seu amor nos corações, para a paz entre todos os homens, ao dar-vos a Bênção Apostólica.



                                                                           Junho de 1982

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 9 de Junho de 1982

As minhas saudações cordiais aos peregrinos

e ouvintes de língua portuguesa!

Hoje, reflicto aqui convosco sobre a minha recente viagem pastoral à Grã-Bretanha. Foi a primeira vez que um Bispo de Roma visitou aqueles países, cuja fé em Cristo data de tempos muito antigos.

Esta viagem pastoral, decidida há dois anos, foi acuradamente preparada em todas as Dioceses, durante oito meses intensivos. O excelente trabalho realizado serviu, certamente, para avivar e, ao mesmo tempo, aprofundar a tradição de fé cristã daquela gente.

O tema desenvolvido ao longo da visita pode ser descrito como uma peregrinação através dos sete Sacramentos; esteve sempre, na primeira linha, uma perspectiva ecuménica, para o que aproveitaram os doze anos de trabalho da comissão teológica anglicana e católica. Estou agradecido a Deus a também a todos os que colaboraram para se realizar esta visita, em que esteve constantemente presente a imploração da paz. E agora quero confiar ao Coração do Senhor da história, Rei da paz e Príncipe do século futuro os seus frutos.

Certo de que me acompanhareis com vossas preces na minha próxima viagem à Argentina, sobretudo a implorar a paz, dou-vos a minha Bênção Apostólica.
* * *


Quero saudar cordialmente o Comandante, Oficiais e Guardas-Marinha do navio-escola brasileiro “Custódio de Melo”, presentes nesta audiência: sede bem-vindos!

É para mim grata esta vossa visita. Como marinheiros, vossa vida, longe da pátria e dos familiares, e enfrentando diariamente não poucas dificuldades, exige, certamente, o exercício constante das virtudes humanas, que vão da abnegação à coragem, até à generosidade. Oxalá isso vos eleve para Deus, nosso Pai, e vos leve a honrar a família humana, a família dos filhos de Deus.

Desejo-vos que a passagem pela Cidade Eterna sirva para o aprofundamento da fé crista. Tomando contato com diversos povos, na vossa vida itinerante, estareis mais aptos a entendê-los e a firmardes propósitos de convivência pacífica entre todos os homens. Sede sempre construtores de paz. E que o Deus da paz vos acompanhe e vos abençoe!



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 16 de Junho de 1982


Ao saudar cordialmente os peregrinos e ouvintes de língua portuguesa, a todos desejo graça e paz, no Senhor Jesus Cristo.

O tema da reflexão desta Audiência é a minha viagem de ontem a Genebra, parte da visita pastoral à Suíça, adiada pelo que sucedeu no dia treze de Maio do ano passado. Fui visitar a Conferência Internacional do Trabalho, o Centro Europeu de Investigações Nucleares, algumas Organizações Católicas Internacionais, a sede central da Cruz Vermelha e, naturalmente, encontrar-me com a comunidade católica local.

Aqui convosco, dou graças a Deus e a todos exprimo reconhecimento, por ter podido realizar mais esta tarefa pastoral, enquadrada na missão da Igreja no mundo de hoje. Como é sabido, tal missão abrange não apenas os bem eternos, mas atende também às “realidades terrestres” - da cultura, da economia, das artes, das profissões, das estruturas políticas e sociais - enfim, atende a tudo o que possa servir à vida do homem sobre a terra.

Guiou os meus passos na jornada de ontem o desejo de apoiar, estimular e, se possível, iluminar com a mensagem do Evangelho de Cristo, a mensagem do amor, a solidariedade entre os homens - sobretudo dos homens do trabalho - com respeito pela hierarquia dos valores, ao serviço da pessoa humana, no empenho por construir, sobre as bases do autêntico progresso e da paz, a “civilização do amor”.

Que este ideal vos anime sempre! Com a minha Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 23 de Junho de 1982




Saúdo com afecto em Cristo os peregrinos e ouvintes de língua portuguesa, desejando-lhes felicidades e os favores de Deus.

Retomando estes encontros semanais o seu carácter habitual, após um período de viagens pastorais, voltamos a reflectir sobre o tema da virgindade e do matrimónio. É um assunto que parece preocupava as primeiras gerações cristãs, como transparece nas Cartas de São Paulo. O Apóstolo teve de tratar dele em vários momentos, tanto sob o ponto de vista moral como pastoral. As considerações de hoje incidem sobre a primeira Epístola aos Coríntios.

