Discursos João Paulo II 1982 - Terça-feira, 5 de Janeiro de 1982

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE O ENCONTRO COM UM GRUPO


DE CATÓLICOS ROMENOS DE RITO ORIENTAL


Quarta-feira, 6 de Janeiro de 1982



É com grande alegria que recebo a vossa visita, nesta festividade da Epifania de Nosso Senhor, na qual tive o prazer de conferir a Ordenação episcopal ao vosso compatriota, Sua Ex.cia Dom Traian Crisan, nomeado recentemente Secretário da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos.

Este encontro oferece-me a agradável ocasião de saudar cordialmente a comunidade católica romena que se encontra na Urbe e, por meio dela, também a que está na Pátria, e de a todos exprimir os sentimentos de afecto e de solicitude que tive sempre por eles no meu coração, e ainda mais desde que a Providência me chamou a ser Pastor Supremo da Igreja Universal.

Conheço bem, de facto, a antiga cultura e a rica história da nobre nação romena. São-me conhecidas também as benemerências das comunidades cristãs na Roménia, compostas de grupos de diversa origem, unidas por um só amor e por uma grande lealdade com a sua pátria. De modo particular quero recordar a Igreja católica de rito oriental, a que o novo Arcebispo pertence e que teve papel tão importante, por todos reconhecido, na formação e na educação cívica e espiritual dos filhos do povo romeno, assim como no despertar e no desenvolver-se da vossa consciência nacional.

Na duração da sua história bimilenária, a Igreja Católica enriqueceu-se com as culturas, as tradições e os costumes de todas as populações que receberam a Boa Nova. Por conseguinte, Ela exprimiu-se e continua a exprimir-se também numa diversidade de ritos, latino e orientais, embora sobre a sólida base de uma só fé e da única divina constituição da Igreja universal. Esta realidade foi posta em realce pelo Concílio Vaticano II, que "não só circunda da divina estima e de justo louvor o património eclesiástico e espiritual das Igrejas Orientais, mas o considera firmemente como património de toda a Igreja", e portanto deseja que elas "floresçam e desempenhem com novo vigor apostólico a missão que lhes está confiada, além de quanto diz respeito a toda a Igreja..." (Lumen Gentium LG 23 Orientalium Ecclesiarum OE 1 Orientalium Ecclesiarum, 1 e OE 5).

Tal unidade na diversidade distinguiu também a história da Igreja Católica que está na Roménia. A Santa Sé tem seguido e segue com particular solicitude, na alegria e nas muitas e tristíssimas provas, a condição da comunidade católica de rito oriental, como a de uma porção eclesial muito amada e da qual está muito perto no pensamento e na oração.

Esta Sé Apostólica não cessa de esperar e de esforçar-se por que ela possa viver, reconhecida e tranquila, como é seu direito originário, e também por força dos princípios de liberdade religiosa, garantidos nas modernas Constituições e sancionados em documentos internacionais. Além das intervenções neste sentido apresentadas pelos Representantes da Santa Sé em diversas ocasiões — em particular nas reuniões de Belgrado (1977) e de Madrid (1980/81), incluídas na Conferência sobre a Segurança e a Cooperação Europeia de Helsínquia — recordo a Carta que dirigi, no 1º de Setembro de 1980, a todos os Chefes de Estado dos Países firmadores do Acto Final da mencionada Conferência de Helsínquia. Neste documento, pus em relevo, com respeitosa mas necessária clareza, a exigência de os direitos fundamentais da liberdade religiosa, no plano pessoal e comunitário, serem respeitados, garantidos e tutelados também no plano da lei civil. Em particular, sublinhei a necessidade de que seja reconhecida a liberdade de aderir a uma fé determinada e à comunidade confessional correspondente, e também a liberdade, para as comunidades confessionais, de terem uma própria hierarquia interna, ou ministros livremente escolhidos, segundo as suas normas institucionais.