Fica-se com a impressão que alguém teria pedido um esclarecimento a São Paulo; e ele responde, de maneira muito clara: a decisão de abraçar a continência - o celibato ou a virgindade - “por amor do Reino dos céus”, situa-se num plano de liberdade pessoal. Não se trata de escolher entre o bem e o mal, mas entre o que é “bem” e o que é “melhor”. A continência perfeita não é imposta por um mandamento do Senhor; para isso há apenas o conselho.

Que o Senhor a todos ajude a compreender a importância e responsabilidade de escolha livre do estado de vida! Com a minha Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 30 de Junho de 1982

Amados peregrinos e ouvintes de língua portuguesa


Ainda na atmosfera da festa de São Pedro e São Paulo, a todos saúdo, com afecto, desejando-vos saúde, paz e graça de Deus. Continuamos a reflexão, com São Paulo, sobre a continência perfeita “por amor do Reino dos céus”. Na sua Carta aos Coríntios o Apóstolo procura indicar as causas pelas quais alguém se decide a abraçar este estado de continência, na virgindade ou no celibato.

Partindo da verificação - sem maniqueísmo - de que o matrimónio não é isento de tribulações, sobretudo de ordem moral, São Paulo refere-se à transitoriedade deste mundo temporal e enaltece a total disponibilidade para preocupar-se e dedicar-se “às coisas do Senhor”, àquilo que agrada a Deus, como motivações de escolha da virgindade ou do celibato, que comporta inevitavelmente uma renúncia.

“Quem não é casado cuida do modo como há-de agradar ao Senhor”: preocupa-se com a realidade objectiva do Reino de Deus, mediante o zelo apostólico e a dedicação generosa; mas tem de viver a realidade subjectiva do mesmo Reino de Deus - a vida em graça - com a caridade a ditar abertura para o que leva ou deve ser conduzido a Cristo.

Exortando-vos a pedir para a Igreja e para o mundo, invocando São Pedro e São Paulo, a graça de testemunho da fé e do amor consagrado, dou-vos a Bênção Apostólica.



                                                                              Julho de 1982

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 7 de Julho de 1982


Uma saudação cordial aos peregrinos e ouvintes de língua portuguesa, com votos de bem e dos favores de Deus.

Continuamos a reflectir, baseando-nos na Epístola de São Paulo aos Coríntios, sobre a continência perfeita, escolhida “por amor do Reino dos céus”, no celibato ou na virgindade. Quem faz esta escolha é “para agradar a Deus”, no fundo, por um motivo de amor, que estará na continuidade do diálogo da salvação, iniciado por Deus.

Trata-se de uma atitude de amor que assenta na “integração interior” da pessoa, liberta de “divisões” do coração e preocupada primeiro que tudo em “agradar ao Senhor”. Assim, não se deixará imergir nos problemas pessoais, mas vivê-los-á de molde a inseri-los na grande corrente do amor e do sofrimento de Cristo e do seu Corpo, que é a Igreja.

Isto supõe a “santidade”, com as suas componentes de “separação” e de “estado” habitual; isto é, de realidade possuída, como “dom”, a ditar coerência moral, num comportamento marcado pela “pureza” de um modo de estar no mundo e de usar dele, diverso do que sucede no matrimonio. Este, porém, permanece com o seu valor próprio.

Com pensamento afectuoso também nas vossas famílias e pessoas amigas, dou-vos a Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 24 de Julho de 1982




Saúdo com afecto em Cristo os ouvintes de língua portuguesa

Continuamos a meditar, com São Paulo, sobre a dignidade do corpo humano, sujeito à pecaminosidade, por força da concupiscência. Mas em vista do Reino dos céus, tanto para os que se unem em matrimónio - que fazem “bem” - como para os que abraçam a continência perfeita - que fazem “melhor” - há o dom de Deus, a graça, que faz com que o corpo se torne “templo do Espírito Santo”, a ser sempre honrado.

Divisando além duma metafísica do transitório - da imagem deste “mundo que passa” - o Apóstolo apresenta a teologia de uma “grande expectativa”, que existe para todos, no “outro mundo que não passa”: o destino final de toda a pessoa humana. Também o matrimónio, e não apenas a virgindade ou o celibato “por amor do Reino dos céus”, deve ser vivido à luz desta vocação definitiva do homem.