Tenho confiança em que estes princípios encontrem adesão e ressonância em todos os homens de boa vontade, e particularmente nas várias comunidades cristãs da Roménia. É uma esperança que já foi expressa pelo meu predecessor Paulo VI, que, ao formular votos por que se vencessem os obstáculos opostos à vida e ao desenvolvimento da Igreja católica oriental da Roménia, augurava que "também os nossos irmãos da Roménia, aos quais nos une a mesma fé cristã, mas que não se encontram ainda em plena comunhão com a Igreja católica, compartilhem estas nossas ansiedades e sintam como próprios os vossos e nossos desejos" (Discurso a sacerdotes romenos, 22 de Outubro de 1973: Insegnamenti di Paolo VI, vol. XI, p. 1016).

Quero, portanto, exortar-vos e a todos os vossos irmãos e irmãs católicos da Roménia a que persevereis fortes na fé e a que vivais unidos no amor de Cristo. Não podeis imaginar quanta consolação sinto ao receber informações acerca da intrépida lealdade dos católicos na Roménia, sem distinção de ritos, para com a Sé de Pedro, e acerca da fé viva e da operosa caridade de que estão animados.

Confio as vossas preocupações e as vossas esperanças — pelas mãos de Maria Santíssima, venerada com tanto amor e confiança pela comunidade eclesial romena — ao Senhor Omnipotente e Misericordioso, que "tudo faz tender para o bem dos que O amam" (Rm 8,28), para o bem da Igreja que está na Roménia e de todo o vosso dilecto povo.

A todos concedo de boa vontade a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS CATEQUISTAS


DE COMUNIDADES NEOCATECUMENAIS


Sala Clementina

Quinta-feira, 7 de Janeiro de 1982



Caríssimos

1. Sinto sinceramente grande prazer em me ser possível encontrar hoje convosco, catequistas itinerantes provenientes de numerosas comunidades neocatecumenais, e desejo exprimir-vos a minha complacência juntamente com uma palavra de encorajamento para o vosso compromisso catequético, tão valioso para a comunidade eclesial.

Vós propondes-vos viver em plenitude o anúncio fundamental da fé, isto é a alegre notícia de que Jesus de Nazaré é o Filho eterno de Deus, encarnado e ressuscitado para a nossa salvação; quereis acolher em profundidade o laço indissolúvel que existe entre a adesão a este anúncio de vida e de ressurreição e a continua conversão interior, o que requer mudança de mentalidade, de atitudes, de comportamentos de egoísmo, de fechamento em si e de auto-suficiência, de modo a adquirir uma nova perspectiva e uma nova visão — precisamente a fundada na mensagem de Jesus Cristo — que exige humilde abertura para com Deus e todos os irmãos.

Neste caminho de fé, que sem dúvida apresenta as suas etapas fadigosas e as suas inevitáveis dificuldades, é para vós amparo, conforto, iluminação e orientação a Palavra de Deus, a Sagrada Escritura, que deve ser aprofundada, lida, meditada e estudada, com a consciência de que ela não é um simples livro, mas é Deus mesmo que fala, actua, interpela, envolve e convida a uma audição atenta, que leve à total adesão para com a Sua Vontade. E a Palavra de Deus, quer a do Antigo Testamento quer a do Novo, vos faz encontrar com Aquele, de quem a Escritura está repleta, ou seja com Jesus Cristo, o qual com a encarnação "se uniu de algum modo a todo o homem" (cf. Gaudium et Spes GS 22).