São Paulo, sem maniqueísmo, fala do corpo do homem e da mulher, conforme foi plasmado por Deus “ao princípio”, em fidelidade à palavra de Cristo no Evangelho. Com tacto de pastor e com realismo, explica as diversas situações pessoais, sem contrapor, mas distinguindo o estado matrimonial do estado de continência, à luz da vida futura, incutindo a esperança, fundada na realidade da ressurreição com Cristo, para “a vida que não passa”.
* * *


Saúdo agora, de um modo especial, um grupo de Senhoras presentes, vindas do Brasil, antigas alunas das Irmãs Doroteias da Frassinetti.

Quisestes vir a Roma e encontrar-vos hoje com o Papa: sede bem-vindas! Desejo-vos que a peregrinação à Cidade Eterna deixe como fruto, em vossos corações, um estímulo a viver a fé que professais, aqui testemunhada, até ao derramamento do sangue, pelos Apóstolos e Mártires, em fidelidade a Cristo. A semente lançada em vossas almas, durante o tempo de formação, é graça, destinada a germinar e desabrochar em vida e testemunho cristão. “Dai gratuitamente o que gratuitamente recebestes”, em resposta ao amor de Deus.

A todos que me ouvis, e a quantos vos são queridos, desejo as maiores felicidades e as graças divinas, com a Bênção Apostólica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA GERAL


Quarta-feira, 21 de Julho de 1982




Saúdo os queridos ouvintes de língua portuguesa, com afecto em Cristo!

Meditamos hoje, ainda com São Paulo, sobre a vida em matrimónio e em continência perfeita, à luz da redenção do corpo humano. No enquadramento da Palavra de Deus - sobre a corrupção, entrada no mundo após o pecado, e sobre a Redenção, prometida desde o “princípio” e realizada em Jesus Cristo - o Apóstolo aponta os fundamentos de esperança, enxertada no coração do homem: esperança da redenção antropológica e cósmica.

Cristo, o Redentor, veio revelar o homem ao próprio homem, com palavras e com a sua morte e ressurreição; e São Paulo, na luz do mistério pascal, explicita esta revelação do homem redimido, pela vitória escatológica sobre a morte, e pela vitória, no tempo, sobre o pecado; nisto está a fonte de inspiração e de coragem para lutar contra a tríplice concupiscência, para chegar à vitória, com Cristo, sobre o mal.

A esperança de Redenção definitiva deve iluminar a dignidade do ser humano, com o corpo, sempre dotado de sentido esponsal, pelos caminhos de uma liberdade amadurecida em doação pessoal - quer no matrimónio, quer no estado de continência perfeita “por amor do Reino dos céus” - para realizar uma vocação nobre e altíssima.

Ao desejar a todos que brilhe em sua vida a esperança da Redenção, quero saudar, em especial, o Coral da Câmara de Niterói, do Brasil: muito grato pela vossa presença aqui e pela beleza e vida com que enriquecestes este encontro. Continuai a semear a alegria e a esperança nos corações dos homens, a ajudá-los a elevarem-se para o Deus-Amor e a comungarem os ideais da fraternidade, da paz e do amor.

A todos - e aos que vos são queridos - dou a Bênção Apostólica.

PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 28 de Julho de 1982




As minhas saudações cordiais aos ouvintes de língua portuguesa!

Continuamos a reflectir, à luz da Revelação, sobre o significado do corpo humano. Hoje entramos num capítulo novo, analisando um trecho conhecido - usado na Liturgia da celebração do Matrimónio - da Carta aos Efésios. Nele, directamente, trata-se da vida em casal e recomenda-se aos esposos: “Sede submissos uns aos outros, no temor de Cristo; as mulheres, aos maridos como ao Senhor”; e os maridos, por sua vez, amem as próprias mulheres, como Cristo ama a sua Igreja.

A doutrina desta passagem bíblica deve ser entendida no conjunto e como coroamento daquilo que na Palavra de Deus se ensina, desde o “princípio”, sobre o corpo humano, criado com a masculinidade e a feminilidade, ordenadas para o dom interpessoal e a união no matrimónio. Estará neste trecho - expressa ou confirmada - a verdade de o Matrimónio ser um sacramento?

A resposta terá de ser devidamente enquadrada e gradual. Hoje bastará realçar que o corpo, de alguma maneira, entra na definição de Sacramento: “sinal visível de uma realidade invisível”; ou seja, realçar, uma vez mais, a dignidade do corpo humano segundo Deus. Que todos saibamos honrar e respeitar tal dignidade, em nós e nos outros!

Em penhor dos favores divinos, dou-vos a Bênção Apostólica




AUDIÊNCIAS 1982