2. Nas vossas reflexões comunitárias quisestes meditar sobre o valor basilar do sacramento do Baptismo no itinerário espiritual do cristão, e desejais reviver, na vossa vida de cristãos, a complexa e rica experiência, que a Igreja nos primeiros séculos fazia os seus novos filhos viverem outra vez. Sem cair num fácil arqueologismo de maneira, sois conscientes de que realizar a dimensão baptismal significa, antes de tudo, procurar colher na sua origem a identidade autêntica de sermos cristãos; isto é viver a profunda mudança que se realizou na nossa realidade humana com a penetração da graça divina — termo-nos tornado templos vivos da Santíssima Trindade, sarmentos da videira, que é Cristo, membros do Corpo Místico, do Cristo Total, isto é da Igreja. Escrevendo sobre os maravilhosos efeitos sobrenaturais do Baptismo, assim se exprimia São Fulberto de Chartres, bispo: "Sabemos com certeza que, sendo pecadores no primeiro nascimento, somos purificados no segundo; escravos no primeiro, somos livres pelo segundo; terrenos no primeiro, somos celestes pelo segundo; carnais por culpa do primeiro nascimento, tornamo-nos espirituais pela graça do segundo; por aquele filhos da ira, por este filhos da graça. Quem, portanto, ofende a dignidade do Baptismo, saiba que ofende a Deus mesmo... É pois uma graça da doutrina de salvação conhecer a profundidade do mistério do Baptismo" (Ep 5, PL 141, 198 s.). Realizar a dimensão baptismal significa unir-se intimamente a Cristo na Eucaristia, fonte e auge da vida cristã e de toda a evangelização (cf. Lumen Gentium LG 11 Presbyterorum ordinis PO 5); significa amar generosa, concreta e efectivamente todos os homens, de modo especial aqueles que, espiritual ou materialmente, são pobres e necessitados; significa reestruturar toda a própria vida moral em coerência e em conformidade com as promessas baptismais. "Este caminho, caminho da fé, caminho do Baptismo descoberto — dizia aos vossos amigos da paróquia dos Santos Mártires Canadenses, em Roma — deve ser um caminho do homem novo; este vê qual é a verdadeira proporção, ou melhor, a proporção da sua entidade criada, da sua criaturalidade a respeito do Criador, da sua majestade infinita, do Deus redentor, do Deus santo e santificador, e procura realizar-se naquela perspectiva" (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, III/2, 1980, p. 1044).

3. Neste período litúrgico do Natal, os Evangelhos de Mateus e de Lucas apresentam-nos algumas pessoas, cujo comportamento para com o recém-nascido Jesus foi particularmente exemplar para nós: os misteriosos Magos, com a riqueza da sua cultura, atenta e sensível aos sinais da Transcendência; os pobres Pastores, vigilantes do rebanho, prontos e obedientes às advertências dos Anjos; José, o homem justo, que no sono estático está em contínua escuta da vontade do Eterno; e, sobretudo, Maria, a Virgem Mãe, que a Deus se confia completamente, pronuncia o "fiat" e concebe no seu seio o Filho do Altíssimo para o apresentar e oferecer aos homens.

A Ela de modo particular, caríssimos irmãos e irmãs, vos confio como também o vosso compromisso generoso, para que em perfeita e concorde adesão à Igreja e sempre sob a direcção pastoral dos Bispos, ofereçais um contributo pessoal para a obra fundamental da catequese, fazendo de modo a não transmitir a vossa doutrina ou a de outro mestre, mas "os ensinamentos de Jesus Cristo, a Verdade que Ele comunica, ou, mais precisamente, a Verdade que Ele é" (Ex. Ap. Catechesi tradendae CTR 6).

Com estes votos e em sinal do meu afecto, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS CATEQUISTAS


DE COMUNIDADES NEOCATECUMENAIS


Sala Clementina

Quinta-feira, 7 de Janeiro de 1982



Caríssimos

1. Sinto sinceramente grande prazer em me ser possível encontrar hoje convosco, catequistas itinerantes provenientes de numerosas comunidades neocatecumenais, e desejo exprimir-vos a minha complacência juntamente com uma palavra de encorajamento para o vosso compromisso catequético, tão valioso para a comunidade eclesial.

Vós propondes-vos viver em plenitude o anúncio fundamental da fé, isto é a alegre notícia de que Jesus de Nazaré é o Filho eterno de Deus, encarnado e ressuscitado para a nossa salvação; quereis acolher em profundidade o laço indissolúvel que existe entre a adesão a este anúncio de vida e de ressurreição e a continua conversão interior, o que requer mudança de mentalidade, de atitudes, de comportamentos de egoísmo, de fechamento em si e de auto-suficiência, de modo a adquirir uma nova perspectiva e uma nova visão — precisamente a fundada na mensagem de Jesus Cristo — que exige humilde abertura para com Deus e todos os irmãos.

Neste caminho de fé, que sem dúvida apresenta as suas etapas fadigosas e as suas inevitáveis dificuldades, é para vós amparo, conforto, iluminação e orientação a Palavra de Deus, a Sagrada Escritura, que deve ser aprofundada, lida, meditada e estudada, com a consciência de que ela não é um simples livro, mas é Deus mesmo que fala, actua, interpela, envolve e convida a uma audição atenta, que leve à total adesão para com a Sua Vontade. E a Palavra de Deus, quer a do Antigo Testamento quer a do Novo, vos faz encontrar com Aquele, de quem a Escritura está repleta, ou seja com Jesus Cristo, o qual com a encarnação "se uniu de algum modo a todo o homem" (cf. Gaudium et Spes GS 22).

2. Nas vossas reflexões comunitárias quisestes meditar sobre o valor basilar do sacramento do Baptismo no itinerário espiritual do cristão, e desejais reviver, na vossa vida de cristãos, a complexa e rica experiência, que a Igreja nos primeiros séculos fazia os seus novos filhos viverem outra vez. Sem cair num fácil arqueologismo de maneira, sois conscientes de que realizar a dimensão baptismal significa, antes de tudo, procurar colher na sua origem a identidade autêntica de sermos cristãos; isto é viver a profunda mudança que se realizou na nossa realidade humana com a penetração da graça divina — termo-nos tornado templos vivos da Santíssima Trindade, sarmentos da videira, que é Cristo, membros do Corpo Místico, do Cristo Total, isto é da Igreja. Escrevendo sobre os maravilhosos efeitos sobrenaturais do Baptismo, assim se exprimia São Fulberto de Chartres, bispo: "Sabemos com certeza que, sendo pecadores no primeiro nascimento, somos purificados no segundo; escravos no primeiro, somos livres pelo segundo; terrenos no primeiro, somos celestes pelo segundo; carnais por culpa do primeiro nascimento, tornamo-nos espirituais pela graça do segundo; por aquele filhos da ira, por este filhos da graça. Quem, portanto, ofende a dignidade do Baptismo, saiba que ofende a Deus mesmo... É pois uma graça da doutrina de salvação conhecer a profundidade do mistério do Baptismo" (Ep 5, PL 141, 198 s.). Realizar a dimensão baptismal significa unir-se intimamente a Cristo na Eucaristia, fonte e auge da vida cristã e de toda a evangelização (cf. Lumen Gentium LG 11 Presbyterorum ordinis PO 5); significa amar generosa, concreta e efectivamente todos os homens, de modo especial aqueles que, espiritual ou materialmente, são pobres e necessitados; significa reestruturar toda a própria vida moral em coerência e em conformidade com as promessas baptismais. "Este caminho, caminho da fé, caminho do Baptismo descoberto — dizia aos vossos amigos da paróquia dos Santos Mártires Canadenses, em Roma — deve ser um caminho do homem novo; este vê qual é a verdadeira proporção, ou melhor, a proporção da sua entidade criada, da sua criaturalidade a respeito do Criador, da sua majestade infinita, do Deus redentor, do Deus santo e santificador, e procura realizar-se naquela perspectiva" (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, III/2, 1980, p. 1044).

3. Neste período litúrgico do Natal, os Evangelhos de Mateus e de Lucas apresentam-nos algumas pessoas, cujo comportamento para com o recém-nascido Jesus foi particularmente exemplar para nós: os misteriosos Magos, com a riqueza da sua cultura, atenta e sensível aos sinais da Transcendência; os pobres Pastores, vigilantes do rebanho, prontos e obedientes às advertências dos Anjos; José, o homem justo, que no sono estático está em contínua escuta da vontade do Eterno; e, sobretudo, Maria, a Virgem Mãe, que a Deus se confia completamente, pronuncia o "fiat" e concebe no seu seio o Filho do Altíssimo para o apresentar e oferecer aos homens.

A Ela de modo particular, caríssimos irmãos e irmãs, vos confio como também o vosso compromisso generoso, para que em perfeita e concorde adesão à Igreja e sempre sob a direcção pastoral dos Bispos, ofereçais um contributo pessoal para a obra fundamental da catequese, fazendo de modo a não transmitir a vossa doutrina ou a de outro mestre, mas "os ensinamentos de Jesus Cristo, a Verdade que Ele comunica, ou, mais precisamente, a Verdade que Ele é" (Ex. Ap. Catechesi tradendae CTR 6).

Com estes votos e em sinal do meu afecto, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS DIRIGENTES, EMPREGADOS


E AGENTES COMERCIAIS DA SOCIEDADE


«FRATELLI AVERNA» DE CALTANISSETTA


Sexta-feira, 8 de Janeiro de 1982



Queridos Irmãos e Irmãs

Tenho o prazer de vos receber hoje, Dirigentes, Empregados e Agentes comerciais da Empresa "Fratelli Averna" de Caltanissetta reunidos em Roma.

1. Saúdo a todos e exprimo-vos a minha gratidão por esta vossa visita que, além de evocar no meu ânimo as belezas naturais, os acontecimentos históricos e as tradições religiosas da vossa terra siciliana, chama também a minha atenção para o significado espiritual e social que uma empresa produtiva, como a vossa e como todas as outras, hoje reveste.

Apraz-me saber que tenha sido dado à vossa actividade comum um timbre espiritual, que desejo possa constituir para vós não só motivo de legitimo orgulho mas, ao mesmo tempo, estímulo para ulteriores progressos quer industriais, quer espirituais tais que garantam à empresa não só prosperidade económica mas também, e sobretudo, o espírito próprio de uma comunidade cristã do trabalho.

2. Ao exortar-vos a prosseguir nesta linha, a realizá-la cada vez mais e sempre melhor, inspirando-vos nos princípios da doutrina da Igreja, recomendo-vos que façais todos os esforços para adquirir sempre mais claramente uma consciência nítida das vossas responsabilidades nas relações empresariais, e das exigências espirituais, que derivam do facto de pertencerdes a Cristo e à Igreja. A este propósito, repito o que já disse na Carta Encíclica Laborem exercens: "Se a Igreja considera como seu dever pronunciar-se a respeito do trabalho, do ponto de vista do seu valor humano e da ordem moral em que ele está abrangido, e se ela reconhece nisso uma sua tarefa importante incluída no serviço que presta à inteira mensagem evangélica, a mesma Igreja vê simultaneamente um seu dever particular na promoção de uma espiritualidade do trabalho, susceptível de ajudar todos os homens a aproximarem-se através dele de Deus, Criador e Redentor, e a participarem nos seus desígnios salvíficos quanto ao homem e ao mundo, e a aprofundarem na sua vida a amizade com Cristo" (n. 24).

3. Caríssimos Irmãos, são estes igualmente os meus votos para todos vós neste tempo de Natal, em que certamente tivestes um sentimento de ternura para com o divino Salvador, que veio compartilhar, com a natureza humana, também a condição de trabalhador entre os trabalhadores.

Ao fazer votos por que a vossa Empresa possa ser cada vez mais caracterizada pelo progresso e pelo trabalho na luz cristã, concedo-vos de bom grado, assim como àqueles que vos são queridos a propiciadora Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS ITALIANOS DA LIGÚRIA


EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Sexta-feira, 8 de Janeiro de 1982



1. Saúdo-vos com intenso afecto e com íntima alegria, caros Irmãos no Episcopado das Dioceses da Ligúria, na ocasião da vossa visita "ad limina" colegial, após o encontro com cada um de vós; e é-me grato neste encontro exprimir-vos algumas breves reflexões surgidas da realidade da vossa região e que desejo possam contribuir para vos apoiar na vossa solicitude em encontrar as vias mais eficazes no cuidado pastoral da parte do Povo de Deus confiada à vossa responsabilidade.

Geograficamente não muito extenso, o território da vossa Região conta uma população residencial notável quanto ao número, ocupando densamente os centros da faixa costeira, onde, devido ao fluxo turístico não limitado à estação estiva, a presença dificilmente pode ser expressa com números exactos.

Colocada pela natureza entre o mar e as montanhas, considerada uma das mais características e mais belas da Itália, a vossa terra tornou-se ainda, por espírito de iniciativa e empenho de laboriosidade dos seus habitantes, um dos pontos centrais do tradicional triângulo industrial italiano, devido também à actividade marítima e comercial.

2. Ao percorrer a vossa relação colegial para a visita "ad limina" percebi, de um lado, a alegria alimentada pela esperança graças à constatação, verificável em todas as camadas da população, da necessidade de fé e de verdade evangélica; de outro lado, a preocupação pastoral pela crescente difusão, como noutras regiões italianas e noutros Países industrializados, de uma mentalidade hedonista e materialista.

Dois aspectos particularmente graves e dolorosos, resultantes desta mentalidade invasora, parecem ser a desagregação da família e a decadência do sentido de acolhida da vida. Sabe-se pelas estatísticas nacionais que a Ligúria, em relação a outras regiões italianas, retém as taxas mais altas relativas à diminuição da natalidade e à prática do aborto.

São, estes, dois males contra o homem, e portanto contra Deus e contra a sociedade, jamais deixados de ser denunciados pela Igreja, e disto de novo falei longamente no recente documento sobre a família, publicado durante o mês passado, e na própria mensagem natalícia. A Igreja, que é pela vida, não pode deixar de levantar a voz a fim de que na sociedade de hoje se chegue a determinar, neste campo, uma inversão de tendência quanto a um costume que facilita a morte.
Tenho confiança em que a Igreja na Ligúria, sempre distinguida pela fidelidade aos princípios e, ao mesmo tempo, por espírito de iniciativa, e no decurso dos séculos enriquecida de instituições religiosas e leigas, de centros de espiritualidade, de Santuários, entre os quais sobressaem os dedicados a Maria, modelo de Mãe e portanto também modelo de vida, saberá esforçar-se, em todos os seus componentes, por fazer frente às novas e urgentes exigências; em difundir no povo o sentido humano e religioso da vida; em sensibilizar o legislador e o agente social, a todos os níveis, a um maior compromisso na protecção e promoção do homem; em analisar as causas dos males nos vários aspectos e intervir com rapidez e eficácia.

3. Um compromisso que a situação sócio-cultural indica ser de modo particular urgente é o da pastoral familiar. As profundas e rápidas transformações que caracterizam a vossa época incidiram profundamente sobre a instituição familiar, célula fundamental da sociedade e benéfico viveiro das futuras gerações. É necessário que a Igreja se volte com renovada solicitude para este delicado sector da pastoral, dedicando-lhe as suas melhores energias.

Urge antes de mais nada uma acção que desperte nas consciências a preocupação pelas realidades espirituais e eternas, e o recto conhecimento do primado dos valores morais, que são os da pessoa humana como tal. "A nova compreensão do sentido último da vida e dos seus valores fundamentais é a grande tarefa que se impõe hoje para a renovação da sociedade" (Exort. Apost. Familiaris consortio FC 8). Quando esta consciência é menos sentida, as grandes possibilidades, colocadas pelo progresso moderno nas mãos do homem acabam por se transformar em potenciais forças desagregadores, que prejudicam a sua autêntica promoção.

É preciso educar as consciências mediante assídua e incisiva instrução religiosa, que torna cada um dos membros da família — não só os jovens mas também os adultos — capazes de julgar e discernir os modos adequados para construir uma comunidade de pessoas que, no amor, vive, cresce e se aperfeiçoa. É preciso, além disso, encorajar os componentes da família à prática dos Sacramentos e ao hábito da oração, pessoal quotidiana, para que do encontro com Deus cada um possa haurir não só a luz interior para melhor compreender, mas também a força espiritual para traduzir coerentemente na vida o desígnio de Deus sobre a família.

Da união vital com Cristo, alimentada pela participação na Liturgia e pela experiência da oração, a família haurirá o estímulo para progredir continuamente no amor vivido e para se tornar fermento activo na animação cristã do ambiente que a circunda.

4. A tarefa de inserir o fermento evangélico no contexto da sociedade constitui, hoje como sempre, a missão primeira e principal da Igreja. Não é preciso que me detenha a salientar o papel importante que, no cumprimento de tal missão, os leigos são chamados a desempenhar. Contudo, será sumamente oportuno que entre todas as vossas preocupações pastorais seja prioritário o cuidado da Acção Católica e o encorajamento dos vários Movimentos juvenis, que o Espírito vai suscitando na Igreja. A participação nestas formas de apostolado comunitário oferece a possibilidade de uma formação cristã mais completa e de uma acção pastoral mais directamente ligada aos Pastores, com grande proveito tanto para a vida espiritual de cada um como também para a sua inserção no ambiente.

Um laicado católico consciente e activo é inestimável riqueza para cada uma das Igrejas locais. Todavia, isto não quer dizer que venha a suprir a carência de sacerdotes. A actual crise dos Seminários deve ser estímulo para todas as Dioceses a um renovado empenho na pastoral das vocações. O Seminário é a expressão e o testemunho da vitalidade da comunidade diocesana. Ele é o término das fadigas dos párocos e dos educadores que actuam nas estruturas pastorais; e é o ponto de partida para todo o programa de animação cristã das novas gerações, que se apresentam na ribalta da história.

A atenção às vocações assim chamadas adultas, hoje particularmente sugerida pelas circunstâncias, não deve absolutamente induzir a descuidar os Seminários menores, cuja função é, por assim dizer, evidenciada pela dificuldade em que se encontram as Dioceses em que foram supressos.

5. Quanto ao considerável desenvolvimento turístico que caracteriza a vossa Região, desejo chamar a vossa atenção sobre a importância da pastoral do Turismo.

Como bem sabeis, a Igreja, sempre atenta às exigências das situações em pleno desenvolvimento, viu, desde o Concílio Vaticano II, na mobilidade humana um dos fenómenos que requer a reflexão dos Bispos (Christus Dominus CD 18); mais tarde instituiu uma Pontifícia Comissão para a pastoral das migrações e do turismo; e desde 1979, isto é quando a Organização Mundial do turismo numa das suas Assembleias Gerais estabeleceu a celebração anual do Dia Mundial do Turismo, a Santa Sé decidiu participar na iniciativa.

A Igreja está bem consciente dos não poucos aspectos positivos do turismo; antes, na medida em que concorre para desenvolver uma sã educação individual e colectiva, vê nele a possibilidade implícita de um novo humanismo.

A parte o princípio da liberdade de movimentação, do lazer e do repouso, de facto, o turismo favorece uma formação pessoal que enriquece a mente, eleva o espírito até à contemplação das criações da arte e das maravilhas da natureza, inclina a vontade à comunhão com os irmãos. Se bem empregado, concorre também sob o ponto de vista social para a superação dos preconceitos entre os homens, para reduzir as distâncias entre os povos, para facilitar o mútuo conhecimento entre as nações de culturas profundamente diversas, para criar novas fontes de trabalho, para promover o sentido de solidariedade universal e a paz no mundo.

Ora, precisamente devido à sua natureza de movimento de massa em dimensão planetária, o turismo, trazendo consigo também um movimento gigantesco de capitais, pode ocultar os seus equívocos, as suas insídias, para se tornar um fenómeno prevalentemente económico, com a consequência de se tornar fim em si mesmo, não encontrar mais as implícitas possibilidades de novo humanismo, e se voltar contra o homem.

É aí que o turismo, em vez de ser promotor de valores, como deveria, tende a favorecer e propagar aquela mentalidade materialista e hedonista, já precedentemente assinalada como factor desagregador da comunidade familiar; corre o risco de instrumentalizar a pessoa humana, a ponto de subverter os termos e fazer o homem para o turismo, e não o turismo para o homem.

O turismo depois, atingindo com a sua expansão todos os ângulos do mundo, acaba por exercer directa ou indirectamente uma sua incidência também na mentalidade e no costume da população estável, que não pratica o turismo, e portanto na sociedade em geral.

Vós mesmos, caros Irmãos no Episcopado, fizestes esta experiência na Região da Ligúria, onde o turismo chega também às áreas despovoadas do interior.

O fenómeno do turismo, considerado em todos os seus aspectos à luz do Evangelho e da mensagem cristã, exige de Vós e de quantos se empenham no ministério pastoral um constante esforço de estudo e de aprofundamento, sob o aspecto teológico, pastoral e organizativo, para se tornar capaz de conhecer mais a fundo as transformações sociais e de costume por ele suscitadas; para realizar rapidamente um trabalho de prevenção e de educação; para desenvolver as suas novas e grandes possibilidades de humanização, de alimento cultural, de cooperação ecuménica, de irradiação evangélica que o turismo oferece aos nossos dias.

Novas perspectivas e novos campos de trabalho podem abrir-se ao vosso dinamismo pastoral neste sector, em contínua evolução.

Ao congratular-me com o vosso empenho e o vosso zelo, de coração faço votos por que o vosso anseio pastoral saiba encontrar sempre os caminhos e os modos mais eficazes a fim de ser dada aos turistas de todas as línguas e nacionalidades, que acorrem à vossa terra, uma assistência religiosa adequada às exigências espirituais que atormentam os homens de hoje, facilitando-lhes em primeiro lugar a participação na Missa festiva, no sacramento da Penitência e na Comunhão, e promovendo oportunos encontros de formação espiritual, de cultura religiosa e de oração.

Apoiai e encorajai com incansável solicitude todo o esforço dos vossos sacerdotes que visa fazer com que os momentos de repouso e de lazer de quantos visitam a vossa bela Região se tornem também momentos para o espírito, no encontro consigo mesmos mediante pausas de silêncio e de reflexão, e no encontro com Deus mediante a oração.

As iniciativas, que a vossa prudência e o vosso zelo saberão promover no sector da pastoral do turismo e do apostolado do mar, reverterão também em proveito da população local que forma de modo especial o "rebanho" confiado aos vossos cuidados e aos dos vossos colaboradores.

Nossa Senhora, Mãe da Igreja, vos ampare nas vossas preocupações, nos vossos anseios e nas vossas esperanças, e vos acompanhe a minha bênção que de coração vos concedo, a Vós, aos vossos Sacerdotes, aos Religiosos, às Religiosas e a toda a população da querida Região da Ligúria.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO CÍRCULO DE SÃO PEDRO


Sábado, 9 de Janeiro de 1982



Caríssimos

É para mim razão de renovada alegria e prazer rever-vos, depois do nosso encontro de há dois anos, quando, por ocasião do 110° aniversário de se constituir a vossa Associação que, usando expressivo nome, recorda o primeiro Vigário de Cristo, Vós viestes numerosos, acompanhados pelos vossos familiares, dar um testemunho de dedicação ao novo Sucessor de Pedro.

Nascidos nas vésperas de grandes acontecimentos relativos à capital do mundo católico, quase pressentindo uma fase nova na história do Pontificado Romano, os sócios do Círculo de São Pedro, durante estes 112 anos de vida e actividade, sempre se distinguiram pelas três notas destinadas a caracterizar a fisionomia da Associação: compromisso de testemunho público da fé, sinceramente sentida e corajosamente professada e vivida; prática quotidiana da dimensão horizontal do Evangelho, com o exercício caritativo em favor dos irmãos mais necessitados; amor e fidelidade ao Sucessor de Pedro.

Expressão mais concreta da devoção filial para com o Sumo Pontífice são a recolha anual do "óbolo de São Pedro" efectuada nas igrejas e nas paróquias da diocese de Roma, e o Serviço de Honra prestado por ocasião das Cerimónias Pontifícias na Basílica de São Pedro.

Por causa de uma e do outro quero exprimir a minha sentida complacência e o meu agradecimento, no princípio do novo ano, apresentando-vos os bons votos de um esforço renovado, sempre vivo, leal e sincero, ao serviço dos irmãos, da família, da Igreja e do Papa.

O próximo futuro, qualquer que venha a ser, com as sombras e as luzes, requer em todo o caso a presença operante de cristãos à altura do momento, ricos de fé e corajosamente coerentes na prática da vida individual e social, assim como o exigem os vossos ideais e as linhas dos estatutos.

Sede pois vós mesmos, realizadores de um programa livremente escolhido, animadores de um mundo necessitado daquela luz e daquela força que promanam do Evangelho.

Com este augúrio e esta esperança, a todos vós aqui presentes, a todos os sócios do Círculo, a todos os vossos colaboradores e familiares, concedo do coração a minha especial Bênção Apostólica.




Discursos João Paulo II 1982 - Terça-feira, 5 de Janeiro de 1982